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Agrupamento de Escolas de Ribeira de Pena

FICHA DE TRABALHO DE GRAMÁTICA- ENSINO SECUNDÁRIO

1 A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da rua de
S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente o
Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas,
com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas
5 abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de Residência Eclesiástica que competia a uma
edificação do reinado da Sr.ª D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo assimilar-se-ia a um Colégio
de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha de certo dum revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no
lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de
girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números duma data.
10 […]
Este inútil pardieiro (como lhe chamava Vilaça Júnior, agora por morte de seu pai administrador dos
Maias) só veio a servir, nos fins de 1870, para lá se arrecadarem as mobílias e as louças provenientes do
palacete de família em Benfica, morada quase histórica, que, depois de andar anos em praça, fora então
comprada por um comendador brasileiro. Nessa ocasião vendera-se outra propriedade dos Maias, a Tojeira; e
15 algumas raras pessoas que em Lisboa ainda se lembravam dos Maias, e sabiam que desde a Regeneração eles
viviam retirados na sua quinta de Santa Olávia, nas margens do Douro, tinham perguntado a Vilaça se essa
gente estava atrapalhada.
- Ainda têm um pedaço de pão, disse Vilaça sorrindo, e a manteiga para lhe barrar por cima.
Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem linhas colaterais, sem
20 parentelas - e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quase um
antepassado, mais idoso que o século, e seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra. Quando Afonso se
retirara definitivamente para Santa Olávia, o rendimento da casa excedia já cinquenta mil cruzados: mas desde
então tinham-se acumulado as economias de vinte anos de aldeia; viera também a herança dum último parente,
Sebastião da Maia, que desde 1830 vivia em Nápoles, só, ocupando-se de numismática; - e o procurador podia
25 certamente sorrir com segurança quando falava dos Maias e da sua fatia de pão.
A venda da Tojeira fora realmente aconselhada por Vilaça: mas nunca ele aprovara que Afonso se
desfizesse de Benfica - só pela razão daqueles muros terem visto tantos desgostos domésticos. Isso, como dizia
Vilaça, acontecia a todos os muros. O resultado era que os Maias, com o Ramalhete inabitável, não possuíam
agora uma casa em Lisboa; e se Afonso naquela idade amava o sossego de Santa Olávia, seu neto, rapaz de
30 gosto e de luxo que passava as férias em Paris e Londres, não quereria, depois de formado, ir sepultar-se nos
penhascos do Douro. E com efeito, meses antes de ele deixar Coimbra, Afonso assombrou Vilaça anunciando-
lhe que decidira vir habitar o Ramalhete! O procurador compôs logo um relatório a enumerar os inconvenientes
do casarão: o maior era necessitar tantas obras e tantas despesas; depois, a falta dum jardim devia ser muito
sensível a quem saía dos arvoredos de Santa Olávia; e por fim aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram
35 sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete, «ainda que (acrescentava ele numa frase meditada) até me
envergonho de mencionar tais frioleiras neste século de Voltaire, Guisot e outros filósofos liberais...»
QUEIRÓS, Eça de, Os Maias, cap. I.

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1. A oração “que os Maias vieram habitar em Lisboa” (l. 1) é uma oração


a) subordinada adverbial espacial.
b) subordinada substantiva completiva.
c) subordinada adjetiva relativa restritiva.
d) subordinada substantiva relativa sem antecedente.

2. A palavra “ou” (l. 3) pertence à classe


a) das conjunções.
b) dos advérbios.
c) das preposições.
d) dos nomes.
3. A palavra “”Ramalhete” (l. 3) foi formada por
a) composição morfossintática.
b) parassíntese.
c) prefixação.
d) sufixação.

4. A locução “Apesar de(este)” (l. 3) apresenta uma ideia de


a) alternativa.
b) contraste.
c) causa.
d) finalidade.

5. A palavra “renque” (l. 4) é um nome


a) comum não contável.
b) comum coletivo contável.
c) próprio.
d) comum não contável.

6. No enunciado “e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado” (l. 5) estamos perante
a) uma metáfora.
b) uma enumeração.
c) um oxímoro.
d) uma personificação.

7. A oração “que competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I” (ll. 6-7) é
a) adjetiva restritiva.
b) substantiva completiva.
c) adverbial concessiva.
d) adverbial condicional.

8. A palavra “girassóis” (l. 10), quanto ao seu processo de formação, é


a) uma palavra derivada por prefixação.
b) uma palavra derivação por prefixação e sufixação.
c) um composto morfossintático.
d) um composto morfológico.

9. No enunciado “Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias de aranha pelas grades dos
postigos térreos, e cobrindo-se de tons de ruína.” (ll. 11-12) verifica-se
a) uma metáfora.
b) uma hipérbole.
c) uma antítese.
d) um paralelismo.

10. No complexo verbal “fora (…) comprada” (l. 15) o verbo “fora” é auxiliar
a) dos tempos compostos.
b) aspetual.
c) modal.
d) da voz passiva.

11. O constituinte sublinhado em “depois de andar anos em praça, fora então comprada por um comendador
brasileiro.” (ll. 14-15) desempenha a função sintática de
a) complemento oblíquo.
b) complemento do nome.
c) complemento agente da passiva.
d) complemento indireto.

12. Na frase “Ainda têm um pedaço de pão, disse Vilaça sorrindo, e a manteiga para lhe barrar por cima.” (l. 20)
estamos perante um ato ilocutório
a) diretivo.
b) compromissivo.
c) assertivo.
d) declarativo.

13. Na linha 23, a palavra “que” (“que estudava medicina”) trata-se de

a) uma conjunção completiva.


b) um pronome relativo.
c) um determinante interrogativo.
d) uma conjunção comparativa.

14. O constituinte sublinhado em “Os Maias eram uma antiga família da beira” (l. 21) desempenha a função
sintática de
a) complemento direto.
b) predicativo do sujeito.
c) complemento indireto.
d) modificador de frase.

15. Atenta no excerto “e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quase um
antepassado, mais idoso que o século, e seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra.” (ll. 22-24) e
assinala a única alínea falsa:
a) Neste excerto, detetamos alguns modificadores apositivos.
b) Neste excerto, existem duas hipérboles.
c) Neste excerto, temos uma oração adjetiva relativa restritiva.
d) Neste excerto, a palavra “que”, das duas vezes que aparece, pertence à mesma classe.

16. “Filatelia” está para “selos” como “numismática” (l. 27) está para
a) “moedas”.
b) “cristais”.
c) “pedras preciosas”.
d) “objetos em ouro”.

17. Na forma verbal “terem visto” (l. 30), o verbo “ter” é auxiliar
a) da passiva.
b) temporal.
c) aspetual.
d) dos tempos compostos.

18. O pronome “Isso” (l. 31) desempenha a função sintática de


a) sujeito.
b) predicativo do sujeito.
c) vocativo.
d) modificador do grupo verbal.

19. Com a referência a “uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete” (l.
39), estamos perante uma
a) pressuposição.
b) implicatura conversacional.
c) implicação.
d) interpretação inferencial.

20. As aspas usadas nas últimas linhas do texto têm como função a apresentação
a) de uma ironia no texto.
b) de discurso direto.
c) de discurso indireto livre.
d) de um diálogo.
BOM TRABALHO!!!
A PROFESSORA: Lucinda Cunha

Proposta de correção:
1-c 2-a 3-d 4-b 5-b 6-d 7-a 8-c 9-a 10-d
11-c 12-c 13-b 14-b 15-d 16-a 17-d 18-a 19-b 20-b

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