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Os Maias,

deOEça
quede
é aQueirós
filosofia?
O Ramalhete (capítulo I, excerto)
A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua
de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente
o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes
severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de
fila, alinhamento
janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspeto tristonho de residência eclesiástica que competia a
descrição do uma edificação do reinado da senhora D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-
Ramalhete -ia a um colégio de Jesuítas. O nome do Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado de
azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca chegara a ser colocado, e
relativo ao brasão
representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números de
uma data. [...]
O resultado era que os Maias, com o Ramalhete inabitável, não possuíam agora uma casa em Lisboa; e se
Afonso naquela idade amava o sossego de Santa Olávia, seu neto, rapaz de gosto e de luxo que passava as
férias em Paris e Londres, não quereria, depois de formado, ir sepultar-se nos penhascos do Douro. E com
efeito, meses antes de ele deixar Coimbra, Afonso assombrou Vilaça anunciando-lhe que decidira vir
habitar o Ramalhete! O procurador compôs logo um relatório a enumerar os inconvenientes do casarão: o
maior era necessitar tantas obras e tantas despesas […] e por fim aludia mesmo a uma lenda, segundo a
indício trágico qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete […].
Afonso riu muito da frase, e respondeu que aquelas razões eram excelentes – mas ele desejava habitar
reação de sob tetos tradicionalmente seus; se eram necessárias obras, que se fizessem e largamente; e enquanto a
Afonso lendas e agoiros, bastaria abrir de par em par as janelas e deixar entrar o sol. […]
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 5-7 (texto com supressões)
pp. 215-216
O Ramalhete (capítulo I, excerto, conclusão)

dupla adjetivação
Afonso era um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes: e com a sua face larga de nariz
aquilino, a pele corada, quase vermelha, o cabelo branco todo cortado à escovinha, e a barba de neve
curvo como
aguda e longa – lembrava, como dizia Carlos, um varão esforçado das idades heroicas, um D. Duarte de um bico de
retrato de Meneses ou um Afonso de Albuquerque. […]
águia

Afonso Vilaça costumava dizer que lhe lembrava sempre o que se conta dos patriarcas, quando o vinha
encontrar ao canto da chaminé, na sua coçada quinzena de veludilho, sereno, risonho, com um livro na casaco curto

mão, o seu velho gato aos pés. […] Tinha nascido em Santa Olávia, e recebera então o nome de Bonifácio: e largo

depois, ao chegar à idade do amor e da caça, fora-lhe dado o apelido mais cavalheiresco de D. Bonifácio de
Calatrava: agora, dorminhoco e obeso, entrara definitivamente no remanso das dignidades eclesiásticas, e
era o Reverendo Bonifácio…
preparação da Esta existência nem sempre assim correra com a tranquilidade larga e clara de um belo rio de verão.
analepse
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 14-15 (texto com supressões)

juventude e vida e amores de


vida da Afonso Pedro da Maia

p. 217
Os amores de Pedro da Maia e Maria Monforte (capítulo I, excerto)

gosto Numa tarde, estando no Marrare, vira parar defronte, à porta de Madame Levaillant, uma caleche azul
requintado de onde vinha um velho de chapéu branco, e uma senhora loira, embrulhada num xale de Caxemira. […]
Maria Eduarda Sob as rosinhas que ornavam o seu chapéu preto, os cabelos loiros, de um ouro fulvo, ondeavam de leve amarelado
sobre a testa curta e clássica: os olhos maravilhosos iluminavam-na toda; a friagem fazia-lhe mais pálida a
carnação de mármore: e com o seu perfil grave de estátua, o modelado nobre dos ombros e dos braços
que o xale cingia – pareceu a Pedro nesse instante alguma coisa de imortal e superior à Terra. […] envolvia
atitude de Daí a dias, Afonso da Maia viu enfim Maria Monforte. […] Maria, abrigada sob uma sombrinha escarlate,
domínio sobre trazia um vestido cor-de-rosa cuja roda, toda em folhos, quase cobria os joelhos de Pedro, sentado ao seu
Pedro lado: as fitas do seu chapéu, apertadas num grande laço que lhe enchia o peito, eram também cor-de-
rosa: e a sua face, grave e pura como um mármore grego, aparecia realmente adorável, iluminada pelos
olhos de um azul sombrio, entre aqueles tons rosados. No assento defronte, quase todo tomado por
cartões de modista, encolhia-se o Monforte, de grande chapéu panamá, calça de ganga, o mantelete da
filha no braço, o guarda-sol entre os joelhos. Iam calados, não viram o mirante; e, no caminho verde e
fresco, a caleche passou com balanços lentos, sob os ramos que roçavam a sombrinha de Maria. O
indícios trágicos Sequeira ficara com a chávena de café junto aos lábios, de olho esgazeado, murmurando:
– Caramba! É bonita!
Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre
Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de sangue alastrando a
caleche sob o verde triste das ramas. […]
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 24-31 (texto com supressões)

pp. 219-220
A educação de Carlos da Maia (capítulo III, excerto)

– Olá! Quem toca por cá? – exclamou Vilaça, parando nos degraus da escada, ao ouvir em cima um afinar
gemente de rebeca.
– É o Sr. Brown, o inglês, o precetor do menino… Muito habilidoso, é um regalo ouvi-lo; [...]
educador
– Então, o nosso Carlinhos não gosta de esperar, hem? Já se sabe, é ele quem governa… Mimos e mais
mimos, naturalmente…
características Mas o Teixeira, muito grave, muito sério, desiludiu o senhor administrador. […] Coitadinho dele, que tinha
da educação sido educado com uma vara de ferro! Se ele fosse a contar ao Sr. Vilaça! Não tinha a criança cinco anos já
inglesa dormia num quarto só, sem lamparina; e todas as manhãs, zás, para dentro de uma tina de água fria, às
vezes a gear lá fora… E outras barbaridades. Se não se soubesse a grande paixão do avô pela criança, havia
de se dizer que a queria morta. Deus lhe perdoe, ele, Teixeira, chegara a pensá-lo... Mas não, parece que
era sistema inglês! […]

Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 60-61 (texto com supressões)

pp. 224-225
O consultório de Carlos da Maia (capítulo IV, excerto)

– E o consultório, meu senhor, não é aqui, nem acolá; é no Rossio, ali em pleno Rossio! […]
Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de banquetas de marroquim, devia pequenos bancos
estacionar, à francesa, um criado de libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papel verde de forrados a couro
decoração uniforme
ramagens prateadas, as plantas em vasos de Ruão, quadros de muita cor, e ricas poltronas cercando a
luxuosa do jardineira coberta de coleções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns de atrizes seminuas; para
consultório tirar inteiramente o ar triste de consultório, até um piano mostrava o seu teclado branco. […]
tridimensionais

O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida entre os espessos veludos escuros, na penumbra
sensações da que faziam os estores de seda verde corridos. […]
cidade  Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, o rolar dos americanos, subiam, numa carruagens sobre
carris de tração
indolência vibração mais clara, […] e essa sussurração lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado de clima rico, animal

pareciam ir penetrando pouco a pouco naquele abafado gabinete e resvalando pelos veludos pesados, pelo
verniz dos móveis, envolver Carlos numa indolência e numa dormência… Com a cabeça na almofada,
preguiça
fumando, ali ficava, nessa quietação de sesta […] e, com os olhos nas flores do tapete, terminava por
decidir que aquelas duas horas de consultório eram estúpidas! […]

inatividade e
diletantismo de Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 104-109 (texto com supressões)

Carlos
pp. 226-227
O jantar no Hotel Central (capítulo VI, excerto)

Entravam então no peristilo do Hotel Central – e nesse momento um coupé da Companhia, chegando a pátio rodeado por colunas

largo trote do lado da Rua do Arsenal, veio estacar à porta. tipo de carruagem

Um esplêndido preto, já grisalho, de casaca e calção, correu logo à portinhola; de dentro um rapaz muito
magro, de barba muito negra, passou-lhe para os braços uma deliciosa cadelinha escocesa, de pelos
esguedelhados, finos como seda e cor de prata; depois apeando-se, indolente e poseur, ofereceu a mão a com ar afetado,

uma senhora alta, loura, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua artificial

caracterização carnação ebúrnea. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, pele com tom de

de Maria maravilhosamente bem-feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de ouro, e marfim

Eduarda um aroma no ar. Trazia um casaco colante de veludo branco de Génova, e um momento sobre as lajes do
peristilo brilhou o verniz das suas botinas. […]

Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, p. 164 (texto com supressões)

p. 228
O jantar no Hotel Central (capítulo VI, excerto, conclusão)

Esse mundo de fadistas, de faias, parecia a Carlos merecer um estudo, um romance… Isto levou logo a
falar-se do Assommoir, de Zola e do realismo – e o Alencar imediatamente, limpando os bigodes dos pingos novela do escritor Émile Zola
de sopa, suplicou que se não discutisse, à hora asseada do jantar, essa literatura latrinária. Ali todos eram repugnante
temas abordados homens de asseio, de sala, hem? Então, que se não mencionasse o excremento! […]
no jantar no Ega ia fulminá-lo. Mas, vendo que o Cohen dava um sorriso enfastiado e superior a estas controvérsias de
Hotel Central literaturas, calou-se […].
– Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá… O empréstimo faz-se ou não se faz? […]
– A bancarrota é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela – continuava o Cohen – que seria
mesmo fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país… […]

Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 171-174 (texto com supressões)

p. 230
As corridas de cavalos no hipódromo (capítulo X, excerto)
Críticas:
espaço físico À entrada para o hipódromo, abertura escalavrada num muro de quintarola, o faetonte teve de parar danificada
decadente atrás do dog-cart do homem gordo – que não podia também avançar porque a porta estava tomada pela tipo de carruagem
caleche de praça, onde um dos sujeitos de flor ao peito berrava furiosamente com um polícia. Queria que
comportamento se fosse chamar o Sr. Savedra! O Sr. Savedra, que era do Jockey Club, tinha-lhe dito que ele podia entrar
tipo de carruagem

social sem pagar a carruagem! […] Outro municipal intrometeu-se, brutalmente. Duas senhoras, agarrando os
vestidos, fugiram para um portal, espavoridas. [...] aterrorizadas
No recinto em declive, entre a tribuna e a pista, havia só homens, a gente do Grémio, das secretarias e da
Casa Havanesa; a maior parte à vontade, com jaquetões claros, e de chapéu-coco; outros mais em estilo, de
sobrecasaca e binóculo a tiracolo, pareciam embaraçados e quase arrependidos do seu chique. […] Aqui e
além um cavalheiro, parado, de mãos atrás das costas, pasmava languidamente para as senhoras. Ao lado
desajuste social de Carlos dois brasileiros queixavam-se do preço dos bilhetes, achando aquilo “uma sensaboria de rachar”.
[…]
monotonia
– Vamos nós ver as mulheres – disse Carlos. [...]
A maior parte tinha vestidos sérios de missa. [...]
– É um canteirinho de camélias meladas – disse o Taveira, repetindo um dito do Ega.

Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 324-328 (texto com supressões)

pp. 232-233
Os amores de Carlos da Maia e Maria Eduarda (capítulo XIII, excerto)

simbologia Maria Eduarda achou originalíssimo o nome de Toca. […]


do nome Mas depois o quarto que devia ser o seu, quando Carlos lho foi mostrar, desagradou-lhe com o seu luxo
estridente e sensual. Era uma alcova recebendo a claridade de uma sala forrada de tapeçarias, onde elementos
desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte: da porta de comunicação, arredondada em arco decorativos
de capela, pendia uma pesada lâmpada da Renascença, de ferro forjado: e, àquela hora, batida por uma sugestivos
larga faixa de sol, a alcova resplandecia como o interior de um tabernáculo profanado, convertido em retiro santuário desrespeitado
lascivo de serralho… Era toda forrada, paredes e tetos, de um brocado amarelo, cor de botão-de-ouro; um harém
tapete de veludo, do mesmo tom rico, fazia um pavimento de ouro vivo sobre que poderiam correr nus os
pés ardentes de uma deusa amorosa – e o leito de dossel, alçado sobre um estrado, coberto com uma armação de madeira
colcha de cetim amarelo, bordada a flores de ouro, envolto em solenes cortinas também amarelas de velho
simbologia brocatel, enchia a alcova […].
da relação Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos. [...]
Abraçou-a pela cinta, sorriam um ao outro. […]
entre
Maria Eduarda deixou-se levar assim enlaçada pelo salão, depois através da sala de tapeçarias, onde
Vénus e Marte e Vénus se amavam entre os bosques. […] Ele, tendo-a sempre abraçada, pousou-lhe no pescoço um
Marte beijo longo e lento. Ela abandonou-se mais, os seus olhos cerraram-se, pesados e vencidos.
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 445-452 (texto com supressões)

pp. 236-237
O sarau no Teatro da Trindade, um segredo e um encontro (capítulos XVI e XVII, excerto)

caracterização
Pararam à porta do Teatro da Trindade no momento em que de uma tipoia de praça se apeava um sujeito de
do tio de barbas de apóstolo, todo de luto, com um chapéu de largas abas recurvas à moda de 1830. Passou junto dos dois
Dâmaso amigos sem os ver, recolhendo um troco à bolsa. Mas Ega reconheceu-o.
– É o tio do Dâmaso, o demagogo! Belo tipo! […]
– Vossa Excelência desculpe! – exclamou o demagogo esbaforido. – Mas vi-o descer, queria-lhe dar duas
indício trágico palavras, e como me vou embora amanhã… […]
(“barbas de – Aqui está o que é… Vossa Excelência sabe, ou talvez não saiba, que eu fui em Paris íntimo da mãe do carruagem

apóstolo”; Sr. Carlos da Maia… Vossa Excelência tem pressa, e não vem agora a propósito essa história. Basta dizer que aqui
“luto”; “moda há anos ela entregou-me, para eu guardar, um cofre que, segundo dizia, continha papéis importantes… […] Ora
hoje justamente, ali no teatro, comecei a refletir que o melhor era entregá-lo à família… […]
de 1830”.
– Perfeitamente! – acudiu Ega. – Eu estou mesmo em casa dos Maias, no Ramalhete. […]
– Muito agradecido a Vossa Excelência! Eu junto-lhe então um bilhete e Vossa Excelência entrega-o da minha
reconhecimento parte ao Carlos da Maia, ou à irmã.
Ega teve um movimento de espanto:
– À irmã!… A que irmã?
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 600-629 (texto com supressões)

pp. 243-244
O sarau no Teatro da Trindade, um segredo e um encontro (capítulos XVI e XVII, excerto)
O Sr. Guimarães considerou Ega também com assombro. E abandonando-lhe lentamente a mão:
– A que irmã!? À irmã dele, à única que tem, à Maria! […]
reação de
Era ao meio do Loreto, sob o lampião de gás. E o Sr. Guimarães de repente estacou, vendo os olhos do
Ega à Ega esgazearem-se de horror, uma terrível palidez cobrir-lhe a face.
revelação – Vossa Excelência não sabia nada disto? […]
[…] Ega […] às quatro da manhã estava bêbedo […]…
Acordou ao outro dia […] e já batera meio-dia quando se apeou à porta particular dos quartos de Carlos uso
[…]. expressivo do
– Que diabo de embrulhada é esta, que me vem contar o Vilaça? – rompeu Carlos […].
advérbio e do
E Ega, miudamente, contou a sua longa, terrível conversa com o Guimarães, desde o momento em que o
homem, por acaso, já ao despedir-se, já ao estender-lhe a mão, falara da “irmã do Maia”. […] diminutivo
E Carlos [...] vergava os ombros, esmagado também sob a certeza da sua desgraça. […]
– E o pior ainda não é isto, Ega! O pior é que temos de lhe dizer tudo, de lhe contar tudo, a ela!… […]
E, entre o tumulto destes pensamentos, de repente achou-se na Travessa da Parreirinha, defronte da
casa de Maria. […] Então Carlos deu um passo no tapete, sem rumor. Ainda sentia o ranger mole do leito. E
já todo aquele aroma dela que tão bem conhecia, esparso na sombra tépida, o envolvia [...].
[…] Um suspiro, um pequenino suspiro de criança, fugiu dos lábios de Maria, morreu na sombra. Carlos
consumação sentiu a quentura de desejo que vinha dela, que o entontecia, terrível como o bafo ardente de um abismo,
do incesto escancarado na terra a seus pés. Ainda balbuciou: “Não, não…” Mas ela estendeu os braços, envolveu-lhe
o pescoço, puxando-o para si, num murmúrio [...].
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 629-673 (texto com supressões)
pp. 244-245

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