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Doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (2020), com período
sanduíche na University of North Carolina at Greensboro – UNCG (2018), orientado por Dr. Jill
Green. Recebeu o Prêmio Capes de Tese 2021 na área de Artes, com o trabalho "Anatomia
Corpoética em (de)composições: três corpus de práxis somática em dança". Mestre em Arte
Contemporânea (2011) e Bacharel em Artes Cênicas (2006) pela Universidade de Brasília. É
especialista em Fisiologia do Exercício (2010) pela Universidade Federal de Uberlândia e cursou
graduação em Modern Theater Dance na Escola Superior de Artes de Amsterdã (2006-2008).
Tem experiência na área de Artes, com ênfase em performance, coreografia, técnicas de dança,
interpretação teatral e Educação Somática. Integrou a Basirah Cia. de Dança Contemporânea
em Brasília-DF. Professor efetivo do curso de Licenciatura em Dança do Instituto Federal de
Brasília – IFB desde 2010, onde coordena o grupo de pesquisa CEDA-SI – Coletivo de Estudos
em Dança, Somática e Improvisação. É Educador do Movimento Somático – SME, Practitioner
e Teacher de Body-Mind Centering℠. Cadeísta certificado no método de Cadeias Musculares e
Articulares G.D.S. Instrutor certificado em GYROKINESIS® e GYROTONIC®, atuando desde
2008. Também atua como instrutor em ESFEROKINESIS®, certificado pelo Centro de
Investigación y Estudio de Técnicas y Lenguajes Corporales - CIEC. Ensina e pesquisa
Somática, Anatomia Corporalizada, Composição Coreográfica, Contato-Improvisação e Dança
Contemporânea. Em 2017 organizou os livros publicados "Mitopoiesis: dança, educação
somática e biologia celular" e "Ensino-Pesquisa em Extensão: processos de composição em
dança na formação do docente-artista". É um dos criadores e organizadores do Encontro
Internacional de Práticas Somáticas e Dança, realizado em Brasília/DF bianualmente desde
2018. Em 2019 organizou coletivamente o livro "Práticas Somáticas em Dança – Body-Mind
Centering em Criação, Pesquisa e Performance". Possui registro profissional junto à ISMETA -
International Somatic Movement Education & Therapy Association. Desde 2019 é membro do
conselho editorial do Journal of Dance and Somatic Practices, Coventry University/UK: Intellect
Press. É membro da rede BR-UK de Medicina e Ciência da Dança. Atualmente é membro da
diretoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Dança (ANDA) e da Body-Mind Centering
Association (BMCa), com sede nos EUA.
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Em sua apresentação ao livro de Bonnie Bainbridge Cohen (2015c), a
terapeuta somática Susan Aposhyan afirma que ele é sobre o não explícito.
BMCSM é realmente uma investigação das camadas implícitas de nossa
existência. Não por acaso, a formação em BMCSM dura em média 10 anos de
prática profunda. Destilar camadas é um processo demorado, assim como o
processo de destilar espíritos (bebidas destiladas) no significado de body, trazido
por Don Hanlon Johnson (1992, 1994, 1995). Afirmando que BMC não é uma
técnica, Aposhyan nos lembra do que nos move:
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O próprio nome registrado leva a esta questão: Body-Mind Centering –
literalmente centralização corpo-mente. Contudo, “No BMC, ‘centralização’ é um
processo de equilíbrio, não um local de chegada. Esse equilíbrio se baseia no
diálogo, e o diálogo se baseia na experiência.” (BAINBRIDGE COHEN, 2015c,
p. 22). Em 1973, Bonnie funda a School for Body-Mind CenteringSM. Anos depois,
quando resolveu registrar a marca, ela tinha o desejo de grafá-la da seguinte
forma:
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Comunicação de Bonnie Bainbridge Cohen para o grupo de estudantes e assistentes durante
o curso Embodying Authenticity, Organicity, and Expression, realizado de 13 a 28 de julho de
2019, em Pomona College, Claremont, Califórina.
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língua e pelos lábios, mas por todo o corpo, por toda a pessoa, falando
e escutando. 3 (RICHARDS, 1989 [1962], p. 9, tradução minha)
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No original: “CENTERING: that act which precedes all others on the potter’s wheel. The bringing
of the clay into a spinning, unwobbling pivot, which will then be free to take innumerable shapes
as potter and clay press against each other. The firm, tender, sensitive pressure which yields as
much as it asserts. It is like a handclasp between two living hands, receiving the greeting at the
very moment that they give it. It is this speech between the hand and the clay that makes me
think of dialogue. And it is a language far more interesting than the spoken vocabulary which tries
to describe it, for it is spoken not by the tongue and lips but by the whole body, by the whole
person, speaking and listening.”
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educação somática pelo método Body-Mind Centering®, mostra que os aspectos
fundamentais deste sistema somático, isto é, sentir, perceber e agir, residem no
cerne da vivência com o material e como estamos em comunicação e
interpretação constante com o mundo.
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Esta experimentação deu origem a uma virada fundamental para o
BMCSM, a ênfase no contra suporte dinâmico entre os órgãos viscerais e o
sistema musculoesquelético:
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impossível, porque, no circo, tudo é possível.” 4 (BAINBRIDGE COHEN apud
MILLER; ETHRIDGE; MORGAN, 2011, p. 401).
Bonnie começou a dançar muito cedo, aos três anos de idade, o que deu
a ela um sentido cinestésico apurado. Graduou-se em Terapia Ocupacional,
tendo vivenciado a importância de abordar as pessoas de forma integral, e
trabalhou em importantes centros de reabilitação em hospitais dos EUA. Este
trabalho instilou nela uma experiência profunda e extremamente detalhada em
relação aos músculos. Seus estudos de reeducação neuromuscular com Andre
Bernard e Barbara Clark, continuadores do trabalho de Mabel Todd, hoje
conhecido como Ideokinesis, possivelmente favoreceu todo o gérmen do
trabalho imagético, tão importante no processo pedagógico do BMCSM. Estudou
e colaborou com Irmgard Bartenieff e se formou como Analista de Movimento
Laban em Nova Iorque, o que apurou ainda mais suas habilidades de
observação do movimento. Na linha de análise de movimento e gesto, estudou
ainda com Warren Lamb e Judith Kestenberg. De fato, a capacidade de Bonnie
em perceber, não somente pelo toque, mas pela visão, numa observação
empática e cinestésica integral, a postura, o movimento, o gesto e a origem de
cada intenção de movimento tem origem em sua curiosidade e no treinamento
que teve com essas pessoas.
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No original: “The magic of the circus made nothing seem impossible, because in the circus,
everything is possible.”
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coreógrafo e precursor da dança moderna americana, Erick Hawkins (1909-
1994), em Nova Iorque, e também em Amsterdã, com Pauline de Groot e Jim
Tyler, foram decisivas em sua formação. Além do relacionamento muito próximo
com a comunidade criadora da dança Contato-Improvisação. Estudou voz com
o pedagogo vocal Douglas Stanley (1890-19?) e desde os anos 1960 pratica
Yoga. Também se certificou profissionalmente como terapeuta
neurodesenvolvimental com o casal Bobath, na Inglaterra, criadores de um
influente método de reabilitação. Viveu no Japão por um tempo, envolvendo-se
com a meditação Zen e o método Katsugen Undo, especialmente influenciada
pelos interesses de seu marido Len Cohen em artes marciais japonesas, como
Aikido. Envolveu-se com medicina chinesa e praticou Tai Chi Ch’uan.
Finalmente, em 1973 fundou sua escola, The School for Body-Mind Centering
(SBMC), na pequena sala de seu apartamento em Nova Iorque.
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Enviado a mim por e-mail pelo autor em 15 de novembro de 2020. Uma versão prévia também
fora compartilhada com participantes do curso de formação de professores de BMCSM na Itália,
em maio de 2019.
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Os aspectos que aparecem como fundamentais, conforme aponta o
mapa, são: a consciência celular, a diversidade de corpos e a deficiência, os
jogos e os objetos, a dança, a dança terapia e a expressividade, o movimento
natural, o movimento potencial humano, o movimento consciente, o trabalho com
ritmos dos tecidos corporais, a embriologia, o Yoga, o corpo como processo vivo,
a anatomia corporalizada e a educação física, as artes marciais, a meditação e
a filosofia zen, o Movimento Autêntico, o aprendizado experiencial e o
desenvolvimento da criança. Cada um desses aspectos se desdobra em
diversas influências com uma linhagem específica e multifacetada. Percebe-se
a multiplicidade e as conexões rizomáticas suscitadas pelo mapa, pois cada
linhagem identificada também se interconecta de diversas formas aí. Em suma,
esta rede referencial justifica a complexidade do BMCSM e a necessidade de
denominá-lo como sistema somático complexo e aberto.
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movimento das mãos até que a mão direita se encaixe sobre a mão esquerda
(mãos em punho, em acoplamento), repousando-as neste formato sobre a sua
boca.
● Respire um pouco nessa posição, apoiando-se no corpo de trás. Encontre um
apoio suave com o corpo de trás.
● Enquanto respira, perceba quando você sente a necessidade de deixar as
mãos acopladas em punho descerem. Quando esta necessidade surgir, gire
suas mãos 180° para baixo, de modo que a mão direita agora sirva de suporte
para a mão esquerda. Isto é, as costas da mão direita agora olham para baixo e
a palma mão esquerda olha para cima. Enquanto gira as mãos para baixo, em
direção ao centro do seu peito, acompanhe o movimento com sua cabeça,
fazendo com que seu tronco e sua cabeça se dobrem junto desse movimento.
Mantenha a conexão das mãos com sua boca durante todo o percurso.
● Respire nessa nova posição. Perceba o apoio do corpo da frente e do corpo
de trás nesse processo.
● Repita quantas vezes for necessário para você.
● Repita sem as mãos, focando somente no movimento do tronco e da cabeça.
● Perceba a reverência do coração como um processo de amor e de
agradecimento.
● Como é reverenciar com a dobra embriológica do coração?
● Experimente a reverência do coração em diversas posições, em pé,
sentado(a), deitado(a).
● Dance a reverência de seu coração no espaço, movimentando seus braços,
integrando suas pernas e espiralando este processo.
● Experimente dançar este dobrar do coração, seguido de uma espiral.
● Dance com seu coração, dobrando-o e espiralando-o.
● Como você integra braços e pernas enquanto dança esta experiência?
● Como você integra cabeça e cóccix enquanto dança esta experiência?
● Respire profundamente sempre e constante.
● Encontre uma finalização e descanse.
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As de cima vão para baixo e as de baixo vão para cima. Observe especialmente
a quinta imagem na linha de baixo, no centro. Veja o coração em sua reverência
completa e a formação dos arcos aórticos na parte de cima, ocasionadas por
este movimento.
Bonnie Bainbridge Cohen (2018a) inspira-se profundamente nesta
imagem para propor uma reverência pelo coração e sugerir uma experimentação
de movimentos entre dobras e espirais, conforme sugerido na somatização 1
acima. O processo embriológico que antecede esta fase é deveras complexo e
se integra com a formação de outras partes, isso tudo ocorre enquanto o embrião
está se dobrando sagitalmente e horizontalmente.
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Barbara Dilley (2015) afirma que uma reverência é uma prática
contemplativa tradicional do oriente para iniciar e finalizar práticas. Na Prática de
Dança Contemplativa (PDC), desenvolvida por Dilley, fazemos reverências
sempre que entramos e saímos do espaço reservado para o movimento. A
reverência corporalizada do coração parece ser uma ótima oportunidade para
que este dobrar-se de compaixão seja um movimento repleto de sentido, mais
que uma mera articulação de nossa coluna vertebral. Ademais, foi
corporalizando a reverência do coração que descobri o sentido do amor nessas
práticas, tanto na PDC quanto no BMC.
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respeito mútuo, e por isso mesmo envolve amor. “Finalmente, o amor é a fonte
da socialização humana, e não o resultado dela.” (MATURANA, 2014, p. 221).
Assim, fatos que implodem a congruência estrutural aí envolvida, destroem
também socialização.
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No original: “[…] the evolution of the mammalian autonomic nervous system provides the
neurophysiological substrates for the emotional experiences and affective processes that are
major components of social behavior.”
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Já, Thomas Hanna (1987) aponta para o princípio da sinergia como
fundamento de todo e qualquer processo somático, o que significa que somas
sentem e se adaptam a outros somas, consolidando também um princípio de
eficiência. Por ser uma predisposição neurofisiológica da vida animal, a sintonia
somática, compreendida aqui como amor, teria a potência inata de melhorar
nossas vidas.
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corporalização, como fundamento de uma ética social relacional, envolvendo
amor, empatia e compaixão é necessária e urgente no campo da Somática.
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No original: “The history of empathy shows us that in scientific, therapeutic, political, and
everyday settings, empathy has been credited with the power to shift the shape of the self so as
to enter into alien forms, to transform into art objects, to inhabit other realities, and to take on the
experiences of other persons.”
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No original: “Experienced as a volumetric totality, the observer’s body was aroused and affected
in its entirety by the dynamics of the other. As Stebbins demonstrated in her exercises, and
Isadora Duncan and Loie Fuller made evident onstage, the body and the space and objects
around it were momentum-filled.”
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A partir do que nos apresenta Foster (2011), o desenvolvimento da
empatia parece ser fundamental nos ambientes artísticos e educacionais, pois
empatia significa literalmente sentir com. É possível inclusive apontar que o
campo de sintonia suscitado pela empatia seja equiparado à noção de campo
expandido. Reiterando, o campo expandido somos nós. O campo de força
gerado pelas predisposições cinestésicas e empáticas pode ser movido e
transformado de acordo com nossa atenção e nossa intenção. A práxis somática
sugere justamente esta ação com os campos de força internos e externos a fim
de que possamos encontrar novos padrões de comportamento e viver com mais
saúde, por exemplo.
Muitas vezes a pessoa sente empatia emocional por alguém que sofre,
mas então ignora isso para acalmar sua própria sensação de
desconforto. A meditação compassiva amplia essa preocupação
empática, ativa circuitos para bons sentimentos e amor, bem como
circuitos que registram o sofrimento de outros, e prepara a pessoa para
agir quando se depara com o sofrimento. A compaixão e a bondade
amorosa aumentam a ativação da amígdala para o sofrimento, ao
passo que a atenção focada em algo neutro como a respiração diminui
a atividade amigdalar. A bondade amorosa atua rapidamente, em
apenas oito horas de prática; reduções no viés inconsciente,
normalmente intratável, emergem após apenas dezesseis horas. E
quanto maior o tempo de prática, mais fortes se tornam essas
tendências do cérebro e do comportamento em direção à compaixão.
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A força desses efeitos desde os primeiros dias de meditação pode
sinalizar nossa prontidão biológica para a bondade. (GOLEMAN;
DAVIDSON, 2017, pos.1858).
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Assim, a anatomia corporalizada do BMCSM não é um mero estudo da
anatomia, mas sim um mergulho nas potencialidades transformadoras de nossa
experiência e de nossa estrutura, no caso dos sistemas corporais, e de nossos
espaços e suas dobraduras, no caso da embriologia. Há muito mais, contudo,
para se descobrir sobre isso, especialmente porque a maioria dessas
descobertas não se apresenta somente com palavras escritas. Fica o convite
para a práxis somática e seus processos ampliados de corporalização.
Referências
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GOMEZ, Ninoska. Embodying the structures and functions of the body.
Somatics: magazine journal of the bodily arts and sciences, Novato, v. 4, n. 2,
p. 49-54, primavera/verão, 1986.
HANNA, Thomas. What is somatics? Part III. Somatics: magazine journal of the
bodily arts and sciences, Novato, CA, v. 6, n. 2, p. 57-61, primavera/verão, 1987.
JOHNSON, Don Hanlon. Body: recovering our sensual wisdom. 2ª. edição.
Berkeley, California: North Atlantic Books, 1992 [1983].
JOHNSON, Don Hanlon Body, Spirit and Democracy. Berkeley, CA: North
Atlantic Books, 1994.
JOHNSON, Don Hanlon Introduction. In: JOHNSON, Don Hanlon (Ed.). Bone,
Breath and Gesture: practices of embodiment. Berkeley, CA: North Atlantic
Books, 1995. p. ix-xviii.
MILLER, Gill Wright; ETHRIDGE, Pat; MORGAN, Kate Tarlow. Exploring Body-
Mind Centering: an anthology of experience and method. Berkeley: North
Atlantic Books, 2011.
SCHOENWOLF, Gary C.; BLEYL, Steven B.; BRAUER, Philip R.; FRANCIS-
WEST, Philippa H. Larsen’s Human Embryology. 5a. edição. Philadelphia:
Elsevier, 2015.
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VIGARELLO, Georges. O Sentimento de Si: história da percepção do corpo.
Tradução de Francisco Morás. Petrópolis: Vozes, 2016.
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