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Roteiro:

Deambulação
Geográfica de
Ricardo Reis
1 Hotel Bragança Itinerário Matinal:

1 Localizado no Cais do Sodré, na Rua do Alecrim, nº 12, à beira do rio Tejo, o Hotel Bragança terá iniciado a
sua atividade como hotel em 1924, por obra do brasileiro Mario Xara Brazil. Já no século XXI, este hotel foi
adquirido por um grupo português e sofreu grandes remodelações, abrindo em 2010 sob o nome de “LX
Boutique Hotel”, e oferecendo 46 quartos. Em 2014, foi ampliado ao edifício contíguo, sofrendo assim uma
expansão demais 16 quartos.

Este Hotel é um elemento espacial importante na Obra “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, pois é neste local
que Ricardo Reis, o protagonista da obra, realiza a sua estadia em Lisboa durante grande parte da ação, no
quarto 201, sendo este o espaço em que conhece Lídia, Marcenda e reencontra Fernando Pessoa.

“mas mesmo assim merece o Bragança nota de distinção, não admira que tenha tão constantes hóspedes,

2 alguns não querem outro hotel quando vêm a Lisboa.”


Itinerário Noturno

Rua do Alecrim

A Rua do Alecrim acompanha o espaço exterior que marginava a antiga muralha Fernandina, a partir do rio,
seguindo para Norte, uma das vias de entrada e de saída de Lisboa. Inicialmente conhecida como Rua Direita
do Conde, adquiriu mais tarde o nome atual, devido à importância de uma capela dedicada a Nossa Senhora
do Alecrim.

Ao percorrer a rua, Ricardo Reis encontra elementos do passado que estão ocultos pelos aterros ou
fenómenos naturais que deviam ter sido valorizados "(...) e mal saiu do hotel logo o fez parar um vestígio de
outras eras, um capitel coríntio, uma ara votiva, um cipo funerário, que ideia, essas coisas, se ainda as há em
Lisboa oculta-se a terra movida por aterros ou causas naturais..."
Rua Do Ouro
3 Placa de Pedra da Clínica

A pombalina Rua Áurea de 1760, topónimo oficial nascido do primeiro diploma de toponímia de Lisboa, é pela Do lado direito da ponte que passa sobre a Rua Nova do Carvalho, é possível observar a placa de pedra da
maioria chamada como Rua do Ouro por ser de pronúncia mais fácil, mas também porque outrora existiram outrora Clínica de Enfermedades de los Ojos y Quirúrgicas, fundada por A. Mascaró, em 1870.
ruas do Ouro alfacinhas.
Ao ver esta placa degradada pelo tempo, suscita em Ricardo o pensamento de que as pedras vivem mais do
No séc. XV, os vereadores da cidade de Lisboa proibiram o lançamento de esterco e outras sujidades na rua que qualquer pessoa e que, apesar de se ter gravado o nome do fundador naquela pedra, não está garantida
do Ouro, que era a Betesga, estipulando pena por incumprimento, conforme lavrou o escrivão da Câmara a imortalidade da memória da clínica e de seu criador, pois a memória da sua existência vai-se desvanecendo
Gomes Eanes de Monte Agraço. caso não haja alguém para ir a recordando.
“porventura algures ainda viverão descendentes do Fundador, ocupados em outros ofícios, quem sabe se já
“Pela Rua do Ouro abaixo o chão está juncado de detritos, e ainda se lançam janela fora trapos, caixas
vazias, ferro-velho, sobras e espinhas que vêm embrulhadas em jornais e nas calçadas se espalham (…)”

esquecidos, ou ignorantes, de que neste lugar público se mostra a sua pedra de armas (…)”

Estátua de Eça de Queiroz

Ainda na Rua do Alecrim, é possível encontar a estátua de Eça de Queiroz, importante escritor português e
autor do livro “Os Maias”, que foi executada por Teixeira Lopes e inaugurada em 1903, no Largo Barão de
Apesar de não estar explícito, assume-se que Ricardo Reis atravessou a Rua Do Arsenal, para regressar ao Quintela. Uma curiosidade sobre esta estátua é que é, de facto, uma réplica em bronze, devido à original ter
Hotel Bragança. No local foi construído o Arsenal da Marinha, que estaria a uso até 1939, altura em que foi sido sujeita a actos constantes de vandalismo. A estátua de pedra pode ser encontrada no Museu da Cidade,
movido para a Base do Alfeite. Campo Grande. Este monumento inspira-se na frase do escritor inscrita na base da própria estátua, que se
traduz em: Sobre a nudez forte da Verdade o manto diáphano da phantasia. Ao observar a famosa frase
A atual rua do Arsenal passa a norte do sítio onde se ergueu antes do Terramoto de 1755 a Ópera do Tejo. “Sobre a nudez forte da Verdade o manto diáfano da fantasia”, Reis levanta ainda a possibilidade de que,
caso a verdade deixasse de ser nua e nítida e a fantasia passasse a ser clara e absoluta, ou seja, se as leis
Termina assim o percurso com o retorno de Ricardo Reis ao Hotel Bragança, onde encerra a nossa viagem do mundo se invertessem, as pessoas enlouqueceriam, comprovando assim o quão difícil e enlouquecedor
seria viver sem ter a língua como fonte de expressão. “Sobre a nudez forte da verdade o manto diáfano da
fantasia, parece clara a sentença, clara, fechada e conclusa, uma criança será capaz de perceber e ir ao
exame repetir sem se enganar, mas essa mesma criança perceberia e repetiria cm igual convicção um novo
dito (...)”
Estátua de Camões Rua 1º de Dezembro
O monumento encontra-se na Praça de Luís de Camões, em Lisboa
Esta escultura é da autoria do escultor Victor Bastos, foi projectado a partir de 1860 e inaugurado em 1867, A Rua do Príncipe e o Largo da Rua do Príncipe passaram pelo Edital municipal de 07.08.1911 a denominar-
se Rua Primeiro dezembro, em homenagem à libertação do país do domínio espanhol e à restauração da sua
Foi construído já no final do romantismo e custeado por subscrição pública.
independência em 1 de dezembro de 1640. Reis observa um grupo de pessoas a chegar dessa rua, enquanto
A estátua evocativa do poeta é de bronze e mede 4 metros de altura. Assenta sobre um pedestal, oitavado,
de mármore branco, com 7,5 metros de altura. Em redor do pedestal oito estátuas, de pedra de lioz, de 2,40 passeia pela Calçada do Carmo. “Da Rua do Primeiro de Dezembro um grupo de rapazes avança batendo
metros de altura. com tampas de panela, tchim, tchim, e outros apitam, estridentes. Dão a volta ao largo fronteiro à estação,
A estátua de Camões foi desde logo e tem sido motivo de crítica pela "pose" demasiado militar e muito pouco instalam-se debaixo da arcada do teatro, sempre a trinar nas gaitas e a bater as latas, e este barulho junta-se
romântica do poeta. ao das matracas que ressoam por toda a praça, ra-ra-ra-ra (…)”
A escultura invoca o poeta vestido a rigor, de espada em punho, livro no peito e coroa de louros na cabeça,
numa atitude altiva.
“(...)ainda agora contemplámos o Eça e já podemos observar o Camões, a este não se lembraram de pôr-lhe
versos no pedestal, e se um pusessem qual poriam, Aqui, com grave dor, com triste acento, o melhor é deixar
o pobre amargurado(...)”

Calçada do Carmo

A íngreme e curvilínea Calçada do Carmo, antigamente designada Calçadinha do Carmo, desce do Largo do
Carmo para o Rossio e é uma das vias mais antigas do percurso histórico de ligação entre a colina do Carmo
e a Baixa.
Rua da misericórdia
No seguimento da Rua do Alecrim, a Rua da Misericórdia corresponde à grande via que se definiu no exterior A Travessa do Carmo foi um caminho vicinal entre propriedades do Convento do Carmo e do Convento da
da muralha Fernandina do séc. XIV, cujos vestígios ainda hoje podem ser vistos no interior de alguns dos
Trindade e, atualmente, liga o Largo do Carmo ao Largo Rafael Bordalo Pinheiro.
edifícios.
Larga e bem dimensionada, começou por ser conhecida como Rua Larga de São Roque, uma vez que se
dirigia para a igreja do mesmo nome, construída pelos jesuítas no início do séc. XVI. Recebeu o nome atual
apenas no início do séc. XX. Durante a Primeira República, foi conhecida como Rua do Mundo, pois aqui
estava instalado o jornal “O Mundo”, dirigido por França Borges. “(...) subir o que falta da rua, da Misericórdia
que já foi do Mundo, infelizmente não se pode ter tudo nem ao mesmo tempo, ou mundo ou misericórdia.”
Praça do Rossio

Praça do Rossio tiveram lugar as mais diversas iniciativas, como touradas, festivais, paradas militares, Largo da Trindade Coelho
comícios políticos e até autos-de-fé, no tempo da Inquisição. Esta praça renasceu dos escombros deixados
pelo terramoto de 1755 que assolou Lisboa. Devido à sua carga histórica é um autêntico livro vivo.
Começou por ser o Largo de São Roque no séc. XVI. No final dos anos 80 do séc. XX com a colocação no
“Para os lados do Teatro Nacional, o Rossio está cheio. Caiu uma bátega rápida, abriram-se guarda-chuvas, local de uma estátua em homenagem aos cauteleiros passou a ser conhecido como Largo do Cauteleiro e
carapaças luzidias de insetos, ou como se a multidão fosse um exército avançando sob a proteção dos ponto de encontro para incursões na noite do Bairro Alto, mas desde 1913 que o Largo de São Roque se
escudos, postos sobre as cabeças, ao assalto duma fortaleza indiferente.” denomina oficialmente Largo Trindade Coelho.
No início do século XVI, encontrava-se neste local, junto à antiga muralha fernandina, um cemitério onde
eram sepultadas as vítimas da peste. Sendo conhecidos em toda a Europa Meridional, os milagres de São
Roque contra este flagelo, em 1506 o rei D. Manuel I solicitou a Veneza uma relíquia deste santo, a fim de
proteger a população de Lisboa. Para a veneração da relíquia, foi construída pelos habitantes da cidade uma

Teatro nacional D. Maria II

O Teatro Nacional abriu as suas portas a 13 de abril de 1846, durante as comemorações do 27.º aniversário
da rainha Maria II (1819-1853), passando por isso a exibir o seu nome na designação oficial. Na inauguração,
foi apresentado o drama histórico em cinco atos O Magriço e os Doze de Inglaterra, original de Jacinto Aguiar
de Loureiro. ermida junto ao cemitério dos pestíferos.
Igreja de São Roque
Dentro do Largo da Trindade Coelho, encontra-se a Igreja de São Roque, uma igreja católica dedicada a São
Roque e mandada edificar no final do século XVI, com colaboração de Afonso Álvares e Bartolomeu Álvares.
Pertenceu à Companhia de Jesus, sendo a sua primeira igreja em Portugal, e uma das primeiras igrejas
jesuítas em todo o mundo. A igreja de São Roque foi um dos raros edifícios em Lisboa a sobreviver ao
Terramoto de 1755 relativamente incólume. Aquando da sua construção no século XVI, foi a primeira igreja
jesuíta a ser desenhada no estilo "igreja-auditório", especificamente para pregação. Tem diversas capelas,
sobretudo no estilo barroco do século XVII inicial. Dentro da igreja, é possível identificar várias capelas,
nomeadamente a. Esta capela, foi encomendada por D. João V aos arquitetos romanos Luigi
Vanvitelli e Nicola Salvi, em 1740, e construída entre 1742 e 1747.

“Eis o antigo Largo de S. Roque, e a igreja do mesmo santo,


aquele a quem um cão foi lamber as feridas da peste,
bubónica seria, animal que nem parece pertencer à espécie
da cadela Ugolina, que só sabe dilacerar e devorar(...)” - A
imagem da cadela Ugolina, em um explícito diálogo infernal
com a obra de Dante ao final do primeiro capítulo, reforça a
leitura agourenta desta Europa da primeira metade do
Século XX que o romance vai abrindo como uma ferida que
não cicatriza.
A Palmatória de São Roque - Himeneu do rei D. Luís o protagonista compara a colocar uma estátua do zé-povinho a fazer um toma ao Apolo Belvedere, que se

encontra no vaticano.
Ainda neste Largo, observa-se um himeneu do Rei D. Luís, que foi mandado executar e erigir pelos cidadãos
italianos de Lisboa, como homenagem ao casamento deste rei com Dona Maria de Pia Sabóia.
“Eis também, na diagonal de dois quiosques que vendem tabaco, lotaria e aguardentes, a marmórea memória
mandada implantar pela colónia italiana por ocasião do himeneu do rei D. Luís, tradutor de Shakespeare, e D.
Maria Pia de Sabóia, filha de Verdi, isto é, de Vittorio Emmanuele de d'Italia, monumento único em toda a
cidade de Lisboa, que mais parece ameaçadora palmatória ou menina-de-cinco-olhos(...)” Percurso Noturno

Após almoçar, Ricardo Reis entrou em duas livrarias, passou pelo Tivoli

e regressou ao hotel de táxi. Depois de jantar, Reis decidiu celebrar a passagem o ano novo com um passeio
final, saindo pela Rua do Alecrim até ao Largo do Chiado.

Largo do Chiado

O território do atual Chiado tem uma história de ocupação humana muito antiga. Aprazível e bem implantado,
numa encosta solarenga virada para o estuário do Tejo, para o Vale da Baixa e para a encosta do Castelo,
este cenário qualificado foi, desde épocas remotas, lugar de exploração agrícola, onde se vieram instalar
algumas residências de veraneio da cidade romana de Olisipo.

Durante a Alta Idade Média, entre os séculos VIII e XII, olivais e vinhedos cresciam nesta encosta dos
arredores da cidade muçulmana. Em 1147, aqui acamparam os cruzados que auxiliaram o rei D. Afonso
Henriques na conquista de Lisboa aos mouros.

Rua de São Pedro de Alcântara

A Rua de São Pedro de Alcântara é um topónimo que deriva do antigo convento de S. Pedro de Alcântara
que ainda hoje encontramos na curva e esquina com a Rua Luísa Todi, sendo em 1780 denominada como
Rua de São Pedro de Alcântara ou como Rua Direita de São Pedro de Alcântara e depois, como Rua da
Torre de S.Roque ou da Torre do Relógio até que o edital do Governo Civil de Lisboa de 01/09/1859, juntou a
Rua da Torre de S.Roque e o Largo de São Pedro de Alcântara num arruamento único com a denominação
de Rua de São Pedro de Alcântara. Nesta rua, Ricardo Reis bserva, numa plataforma, uns “bustos de pátrios
varões, uns buxos e umas cabeças romanas”, descondizentes, pois não estão no seus local respetivo, o que

Rua do Carmo
Ainda a partir da Rua Garrett, alcançamos outra descida para a zona baixa da cidade, desta vez para o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como se estivesse dentro de um labirinto
Rossio, através da importante Rua do Carmo. Esta é uma inovação do plano de reconstrução da cidade que o conduzisse sempre ao mesmo lugar (…)”
pombalina, após o terramoto de 1755. Começou por chamar-se Rua Nova do Carmo. Para facilitar as

acessibilidades nesta zona de colinas e vales, surgiu, em 1902, o Elevador de Santa Justa, obra de Raoul
Mesnier du Ponsard, bem visível na imagem desta artéria urbana. A Rua do Carmo destaca-se também como
eixo de comércio, com os famosos Armazéns Grandela, ícone da modernidade do início do século
XX.“Ricardo Reis desceu o Chiado e a Rua do Carmo, como ele muita outra gente descia, grupos, famílias,
ainda que o mais fossem homens solitários a quem ninguém espera em casa ou que preferem o ar livre para
assistir à passagem do ano (…)”. Travessa da Água da Flor

Bairro Alto Cortando para a direita, observa-se uma ramificação da rua, a Travessa da Água da Flor. O seu topónimo tem
origem no facto de nesta artéria habitar um vendedor, ou um fabricante, deste afamada água perfumada feita
É um bairro antigo no centro de Lisboa, com ruas estreitas e empedradas, casas seculares, pequeno com flores de laranjeira usada para aromatizar. Todavia, em 1880 ficou conhecida como sendo o local onde
comércio tradicional, restaurantes e locais de vida noturna. Construído em plano ortogonal a partir do início do ocorreu o famoso "conto do vigário", cujo termo ainda hoje é tão familiar. “(...)agora só a chuva se ouve, está
século XVI, foi conhecido como Vila Nova de Andrade. também por aí a tanger uma guitarra, onde seja não o sabe Ricardo Reis, que se abrigou neste portal, ao
princípio da Travessa da Água da Flor.”
O silêncio do dia nas ruas estreitas, apenas cortado por uma ou outra frase que podia ser ouvida numa aldeia
portuguesa, contrasta com o bulício e a música das noites. Popular na origem, às portas de uma Lisboa
cosmopolita, entre o Chiado e a baixa da cidade, o Bairro Alto cresceu, primeiro com pescadores, depois com
os padres jesuítas, nobres, artífices e ainda com uma certa boémia resultante do fado e da prostituição.

Convento de S. Pedro de Alcântara

Convento Franciscano, da Província da Arrábida, construído no último quartel do século XVII, no contexto das
guerras da restauração da independência nacional, por vontade de D. António Luís de Meneses, 3.º Conde
Rua do Norte de Cantanhede e 1.º Marquês de Marialva.
Ocupa um quarteirão do Bairro Alto. Destaca-se, no seu interior, a Capela dos Lencastres, mandada erguer
A Rua do Norte, foi fixada na memoria de Lisboa, no século XVI, altura arruadas as terras do sítio para
pelos testamenteiros de D. Veríssimo de Lencastre, Cardeal de Portugal e Inquisidor Geral do Reino.
constituir o Bairro Alto de São Roque. Ricardo Reis segue por esta rua e retorna a Camões. Não se sabe ao
Na entrada, Ricardo Reis observa um painel de azulejos retratando S. Francisco de Assis a
certo que rua é que o protagonista tomou para chegar até aqui, mas estima-se que ele possa ter seguido pela
receber estigmas de Cristo crucificado, enquanto este não desaparece pelas nuvens pois o “Pai” o chama.
Rua João Pereira Rosa. Esta artéria que corre para a Rua de O Século em homenagem a João Pereira da “(...)quando ele chegar ao portão do que foi convento de S. Pedro de Alcântara, hoje recolhimento de
Rosa perpetua aquele que durante 36 anos foi diretor desse jornal, com a legenda «Jornalista/1885 – 1962». meninas pedagogicamente 38 palmatoadas, e der com os olhos no painel de azulejos da entrada, onde se
É com o retorno à estátua do poeta que Reis encerra o seu percurso matinal. “Ricardo Reis atravessou o
representa S. Francisco de Assis, il poverello, pobre diabo em tradução livre, extático e ajoelhado, recebendo Praça do Príncipe Real
os estigmas(...)”
Em meados do século XIX, ali se fazia o mercado dos porcos e, entre 1856 e 1868, abrigou a antiga feira das
Amoreiras.

O Governo resolveu limpar o terreno e entregá-lo definitivamente à Câmara, incumbindo-a de concretizar uma
nova Praça.
Miradouro
Em breve começava a ser plantado e era dado ao espaço o nome de Príncipe Real, homenageando o filho
O miradouro de São Pedro de Alcântara é um dos mais amplos e icónicos pontos de observação de Lisboa. mais velho de D. Maria II e de D. Fernando de Sax-Caburgo-Gota o príncipe real D. Pedro, depois Rei D.
Pedro V de Portugal que, curiosamente, tem dois topónimos contíguos que lhe são dedicados: esta Praça e a
Fica mesmo ao lado do topo do elevador da Glória e oferece um panorama especial da cidade. Aqui pode
Rua com o seu nome que segue para S. Pedro de Alcântara.
observar toda a Avenida da Liberdade, os Restauradores e a Baixa, além da colina do Castelo de São Jorge,
com as suas imponentes muralhas e a sua fotogénica coroa verde dos pinheiros mansos. “A Ricardo Reis distraiu-o também da pergunta que a si próprio fizera ter chegado à Praça do Rio de Janeiro,
Este miradouro tem a particularidade de fazer parte de um jardim belíssimo e bem cuidado. que foi do Príncipe Real e quiçá o torne a ser um dia, quem viver verá.”

Rua D. Pedro V Rua do Século

Esta rua deve seu nome a uma homenagem feita ao rei D. Pedro V, de seu nome completo Pedro de A Rua de "O Século", situada nas Freguesias de Santa Catarina e Mercês foi um topónimo atribuído por
Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João António Leopoldo Victor Francisco de Assis deliberação camarária de 27 de outubro de 1910 e Edital de 18 de novembro de 1910.
Júlio Amélio de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança. Anteriormente a esta nomenclatura, a rua possuia o nome
A atribuição do topónimo Rua de "O Século" (1910), pela vereação republicana pretendeu homenagear o
de Rua do Moinho de Vento, devido a estar muito perto do campo e por ser ventosa. Reis vai recordando
jornal fundado em 1881 por Magalhães Lima que foi o seu primeiro diretor e um ardente paladino republicano,
versos antigos na sua memória, à medida que observa o estado do espaço rodeante, e identifica fósseis e
considerando que a sua propaganda tinha contribuído para a democratização do povo português e a
restos de civilizações. “(...)segue pela Rua de D. Pedro V, como se identificasse fósseis ou restos de antigas
consequente implantação da República em Portugal.
civilizações, e há um momento em que duvida se terão mais sentido as odes completas aonde os foi buscar
do que este juntar avulso de pedaços ainda coerentes, porém já corroídos pela ausência do que estava antes
Até aí esta artéria era conhecida por Rua Formosa, que segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo era uma
ou vem depois, e contraditoriamente afirmando, na sua própria mutilação, um outro sentido fechado,
denominação do séc. XVIII que acabou por ser legalizada pelo edital do Governo Civil de 1 de setembro de
definitivo, como é o que parecem ter as epígrafes postas à entrada dos livros.”
1859. “Ricardo Reis aconchega a gabardina ao corpo, friorento, atravessa de cá para lá, por outras alamedas
regressa, agora vai descer a Rua do Século, nem sabe o que o terá decidido, sendo tão ermo e melancólico o
lugar, alguns antigos palácios, casas baixinhas, estreitas, de gente popular (…)”

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