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ALVARES CABRAL
K O
DESCOBRIMENTO DO BRAZIL
DO AUTOR:
A Morte da A g u i a , 1909.
A Arte e a Medicina, 1910.
Daquem e Dalém Morte. 1 9 1 3 , (esgotado).
G l ó r i a Humilde, 1 9 1 4 , (esgotado).
C a n c i o n e i r o P o p u l a r , (Antologia pendida de um estudo
crítico), 1 9 1 4 .
C a n t i g a s do P o v o para as E s c o l a s , ( S e l e c ç ã o e prefá-
c i o ) , 1914.
O Infante de S a g r e s , d r a m a em IV actos, 191(1 (3 edi-
E gções.
a s Moniz,(esgotado).
d r a m a em IV actos, 1916, (3 edições).
M e m ó r i a s da G r a n d e G u e r r a , 1919, (3 edições).
S o r o r M a r i a n a — C a r t a s de A m o r — N o v a restituição e
e s b o ç o c r í t i c o , 1920.
A d ã o e E v a , peça em 3 actos, 1921
Itália .V/.ul, iQ2'2.
JAIME CORTESÃO
if
A Expedição de Pedro
Alvares Cabral
E O
Descobrimento do Brazil
LISBOA
BRAZIL
km boa verdade, não nos pertence a iniciativa
déste livro. Convidados a colaborar na Histó-
ria da Colonisação do Brazil, a obra monumen-
tal,, com que a Colónia portuguesa em terras
brasileiras celebra o Centenário da Indepen-
dência da nação irmã, e tendo-nos cabido, den-
tro do seu largo plano, o relato da expedição
de Pedro Alvares Cabral, na sua organisação,
biografias dos comandantes e primeiros passos
até á partida do Restelo, veio o nosso trabalho
a assumir proporções, que excediam o âmbito
marcado. Convencidos, todavia, de que lográ-
mos esclarecer com as nossas investigações al-
guns pontos obscuros desta parte da história
portuguesa e brasileira e ajudamos a ve-la a
uma nova lu\, amavelmente incitados também
pelo sr. Carlos Malheiro Dias, organisador
daquela obra, a publicar o nosso estudo na in-
tegra e em separata, resolvemo-nos, assim, a
da-lo à estampa, acrescentando-lhe a colecção
dos mais importantes documentos, até agora
dispersos e que constituem as fontes respectivas.
Sem esta prévia explicação, fora impossível
compreender o traçado geral da nossa obra, tão
exuberante em certos pormenores e escassa na
historia da expedição. Algum dia, que tenhamos
conhecimento mais directo do Atlântico e da
terra brasileira, concluiremos com um segundo
volume este relato.
Ao ilustre escritor, cujo honroso convite ori-
ginou este trabalho, devemos e agradecemos a
alegria de termos durante meses convivido,
numa profunda exaltação de espirito, com al-
guns dos Homens da nossa Kdade de Oiro.
E, pois. este trabalho foi concebido dentro
daquela vasta obra, era egualmente dever nosso
com intimo júbilo cumprido, oferecê-lo á Coló-
nia portuguesa, como homenagem sua ao Bra-
sil, pelo Centenário da fndependencia.
LISBOA N O A N O DE l500
d o n a n d o a antiga c i r c a e d o b r a n d o a última
colina, que escondia a cidade (a de S . u Cata-
rina). pejavam, a evemplo do rei, de p o m p a s e
palácios a Ribeira, em direcção ao M a r .
A q u e l a data. 1). Manuel não completara ainda
cinco anos de reinado. K as primeiras novas
certas da índia, vindas pelo G a m a , e que iam
decidir da política e actividade nacionais, só há
cinco meses que traziam em p a s m o c sohresalto
as gentes.
Torna-se mister esquecer de todo esta L i s b o a
de hoje, vasta e disseminada por monte e vale
até ao m a r , com sua fria Baixa pombalina e
as avenidas claras e banais, p a r a evucar com as
g r a v u r a s de Braunio (i) e de Beninc (2) o an-
tigo b u r g o , curto e a m u r a l h a d o . Já não se
aperta a apenas, como nos mouriscos tempos
em q u e escrevia O s b e r n o , no alto dum monte
arredondado, in cacnmine nwniis rolundi (3).
Adastrava-se a g o r a por cinco outeiros e ( nitros
p r o f u s ã o de e i r a d o s , que c o b r i a m as casas,
d a s graciosas chaminés, e até, em muita habita-
ção, do v e r m e l h o escuro dos adobes.
Q u e m olhasse pela b a n d a do rio o velho bur-
g o , divisaria sobre o e m b r e c h a d o dos cunhais
e empenas e a revoita toalha das assoteas e te-
lhados, encardidos pelo nuigre do t e m p o , os
m u i t o s coruchéus das torres (i), p a i r a n d o com
seu leveiro d e s g a r r o oriental, e, mais belos e
altos entre todos, os da Alcáçova, de S. Vicente
e Sé. O s m o n u m e n t o s , por p o u c o s , m a s gran-
diosos, g a n h a v a m m a i o r vulto e mais clara ex-
pressão." A m e i o , paço do rei e castelo rocaz,
acrópole gentílica, tatuada do tempo e dos com-
bates, a Alcáçova poisava sôbre o b u r g o , como
uma corôa n u m escudo heráldico. Desponta-
vam-1'ne p a r a o C e u , em flecha, as t o r r e s , — a da
M e n a g e m , a d o T o m b o , a de Ulisses, o pró-
fugo e mítico patrono da cidade. P o s t a a meio
p e n d o r , entre o m o r r o do Castelo e o 1 ejo, a
Sc erguia a meio dum terreiro, donde naquele
t e m p o se avistava o rio, os dois esbeltos mina-
retes, com três andares de duplas janelas, enci-
m a d o s por g r i m p a s . P o r baixo u m a galilé
francamente r a s g a d a aligeirava ainda mais a
g r a s d o s t e l h a d o s . E o b u r g o estremecia c o m o
hoste, t o d a em a r m a s , p r o n t a à m a r c h a , e que,
antes de entrar às águas, saúdasse o M a r c o m
as lanças ao alto.
A POPULAÇÃO E A VIDA DA CIDADE
P o r esse t e m p o os m o r a d o r e s de L i s b o a e
d o a r r a b a l d e não p a s s a v a m de cincoenta mil, o
que está de s o b e j o em relação com o milhão e
cem de t o d o o reino ( i ) . F ô r a mister p a r a a
total evocação do velho burgo reviver com êsses
antigos m o r a d o r e s os p a s s a d o s c o s t u m e s ; repo-
pular-lhe as a b a s das colinas, da Alcáçova à
Ribeira, de cavaleiros, m e s t e i r a i s , f r a d e s e m a -
t a l o t e s ; restituir aos primitivos íncolas a Mou-
raria e as J u d a r i a s ; e variegar depois a multi-
dão nativa c o m a mescla desultória de italianos,
flamengos, f r a n c e s e s e alemães. O s hábitos e
condições de vida d a v a m á cidade u m a fisio-
n o m i a m u i t o p r ó p r i a e totalmente diversa, não
s ó da L i s b o a de hoje, m a s t a m b é m àquela data
das d e m a i s cidades da E u r o p a .
n) Obra cuaJa
PEDRO AI.VARER CABRAI.27 11
indulgente e tolerante. L i s b o a , c o m o as d e m a i s
cidades da nação, sentia-se agora mais que
nunca na pujança das s u a s energias. A longa
paz dum século, apenas interrompida pelos
q u a t r o anos da g u e r r a da sucessão de Castela
( l 4 7 Í > - 7 0 ) , e m o1n e o s n n r t n c r n p c p c nn-íc." c o o - , ^ ™
; •• . ' o — — oim.JJH
f o r a m os invasores, p e r m i t i r a o desenvolvi-
m e n t o gradual da p o p u l a ç ã o , a s e g u r a n ç a do
t r a b a l h o e o aumento da riqueza pública. A
vasta e m p r e s a e d u c a d o r a p r e p a r a d a pelo In-
fante D. H e n r i q u e e continuada pelo s o b r i n h o
e pelo Príncipe P e r f e i t o sazonava os m e l h o r e s
f r u t o s . Ern L i s b o a p u l u l a v a m agora os navega-
d o r e s e os cavaleiros, os a s t r ó n o m o s e mate-
máticos, os m e s t r e s do astrolábio e do qua-
d r a n t e . A m e l h o r n o b r e z a descendia dos com-
p a n h e i r o s do C o n d e s t á v e l e D o m J o ã o I. O
p o v o não desmerecia t a m b é m da arraia que
alevantara o Mestre. E os fastos que os mais
velhos m e m o r a v a m , p o r ouvirem dos pais, e r a m
r a c o n t o s de A l j u b a r r o t a e do p o s t r e m o cêrco
castelhano.
M a s esta conexão íntima entre a r u d e z a an-
tiga da cidade e a plenitude e p u r e z a da sua
fôrça vai r a p i d a m e n t e esvanecer-se. Breve per-
UCI Cl L31LA„t<. n.mmnr
quv-un^i rir, tKtnnn p- d o s t r a b•a l h o s
p a r a se enfeitar de galas e m p r e s t a d a s . F i x e m o s -
-lhe o r o s t o g r a v e , que u m a ansiedade f u n d a
alterava já. Sim, p o r agora não era ainda a Lis-
boa opulenta e rendilhada da C o n q u i s t a , do
P a ç o d a . Ribeira, da C a s a da índia, da T o r r e
de B e l e m e dos J e r ó n i m o s ; m a s a Lisboa épica
refugida na cêrca, que olhava com a m o r as ci-
catrizes das m u r a l h a s , e cujo povo invocava,
r e s a n d o , o C o n d e s t a b r e , no m o r r o d o Almi-
rante. N ã o ainda o imenso e ribeirinho ca-
r a v a n s a r á , pejado pela t u r b a dos m e r c a d o r e s
que acorriam de t o d a a E u r o p a ao tráfico das
especiarias, dos e m b a i x a d o r e s do O r i e n t e , dos
g o v e r n a d o r e s , dos capitães de fortalezas e feito-
res, e dos áfricos, dos levantinos, dos brasiüen-
ses, entre a c h u s m a d o s quais o Rei cavalgava
e e s t a d e a v a p o m p a s , seguido dos elefantes, da
onça pérsia e da rinocerota, ao r e b o a n t e clan-
gor dos atabales e t r o m b e t a s . A esfera proje-
ctada pela ambição universalista, que ia des-
vairar os h o m e n s , mal se inscrevia s o b r e os
m o n u m e n t o s . O s f u m o s da índia não haviam
entontecido as almas. L i s b o a blasonava a p e n a s
os pilotos da Mina, e os veteranos de Alcácer e
•22
EXPEDIÇÃO DE
C a r b u n c l o s , ametistas,
T u r q u e s a s e chrysolitas
Cafiras, olhos de gato,
Jagonças, de tudo ha tracto
E outras mais q nom sam ditas. ( i >
P r e s u m e - s e igualmente o a s s o m b r o que as
noticias da Índia, aumentadas pela f a n t a s i a d o s
m a r u j o s e pelo recontar de boca em boca, de-
viam ter causado no ânimo do povo. O s pri-
meiros cronistas e historiógrafos dão-nos conta
do facto.
C o n v é m , não obstante, para se compreender
inteiramente o significado da expedição de
P e d r o Álvares, que se conheça mais de perto
esse estado de espirito do Rei e da naçao.
O Rei, cuja idade entrava pelos trinta exa-
ctos, sobre ter atingido a sua alta gerarqu.a por
u m a série de acasos quási incrível, o que já de
si a m o r parte das vezes sol m a r e a r os cara-
cteres mais puros, era, de natural, fraco, capri-
choso e d u m a vaidade desmedida Logo no
começo do seu reinado, a pedido dos futuros
s o T o s , comete com deshumamssima .mp.edade,
contra os interesses nacionais e os mais hon-
TEXTOS SÔBRE A E X P E D I Ç Ã O
a p o n t a m e n t o s f r a g m e n t á r i o s de instruções p a r a
a viagem, os p r i m e i r o s dos quais e n c o n t r a d o s
p o r V a r n h a g e n e p u b l i c a d o s na sua História
geral do Brasil e os o u t r o s existentes na T o r r e
.-!,. T , . „ , K . . í , \
V-IW 1 VJi 1 1 uw I I ) .
bj 0 segundo g r u p o é f o r m a d o pelas cartas
de P e r o Vaz de C a m i n h a e de mestre J o ã o , fí-
sico, escritas do Brasil e igualmente a r q u i v a d a s
na T o r r e do T o m b o (2), e da Relação de tòda
a viagem, feita p o r um piloto anónimo da ar-
m a d a (3).
Deve acrescentar-se a êste grupo a carta de
B a r t o l o m e u Marchioni, a r m a d o r duma das naus
da expedição (4).
c) Constituem o terceiro a carta de D. Ma-
nuel aos reis de C a s t e l a , seus sogros, escrita
p o u c o s dias depois da chegada de C a b r a l e que
existe não só, em p o r t u g u ê s , num t r a s l a d o guar-
4
5o EXPEDIÇÃO DE PEDRO ALVARES CABRAL
ALVARES CABRAL
«De p u r p u r a celestial,
sobre prata mui luzente,
a geração mui valente
que delas se diz C a b r a l
traz sem outro diferente.
E para que estas aponte
-c|0
EXPEDIÇÃO DE
"Myçer gualante C a b r a l
d a d ã o s da G u a r d a . » C o s t a L o b o , História da Sociedade
em Portugal no século XV. pag. a31 a 2I12.
C o s t a L o b o c o n f u n d e , t o d a v i a , por vezes F e r n ã o C a -
bral c o m o p a i . F e r n ã o Alvares C a b r a l , assim c o m o
S a n c h e s de Baena na sua m e m ó r i a g e n e a l ó g i c a c o n f u n d e
Luis A l v a r e s C a b r a l c o m o filho, o q u e se pode v e r i f i c a r
em A z u r a r a , n o s c a p í t u l o s c i t a d o s . C o s t a L o b o c o m e t e
a i n d a o u t r a s p e q u e n a s i n e x a c t i d õ e s , inúteis de referir.
{1) Vide a longa série de d o c u m e n t o s q u e se lhe r e f e -
r e m . p u b l i c a d a em Frei Gonçalo Velho, de A i r e s d e S á ,
t o m o I.
(2) P i n h o L e a l . Portugal antigo e moderno, palavra
Belmonte.
( ;4 . t, * EXPEDIÇÃO DE
e de seguida acrescenta :
p o r espelho neste m u n d o . . •
l e v a a c r e r q u e a o m e n o s êle h o u v e s s e p r e s t a d o
ali t a m b é m o s s e r v i ç o s a q u e a c a r t a s e r e f e r e .
A falta, pois, de anteriores relatos, que nos
r e v e l e m as suas \irtudes e carácter, v a m o s afe-
ri-los pelas provas únicas que a história nos
c o n s e r v a . S e m o u t r a s , que n ã o f o s s e o s i m p l e s
f a c t o de lhe h a v e r e m confiado a capitania mór
de tão i m p o r t a n t e e x p e d i ç ã o , éste b a s t a v a p a r a
\
PEDRO ALVARES CABRAL I
69
r e v e l a r e encarecer-lhe merecimentos r a r o s . E m
D. Manuel concorriam inteligência e ambição su-
ficientes para não entregar o c o m a h d o da expedi-
ção, que ia seguir-se a de Vasco da G a m a , em
m ã o s que não fossem p r o v a d a m e n t e hábeis e
seguras.
Mas vejamos quais os traços, apuráveis das
fontes sobre a sua expedição, capazes de aju-
dar-nos a debuxar-lhe o retrato m o r a l . P e d r o
A k 'ares Cabral era faustoso, amigo de gran-
dezas e, como tal, p o s s u i d o r de g r a n d e estado,
p a r a o que haviam de c o n c o r r e r em grande
escala os bens e educação de sua mulher. N ã o
devia ser este, por certo, p a r a D. Manuel o
m e n o s recomendável dentre os seus atributos.
N a s instruções, d a d a s pelo rei, p a r a b o m re-
cado e direcção da expedição, o m o n a r c a mais
d u m a vez recomenda a P e d r o Álvares que dê
aos príncipes do Oriente b o a s m o s t r a s tanto de
si c o m o de a r m a d a . Mas êle, no seu desejo de
grandeza, excede-as. Q u a n d o , chegado a Cali-
cut, tivesse que avistar-se com o S a m o r i m , es-
miuçava o Rei: «ireis em t e r r a com dez ou
quinze h o m e n s , quais vos melhor p a r e c e r le-
v a r d e s comvosco, os o u t r o s capitães em suas
naus e em vossa nau u m capitão». (1) Ouça-
r a n t e da í n d i a «com t o d a l a s h o n r r a s , primi-
nências, liberdades, p o d e r , juridiçam, r e n d a s
f o r o s e d i r e v t o s , que com o dicto a l m y r a n t a d o
p o r direyto deve aver e as t e m o nosso almi-
rante destes r e v n o s » ; a f a c u l d a d e de êle e seus
descendentes enviarem u m a vez cada ano du-
zentos c r u z a d o s nas naus da índia p a r a se em-
p r e g a r e m em m e r c a d o r i a s ; o titulo de D o m ,
que estende a seus i r m ã o s e d e s c e n d e n t e s ; e
m a i s o r d e n a que os h e r d e i r o s de t a m a n h a s
m e r c ê s «se c h a m e m da G a m a p o r l e m b r a n ç a e
m e m ó r i a do dito V a a s q u o da Gama-» ( i ) .
Acrescente-se que, segundo B a r r o s , os duzen-
tos c r u z a d o s de m e r c a d o r i a s lhe vinham a d a r
r e g u l a r m e n t e , no reino, um c o n t o e oitocentos
mil reais (2). S e o G a m a h o u v e s s e d e s o b r i g a d o
o Rei, c o m instâncias insolentes, não o pre-
miava èle na m e s m a o c a s i ã o c o m t a m a n h a s
m e r c ê s e em carta, de que transluz a m a i o r
satisfação dos seus serviços.
P o r o u t r o lado, tendo o rei p r o m e t i d o , se-
g u n d o C o r r e i a , d e s a g r a v a r P e d r o Alvares dessa
m u d a n ç a de c o m a n d o , com m e r c ê s g e n e r o s a s ,
d e p a r a m o s ao contrário, c o m r e m u n e r a ç a o
a s s á s escassa d o s seus serviços. O s d o c u m e n t o s
mais antigos que ate nós c h e g a r a m referentes
as mercês reais c o n c e d i d a s a C a b r a l c o n s t a m
d e d u a s c a r t a s d i r i g i d a s ao r e c e b e d o r d a sisa da
marcaria, ambas datadas e m 4 de Abril de
I5O2, mandando pagar • por êsse imposto
ij-.ooo r e a i s e o u t r a 3o:ooo, a P e d r o Á l v a r e s
«de s u a tença» n a q u e l e ano. U m o u t r o docu-
m e n t o igual ao s e g u n d o destes dois nos a p a r e -
ce, d a t a d o em G de M a r ç o de i5oq, r e f e r e n t e
ao ano anterior. Ainda um recibo, assinado
p e l o p r o p r i o C a b r a l , a 10 de J a n e i r o de i 5 i ? ,
menciona o pagamento de 200:000 reais de
tença anual c o r r e s p o n d e n t e s ao ano de 1514,
o que lhe foi c o n f e r i d o p o r u m a carta geral (1).
I n f e l i z m e n t e n e m se c o n h e c e e s s a carta n e m a
d a t a em que lhes foi c o n f e r i d a , elementos m u i t o
provavelmente preciosos para nos esclarece-
r e m s o b r e as r e l a ç õ e s entre o rei e o seu ilustre
s e r v i d o r . N ã o se c o n h e c e m t a m b é m o u t r o s do-
c u m e n t o s , que se lhe r e t i r a m , c o m a c o n c e s s ã o
de m e r c ê s n o v a s . A m e s m a escassez no que
respeita a indícios biográficos demonstra o
esquecimento a que o votou o rei. P o r d u a s
cartas régias de i3oi) (2) averiguamos que
P e d r o A l v a r e s se r e t i r a r a p a r a S a n t a r é m , o n d e
p r o a ra a l a r g a r as p r o p r i e d a d e s . Depois disto
o seu n o m e só nos a p a r e c e n o «Livro da Ma-
tricula d o s m o r a d o r e s da C a s a dei R e y D. M a -
noel n o p r i m e i r o q u a r t e l do a n o de I 5 I 8 » c o m o
c a v a l e i r o do c o n s e l h o e c o m a p e n s ã o m e n s a l
de 2:437 reais (1). F i n a l m e n t e , p o r t r ê s c a r t a s
datadas em Novembro de I 5 2 0 , c o n c e d e n d o ,
u m a 3o:ooo reais de tença p o r a n o a D. Isabel
de C a s t r o , em a t e n ç ã o a o s m u i t o s s e r v i ç o s de
seu falecido m a r i d o P e d r o A l v a r e s C a b r a l , e
as d u a s o u t r a s c o n c e d e n d o , c a d a 20:000 reais
de t e n ç a a n u a l , a A n t ó n i o C a b r a l e a F e r n ã o
A l v a r e s C a b r a l , seus filhos, pelos m e s m o s mo-
tivos, conclue-se q u e o seu f a l e c i m e n t o se deu
quasi c o m certeza n e s s e ano (2).
Comparando c o m as m e r c ê s c o n c e d i d a s ao
Gama, a o depois a l a r g a d a s c o m o título de
Conde, as q u e o Rei o u t o r g o u a P e d r o Alva-
r e s , e n t r a n d o ainda m e s m o em d e s c o n t o com o
i n g r a t o e s q u e c i m e n t o do m o n a r c a , d e m o n s t r a d o
pela carta de A f o n s o de A l b u q u e r q u e , vê-se
c l a r a m e n t e que D. M a n u e l n ã o teve em g r a n d e
c o n t a os seus serviços.
Pedro A l v a r e s foi s e p u l t a d o e m Santarém
na igreja da G r a ç a , que então pertencia ao
c o n v e n t o dos g r a c i a n o s , c o m q u e m a viuva e m
ib2Q c o n t r a t o u o jazigo p e r p é t u o .
L e v a v a êle, consigo a b o r d o , n a v i a g e m , u m a
SÔBRE O S C A P I T Ã E S E FIGURAS
P R I N C I P A I S DA ARMADA
" u
Brasil
trouxe, c o m o C a b r a l e S i m ã o ' de Mi-
r a n d a , um dos naturais da t e r r a p o r p a g e m
algum t e m p o , sinal de que blazonava altas fi-
dalguias (1). Pouco depois m o r r i a , c o m o disse-
m o s , durante a t o r m e n t a que assaltou a arma-
da, a c a m i n h o do C a b o da B o a E s p e r a n ç a .
M
as, sendo de familia tão ilustre, que p o d e
bem h o m b r e a r com a de P e d r o A l v a r e s C a b r a l ,
senão de mais alta g e r a r q u i a , p o r q u e m o t i v o
referirá u palaciano J o ã o de B a r r o s o seu, após
o n o m e de S i m ã o de M i r a n d a ? P o r q u e êste
Aires G o m e s da Silva tinha q u e b r a de b a s t a r -
dia na sua nobilíssima p r o s á p i a . Seu pai P e r o
da Silva era filho b a s t a r d o do g r a n d e J o ã o da
Silva, o alferes-mór de D. J o ã o I (2).
NICOLAU COELHO era, na bravura e esforço
inquebrantáveis, digno da g e r a ç ã o ilustre, de
quem o poeta J o ã o Roiz de S á , seu c o n t e m p o -
r â n e o , em sua gesta heráldica, t r o v a v a :
« C o e l h o s , tal p e r f e i ç ã o
i f e s f o r ç o e de o p i n i ã o
s o s t e m n o que c o m e ç a r e m ,
/-.nr. u i_i_»i ayuu lVw.<- ti ii ir uo irm
qui. cmji
não lhes tira o c o r a ç ã o . » ( i )
r e f e r i n d o - s e , é b e m de v e r , àquele P e r o C o e -
l h o , a q u e m D. P e d r o , o C r ú , m a n d o u a r r a n -
c a r o c o r a ç ã o . E m 1497, a c o m p a n h a V a s c o d a
G a m a , c o m a n d a n d o o Bérrio e sendo assim um
d o s d e s c o b r i d o r e s da í n d i a . K êle que n o re-
g r e s s o v e m adiante a n u n c i a r a n o v a d o desço-
b r i m e n t o . Mal refeito d o s p e r i g o s , f a d i g a s e
inclemências i n ú m e r a s d a épica j o r n a d a , p a r t e
de n o v o , p a s s a d o u m e s c a s s o m e i o a n o , n a ar-
m a d a de C a b r a l . E e m i 5 o 3 , p o u c o m a i s dum
a n o v o l v i d o a p ó s o seu r e g r e s s o a P o r t u g a l ,
ei-lo de n o v o a c a m i n h o d a í n d i a , c o m a n d a n d o
a n a u F a i a l , n a a r m a d a de A f o n s o e F r a n c i s c o
de A l b u q u e r q u e , e n c h e n d o as p á g i n a s d a s cróni-
c a s c o m as f a ç a n h a s p r a t i c a d a s . D e r e g r e s s o
d a sua p r i m e i r a v i a g e m à í n d i a , D . M a n u e l ,
p o r c a r t a de 24 de F e v e r e i r o de i5oo, isto é,
d u a s s e m a n a s antes de e m b a r c a r de n o v o , con-
cede-lhe 5o:coo r e a i s de tença, s e n d o 3o:ooo d e
j u r o e h e r d a d o p a r a êle e seus s u c e s s o r e s e
20:000 «para e n q u a n t o f o r m e r c ê de S u a Alte-
Pertencia S I M Ã O DE P I N A igualmente a u m a
n o b r e família. Filho de Diogo de P i n a , teve p o r
avó Vasco Anes de P i n a , a quem D. J o ã o I,
em reconhecimento dos serviços p r e s t a d o s , deu
a alcaidaria de C a s t e l o de Vide. Deste m e s m o
era igualmente neto Rui de Pina, o cronista e
-c|128
EXPEDIÇÃO DE
(1) C o l h e m o s estes i n f o r m e s g e n e a l ó g i c o s no n o b i l i á -
r i o m a n u s c r i t o de M a n s o de L i m a , u m d o s m a i s auto-
rizados e completos da Biblioteca Nacional.
PEDRO ALVARES CABRAL1IQ. io5
m e n t o s e q u e foi e n c a r r e g a d o p o r P e d r o A l -
v a r e s de t r a z e r a P o r t u g a l a noticia do desco-
b r i m e n t o d a s t e r r a s de S a n t a C r u z . A s fon-
tes a t r i b u e m i g u a l m e n t e essa m i s s ã o ao navio
d e m a n t i m e n t o s , m a s n e n h u m a individua o co-
mandante.
F i n a l m e n t e de L u í s PIRES a f i r m a m os cronis-
t a s q u e , d e s g a r r a d a a s u a nau p o r a l t u r a s de
Cabo Verde, regressou c o m ela a Portugal.
C e r t i f i c a m - n o s , a o c o n t r á r i o , as fontes q u e a
n a u d e s g a r r a d a e r a do c o m a n d o de V a s c o de
A t a í d e e se p e r d e u . C o m o por o u t r o lado fo-
r a m q u a t r o as n a u s p e r d i d a s d u r a n t e a g r a n d e
t e m p e s t a d e e d e n t r e o s q u a t r o n o m e s d o s res-
p e c t i v o s capitães, m e n c i o n a d o s pelas c r ó n i c a s ,
há q u e e l i m i n a r o n o m e de V a s c o de A t a í d e , e,
além d i s s o , se c o n h e c e o destino de t o d o s o s
o u t r o s c a p i t ã e s , conclui-se que a n a u de L u í s
P i r e s foi u m a d a s q u a t r o s o s s o b r a d a s .
A f ó r a os c a p i t ã e s d a s n a u s , ainda o u t r a alta
personagem.—AIRES CORREA, desempenhava na
a r m a d a u m e l e v a d o c a r g o , - o de feitor g e r a l .
Levava também o c a r g o de m o n t a r a feito-
ria em Calicut. S a b e n d o - s e que a expedição
visava principalmente fins comerciais, presu-
m e - s e q u e A i r e s C o r r e a era das figuras mais
PEDRO ALVARES CABRAL 1IQ.io5
NA EXPEDIÇÃO. OS MARCHIONI
DE FLORENÇÁ
T a n t o os n o s s o s cronistas de Q u i n h e n t o s
c o m o os h i s t o r i ó g r a f o s m o d e r n o s ignoraram,,
o m i t i r a m ou m e n o s p r e s a r a m u m facto que re-
veste u m a alta importância p a r a se compreen-
der inteiramente o significado desta e m p r e s a ,
qual seja a c o m p a r t e c i p a ç ã o de dois fidalgos
p o r t u g u e s e s e de alguns m e r c a d o r e s estrangei-
ros, além d o m o n a r c a , nos interesses comer-
ciais da expedição.
U m a das c a r t a s de italianos, que mais infor-
mes presta sobre a organização da a r m a d a e
os acidentes da v i a g e m , a de Z u a n F r a n c e s c o
de la F a i t a d a , escrita de L i s b o a a 26 de J u n h o
de 1^01 e dirigida a Domênico Pisani, noticia
que, dentre as naus e os navios, que seguiram
para a índia um deles e r a «dei signor don Alva-
r o , in c o m p a g n i a de B o r t o l o fiorentino et Hiero-
nimo et un genovese, l'altro dei conte de P o r t a
Alegra e de certi altri m e r c h a d a n t i assai.» Mais
I 10 EXPEDIÇÃO DE
(1) O b r a c i t a d a , parte I, c a p . X L Y .
(2) S ó b r e D. Alvaro v e j a - s e Livro I dos Brj-õis de
Brancamp Freire.
(3) R u i de P i n a , Chronica de D. Affonso V, c a p . C I . I I I .
PEDRO ALVARES CABRAL 1 iQ.
(1) B a r r o s , Década /, l i v r o I, c a p . X I I e G e o r g e G l a s ,
The History of the discovery and conquest of the Canary
Islands.
(2) Idem, p a r t e I, c a p . X I V .
(3) C h a n c e l a r i a de D. M a n o e l , L i v r o 3 1 .
-c|10 EXPEDIÇÃO DE
(1) O b r a c i t a d a .
I 10 EXPEDIÇÃO DE
m u y t a s p a r t e s em que t r a c t a v a m p o r t o d o p o -
nente e l e v a n t e . . . » ( i ) A c r e r m o s , pois, nesta
p a s s a g e m , B a r t o l o m e u Florentina foi a r v o r a d o
desde o c o m e ç o em r e p r e s e n t a n t e d o s m e r c a -
d o r e s e s t r a n g e i r o s em L i s b o a p a r a o c o m é r c i o
dtrecto c o m a í n d i a . S e j a c o m o fôr, na a r m a d a
q u e a seguir partiu s o b o c o m a n d o d o G a m a
lá ia a nau S . T i a g o dos M a r c h i o n i , c o n f o r m e
se d e p r e e n d e d u m a c a r t a de quitação de D. M a -
nuel, p o r S o u s a V i t e r b o p u b l i c a d a (2).
Da a r m a d a de A f o n s o de A l b u q u e r q u e q u e
partiu em i5o3, s a b e m o s que fazia p a r t e u m a
nau a r m a d a «por conta d o s M a r c h i o n e s de Lis-
boa», c o n f o r m e escreveu J o ã o de E m p o l i , flo-
rentino, q u e ia p o r feitor d a dita n a u (3).
A c a b a r e m o s p o r a g o r a as citações d o s cronis-
tas, a c r e s c e n t a n d o a p e n a s que essas v i a g e n s se re-
p e t i r a m , v o l t a n d o J o ã o de E m p o l i à í n d i a m a i s
que u m a vez c o m o c a p i t ã o de n a u , e t e n d o u m
dos p r ó p r i o s M a r c h i o n i , P e d r o P a u l o , filho de
B a r t o l o m e u , e m b a r c a d o em nau sua p a r a a í n -
dia, em I520, na a r m a d a que J o r g e de B r i t o
capitaneava (4).
( 1 ) Lendas, p. 254.
(2) O Economista, 24 d ' o u t u b r o dé 1884.
(3) Viagem às índias Orientais, por J o ã o do E m p o l i ,
an Collecção de noticias para a H. e G. das P. Ultra-
marinas, t o m o II.
(4) B a r r o s , Décadas II e III, passim.
PEDRO ALVARES CABRAL1IQ. 1 iQ.
nuel, 72.
^3) O b r a c i t a d a , p á g . 104 e 148.
1 iQ.
PEDRO ALVARES CABRAL1IQ.
(i) d . . . et d i s e m e d o v e s s e s c r i v e r a v o s t r a s c r e n i t a ,
lhe mandi d a me a v a m i le galie a levar specie de qui, a
de qual f a r i a b u u n a c i c r a , et p o r i a n o j u d i c a r esser in
caxa s u a . . . »
1 iQ.
PEDRO ALVARES CABRAL1IQ.
Deve t r a t a r - s e d e B e n e d e l l o M o r e l l i M a r c h i o n i ,
(i) u e \ e u c o m é r c i o da
que v i v e u t a m b é m e m l . i s f t o a e e m i o
índia. Veja-se P e r a g a l l o .
PEDRO A L V A R E S CABRAL 1 IQ.
(1) C a n e s t r i n i , i d e m , e 00.
(2) Canestrini, idem.
I 1 0 EXPEDIÇÃO DE
(1) O b r a c i l a d a 149.
PEDRO ALVARES CABRAL 1 IQ.
AMERICANO
(i) N o b i l i á r i o d eR a n g e l d e M a c e d o .
PEDRO ALVARES CABRAL1IQ.
( 1 ) Década I, l i v r o 1 1 1 , cap. I V .
PEDRO ALVARES CABRAL 1 iQ.
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1-
riencia, que he m a d r e d a s c o u s a s , nos d e s e n g a n a e de
i o d a d u u i d a nos t i r a ; e p o r tanto, b e m a u e n t u r a d o P r i n -
cipe, temos s a b i d o e visto c o m o no terceiro anno de
v o s s o R e i n a d o d o hanno de nosso senhor de mil q u a t r o -
c e n t o s è n o v e n t a e oito, d o n d e nos v o s s a alteza m a n d o u
d e s c o b r i r a parte oucidental, p a s s a n d o a l e m ha g r a n d e z a
do m a r o c e a n o , onde he h a c h a d a a n a v e g a d a hüa t a m
g r a n d e t e r r a firme, c o m m u i t a s e g r a n d e s ilhas a j a c e n -
tes a e l l a , que se estende a setente g r a a o s de ladeza d a
linha e q u i n o ç i a l c o n t r a ho p o l l o á r t i c o e posto que s e j a
asaz f ó r a , he g r a n d e m e n t e p o u o r a d a , e do m e s m o c i r -
culo equinocial torna o u t r a vez e v a y alem em vinte e
o i t o g r a a o s e m e o de l a d e z a c o n t r a ho polio a n t a r t i c o ,
e tanto se d i l a t a sua g r a n d e z a e c o r r e c o m m u i t a l o n -
g u r a , que de h ú a parte nem da o u t r a nam f o y v i s t o
nem s a b i d o ho fim e cabo d e l i a ; pello qual segundo ha
h o r d e m que l e u a , he c e r t o que v a y e m - c e r c o y t o por
toda a Redondeza; asim que t e m o s s a b i d o que das.
p r a y a s e c o s t a d o m a r d ' e s t e s R e y n o s de P o r t u g a l e d o
p r o m o n t o r i o de F i n i s - T e r r a e de q u a l q u e r outro l u g a r
da E u r o p a e d ' A f r i c a e d ' A s i a h a t r a v e s a n d o alem t o d o
ho o c e a n o d i r e i t a m e n t e ha o u c i d e n t e , ou ha loest se-
gundo h o r d e m de m a r i n h a r i a , p o r trinta e seis g r a a o s
de l o n g u r a , que s e r a m seiscentas e quarenta e o y t o lé-
g u a s de c a m i n h o , c o n t a n d o ha d e z o y t o léguas p o r g r a a o ,
e ha l u g u a r e s a l g u m tanto m a i s l o n j e , he h a c h a d a e s t a
terra nauegtiada pellos nauios de vossa alteza e.
por vosso m a n d a d o e l i ç e n ç a , os dos v o s s o s v a s s a l o s e
n a t u r a e s , e h i n d o p o r e s t a c o s t a s o b r e d i t a , d o mesmo-
c i r c o l o e q u i n o c i a l em d i a n t e , per vinte e o y t o g r a a o s d e
I 10 EXPEDIÇÃO DE
l a d e z a c o n t r a o p o l i o a n t a r t i c o h eh a c h a d o n c l l a munto
e fino brasil c o m outras muitas cousas d eque o s nauios
nestes Reynos v e m grandemente carregados; e primeiro
muitos annos que esta fose sabida nem descuberta, disse
Vicente istorial n oseu primeiro livro que se c h a m a Es-
pelho das historias n ocapitolo cento e satenta e sete :
«Alem das tres partes d oorbe h aquarta parte h e a l e m
do mar oceano interior e m h om e o dia e m cujos termos
os antipodes dizem que abitam»; ora como asim seja
que esta terra d'aleem h e tam grande e d'esta parte
d'aquem temos Europa, Africa e Asia, manifesto h e que
ho mar oceano lie m e t i d o n om e o d ' e s t a s d u a s t e r r a s e
fica medio-terrano; pello qual podemos dizer que h o
mar oceano nam cerca h a terra c o m o o s philosophos
diseram, mas antes a terra deue cercar o mar, pois jaz
dentro n a sua comcavidade e centro; pello qual com-
crudo que o mar oceano nam h e outra cousa senam
húa muito grande halagúoa metida dentro na comcaui-
dade d a terra, e h am e s m a terra e h omar. a m b o s jun-
t a m e n t e , f a z e m h ú a R e d o n d e z a , d ec u j o m e o s a e m mui-
tos braços q u e entram pella terra, que medios-terranos
sam chamados, e que isto c r e a m o s por verdade.» Pag.'
23 e
(i) A s c i t á ç õ e s q u e f a z e m o s d eV i g n h a u d referem-se
t o d a s à s u a o b r a Americ Vespuce, d e p a g . 14'J a 1 4 5 .
l6o KXPEDIÇÁO DE
definitivo d e s c o b r i m e n t o d o caminho m a r í t i m o
p a r a a í n d i a . N ã o referem os cronistas durante
esse longo intervalo façanha descobridora nossa
digna de mencionar-se. T o d a v i a é em 1494
que se assina o tratado de T o r d e s i l h a s entre os
Reis Católicos e D. J o ã o II, tão longamente
disputado, e pelo qual finalmente nós consegui-
m o s u m a d e m a r c a ç ã o que abrange na nossa
esfera os vastos territórios do Brasil.
É , p o r v e n t u r a , crivei que o activíssimo mo-
narca por tão largo período suspendesse as
explorações n a v e g a d o r a s ? K que êle sistemati-
camente se obstinasse em alcançar a índia, con-
t o r n a n d o a Africa e recusando assim os planos
de Toscanelli, de C o l o m b o e Monetário, que
lhe aconselhavam a rota do Ocidente, e ao
m e s m o t e m p o com t a m a n h o ardor tivesse
porfiado em obter contra a primeira demar-
cação u m a outra que abrangesse aquela parte
austral do continente americano, sem o seu
conhecimento prévio? O s mesmos Reis Ca-
tolicos escreviam a C o l o m b o , durante as ar-
duas negociações, que depois da prática c o m
os portugueses diziam vários que a sudoeste
existiam ilhas ou u m continente mais rico
q u e todos os outros. (1) Mais nos confir-
(1) « Y p o r q u e d e s p u e s de la v e n i d a de los P o r t u g u e -
; en la p l á t i e a que con e l l o s se ha h a b i d o , a l g u n o s
PEDRO ALVARES CABRAL I77
DA EXPEDIÇÃO
V)>
ria do evangelho e ao fim d e l a . . . da- • . vinda» 1 '
e do achamento desta t e r r a . . . » ( i ) . N e m lhe
faltava, como expoente máximo da raça, aquela
alma ? ê m e a de B e r n a r d i m e de C a m õ e s p a r a
escrever, com h o m é r i c a f r e s c u r a , a primeira
estrofe dos Lusíadas do Ocidente, que se c h a m a
a carta de C a m i n h a .
P o r o u t r o lado, m u i t o ao c o n t r á r i o do que
afirma Vespucio na c a r t a de C a b o Verde, au-
tenticando-a com a sua jactância c o s t u m a d a ,
ao dizer . p e r c h e non fu in essa frotta cosmo-
g r a f o ne Mattematico n e s s u n o , che fu g r a n d e
e r r o r e » , a a r m a d a levava um c o s m ó g r a f o de
t a m alta e n v e r g a d u r a c o m o D u a r t e P a c h e c o e
ainda mestre João, físico, que segundo todas
as probabilidades era a s t r ó l o g o de El-Rei e
traduziu em castelhano, língua da sua natura-
lidade, o livro da G e o g r a f i a e C o s m o g r a f i a de
P o m p ó n i o Mela, cujo m a n u s c r i t o existe na Bi-
blioteca da A j u d a (2).
Iam ainda, segundo C a s t a n h e d a , R.DOO ho-
m e n s de a r m a s e cavaleiros fidalgos, como
V a s c o da Silveira e J o ã o de S á , êste ultimo que
a c o m p a n h a r a já Vasco da G a m a , pois, no dizer
de B a r r o s , a frota ia «mui p o d e r o s a em a r m a s
e em gente luzida». Além de G a s p a r da índia,
(1) S e g u n d o a R e l a ç ã o do piloto a n ó n i m o , a a r m a d a ,
após a tempestade em que s o s s o b r a r a m quatro naus,
lracionoii-se em três p a r t e s , a c r e s c e n t a n d o que num dos
grupos ia o c a p i t ã o m ó r e no o u t r o a nau E l - R e i . C a s -
tanheda. c o n f i r m a n d o , e s c l a r e c e que a t e r c e i r a parte era
constituída pelo navio de D i o g o D i a s , que p a r a sempre
se a p a r t o u da a r m a d a , e que no segundo i a m S a n c h o
de T o v a r e Nuno l . e i t á o . S e n d o a s s i m , s a b i d o o nome
d a nau de Nuno L e i t ã o , a nau E l - R e i p e r t e n c i a ao sub-
-comandante. Ainda mesmo, quando ao segundo grupo
pertencesse um t e r c e i r o n a v i o , c o m o se depreende da
R e l a ç ã o do p i l o t o a n ó n i m o , este, ao c i t a r u m a nau, re-
feria-se p o r certo á de S a n c h o de T o v a r , a qual sabe-
m o s ser d a s m a i s n o t á v e i s da a r m a d a .
PEDFO ALVARES CABRAL
18-1
d a r viabilidade a s e m e l h a n t e i n f o r m a ç ã o . Vi-
m o s a t r á s que o p r i m e i r o navio da a r m a d a a
L i s b o a c h e g a d o pertencia a u m e s t r a n g e i r o :
Bartolomeu Marchioni, florentino.
S a b e m o s já que B a r t o l o m e u era a s s o c i a d o
nesta expedição n e m m a i s nem m e n o s que d e
D. A l v a r o , tio e confidente do m o n a r c a . D a d a
elevadíssima categoria do florentino, p o r ê s t e
m e s m o facto p r o v a d a , não será a r r i s c a d a em
d e m a s i a a suposição de q u e ele p o r inconfidên-
cia do B r a g a n ç a , h o m e m , ao que parece, jac-
tancioso (i), conhecesse u m a parte dos segre-
dos de E s t a d o .
A v e r i g u a d o igualmente ficou que B a r t o l o m e u
M a r c h i o n i p r e s t a v a à c o r o a tais serviços, p e l o
q u e respeita à realização do plano dos desco-
b r i m e n t o s , que é lícito supô-lo u m pouco n o
segredo desse plano. E s s a c o n j e c t u r a m a i s ve-
rosímil se afigura, c o n s i d e r a n d o que m u i t o p r o -
vavelmente o rico m e r c a d o r interferiu na vinda
de Vespúcio p a r a P o r t u g a l , com o fim de reve-
lar ao rei os c o n h e c i m e n t o s , a d q u i r i d o s a b o r d o
dos navios espanhóis, das costas sul-america-
nas. De novo l e m b r a r e m o s que Vespúcio n a
c a r t a de C a b o V e r d e identifica as costas p o r
ele d e s c o b e r t a s e as visitadas p o r C a b r a l c o m o
C h e g a d o o t e m p o azado e prestes as n a u s
p a r a a partida, a u m domingo, 8 de m a r ç o
de i5oo, dirigiu-se D. Manuel, com toda a sua
côrte ao Restelo, onde já estavam as naus com
as gentes de m a r e de a r m a s , p a r a juntos ou-
virem missa na e r m i d a de N o s s a S e n h o r a de
Belem (i). E m torno da velha ermida do Infante
troso m a r a v i l h a o s o l h o s . E d a s f u n d u r a s ma-
r í t i m a s da b a r r a v e m u m apelo aliciante e mis-
terioso.
Naquele tempo o Tejo era mais largo em
frente do R e s t e l o ; e as p r a i a s , q u e , h o j e só
m a i s abaixo p r i n c i p i a m , a l a s t r a v a m d a e r m i d a
até às águas, n u m declive de a r e a i s l a v a d o s .
N o s tesos dos o u t e i r o s m a i s p r ó x i m o s , p o r c u j a s
remançosas faldas viçavam hortos e pomares,
g i r a v a c o m lenta m a j e s t a d e o v e l a m e t r i g u e i r o
d o s m o i n h o s . N a o u t r a b a n d a , as á s p e r a s coli-
n a s de a b r u p t o s b a r r a n c o s h u m i l h a v a m - s e ali,
as e n t r a d a s d o m a r , e i a m m o r r e r e m p r a i a , a
Caparica.
P o r ser d o m i n g o , dia de festa e d e s p e d i r da
armada, despopulara-se Lisboa e o povo denso
a l a s t r a v a e revolvia-se pelas p r a i a s e p o m a r e s
vizinhos. P r e d o m i n a v a m n o s o m b r i o a r r a i a l o s
t o n s e s c u r o s do b r i s t o l , do condado ou do
p a n o de v a r a s c o m q u e a a r r a i a m i ú d a se co-
b r i a . P o r e n t r e a d e s e n v o l t a c h u s m a d o s mes-
teirais, c o m seu g i b ã o c i n t a d o e os v a s t o s b o r -
zeguins f e s t e i r o s , o u d a s m u l h e r e s , g r o s s a s d e
s a i a s e leves de c o r p e t e , a e n t o r n a r pelo decote
os seios altos e m o r e n o s , os g r a d o s m e r c a d o r e s
a r r a s t a v a m as s u a s c a p a s n e g r a s e c o m p r i d a s ,
c o m o as d o s f r a d e s a g o s t i n h o s . A q u i e a l é m , o s
m a t a l o t e s , de p a r t i d a , o pé d e s c a l ç o , as b r a g a s
soltas, o r u d e c o t á o cingido a o peito, o b a r r e t e
v e r m e l h o p a r a t r á s , ou os h o m e n s de a r m a s , d e
i3
l18o KXPEDIÇÁO DE
q u e auxiliara D. J o ã o II n o p l a n o d o s desco-
b r i m e n t o s e c o n h e c i a o s altos s e g r ê d o s d a na-
ç ã o . M a i s u m a vez a c o n t i n u i d a d e do p l a n o se
afirmava na figura q u e ia s a g r a r , à p a r t i d a , o
capitão-mór da expedição.
A c a p e l a da e r m i d a , a r m a d a c o m p a n o s d e
c ô r e s r ú t i l a s , r e g o r g i t a v a da g e n t e n o b r e , d e ca-
p i t ã e s e n a v e g a n t e s . F a i s c a v a m na s o m b r a o s
elos dos colares, os borlados e guarnimentos
d e o i r o e p e d r a s finas. J u n t o do R e i . a g r u p a v a m -
-se, p o r c e r t o , o d u q u e I). J o r g e , filho do Prín-
cipe Perfeito, D. A l v a r o de B r a g a n ç a e o C o n d e
d e P o r t a l e g r e , q u e vinham ver t a m b é m o s s e u s
n a v i o s , o A l b u q u e r q u e , p a r a a b r a ç a r o sobri-
n h o p e l a ú l t i m a vez, o A l c á ç o v a , que r e d i g i r a
as i n s t r u ç õ e s , A i r e s G o m e s da Silva, o R e g e -
dor, o Gama, D. F r a n c i s c o d a A l m e i d a , e a
fiôr d a fidalguia c o r t e s ã . E n ã o h a v i a m d e ficar
distantes, entre a gente que a c o m p a n h a v a a
c o r t e , o M a r c h i o n i , o S e r n i c h e , o Sal vago e o s
demais opulentos parceiros d o s validos reais,
na expedição.
Junto do a l t a r , d o l a d o da e p i s t o l a , ruti-
lava o sólio e p i s c o p a l , c o m seu docel f r a n j a d o
d e o i r o , l a d e a d o p e l o s a s s e n t o s mais h u m i l d e s
dos acólitos. Do l a d o d o e v a n g e l h o , v e r g a v a e
fulgia a credencia com os vasos d o u r a d o s , as
p r a t a s e as alfaias, q u e s e r v i a m à c e l e b r a ç ã o d o
s a c r i f í c i o . O b i s p o , de c a p a m a g n a e m i t r a a
oiro e p e d r a s p r e c i o s a s , a v a n ç o u p a r a o a l t a r ,
if)b 18O E X P E D I Ç Ã O DE
e m p u n h a n d o com a p r u m a d a m a j e s t a d e o b á c u l o
d o i r a d o , ladeado d o s acolitos e p r e c e d i d o d o s
c e r o f e r á r i o s , t u r i f c r á r i o s e do p o r t a - c r u z , c o m
os capitulares de c a p a s r o ç a g a n t e s . S o b r e o
altar, p a r a m e l h o r vista da assistência, e n q u a n t o
d u r o u a c e r i m o n i a , esteve a r v o r a d a a b a n d e i r a
da cruz da o r d e m de Cristo. U m cheiro es-
p e s s o a cera e incenso entontecia. L e n t o s , os cân-
ticos dos p a d r e s a b i s m a v a m os h o m e n s e m me-
ditação. P r e g o u D o m Diogo Ortiz, glorificando
aquela santa e m p r e s a e louvando e incitando
P e d r o A l v a r e s C a b r a l e os seus c o m p a n h e i r o s ,
com o e x e m p l o de quantos o t i n h a m p r e c e d i d o
no h e r o i c o e s f o r ç o . C á f ó r a , a m a t a l o t a g e m
d e s c o b e r t a , que se apinhava á e n t r a d a da er-
m i d a , e s c u t a v a em silêncio ou m e s u r a v a c o m
as f r o n t e s e m sinal de assentimento. E d e n t r o
d a cortina real, ao lado do m o n a r c a , C a b r a l ,
s o l e n e m e n t e a d e r e ç a d o , m o s t r a v a no r o s t o grave
e' s o m b r i o de i m p a l u d a d o u m a f u n d a e a r d e n t e
c o m o ç ã o . E r a s n o v a s , cheias de glória p a r a
os h o m e n s , a l v o r a d a s de le, antevisões de im-
périos, anúncios em boca de p r o f e t a , p o r m a i s
imaginoso, nunca ouvidos, r e l a m p e j a v a m das
p a l a v r a s i n s p i r a d a s do bispo. Muitos olhos
abriam-se de p a s m o ; e u m a r r e p i o de e n t u s i a s m o
heroico c o r r i a à Hor das a l m a s .
F i n d a a m i s s a , o bispo lançou a bênção a
P e d r o A l v a r e s e igualmente benzeu a b a n d e i r a
de C r i s t o , q u e o R e i solenemente lhe entregou,
PEDFO ALVARES CABRAL
18-1
E r g u e r a - s e , c o m o é de uso, a t a r d e p a r a a
b a r r a , u m vento íino e sacudido. E s c u r a s , as
n a u s boiavam mais na urna azul do rio, e s o b r e o
trigueiro treu das velas oscilando sangrava a
cruz de C r i s t o , e m b l e m a do sacrifício e t e r n o
do H o m e m pelo h o m e m . Gaivotas, b a n d a -
das pelo alto, t r a ç a v a m em volta os augúrios
heroicos. A m a r i n h a g e m encostada as a m u r a s ,
ou d e b r u ç a d a das v a r a n d a s , das janeladas e
g r a d e s dos chapiteus, sacudia nas m ã o s c o m
saiidoso d e s g a r r o as c a r a p u ç a s encarnadas. Dir-
-se hia que o clarão apoteótico do ocaso nascia
dos corações em fogo. S ô b r e as cobertas d o s
navios, as pontas das lanças fulgiram, peia ul-
tima vez, a luz do poente. E na t e r r a , os an-
daimes da catedral do M a r , em construção,
cresceram no crepúsculo, a r r a n c a r a m da som-
b r a , e figuravam um arco de triunfo g : g a n t e s c o ,
alevantado sôbre aquêle povo. O p r o p r i o Ve-
lho do R e s t e l o , se de novo olhava da praia os
que p a r t i a m , havia de louvar a g o r a a sublime
e nunca vista e m p r e s a .
Mas, ao cerrar-se a tarde, a t u r b a d e b a n d o u e
o vento começou a s o p r a r com mais violência.
Na praia a g o r a apenas os vultos e r m o s das m u -
lheres, a r r a n c a d a s aos últimos a b r a ç o s , e des-
g r e n h a d a s pelo a r r e p i o vesperal, c o m e ç a v a m
de b r a d a r ou de c h o r a r baixinho. As b a n d e i r a s ,
as flâmulas, 'as latinas agudas das m e z e n a s ,
d r a p e j a r a m mais ansiosas, c o m o se as sacudis-
PEDFO A L V A R E S CABRAl 18-1
p o v o s . S c p r o s e g u í a m o s c o m as n a v e g a ç õ e s al-
tos interesses económicos partilhávamos tam-
b é m a aspiração que animava os povos europeus
d e a l a r g a r a consciência h u m a n a e c o n h e c e r o
I T m v e r e i 1 \ n 1 : 5 , Tm Hik t r r n n r l e c e c t ' i r i i e t u t m i e
D
q u e p e r a c a s a m p r o v e y t o s s a s ; e dee h o r d e m c o m o as
a j a e e s per aqueles preços que na teerra e s t a m e sse
c o s t u m a m v e m d e r , de g u i s s a q u e , se allguuns m e r c a d o -
res hy estantes, d e s p r o u v e r de n o s o trato sse f a z e r hy,
num posam icei" f o r m a s de as n i e r e a d a n a s d a t e r r a as
f a z e r e m m a i s l e v a n t a r , d a q u i l l o por que elles as ham ;
e. se a v o s a c h e g a d a , as dietas m e r e n d a r i a s pellos es-
tantes f o r e m a t r a v e s a d a s , v o s f a ç a dar pelo p r e ç o as
que sejoin necesarias pera c a r r e g a r estas n a a o s ; ou,
sse a m t e s quisser o b r i g a r s s e sseu f e y t o r a per ssy sso-
mente v o s d a r torta a c a r r e g a que o u v e r d e s m e s t e r pera
as n a a o s , r e p a r t i d a per a q u e l a s partes e ssorte de m e r -
cadaria que lhe a p o n t a r e s , apontados os p r e ç o s das
s u a s , e de c o m o t o m a r a m as n o s s a s , a v o s v<.s p r a z e r a
de assy sse fazer por m a i s breve d e s p a c h o v o s s o , e
m a i s brevemente se f a z e r e m as m e r c a d a r y a s
d i s e r e y s c o u s a s m u y t o de seu s e r v i ç o , e asentarey-s a i y
huüa nosa c a s s a , e m a qual ficaram os c l é r i g o s c f r a d e s
que e n v y a m o s p ê r a lhe e n s y n a r e m a lee, e c o m o nela
ham de c r e r e se s a l v a r . E assv ficaram mercadaryas
de que eile recebera iiiuytu proveyto.--
omra... hirem a s u a terra o abastarem sseu ( $ k )
naturaes d a s c o u s a s i i e c e s s a r y a s . que as terras m u y t o
n o b r e c e m . E , se, t o d a v y a , elle se l a n ç a r de vos d a r as
ditas a r r e f e e n s p e r a , s o b r e ellas, v o s poderdes s e g u r a -
mente h y r em terra, e r m a m lhe p e d i r a m que, a q u e l a s
que as n a a o s m a n d o u , pera eles sobre ellas. h i r e m a
elle, a j a por bem e s t a r e m c o m v o s c o nas n a a o s . ate que
elles c a r r e g u e m .
Emtam asemtado vsto c o m o dito rey, em que nam
c r e m o s que a j a d u v j d a . c o m e ç a r a o dito A y r e s C o r r e a
de tirar suas m e r c a d a r i a s em teerru, e v e m d e r e c o m -
prar as que lhe p a r e ç e r e m proveytossas pera nosso
s e r v i ç o ; e nam pohera em terra toda a m c r c a d a r i a
junta, senam a q u e l a que p a r e c e r n e c e s a r y a pera se p o -
der v e m d e r , e e m p r e g a r o dinheiro que d e l l a p r o c e d e r
em o u t r a que l o g o sse v e n h a as n a a o s ; de m a n e i r a q u e
s e m p r e em t e r r a sse c o r r a o menos risquo que p o d e r d e s .
E m casso que o d i t o r e y d i g a que nom ha de d a r
arrefeens, porquamto elle o nam c o s t u m a f a z e r a n e -
nhuuLis, p o r q u e s u a t e r r a , pera todos aquelles q u e a
ella quisserem h i j r t r a u t a r , he c e r t a e s e g u r a , e que a s y
será a elles, sse n e l l a q u i s s e r e m decer, trautar. c o m p r a r
e v e n d e r , e q u a a e s quer o u t r a s p a l l a v r a s a este r r e s p c y t o ,
de m o d o que t o d a v y a se escusse de d a r as ditas a r r e f e s
asy pera sobre e l l a s v o s s a y r d e s , c o m o a t r a s he d y t o ,
c o m o outras pera s o b r e ellas f a z e r o d y t o A y r e s C o r r e a
ha m e r c a d a r y a d a c a r r e g a , e m tall c a s s o , v o s ihe p o d e r e s
m a n d a r tornar a dizer que, o que elle asy diz, s e r á m u v
g r a m d e v e r d a d e , e que v o s n a m credes que all se f a ç a ,
nem elle o c o n s s e m t a ; m a s que, posto que tall s e j a o
c o s t u m e seu e de s u a terra, e ysto que lhe r e q u e r e s d a s
•224 EXPEDIÇÃO DE
c e r , e virdes que c o m p r a p o r m a i s c e r t o r e c a d o d a s
c o u s a s de nosso s e r v i ç o .
E , e m q u a n t o nestas negociacoes e falias andardes
com o d i t o rey de C a l l e c u t , t r a b a l h a r v o s es, per q u a l -
tsrtcnpç (V ssnher sse n o d e s a v e r
quel iiiouu q u e iii.iiivy. — 1
carrega em C a l l n u r p e r a v o s s a s n a a o s , e a s s y , se, que-
r e m d o v o s 11a p a s a r e a s e n t a r v o s s a c a s s a , sse p o d e r á
f a z e r c o m nosso s e r v i ç o , e seres la b e m r e c e b i d o , e
a s s y , sse pera o diante, a s e n t a n d o hy, p o d e r a m sser se-
guras t o d a s as c o u s a s , asy pera a c a r r e g a d o s t e m p o s
vyndoyros, c o m o d a e s t a d a do n o s s o f e y t o r , e toda
o u t r a e n f o r m a r a m , s e m e l h a n t e , pera que, n o m s o o m e n t e
p o s a e s ser e n f o r m a d o no que la a j a e s de f a z e r , m a s
a j n d a pera d isso p o d e r d e s trazer jnteira e c e r t a e n f o r -
m a ç a m , quando em b o o a (sic) vierdes.
I t e e m , p o r q u a n t o nesta m a n e i r a , nom s a y m d o a j c m t c
f a z e r s u a s m e r c a d a r y a s , se s s e g u y r i a i n c o n v e n i e n t e , ter
sse ha esta m a n e i r a , s a b e r : o d i c t o A y r e s C o r r e a c o m -
p r a r a toda a e s p c ç i a r y a que as d i t a s p a r t e s q u i s s e r e m
c o m p r a r , as q u a a e s lhe e n t r e g a r a m suas m e r c a d a r y a s ,
pera per ellas as a v e r , e dar lha a pellos p r e ç o s p o r
que a p o s s a c o m p r a r , ssem nisso aver n e n h u m o u t r a
m u d a n ç a , segundo mais compridamente em seu r e g y -
m e n t o ' s e d e c r a r a ; e, se pella v e n t u r a p a r e ç e r que esto
' sera gramde trabalho ao dito A y r e s C o r r e a , e que ho
n a m p o d e r á s s o f r e r . pello que h a de f a z e r no n o s s o ,
e m t a m v o s c o m elle e seus s p r i v a ã e s e m b j e r e s h u u m
f e y t o r . que pera ello vos p a r e ç a m a i s auto e pertecente
e ser lhe a h o r d e n a d o huum s p r i v a m , o quail a c o m p r a
da especiarva das ditas partes f a r a das m e r c a d a n a s
que d e l l a s ' r e c e b e r , p a s s a m d o em tall h o r d e m , que se
f a c a t o d a v e r d a d e , e se n o m s y g a as p a r t e s nenhuum
engano, semdo o tal feytor, porem, sempre acordado
c o m o d i t o A y r e s C o r r e a , no p r e ç o d a s m e r c a d a n a (sic)
asy d a s n o s s a s que v e n d e r , c o m o d a s q u e na t e r r a c o m -
prar E quanto a a s o u t r a s m e r c a d a r y a s m y u d a s de pe-
PEDRO ALVARES' CABRAL 235
l5
EXPEDIÇÃO DE
•224
m e r c a d o r i a s , a que rnuy p r i n c i p a l m e n t e f o m o s m o v y d o
p o r elle c o n h e c e r c o m q u a n t o d e s s e j o de s u a a m i z a d e
e p r e s t a n c a e s t a m o s , e q u a n t o c o m ella s e m p r e nos he
de p r a z e r ! que lhe p e d i j s que q u e i r a e m v i a r c o m v o s c o
allcuúas p e s s o a s h o m r r a d a s que nos v e n h a m ver, p e r a
que n o m ssoomente vejam a nos e a nossos r e y n o s ,
mas, ajnda pellas o b r a s , h o n r r a s e m e r ç e s , que de nos
r e c e b e r a m p o s a m m i l h o r sentijr a v o m t a d e que t e e m o s
p e r a elle c s u a s c o u s a s ; e t r a b a l h a r v o s es de as trazer,
e, t r a z e m d o , as r e c e b e r a m de v o s toda h o n r r a e b o o m
t r a u t o , q u e seja p o s y v e l . _
E se f o r c a s s o que v o s n a m s e j a m d a d a s nenhuas d a s
a r r e f e e n s p o r nenhuum d o s m o d o s a t r a s a p o m t a d o s , e
d e n e c e s s i d a d e a j a a e s de t r a b a l h a r p o r aver a c a r r e g a
das n a a o s . na f o r m a a t r a s s c r i p t a , per h o m d e c r a r a -
mente s s e m t i r e s e veres que n o s s o feytor e m e r c a d a n a ,
c asv as o u t r a s p e s s o a s que c o m ele v a á o h o r d e n a d a s
per:' ficarem, nam d e v e m ficar s e g u r a s na d.ta c . d a d e
d e C a l l e c u t . em tal c a s s o , d e p o i s de nossas n a a o s c a r r e -
a d a s , lhe e m v i a r ê s dizer que v o s levaveijs p r e p o s . t o , e,
a j n d a . n o s s o m a r , d a d o , de a l y l e i x a r n o s s o f e y t o r e c a s a
de nossas m e r c a d a r y a s . c o m o no c a p i t u l o a t r a s se de-
c r a r a , c o m o mais que e m t a m vijrdes ; e, a s s e m t a n d o
vos asy a ficada do dicto f e y t o r , e as c o u s a s c o m o
dito rey de C a l l e c u t fiquem a c o r d a d a s , c o m todo sseu
prazer e nosso serviço, e vos, tomada vossa carregua,
p o r d e r r a d e i r o lhe d i r e e s , que elle deve ter ja c o n h e ç . d o
q u a n t a s e g u r a n ç a de n o s s a p a z e a m i z a d e s e e m p r e ha
de teer, a qual per n o s , e p e l l o s n o s s o s , em t o d o s tem-
p o s lhe s s e r a jmteiramente g a r d a d a . e c o m todo sseu
PEDRO ALVARES' CABRAL 235
c o m o p o r q u e a nos veem q u a s s y p o r d i r e i t a s o b c e s s a m ,
p e l l o q u e m y u d a m e n t e lhe p o d e r e s a p o n t a r d a s c o u s a s
da guerra d a a l l e e m , nos teemos contjnuadamente
g u e r r a , p o r e m , que, por tal, que as c o u s a s g r a n d e s he
pequenas fiquem c r a r a s e c e r t a s , c o m o antre nos e elle
c o m v e e m , lhe f a z e e s s a b e r que, sse c o m as n a a o s d o s
ditos m o u r o s de M e c a t o p a r d e s no m a r , a v e e s de t r a -
balhar, quanto poderdes, p o r as t o m a r , e de s u a s mer-
c a d a r y a s e c o u s a s , e asy m o u r o s que nellas v i e r e m , v o s
aproveytar, como milhor p o d e r d e s , é lhe f a z e r d e s toda
guerra e dapnno que posaaes, como a pessoas com
quem tamta j m i z a d e , e tam a n t y g a , t e m o s ; e t a m b é m
porque comprimos com a q u e l o que a D e u s n o s s o S e -
n h o r s o m o s o b r i g a d o ; p o r e m , q u e s e j a c e r t o q u e , em
seu p o r t o , e d a v a n t e s u a c i d a d e , p o s t o que v o s as to-
pees, e a s y q u a a e s q u e r o u t r o s n o s s o s c a p i t a a e s , que a o
diante e m v i a r m o s , por lhe g a r d a r m o s o que em toda
c o u s a d e sseu p r a z e r e c o n t e n t a m e n t o s e m p r e a v e e m o s .
de f o l g a r , lhe nom f a r è s d a n o nem mall a l l g u u m , e
s s o o m e n t e lhe ssera asy f e i t o t o p a m d o as 110 m a r , c o m o
he d y t o , h o m d e elles a v o s , e a s s y aos n o s s o s que a o
diante a c h a r e m , a s y f a ç a m o que p o d e r e m ; e que s s e j a
a j u d a c e r t o , p o r s a b e r c o m o a elle e a suas c o u s a s ha
de ser g a r d a d o o que se d e v e c o m o a rey c o m que t a n t o
a m o r , p a z e a m i z a d e senpre a v e m o s de f o l g a r de t e e r ;
e que, t o m a n d o v o s , ou q u a e s q u e r o u t r o s n o s s o s c a p i -
t a a e s , a s ditas n a a o s , que t o d o s o s j n d y a n o s que n e l l a s
se a c h a r e m , e suas m e r c a d a r y a s e c o u s a s , n o m se f a r a
n o j o n e m d a p n n o , antes t o d a h o m r r a e b o o m t r a u t o , e
seram seguros d isto p e r a l i v r e m e n t e c o m todo o s s e u
serem leixados; porque ssoomente a o s ditos mouros
•224 EXPEDIÇÃO DE
sera f e i t a a g u e r r a , c o m o a j m v g o s que s a m n o s s o s ; e
a j n d a nos p r a z que. p o i s elle pode e s c u s a r estes m o u r o s
em s u a s t e r r a s e trato d e l l a s , p o i s p r o u v e a n o s s o S e -
nhor que de nos e de n o s s o s r e c e b e s s e todo o p r o v e y t o
que d elles ate ora o u v e . e a j u d a m u y t o m a i s , q u e s e n a
beern. e s e r v i ç o de Deus. e p o r q u e nisto c o m p r y a o que
deve c o m o rev c h r i s t a ã o , os l a n ç a r de s u a terra e nom
consentvr a elo mais v i r o j r n e m t r a u t a r , p o y s d elles e
de s u a d e t e m ç a . vinda e e s t a d a n e l l a , lhe n o m segue
m a i s b e m , que o p r o v e y t o que d elles ha. o qual em nos
n o s s o s (sic) r e c e b e r a , c o m a j u d a de n o s s o S e n h o r , c o m -
tanto mais a c r e c e n t a m e n t o . que elle s e j a contente ; e
q u e . s e m d o a s v os taaes m o u r o s e n a a o s de M e q u a pellos
n o s s o s t o m a d a s , que. neste c a s s o , elle dê s e g u r a n ç a , per
s u a c a r t a , que, posto que, p o r c a u s a d ello, os d i t o s
m o u r o s de M e c a . que aos t a e s t e m p o s , em s u a c i d a d e e
t e r r a s e s t e v e r e m . e q u a e s q u e r o u t r o s que ho d e p o i s re-
queiram requeiram (sic) que lhe s e j a feita r e p r e s a r y a
em nosso feytor e casa e nosas mercadarias e pessoas
que c o m e l l a s e s t e v e r e m . p e r a per ello serem s a t i s f e v -
tas do dapnno que lhe p e l l o s n o s s o s f o r f e i t o , elle ho
n a m f a ç a ; n e m aos n o s s o s , nem n o s a s m e r c a d a r y a s seja
p o r y s s o f e i t o c o s t r a n g y m c n t o , nem d a n o a l l g u u m . an-
tes ó s d e f e n d a sempre,' c o m o he o b r i g a d o peita paz e
a m i z a d e que c o m n o s c o tem.
c a r r e g a . c se v e n d e r e m n o s s a s m e r c a d a r y a s , e c o m p r a -
- a s que de la o u v e r m o s mester, de que a elle, e a
Oda s u a t e r r a , se s s e g u y r a g r a m d e h o m r r a e p r o v e y o ;
. ... . „ „ n , „ , „ n , r a . fiaue em sua c i d a d e a p n n -
l à ü por» dríodõilos a,-; d a Índia, que lhe p e d i ,
que sse P elle c o m v o s c o q u i s e r asentar, r e c e b a d isso p -
« r e a i a p o r b e m ficar asy o dito f e y t o r e v o s de d ello
oda surança do c o s t u m e d a terra,, s a b e r : suas c a r -
ta e qualquer o u t r a s e m e l h a n t e ; e, sse quiser m a n d a r
u ^ : p e s s o a ou pessoas s u a s , que v e n h a m
a n o s o s r e y n o s , pera v e r e m o que neles h a , e lhe pode,
ta 1 c e r t e z a , que credes que nos o a v e r e m o s
e m p r a z e r , e Ih as m a n d a r e m o s t o r n a r nas n o s s a s n a a o s
2 receberam de nos h o m r r a e m e r ç e , e a s s y de v o s
no caminho sseram tratados como vos mesmo. E.
I a. e m t a m ficara o dito n o s s o f e y t o r , c o m t o d o s
: v ão h o r d e n a d o s de c o m elle ficar, m e r c a d a r y a s
e c o u s a s que l e v a pera s u a ficada; e, tudo c o n c e r t a d o ,
os v o em b o o a ora. E nesta falia primeira.
que c o m ho dito rey o u v e r d e s , t r a b a l h a r e s l o g u o de s a -
ber e em sua c i d a d e se a c h a r a c a r r e g a d a s e s p e c i a r y a s
e virai, a ella as o u t r a s m e r c a d a r y a s d a Indya e sse
!, T t r a b a l h a r a d , sso ; e assy s s e as m e r c a d a r y a s
c u e a e o r a levastes, as querem a q u y , ou o u r a s ; e, sse
o u ras de que s s o r t e s , p e r a nos s a b e r d e s d a r de tudo
r e z a m , e aliem d i s s o ficara c u j d a d o p r i n ç . p a l do f -
or saber e sse dar h o r d e m c o m o o d u o rey l h ,
Z ' i e . por ellas e dê f o r m a c o m o aly se t r a g a m
vTn ; ' pera as elle p o d e r c o m p r a r e ter p r e s t e s , p e r a
auand.; nosas naaos forem, p r a z e n d o a nosso Senhor,
acharem certa sua carrega, c o m toda,las outras cousas
de que se ha de ter c u i d a d o , s e c u n d o que em seu rcgy
T - b o o a o r a , a q u y em C a n e l u r , tever-
d e ^ c o m ertadô e a ficada do dito feytor asemtada
e le d e c i d o e m terra c o m todo o que v a y o r d e n a d o de
PEDRO AI.VARES CABRAI.
265
r o T o T — n - -so^ Pane e » ^
d O S t
^ % T « o T l p u ^ h e sabido, e pella dl-
neSte l
d a I Tu p e l a ventura, poderès achar nos costu-
versidade que. peia / e m outra maneira
mes da terra, p a . e c e m d c v que ? ^
devês mudar e ^ è e s s e ^ m o s por nosso
V e n h
r neste c asso. peUa rnui ta comfiança que de vos
s e r v i ç o , neste cas o P m a n d a m o s , que facaes
seguyrês e farees.
Item, o capitam segundo
C A R T A DE P E R O V A Z DE C A M I N H A
S e n h o r . P o s t o que o c a p i t a m m o o r d esta v o s s a f r o t a ,
e asy os outros capitaáes, sprevam a Vossa Alteza a
n o v a d o a c h a m e n t o d e s t a v o s s a terra n o v a , que se o r a
neesta n a v e g a ç o m a c h o u , nom l e i x a r e y t a m b é m de d a r
d isso minha c o m t a a V o s s a A l t e z a , asy c o m o eu m i -
lhor poder, a j m d a que, p e r a o bem c o n t a r e f a l a r , o
saiba pior que t o d o s f a z e r ; p e r o tome V o s s a A l t e z a
minha inoramçia por b o a v o m t a d e ; a qual bem c e r t o
c r e a , que p o r a f r e m m o s e n t a r nem afear aja aquy d e
p o e r m a i s c a a q u i l o que v y e me p a r e ç e o . D a m a r i n h a -
j e m e s i n g r a d u r a s do c a m i n h o n o m d a r e y a q u y c o n t a a
V o s s a A l t e z a , p o r q u e o n o m s a b e r e y f a z e r , e os p i l o t o s
devem teer ese c u i d a d o ; e p o r t a n t o , senhor, do que e y
de f a l a r c o m e ç o e d i g u o :
Q u e a p a r t i d a de B e l e m . c o m o V o s a A l t e z a s a b e , f o y
segunda f e i r a ix de M a r ç o , e s a b a d o xiiij (14) do dito
mes, a m t r e as biij (8) e ix o r a s . nos a c h a m o s a m t r e as
C a n a r e a s . m a i s p e r t o d a G r a m C a n a r e a ; e aly a m d a -
mos todo aquele d i a e m c a l m a , a vista d e l a s , o b r a de
tres ou quatro l e g o a s ; e d o m i n g o x x i j (-22) do dito m e s ,
aas .x oras, pouco m a i s o u menos, o u v e m o s v i s t a d a s
jlhas de C a b o V e r d e , s a b e r : da jlha de S a m N j c o l a a o ,
segundo dito de P e r o E s c o l a r , piloto ; e, a n o u t e se-
g u j m t e aa s e g u n d a f e i r a , lhe a m a n h e ç e o (sic) se p e r d e o
d a f r o t a V a a s c o d A t a v d e c o m a s u a n a a o , sem h y aver
t e m p o f o r t e , nem c o n t r a i r o p e r a poder s e e r ; fez o c a p i -
234 •224 EXPEDIÇÃO DE
b e r t a s , que n o m a v i a hy nehuüa v e r g o n h a . T a m b é m a n -
d a v a hy outra mother m o ç a c o m h u u m menjno ou me-
njna no c o l o atado c o m h u u m p a n o nom sey de que a o s
p e i t o s , que lhe nom p a r e ç i a s e n o m as pernjnhas, m a s a s
p e r n a s da m a y e o a! noin trazia nenhuum pano. E des-
p o i s m o v e u o c a p i t a m pera c i m a a o longo d o rrio, que
anda sempre a c a r a m da p r a v a , e aly esperou huum
velho que trazia na m a á o hüa p a a d a l m a d i a ; f a l o u ,
estando o c a p i t a m c o m ele, perante nos todos, sem o
n u n c a n j m g u e m emtender, nem ele a nos quant a c o u -
sas que lh ornem p r e g u m t a v a d o u r o . que nos d e s e j a v a -
m o s s a b e r se o a v i a na terra. T r a z i a este velho o beiço
tam f u r a d o , que lhe c a b e r j a pelo f u r a d o huum g r a m
d e d o p o l e g a r , e trazia m e t i d o no f u r a d o huúa p e d r a
v e r d e roim que ç a r a v a per f o r a aquele b u r a c o ; e o c a -
p i t a m lh a fez t i r a r ; e ele n o m sey que d i a a b o f a l a v a , e
hia c o m ela pera a b o c a d o c a p i t a m pera lh a m e t e r ;
e s t e v e m o s sobre iso huum p o u c o rijnado (rijnando), e
e n t a m e n f a d o u se o c a p i t a m e leixou o ; e huum d o s
nosos deu lhe p o l a pedra huum s o n b r e i r o velho, n o m
por ela valer algüa coussa, mas por mostra ; e despois
a ouve o c a p i t a m , c r e o p e r a c o m as outras c o u s a s a
a mandar a V o s s a Alteza. A m d a m o s per hy veendo a
rribeira, aqual he de mujta a g u a . e mujto b o a ; ao
l o n g o d ela ha m u j t a s p a l m a s , n o m mujto altas, em que
ha muito b o o s p a l m i t o s . C o l h e m o s e c o m e m o s d eles
muitos. E n t a m tornou-se o c a p i t a m pera b a i x o pera a
b o c a d o r r i o , onde d e s e n b a r c a m o s , e aalem do rrio a m -
davam muitos d eles d a m ç a n d o e folgando huuns ante
o u t r o s , sem se t o m a r e m pelas m a á o s , e f a z i a m no bem.
P a s o u se e m t a m a a l e m do rrio D i o g o Dias, a l m o x a r i f e
que f o y de S a c a v é m , que he h o m e m g r a c i o s o e de p r a -
zer. e levou c o m s i g o huum g a y t e i r o noso c o m s u a g a i t a ,
e m e t e o se c o m eles a d a n ç a r t o m a n d o os pelas m a á o s ,
e eles f o l g a v a m e r i a m , e a m d a v a m com ele m u y b e m
a o s o o m d a g a i t a . D e s p o i s d e d a n ç a r e m fez lhe aly a m -
•224 EXPEDIÇÃO DE
S e n o r ? O b a c h e r e l mestre J o h a m , fisjco e ç i r u r g y a n o
de V o s s a A l t e z a , b e s o v o s a s rreales m a n o s . S e n o r : p o r -
que, de todo lo a c a p a s a d o l a r g a m e n t e e s c r i v i e r o n a
Vosa Alteza, a s y A r i a s C o r r e a , c o m o t o d o s los o t r o s ,
solamente escrevjrê dos puntos. S e f í o r : a y e r s e g u n d a
f e r i a , que f u e r o n 27 de A b r i l , d e s ç e n d j m o s en tierra, y o ,
e el p y l o t o do c a p y t a n m o o r , e el p y l o t o de S a n c h o d e
Tovar; e t o m a m o s el altura dei s o l , al m e d j o d j a ; e
f a l í a m o s 66 g r r a d o s , e la s o n b r r a era septentrional. P o r
lo q u a l , segund ias r r e g r a s del e s t r s l a b j o , j u s g a m o s ser
a f a s t a d o s de la e q u i n o ç i a l , por 17 g r r a d o s ; e, p o r c o n -
s y g u j e n t e , tener el altura del polo a n t a r t i c o en 17 g r r a -
d o s , segund que es magnjliesto en el espera ; e esto es
quanto a la uno. P o r lo qual, sabrra V o s a A l t e z a que
t o d o s l o s p y l o t o s van adjante de m j , en tanto que P e r o
E s c o b a r v a a d j a n t e i5o léguas, e o t r o s m a s . e o t r o s me-
nos ; p e r o quien djSo la v e r d a d , non se puede ç e r t y f i c a r ,
f a s t a que en b o a o r a allégemos al c a b o de B o a E s p e -
r a n ç a , e ally s a b r r e m o s quien va m a s çierto ; e l l o s c o n
la c a r t a , o y o e o n la c a r t a e c o n el e s t r o l a b j o . Q u a n t o ,
s e f í o r , al s y t y o d e s t a tierra, m a n d e V o s a A l t e z a traer
un n a p a m u n d j que tjene P e r o V a a z B i s a g u d o , e p o r ay
podrra ver Vosa A l t e z a el s y t y o desta tierra ; en pero,
aquel n a p a m u n j non certifica esta tierra ser h a b y t a d a ,
o no. E s n a p a m u n d j a n t j g u o ; e ally f a l i a r a V o s a A l t e z a
escripta tanbyen la Mina. A y e r e a s y e n t e n d j m o s p o r
'7
•224 EXPEDIÇÃO DE
el p o l o antartyco
la bosva
D o c r i a d o de V o s a A l t e z a e v o s o leal s e r v j d o r J o h a -
nes a r t i u m et medicine b a c b a l a r i u s .
(Sobrescripto):) A E l Rey noso Senhor.
RELAÇÃO DO PILOTO ANÓNIMO
C A P I T U L O I.
N o anno de mil o q u i n h e n t o s m a n d o u o S e r e n í s s i m o
Rei de P o r t u g a l D. M a n o e l h u m » a r m a d a ue d o z e nàos
e n a v i o s p a r a as p a r l e s d a índia, e p o r s e u C a p i t ã o m ó r
Pedro Alvares Cabral, Fidalgo d a s u a C a s a , as quaes
partirão bem apparelhadas, e providas do necessário
para anno e m e i o de v i a g e m . Dez d e s t a s n à o s l e v a v á o
r e g i m e n t o de hir a C a l i c u t , e as d u a s restantes a hum
l u g a r c h a m a d o Ç o f a l a p a r a c o n t r a t a r em m e r c a d o r i a s ,
ficando este p o r t o na m e s m a d e r r o t a de C a l i c u t , p a r a
o n d e as o u t r a s dez hifio c a r r e g a d a s . E m hum D o m i n g o
outo de M a r ç o d a quelle a n n o , e s t a n d o tudo prestes,
sahimos a d u a s m i l h a s de d i s t a n c i a de L i s b o a , a hum
iugar chamado R a s t e l l o , onde está o C o n v e n t o de He-
PEDRO ALVARES' CABRAL 235
C A P I T U L O II.
C A P I T U L O 111.
DUAS ILHAS
C A P I T U L O IV.
CAPITULO V.
C A P I T U L O VI.
muitos c a v a l l o s e e l e f a n t e s : o R e i foi I d o l a t r a , m a s
fez-se depois Mouro por causa dos muitos de que
a b u n d a o seu R e i n o ; porém entre o s naturaes a i n d a ha
bastantes Idolatras. A c h ã o - s e aili g r a n d e s m e r c a d o r e s ,
os quaes por h u m a parte c o n t r a t á o c o m o s Á r a b e s , e
pela o u t r a c o m a Índia, que c o m e ç a p r o p r i a m e n t e aqui,
e c o r r e m estes m e r c a d o r e s toda esta c o s t a até a o R e i n o
de C a l i c u t , e por toda ella ha grandes e bellissimas
Províncias e Reinos de Mouros e de Idolatras. Deve
advertir-se que tudo o que neste C a p i t u l o d e i x o escrito
f o i observado por nós.
CAPITULO Vil.
lS
a68 •224 EXPEDIÇÃO DE
P a d r e s que l e v a v a m o s p a r a ficarem c o m o F e i t o r de
Calicut: e assim nos confessámos e commungámos
todos, e depois de t o m a d a a a g o a e lenha precisa vendo
que as náos dos M o u r o s não acabavíio de c h e g a r , par-
timos para C a l i c u t , que dista daqui setenta legoas.
C A P I T U L O VIII.
C A P I T U L O IX.
e d u a s de v e l u d o c a r m e z i m : d e m a i s d i s t o h u m docel de
brocado com franjas de o u r o e c a r m e z i m , h u m tapete
grande, e dous p a n o s de A r r a z m u i t o ricos, h u m de fi-
g u r a s , e o u t r o de verdura. Q u a n d o E I R e i h o u v e recebido
este presente j u n t a m e n t e c o m a carta, e a e m b a i x a d a ,
mostrou-se muito alegre, e disse a o C a p i t ã o m o r que
se p o d i a retirar p a r a a q u e l l a casa que lhe t i n h a man-
dado preparar, e que fizesse vir o s h o m e n s q u e dera
em refens, porque eráo de qualidade, e não podiáo
c o m e r , beber, nem d o r m i r n o m a r ; e que se elle queria
hir para as n á o s que fosse, p o i s n o d i a seguinte tor-
n a r i a a m a n d a r - l h o s . e elle v o l t a r i a a terra, p a r a tratar
d o q u e lhe fosse necessário.
C A P I T U L O X.
V o l t o u P e d r o A l v a r e s p a r a as náos. e d e i x o u e m terra
A f f o n s o F u r t a d o c o m sete o u o u t o h o m e n s , p a r a cuida-
rem n o que t i n h a em casa. A p e n a s elle p a r t i o d a praia,
logo hum Zambuco dos de C a l i c u t lhe foi a d i a n t e ate
ás n á o s , para d i z e r aos que estavão e m refens, c o m o o
Capitão mór voltava: assim que elles ouvirão isto
immediatamente se l a n ç a r ã o ao mar; e logo Aires
Corrêa Feitor mór se metteo em h u m b a t e l , e t o m o u
dous dos principaes. c o m d o u s o u tres dos seus fami-
liares que os t i n h ã o a c o m p a n h a d o , p o r é m t o d o s os ou-
PEDRO ALVARES' CABRAL 235
C A P I T U L O XI.
CAPITULO XII.
CAPITULO Xlíl.
p e s c a d o r e s lhe sahissem a o e n c o n t r o ; ou f u g i r i ã o , ou
r e c e b e r í á o muitas b a s t o n a d a s . E s t e s principaes quando
m o r r e o R e i , ou suas mulheres, queimâo o c o r p o com
m a d e i r a de sandalo pelo h o n r a r : a gente de b a i x a con-
d i ç ã o he enterrada, e cobrem-lhe com cinza a c a b e ç a e
as c o s t a s : trazem sempre a b a r b a c o m p r i d a .
CAPITULO XIV.
CAPll'UIX) XV.
1 .. . i.. ,„iip'i P r o v i n c i a .
Ha lambem outros roereuuuie» —
chamados Zetires, os quaes s ã o Idolatras, e grandes
contratadores de j ó i a s , de p é r o l a s , de o u r o e de prata
São mais n e g r o s , a n d ã o nus. e trazem t o u c a d o s mats
pequenos, e os cabel.os metidos por
espécie de b o l s a s c o m p r i d a s , que parecem cauda d,
boi ou de c a v a l l o . E s t e s h o m e n s s ã o o s m a . o r e s e n c a n -
adores do m u n d o , f a l l á o t o d o s o s dias invisivelmente
Demonic; e as suas mulheres são - o luxu-
r «as Nesta Cidade ha t a m b é m Mouros de M e c a , d e
Turquia de B a b i l ô n i a , de P e r s i a , e de m u n a s outras
S S a s . São mercadores grandes e rtcos que em
Je todas as m e r c a n c i a s , que a q u . v a o ; isto hc, oias
J muitas q u a l i d a d e s , sedas de o o r o e f — o r
-ilmisrar a m b a r , b e i j o i m , e n c e n s o , pao aloes, rui
t
no coiana cr v o da Índia, canella, p â o B r a . i l ,
I f d l " a - m o s c a d a e m a s s a , o que tudo v e m
d a - além da gengibre, pimenta, t a m a r i n d o ; £
asao
•224 EXPEDIÇÃO DE
C A P I T U L O XVI.
•10 C a i r o p a r a A l e x a n d r i a .
Havendo já tres mezes que e s t a v a m o s em terra c o m
o tratado assentado, e duas das nossas n á o s carregadas;
mandou o C a p i t á o m ó r hum dia dizer a E I R e i , que , a
i. .,„» alli estavamos. e gue
era passante ue u e s —•
náo h a v i a ainda c a r r e g a d a s senão duas n á o s ; que os
Mouros lhe escondião as m e r c a d o r i a s , as quaes as naos
de Meca c a r r e g a v á o occultamente ; pelo que elle lhe
fizesse dar melhor despacho, pois a m o n ç ã o estava
próxima. E I R e i lhe respondeo que aprontaria todas as
m e r c a d o r i a s que quizesse, e que nenhuma náo de Mou-
ros c a r r e g a r i a em quanto as nossas não estivessem
c a r r e g a d a s ; m a s s e a l g u m a contraviesse esta ordem, o
Capitáo mor a poderia tomar p a r a e x a m i n a r se cont.-
nhão e s p e c i a r i a s , que elle lhe f a r i a d a r pelo mesmo
preço que os Mouros as tivessem c o m p r a d o .
CAPITULO XVII.
CAPITULO XVIII.
CAPITULO XIX.
CAPITULO XX.
CAPITU1.0 XXI.
Q u a n d o o C a p i t ã o m ó r v i o isto m a n d o u f e r r a r ; m a s o
vento c r e s c e o tanto pela noute a d i a n t e , que o n á o po-
d í a m o s a u g o e n t a r ; l o g o que elle a m a i n o u , m a n d o u P e -
d r o A l v a r e s o s b a t é i s á n á o , c o m o r d e m de a s a l v a r se
podessem, e se não. queimarem-na voltando com a
gente. Neste t e m p o e s t a v a |á a n á o a b e r t a , e p o s t a em
paragem donde não podia sahir; e o vento crescia
tanto, que as o u t r a s e s t a v á o em g r a n d e p e r i g o ; de m o d o
que f o i n e c e s s á r i o m u i t o trabalho p a r a s a l v a r a gente
em c a m i z a , tudo o m a i s se perdeo. A n á o e r a de du-
z e n t a s toneladas, c a r r e g a d a de e s p e c i a r i a s ; e tendo ella
a r d i d o p a r t i m o s dalli somente em n u m e r o d e s i n c o , e
passámos por Melinde aonde não p o d e m o s e n t r a r : de-
pois viemos a Moçambique a o n d e fizemos a g o a d a , to-
m á m o s lenhas e e s p a l m á m o s as e m b a r c a ç õ e s . P o r or-
d e m d o C a p i t ã o m ó r p a r t i o dalli S a n c h o de T o v a r em
h u m n a v i o m a i s p e q u e n o , c o m hum P i l o t o q u e tinha-
m o s t o m a d o , a fim de r e c o n h e c e r a Ilha de Ç o f a l a ; e
nós d e p o i s de r e p a r a d o s , p a r t i m o s em n u m e r o de q u a -
tro n á o s , e f o m o s d a r a huma angra aonde fizemos
huma grande p e s c a r i a de p a r g o s , e p a r t i d o s d e lá tive-
m o s h u m a t o r m e n t a , que nos fez v o l t a r p a r a traz em
a r v o r e s e c a . perdendo neste m e i o t e m p o h u m a náo de
vista, p o r m a n e i r a que f i c á m o s somente tres.
CAPITULO XXI.
C h e g á m o s a o C a b o de B o a E s p e r a n ç a d i a d e P a s c o a
de flores, e ahi a c h á m o s bom t e m p o , c o m o qual v i a j á -
m o s p a r a diante e a b o r d á m o s na p r i m e i r a t e r r a junta
PEDRO ALVARES' CABRAL 235
d i c e , è m o l t o alue, e infinita l a c c a , e m o i t a d r a p p e r i a d i
s e t a . E d é di tanta p o p o l a z í o n e c o m e el C a i r o , e di M e -
zibinco f u r o n o a C h i l o a , e a M a b a z a , (Monbaza) e d a
Mabaza a D i m o d a z a , e a Melinde. D i p o i a M o g o d a s c o
(Magadasso), e a Camperuia, e a Zendach dipoi a
 m a a b , d i p o i A d a b u l (forse R a s u e i ) e A l u u i c o n . T u i t e
q u e s t e c i t t à sono nella c o s t a del m a r e O c c e a n o , e v a n n o
fino alio stretto del M a r e R o s s o . E l quale m a r e avete d a
c o s t a del m a r e Índico. C r e d o che sia la p r o v í n c i a c h e
Tolomeo la c h i a m a G e d r o s i c a . Q u e s t o M a r e P e r s i c o ,
dicono che è molto r i c c o , m a tutto non s'ha c r e d e r e ,
p e r c i ò le l a s c i o nella penna a chi meglio ne p o r g e r a la
verità.
O r a mi resta a dire delia c o s t a , che v a dallo stretto
dei M a r e P e r s i c o verso el m a r e Indico, secondo che mi
r a c o n t o n n o , molti che funno nella detta a r m a t a ; e m a s -
sime il d e t t o G u a s p a r r e , el quale s a p e v a d i m o l t e l i n g u e ,
e il n o m e di molte p r o v i n c i e e citta. C o m e dico è u o m o
m o l t o a l t e n t i c o , p e r c h e ha fàtto due fiate el v i a g g i o di
P o r t o g a l l o a l M a r e Indico.
D a l l a b ò c c a del m a r e P e r s i c o si n a v i c a a una c i t t à ,
che si d i c e Z a b u l e (forse D a b u l e ) ; di /.abule a G o o s a
( G o a ) , e da G o o s a a Z e d e u b a . e dipoi a Nui, d i p o i a
Bacanut, (forse B a r c e l o r ) , dipoi a S a l u t ; dipoi a M a n -
galut, i M a n g a l u r ) , dipoi a B a t e c a l a , dipoi a C a l n u t , poi
a D r e m c p e t a m . dipoi a F a n d o r a n a , dipoi a C a t a t , d i p o i
a C a l i g u t . Q u e s t a città c m o l t o grande ; e fu 1' a r m a t a
de ' P o r t o g a l l e s i a r i p o s a r e in essa. D i p o i di C a l i g u t a
B e l f u r , d i p o i a S t a i l a t , dipoi a R e m o n d , dipoi a P a r a -
v r a n g r a r i , dipoi a T a n u i ( T a n o r ) , dipoi a P r o p o r n a t ,
dipoi a C u n i n a m , dipoi a L o n a m , dipoi a B e l i n g u t , d i -
poi a P a l u r , dipoi a G l o n c o l o i , dipoi a C o c h i n , dipoi a
C a i n c o l o n (forse C u l a n ) dipoi a C a i n , dipoi a C o r o n c a -
r a m , d i p o i a S t o m o n d e i , d i p o i a N a g a i t a n , dipoi a Del-
m a t a n , d i p o i a C a r e p a t a n , dipoi a C o n i m a t . I n f i n o a qui
h a n n o n a v i g a t o le frotte di P o r t o g a l l o , che benchè non
•224 EXPEDIÇÃO DE
O r a d i r ó la c o s t a del M a r e R o s s o d a l l a p a r t e dell'
A f r i c a . A l i a b o c c a dello stretto d' esso m a r e sta Z o i c h e
[Zeile], ch' e signore d'essa uno M o r o , che si c h i a m a
A g i d a r c a b i , e dice che sta tre giornate a p r e s s o al p o r t o
di G u d a . tiene m o l t o o r o . m o l t i alefanti e infinito m a n -
tenimento.
Da Zoiche ad A r b a z u i [ f o r s e A s a b ] , Di questi d u o
p o r t i d ' A r b o i a m e Z a l a n' é s i g n o r e el P r e s t o G i o v a n n i ,
e ivi d i r i m p e t t o é un p o r t o che si n o m i n a T u i è quale
e del gran S o l d a n o di B a b i l ó n i a . D i p o i da T u i a A r -
d e m , e d a A r d e m a Z e o n . Q u e s t o c quanto io ho p o t u t o
avere del M a r e R o s s o ; r i f e r i s c o m i a chi m e g l i o l o sa.
Resrami ora a dire quello io intesi delia c o s t a d e l i a
M e c c a , c h ' e dentro del M a r e P e r s i c o che si é el s e -
guente.
•224 EXPEDIÇÃO DE
Q u e s t a c c o p i a di una letera di Z u a n F r a n c e s c o de
la F a i t a d a . s c r i t a in L i s b o n a , a di 2t> zugno i 5 o i , d r í z a t a
in S p a g t i a , a s i c r D o m e n e g o P i s a n i , el c a v a l i e r , o r a t o r
nostro; la qual per sue di X luio, la m a n d o in questa
terra.
Magnilice o r a t o r e t c .
A questi zorni passati s e r i s s i per Z u a n V e s i g a ; poi
in questo zorno l i a v e m o v o s t r a , per la qual n e comete,
li d a g a m o n o t i t i a de la e x p e d i t i o n de 1 ' a r m a t a di questo
s e r e n i s i m o re. B e n c h e per missier G r e t i c o s a r a s c r i t o a
c o m p i m e n t o , i o v o g l i o d a r notitia a quela de la p a r t i t a
de questa a r m a t a , la qual partite de qui a li 17 zugno,
et a li 18 fu in L a c u s , terra de lo A l g a r i u s , c h e de qui
i questa terra f a n n o 40 lige. Del qual l o c o de L a c u s
s i a m o a v i s a t i , luni p a s s a t o la predita a r m a d a era in-
grossaia de m o l t e nave et m o i t a g e n t e ; e, s e c o n d o
m ' a v i s a n o per letere de d o m e n i c a p a s s a t a , del regno de
Algarius montarano piu di 2000 h o m e n i , o l t r a quelli
che de qui a n d o r o n o con le nave che p a r t i n o . L o e f f e -
cto che questo re m a n d a q u e s t a a r m a d a a q u e s t o l o c o
dei m o r i , e per p i g l i a r l o ; et eri, c h e fo lo di de S a n c t o
Joanne, havevano lo a r s a l t o in terra. Q u e s t o é quanto,
tin questo di, se intende de la p r e f a t a a r m a t a . D a p o ' se
extima andara a s u o c a m t n o , d o v e era d e p u t a d a ; c h e
Dio li c o n c i e d a v i t ó r i a ! L a m a g n i f i c e n t i a v o s t r a s a p e r a ,
•224
•224 EXPEDIÇÃO DE
21
•224 E X P E D I Ç Ã O DE
322
Pie.
DEDICATÓRIA
1
L i s b o a no ano de iSoo
A populaçfio e a vida da cidade y
Influência das primeiras novas do Oriente sôbre
a n a ç ã o e o rei '9
E x a m e d a s fontes e primeiros textos sóbre a ex-
pedição 41
- D i s t r i b u i ç ã o dos comandos. Figuras principais da
51
armada
- G e n e a l o g i a e biografia de P e d r o Alvares G a b r a l . 5;
, D a d o s genealógicos e biográficos sobre os capi-
tães e figuras principais da armada 87
A s s o c i a d o s comerciais do rei na expedição. Os '
Marchioni de F l o r e n ç a "7
«. Duarte P a c h e c o e as anteriores viagens ao conti-
nente americano '44
^ O r g a n i z a ç ã o e objectivo da expedição >73
A p a r t i d a da armada do Restelo >9'
a 0 í
Conclusão
DOCUMENTOS
Pig-
Carta de capitania a Pedro Alvares Gouveia
Fragmentos tic instruções a Pedro Alvares Cabra] 215
C a r t a de P e r o Vaz de Oaininha -JJ?
C a r t a d e Mestre J o ã o >57
Relação do piloto anónimo >60
C a r t a de A m é r i c o Vespúcio 5 q8