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Especialização Lato Sensu em Práticas Curatoriais

Projeto Curatorial: Conviver

Aluna: Marcia Rosa


Orientador: Eduardo Veras
SUMÁRIO

1 ARGUMENTO/STATEMENT CURATORIAL 3
2. DESCRIÇÃO/DETALHAMENTO DO PROJETO 19
2.1 SELEÇÃO DE ARTISTA(S)..............................................................................23
2.2 RELAÇÕES ENTRE AS OBRAS E O ESPAÇO EXPOSITIVO......................54
2.3 AÇÕES EDUCATIVAS......................................................................................61
3. TEXTO CURATORIAL 64
REFERÊNCIAS 68
APÊNDICE A - CRONOGRAMA 70
APÊNDICE B - UM OLHAR SOBRE OS TRABALHOS DE LILIAN MAUS 73
APÊNDICE C - TEXTO QUE REFLETE O MEU TRABALHO DE ARTISTA –
MARCIA ROSA 75
ANEXO A - VANI FOLETTO 76
ANEXO B - DEPOIMENTO DE CLAITON FERREIRA 77
ANEXO C - DEPOIMENTO DE JANINE ARRUDA.........................................79
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1 ARGUMENTO/STATEMENT CURATORIAL

Palavras-chave: Relações interpessoais; ilustradores botânicos; biólogos; Museu de Ciências


Naturais; Jardim Botânico.

A presente proposta tem como objetivo apresentar a exposição Conviver, que é


decorrente do diálogo na construção artística coletiva, no desenvolvimento e concepção de
obras de arte, bem como apresentar algumas das possibilidades criativas que surgem a partir
desta relação, da troca de saberes, das experiências e dos diferentes olhares. Foi este diálogo
que deu origem ao projeto Conviver, composto por 11 artistas visuais do Grupo Arte, Ciência
e Natureza e outros seis convidados, sendo eles três biólogos e três ilustradores botânicos.
Nesta concepção, os ilustradores botânicos, como criadores de imagem, são igualmente
artistas, e, em termos de produto final, muitas vezes conseguem atingir resultados de grande
potência e beleza. Com eles, percebemos uma fonte de imagens fortes, nem mais e nem
menos especiais, nem melhores ou piores das que são feitas no campo da arte, mas são, talvez,
diferentes. Se há algo que nos distingue são as nossas referências diversas, justamente o que
entendemos ser um importante acréscimo na construção do diálogo para este projeto.
Conviver fundamenta-se no diálogo entre arte, natureza e ciência, cujo conceito vem
sendo construído no transcorrer de nossos encontros, trocas, escutas e, igualmente, a partir de
um envolvimento muito grande, alicerçando-se nos conceitos de comunhão recíproca e de
cuidado com o outro, privilegiando as relações humanas acima do próprio conhecimento.
Trata-se de uma co-curadoria alicerçada, sobretudo, nas relações humanas, nos contatos,
sejam estes presenciais ou não.
Este projeto, inicialmente, teve em sua programação encontros semanais do grupo,
porém, em virtude do momento que estamos vivenciando, com a Covid-19 e o distanciamento
necessário, foi preciso readaptar a proposta. Desta forma, os encontros passaram a ocorrer
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online, por meio de aplicativos de videoconferência, mantendo a periodicidade pré-definida –


encontros semanais –, onde se pudesse compartilhar ideias e desenvolver a escuta profunda,
para que, a partir desses diálogos, as obras que farão parte da exposição fossem sendo
construídas, se possível a partir das possíveis interlocuções.
Com uma atitude crítica, questionadora e inconformada, escolhemos o Jardim
Botânico para ser o local da nossa exposição, por ser esta uma instituição politicamente
ameaçada de extinção. Porém, logo após, soubemos que, de uma forma ou outra, esta
instituição iria continuar atuando em sua área de pesquisa e não fecharia, como no início
dava-se a entender, o que não invalida a nossa escolha, pois como toda área da pesquisa está
sempre sofrendo alguma ameaça de extinção.
A sede escolhida para a exposição, que deve ocorrer em março de 2021, foi a
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, um órgão Estadual vinculado à Secretaria
Estadual do Meio Ambiente. Inicialmente, a Fundação era formada por três estruturas: o
Jardim Botânico de Porto Alegre; o Museu de Ciências Naturais, que fica dentro da área do
Jardim Botânico; e o Parque Zoológico, que fica no município de Sapucaia do Sul. No
entanto, no governo Sartori, uma das metas era a redução da máquina do estado, e durante
esse processo foi criado um projeto de lei para extinguir algumas Fundações, dentre elas a
Fundação Zoobotânica. O primeiro projeto foi apresentado em 2015, onde a extinção não
ocorreu; porém, foi apresentado um novo projeto em 2016, que uniu a Fundação Zoobotânica
com outras Fundações. Em 21 de dezembro de 2016, o Governo do Estado conseguiu a
aprovação do projeto que autoriza a extinção. Desde então, o governo estadual vem tomando
providências para que a extinção ocorra e que seja realizada a transferência dos funcionários
da Fundação Zoobotânica para Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Em 15 de maio de 2020, concretizou-se a baixa do CNPJ da Fundação. Desta forma,
ela já não existe mais, o que restou foram as suas três estruturas – o Jardim Botânico, o Museu
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de Ciências Naturais e o Parque Zoológico. O Jardim Botânico e o Museu de Ciências


Naturais hoje estão ligados à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, dentro do departamento
de biodiversidade que, por sua vez, está dentro da divisão de pesquisa e coleções científicas.
Assim, o que era uma grande estrutura, acabou por ser encolhida dentro da Secretaria. Essa
agora é a configuração que existe tanto para o Jardim Botânico como para o Museu de
Ciências Naturais.
Atualmente, os objetos de estudo do grupo são boa parte das coleções científicas do
Jardim Botânico e do Museu de Ciências Naturais de Porto Alegre, cujo diretor responsável,
Daniel Brambilla, as disponibilizou, junto aos curadores, para o desenvolvimento desse
projeto. O Jardim Botânico e o Museu de Ciências Naturais são públicos e seus acervos
científicos são acessíveis aos pesquisadores. É necessário falar deles, desenhá-los, fotografá-
los, filmá-los, conhecê-los e se apropriar de suas belezas, detalhes e peculiaridades.
Como critério para a eleição das obras, partimos dos artistas que já participam do
grupo Arte, Ciência e Natureza, e tendo presente o que já havíamos realizado em duas
exposições: uma no Studio Jardim, na Rua Nova York, 506, em Porto Alegre; e outra na Vila
Mimosa, em Canoas. Em ambas usamos o nome de Cultivar. A maioria destes artistas
pesquisa a relação arte e ciência, então, qual seria o novo desafio feito ao grupo? Criar obras
que estivessem para além do tema natureza, que buscássemos os biólogos pesquisadores e as
coleções do Jardim Botânico e formássemos relação entre estes novos objetos de estudos, as
coleções de plantas existentes no Jardim Botânico, os espaços fora da sala preta do Museu de
Ciências Naturais, local onde pretendemos realizar a mostra. Da articulação de sentidos e
visualidade, levou-se em consideração, principalmente, a sua constituição, pois é
imprescindível, se possível, que tenham sido criadas na coletividade. As obras foram sendo
produzidas no ritmo da periodicidade dos nossos encontros, e o que aconteceu entre os artistas
– ou melhor, quem dentre nós quis vivenciar isto –, foi deixarmo-nos contaminar uns pelos
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outros. Para a realização de Conviver não foi preciso ir atrás dos artistas, pois nós já
estávamos juntos, e, na medida que o tempo foi passando, percebeu-se, por exemplo, a
necessidade – mesmo que já o tivéssemos feito – de reiterar esse convite aos biólogos, e então
eles vieram. Muitos outros componentes do grupo foram vindo a partir das nossas conversas,
a partir dos trabalhos que estavam surgindo. Bibiana Hoffmann de Sousa, por exemplo, é uma
design de Florianópolis que faz um trabalho de impressão de plantas em tecido, e que
pesquisa este assunto já há muito tempo; Débora Manzano Molizane é ilustradora botânica,
que já está expondo conosco, e que também está fazendo um pós-doutorado em Têxtil e Moda
na USP Leste, e, por isto, foi muito pertinente colocá-las em contato, pois com isso criou-se,
também, uma intensificação dos interesses pessoais dos participantes.
O que propomos, portanto, é uma construção coletiva, e encontramos aporte em
Dorothee Richter e Barnaby (apud DALCOL, 2018, p. 3254), que, ao discutirem as
metodologias que permitem examinar as possibilidades críticas da curadoria, dizem “da
armadilha que é falar sobre a arte ou curadoria a partir de uma questão individual”, o que
valida o que pretendemos realizar. Cada detalhe da construção do projeto é confrontado com o
grupo de pesquisa, e assim ampliamos um olhar limitado de um curador para uma reflexão
dilatada que confronta os múltiplos saberes. Neste sentido, os artistas vão realizando obras a
partir do que os outros estão fazendo, de escolhas ocorridas pelos colegas, a começar pelo
tema da exposição, pois alguns ainda não trabalhavam com arte e natureza, também pelas
pesquisas junto às coleções e aos biólogos do Jardim Botânico e a partir dos desenhos dos
ilustradores botânicos, pois muitas das obras foram produzidas a partir de seus trabalhos. Este
último, particularmente, foi um dos desafios desta proposta, pois, como artistas, tendemos a
reconhecer e nos sentirmos atraídos pelos gestos artísticos, com atitudes artísticas. Desta
forma, neste projeto, procuramos também entender o ilustrador botânico, reconhecendo o
valor que ele tem, acolhendo-o e buscando compreender o seu olhar, o que, por fim, nos levou
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a algo muito mais amplo do que a própria arte, que é a natureza, a ecologia e a sua defesa.
Em relação à ilustração, segundo Andrea Araújo (2009) “A Ilustração Científica é um
trabalho que consiste na representação fiel de um material biológico determinado,
respeitando-se todas as medidas, proporções e contraste de cores, mesmo que em preto e
branco.” Com o surgimento de novas técnicas de se registrar imagens, é fácil imaginar que a
ilustração científica seria rapidamente descartada. Porém, isso não aconteceu. Mesmo com a
fotografia, o uso de ilustrações nunca foi deixado de lado pela ciência. As ilustrações em
artigos científicos permitem um maior detalhamento, que, em muitas das vezes, somente a
fotografia não seria capaz. Por mais que nos tempos atuais a fotografia e qualidade de imagem
sejam cada vez mais avançadas, a necessidade de determinados planos e detalhes só são
alcançados por meio de uma ilustração complementar.
Assim, não somente a fotografia, mas novas técnicas de ilustração foram surgindo ao
longo da história, entre elas a aquarela, o nanquim, o Scratch Board, o Estereomicroscópio
com câmera clara e, claro, na era do computador, não poderia faltar a ilustração digital. Para
cada técnica tem-se um uso e uma finalidade, dependendo do que se deseja ilustrar.
Escolhemos, portanto, esses diferentes profissionais com suas obras para serem o foco da
exposição Conviver, pois representam com o seu trabalho o elo existente entre a arte e a
ciência através de seu gesto de desenhar.
Este projeto, por meio de uma Curadoria Compartilhada – entre Janine Oliveira
Arruda, bióloga, e eu, Marcia Rosa, artista visual –, e junto a todo o grupo, buscará colocar
em palavras o que está acontecendo no decorrer desta construção artística, pois é algo que tem
se dado, antes, por uma atitude da psique, no sentido de abertura ao outro, aliado ao
pensamento visual e, portanto, não verbal.
Como grupo de pesquisa arte, ciência e natureza, já havíamos percorrido uma
trajetória teórica e de participação em seminários, que serão apontados aqui, pois são como o
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alicerce deste Projeto. O artigo Artista enquanto curador: das convergências e dissoluções
entre práticas artísticas e curatoriais (DALCOL, 2019) relaciona-se a este projeto,
primeiramente, porque também adotamos um modo curatorial de prática artística, porém,
mais do que isto, porque como artista-curador, sou mais uma artista do que co-curadora.
Acredito que o que melhor explique esta possibilidade é que, mesmo que o trabalho do artista
como curador seja também curatorial, a sua prática se dá fundamentalmente como uma
operação artística por meio da curadoria, sendo também efeito da experiência de criador que o
artista leva para o processo curatorial de uma exposição.
Francisco Dalcol (2019), autor do artigo mencionado acima, fala que é algo que de
fato não se equivale ao trabalho do curador como artista, ainda que seja válida e operativa a
sua dimensão autoral e criativa. Para ele, o artista-curador, assim como o curador-artista,
desloca a atenção da unicidade do trabalho de arte para a situação de apresentação, muitas
vezes com e através do uso de trabalhos de outros artistas. Neste sentido, de alguma forma
meus colegas artistas complementam o meu trabalho, e isto oferece um aprofundamento e
maturação da minha própria poética enquanto artista. A exemplo disso, recebi durante o
desenvolvimento do projeto a videoarte do artista Antônio Augusto, que foi como um
bálsamo, que me ajudou a ressignificar todo o empenho que nós estávamos tendo. Enquanto
analisava as imagens por ele produzidas, vi a resposta do que seja um trabalho coletivo: cada
um fazendo uma parte que vai somando-se ao todo. Outras reflexões foram se desdobrando
com o vídeo Viveiros, que traz o Jardim Botânico, porém com um olhar de artista, de forma
livre, sensível e crítica. Era como se este vídeo abraçasse e contivesse todos os outros
trabalhos, não somente por conter imagens do Jardim Botânico, mas por transcender a todo e
qualquer projeto que possamos ter proposto. A arte nos faz vivenciar sempre o ir além, o que
não se controla, o que surpreende, o que existe para não ser encaixotado.
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← Da mesma forma, ocorre com o artista-curador, que tem mais facilidade e


possibilidade de romper com os limites com os quais o curador profissional tem de trabalhar,
podendo abrir mão de compromissos e vicissitudes das curadorias tradicionais. Em lugar da
reprodução de modelos curatoriais, o artista-curador encontra uma maior chance de
experimentar e, até mesmo, radicalizar.
A participação de Janine neste projeto é muito importante, fundamental, pois sem ela
Conviver não aconteceria. Janine Arruda, além de socializar conosco o seu conhecimento e
experiência, compartilhou tudo que lhe é possível em termos de acesso ao Jardim Botânico,
possibilitando também a concretização do trabalho dos artistas do grupo. Um dos exemplos
que cito é o de Antônio Augusto Bueno, que estava produzindo um caderno de desenhos.
Mesmo com o fechamento temporário do Jardim Botânico, Janine viabilizou o acesso desse
artista às áreas externas da instituição para que ele pudesse concretizar os trabalhos que vinha
desenvolvendo.
Para esta mostra, sinalizamos o breve trajeto já percorrido através de vídeos (de
exposições anteriores, participação em seminários, saídas de campo), e, durante a construção
do projeto, um gesto recorrente, e que gostaríamos de salientar, foi a escolha dos trabalhos
uns dos outros como forma de retrabalhar, agregar. Com este gesto, convocamos o Duchamp,
que argumenta que desde seu ready-made “selecionar uma obra de arte é o mesmo que criá-
la”,
Portanto, com esta exposição buscamos pensar as relações possíveis entre arte e
Ciência, como uma parceria, uma aliança, uma construção conjunta. Como pesquisadora no
doutorado da UNICAMP, tive acesso a muitos estudos sobre Arte e Ciência, além de ter
participado da minha banca o professor Hugo Fortes, que estuda e propõe seminários sobre o
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assunto há vários anos1, como o II Seminário Internacional Arte e Natureza, que ocorreu em
2014.

Figura 1: Logo – Arte e Natureza


Fonte: http://www3.eca.usp.br/crp/seminarioarteenatureza

Hugo Fortes traz o exemplo do trabalho artístico da artista brasileira Mabe Bethônico,
a qual, sobre o aspecto da liberdade poética, me identifico. Segundo Fortes (2009),

A organização sistemática do mundo através da catalogação também aparece no


trabalho da artista brasileira Mabe Bethônico. Desde 1996 a artista vem reunindo
uma grande quantidade de recortes de jornais organizados em caixas de arquivo a
partir de eixos temáticos. Os quatro eixos principais de sua coleção são os seguintes:
Destruição, Corrosão, Construção e Flores (FORTES, 2009, p. 92).

Com o excesso de informações, ao invés de ser uma verdadeira investigação científica,


a artista, na realidade, acaba nos oferecendo um levantamento mais poético do mundo,
fazendo com que as informações que obtemos sobre ele articulem-se de modo mais livre e
indeterminado. Além disso, são poéticas e ações de artistas com uma intensidade muito forte
de crítica social e política. As nossas intenções, enquanto artistas da natureza, não são tão
isentas de uma carga forte de crítica ou mesmo nós somos manipulados por tantas coisas. São
modos que os artistas encontram de usar da natureza, e acho oportuno citá-los, pois é o

1
http://www3.eca.usp.br/category/tags/hugo-fortes.
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confronto com estes pensamentos diversos que me ajuda a delimitar o meu próprio, que é
fenomenológico, isto é, em fazendo, ir encontrando caminhos de falar sobre a natureza.
Dr. Hugo Fortes, professor da USP, tem sido uma forte referência para o estudo
ciência e arte. Tive a oportunidade de participar de alguns de seus seminários, como o II
Seminário Internacional Arte e Natureza, que conversa com o nosso projeto, e promove
diálogos entre arte e ciência. Para nós, há mais a busca de novas alternativas para trocas
humanas, de saberes, de valorização dos ilustradores botânicos, profissionais que trabalham a
arte junto com a pesquisa científica; para eles, era mais o desenvolvimento sustentável, que é
o objetivo primordial da organização do II Seminário Internacional Arte e Natureza. A
arte, como forma de conhecimento sensível, oferece sua contribuição para a tomada de
consciência das possibilidades e das dificuldades de relacionamento do homem com a
natureza; e para nós, na exposição Conviver, do homem com o próprio homem, para depois,
como consequência, com o meio ambiente.
Diante destas leituras, entre outras, cabe o questionamento: como os artistas
brasileiros, e especificamente os artistas gaúchos, pensam e produzem a partir desta temática?
No texto curatorial falarei, em termos teóricos, de uma das três leituras base, o artigo
de Horst Bredekamp, pois nos traz uma reflexão sobre o desenho, com isto reforço a questão
da ilustração botânica.
Abaixo, fazemos uma breve apresentação dos artistas e biólogos que integram o grupo
e que, portanto, fizeram parte da construção deste projeto:

Apresentação dos artistas


Antônio Augusto Bueno – Artista visual - Espaço de arte Jabutipê
Cecília Tomasi – Artista Paulistana - Ilustradora Botânica - Trabalhou 39 anos no Jardim
Botânico de São Paulo
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Claiton Ferreira – Doutor em Biologia Animal UFRGS


Clara Koppe – Artista Visual, trabalha no Centro de gravura da Universidade Caxias do Sul
Debora Manzano Molizane – pós-doutoranda em moda pela USP
Janine Oliveira Arruda – Doutora em Zoologia
Klei Sousa – Graduado em Biologia e artista Ilustrador Botânico
Lilian Goldani – Artista Visual, Pós-graduada Feevale
Lilian Maus – Doutora e professora na graduação em artes Visuais na UFRGS
Lorena Steiner – Pós-graduada pela Feevale - Gravura, fotografia e arte digital
Marcia Rosa – Artista Visual, Doutora em Artes Visuais UNICAMP
Rogério Livi – Mestre em Física; Doutor em Ciências, na área de Física da Matéria
Condensada; e Professor e pesquisador do Instituto de Física da UFRGS
Rosana Singer – Pós-doutorado em Biologia
Silvia Livi – Mestre em Física e Doutora em Ciências, na área de Astrofísica Solar;
Professora e pesquisadora do Instituto de Física da UFRGS
Odilza Michelon – Artista Visual
Vani Foletto – Artista Visual, professora aposentada UFSM

Em 2013, na Sala de Exposições do Museu de Ciências Naturais, uma mostra foi


apresentada como exposição coletiva, chamada O Jardim do Rei: uma Visão Poética da
História Natural de Buffon, que ganhou o Prêmio Especial do Júri no VIII Prêmio
Açorianos de Artes Plásticas, em cerimônia realizada no dia 6 de maio de 2014. O júri
justificou a premiação pela bem-sucedida conjunção entre o conceito e o espaço expositivo
que o acolheu.
Os cientistas e artistas Silvia e Rogério Livi, ganhadores deste prêmio, nos dão muita
alegria por estarem junto conosco no projeto Cultivar. Embora o Museu de Ciências Naturais
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tenha ganhado juntamente com os artistas este prêmio, neste local expositivo não é usual
haver exposições para artes visuais, portanto, Cultivar não é a primeira, mas não é comum.

1.1 ENDEREÇAMENTO DE PÚBLICO

Este projeto ambiciona atingir tanto interessados nas artes visuais, quanto interessados
em ciência e botânica. Além disso, pode também ser destinado a ações educativas com
trabalhos junto a escolas, uma vez que as atividades a serem desenvolvidas poderão ampliar
os conhecimentos deste público, não só quanto ao tema da exposição em si, mas também
quanto à criticidade que permeia o projeto, sobre a importância e diversidade deste espaço.
Esta exposição atingirá seus objetivos se de alguma forma conseguir sensibilizar as futuras
gerações, em fazendo alguma atividade no Jardim Botânico, quanto a sua divulgação e
consequente preservação.
Junto à exposição estão previstos cursos de desenho botânico, pintura em aquarela,
tingimento de tecido natural com plantas e Seminário sobre o tema arte, ciência e natureza,
todos em colaboração entre cientistas e artistas.

1.2 JUSTIFICATIVA/CONTRIBUIÇÃO PARA O CAMPO DAS PRÁTICAS


CURATORIAIS

A proposta desenvolvida para a Especialização em Práticas Curatoriais, do Instituto


de Artes da UFRGS, é de uma prática curatorial, em que a curadoria é assinada por duas
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pessoas – uma bióloga e pesquisadora e uma artista curadora –, e que tem em seu processo de
desenvolvimento o construir junto, com todos, a partir das vivências, encontros, trocas e
diálogos de seus participantes. Por este motivo, a prática tem sido a força propulsora de toda a
nossa realização. Na busca desta integração, criar obras que de alguma forma manifestam
estas trocas já justifica a contribuição desta exposição. Na sequência será apresentado um
breve relatório de processo que que demonstrará como este projeto foi construído
coletivamente, de forma lenta.
Realizamos, ao todo, sete encontros, onde nos reunimos uma vez na semana pela
plataforma Zoom, para que cada um fosse apresentando o que tinha conseguido trabalhar – e,
também, nas buscas pessoais de encontrar formas de tangenciar as pesquisas dos colegas.
Além destes, anteriormente houve encontros on-line, com a periodicidade de 15 dias, durante
os meses de março a julho, com conversas sobre as três bibliografias escolhidas para o
projeto, dúvidas e ideias. E, ainda, desde outubro de 2019, já havíamos iniciado o projeto de
forma presencial, com visitas periódicas individuais ou em grupo ao Jardim Botânico.
A partir do que estamos procurando construir juntos, percebemos um alento ao que
estamos enfrentando neste momento da humanidade. Nos parece que, mais do que nunca, é
palpável que as nossas relações, tanto a nível pessoal quanto mundial, são completamente
interdependentes, ou seja, o que cada um faz, cada escolha, reflete diretamente na vida de
todos. Durante esta pandemia, se permanecermos em casa durante o afastamento social,
cuidaremos não somente do “eu”, mas também estaremos impedindo que este vírus, tão
ameaçador, se alastre ainda mais. Relacionando o exposto com o nosso projeto, podemos
dizer que o ato de fazer simples escolhas de plantas ou conchas do acervo de um Museu de
História Natural e as selecionar junto a outros colegas, conversar e trabalhar sobre uma
mesma espécie de flor, concha ou outra coleção lá existente, é uma maneira de, a partir de um
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mesmo exemplar, não simplesmente expressar de outras formas a mesma flor, mas também há
questões implícitas de esforços no ir em direção ao outro. A partir destes esforços pessoais,
pois nem todos estão conseguindo, torna-se importante também salientar o surgimento de
obras inéditas; o fator da motivação, que tem ajudado as pessoas a produzirem mais e, ainda,
o sentimento de realização em resposta à proposição da curadoria.
Estes e outros simples gestos que estamos realizando manifestam o nosso profundo
desejo de estar conectados com os interesses de outras pessoas, mesmo que elas não atuem na
mesma área, valorizando, desta forma, as diferentes formas de abordar um mesmo assunto.
Percebemos isso em cada encontro, que como resultado deste convívio faz surgir algo, como
esta própria curadoria. Em cada reunião percebemos o quanto é forte esse relacionamento, o
entusiasmo é visível em todos, e tudo isto é muito bonito.
Muitos trabalhos artísticos foram realizados a partir dos trabalhos dos ilustradores
botânicos. Sabemos que os objetivos entre ilustradores e artistas visuais são diferentes, as
referências de cada campo, e até mesmo por possuírem naturezas distintas. No entanto, é
justamente isso que ressignifica esta proposta, ou seja, é colocar em convívio imagens que
possuem naturezas distintas e perceber o como elas funcionam convivendo juntas.
Exemplifico isso com o trabalho que apresento Erytrina speciosa, feito com pastel
seco, sobre papel Tiziano Preto 160gr 1.50x10m Fabriano. Sua concepção surgiu exatamente
durante uma reunião on-line, na qual estava presente a bióloga Rosana Singer, que pesquisa
plantas. Cecília Tomasi, uma das integrantes do grupo, mostrou a aquarela da Débora
Molizane, ilustradora botânica, chamada Erytrina speciosa e, imediatamente, a Rosana Singer
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informou que pesquisa esta flor, inclusive comentou que tem esta espécie no Jardim Botânico
de Porto Alegre. A partir disso, foram várias as contribuições que convergiram para o
processo, Janine, por exemplo, que encontrava-se no Jardim, aproveitou mostrá-la, através da
nossa videoconferência, para a Cecilia. Mostrou não somente onde ficava a Eritrina no Jardim
Botânico, mas também as Cisnes Negras e uma das estufas em que Rosana Singer trabalha.
Assim como Erytrina speciosa, muitos outros trabalhos surgiram a partir dessas
relações. Como artista, nunca trabalharia com esta flor, ela é linda, mas não trabalharia com
ela se não fosse aquele momento muito bonito de compartilhamento, onde todos estavam
muito contentes dando sugestões e construindo juntos. Portanto, este trabalho que realizei é
quase como se captasse aquele momento a partir das fotos que Janine aprendeu durante a
nossa reunião. Lembro que, quando mostrei o primeiro desenho colagem que fiz da foto da
flor Eritrina, tive certa vergonha de mostrar para as ilustradoras, porque os trabalhos das
ilustrações que fazem são tão lindos, precisos e perfeitos. A única coisa que eu pensava era se
iriam gostar, ou se talvez ficariam chateadas pela forma como eu faço esta flor. E, com isto,
também me dava conta do como o diálogo não é tão fácil assim, isto porque carrega em si a
carga que temos, nossas concepções e o medo de não sermos aceitos com as nossas
diferenças. Entendi então que não é só perder o nosso jeito para colher o do outro, mas,
sobretudo, aceitar que cada um é o que é.
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Figura 2: Debora Manzano Molizane Figura 3: Marcia Rosa


São Paulo, SP, 1976 Pelotas,1960
Erythrina speciosa (Fabaceae) Erytrina speciosa
Aquarela sobre papel Fabriano Aquarello 353x 150 cm
21 x 18 cm Pintura em papel preto com pastel seco
2018 Realizado a partir de uma Live
Fonte: Débora Molizane 2020
Fonte: Marcia Rosa
Os projetos, segundo as
concepções do grupo arte, ciência e natureza, podem propor resultados ampliados quando
feitos junto com alguém, em uma relação com o outro, como unir-se a profissionais para
defender uma Instituição que faz parte da vida de cada morador de Porto Alegre, por exemplo.
O Jardim Botânico recebe há muitos anos gerações de moradores da nossa cidade, e foi
pensando neste vínculo, nessa história, que procuramos nos sensibilizar, através do diálogo
entre arte e ciência, com o momento em que esta Instituição está vivendo. Além disso, embora
não tenha sido este um objetivo para o grupo, demonstramos também a possibilidade de
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propor a realização de exposições de artes visuais em locais não convencionais, rompendo,


assim, barreiras impostas aos próprios artistas, ou seja, demonstra a possibilidade de expor
arte em qualquer lugar, ou de, até mesmo, uni-la a outras áreas, como ocorre neste projeto,
onde a exposição se forma a partir de uma troca e, não de um, mas de vários diálogos
E assim foi feito, foram coletados alguns trabalhos realizados a partir dos contatos, da
interação com os biólogos e ilustradores e da doação daquilo que tínhamos de mais profundo,
a nossa arte. As nossas motivações e inquietações surgiram a partir do amor à natureza e a
este local específico, que a preserva e pesquisa e que encontra-se ameaçado. Queremos poder
colaborar de alguma forma para salvar esta espécie de santuário em meio a nossa cidade.
Como artistas, precisamos reforçar em nós o sentimento de que se pode fazer algo concreto,
em defesa do lugar, e para que isto aconteça nos aliamos às pessoas que trabalham no próprio
Jardim Botânico, pois sentem um amor ainda maior pela instituição onde trabalham. No
entanto, vale ressaltar que, não somente os de Porto Alegre, mas juntou-se a nós também os
ilustradores botânicos do Jardim Botânico de São Paulo, que compartilham deste mesmo amor
pela natureza.
Enquanto artistas, entendemos que a nossa arte possui, de forma intrínseca, a crítica
necessária não somente para tocar os corações, mas para atingir os membros de uma
instituição em crise e tentar proporcionar uma espécie de ânimo para que não se sintam sós
nesta luta, pois este empenho não é só deles, mas da sociedade como um todo. Nossa atitude
é uma forma de fazer crítica com a arte, e queremos que o público responda a partir da
mostra, junto conosco. Para tanto, na abertura da Exposição Virtual lançaremos uma
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campanha com a pergunta: O que é o Jardim Botânico para a você? O que podemos fazer para
preservá-lo?
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2. DESCRIÇÃO/DETALHAMENTO DO PROJETO

A exposição é temporária e coletiva. Ela tem um interesse na relação das obras entre si
e com o lugar. Os trabalhos, em sua maioria, foram produzidos a partir do que é visto naquele
lugar, no Jardim Botânico, ou em meio à natureza, porque o Jardim Botânico também é um
espaço de conservação do ambiente, de ambientes naturais, então Conviver é totalmente isso.
As obras procuram dialogar entre si e com a Instituição, enquanto Lugar. A pesquisa
do Grupo Arte, Ciência e Natureza a coloca ainda mais em relevo e a mostra de outra forma,
sobre outro olhar, o dos artistas, como uma ajuda à Instituição que nos acolhe, reforçando, nas
pesquisas ali realizadas, a importância dessas coleções existentes no Jardim Botânico.
Beatrice Von Bismarck é uma pesquisadora alemã, trazida por Francisco Dalcol
(2019), que fala da prática curatorial que tem como procedimento característico o criar
conexões. Como curadora, crio conexões entre os artistas, e eles também são chamados a
fazê-lo, escolhendo seus pares e produzindo de forma dialógica. A professora Ana Carvalho,
do Instituto de Artes da UFRGS de disciplinas de Teoria e Crítica, fala que o momento da
montagem da exposição é crucial e decisiva, no entanto, no nosso caso, o que está sendo
decisivo é a construção prática como um todo, mais do que será apresentado no final.
De fato, teremos que esperar para ver como será essa montagem, mas é
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impressionante, porque, talvez pelo tempo que estamos dedicando na construção do Cultivar,
posso afirmar nunca ter vivenciado uma experiência expositiva semelhante, e também porque
o mote do nosso Grupo Arte, Ciência e Natureza é este, é ir de exposição em exposição – é
um “até aqui”, e “vamos ir para lá”, “vamos dar uma avançada, talvez retomar”. Cada
exposição é uma pausa para reflexão, como uma retomada de forças. Entendemos a exposição
não somente como um lugar de conhecimento e experiência com a arte, mas também como
um campo de investigação.

Em termos metodológicos, o problema é algo próximo dos que se colocam para a


pesquisa em teoria crítica e história da arte com acréscimo de que as investigações
prático-teóricas em curadoria no caso de projetos expositivos se dão junto à práticas
e processos artísticos oferecem ao pesquisador curador uma possibilidade ainda
maior. As metodologias da pesquisa em arte pelos artistas, portanto os processos de
criação e reflexão em torno das poéticas artísticas (DALCOL, 2018, p. 3265).

O sentido parece não ser muito diferente da hesitação da dúvida do não-saber e do


questionamento que caracterizam e mobilizam a atividade crítica. A questão da teoria e da
prática, da investigação prática e teórica em curadoria tem acréscimos, que é essa
possibilidade ainda maior de aproximação das metodologias da pesquisa.
Neste projeto mostraremos as obras no espaço, como uma simulação. E com a ajuda
destas imagens simuladas construiremos um site, onde teremos acesso aos trabalhos, textos,
impressões, imagens das obras. Ainda, é importante mencionar que outra questão está sendo
trabalhada dentro da construção coletiva, e que se sobrepõe à própria montagem da exposição
em termos expográficos, é o aprofundamento teórico-conceitual do que seja para estes
pesquisadores e artistas arte, ciência e natureza, bem como para os demais participantes.
Estamos, como artistas, posicionados junto a biólogos e ilustradores botânicos artistas, e a
partir deste convívio estão surgindo reflexões pertinentes a esta vivência. Esta prática de
contatos, que está sendo o foco da exposição, com um laboratório humano-científico-artístico,
22

e por isso uma sensível pesquisa em detrimento da própria exposição, no momento é o centro
do projeto. Lógico que estão os trabalhos estão sendo produzidos, porém, as conversas
permeiam tudo. A realidade da pandemia colabora, no momento, com esta nossa atitude, uma
vez que não tem como montar a exposição no Museu de Ciências Naturais, portanto, há uma
concentração maior, aproveitando mais o tempo para aprofundar o nosso próprio conceito de
arte, ciência e natureza.
Conviver está buscando não somente conceitos já existentes, mas formas de pensar a
partir da prática. Para tanto, Conviver foi projetado para oferecer cursos durante a exposição,
pois terá uma ação educativa durante a mostra, mas, além disso, com o intuito de que os
próprios artistas participassem junto, justamente para dialogar e trocar, para que trocassem
informações do estudo sobre pesquisas, para propiciar contatos que servissem para enriquecer
as próprias pesquisas dos artistas, não tanto em relação à exposição em si. A exposição do
projeto curatorial é uma fatia, é um pedaço daquilo tudo que está acontecendo e que faz parte
de um contínuo, é uma exposição que veio de mostras já realizadas e que vai ir para outras a
serem construídas, é realmente um work in progress.
Uma das participantes do nosso grupo arte, ciência e natureza, Marcia Sousa,
professora da UFPEL2, participou de um Seminário Internacional, e foi a partir de seus relatos
que o grupo iniciou oficialmente os encontros, assim como um novo momento de pesquisa,
como o Seminário HerbArt, em Barcelona, com artistas e biólogos em um Jardim Botânico.

2
Após, a professora Marcia Sousa realizou um Seminário de Pesquisa e o II Encontro Arte e Natureza, que ocorreu durante
vários dias e consistia em assuntos e títulos diferentes, como:
Dia 06 de novembro: Projeção de i
magens Trajetória do Grupo Arte Natureza
Dia 07 de novembro: Cirandas de Pesquisas
Dia 08 de novembro: Roda de conversa e apresentação de trabalhos
Antônio Augusto Bueno, Márcia Rosa e Mario Schuster
Dia 09 de novembro: Saída de Campo ao Taim
23

Figura 4: Catálogo – HerbArt 2019


Fonte:https://www.ub.edu/portal/web/farmacia-es/noticia/-/detall/herbart-arte-y-ciencia-en-confluencia-semana-
del-8-al-12-de-abril-de-2019

Assim, como grupo, iniciamos traçando desafios, com o objetivo de trilharmos juntos,
sem ter um fim, tendo neste gesto as relações humanas no centro, como define muito bem o
título escolhido para esta exposição: Conviver. O que buscamos é, através da vivência em
comum, tendo como base a busca da harmonia, o convívio, ligames que possibilitem uma
confraternização, o aprofundamento das nossas pesquisas científicas artísticas. O resultado da
pesquisa da comunhão entre artistas ilustradores botânicos, artistas visuais e biólogos se dará
a partir da prática e do que for possível trocar até o momento da exposição.
Com o passar dos meses desta construção, fomos traçando novas metas, sendo que a
exposição presencial, acreditamos, poderá acontecer a partir de março de 2021. A ideia de
fazer uma exposição no Jardim Botânico se solidificou a partir do convite feito por Daniel
Brambilla, chefe da Divisão de Pesquisa e Manutenção de Coleções do Jardim Botânico de
Porto Alegre.
Umas das convidadas, e muito importante para o desenvolvimento deste projeto, é
Cecília Tomasini, que foi ilustradora botânica no Jardim Botânico de São Paulo, que tem
participando das reuniões semanais do grupo, para o qual convidou outros dois atuantes
ilustradores. Com esta parceria estamos conseguindo articular ações também com o Jardim
Botânico de São Paulo, e fortalecemos com isto o grupo, tendo uma ramificação em outro
24

estado, o que é muito estimulante para os artistas. Segundo Janine Arruda, tanto os congressos
recentes de que participou, como o ocorrido em março, nas Águas de Lindóia, São  Paulo,
quanto os que assistiu online, falavam da importância desta interação arte-ciência –, isto
porque vários Museus de Ciências Naturais do mundo enfrentam problemas parecidos como
os que temos aqui no Brasil, de falta de dinheiro e com uma manutenção precária.
Temos experiência, a nível de Brasil, catastróficas, como a que ocorreu no Museu de História
Natural da UFMG, em Belo Horizonte, que pegou fogo há uns meses, e ainda não foi possível
fazer um inventário da destruição. Tivemos também o caso recente do incêndio no Rio de
Janeiro, que destruiu o seu Museu Nacional, em setembro de 2018.
Artistas e biólogos de fora do Brasil já estão trabalhando neste viés ciência e arte, pois
é uma riqueza a ser explorada. Há a necessidade de dar um novo direcionamento para as
pessoas, envolver tanto mais artistas quanto os próprios funcionários do Jardim Botânico, no
intuito de trabalharmos juntos a esta instituição de pesquisa, trazendo, assim, a colaboração e
ajuda do público em geral. No dia 30 de julho, Janine participou de uma Live com
pesquisadores de Malacologia do Brasil, Argentina e Uruguai. Janine Arruda, com um lindo
entusiasmo, contou como estamos construindo nosso projeto, e vários biólogos declararam
terem sido estimulados e encorajados a iniciar experiências semelhantes junto à arte e artistas.
Sobre as reuniões, como mencionamos anteriormente, pensamos ser importante uma
periodicidade. Além disso, concordamos em convidar, para cada um dos encontros, outros
biólogos e biólogas do Jardim Botânico para acompanharem o que estamos construindo, e foi
assim que se juntou a nós a bióloga Rosana Singer, que nos falou sobre a pesquisa que
desenvolve em conjunto com o seu esposo, que também trabalha na Instituição. Estamos
ampliando o nosso fazer artístico com as pesquisas realizadas e apoiados pela instituição.
Assim, a cada encontro semanal os participantes falam do seu trabalho. Na reunião do
dia 23 de julho, depois que dois artistas apresentaram suas lindas pesquisas, impressionou-me
25

a reação de Cecília Tomasi, que disse: “nossa, eu não tinha ideia de como vocês construíam
os trabalhos, de onde partem e para onde vocês vão com suas produções”. Ela referia-se a
todo o processo do artista, ou seja, como ele chega nos resultados experimentando outras
coisas – escolhendo outros materiais, fazendo experimentos, o que a surpreendeu muito. E
com a fala da Cecília, livre e de coração aberto, eu vejo também a importância do ilustrador
botânico, porque é ele que constantemente está ao lado dos cientistas pesquisadores falando
sobre importância das artes. Através do trabalho deles, da própria profissão, estão dizendo: “a
arte é importante, porque se não fosse a ilustração, a tua pesquisa não ficaria completa”. É
importante observar que não se trata de uma fala pretensiosa, não é um “jogo de braço” para
ver quem é quem, mas, sim, de demonstrar a importância deles. Não existe uma hierarquia,
mas o trabalho do ilustrador botânico tem uma importância artística muito grande e
necessária.

2.1 SELEÇÃO DE ARTISTA(S)

Antônio Augusto Bueno - Porto Alegre, 1972

Bacharelado em Desenho (2004) e Escultura (2008) pelo Instituto de Artes da UFRGS. Desde
1996 vem mostrando o seu trabalho em diferentes localidades do Brasil e Exterior. Entre as
obras individuais, destacam-se: “Antes era só o vão”, na Galeria Mamute; “Um outro
outono”, no MARGS; “Música de passarinho”, no MAC RS; “Cabeças – armadilhas para um
significado”, no Museu do Trabalho; “Gravetos Armados em processo na Pinacoteca”, na
Pinacoteca Ruben Berta; “Dez anos no Jabutipê”, no Jabutipê.
26

Figura 5 e 6: Antônio Augusto Bueno


Porto Alegre, RS, 1972
Registros _vivência no Jardim Botânico de Porto Alegre-2020
Fotografia / desenho
Dimensões variadas
2020
Fonte: Antonio Augusto Bueno
27

Figura 7: Antônio Augusto Bueno


Porto Alegre, RS, 1972
Viveiros
Vídeo Arte
Um filme de Bebeto Alves
5’47’’
2020
Fonte: Antonio Augusto Bueno
28

Figura 08: Clara Koppe


Porto Alegre, RS, 1956
S/ Título
Painel com 20 cilindros metálicos
Cada cilindro mede 90 cm X 4cm de diâmetro
Todos com colagem em papel de seda com xilogravuras
2020
Fonte: Clara Koppe
29
30

Figura 09: Clara Koppe


Porto Alegre, RS, 1956
S/ Título
Xilogravuras
36X24cm
2020
Fonte: Clara Koppe

Figura 10: Clara Koppe


Caxias do Sul, RS, 1956
Sem título
31

Xilogravura
37cm X 24cm
2020
Fonte: Clara Koppe
         
Claiton Ferreira - Santa Maria, 1968

Claiton Ferreira é um cientista-artista que trabalha com fotografia. Durante a pesquisa para a
produção da exposição Conviver, procurou buscar um diálogo maior, tanto entre os diferentes
“entes” das coleções científicas do Jardim Botânico, quanto entre os diferentes atores
envolvidos na construção coletiva. Dialogou com pesquisadores da área de botânica, como a
bióloga Rosana Singer, o eng. Florestal, Leandro Dal Ri, e com a pesquisadora do Museu de
Ciências Naturais, bióloga Janine Arruda. Durante as reuniões semanais também construiu
diálogo com os outros artistas, especialmente os ilustradores botânicos de São Paulo. A partir
dessas conexões, o trabalho foi sendo construído e tomando uma direção própria. Dessa vez,
além de algumas fotos de uma coleção, também voltou sua atenção para as coleções ao ar
livre do Jardim Botânico, tentando construir esse diálogo entre coleções e pessoas. Para essa
exposição participa com nove obras, nove fotografias.

Figura 11: Claiton Ferreira


32

Santa Maria, 1968


Brasil, mostra a tua cara!
Mixed media
120cm X 120cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira

Figura 12: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Diálogo espaço-temporal I
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 90cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira
33

Figura 13: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Diálogo espaço-temporal II
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 90cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira

Figura 14: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Diálogo espaço-temporal III
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 90cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira
34

Figura 15: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Diálogo espaço-temporal IV
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 90cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira

Figura 16: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Diálogo botânico-zoológico
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 45cm
35

2020
Fonte: Claiton Ferreira

Figura 17: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Diálogo specioso
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 45cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira

Figura 18: Claiton Ferreira


Santa Maria, 1968
Monólogo imagético
Fotografia impressa sobre papel algodão
30cm X 45cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira
36

Figura 19: Claiton Ferreira


Porto Alegre, RS, 1956
O último que sair apague a luz
Fotografia- Impressão Mineral em papel algodão
1.20 x 1.20 cm
2020
Fonte: Claiton Ferreira

Cecília Tomasi – Baurú /SP, 1954

Ilustradora Botânica, teve seu primeiro contato com a profissão quando foi trabalhar no
Instituto de Botânica, Jardim Botânico de São Paulo. Obteve treinamento e desenvolveu
ilustrações para todas as áreas de pesquisa naquele Instituto, tendo seus trabalhos publicados
como parte de artigos científicos, publicados em revistas especializadas. Também foi curadora
do acervo de ilustrações, desenhos e pinturas daquele Instituto (1981-2012).
37

Em 1993, ganhou uma bolsa de estudos pela Fundação Botânica Margaret Mee para
aperfeiçoamento em aquarela botânica, com a professora Christabel King, no Real Jardim
Botânico em Kew, Londres (1993).
Ilustrou livros e revistas de jardinagem e culinária, entre outras.
Participou de diversas exposições no Brasil e no exterior. Recebeu o Certificado do Mérito
Botânico pela Sociedade dos Artistas Botânico inglesa (1994), Honra ao mérito pela
Sociedade Brasileira de Bromélias (1995) e melhor ilustração para livros de culinária pela
Gourmand Wold Cookbook Awards (2004 e 2007).
Atualmente oferece cursos de ilustração botânica em aquarela em seu ateliê, no Jardim
Botânico e na Escola de Botânica, em São Paulo.
www.ceciliatomasi.com.br
Instagram – artebotanica.ceciliatomasi

Figura 20: Cecília Tomasi


Bauru, SP, 1954
Ferocactus_gracilis
Aquarela sobre papel Arches
35 x 52cm
38

2016
Fonte: Cecília Tomasi

Figura 21: Cecília Tomasi - 6º passo – pintura finalizada após várias camadas de tinta
Bauru,SP, 1954
Seemannia sylvatica (Gesneriaceae)
Aquarela sobre papel Arches
36 x 26cm
2020
Fonte: Cecília Tomasi
Debora Manzano Molizane - São Paulo, 1976

Designer Gráfico, fotógrafa, ilustradora e doutora em fisiologia e anatomia de sementes.


Desde que ganhou sua primeira semente de Eritrina (Erythrina Speciosa), um amor nasceu,
floresceu e deu frutos. Frutos esses publicados em artigos científicos e, também, em
ilustrações. Foi no Instituto de Botânica que teve seu primeiro contato com a ilustração
científica através de um estágio com Cecília Tomasi. Desde então, a ciência e a arte andam de
mãos dadas, principalmente no que diz respeito às descrições anatômicas e morfológicas. A
formação de design, fotografa e ilustração complementou o trabalho científico, enriquecendo
39

suas publicações. Ministrou diversas disciplinas, passando o conhecimento para montagem de


banner para congressos, montagem de apresentações, aula de fotográfica. Hoje está fazendo o
pós-doutorado na Faculdade de Téxtil e moda da USP, trabalhando com corantes naturais e
produzindo lindas porcelanas decorativas com suas ilustrações.
Instagram – @Illustration_debymoliza e @deboramolizaneatelie

Figura 22: Debora Manzano Molizane


São Paulo, SP, 1976
Erythrina Speciosa (Fabaceae)
Aquarela sobre papel Fabriano Aquarello
21 x 18 cm
2018
Fonte: Débora Molizane
40

Figura 23: Debora Manzano Molizane


São Paulo, SP, 1976
Vriesea paraibica (Bromeliaceae)
Aquarela sobre papel Fabriano Aquarello
32 x 21cm
2018
Fonte: Debora Manzano Molizane

Figura 24: Debora Manzano Molizane


São Paulo, SP, 1976
Sementes de Vriesea paraibica e Aechmea bromeliifolia (Bromeliaceae)
Tinta nanquim sobre papel couchê, técnica de pontilhismo
30 x 14cm
2009
Fonte: Debora Manzano Molizane

Objeto de estudos científicos publicados:


1.“Physical, physiological and anatomical changes in Erythrina speciosa Andrews seeds from
different seasons related to the dormancy degree”; autoria de Debora Manzano Molizane,
41

Pricila Greyse dos Santos Julio, Sandra Maria Carmello-Guerreiro e Claudio José Barbedo.
Publicado em Journal of Seed Science, v.40, n.3, p.331-341, 2018.

2.“Induction of seed coat water impermeability during maturation of Erythrina speciosa


seeds”; autoria de Debora Manzano Molizane, Sandra Maria Carmello-Guerreiro, Claudio
José Barbedo. Publicado em Journal of Seed Science, v.42, e202042020, 2020.

Figura 25: Debora Manzano Molizane


São Paulo, SP, 1976
Semente de Erythrina speciosa (Fabaceae), com anatomia.
Tinta nanquim sobre papel couchê e fotografia
30 x 42cm
2017
Fonte: Debora Manzano Molizane
42

Figura 26: Debora Manzano Molizane


São Paulo, SP, 1976
Selenicereus anthonyanus
Diâmetro 20cm
2020
Fonte: Debora Manzano Molizane

Figura 27: Debora Manzano Molizane


São Paulo, SP, 1976
Magnolia soulangeana diâmetro 25,1cm
2020
Fonte: Debora Manzano Molizane
43

Janine Oliveira Arruda - Dores do Indaiá - MG, 1981

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004),
mestrado (2007) e doutorado (2011) em Zoologia pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (2011). Tornou-se mãe de um lindo menino em 2014, e atualmente é
pesquisadora do setor de Malacologia do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual
do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (2020).

Josielma Hofman de Macedo - Bom Jesus, RS, 1968

Bacharel em Ciências Biológicas pela UFRGS e jardineira no Jardim Botânico de Porto


Alegre desde 2014.

Klei Sousa – Mauá, SP, 1979

Ilustrador botânico, freelancer. Formado em Ciências Biológicas (2003), começou sua


carreira como estagiário no Instituto de Botânica (IBt) sob orientação da ilustradora Maria
Cecília Tomasi. Em seguida, foi bolsista de formação técnica da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), dentro do projeto Flora Fanerogâmica do Estado
de São Paulo, sob a supervisão da Dra. Maria Das Graças Lapa Wanderley, taxonomista, e co-
orientado também por Maria Cecília Tomasi. Após o término da bolsa, começou a atuar como
artista freelancer, principalmente com pesquisadores científicos, área onde atua até hoje.
Participou de algumas exposições nacionais e internacionais, além de premiações
reconhecidas, como concursos em congressos de botânica, International Exhibition of
Botanical Art & Illustration on Hunt Institute for Botanical Documentation e Margaret
44

Flockton Award. Em 2013, participou da residência em ilustração botânica do Jardin alpin du


Lautaret, Université Grenoble Alpes.
Instagram.com/klei_artebotanica/
facebook.com/kleicomk
klei.botanicarte.nanquim.atoa@gmail.com

Figura 28: Klei Sousa


Mauá, SP, 1979
Pteridofitas - A–D. Alsophila cuspidata (Daly et al. 7427, NY. E, F. Cyathea microdonta (Prado et al. 1190,
SP). G, H. Cyathea pilosissima (Prado et al. 1231, SP).  I–K. Cyathea pungens (Daly et al. 11175, NY). 
Tinta nanquim sobre papel
30x21 cm
2017
Fonte: Klei Sousa

Ilustra o trabalho “Fern and lycophyte flora of Acre state, Brazil”, de autoria de
Jefferson Prado, Regina Yoshie Hirai e Robbin Craig Moran. Publicado em Biota Neotropica,
vol.17, n. 4, Campinas, 2017, Epub Nov 17, 2017.
45

Figura 29: Klei Sousa


Mauá, SP, 1979
Tillandsia aeranthos (Bromeliaceae)
Tinta nanquim sobre papel
Tamanho 30 x 21cm
2016
Fonte: Klei Sousa
46

Figura 30: Klei Sousa


Mauá, SP, 1979
Composição Botânica 2
Tinta nanquim sobre papel, composição digital.
42 x 30cm
2019
Fonte: Klei Sousa

Lilian Goldani - Canoas, RS, 1963

Artista visual, gravadora, graduada e pós-graduada em poéticas Visuais, com ênfase em:
Gravura, fotografia e imagem digital artística, com habilitação em Artes Plásticas, pela
Universidade FEEVALE (Novo Hamburgo/RS). Frequentou o curso de calcogravura do
Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre (1990-1996), participou do grupo de gravura
GRAVA-AÇÕES. possui exposições sistemáticas no brasil e exterior. No COLETIVO
STUDIO JARDIM, desenvolve sua pesquisa em gravura e arte impressa. Em suas temáticas
encontram-se o cotidiano, o feminino, as notícias e os conflitos, elevados a um discurso
poético de impacto. Cenas observadas no percurso de seu deslocamento físico se reportam
47

como impressões e registros, que se observam na obra “APROPRIAÇÕES VELADAS E


REVELADAS”, composta pelas séries: “ONDE ESTÁ O PAI?” e “OS ESPIADORES DE
BANHO”, evidenciando a apropriação como elemento da composição na sua poética.

Faço parte do grupo “Arte, Ciência e natureza” no qual tenho a oportunidade de contribuir
para a conscientização sobre a necessidade de conservação e manutenção de reservas,
espaços naturais e museus que priorizam o registro de espécies em harmonia com o meio
ambiente. É nesta luta que artistas, cientistas e biólogos, dialogam e se conectam para
fortalecer existência e permanência desses espaços.
O meu diálogo se desenvolve com a bióloga, especialista em malacologia e curadora da
coleção Conchas, no Museu de ciências naturais do Jardim Botânico de Porto Alegre/ RS,
Janine Oliveira Arruda. No primeiro contato, Janine foi gentilmente abrindo as portas e
gavetas das coleções de conchas e foi como um mergulho em emoções, uma vontade de
trabalhar com todas, mas escolhi apenas algumas.
Ao trabalhar com a concha me questionei o significado e o sentido de estar explorando
visualmente os traços deste elemento, fui encontrando palavras que faziam perceber um
mundo imaginativo até chegar a um mundo concreto de vivencias longas e diárias com a
concha, a gravura em metal.
Concha, casa, corpo e pó, palavras que quando associadas à concha fazem todo o sentido.
Casa é o que faço com a gravura em metal, quando gravo abro casas para depositar ali um
corpo mole, flexível, amassado e sovado com o carbonato de cálcio, para dar estrutura e
consistência adequada a impressão, a tinta se torna corpo a matriz se torna concha. A
concha percorre a lida da gravura no seu manuseio diário e como pó limpa e desengordura a
matriz e como pó abre a palmo os brancos para a impressão. Não sei se o pó veio primeiro e
a concha depois, mas sei que o oceano tem uma relação de vida e morte com a concha,
quando o ser que nela habita á abandona para perecer no mar, a concha protetora (a casa)
48

aos poucos vai se degradando e alimentando o oceano para que outras conchas se formem a
partir do carbonato de cálcio, liberando da sua estrutura. A concha alimenta o oceano, mas o
oceano devolve a vida para a concha e nesse ciclo infinito de nascer e morrer, crio uma
leitura visual sobre as conchas fortalecendo ainda mais a evidência na relação com a
gravura em metal e a partir do carbonato de cálcio (concha em pó) devolvo sua estrutura de
concha em forma de gravura objeto.
Com desenrolar desde projeto desenvolvi uma relação pessoal com a concha, elemento cheio
de poesia e encantamento, mas também uma estrutura formal, precisa e matemática. Posso
sonhar, dançar com a concha, me deixando envolver por sua beleza, mas posso também
calcular milimetricamente sua estrutura matemática e precisa em suas proporções.
Quero ser concha! Sei que quando o habitante flexível de corpo mole abandonar a casa e
perecer teremos a mesma consistência o que a concha é por fora eu sou por dentro e no final
seremos pó.
Não leve a concha para a casa, a não ser que sua casa seja o oceano.
Lilian Goldani
49

Figura 31: Lilian Goldani


Canoas, RS, 1963
(I) Imagem superior: Gravura objeto
Acrílico transparente gravado, adesivado e preenchido com material orgânico (carbonato de cálcio), formando
um sanduiche. Os painéis devem ser pendurados e com visualização dos dois lados (frente e verso), no caso de
exposição física
52 x 35cm
2020

(II) Imagem inferior: Caixa de acrílico


50 x 10 x 10 cm
Transparente com material translúcido
Azul, com uma camada de carbonato de cálcio e conchas em decomposição
Frase que compõe o objeto: A concha alimenta o oceano, em acrílico transparente
2020
Fonte: Lilian Goldani
50

Lilian Maus - Salvador, BA, 1983

Artista e professora de Pintura do Instituto de Artes/UFRGS. Nasceu em Salvador/BA, e vive


entre as cidades de Porto Alegre e Osório/RS. É doutora em Poéticas Visuais e mestre em
História, Teoria e Crítica da Arte – PPGAV/Instituto de Artes da UFRGS. Graduou-se no
Bacharelado em Artes Plásticas e na Licenciatura em Artes Visuais pelo mesmo instituto.

Figura 32: Lilian Maus


Salvador, BA, 1983
O Homem e a concha I e II
Fotografia digital
60 x 80cm- cada
2020
Fonte: Lilian Maus

Lorena Steiner - Canoas, RS, 1946


51

Pedagoga Pós-graduada pela FEEVALE - Gravura, fotografia e arte digital. Em sua poética
percebemos duas palavras: matéria e tempo, este usado de forma extenuante. As matérias por
ela escolhida podem ser pó, cimento, e nestes trabalhos temos cordões e cola. Seu fazer é
intenso e pode ser traduzido em um sensível esforço físico. Suas obras, em geral, são gestos
tão fortes e fatigantes que foi necessário que eu buscasse apoios teóricos – como o livro “o
Artífice”, de Richard Sennett –, mas, sobretudo, preferi me deixar conduzir serenamente
pelas suas obras, observar o virtuosismo de suas edificações, o quão prazeroso é percorrer os
detalhes das obras que, em muitos casos, são dípticos, isto é, necessitam de
complementariedade, uma espécie de espelho, vendo um desdobramento do um, no gesto que
sugere “estar em relação”, sinônimo de afeto, partilha, comunhão com o outro ou, ainda,
muitos outros.

Figura 33: Lorena Steiner


Canoas, RS, 1946
Tronco de árvores
Arte têxtil, linha de algodão, cola branca, ferro e tinta acrílica
0,60 x 0,80cm
2019
Fonte: Lorena Steiner
52

Rogério Livi - Cachoeira do Sul, RS, 1945

Mestre em Física, doutor em Ciências, na área de Física da Matéria Condensada, e professor e


pesquisador do Instituto de Física da UFRGS.
53

Figura 34: Rogério Livi


Cachoeira do Sul, RS, 1945
Garras
Instalação. Desenho espacial
90x132 cm
2020
Fonte: Rogério Livi

Silvia Livi - Pelotas, RS, 1946

Mestre em Física, doutora em Ciências, na área de Astrofísica Solar, e professora e


pesquisadora do Instituto de Física da UFRGS.
54

Figura 35: Silvia Livi


Pelotas, RS, 1946
A Viagem da Vagem alada - Objeto
Material é vagens de Senna Alata  
1.30 X 70 cm
2020
Fonte: Silvia Livi
55

Figura 36: Silvia Livi


Pelotas, RS, 1946
Alata
Uma Fotografia do conjunto de três fotos / Foto ao lado simulação das três fotos com o galho das sementes
0,40 X 0,40 cm
2020
Fonte: Silvia Livi

Odilza Michelon - Caxias do Sul, RS, 1937

Artista Visual, Artista do Navi - Núcleo de Artes Visuais (1993-2016). Participa das
Conversas Ilustradas – com Jailton Moreira NAVI. Participou do Projeto de xilogravura com
orientação de Mara De Carli Santos, no ano de 2008. Foi orientanda de Jailton Moreira (1995
a 2016). Participou do Curso de xilogravura com a artista plástica Anico Herskov. As tramas,
os bordados, as sombras, a claridade e a escuridão ilustram imagens que compõem os
56

fotogramas e a gravura em metal. São criações que resultam de uma composição apurada e
precisa de um olhar sobre o aquário e o jardim da casa da artista. Esse deslumbrar cotidiano
permitiu-a fazer estas composições em menção ao Jardim Botânico de Porto Alegre, que é de
suma importância para a Vida.

Figura 37: Odilza Michelon


Caxias do Sul, RS, 1937
Vegetação Marinha
Fotograma/bordado
24,5 cm X 21,5 cm
2020
Fonte: Odilza Michelon
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Figura 38: Odilza Michelon


Caxias do Sul, RS, 1937
Vida marinha
Fotograma/bordado
24,5 X 21,5cm 
2020
Fonte: Odilza Michelon

Margrid Kampf - Porto Alegre, RS, 1981

Produtora do Edital FAC Digital RS, em parceria com a Feevale – NH.  

Marcia Rosa - Pelotas, RS, 1960


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Cursa Especialização em Práticas Curatoriais na UFRGS. Doutora em artes visuais pela


UNICAMP. Mestre em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (FASM). Especialista
em Fotografia e Novas Mídias pela Universidade FEEVALE - Novo Hamburgo-RS, e em
Cinema pela Universidade do Rio do Sinos (UNISINOS). Bacharelado em Artes Plásticas
pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS. Selecionada na XI Bienal do Recôncavo
Baiano. Participação 4th Global Print 2019. Pela 10º vez consecutiva, artista convidada a
participar da 10th INTERNATIONAL PRINTMAKING BIENNIAL DOURO 2020.
Exposição Synchronies em Paris, com curadoria de Ana Sartori na Association Graver
Maintenant e na Feevale - Novo Hamburgo com curadoria de Lurdi Blauth. Seleção para
participar Feira Tijuana Grupo Tríade e Residência Kaysaá, projeto proposto pela Galeria
Rabieh –SP. Com obras nos acervos fixos do Museu de Arte Brasileira de Brasília (DF) e do
Museu de Gravura do Douro-Alijó (Portugal), MAC/RS, participou de dezenas de exposições
individuais e coletivas no Brasil e no exterior.
59

Figura 39: Marcia Rosa


Pelotas,1960
Erytrina Speciosa – Tríptico
353x 150 cm
Pintura em papel preto com pastel seco
Realizado a partir de uma Live entre ilustradores botânicos de São Paulo (Cecília Tomasi e Débora Molizane –
com o trabalho a flor eritrina) e biólogos do Jardim Botânico de Porto Alegre (Rosana Singer e Janine Arruda)
2020
Fonte: Marcia Rosa

Vani Foletto - Santa Maria, RS, 1953

Professora do Curso de Artes Visuais da UFSM, hoje aposentada. Em trajetória artística


individual de mais de quarenta anos, realizou pesquisa estética em desenho, pintura, arte
têxtil, cerâmica e objeto arte com temática do cotidiano, questões familiares e existenciais,
onde se sobressai a figura humana estilizada e com conotações simbólicas. Expôs seus
trabalhos em vários lugares e suas obras estão distribuídas em acervos particulares e públicos
no Brasil.
A arte têxtil aliada ao desenho, ao fazer artesanal feminino, requer um conhecimento e
familiaridade com as peculiaridades dos tecidos, das tramas, das costuras e das possibilidades
60

de seus usos para a arte. Além de proporcionar leveza e variadas formas de exposição que vão
além de “um quadro pendurado na parede”, as obras podem alcançar o espaço, ficando soltas,
proporcionando transparência e movimento, pois balançam e mudam de posição. Há a
percepção de um mundo em mutação, no qual as coisas que vemos e vivemos se transformam
rapidamente, e estas são questões presentes na sua obra. Nosso olhar capta cada momento ou
imagem em forma de fragmentos, os quais temos que processar com nosso intelecto e
sensibilidade para poder entender e viver com harmonia no mundo em que vivemos. Cada
planta aparece desenhada em várias posições, em desenhos aquarelados e sintetizados,
realizados em pequenos pedaços de tecido de algodão que, posteriormente, são costurados
sobre um outro tecido (transparente) formando uma unidade. As cores foram escolhidas tendo
por base a cor da planta natural, mas há nuances e variações em cada um dos desenhos, além
de um fundo aquarelado.
Para concluir a obra, buscando ligar com o tema proposto para a exposição que diz respeito à
ciência, o processo incluiu a escrita de verbos como pesquisar, observar, medir, etc., feita em
pequenas tiras de E.V.A que foram costuradas e referem-se ao olhar tanto do artista como do
cientista para cada planta, que, nessas obras, estão representando a natureza. Além disso, foi
incluído um pêndulo em papel com costuras e tecido, tendo a foto da planta impressa em preto
e branco colada amarrada em uma linha que vai do alto até a parte mais baixa, e que pode
balançar. Esse pêndulo foi colocado como forma de enfatizar a importância da preservação da
natureza em geral, assim como da planta representada. Está na mão do homem essa tarefa, e o
pêndulo enfoca que há tempo para isso, mas que tem que ser feito.
61

Figura 40 e 41: Vani Foletto


Pelotas, RS, 1946
Suculenta 1
“Suculentas” – Três obras em Arte Têxtil, cada uma medindo 50 cm x 66 cm
Tecidos, desenhos sobre tecidos, papel, fotos digitalizadas impressas, recortadas e coladas em tecido, palavras
(verbos terminados em ar, er, ir), designando processos inerentes ao método científico, escritas com canetas
hidrocor em E.V.A e costuradas no tecido suporte. Para ser pendurada, foi inserido um arame na parte superior,
que dá sustentabilidade para todo o trabalho
50X66cm
2020
Fonte: Vani Foletto
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Figura 42 e 43: Vani Foletto


Pelotas, RS, 1946
Suculenta 2
50X66cm
2020
Fonte: Vani Foletto
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Figura 44 e 45: Vani Foletto


Pelotas, RS, 1946
Suculenta 3
50X66cm
2020
Fonte: Vani Foletto

Rosana Farias Singer - Campo Grande, MS, 1968

Bióloga com doutorado em Biologia Vegetal. É Analista Ambiental na SEMA/RS, curadora


de coleções vivas do Jd. Botânico e editora-chefe da revista Iheringia, Série Botânica.
Trabalho: Jardim Botânico de Porto Alegre, na Divisão e Manutenção de Coleções Científicas
(DPMCC). Pesquisadora em botânica com sistemática vegetal e ecologia vegetal, editora de
artigos científicos. Atua, principalmente, com as coleções de orquídeas, cactos, plantas
perfumas, savana parque, plantas raras e ameaçadas e gimnospermas.
Tem orientado alunos dos cursos de Biologia de diversas faculdades nos estágios curriculares
e obrigatórios. Também atua como co-orientadora no PPG Botânica da UFRGS de alunos
64

com mestrado e doutorado em trabalhos com cactos e orquídeas. Além dos trabalhos de
curadoria, editoração e orientações de alunos, também atua em projetos de pesquisa, conforme
a demanda da SEMA, e de grupos de pesquisa nas áreas de taxonomia e Ecologia Vegetal.
Como resultado das pesquisas, publica artigos científicos e livros, sendo o “Guia de cactos do
RS” uma grande contribuição para a flora do Estado.

2.2 RELAÇÕES ENTRE AS OBRAS E O ESPAÇO EXPOSITIVO

A montagem da exposição está prevista para ser apresentada em núcleos afins,


dispostos visualmente na configuração espacial a partir do critério de mesmo objeto
pesquisado pelos artistas, como as conchas, por exemplo; ou técnicas artísticas iguais, como
gravura. Nesta mostra nosso desejo é para a valorização e foco dos trabalhos dos ilustradores
botânicos, em virtude disto estes foram colocados no centro do espaço, em painéis móveis.
O trajeto do olhar segue em grupos, assim como afinidades de objetos de estudos,
como a mesma flor, ou os diálogos estabelecidos a partir das escolhas dos artistas. Na entrada
da galeria encontramos os primeiros trabalhos.
Abaixo, colocamos as imagens da simulação da Sala Preta do Museu de Ciências
Naturais, e como distribuímos os trabalhos no espaço, começando pelo Texto Curatorial da
exposição, que ficará na entrada da sala, em um painel que se encontra fora e que usualmente
é usado para esta finalidade.
Fora da Sala Preta, colocaremos uma TV, de propriedade do Museu, onde serão
passados os testemunhos dos 15 profissionais participantes da exposição. Estes foram
convidados a falar sobre o que é arte e ciência para cada um. Será arranjada uma espécie de
antessala com sofás para que, confortavelmente, os visitantes possam assistir.
65

Figura 46: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais


Fonte: Natalia Sartori
A foto acima mostra a entrada da mostra. Logo na entrada vemos o trabalho do Claiton
Ferreira “O último que sair apaga a luz”. O título é adesivado no chão, seguindo a forma
côncava do painel. Do lado esquerdo vemos o trabalho “Erytrina Speciaosa”, de Marcia
Rosa. No centro da sala foram colocados os trabalhos dos ilustradores botânicos. O trabalho
de Cecília Tomasi está atrás do trabalho de Claiton Ferreira. Os outros dois painéis, que são
retos, apresentam os trabalhos de Débora Molizane – de um lado as suas ilustrações botânicas
e, do outro, os desdobramentos de suas ilustrações, as quais coloca impressas em pratos.
66

Figura 47: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais


Fonte: Natalia Sartori

A posição do observador nesta foto também é da entrada do espaço. À direita vemos o


trabalho de Clara Koppe, que são xilogravuras coladas em cilindros que medem 4cX0,90 cm.
Aqui podemos ver o trabalho de Claiton Ferreira e, à sua esquerda, ao centro da sala, o
trabalho da Débora Molizane.
67

Figura 48: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais


Fonte: Natalia Sartori

Esta imagem mostra o fundo da exposição, que possui uma parede convexa. Nela está
o trabalho de Lilian Maus, chamado Micronacionalismo das conchas, 2020, que é uma
Pintura acrílica sobre lascas de parede, medindo 300x50cm. Junto a este trabalho, abaixo,
podemos ver três mãos. São fotografias digitais, medindo 60x80cm, de título O Homem e a
Concha I, 2020. Estas fotos serão colocadas sobre três prateleiras, a vinte centímetros do
chão. O conjunto da obra de Lilian Maus, como as de outros artistas da exposição, formam
pequenas instalações que se harmonizam no espaço. Isto é motivado pois os artistas propõem
várias obras a serem colocadas juntas, como fotografias, caixas e pinturas e, todo este
conjunto, embora obras separadas, formam uma instalação de cada artista.
Neste recando da mostra, encontram-se os trabalhos de Lilian Goldani. Procurou-se
organizar o espaço por assunto, aqui, no caso, são as conchas. Perto também se encontram os
trabalhos da pesquisa científica, que motivou os trabalhos com as conchas, os da pesquisadora
de malacologia Janine Arruda.
68

Figura 49: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais


Fonte: Natalia Sartori

Esta parede é a da esquerda da sala. Nela, está o trabalho de Claiton Ferreira, primeiro
trabalho de foto de formato redondo. Chama-se “Diálogo espaço-temporal I”; fotografia
impressa sobre papel algodão, medido, cada conjunto de três, 30cm X 90cm. São foto feitas a
partir de diálogos com a pesquisadora Rosana Singer, do Jardim Botânico, que estuda Cactus.
Além deste, outro diálogo que surge é Débora Molizane, que estuda e ilustrou as Erytrinas;
entre outros diálogos, como pesquisadores e ilustradores botânicos.
69

Figura 50: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais


Fonte: Natalia Sartori

Atrás do trabalho de Lilian Maus, encontra-se uma pequena sala (depósito) que mede
5,90X 160cm. O projetor deste vídeo terá que ser especial, pois não tem distanciamento
suficiente da parede para fazer uma projeção em tamanho ampliado. Nesta salinha/depósito
será projetado o vídeo Viveiros, de Antônio Bueno.

Figura 51: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais


Fonte: Natalia Sartori

Estes trabalhos ficam do lado direito, no fundo da sala. O primeiro pertence ao


70

Rogério Livi; já, a sua frente, estão distribuídos os tecidos pintados, colados e costurados da
artista Vani Foletto. A ideia é que as pessoas possam passar por entre seus trabalhos e sentir
os vários aromas de plantas perfumadas que costurou junto aos desenhos. Para quem visita a
exposição, esta parece representar o próprio Jardim Botânico, com variedade de texturas e de
imagens, ou seja, a representação das múltiplas paisagens.

Fi
gura 52: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais
Fonte: Natalia Sartori

Os trabalhos que aparecem na imagem acima são: primeiro, à esquerda, o da Lorena


Steiner, que são trabalhos em estruturas de ferro com cordões entrelaçados com cola e tinta
acrílica. Seu projeto é fazer cascas de árvores, pois sua poética envolve fortemente a matéria
e a espessura das coisas. Aparece novamente, em um dos painéis centrais, o trabalho do
ilustrador botânico Klei Sousa, deste lado estão os seus trabalhos expandidos, como falamos
anteriormente. Estes são trabalhos nos quais os artistas partem das ilustrações botânicas
tradicionais para outras experiências. Aqui, ele agrupa várias ilustrações e as junta, as
colocando em um fundo colorido, amarelo, vermelho e azul. Klei Sousa usa estas estampas,
71

como a pequena azul da foto, para azulejos e canecas. Já, a grande Erytrina, à direita da foto, é
um desenho já expandido da Débora Molizane. Uma das possibilidades da montagem é fazer
um plotter transparente desta sua imagem, que contém a metade da flor, adesivar e, sobre as
pétalas desta metade de Erytrina, colocar os pratos pintados que ela tem produzido.

Iluminação: dispositivos como spots foram direcionados sobre as obras, de forma a iluminar,
destacando-as uma a uma – forma de valorizar cada artista e suas obras, uma vez que a sala é
completamente negra, só o chão possui um piso claro.
Etiquetas: Nas fichas técnicas dos trabalhos dos ilustradores botânicos é comum colocar
além de quem a executou, mas ainda os nomes dos pesquisadores estudiosos da planta
representada, além dos dados da revista onde foi publicado., etc. Como estas fichas técnicas,
as etiquetas dos trabalhos de Conviver terão não somente os dados da obra ou do artista, mas
trarão outras informações como do ilustrador botânico, ou biólogo que o artista tenha feita
referência , apropriação ou outro tipo de diálogo, ou outro dado que de alguma forma
contribui para a execução do trabalho exposto. Estes dados estarão em um QR code e,
também impresso em um bloco tamanho A5, sendo possível destacá-lo para levar para casa.
Abaixo um exemplo de uma ilustração do Klei Sousa com os dados correspondentes.
72

Figura 53: Pteridofitas- ilustração botânica


Fonte: Klei Sousa

Klei Sousa
Mauá, SP, 1979
Pteridofitas - A–D. Alsophila cuspidata (Daly et al. 7427, NY. E, F. Cyathea microdonta (Prado et al. 1190,
SP). G, H. Cyathea pilosissima (Prado et al. 1231, SP).  I–K. Cyathea pungens (Daly et al. 11175, NY). 
Tinta nanquim sobre papel
30x21 cm
2017

Ilustra o trabalho “Fern and lycophyte flora of Acre state, Brazil”, de autoria de
Jefferson Prado, Regina Yoshie Hirai  e Robbin Craig Moran
Publicado em Biota Neotropica, vol.17 n 4, Campinas 2017 Epub Nov 17, 2017

Site da Exposição: um dos objetivos do site é levar, de uma forma digital, a exposição até as
pessoas, buscando gerar uma sensação semelhante com a que sentiriam se estivessem
visualizando a exposição fisicamente. Fizemos esta simulação criando umas páginas com as
cores, mais próximas da exposição, e as informações e as páginas de cada Ilustrador Botânico,
Artistas ou Biólogos, com informações sobre cada um, com os seus textos, com um ou mais
vídeos de apresentação dos participantes falando tanto de sua obra, quanto de si mesmo.
Neste contexto, um espaço bem importante foi o das fotos da galeria de imagens da
exposição, que permite que o visitante abra uma imagem maior, mas não somente isso, ao
73

clicar na imagem ele também terá acesso a todas as informações dela, como nome, dimensões,
técnicas com as quais foi realizada, entre outros dados relevantes.
O site é feito numa plataforma que permite a atualização de forma facilitada pela
equipe responsável. Ou seja, quando tiver alguma alteração que deva ser feita ou alguma
noticia ou informação a ser modificada, pode ser feita por qualquer pessoa da equipe, basta
que tenha o login e a senha para realizar estas alterações. Além disso, embora o WordPress
seja a plataforma mais usada e mais conhecida do mundo, entendemos ser importante alguns
complementos. Assim, adicionamos ao site alguns plugins extras para poder dar mais
interação às galerias de imagens das Exposições, como ampliar as imagens, melhorando a
experiência de quem o visita.

2.3 AÇÕES EDUCATIVAS

1. Seminário sobre arte, ciência e natureza


Título: Conviver pelo Jardim Botânico
Período de realização: dois encontros, em um final de Semana – sábado e domingo
Horário: manhã e tarde
Público: aberto ao público em geral

2. Proposta para Curso


Título: Técnicas de desenho e pintura - Aquarela Botânica
Carga horária: 18 horas, em período de 3 dias de aulas, ou seja, 6 horas/aula por dia

Sinopse: o curso aborda os materiais utilizados, as técnicas de desenho e a pintura de plantas


em aquarela. Aulas explicativas e práticas para pessoas interessadas em desenho e pintura de
plantas, folhas e flores, com ou sem experiência.
Atividades: teóricas, demonstrativas e práticas
Materiais: tipos de tintas, cores mais usadas, tipos de pincéis e papéis

Realização:
a) Exercícios básicos de utilização das tintas e técnica de pintura;
b) Demonstração e prática de desenho de observação à lápis para posterior pintura;
74

c) Prática de desenho à lápis de folhas e flores simples;


d) Prática de pintura em aquarela de folhas e flores;
e) Estudos e composição;
f) Observação e proporção, transporte de medidas;
g) Mistura de cores, testes e comparações;
h) Composição, desenho e prática de pintura de ramos compostos de flores e folhas.

3. Oficina cianotipia - Antotipia e fitotipia


Ministrado por: Lilian Goldani e Claiton Ferreira
Oficinas de fotografia experimental, com aproximadamente 8 horas de duração. Período: Aos
sábados, das 14h às 18h; e aos domingos, das 10h às 14h.

1º dia – Sábado
a) Breve histórico e introdução teórica a cianotipia;
b) Projeção de imagens (cianótipos);
c) Preparação das soluções fotossensíveis;
d) Geração e impressão de negativos digitais;
e) Emulsionamento e secagem dos papéis.

 2º dia – Domingo


f) Exposição e revelação química;
g) Experimentações e Dicas;
h) Digitalização dos trabalhos realizados;
i) Análise dos resultados.

4. Painel Coletivo
Título: Arte e Natureza: minha vivência no Jardim Botânico
Realização: Na entrada do Museu de Ciências Naturais colocar um painel de 5X3m, onde o
visitante poderá se manifestar livremente sobre as suas experiências no Jardim Botânico.

5. Curso com os professores: Antônio Bueno e Marcia Rosa


Título: Imersão no desenho nos Jardins do Jardim Botânico
Carga Horária: 32h
Dias da semana/turno: 4 dias (oito turnos)
Objetivos do curso: O objetivo do curso está baseado nos fundamentos básicos da linguagem
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visual, no desenvolvimento da observação, recepção e apreensão por meio do desenho. O


curso é de Desenho Artístico e se realizará a tradicional prática do desenho de observação,
com simplicidade, para que alguns alunos enfrentem o "medo" de desenhar para superar os
limites impostos por regras e dogmas acadêmicos anacrônicos. O resultado esperado é um
desenho pessoal, com um traço individual, que seja como uma assinatura e que poderá, com a
prática, transformar-se em estilo artístico próprio.
Quantidade mínima para abrir turma: 25
Pré-requisitos para o aluno: nenhum

6. Ação Educativa para escolas - Educação Ambiental


Ações Educativas com as escolas nas relações feitas dos artistas e biólogos durante o tempo
de nossas pesquisas
Lilian Goldani faz gravura em metal, e sua poética consiste na relação entre as
conchas que pesquisou com a Janine Arruda. Em sua composição, as conchas são formadas de
carbonato de cálcio, que é um dos elementos fundamentais para se fazer gravura em metal.
Neste sentido, Lilian Goldani fez a relação da gravura em metal com a concha.
Ela propõe uma ação a partir da sua reflexão, ou seja, propõe às pessoas que vão à
praia e levam as conchinhas para casa – que é o carbonato de cálcio – de não mais fazê-lo.
Existe carbonato de cálcio na água do mar e as conchas precisam dele para continuar
existindo. Lilian intenta, com esse gesto, repassar a informação de que, depois de mortas, as
conchas (carbonato de cálcio) precisam voltar ao mar para transformarem-se em mais
conchinhas.
Outra ação ainda na própria exposição as pessoas poderão em um recipiente com
carbonato de cálcio fazer impressões das conchas neste pó.
76

3. TEXTO CURATORIAL

Este Texto Curatorial será apresentado no site que estamos construindo e, após, na
parede da Exposição que ocorrerá no Jardim Botânico de Porto Alegre.

Experimento
Conviver é uma exposição que acontece em um local incomum dentro de um circuito
convencional de arte: um museu de ciências naturais. No entanto, o grupo Arte, Ciência e
Natureza, formado essencialmente por artistas visuais, o escolheu baseado nos estudos do que
ocorreu no nosso país vizinho Uruguai. Em 2012, uma exposição chamada Futuro natural foi
realizada por 17 artistas visuais, consistindo em ingressar no Museu Nacional de História
Natural em Montevidéu com o propósito de difundir os acervos da instituição. Outros artistas
realizaram a mesma prática em jardins botânicos da Europa ou em museus de História
77

Natural.
Atualmente, os objetos de estudo do grupo são em boa parte exemplares das coleções
científicas do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico de Porto Alegre, cujo
responsável, Daniel Brambilla, disponibilizou para o desenvolvimento desse projeto.
Em que consiste este Conviver, para além das propostas que vemos acontecer ao redor
do mundo?
Em nossos encontros com o nosso grupo de artistas, falamos da situação complexa e
difícil pela qual o meio ambiente e as instituições a ele ligadas estão enfrentando. A partir
destas inquietações teve início a conversa com a bióloga do Museu de Ciências Naturais
Janine Oliveira Arruda, cocuradora desta mostra, que viabilizou o início e o desenvolvimento
de Conviver.
Assim, iniciamos as visitas às coleções tanto do Museu de Ciências Naturais como do
Jardim Botânico. Os trabalhos artísticos partiram de um imenso banco de imagens: vídeos e
fotografias, além de troca de informações com os servidores na instituição, onde pode-se
vislumbrar o amor existente na voz e no olhar de cada um. Realizamos reuniões e encontros
presenciais até o início da pandemia (Covid-19), que, ao contrário do que se esperava, acabou
por fortalecer o grupo e o desenvolvimento do projeto. Não pudemos mais realizar os
encontros presenciais, o que não diminuiu o engajamento e o contato dos participantes, pois
passamos a realizar reuniões periódicas online. Aos poucos, o projeto Conviver foi ganhando
forma, foram unindo-se a nós outros artistas, biólogos e ilustradores, criando, assim, um
diálogo entre diferentes áreas e a partir de diversos olhares. Juntou-se a nós, por exemplo,
Cecília Tomasi, ilustradora botânica que atuou por mais de 30 anos no Jardim Botânico de
São Paulo e que aceitou dividir a sua experiência com o grupo; ela trouxe para o grupo dois
de seus alunos: Debora Molizane e Klei Sousa, ambos ilustradores botânicos.
Escolhemos os ilustradores botânicos com suas obras para serem o foco da exposição
78

Conviver, pois representam com o seu trabalho o elo existente entre a arte e a ciência através
de seu gesto de desenhar.
Nesta exposição poderemos apreciar trabalhos de 15 profissionais: três ilustradores botânicos,
três biólogos (só um biólogo expõe seus desenhos e fotos, os outros fizeram parcerias com os
artistas) e 11artistas visuais. Veremos na mostra desenhos, fotos, instalações, micropaisagens,
aquarelas, vídeos, xilogravuras e gravuras em metal. O assunto geral é a natureza, mas
olhamos, em especial para os vegetais e conchas.
Em Conviver, alguns dos trabalhos propostos para a exposição são resultados de algo que
simplesmente acontece, sendo essa uma contribuição da leveza da arte, como os diálogos
entre biólogos, artistas plásticos e artistas ilustradores botânicos. A exemplo de Antônio
Bueno, artista visual, que apresenta, além da videoarte Viveiro, desenhos realizados em
pequenos cadernos de folhas laranjas, com registros das paisagens do espaço externo do
Jardim Botânico. Eu, com pastel seco sobre papel preto, retrato a experiência construída em
conjunto durante uma live, com a presença de Rosana Singer e Janine Arruda, biólogas,
Cecília Tomasi e, ainda, a artista visual Lilian Goldani. Vani Foletto, com um desenho livre e
grande destreza, desenha plantas em várias posições, em desenhos aquarelados e sintetizados,
feitos em pequenos pedaços de tecido de algodão que, posteriormente, costura sobre outro
tecido (transparente), formando uma unidade. Rogério Livi apresenta um desenho expandido,
realizado através de fotos de espinhos que sugerem desenhos no espaço com as suas espirais,
o qual chamou de Poema Zen 1 e 2, entre outros. Lilian Maus usa a mão em suas fotos para
entender a escala dos objetos desenhados como as conchas. Sua pesquisa começou com algo
intuitivo, como o desenho em aquarela da maior concha do acervo. A princípio, nestes
desenhos, a artista enxerga uma espécie de revoada de pássaros e lhe dá o nome de Revoada
de madrepérolas. Um segundo desenho, ela intitulou como A concha da vida emana líquida,
inscrevendo isso no passepartout da obra com letra-sete, baseando-se no livro de Paul Valéry.
79

Para esta mostra, propomos, enquanto grupo de pesquisa, três leituras base, sendo uma
delas o artigo de Horst Bredekamp, pois nos traz uma reflexão sobre o desenho. Seu trabalho
apresenta, a partir de cinco exemplos, o sentido específico do desenho à mão, ressaltando a
importância do mesmo para se perceber verdades científicas. Segundo o autor, Galileu fez
desenhos da lua, intensificando a projeção da sombra, a altura e a profundidade das formações
na sua superfície que foram acentuadas em uma plasticidade virtuosa, construída
exclusivamente por meio de efeitos de luz e sombra. Galileu e os astrônomos da época se
valeram desses desenhos que provocaram a ruína da imagem platônica do cosmos e de suas
estrelas perfeitamente esféricas. Darwin, 150 anos mais tarde, confiou de modo semelhante no
desenho como um meio ao pensamento (BREDEKAMP, 2004).
Assim, na medida em que mostram a evolução da natureza, não como um sistema de
ramificações ordenadas, mas sim como uma proliferação caótica, os desenhos revelam mais
uma vez o modelo mais complexo. Independentemente do talento artístico, o desenho
encarna, como primeiro vestígio do corpo sobre o papel, o pensamento em sua mais elevada
imediaticidade possível. Em geral, a visualização digital é contraposta ao movimento pensante
da mão que desenha. Este desenho possui uma intransferível complexidade e dinâmica dessa
forma de expressão. A história das mãos pensantes que desenham, também e particularmente
a dos cientistas, ainda não chegou ao fim.
Concluindo, esperamos que Conviver seja uma tentativa de, a partir das relações, unir
arte e ciência. A exemplo, citamos o próprio profissional ilustrador botânico, que usa a arte
para os propósitos da ciência, e cuja obra/imagem científica embasada tem como objetivo
preservar a natureza e comunicar a ciência a um público que não é especializado. A arte em
Conviver, olhando para este profissional, deseja ser um vínculo de união, de troca, mas não
ela sozinha, e sim a partir dos ilustradores botânicos e dos pesquisadores biólogos, por meio
de uma proposta de convivência e diálogo que gerem transformações.
80

Com esta atitude, a arte mais uma vez rompe paradigmas e reforça que o trabalhar
junto em prol de alguma causa, de um serviço a uma instituição, resulta na percepção do
potencial humano de um e de outro profissional, que procuramos retratar aqui, como fruto da
união entre arte e ciência, nutrida por amor à natureza, por amor ao Jardim Botânico e Museu
de Ciências Naturais. Conviver se apresenta como uma poética possível.
81

REFERÊNCIAS

BREDEKAMP, Horst. Mãos pensantes – considerações sobre a arte da imagem nas ciências
naturais. In: ALLOA, Emmanuel (Org.). Pensar a imagem. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

CHIPP, Herschel. B. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

DALCOL, F. Artista enquanto curador: das convergências e dissoluções entre práticas


artísticas e curatoriais. In: Modos. Revista de História da Arte. Campinas, v. 3, n.1, p.281-
299, jan. 2019. Disponível em:
˂https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/mod/article/ view/ 4117˃. Acesso em: 12
set. 2020.

DALCOL, Francisco. O tempo das coisas: processos artísticos, procedimentos curatoriais e


estratégias expositivas. In: Anais do 27º Encontro da Associação Nacional de
Pesquisadores em Artes Plásticas, 27º, 2018, São Paulo. São Paulo: Universidade Estadual
Paulista (UNESP), Instituto de Artes, 2018. p.3252-3267.

ELKINS, James. História da arte e imagens que não são arte. In: Revista Porto Arte, Porto
Alegre, v. 18, n. 30, maio, 2011.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

FORTES, Hugo. Interações entre Natureza e ciência na arte contemporânea. Artigo da


pesquisa de pós-doutorado realizada na FAU-USP, em 2009. Acesso
http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/view/292. 19/09/2020

OLIVEIRA, R. L. de; CONDURU, R. Nas frestas entre a ciência e a arte: uma série de
ilustrações de barbeiros do Instituto Oswaldo Cruz. In: História, Ciência, Saúde,
Manguinhos, v. 11, n. 2:335-84, maio-ago, 2014.

Bibliografia Botânica
82

ARAUJO, Andrea Mendez. Aplicações da ilustração científica em ciências biológicas. 48 f.


Trabalho de conclusão de curso (bacharelado e licenciatura – Ciências biológicas) –
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2009. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/118088>. Acesso em 18 ago. 2020.

FUNDAÇÃO Zoobotânica. Revista Iheringia. Série Botânica. Disponível em:


<https://isb.emnuvens.com.br/iheringia>. Acesso em: 12 set. 2020.

MUSEO NACIONAL DE ARTES VISUALES. Ministerio de Educación y Cultura, Uruguay.


Disponível em: <http://mnav.gub.uy/cms.php?c=1E8>. Acesso 12 set. 2020.

MORAIS, Pedro H. Ilustrando Ciência: a história da ilustração científica. colecionadores de


ossos, abr./2017. <https://www.blogs.unicamp.br/colecionadores/2017/04/19/ilustrando-
ciencia-a-historia-da-ilustracao-cientifica/>. Acesso em: 12 set. 2020.
83

APÊNDICE A – CRONOGRAMA

Abaixo, segue o registro das reuniões finais até a entrega do TCC, realizadas via Zoom. As
reuniões anteriores eram realizadas de 15 em 15 dias, ou até com intervalos maiores. Torna-
se, antes, importante dizer que o valor disso está na experiência obtida e que a reverberação
destes encontros já está presente no nosso trabalho, porém, este registro é uma simulação para
quem não teve a oportunidade de participar.

Data de realização – Dia 09 de julho- 14HS


Participantes: Lilian Maus, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Marcia Spaldoni, Rosane Singer, Janine Oliveira Arruda
Pauta: Exposição da poética de Lilian Maus. Considerações pessoais dos participantes.
Organização de troca de informações entre os biólogos e artistas.

Data de realização – Dia 18 de julho- 14HS


Participantes: Rosane Singer, Janine Oliveira Arruda, Marcia Rosa
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Pauta: Apresentação da pesquisa de Rosana Singer e sugestão de trocas de pesquisas entre os


dois Jardim Botânicos e os artistas.

Data de realização – Dia 16 de julho- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Lilian Maus, Janine Oliveira Arruda, Janice Saraiva.
Pauta: Exposição da Experiência de Cecília Tomasi no Jardim Botânico de São Paulo.
Considerações pessoais dos participantes. Organização de troca de informações entre os
biólogoss e artistas.

Data de realização – Dia 22de julho- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Lilian Maus, Marcia Spaldoni, Vera Matos, Cecília Tomasi.
Pauta: Apresentação das pesquisas de Rogério Livi e Vani Foletto. Participação de Debora
Manzano Molizane. Considerações pessoais dos participantes. Organização de troca de
informações entre os biólogos e artistas.

Data de realização – Dia29 de julho- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Cecília Tomasi.
Pauta: Apresentação das pesquisas de Marcia Rosa e Clara Koppe, e apresentação do
conteúdo que estava sendo desenvolvido até o momento. Considerações pessoais dos
participantes. Organização de troca de informações entre os biólogos e artistas.

Data de realização – Dia 05 de agosto- 16HS


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Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Cecília Tomasi.
Pauta: Apresentação das pesquisas de Marcia Rosa e Clara Koppe, e apresentação do
conteúdo que estava sendo desenvolvido até o momento do TCC de práticas curatoriais da
UFRGS. Considerações pessoais dos participantes. Organização de troca de informações entre
os biólogos e artistas.

Data de realização – Dia 12 de agosto- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Cecília Tomasi.
Pauta: Apresentação das pesquisas de Silvia Livi e Cecília Tomasi. Considerações dos
participantes. Organização de troca de informações entre os biólogos e artistas.

Data de realização – Dia19 de agosto- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Cecília Tomasi, Débora Molizane, Clara Koppe.
Pauta: Apresentação trabalhos Débora Molizane, Clara Koppe.

Data de realização – Dia 26 de agosto- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian Goldani, Janine
Oliveira Arruda, Cecília Tomasi, Débora Molizane, Clara Koppe.
Pauta: Apresentação trabalhos Lilian Goldani

Data de realização – Dia 23 de setembro- 16HS


Participantes: Marcia Rosa, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian Goldani, Janine
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Oliveira Arruda, Cecília Tomasi, Débora Molizane, Clara Koppe.


Pauta: Apresentação do site pelo Clayton Ferreira.

APÊNDICE B – UM OLHAR SOBRE OS TRABALHOS DE LILIAN MAUS


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Figura 54: Revoada no céu de madrepérola – 29,7x42 cm


Fonte: Lilian Maus

Figura 55: Revoada no céu de madrepérola II - 29,7x42 cm


Fonte: Lilian Maus

A artista Lilian Maus pinta uma concha em aquarela, e realiza uma outra pintura, com
as mesmas cores e detalhes, e dá a este trabalho um título muito poético: “Revoada no céu de
madrepérola”. Nesta obra podemos ver mais um diálogo e contributo que uma concha de um
acervo, no caso o Jardim Botânico, e uma artista podem produzir juntos.
Abaixo, é possível observar a montagem da exposição Cultivar, no primeiro plano, no
sanduiche de acrílico:
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Figura 56: Exposição Cultivar


Fonte: A autora

À direita, estão os desenhos da bióloga Janine Oliveira Arruda, são pulmões de


moluscos e uma revista científica onde podemos ler o seu artigo científico sobre este assunto.
Ao fundo, fotos de Claiton Ferreira, das conchas do mesmo acervo, realizadas em 2015; e ao
fundo, à direita, o trabalho da Lilian Maus.
A Exposição citada acima, realizada na Villa Mimosa, foi um experimento-estudo para a
presente exposição. Para o trabalho da Lilian Maus, encontrei no livro Teorias da Arte
Moderna, Herschel B. Chipp, um trecho que descreve o processo de trabalho de Jean
Dubufet, que parte de objetos cotidianos, como plantas:

[...] podia obter em minha empreintes, rochas, plantas, solos e muralhas mais
facilmente que aplicando o papel aos próprios objetos. [...] chega de Lyon o
especialista em botânica Dereaux, com um precioso presente em sua maleta: uma
ampla coleção de plantas habilmente exibidas, livremente fixadas em folhas de papel
e depois secadas sob a prensa, produto de um paciente trabalho a que se entregou ao
longo dos últimos meses para que eu possa utilizar esse herbário no meus exercícios
de empreintes, coletando-as. Agora essas formas vegetais estão devidamente
espalhadas sobre meu tapete de tinta. Eu tinha pedido ao meu amigo para colher
apenas as ervas mais comuns, pois, ao contrário da maioria das pessoas, desconfio
das coisas raras, e, na verdade, as mais banais são as que sempre me excitam.
Também o herbário de Dereux contêm, sobretudo, vulgares tufos de gramíneas e
ervas minúsculas e ordinárias. Meu pequeno herbário afogado de tinta torna-se
árvore, torna-se jogo de luz no chão torna-se nuvem fantástica no céu, torna-se
turbilhão de água, torna-se sopro, torna-se grito, torna-se olhar. Tudo se combina e
interfere entre si. Tais são as maravilhas do meu jogo e que tanto me apaixonam [...].
(CHIPP, 1996, p. 629).

Quando Dubuffet recebe o presente do amigo biólogo, um herbário, cada um deles tem
uma visão e um tratamento para este material, uma sensibilidade do que fazer com o material
coletado. Para o biólogo Dereux, seu objetivo foi catalogar de forma perfeita e exata, usando
o seu conhecimento para coletar as plantas, como costuma fazer para os seus estudos
científicos, plantas de determinado local e que, provavelmente, estejam já em extinção. Para
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Jean Dubufet, estas exsicatas (tufo de erva e o broto do tufo de erva), após entintadas e
impressas em um papel, podem parecer uma árvore, folha, o que chama de elemento
fracionário, são objetos de pouca duração e de aspecto mais ou menos cambiantes, são razões
puramente poéticas. Exemplifico este pensamento, no nosso grupo, através da obra Revoada
no céu de madrepérola, como qual é um exemplo de um procedimento artístico diante de uma
Coleção do Jardim Botânico.

APÊNDICE C – TEXTO QUE REFLETE O MEU TRABALHO DE ARTISTA –


MARCIA ROSA

Para a arte pode ser importante ressaltar o cambiante, pois são seres que, como a flor,
se transformam muito rapidamente, como o fluxo do rio, que a cada momento está diferente.
Os artistas podem gerar reflexões sobre os elementos da natureza reproduzidos como, por
exemplo, pela observação das metamorfoses das pétalas, criando poéticas existenciais: as
buscas e os sonhos do ser humano através das flores.
Simbólicas: a flor como símbolo da realidade humana, da vida e da morte, da
espiritualidade.
Analógicas: a flor como reflexo do corpo ou da pele humana; para Poussin e Van Gogh a
flor é o próprio homem.
Artísticas: a realização de um trabalho plástico final, as empreint de Dubuffet, como
reflexão sobre a materialidade.
A história da escolha da natureza para os artistas realizarem as suas poéticas, com os
seus diversos procedimentos, em que muitos se antagonizam, ao elencá-los Hugo Fortes os
torna muito mais simples e claros. Para o artista holandês, Hermann de Vrie, a questão é o
transcendente, o espiritual. Nos inúmeros livros publicados pelo artista, a apresentação de
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espécies botânicas isoladas ou em composições aparecem, por vezes, acompanhadas de textos


poéticos que refletem sobre o mundo transcendental da natureza. Hugo, em relação à poética
de Vrie:

Uma questão poética e transcendental coloca-se à frente de todas as outras e a


visualização da natureza, embora empreste da ciência alguns procedimentos, é
baseada na experiência sensível e contaminada pela subjetividade, ainda que esta se
manifeste de maneira delicada e sutil. O colecionismo, típico dos sistemas
catalográficos dos antigos cientistas, faz também parte do trabalho de Herman de
Vries, porém mais no sentido de uma busca metafísica transcendental do que com
vistas à objetivação científica (FORTES, 2009, p. 85).

ANEXO A – VANI FOLETTO

Texto produzido pela artista visual Vani Foletto para a nossa exposição:
Arte, Ciência e Natureza, uma exposição plural
Uma exposição que reúna arte e ciência e natureza, aparentemente parece ser algo caótico.
Aparentemente. A arte e a ciência têm seus métodos distintos, além de olhar para o objeto de
pesquisa de maneira diferente, mas, ouso aqui apontar similaridades e objetivos comuns: a
arte e a ciência olham de maneira demorada para a natureza. A ciência tem métodos que
observam, comparam, etc., que a arte também tem. A ciência busca objetivos concretos: quer
saber os detalhes das pedras, das árvores, dos homens e dos animais, mas a arte também faz
isso, só que é um olhar que implica no sentimento humano frente ao que a natureza nos
proporciona. Cada ser, seja ele vivo ou não, tem um modo de ser e se apresenta para nós
como um ente natural e cultural, interfere e nos toca, pois buscamos nos afirmar como seres
humanos tendo como referência a natureza.
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A exposição “Arte, Ciência e Natureza” apresenta pesquisas realizadas por cientistas e


artistas. Cada participante, seja cientista ou artista, mostra um ponto de vista apoiado em
sua área e mediado por observações feitas no Jardim Botânico de Porto Alegre, estudos
particulares e diálogos feitos através de conferências digitais realizadas durante alguns
meses durante a pandemia da Covid 19. Os diálogos serviram para aperfeiçoar o
entendimento e aproximar as duas áreas, cada uma delas mantendo seus postulados e
convicções, mas permitindo que cada artista ou cientista pudesse entender o olhar da outra
área.
O que resultou dessa jornada de conhecimento e aperfeiçoamento da sensibilidade foi a
elaboração de obras que salientam a importância da natureza para a humanidade. Apontam
similaridades entre ciência e arte no todo e em cada detalhe dos trabalhos ora em exposição.
Desenhos de plantas elaborados para livros científicos, fotografias de caracóis e outros seres
expostos no Museu Municipal do Jardim Botânico de Porto Alegre, fotografias de montagens
com plantas, desenhos, instalação artística, arte têxtil e gravuras expressando sensivelmente
ou objetivamente o mundo que nos cerca.
Vani Foletto, 2020
ANEXO B - DEPOIMENTO DE CLAITON FERREIRA

Cada artista do Grupo arte, ciência e natureza, a partir do contato com as pesquisas
e coleções, por intermédio dos curadores do Museu de Ciências Naturais e do Jardim
Botânico de Porto Alegre, terá uma intenção.
No grupo há, por exemplo, trabalhos como o de Claiton Ferreira, que nascem das
reflexões de um cientista-artista, como ele mesmo afirma a respeito do seu processo de fazer
ciência e arte. É um processo criativo autoral e metódico, ou seja, quando ele escolhe o tema
do projeto, também já realiza uma pesquisa histórica e organiza tudo de uma forma objetiva,
como um projeto, com objetivos específicos e público-alvo; material e método; seleção da
mídia onde os resultados serão mostrados; exposição e divulgação do trabalho. Justifica seu
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gesto de fotografar espécimes de coleções científicas, partindo da história da ilustração no


Brasil, com Charles Othon Frédéric Jean-Baptiste de Clarac (1777-1847), Johann Baptist
von Spix (1781-1826) e Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868).
Claiton Ferreira usa os elementos da natureza como forma de mostrar para as
pessoas o quanto o ser humano a degrada e maltrata. Quando poluímos o ambiente com uma
garrafa plástica, um pedaço de madeira ou um resto de construção, o que a natureza faz? Ela
transforma aquilo, de certa forma recicla e nos devolve, mostrando que tudo é impermanente;
tudo é um constante reciclar, reconstruir, renovar, transformar. Em suas próprias palavras,
Claiton diz o seguinte: “Quero mostrar às pessoas a importância da transformação, desde a
transformação interna, a externa e o cuidado que temos que ter com a natureza. Mostro
através destes elementos, desses símbolos, como, por exemplo, um pedaço de madeira de
construção todo cheio de conchas. Ou seja, o mar reciclou, se apropriou e modificou um lixo
jogado pelo ser humano e o devolveu ao remetente, todo alterado. Em minha pesquisa
existem também as caixas que são ordenamentos, são como narrativas, a partir dos elementos
que compõem os símbolos utilizados. Por exemplo, uma caixa com ninhos, conchas, asas,
caixas de ovos, etc., eu estou dando uma ideia do que talvez tenha sido a vida daquela ave, ou
seja, estou tratando com o maior respeito possível aquele indivíduo que viveu e que deixou,
na natureza, seus restos. Os animais não possuem roupas, móveis. Quais seriam os pertences
de uma ave? Para mim, os pertences da ave seriam aquilo de que ela se alimentou, as
heranças dela seriam a memória ou imaginação que temos do que talvez tenha sido sua vida.
Estou prestando uma homenagem póstuma a esses seres por meio do uso destes elementos.
Todas as caixas têm esta interpretação, de uma homenagem póstuma a diversos seres, os
quais estão agrupados como elementos de um livro que narra a vida dos que um dia aqui
estiveram presentes e que não mais estão entre nós, tanto animais quanto humanos.
Claiton Ferreira, 2020
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ANEXO C - DEPOIMENTO DE JANINE ARRUDA


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Dia 29 de julho participei de uma Live sobre coleções científicas onde tive a oportunidade de
falar sobre o grupo ‘arte, ciência e natureza’. Em outros dois congressos que participei, o
XXXIII Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em março de 2020, na cidade de Águas
de Lindóia, e o evento on-line da “Society for the Preservation of Natural History
Collections” (SPNHC) e do “International Council of Museums Committee for Museums and
Collections of Natural History” (ICOM NATHIST), realizado em junho do presente ano,
foram exemplificados trabalhos desenvolvidos por artistas utilizando como objetos de
pesquisa materiais depositados em coleções científicas. Em ambos os eventos científicos
foram dados exemplos de projetos desenvolvidos fora do Brasil. Diante do exposto, falar
sobre o grupo de pesquisa ‘arte, ciência e natureza’ sempre me encanta devido a imensidão
de possibilidades de exploração dos materiais depositados em um museu. Para além do olhar
técnico, preciso e minucioso quanto aos detalhes da descrição dos objetos (plantas, animais,
fósseis, etc.) e os consequentes desdobramentos dos resultados encontrados, a pesquisa
artística é um ramo incipiente no Brasil que traz um outro olhar sobre esses materiais. Essa
nova maneira de explorar objetos da natureza guardados e catalogados tem um poder de
sensibilizar e mobilizar a sociedade de uma maneira distinta da das pesquisas normalmente
realizadas nos acervos das coleções científicas. E para mim uma das belezas da ciência é a
reflexão e os seus desdobramentos na sociedade. Tendo isso em mente, falar sobre a
exploração de materiais científicos, como as conchas exemplificadas da Live, me deixa
bastante entusiasmada. Os moluscos são um grupo diverso, belo em sua apresentação –
principalmente aqueles que possuem concha – rico em número de espécies e que vem
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sofrendo devido principalmente à poluição e degradação do meio ambiente. Quanto mais as


pessoas tiverem acesso ao conhecimento desse grupo de animais, e o trabalho de artistas é
um lindo veículo de divulgação, maior consciência terão de sua importância e maior será sua
preservação. Ao falar sobre o grupo tendo outros pesquisadores assistindo à Live espero que
esse tipo de pesquisa e parceria entre biólogos e artistas se torne mais frequente. Gostaria de
assistir em um próximo congresso palestras com exemplos de exposições artísticas feitas por
pesquisadores/artistas brasileiros com base em acervos de coleções científicas nacionais.  
Janine Arruda, 2020

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