Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 ARGUMENTO/STATEMENT CURATORIAL 3
2. DESCRIÇÃO/DETALHAMENTO DO PROJETO 19
2.1 SELEÇÃO DE ARTISTA(S)..............................................................................23
2.2 RELAÇÕES ENTRE AS OBRAS E O ESPAÇO EXPOSITIVO......................54
2.3 AÇÕES EDUCATIVAS......................................................................................61
3. TEXTO CURATORIAL 64
REFERÊNCIAS 68
APÊNDICE A - CRONOGRAMA 70
APÊNDICE B - UM OLHAR SOBRE OS TRABALHOS DE LILIAN MAUS 73
APÊNDICE C - TEXTO QUE REFLETE O MEU TRABALHO DE ARTISTA –
MARCIA ROSA 75
ANEXO A - VANI FOLETTO 76
ANEXO B - DEPOIMENTO DE CLAITON FERREIRA 77
ANEXO C - DEPOIMENTO DE JANINE ARRUDA.........................................79
3
1 ARGUMENTO/STATEMENT CURATORIAL
outros. Para a realização de Conviver não foi preciso ir atrás dos artistas, pois nós já
estávamos juntos, e, na medida que o tempo foi passando, percebeu-se, por exemplo, a
necessidade – mesmo que já o tivéssemos feito – de reiterar esse convite aos biólogos, e então
eles vieram. Muitos outros componentes do grupo foram vindo a partir das nossas conversas,
a partir dos trabalhos que estavam surgindo. Bibiana Hoffmann de Sousa, por exemplo, é uma
design de Florianópolis que faz um trabalho de impressão de plantas em tecido, e que
pesquisa este assunto já há muito tempo; Débora Manzano Molizane é ilustradora botânica,
que já está expondo conosco, e que também está fazendo um pós-doutorado em Têxtil e Moda
na USP Leste, e, por isto, foi muito pertinente colocá-las em contato, pois com isso criou-se,
também, uma intensificação dos interesses pessoais dos participantes.
O que propomos, portanto, é uma construção coletiva, e encontramos aporte em
Dorothee Richter e Barnaby (apud DALCOL, 2018, p. 3254), que, ao discutirem as
metodologias que permitem examinar as possibilidades críticas da curadoria, dizem “da
armadilha que é falar sobre a arte ou curadoria a partir de uma questão individual”, o que
valida o que pretendemos realizar. Cada detalhe da construção do projeto é confrontado com o
grupo de pesquisa, e assim ampliamos um olhar limitado de um curador para uma reflexão
dilatada que confronta os múltiplos saberes. Neste sentido, os artistas vão realizando obras a
partir do que os outros estão fazendo, de escolhas ocorridas pelos colegas, a começar pelo
tema da exposição, pois alguns ainda não trabalhavam com arte e natureza, também pelas
pesquisas junto às coleções e aos biólogos do Jardim Botânico e a partir dos desenhos dos
ilustradores botânicos, pois muitas das obras foram produzidas a partir de seus trabalhos. Este
último, particularmente, foi um dos desafios desta proposta, pois, como artistas, tendemos a
reconhecer e nos sentirmos atraídos pelos gestos artísticos, com atitudes artísticas. Desta
forma, neste projeto, procuramos também entender o ilustrador botânico, reconhecendo o
valor que ele tem, acolhendo-o e buscando compreender o seu olhar, o que, por fim, nos levou
7
a algo muito mais amplo do que a própria arte, que é a natureza, a ecologia e a sua defesa.
Em relação à ilustração, segundo Andrea Araújo (2009) “A Ilustração Científica é um
trabalho que consiste na representação fiel de um material biológico determinado,
respeitando-se todas as medidas, proporções e contraste de cores, mesmo que em preto e
branco.” Com o surgimento de novas técnicas de se registrar imagens, é fácil imaginar que a
ilustração científica seria rapidamente descartada. Porém, isso não aconteceu. Mesmo com a
fotografia, o uso de ilustrações nunca foi deixado de lado pela ciência. As ilustrações em
artigos científicos permitem um maior detalhamento, que, em muitas das vezes, somente a
fotografia não seria capaz. Por mais que nos tempos atuais a fotografia e qualidade de imagem
sejam cada vez mais avançadas, a necessidade de determinados planos e detalhes só são
alcançados por meio de uma ilustração complementar.
Assim, não somente a fotografia, mas novas técnicas de ilustração foram surgindo ao
longo da história, entre elas a aquarela, o nanquim, o Scratch Board, o Estereomicroscópio
com câmera clara e, claro, na era do computador, não poderia faltar a ilustração digital. Para
cada técnica tem-se um uso e uma finalidade, dependendo do que se deseja ilustrar.
Escolhemos, portanto, esses diferentes profissionais com suas obras para serem o foco da
exposição Conviver, pois representam com o seu trabalho o elo existente entre a arte e a
ciência através de seu gesto de desenhar.
Este projeto, por meio de uma Curadoria Compartilhada – entre Janine Oliveira
Arruda, bióloga, e eu, Marcia Rosa, artista visual –, e junto a todo o grupo, buscará colocar
em palavras o que está acontecendo no decorrer desta construção artística, pois é algo que tem
se dado, antes, por uma atitude da psique, no sentido de abertura ao outro, aliado ao
pensamento visual e, portanto, não verbal.
Como grupo de pesquisa arte, ciência e natureza, já havíamos percorrido uma
trajetória teórica e de participação em seminários, que serão apontados aqui, pois são como o
8
alicerce deste Projeto. O artigo Artista enquanto curador: das convergências e dissoluções
entre práticas artísticas e curatoriais (DALCOL, 2019) relaciona-se a este projeto,
primeiramente, porque também adotamos um modo curatorial de prática artística, porém,
mais do que isto, porque como artista-curador, sou mais uma artista do que co-curadora.
Acredito que o que melhor explique esta possibilidade é que, mesmo que o trabalho do artista
como curador seja também curatorial, a sua prática se dá fundamentalmente como uma
operação artística por meio da curadoria, sendo também efeito da experiência de criador que o
artista leva para o processo curatorial de uma exposição.
Francisco Dalcol (2019), autor do artigo mencionado acima, fala que é algo que de
fato não se equivale ao trabalho do curador como artista, ainda que seja válida e operativa a
sua dimensão autoral e criativa. Para ele, o artista-curador, assim como o curador-artista,
desloca a atenção da unicidade do trabalho de arte para a situação de apresentação, muitas
vezes com e através do uso de trabalhos de outros artistas. Neste sentido, de alguma forma
meus colegas artistas complementam o meu trabalho, e isto oferece um aprofundamento e
maturação da minha própria poética enquanto artista. A exemplo disso, recebi durante o
desenvolvimento do projeto a videoarte do artista Antônio Augusto, que foi como um
bálsamo, que me ajudou a ressignificar todo o empenho que nós estávamos tendo. Enquanto
analisava as imagens por ele produzidas, vi a resposta do que seja um trabalho coletivo: cada
um fazendo uma parte que vai somando-se ao todo. Outras reflexões foram se desdobrando
com o vídeo Viveiros, que traz o Jardim Botânico, porém com um olhar de artista, de forma
livre, sensível e crítica. Era como se este vídeo abraçasse e contivesse todos os outros
trabalhos, não somente por conter imagens do Jardim Botânico, mas por transcender a todo e
qualquer projeto que possamos ter proposto. A arte nos faz vivenciar sempre o ir além, o que
não se controla, o que surpreende, o que existe para não ser encaixotado.
9
assunto há vários anos1, como o II Seminário Internacional Arte e Natureza, que ocorreu em
2014.
Hugo Fortes traz o exemplo do trabalho artístico da artista brasileira Mabe Bethônico,
a qual, sobre o aspecto da liberdade poética, me identifico. Segundo Fortes (2009),
1
http://www3.eca.usp.br/category/tags/hugo-fortes.
11
confronto com estes pensamentos diversos que me ajuda a delimitar o meu próprio, que é
fenomenológico, isto é, em fazendo, ir encontrando caminhos de falar sobre a natureza.
Dr. Hugo Fortes, professor da USP, tem sido uma forte referência para o estudo
ciência e arte. Tive a oportunidade de participar de alguns de seus seminários, como o II
Seminário Internacional Arte e Natureza, que conversa com o nosso projeto, e promove
diálogos entre arte e ciência. Para nós, há mais a busca de novas alternativas para trocas
humanas, de saberes, de valorização dos ilustradores botânicos, profissionais que trabalham a
arte junto com a pesquisa científica; para eles, era mais o desenvolvimento sustentável, que é
o objetivo primordial da organização do II Seminário Internacional Arte e Natureza. A
arte, como forma de conhecimento sensível, oferece sua contribuição para a tomada de
consciência das possibilidades e das dificuldades de relacionamento do homem com a
natureza; e para nós, na exposição Conviver, do homem com o próprio homem, para depois,
como consequência, com o meio ambiente.
Diante destas leituras, entre outras, cabe o questionamento: como os artistas
brasileiros, e especificamente os artistas gaúchos, pensam e produzem a partir desta temática?
No texto curatorial falarei, em termos teóricos, de uma das três leituras base, o artigo
de Horst Bredekamp, pois nos traz uma reflexão sobre o desenho, com isto reforço a questão
da ilustração botânica.
Abaixo, fazemos uma breve apresentação dos artistas e biólogos que integram o grupo
e que, portanto, fizeram parte da construção deste projeto:
tenha ganhado juntamente com os artistas este prêmio, neste local expositivo não é usual
haver exposições para artes visuais, portanto, Cultivar não é a primeira, mas não é comum.
Este projeto ambiciona atingir tanto interessados nas artes visuais, quanto interessados
em ciência e botânica. Além disso, pode também ser destinado a ações educativas com
trabalhos junto a escolas, uma vez que as atividades a serem desenvolvidas poderão ampliar
os conhecimentos deste público, não só quanto ao tema da exposição em si, mas também
quanto à criticidade que permeia o projeto, sobre a importância e diversidade deste espaço.
Esta exposição atingirá seus objetivos se de alguma forma conseguir sensibilizar as futuras
gerações, em fazendo alguma atividade no Jardim Botânico, quanto a sua divulgação e
consequente preservação.
Junto à exposição estão previstos cursos de desenho botânico, pintura em aquarela,
tingimento de tecido natural com plantas e Seminário sobre o tema arte, ciência e natureza,
todos em colaboração entre cientistas e artistas.
pessoas – uma bióloga e pesquisadora e uma artista curadora –, e que tem em seu processo de
desenvolvimento o construir junto, com todos, a partir das vivências, encontros, trocas e
diálogos de seus participantes. Por este motivo, a prática tem sido a força propulsora de toda a
nossa realização. Na busca desta integração, criar obras que de alguma forma manifestam
estas trocas já justifica a contribuição desta exposição. Na sequência será apresentado um
breve relatório de processo que que demonstrará como este projeto foi construído
coletivamente, de forma lenta.
Realizamos, ao todo, sete encontros, onde nos reunimos uma vez na semana pela
plataforma Zoom, para que cada um fosse apresentando o que tinha conseguido trabalhar – e,
também, nas buscas pessoais de encontrar formas de tangenciar as pesquisas dos colegas.
Além destes, anteriormente houve encontros on-line, com a periodicidade de 15 dias, durante
os meses de março a julho, com conversas sobre as três bibliografias escolhidas para o
projeto, dúvidas e ideias. E, ainda, desde outubro de 2019, já havíamos iniciado o projeto de
forma presencial, com visitas periódicas individuais ou em grupo ao Jardim Botânico.
A partir do que estamos procurando construir juntos, percebemos um alento ao que
estamos enfrentando neste momento da humanidade. Nos parece que, mais do que nunca, é
palpável que as nossas relações, tanto a nível pessoal quanto mundial, são completamente
interdependentes, ou seja, o que cada um faz, cada escolha, reflete diretamente na vida de
todos. Durante esta pandemia, se permanecermos em casa durante o afastamento social,
cuidaremos não somente do “eu”, mas também estaremos impedindo que este vírus, tão
ameaçador, se alastre ainda mais. Relacionando o exposto com o nosso projeto, podemos
dizer que o ato de fazer simples escolhas de plantas ou conchas do acervo de um Museu de
História Natural e as selecionar junto a outros colegas, conversar e trabalhar sobre uma
mesma espécie de flor, concha ou outra coleção lá existente, é uma maneira de, a partir de um
15
mesmo exemplar, não simplesmente expressar de outras formas a mesma flor, mas também há
questões implícitas de esforços no ir em direção ao outro. A partir destes esforços pessoais,
pois nem todos estão conseguindo, torna-se importante também salientar o surgimento de
obras inéditas; o fator da motivação, que tem ajudado as pessoas a produzirem mais e, ainda,
o sentimento de realização em resposta à proposição da curadoria.
Estes e outros simples gestos que estamos realizando manifestam o nosso profundo
desejo de estar conectados com os interesses de outras pessoas, mesmo que elas não atuem na
mesma área, valorizando, desta forma, as diferentes formas de abordar um mesmo assunto.
Percebemos isso em cada encontro, que como resultado deste convívio faz surgir algo, como
esta própria curadoria. Em cada reunião percebemos o quanto é forte esse relacionamento, o
entusiasmo é visível em todos, e tudo isto é muito bonito.
Muitos trabalhos artísticos foram realizados a partir dos trabalhos dos ilustradores
botânicos. Sabemos que os objetivos entre ilustradores e artistas visuais são diferentes, as
referências de cada campo, e até mesmo por possuírem naturezas distintas. No entanto, é
justamente isso que ressignifica esta proposta, ou seja, é colocar em convívio imagens que
possuem naturezas distintas e perceber o como elas funcionam convivendo juntas.
Exemplifico isso com o trabalho que apresento Erytrina speciosa, feito com pastel
seco, sobre papel Tiziano Preto 160gr 1.50x10m Fabriano. Sua concepção surgiu exatamente
durante uma reunião on-line, na qual estava presente a bióloga Rosana Singer, que pesquisa
plantas. Cecília Tomasi, uma das integrantes do grupo, mostrou a aquarela da Débora
Molizane, ilustradora botânica, chamada Erytrina speciosa e, imediatamente, a Rosana Singer
16
informou que pesquisa esta flor, inclusive comentou que tem esta espécie no Jardim Botânico
de Porto Alegre. A partir disso, foram várias as contribuições que convergiram para o
processo, Janine, por exemplo, que encontrava-se no Jardim, aproveitou mostrá-la, através da
nossa videoconferência, para a Cecilia. Mostrou não somente onde ficava a Eritrina no Jardim
Botânico, mas também as Cisnes Negras e uma das estufas em que Rosana Singer trabalha.
Assim como Erytrina speciosa, muitos outros trabalhos surgiram a partir dessas
relações. Como artista, nunca trabalharia com esta flor, ela é linda, mas não trabalharia com
ela se não fosse aquele momento muito bonito de compartilhamento, onde todos estavam
muito contentes dando sugestões e construindo juntos. Portanto, este trabalho que realizei é
quase como se captasse aquele momento a partir das fotos que Janine aprendeu durante a
nossa reunião. Lembro que, quando mostrei o primeiro desenho colagem que fiz da foto da
flor Eritrina, tive certa vergonha de mostrar para as ilustradoras, porque os trabalhos das
ilustrações que fazem são tão lindos, precisos e perfeitos. A única coisa que eu pensava era se
iriam gostar, ou se talvez ficariam chateadas pela forma como eu faço esta flor. E, com isto,
também me dava conta do como o diálogo não é tão fácil assim, isto porque carrega em si a
carga que temos, nossas concepções e o medo de não sermos aceitos com as nossas
diferenças. Entendi então que não é só perder o nosso jeito para colher o do outro, mas,
sobretudo, aceitar que cada um é o que é.
17
campanha com a pergunta: O que é o Jardim Botânico para a você? O que podemos fazer para
preservá-lo?
20
2. DESCRIÇÃO/DETALHAMENTO DO PROJETO
A exposição é temporária e coletiva. Ela tem um interesse na relação das obras entre si
e com o lugar. Os trabalhos, em sua maioria, foram produzidos a partir do que é visto naquele
lugar, no Jardim Botânico, ou em meio à natureza, porque o Jardim Botânico também é um
espaço de conservação do ambiente, de ambientes naturais, então Conviver é totalmente isso.
As obras procuram dialogar entre si e com a Instituição, enquanto Lugar. A pesquisa
do Grupo Arte, Ciência e Natureza a coloca ainda mais em relevo e a mostra de outra forma,
sobre outro olhar, o dos artistas, como uma ajuda à Instituição que nos acolhe, reforçando, nas
pesquisas ali realizadas, a importância dessas coleções existentes no Jardim Botânico.
Beatrice Von Bismarck é uma pesquisadora alemã, trazida por Francisco Dalcol
(2019), que fala da prática curatorial que tem como procedimento característico o criar
conexões. Como curadora, crio conexões entre os artistas, e eles também são chamados a
fazê-lo, escolhendo seus pares e produzindo de forma dialógica. A professora Ana Carvalho,
do Instituto de Artes da UFRGS de disciplinas de Teoria e Crítica, fala que o momento da
montagem da exposição é crucial e decisiva, no entanto, no nosso caso, o que está sendo
decisivo é a construção prática como um todo, mais do que será apresentado no final.
De fato, teremos que esperar para ver como será essa montagem, mas é
21
impressionante, porque, talvez pelo tempo que estamos dedicando na construção do Cultivar,
posso afirmar nunca ter vivenciado uma experiência expositiva semelhante, e também porque
o mote do nosso Grupo Arte, Ciência e Natureza é este, é ir de exposição em exposição – é
um “até aqui”, e “vamos ir para lá”, “vamos dar uma avançada, talvez retomar”. Cada
exposição é uma pausa para reflexão, como uma retomada de forças. Entendemos a exposição
não somente como um lugar de conhecimento e experiência com a arte, mas também como
um campo de investigação.
e por isso uma sensível pesquisa em detrimento da própria exposição, no momento é o centro
do projeto. Lógico que estão os trabalhos estão sendo produzidos, porém, as conversas
permeiam tudo. A realidade da pandemia colabora, no momento, com esta nossa atitude, uma
vez que não tem como montar a exposição no Museu de Ciências Naturais, portanto, há uma
concentração maior, aproveitando mais o tempo para aprofundar o nosso próprio conceito de
arte, ciência e natureza.
Conviver está buscando não somente conceitos já existentes, mas formas de pensar a
partir da prática. Para tanto, Conviver foi projetado para oferecer cursos durante a exposição,
pois terá uma ação educativa durante a mostra, mas, além disso, com o intuito de que os
próprios artistas participassem junto, justamente para dialogar e trocar, para que trocassem
informações do estudo sobre pesquisas, para propiciar contatos que servissem para enriquecer
as próprias pesquisas dos artistas, não tanto em relação à exposição em si. A exposição do
projeto curatorial é uma fatia, é um pedaço daquilo tudo que está acontecendo e que faz parte
de um contínuo, é uma exposição que veio de mostras já realizadas e que vai ir para outras a
serem construídas, é realmente um work in progress.
Uma das participantes do nosso grupo arte, ciência e natureza, Marcia Sousa,
professora da UFPEL2, participou de um Seminário Internacional, e foi a partir de seus relatos
que o grupo iniciou oficialmente os encontros, assim como um novo momento de pesquisa,
como o Seminário HerbArt, em Barcelona, com artistas e biólogos em um Jardim Botânico.
2
Após, a professora Marcia Sousa realizou um Seminário de Pesquisa e o II Encontro Arte e Natureza, que ocorreu durante
vários dias e consistia em assuntos e títulos diferentes, como:
Dia 06 de novembro: Projeção de i
magens Trajetória do Grupo Arte Natureza
Dia 07 de novembro: Cirandas de Pesquisas
Dia 08 de novembro: Roda de conversa e apresentação de trabalhos
Antônio Augusto Bueno, Márcia Rosa e Mario Schuster
Dia 09 de novembro: Saída de Campo ao Taim
23
Assim, como grupo, iniciamos traçando desafios, com o objetivo de trilharmos juntos,
sem ter um fim, tendo neste gesto as relações humanas no centro, como define muito bem o
título escolhido para esta exposição: Conviver. O que buscamos é, através da vivência em
comum, tendo como base a busca da harmonia, o convívio, ligames que possibilitem uma
confraternização, o aprofundamento das nossas pesquisas científicas artísticas. O resultado da
pesquisa da comunhão entre artistas ilustradores botânicos, artistas visuais e biólogos se dará
a partir da prática e do que for possível trocar até o momento da exposição.
Com o passar dos meses desta construção, fomos traçando novas metas, sendo que a
exposição presencial, acreditamos, poderá acontecer a partir de março de 2021. A ideia de
fazer uma exposição no Jardim Botânico se solidificou a partir do convite feito por Daniel
Brambilla, chefe da Divisão de Pesquisa e Manutenção de Coleções do Jardim Botânico de
Porto Alegre.
Umas das convidadas, e muito importante para o desenvolvimento deste projeto, é
Cecília Tomasini, que foi ilustradora botânica no Jardim Botânico de São Paulo, que tem
participando das reuniões semanais do grupo, para o qual convidou outros dois atuantes
ilustradores. Com esta parceria estamos conseguindo articular ações também com o Jardim
Botânico de São Paulo, e fortalecemos com isto o grupo, tendo uma ramificação em outro
24
estado, o que é muito estimulante para os artistas. Segundo Janine Arruda, tanto os congressos
recentes de que participou, como o ocorrido em março, nas Águas de Lindóia, São Paulo,
quanto os que assistiu online, falavam da importância desta interação arte-ciência –, isto
porque vários Museus de Ciências Naturais do mundo enfrentam problemas parecidos como
os que temos aqui no Brasil, de falta de dinheiro e com uma manutenção precária.
Temos experiência, a nível de Brasil, catastróficas, como a que ocorreu no Museu de História
Natural da UFMG, em Belo Horizonte, que pegou fogo há uns meses, e ainda não foi possível
fazer um inventário da destruição. Tivemos também o caso recente do incêndio no Rio de
Janeiro, que destruiu o seu Museu Nacional, em setembro de 2018.
Artistas e biólogos de fora do Brasil já estão trabalhando neste viés ciência e arte, pois
é uma riqueza a ser explorada. Há a necessidade de dar um novo direcionamento para as
pessoas, envolver tanto mais artistas quanto os próprios funcionários do Jardim Botânico, no
intuito de trabalharmos juntos a esta instituição de pesquisa, trazendo, assim, a colaboração e
ajuda do público em geral. No dia 30 de julho, Janine participou de uma Live com
pesquisadores de Malacologia do Brasil, Argentina e Uruguai. Janine Arruda, com um lindo
entusiasmo, contou como estamos construindo nosso projeto, e vários biólogos declararam
terem sido estimulados e encorajados a iniciar experiências semelhantes junto à arte e artistas.
Sobre as reuniões, como mencionamos anteriormente, pensamos ser importante uma
periodicidade. Além disso, concordamos em convidar, para cada um dos encontros, outros
biólogos e biólogas do Jardim Botânico para acompanharem o que estamos construindo, e foi
assim que se juntou a nós a bióloga Rosana Singer, que nos falou sobre a pesquisa que
desenvolve em conjunto com o seu esposo, que também trabalha na Instituição. Estamos
ampliando o nosso fazer artístico com as pesquisas realizadas e apoiados pela instituição.
Assim, a cada encontro semanal os participantes falam do seu trabalho. Na reunião do
dia 23 de julho, depois que dois artistas apresentaram suas lindas pesquisas, impressionou-me
25
a reação de Cecília Tomasi, que disse: “nossa, eu não tinha ideia de como vocês construíam
os trabalhos, de onde partem e para onde vocês vão com suas produções”. Ela referia-se a
todo o processo do artista, ou seja, como ele chega nos resultados experimentando outras
coisas – escolhendo outros materiais, fazendo experimentos, o que a surpreendeu muito. E
com a fala da Cecília, livre e de coração aberto, eu vejo também a importância do ilustrador
botânico, porque é ele que constantemente está ao lado dos cientistas pesquisadores falando
sobre importância das artes. Através do trabalho deles, da própria profissão, estão dizendo: “a
arte é importante, porque se não fosse a ilustração, a tua pesquisa não ficaria completa”. É
importante observar que não se trata de uma fala pretensiosa, não é um “jogo de braço” para
ver quem é quem, mas, sim, de demonstrar a importância deles. Não existe uma hierarquia,
mas o trabalho do ilustrador botânico tem uma importância artística muito grande e
necessária.
Bacharelado em Desenho (2004) e Escultura (2008) pelo Instituto de Artes da UFRGS. Desde
1996 vem mostrando o seu trabalho em diferentes localidades do Brasil e Exterior. Entre as
obras individuais, destacam-se: “Antes era só o vão”, na Galeria Mamute; “Um outro
outono”, no MARGS; “Música de passarinho”, no MAC RS; “Cabeças – armadilhas para um
significado”, no Museu do Trabalho; “Gravetos Armados em processo na Pinacoteca”, na
Pinacoteca Ruben Berta; “Dez anos no Jabutipê”, no Jabutipê.
26
Xilogravura
37cm X 24cm
2020
Fonte: Clara Koppe
Claiton Ferreira - Santa Maria, 1968
Claiton Ferreira é um cientista-artista que trabalha com fotografia. Durante a pesquisa para a
produção da exposição Conviver, procurou buscar um diálogo maior, tanto entre os diferentes
“entes” das coleções científicas do Jardim Botânico, quanto entre os diferentes atores
envolvidos na construção coletiva. Dialogou com pesquisadores da área de botânica, como a
bióloga Rosana Singer, o eng. Florestal, Leandro Dal Ri, e com a pesquisadora do Museu de
Ciências Naturais, bióloga Janine Arruda. Durante as reuniões semanais também construiu
diálogo com os outros artistas, especialmente os ilustradores botânicos de São Paulo. A partir
dessas conexões, o trabalho foi sendo construído e tomando uma direção própria. Dessa vez,
além de algumas fotos de uma coleção, também voltou sua atenção para as coleções ao ar
livre do Jardim Botânico, tentando construir esse diálogo entre coleções e pessoas. Para essa
exposição participa com nove obras, nove fotografias.
2020
Fonte: Claiton Ferreira
Ilustradora Botânica, teve seu primeiro contato com a profissão quando foi trabalhar no
Instituto de Botânica, Jardim Botânico de São Paulo. Obteve treinamento e desenvolveu
ilustrações para todas as áreas de pesquisa naquele Instituto, tendo seus trabalhos publicados
como parte de artigos científicos, publicados em revistas especializadas. Também foi curadora
do acervo de ilustrações, desenhos e pinturas daquele Instituto (1981-2012).
37
Em 1993, ganhou uma bolsa de estudos pela Fundação Botânica Margaret Mee para
aperfeiçoamento em aquarela botânica, com a professora Christabel King, no Real Jardim
Botânico em Kew, Londres (1993).
Ilustrou livros e revistas de jardinagem e culinária, entre outras.
Participou de diversas exposições no Brasil e no exterior. Recebeu o Certificado do Mérito
Botânico pela Sociedade dos Artistas Botânico inglesa (1994), Honra ao mérito pela
Sociedade Brasileira de Bromélias (1995) e melhor ilustração para livros de culinária pela
Gourmand Wold Cookbook Awards (2004 e 2007).
Atualmente oferece cursos de ilustração botânica em aquarela em seu ateliê, no Jardim
Botânico e na Escola de Botânica, em São Paulo.
www.ceciliatomasi.com.br
Instagram – artebotanica.ceciliatomasi
2016
Fonte: Cecília Tomasi
Figura 21: Cecília Tomasi - 6º passo – pintura finalizada após várias camadas de tinta
Bauru,SP, 1954
Seemannia sylvatica (Gesneriaceae)
Aquarela sobre papel Arches
36 x 26cm
2020
Fonte: Cecília Tomasi
Debora Manzano Molizane - São Paulo, 1976
Pricila Greyse dos Santos Julio, Sandra Maria Carmello-Guerreiro e Claudio José Barbedo.
Publicado em Journal of Seed Science, v.40, n.3, p.331-341, 2018.
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004),
mestrado (2007) e doutorado (2011) em Zoologia pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (2011). Tornou-se mãe de um lindo menino em 2014, e atualmente é
pesquisadora do setor de Malacologia do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual
do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (2020).
Ilustra o trabalho “Fern and lycophyte flora of Acre state, Brazil”, de autoria de
Jefferson Prado, Regina Yoshie Hirai e Robbin Craig Moran. Publicado em Biota Neotropica,
vol.17, n. 4, Campinas, 2017, Epub Nov 17, 2017.
45
Artista visual, gravadora, graduada e pós-graduada em poéticas Visuais, com ênfase em:
Gravura, fotografia e imagem digital artística, com habilitação em Artes Plásticas, pela
Universidade FEEVALE (Novo Hamburgo/RS). Frequentou o curso de calcogravura do
Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre (1990-1996), participou do grupo de gravura
GRAVA-AÇÕES. possui exposições sistemáticas no brasil e exterior. No COLETIVO
STUDIO JARDIM, desenvolve sua pesquisa em gravura e arte impressa. Em suas temáticas
encontram-se o cotidiano, o feminino, as notícias e os conflitos, elevados a um discurso
poético de impacto. Cenas observadas no percurso de seu deslocamento físico se reportam
47
Faço parte do grupo “Arte, Ciência e natureza” no qual tenho a oportunidade de contribuir
para a conscientização sobre a necessidade de conservação e manutenção de reservas,
espaços naturais e museus que priorizam o registro de espécies em harmonia com o meio
ambiente. É nesta luta que artistas, cientistas e biólogos, dialogam e se conectam para
fortalecer existência e permanência desses espaços.
O meu diálogo se desenvolve com a bióloga, especialista em malacologia e curadora da
coleção Conchas, no Museu de ciências naturais do Jardim Botânico de Porto Alegre/ RS,
Janine Oliveira Arruda. No primeiro contato, Janine foi gentilmente abrindo as portas e
gavetas das coleções de conchas e foi como um mergulho em emoções, uma vontade de
trabalhar com todas, mas escolhi apenas algumas.
Ao trabalhar com a concha me questionei o significado e o sentido de estar explorando
visualmente os traços deste elemento, fui encontrando palavras que faziam perceber um
mundo imaginativo até chegar a um mundo concreto de vivencias longas e diárias com a
concha, a gravura em metal.
Concha, casa, corpo e pó, palavras que quando associadas à concha fazem todo o sentido.
Casa é o que faço com a gravura em metal, quando gravo abro casas para depositar ali um
corpo mole, flexível, amassado e sovado com o carbonato de cálcio, para dar estrutura e
consistência adequada a impressão, a tinta se torna corpo a matriz se torna concha. A
concha percorre a lida da gravura no seu manuseio diário e como pó limpa e desengordura a
matriz e como pó abre a palmo os brancos para a impressão. Não sei se o pó veio primeiro e
a concha depois, mas sei que o oceano tem uma relação de vida e morte com a concha,
quando o ser que nela habita á abandona para perecer no mar, a concha protetora (a casa)
48
aos poucos vai se degradando e alimentando o oceano para que outras conchas se formem a
partir do carbonato de cálcio, liberando da sua estrutura. A concha alimenta o oceano, mas o
oceano devolve a vida para a concha e nesse ciclo infinito de nascer e morrer, crio uma
leitura visual sobre as conchas fortalecendo ainda mais a evidência na relação com a
gravura em metal e a partir do carbonato de cálcio (concha em pó) devolvo sua estrutura de
concha em forma de gravura objeto.
Com desenrolar desde projeto desenvolvi uma relação pessoal com a concha, elemento cheio
de poesia e encantamento, mas também uma estrutura formal, precisa e matemática. Posso
sonhar, dançar com a concha, me deixando envolver por sua beleza, mas posso também
calcular milimetricamente sua estrutura matemática e precisa em suas proporções.
Quero ser concha! Sei que quando o habitante flexível de corpo mole abandonar a casa e
perecer teremos a mesma consistência o que a concha é por fora eu sou por dentro e no final
seremos pó.
Não leve a concha para a casa, a não ser que sua casa seja o oceano.
Lilian Goldani
49
Pedagoga Pós-graduada pela FEEVALE - Gravura, fotografia e arte digital. Em sua poética
percebemos duas palavras: matéria e tempo, este usado de forma extenuante. As matérias por
ela escolhida podem ser pó, cimento, e nestes trabalhos temos cordões e cola. Seu fazer é
intenso e pode ser traduzido em um sensível esforço físico. Suas obras, em geral, são gestos
tão fortes e fatigantes que foi necessário que eu buscasse apoios teóricos – como o livro “o
Artífice”, de Richard Sennett –, mas, sobretudo, preferi me deixar conduzir serenamente
pelas suas obras, observar o virtuosismo de suas edificações, o quão prazeroso é percorrer os
detalhes das obras que, em muitos casos, são dípticos, isto é, necessitam de
complementariedade, uma espécie de espelho, vendo um desdobramento do um, no gesto que
sugere “estar em relação”, sinônimo de afeto, partilha, comunhão com o outro ou, ainda,
muitos outros.
Artista Visual, Artista do Navi - Núcleo de Artes Visuais (1993-2016). Participa das
Conversas Ilustradas – com Jailton Moreira NAVI. Participou do Projeto de xilogravura com
orientação de Mara De Carli Santos, no ano de 2008. Foi orientanda de Jailton Moreira (1995
a 2016). Participou do Curso de xilogravura com a artista plástica Anico Herskov. As tramas,
os bordados, as sombras, a claridade e a escuridão ilustram imagens que compõem os
56
fotogramas e a gravura em metal. São criações que resultam de uma composição apurada e
precisa de um olhar sobre o aquário e o jardim da casa da artista. Esse deslumbrar cotidiano
permitiu-a fazer estas composições em menção ao Jardim Botânico de Porto Alegre, que é de
suma importância para a Vida.
de seus usos para a arte. Além de proporcionar leveza e variadas formas de exposição que vão
além de “um quadro pendurado na parede”, as obras podem alcançar o espaço, ficando soltas,
proporcionando transparência e movimento, pois balançam e mudam de posição. Há a
percepção de um mundo em mutação, no qual as coisas que vemos e vivemos se transformam
rapidamente, e estas são questões presentes na sua obra. Nosso olhar capta cada momento ou
imagem em forma de fragmentos, os quais temos que processar com nosso intelecto e
sensibilidade para poder entender e viver com harmonia no mundo em que vivemos. Cada
planta aparece desenhada em várias posições, em desenhos aquarelados e sintetizados,
realizados em pequenos pedaços de tecido de algodão que, posteriormente, são costurados
sobre um outro tecido (transparente) formando uma unidade. As cores foram escolhidas tendo
por base a cor da planta natural, mas há nuances e variações em cada um dos desenhos, além
de um fundo aquarelado.
Para concluir a obra, buscando ligar com o tema proposto para a exposição que diz respeito à
ciência, o processo incluiu a escrita de verbos como pesquisar, observar, medir, etc., feita em
pequenas tiras de E.V.A que foram costuradas e referem-se ao olhar tanto do artista como do
cientista para cada planta, que, nessas obras, estão representando a natureza. Além disso, foi
incluído um pêndulo em papel com costuras e tecido, tendo a foto da planta impressa em preto
e branco colada amarrada em uma linha que vai do alto até a parte mais baixa, e que pode
balançar. Esse pêndulo foi colocado como forma de enfatizar a importância da preservação da
natureza em geral, assim como da planta representada. Está na mão do homem essa tarefa, e o
pêndulo enfoca que há tempo para isso, mas que tem que ser feito.
61
com mestrado e doutorado em trabalhos com cactos e orquídeas. Além dos trabalhos de
curadoria, editoração e orientações de alunos, também atua em projetos de pesquisa, conforme
a demanda da SEMA, e de grupos de pesquisa nas áreas de taxonomia e Ecologia Vegetal.
Como resultado das pesquisas, publica artigos científicos e livros, sendo o “Guia de cactos do
RS” uma grande contribuição para a flora do Estado.
Esta imagem mostra o fundo da exposição, que possui uma parede convexa. Nela está
o trabalho de Lilian Maus, chamado Micronacionalismo das conchas, 2020, que é uma
Pintura acrílica sobre lascas de parede, medindo 300x50cm. Junto a este trabalho, abaixo,
podemos ver três mãos. São fotografias digitais, medindo 60x80cm, de título O Homem e a
Concha I, 2020. Estas fotos serão colocadas sobre três prateleiras, a vinte centímetros do
chão. O conjunto da obra de Lilian Maus, como as de outros artistas da exposição, formam
pequenas instalações que se harmonizam no espaço. Isto é motivado pois os artistas propõem
várias obras a serem colocadas juntas, como fotografias, caixas e pinturas e, todo este
conjunto, embora obras separadas, formam uma instalação de cada artista.
Neste recando da mostra, encontram-se os trabalhos de Lilian Goldani. Procurou-se
organizar o espaço por assunto, aqui, no caso, são as conchas. Perto também se encontram os
trabalhos da pesquisa científica, que motivou os trabalhos com as conchas, os da pesquisadora
de malacologia Janine Arruda.
68
Esta parede é a da esquerda da sala. Nela, está o trabalho de Claiton Ferreira, primeiro
trabalho de foto de formato redondo. Chama-se “Diálogo espaço-temporal I”; fotografia
impressa sobre papel algodão, medido, cada conjunto de três, 30cm X 90cm. São foto feitas a
partir de diálogos com a pesquisadora Rosana Singer, do Jardim Botânico, que estuda Cactus.
Além deste, outro diálogo que surge é Débora Molizane, que estuda e ilustrou as Erytrinas;
entre outros diálogos, como pesquisadores e ilustradores botânicos.
69
Atrás do trabalho de Lilian Maus, encontra-se uma pequena sala (depósito) que mede
5,90X 160cm. O projetor deste vídeo terá que ser especial, pois não tem distanciamento
suficiente da parede para fazer uma projeção em tamanho ampliado. Nesta salinha/depósito
será projetado o vídeo Viveiros, de Antônio Bueno.
Rogério Livi; já, a sua frente, estão distribuídos os tecidos pintados, colados e costurados da
artista Vani Foletto. A ideia é que as pessoas possam passar por entre seus trabalhos e sentir
os vários aromas de plantas perfumadas que costurou junto aos desenhos. Para quem visita a
exposição, esta parece representar o próprio Jardim Botânico, com variedade de texturas e de
imagens, ou seja, a representação das múltiplas paisagens.
Fi
gura 52: Sala Preta - Museu de Ciências Naturais
Fonte: Natalia Sartori
como a pequena azul da foto, para azulejos e canecas. Já, a grande Erytrina, à direita da foto, é
um desenho já expandido da Débora Molizane. Uma das possibilidades da montagem é fazer
um plotter transparente desta sua imagem, que contém a metade da flor, adesivar e, sobre as
pétalas desta metade de Erytrina, colocar os pratos pintados que ela tem produzido.
Iluminação: dispositivos como spots foram direcionados sobre as obras, de forma a iluminar,
destacando-as uma a uma – forma de valorizar cada artista e suas obras, uma vez que a sala é
completamente negra, só o chão possui um piso claro.
Etiquetas: Nas fichas técnicas dos trabalhos dos ilustradores botânicos é comum colocar
além de quem a executou, mas ainda os nomes dos pesquisadores estudiosos da planta
representada, além dos dados da revista onde foi publicado., etc. Como estas fichas técnicas,
as etiquetas dos trabalhos de Conviver terão não somente os dados da obra ou do artista, mas
trarão outras informações como do ilustrador botânico, ou biólogo que o artista tenha feita
referência , apropriação ou outro tipo de diálogo, ou outro dado que de alguma forma
contribui para a execução do trabalho exposto. Estes dados estarão em um QR code e,
também impresso em um bloco tamanho A5, sendo possível destacá-lo para levar para casa.
Abaixo um exemplo de uma ilustração do Klei Sousa com os dados correspondentes.
72
Klei Sousa
Mauá, SP, 1979
Pteridofitas - A–D. Alsophila cuspidata (Daly et al. 7427, NY. E, F. Cyathea microdonta (Prado et al. 1190,
SP). G, H. Cyathea pilosissima (Prado et al. 1231, SP). I–K. Cyathea pungens (Daly et al. 11175, NY).
Tinta nanquim sobre papel
30x21 cm
2017
Ilustra o trabalho “Fern and lycophyte flora of Acre state, Brazil”, de autoria de
Jefferson Prado, Regina Yoshie Hirai e Robbin Craig Moran
Publicado em Biota Neotropica, vol.17 n 4, Campinas 2017 Epub Nov 17, 2017
Site da Exposição: um dos objetivos do site é levar, de uma forma digital, a exposição até as
pessoas, buscando gerar uma sensação semelhante com a que sentiriam se estivessem
visualizando a exposição fisicamente. Fizemos esta simulação criando umas páginas com as
cores, mais próximas da exposição, e as informações e as páginas de cada Ilustrador Botânico,
Artistas ou Biólogos, com informações sobre cada um, com os seus textos, com um ou mais
vídeos de apresentação dos participantes falando tanto de sua obra, quanto de si mesmo.
Neste contexto, um espaço bem importante foi o das fotos da galeria de imagens da
exposição, que permite que o visitante abra uma imagem maior, mas não somente isso, ao
73
clicar na imagem ele também terá acesso a todas as informações dela, como nome, dimensões,
técnicas com as quais foi realizada, entre outros dados relevantes.
O site é feito numa plataforma que permite a atualização de forma facilitada pela
equipe responsável. Ou seja, quando tiver alguma alteração que deva ser feita ou alguma
noticia ou informação a ser modificada, pode ser feita por qualquer pessoa da equipe, basta
que tenha o login e a senha para realizar estas alterações. Além disso, embora o WordPress
seja a plataforma mais usada e mais conhecida do mundo, entendemos ser importante alguns
complementos. Assim, adicionamos ao site alguns plugins extras para poder dar mais
interação às galerias de imagens das Exposições, como ampliar as imagens, melhorando a
experiência de quem o visita.
Realização:
a) Exercícios básicos de utilização das tintas e técnica de pintura;
b) Demonstração e prática de desenho de observação à lápis para posterior pintura;
74
1º dia – Sábado
a) Breve histórico e introdução teórica a cianotipia;
b) Projeção de imagens (cianótipos);
c) Preparação das soluções fotossensíveis;
d) Geração e impressão de negativos digitais;
e) Emulsionamento e secagem dos papéis.
4. Painel Coletivo
Título: Arte e Natureza: minha vivência no Jardim Botânico
Realização: Na entrada do Museu de Ciências Naturais colocar um painel de 5X3m, onde o
visitante poderá se manifestar livremente sobre as suas experiências no Jardim Botânico.
3. TEXTO CURATORIAL
Este Texto Curatorial será apresentado no site que estamos construindo e, após, na
parede da Exposição que ocorrerá no Jardim Botânico de Porto Alegre.
Experimento
Conviver é uma exposição que acontece em um local incomum dentro de um circuito
convencional de arte: um museu de ciências naturais. No entanto, o grupo Arte, Ciência e
Natureza, formado essencialmente por artistas visuais, o escolheu baseado nos estudos do que
ocorreu no nosso país vizinho Uruguai. Em 2012, uma exposição chamada Futuro natural foi
realizada por 17 artistas visuais, consistindo em ingressar no Museu Nacional de História
Natural em Montevidéu com o propósito de difundir os acervos da instituição. Outros artistas
realizaram a mesma prática em jardins botânicos da Europa ou em museus de História
77
Natural.
Atualmente, os objetos de estudo do grupo são em boa parte exemplares das coleções
científicas do Museu de Ciências Naturais e do Jardim Botânico de Porto Alegre, cujo
responsável, Daniel Brambilla, disponibilizou para o desenvolvimento desse projeto.
Em que consiste este Conviver, para além das propostas que vemos acontecer ao redor
do mundo?
Em nossos encontros com o nosso grupo de artistas, falamos da situação complexa e
difícil pela qual o meio ambiente e as instituições a ele ligadas estão enfrentando. A partir
destas inquietações teve início a conversa com a bióloga do Museu de Ciências Naturais
Janine Oliveira Arruda, cocuradora desta mostra, que viabilizou o início e o desenvolvimento
de Conviver.
Assim, iniciamos as visitas às coleções tanto do Museu de Ciências Naturais como do
Jardim Botânico. Os trabalhos artísticos partiram de um imenso banco de imagens: vídeos e
fotografias, além de troca de informações com os servidores na instituição, onde pode-se
vislumbrar o amor existente na voz e no olhar de cada um. Realizamos reuniões e encontros
presenciais até o início da pandemia (Covid-19), que, ao contrário do que se esperava, acabou
por fortalecer o grupo e o desenvolvimento do projeto. Não pudemos mais realizar os
encontros presenciais, o que não diminuiu o engajamento e o contato dos participantes, pois
passamos a realizar reuniões periódicas online. Aos poucos, o projeto Conviver foi ganhando
forma, foram unindo-se a nós outros artistas, biólogos e ilustradores, criando, assim, um
diálogo entre diferentes áreas e a partir de diversos olhares. Juntou-se a nós, por exemplo,
Cecília Tomasi, ilustradora botânica que atuou por mais de 30 anos no Jardim Botânico de
São Paulo e que aceitou dividir a sua experiência com o grupo; ela trouxe para o grupo dois
de seus alunos: Debora Molizane e Klei Sousa, ambos ilustradores botânicos.
Escolhemos os ilustradores botânicos com suas obras para serem o foco da exposição
78
Conviver, pois representam com o seu trabalho o elo existente entre a arte e a ciência através
de seu gesto de desenhar.
Nesta exposição poderemos apreciar trabalhos de 15 profissionais: três ilustradores botânicos,
três biólogos (só um biólogo expõe seus desenhos e fotos, os outros fizeram parcerias com os
artistas) e 11artistas visuais. Veremos na mostra desenhos, fotos, instalações, micropaisagens,
aquarelas, vídeos, xilogravuras e gravuras em metal. O assunto geral é a natureza, mas
olhamos, em especial para os vegetais e conchas.
Em Conviver, alguns dos trabalhos propostos para a exposição são resultados de algo que
simplesmente acontece, sendo essa uma contribuição da leveza da arte, como os diálogos
entre biólogos, artistas plásticos e artistas ilustradores botânicos. A exemplo de Antônio
Bueno, artista visual, que apresenta, além da videoarte Viveiro, desenhos realizados em
pequenos cadernos de folhas laranjas, com registros das paisagens do espaço externo do
Jardim Botânico. Eu, com pastel seco sobre papel preto, retrato a experiência construída em
conjunto durante uma live, com a presença de Rosana Singer e Janine Arruda, biólogas,
Cecília Tomasi e, ainda, a artista visual Lilian Goldani. Vani Foletto, com um desenho livre e
grande destreza, desenha plantas em várias posições, em desenhos aquarelados e sintetizados,
feitos em pequenos pedaços de tecido de algodão que, posteriormente, costura sobre outro
tecido (transparente), formando uma unidade. Rogério Livi apresenta um desenho expandido,
realizado através de fotos de espinhos que sugerem desenhos no espaço com as suas espirais,
o qual chamou de Poema Zen 1 e 2, entre outros. Lilian Maus usa a mão em suas fotos para
entender a escala dos objetos desenhados como as conchas. Sua pesquisa começou com algo
intuitivo, como o desenho em aquarela da maior concha do acervo. A princípio, nestes
desenhos, a artista enxerga uma espécie de revoada de pássaros e lhe dá o nome de Revoada
de madrepérolas. Um segundo desenho, ela intitulou como A concha da vida emana líquida,
inscrevendo isso no passepartout da obra com letra-sete, baseando-se no livro de Paul Valéry.
79
Para esta mostra, propomos, enquanto grupo de pesquisa, três leituras base, sendo uma
delas o artigo de Horst Bredekamp, pois nos traz uma reflexão sobre o desenho. Seu trabalho
apresenta, a partir de cinco exemplos, o sentido específico do desenho à mão, ressaltando a
importância do mesmo para se perceber verdades científicas. Segundo o autor, Galileu fez
desenhos da lua, intensificando a projeção da sombra, a altura e a profundidade das formações
na sua superfície que foram acentuadas em uma plasticidade virtuosa, construída
exclusivamente por meio de efeitos de luz e sombra. Galileu e os astrônomos da época se
valeram desses desenhos que provocaram a ruína da imagem platônica do cosmos e de suas
estrelas perfeitamente esféricas. Darwin, 150 anos mais tarde, confiou de modo semelhante no
desenho como um meio ao pensamento (BREDEKAMP, 2004).
Assim, na medida em que mostram a evolução da natureza, não como um sistema de
ramificações ordenadas, mas sim como uma proliferação caótica, os desenhos revelam mais
uma vez o modelo mais complexo. Independentemente do talento artístico, o desenho
encarna, como primeiro vestígio do corpo sobre o papel, o pensamento em sua mais elevada
imediaticidade possível. Em geral, a visualização digital é contraposta ao movimento pensante
da mão que desenha. Este desenho possui uma intransferível complexidade e dinâmica dessa
forma de expressão. A história das mãos pensantes que desenham, também e particularmente
a dos cientistas, ainda não chegou ao fim.
Concluindo, esperamos que Conviver seja uma tentativa de, a partir das relações, unir
arte e ciência. A exemplo, citamos o próprio profissional ilustrador botânico, que usa a arte
para os propósitos da ciência, e cuja obra/imagem científica embasada tem como objetivo
preservar a natureza e comunicar a ciência a um público que não é especializado. A arte em
Conviver, olhando para este profissional, deseja ser um vínculo de união, de troca, mas não
ela sozinha, e sim a partir dos ilustradores botânicos e dos pesquisadores biólogos, por meio
de uma proposta de convivência e diálogo que gerem transformações.
80
Com esta atitude, a arte mais uma vez rompe paradigmas e reforça que o trabalhar
junto em prol de alguma causa, de um serviço a uma instituição, resulta na percepção do
potencial humano de um e de outro profissional, que procuramos retratar aqui, como fruto da
união entre arte e ciência, nutrida por amor à natureza, por amor ao Jardim Botânico e Museu
de Ciências Naturais. Conviver se apresenta como uma poética possível.
81
REFERÊNCIAS
BREDEKAMP, Horst. Mãos pensantes – considerações sobre a arte da imagem nas ciências
naturais. In: ALLOA, Emmanuel (Org.). Pensar a imagem. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
CHIPP, Herschel. B. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ELKINS, James. História da arte e imagens que não são arte. In: Revista Porto Arte, Porto
Alegre, v. 18, n. 30, maio, 2011.
OLIVEIRA, R. L. de; CONDURU, R. Nas frestas entre a ciência e a arte: uma série de
ilustrações de barbeiros do Instituto Oswaldo Cruz. In: História, Ciência, Saúde,
Manguinhos, v. 11, n. 2:335-84, maio-ago, 2014.
Bibliografia Botânica
82
APÊNDICE A – CRONOGRAMA
Abaixo, segue o registro das reuniões finais até a entrega do TCC, realizadas via Zoom. As
reuniões anteriores eram realizadas de 15 em 15 dias, ou até com intervalos maiores. Torna-
se, antes, importante dizer que o valor disso está na experiência obtida e que a reverberação
destes encontros já está presente no nosso trabalho, porém, este registro é uma simulação para
quem não teve a oportunidade de participar.
Participantes: Marcia Rosa, Claiton Ferreira, Vani Foletto, Rogério Livi, Silvia Livi, Lilian
Goldani, Janine Oliveira Arruda, Cecília Tomasi.
Pauta: Apresentação das pesquisas de Marcia Rosa e Clara Koppe, e apresentação do
conteúdo que estava sendo desenvolvido até o momento do TCC de práticas curatoriais da
UFRGS. Considerações pessoais dos participantes. Organização de troca de informações entre
os biólogos e artistas.
A artista Lilian Maus pinta uma concha em aquarela, e realiza uma outra pintura, com
as mesmas cores e detalhes, e dá a este trabalho um título muito poético: “Revoada no céu de
madrepérola”. Nesta obra podemos ver mais um diálogo e contributo que uma concha de um
acervo, no caso o Jardim Botânico, e uma artista podem produzir juntos.
Abaixo, é possível observar a montagem da exposição Cultivar, no primeiro plano, no
sanduiche de acrílico:
88
[...] podia obter em minha empreintes, rochas, plantas, solos e muralhas mais
facilmente que aplicando o papel aos próprios objetos. [...] chega de Lyon o
especialista em botânica Dereaux, com um precioso presente em sua maleta: uma
ampla coleção de plantas habilmente exibidas, livremente fixadas em folhas de papel
e depois secadas sob a prensa, produto de um paciente trabalho a que se entregou ao
longo dos últimos meses para que eu possa utilizar esse herbário no meus exercícios
de empreintes, coletando-as. Agora essas formas vegetais estão devidamente
espalhadas sobre meu tapete de tinta. Eu tinha pedido ao meu amigo para colher
apenas as ervas mais comuns, pois, ao contrário da maioria das pessoas, desconfio
das coisas raras, e, na verdade, as mais banais são as que sempre me excitam.
Também o herbário de Dereux contêm, sobretudo, vulgares tufos de gramíneas e
ervas minúsculas e ordinárias. Meu pequeno herbário afogado de tinta torna-se
árvore, torna-se jogo de luz no chão torna-se nuvem fantástica no céu, torna-se
turbilhão de água, torna-se sopro, torna-se grito, torna-se olhar. Tudo se combina e
interfere entre si. Tais são as maravilhas do meu jogo e que tanto me apaixonam [...].
(CHIPP, 1996, p. 629).
Quando Dubuffet recebe o presente do amigo biólogo, um herbário, cada um deles tem
uma visão e um tratamento para este material, uma sensibilidade do que fazer com o material
coletado. Para o biólogo Dereux, seu objetivo foi catalogar de forma perfeita e exata, usando
o seu conhecimento para coletar as plantas, como costuma fazer para os seus estudos
científicos, plantas de determinado local e que, provavelmente, estejam já em extinção. Para
89
Jean Dubufet, estas exsicatas (tufo de erva e o broto do tufo de erva), após entintadas e
impressas em um papel, podem parecer uma árvore, folha, o que chama de elemento
fracionário, são objetos de pouca duração e de aspecto mais ou menos cambiantes, são razões
puramente poéticas. Exemplifico este pensamento, no nosso grupo, através da obra Revoada
no céu de madrepérola, como qual é um exemplo de um procedimento artístico diante de uma
Coleção do Jardim Botânico.
Para a arte pode ser importante ressaltar o cambiante, pois são seres que, como a flor,
se transformam muito rapidamente, como o fluxo do rio, que a cada momento está diferente.
Os artistas podem gerar reflexões sobre os elementos da natureza reproduzidos como, por
exemplo, pela observação das metamorfoses das pétalas, criando poéticas existenciais: as
buscas e os sonhos do ser humano através das flores.
Simbólicas: a flor como símbolo da realidade humana, da vida e da morte, da
espiritualidade.
Analógicas: a flor como reflexo do corpo ou da pele humana; para Poussin e Van Gogh a
flor é o próprio homem.
Artísticas: a realização de um trabalho plástico final, as empreint de Dubuffet, como
reflexão sobre a materialidade.
A história da escolha da natureza para os artistas realizarem as suas poéticas, com os
seus diversos procedimentos, em que muitos se antagonizam, ao elencá-los Hugo Fortes os
torna muito mais simples e claros. Para o artista holandês, Hermann de Vrie, a questão é o
transcendente, o espiritual. Nos inúmeros livros publicados pelo artista, a apresentação de
90
Texto produzido pela artista visual Vani Foletto para a nossa exposição:
Arte, Ciência e Natureza, uma exposição plural
Uma exposição que reúna arte e ciência e natureza, aparentemente parece ser algo caótico.
Aparentemente. A arte e a ciência têm seus métodos distintos, além de olhar para o objeto de
pesquisa de maneira diferente, mas, ouso aqui apontar similaridades e objetivos comuns: a
arte e a ciência olham de maneira demorada para a natureza. A ciência tem métodos que
observam, comparam, etc., que a arte também tem. A ciência busca objetivos concretos: quer
saber os detalhes das pedras, das árvores, dos homens e dos animais, mas a arte também faz
isso, só que é um olhar que implica no sentimento humano frente ao que a natureza nos
proporciona. Cada ser, seja ele vivo ou não, tem um modo de ser e se apresenta para nós
como um ente natural e cultural, interfere e nos toca, pois buscamos nos afirmar como seres
humanos tendo como referência a natureza.
91
Cada artista do Grupo arte, ciência e natureza, a partir do contato com as pesquisas
e coleções, por intermédio dos curadores do Museu de Ciências Naturais e do Jardim
Botânico de Porto Alegre, terá uma intenção.
No grupo há, por exemplo, trabalhos como o de Claiton Ferreira, que nascem das
reflexões de um cientista-artista, como ele mesmo afirma a respeito do seu processo de fazer
ciência e arte. É um processo criativo autoral e metódico, ou seja, quando ele escolhe o tema
do projeto, também já realiza uma pesquisa histórica e organiza tudo de uma forma objetiva,
como um projeto, com objetivos específicos e público-alvo; material e método; seleção da
mídia onde os resultados serão mostrados; exposição e divulgação do trabalho. Justifica seu
92
Dia 29 de julho participei de uma Live sobre coleções científicas onde tive a oportunidade de
falar sobre o grupo ‘arte, ciência e natureza’. Em outros dois congressos que participei, o
XXXIII Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em março de 2020, na cidade de Águas
de Lindóia, e o evento on-line da “Society for the Preservation of Natural History
Collections” (SPNHC) e do “International Council of Museums Committee for Museums and
Collections of Natural History” (ICOM NATHIST), realizado em junho do presente ano,
foram exemplificados trabalhos desenvolvidos por artistas utilizando como objetos de
pesquisa materiais depositados em coleções científicas. Em ambos os eventos científicos
foram dados exemplos de projetos desenvolvidos fora do Brasil. Diante do exposto, falar
sobre o grupo de pesquisa ‘arte, ciência e natureza’ sempre me encanta devido a imensidão
de possibilidades de exploração dos materiais depositados em um museu. Para além do olhar
técnico, preciso e minucioso quanto aos detalhes da descrição dos objetos (plantas, animais,
fósseis, etc.) e os consequentes desdobramentos dos resultados encontrados, a pesquisa
artística é um ramo incipiente no Brasil que traz um outro olhar sobre esses materiais. Essa
nova maneira de explorar objetos da natureza guardados e catalogados tem um poder de
sensibilizar e mobilizar a sociedade de uma maneira distinta da das pesquisas normalmente
realizadas nos acervos das coleções científicas. E para mim uma das belezas da ciência é a
reflexão e os seus desdobramentos na sociedade. Tendo isso em mente, falar sobre a
exploração de materiais científicos, como as conchas exemplificadas da Live, me deixa
bastante entusiasmada. Os moluscos são um grupo diverso, belo em sua apresentação –
principalmente aqueles que possuem concha – rico em número de espécies e que vem
95