Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE SAVE – MAXIXE

Nome: Rachid Erasmo Utui

Cadeira: Epistemologia curso de Inglês 3 ano.

Docente: Ma. Sélio Cussumo

Referências bibliográficas: ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes.

Capítulo
Ideias principais Obs

Capítulo No Discurso de Rousseau, uma preocupação com o Rousseau, por meio de


1 comportamento moral dos homens de seu século que não estão seu discurso, vai
enxergando os descaminhos produzidos por um puro analisar se o
encantamento das luzes. Não se trata de olhar somente para o restabelecimento das
desenvolvimento da ciência e para tudo que se faz em termos de ciências e das ates vai
aplicabilidade desta ciência, quando se evidência o lugar da contribuir para
técnica. Mas é importante, e por isso necessário, que nos aprimorar ou tornar
voltemos para a perspectiva moral do ser humano, para nos podre os costumes da
darmos conta de que a virtude está esquecida. É isto que nos diz sociedade. Ou seja, ele
Rousseau ao olhar o seu mundo, situado no século XVIII, para vai analisar as
dizer, primeiro, a uma Banca Julgadora do seu Discurso; consequências do
depois, ao público em geral, que não está satisfeito com o desenvolvimento das
endeusamento da razão, porque parece que as luzes ofuscaram a ciências e das ates no
mente humana, de forma que os princípios da moralidade comportamento das
ficaram esquecidos ou ignorados. pessoas.

No seu Discurso, Rousseau começa elogiando o feito dos Para Rousseau, por
homens, alcançado graças às luzes de sua razão. O meio de seu próprio
restabelecimento das ciências e das artes, segundo ele, é esforço a das luzes da
inegavelmente um grandioso espetáculo. Ninguém pode razão, o homem poderá
ignorar, conforme este entendimento, o mérito dos homens em sair das trevas das
revolucionar a ciência, lançando-se às regiões celestes e quais o envolveu a
percorrendo a vasta extensão do universo em passos de gigante. natureza,
Mas, como veremos a seguir, apesar disto, não podemos nos principalmente após o
conformar pura e simplesmente com o avanço da ciência e da desenvolvimento das
tecnologia, uma vez que algo muito sério fica ignorado em toda artes e das ciências. Ele
esta corrida em busca da perfeição das ciências e das artes. É considera os nossos
inegável o elogio que Rousseau faz ao ser humano que, costumes primordiais
comparado ao sol, lançou-se “pelo espírito, às regiões celestes”, rústicos, porém puros.
percorrendo todo o universo. Mas, ao mesmo tempo que faz E éramos todos pessoas
este elogio, chama a atenção para o fato de ser “ainda maior e do bem, eis que a onde
mais difícil, penetrar em si mesmo para estudar o homem e das ciências nos banha,
conhecer sua natureza, seus deveres e seu fim. e corrompe esses
O Discurso sobre as ciências e as artes começa pomposamente valores.
por um elogio da cultura. Nobres frases se desdobram,
descrevendo em resumo a história inteira do progresso das
luzes. Mas uma súbita reviravolta nos põe em presença da Rousseau considera a
discordância do ser e do parecer. Belo efeito de retórica: um ciência como algo
toque de varinha mágica inverte os valores, e a imagem ruim, algo que agride a
brilhante que Rousseau pusera sob os nossos olhos não é mais tudo que há de bom no
que um cenário mentiroso belo demais para ser verdadeiro. ser humano: a moral.
Para ele, as ciências e
Já a partir do elogio referido acima, bem como da crítica que o as artes nasceram de
acompanha, certificamo-nos do seguinte: primeiro, Rousseau nossos vícios. As
estava certo de que não se tratava de ignorar o significado das considera inúteis no seu
luzes da razão, que tornaram possível o desenvolvimento da objetivo, que é de nos
ciência e da tecnologia; por outro lado, tratava-se também de tornar mais sábios, e
dizer que, apesar de todo encantamento da ciência, os homens, muito perigosas pelos
ofuscados pelas luzes, acabaram esquecendo deles mesmo. efeitos que produzem,
Assim, dizer que é somente razão para elogios, é proferir uma corrompendo nossos
mentira. Esta pode ser expressa pela brilhante imagem que valores.
chega até nós da ciência, quando esta se põe fora de qualquer
crítica, mas sendo apenas objeto de endeusamento. Onde estão
as virtudes? Esta pergunta fica um tanto implícita, neste
primeiro Discurso de Rousseau, e vai se explicitando à
proporção em que o autor vai questionando o que fora feito em
termos de virtude, enquanto se celebrava o restabelecimento das
ciências e das artes.

Uma passagem significativa da primeira parte do Discurso em


que Rousseau apresenta a metáfora do “atleta que se compraz
em combater nu”, nos dá uma justa noção da fragilidade de uma
leitura crua do estilo rousseauniano. O argumento subentendido
nesta metáfora visa justamente a definição de virtude e que ela
se distingue da polidez: “a virtude não é muito compatível com
tão grande pompa”. Sem pretender caricaturar o argumento,
devemos dizer que nessa passagem Rousseau não pretende
problematizar o contexto esportivo em que os atletas estão
inseridos (tampouco atletas nus), mas sim apresentar por meio
de uma metáfora a diferença entre o que seria a virtude e, por
outro .lado, a sua “máscara”. É clara a influência das regras
retóricas na utilização das figuras, contudo, a metáfora não
pretende criar uma imagem para substituir a definição, mas
apenas sugerir uma distinção anteriormente não considerada
pelo leitor. Sendo a polidez uma marque, um signo comumente
vinculado à ideia de virtude, somente um signo distinto poderá
criar a oposição e levar o auditório a desvencilhar-se de sua
opinião precedente. São “outros sinais” que devemos considerar
na definição de virtude, logo, o homem de bem,
verdadeiramente virtuoso, despreza todos esses vis ornamentos.
Mais uma vez, a presença da “arte retórica” no Discurso não
apenas nos coloca diante do problema da “superficialidade”,
como também do “vazio” da obra, de modo que também nos
oferece o caminho para atingirmos seu centro lógico, isto é,
suas “razões”.
como no exemplo acima, o uso da analogia entre a polidez e a
“pantomima ultramontana” e entre a virtude e a “rusticidade
tudesca, diz muito sobre a intenção retórica de Rousseau,
afinal, é a própria oposição entre ser e parecer – dissociação
fundamental no universo retórico, que vem ocupar o núcleo do
Discurso. É sob este aspecto que a retórica “funciona” na obra
e é somente com o Prefácio a Narciso, em que Rousseau
distingue sua intenção sob dois aspectos, “convencer” e
“persuadir”, que a retórica deixa de ter um papel privilegiado
de acesso à obra.

Para concluir, enfim, fica bastante claro que a retórica vista em


perspectivas reducionistas como o estilo ou o sermão não
conseguiriam perscrutar toda a complexidade presente no
contexto retórico do Discurso. O estilo pode até persuadir, mas
não convence, enquanto o sermão não consegue persuadir
ninguém contra o vício, embora pudesse em último caso
convencer o auditório dos benefícios da virtude. Em ambos os
casos, frisemos, pouco se contribui para a “felicidade do
Capítulo gênero humano” que Rousseau afirma perseguir no prefácio do
2 Discurso sobre as ciências e as artes.

Dessa forma, enquanto obra de combate, o Discurso se insere


no gênero judiciário, pois busca denunciar a corrupção dos
costumes, o predomínio do vício e todos aqueles aspectos
dignos de censura, como ainda assume traços do gênero
epidítico, na medida em que pretende não apenas elogiar a
virtude, a simplicidade, a ignorância, como também demonstrar
os erros normalmente associados a esses conceitos. Desta
monta, é o gênero deliberativo que, presente no caráter
propriamente filosófico do Discurso, acaba sacrificado quando
valorizamos apenas seu sentido acusatório. Em última instância,
é sua característica propositiva que, ao final deste estudo,
deverá destacar-se sobre as ideias de verdade e virtude reunidas
no edifício de uma filosofia moral.

Rousseau inicia a segunda parte do Discurso com a imagem de


um deus que seria “inimigo do repouso dos homens”, conforme
uma tradição antiga que teria passado do Egito à Grécia. A
imagem introduz a problemática acerca da origem das ciências
e artes e, sobretudo, projeta a íntima proximidade que elas
possuem com a ociosidade apenas sugerida na primeira parte.

Uma das principais conclusões a se tirar desse fragmento é que


“nosso conhecimento é necessariamente limitado, parcial,
fragmentário”. Mas a metáfora também “veicula uma
concepção relativa do conhecimento da natureza”, sendo que,
ainda seguindo essa interpretação, tal concepção não se refere a
um relativismo absoluto, mas visa determinar que “o saber é
relativo aos sentidos, logo, temos por um lado que “não se pode
conhecer os princípios primeiros”; e, por outro, há vários
pontos de vista sobre um objeto qualquer da natureza. A crítica
inerente a esta passagem, todavia, não é simples, pois Rousseau
não reduz o método científico à experiência e tampouco
acredita que sem ela seja possível explicar todo o mecanismo da
natureza

O uso de alegorias para ilustrar um argumento filosófico não foi


obviamente inventado por Rousseau, porém, como bem nos
mostrou Starobinski, trata-se de uma ferramenta recorrente e
essencial para compreender alguns dos aspectos mais
importantes de seu pensamento.

Rousseau se volta contra a hipocrisia impregnada na forma


como os philosophes lidam com o conhecimento, podemos
concluir que suadefesa e sua resposta aos problemas da
sociedade serão no mínimo diferenciadas da atitude por eles
tanto pregada. Resta ao nosso autor dirigir-se a estas pessoas e
às questões da humanidade de maneira sincera. E a expressão
desta sinceridade se encontra exatamente na inauguração de
uma antifilosofia no interior do seio filosófico de então. Se
Rousseau, na defesa de seu Discurso, é contra as idéias
expressas pelos literatos, tomando o partido que em princípio
ninguém tomaria, ou seja, afirmando que as artes corrompem os
costumes, isso significa que o exercício de sua crítica não é tal
qual o de seus amigos, dele se diferenciando no que diz respeito
à forma como o objeto investigado é considerado.

É por estar finalmente curado que se faz necessário esclarecer


que sua crítica à filosofia não é fruto de qualquer desejo de
elaboração de um modelo teórico diferenciado daquele contra o
qual se volta. Modelos, estruturas e sistemas não interessam a
Rousseau. Seria contraditório se ele criticasse a sociedade com
a mesma ferramenta de seus contemporâneos. O fato de
promover uma crítica à sociedade doutrinária na qual convive
não significa que em seu lugar queira construir um novo
conjunto filosófico dela diferenciado. Não se trata de uma
reação que tem por objetivo elaborar um princípio dogmático
original para contrapô-lo radicalmente aos princípios dos
letrados do Iluminismo. Se esta fosse de fato sua intenção, ele
estaria tão somente promovendo uma contenda entre doutrinas.
Este não é o caso. O que o realmente pretende é elaborar um
pensamento antifilosófico, ou seja, um pensamento muito mais
orientado pelos deveres da consciência do que pela verdade da
razão. E é por isso que sua crítica, antes de ser fruto de uma
investigação de postulados, resulta de uma indignação íntima
do coração e de uma sede de sensibilidade espiritual. Se
quisermos, o coração pode aqui ser substituído pela
consciência, e o espírito pela moralidade.

Você também pode gostar