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SUMÁRIO

1. Aneurisma de Aorta Abdominal........................... 3


2. Aneurisma de Aorta Torácica..............................22
3. Aneurismas Periféricos...........................................24
Referências Bibliograficas..........................................30
DOENÇA ANEURISMÁTICA 3

1. ANEURISMA DE AORTA fusiformes, que exibem uma dila-


ABDOMINAL tação circunferencial e delgada, em
oposição aos aneurismas saculares,
Introdução e definição
que se apresentam como uma dila-
Os aneurismas são caracterizados tação focalizada da parede arterial e
como doenças arteriais nas quais há que, justamente por isso, apresentam
um aumento de pelo menos 50% maior risco de ruptura. Podemos clas-
quanto ao diâmetro arterial normal e, sificar os aneurismas como verdadei-
no que tange à aorta, foco de nossa ros ou falsos, sendo que os aneuris-
discussão, isso pode ocorrer em qual- mas verdadeiros são aqueles cuja
quer ponto ao longo desse grande dilatação envolve as três camadas
vaso, desde o seu segmento ascen- histológicas do vaso, já os falsos
dente até a sua bifurcação. aneurismas ou pseudoaneurismas
Os aneurismas podem ser classifica- são aqueles nos quais há um defei-
dos de acordo com a sua anatomia. to arterial focal, com uma coleção de
Assim sendo, temos os aneurismas sangue contida pela camada adventí-
cia ou pelo tecido periarterial.

Figura 1. Tipos de aneurismas. Fonte: Robbins & Cotran, Bases Patológicas das Doenças, 8ª Ed., Elsevier.

Ainda podemos classificar os aneu- artérias renais; os justarrenais, que


rismas de aorta abdominal de acordo se desenvolvem abaixo da emergên-
com a sua ralação com as artérias re- cia dessas artérias e, por fim, o in-
nais, sendo que os do tipo suprarre- frarrenal, que consiste no tipo mais
nal são aqueles que se desenvolvem comum, o qual se desenvolve em um
acima e abaixo, simultaneamente, pequeno segmento isolado abaixo da
dos vasos renais; os do tipo parar- eminência das artérias renais, sendo
renal são aqueles que desenvol- por sorte, os mais fáceis de tratar por
vem englobando a emergência das via endovascular.
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SUPRARRENAL PARARRENAL JUSTARRENAL INFRARRENAL

Figura 2. Classificação dos aneurismas de aorta abdominal quanto às artérias renais Fonte: Adaptado de UpToDate.

SAIBA MAIS!
Falamos que os aneurismas são definidos como um aumento maior do que 50% do diâmetro
axial máximo do vaso arterial, não é mesmo? Mas talvez você possa estar se perguntando
como é possível que se saiba que o vaso está com o seu diâmetro aumentado. Pois bem.
Existe uma tabela que traz o registro dos valores normais dos diâmetros arteriais em homens
e em mulheres. Veremos a seguir que existem diretrizes específicas para a conduta diante de
um aneurisma de aorta, nas quais existem valores de corte para que o tratamento seja norte-
ado. Porém, caso você esteja curioso, você pode conferir a tabela a seguir.

HOMENS MULHERES
DIÂMETRO PRINCIPAL EM cm DIÂMETRO PRINCIPAL EM cm
SEGMENTO AÓRTICO
(DESVIO PADRÃO) (DESVIO PADRÃO)
Ascendente 4,0 (0,4) 3,4 (0,4)
Descendente 3,2 (0,3) 2,8 (0,3)
Supra celíaco 3,0 (0,3) 2,7 (0,3)
Suprarrenal 2,8 (0,3) 2,7 (0,3)
Infrarrenal 2,4 (0,5) 2,2 (0,3)
Bifurcação 2,3 (0,3) 2,0 (0,2)
Tabela 1. Tabela diâmetros arteriais aórticos normais Fonte: Adaptado de
Rutherford’s Vascular Surgery and Endovascular Therapy, 8th Ed., Elsevier.
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Etiologia e epidemiologia os eventos. Fatores que contribuem


para a degradação do colágeno e da
Podemos classificar os aneurismas
elastina também atuam aumentando a
quanto à sua etiologia, sendo que
probabilidade de desenvolvimento de
essa pode ser traumática, infeccio-
aneurismas, bem como as complica-
sa ou degenerativa, sendo a última
ções pós-dissecção de aorta.
a causa principal e a que será o foco
da nossa abordagem. Porém, cabe Os aneurismas de aorta abdominal
dizer que os aneurismas que não se (AAA) ocorrem em uma incidência de
encaixam nessa categoria podem aproximadamente 3 a 10%. Os riscos
ser decorrentes de infecções (aneu- para a ocorrência de AAA incluem: ida-
rismas micóticos), quadros inflama- de avançada, sexo masculino, aneuris-
tórios, autoimunes ou decorrentes
mas já diagnosticados, história familiar,
de doenças do tecido conjuntivo. O
alargamento aneurismático do diâ- tabagismo, hipertensão, dislipidemia,
metro aórtico está intimamente rela- doença aterosclerótica e altura.
cionado a fatores que promovem o
enfraquecimento da parede arterial, SE LIGA! Quando homens apresentam
bem como o aumento local das forças AAA, geralmente esse está associado à
hemodinâmicas. presença de outras lesões aneurismáti-
cas pelo corpo, como nos territórios ilía-
Dentre tais fatores, temos os hereditá- cos ou fêmoro-poplíteos. Enquanto isso,
rios, que incluem a Síndrome de Marfan apesar dos aneurismas serem menos
frequentes no gênero feminino, quan-
(predisponente a aneurismas e dissec- do presentes, esses apresentam maior
ções de aorta torácica), a doença vas- risco de ruptura e apresentam desfecho
cular de Ehlers-Danlos, bem como um pior após o reparo, muito provavelmen-
te pela maior incidência de percalços
histórico familiar de aneurismas, mes-
relacionados à anatomia vascular da
mo que com fatores inexplicados para paciente.

SINTOMAS FATORES DE RISCO


Desenvolvimento de AAA Tabagismo
Hipercolesterolemia
Hipertensão
Gênero masculino
Histórico familiar (com predominância masculina)
Expansão de AAA Idade avançada
Doença cardíaca grave
Acidente vascular encefálico prévio
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SINTOMAS FATORES DE RISCO


Tabagismo
Transplante renal ou cardíaco
Ruptura de AAA Gênero feminino
Fração de ejeção ventricular esquerda reduzida
Diâmetro aneurismático inicial extenso
Pressão arterial sistêmica elevada
Uso corrente de tabaco
Transplante renal ou cardíaco
Forças hemodinâmicas desfavoráveis
Tabela 2. Fatores de risco para o desenvolvimento, crescimento e ruptura de aneurismas Fonte: Adaptado de Sabiston,
Textbook of Surgery, 20th Ed., Elsevier.

É difícil, na maioria das vezes, predi- cardíaco ou renal e padrões instala-


zer o comportamento e o desfecho dos de estresse vascular.
relacionado à doença aneurismáti- Podemos também ter uma estimativa
ca da aorta. Contudo, existem fato- do risco de ruptura de acordo com o
res notórios que se relacionam com diâmetro axial máximo do aneurisma
o aumento da chance de ruptura do de aorta do paciente, apesar de que
aneurisma, como a doença pulmonar esses números não são cabais, não
obstrutiva crônica (DPOC), tabagis- devendo ser levados ao pé da letra,
mo, aneurisma corrente de grande di- uma vez que já houve estudos que
âmetro, gênero feminino, transplante notaram que os cirurgiões tendem a
superestimar os o risco de ruptura.

DIÂMETRO DO AAA (CM) RISCO DE RUPTURA (%/ANO)


<4 0
4-5 0,5 – 5
5–6 3 – 15
6–7 10 – 20
7–8 20 – 40
>8 30 – 50
Tabela 3. Risco estimado anual de ruptura Fonte: Adaptado de Sabiston, Textbook of Surgery, 20th Ed., Elsevier.
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Justamente por isso, é muito impor- e imunológicos, os quais propiciam o


tante pensar na velocidade de cres- desencadeamento de um processo
cimento do aneurisma, mas ainda do inflamatório na região do vaso aórtico,
que no seu tamanho propriamente o qual sofrerá um processo degenera-
dito. Isso porque é tido como con- tivo de suas fibras elásticas, o que di-
senso que aneurismas que crescem minuirá a sua complacência e permi-
5mm em seis meses ou 1cm em um tirá que ocorra a dilatação. Diante do
ano possuem indicação de tratamen- processo já instalado, fatores biome-
to cirúrgico, qualquer que sejam os cânicos, relacionados principalmente
seus diâmetros. à hemodinâmica do sangue, tratam
de continuar o estresse à parede já
acometida, de modo a aumentar a
Fisiopatologia lesão intramural, fazendo com que o
Inicialmente, tem-se que um dos me- aneurisma continue a aumentar o seu
canismos para a formação do aneu- tamanho paulatinamente.
risma consiste em fatores genéticos
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MAPA MENTAL DEFINIÇÃO, ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA

Idade
Degeneração

Homens
Lesão vascular
Estresse hemodinâmico
degenerativa

História familiar

Processo inflamatório Aumento > 50% do


Aterosclerose diâmetro arterial normal
Riscos cardiovasculares
Hipertensão

TABAGISMO Fatores de risco Definição


ANEURISMA
DE AORTA
ABDOMINAL
Etiologia Aneurismas

Doença genética Degenerativa Saculares


Localização

Traumática Fusiformes
Síndrome de Marfan
Suprarrenal
Pararrenal
Infecciosa Justarrenal Pseudoaneurismas
Infrarrenal

Verdadeiros
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Quadro Clínico os mais jovens, sendo que indivídu-


os mais idosos são diagnosticados
Em geral, os portadores de AAA são
incidentalmente, como já menciona-
assintomáticos, sendo que o diag-
do, ou, infelizmente, no momento da
nóstico, por muitas vezes, acaba sen-
ruptura.
do acidental, por meio de exames de
imagem rotineiros ou por uma causa Dado o acúmulo de trombos na pa-
não relacionada à doença aneurismá- rede aneurismática, por conta da sua
tica em si. irregularidade, o que leva a turbilho-
namento de sangue, levando a um
No caso de pacientes mais magros,
ambiente trombogênico, pode ocor-
cuja dilatação seja expressiva, a pista
rer a embolização de algum trombo
que pode indicar a presença de AAA
do local do aneurisma causando um
consiste na identificação de massa
quadro de isquemia distal, com ênfa-
pulsátil no abdome quando da palpa-
se em extremidades, sendo mais fre-
ção desse durante o exame físico, em
quentemente observado nos dedos.
região supraumbilical e na linha me-
Nesses quadros, podemos observar
diana, podendo variar de acordo com
necrose de pododáctilos e até mes-
a tortuosidade do vaso.
mo de partes maiores, a depender
Porém, é possível que os pacientes se do calibre e do vaso acometido pelo
apresentam com uma leve sintoma- trombo.
tologia, inespecífica. Dentre os possí-
Quando do quadro mais grave, que
veis quadros, pode ser apresentado
consiste na ruptura desse aneurisma,
desconforto abdominal ou sintoma-
destaca-se a existência de uma tría-
tologia decorrente da compressão de
de clássica relacionada a esse even-
órgãos adjacentes à porção aórtica
to. Temos a presença de dor súbita
em que se localiza o aneurisma, como
dorsal e abdominal, que decorre do
ureteres e vasos adjacentes. Como
estímulo doloroso gerado pela ruptu-
sintomas compressivos, podemos
ra arterial e pelo sangue em contato
ilustrar quadros de saciedade, vômi-
com a cavidade peritoneal, podendo
tos, sintomas urinários e trombose de
ser irradiada para a região inguinal.
veia cava, essa sendo decorrente da
A hipotensão presente na rotura de
compressão extrínseca do vaso pelo
aneurismas é decorrente do extrava-
aneurisma, alterando o fluxo veno-
samento do sangue para o peritônio,
so correto, gerando turbilhonamento
diminuindo a quantidade desse no
que pode culminar com a formação
espaço intravascular, de modo a ge-
de um trombo.
rar um débito cardíaco menor, poden-
Todavia, sabe-se que os pacientes do culminar no choque cardiogênico,
que apresentam mais sintomas são o qual pode se apresentar também
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por meio de sinais relativos à síncope. pacientes que apresentarão essa trí-
Com o hemoperitônio instalado, tam- ade, mas que a sua identificação é
bém é possível a identificação de uma clássica de uma rotura de aneurisma.
massa pulsátil, muitas vezes apenas
na inspeção do abdome do paciente, SE LIGA! Então, para garantir que ficou
que pode cursar com alterações dos claro, vamos elencar objetivamente a
pulsos em membros inferiores, dado tríade que se relaciona com a rotura de
o acometimento da rede arterial que aneurismas da aorta abdominal: Dor, hi-
irriga tais regiões. É importante res- potensão e massa abdominal pulsátil.
saltar aqui que não serão todos os

SAIBA MAIS!
Alguns fatores podem fazer com que não haja a presença da tríade de rotura aneurismática.
Um deles consiste na contenção da hemorragia maciça, dado que o coágulo que se forma
no local da rotura, aliado à hipotensão gerada pela perda de sangue, propiciam um ambiente
que trabalha por meio da vasoconstrição e pela cascata de coagulação para conter o processo
hemorrágico.

HORA DA REVISÃO!
Um dos sinais indicativos de rotura aneurismática é o sinal de Grey-Turner, que consiste
na presença de equimoses na região dorsal e de flancos, sendo indicativa de sangramen-
to retroperitoneal.

do grau de contenção hemorrágica ge-


SE LIGA! A rotura de aneurisma é um rado pelo corpo. Desse modo, deve-se
evento com um grande poder catastró- sempre indicar a cirurgia de emergência
fico. Quando da sua ocorrência, geral-
com expansão volêmica para recuperar
mente só há dois caminhos possíveis. Ou
esse aneurisma não tem a sua hemorra- o estado do paciente doente.
gia maciça bloqueada no retroperitônio, Existe uma rara complicação do AAA
de modo que o paciente morra logo em
poucos minutos, ou essa hemorragia é que consiste na fístula entre a artéria
contida, conferindo uma janela temporal aorta e a veia cava inferior. Obviamen-
a mais para que ele possa ser tratado. te, a ocorrência dessa complicação
altera drasticamente toda a hemodi-
Diante do que expomos, temos que um nâmica do paciente, consistindo em
paciente com aneurisma roto pode che- um processo de difícil reparo cirúrgi-
gar ao hospital tanto hemodinamica- co, dada a importância dos vasos en-
mente estável como instável, a depender volvidos, bem como pela natureza da
lesão vascular gerada.
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Figura 3. Fístula aortocava Fonte: Case courtesy of Dr Sajoscha Sorrentino, <a href=”https://radiopaedia.org/”>Radio-
paedia.org</a>. From the case <a href=”https://radiopaedia.org/cases/14897”>rID: 14897</a>).

Diagnóstico ser possível verificar a existência de


trombos ou não em sua parede. Po-
O diagnóstico é feito basicamente por
rém, a ultrassonografia não é a mais
meio de um quadro clínico correspon-
adequada para o planejamento cirúr-
dente, principalmente quando da ro-
gico e nem para os casos de rotura,
tura, mas também pelo uso de exa-
uma vez que ele não consegue enxer-
mes de imagem.
gar toda a parede aórtica principal-
O primeiro exame que é realizado e mente a posterior, além de poder ser
o de mais fácil acesso consiste na ul- influenciada pelo estado pós-prandial
trassonografia, sendo ele muito bom do paciente, de modo a não conferir
para confirmar o diagnóstico e para um diagnóstico tão fidedigno.
acompanhar os pacientes que ain-
O seu uso pode ser limitado pelo bio-
da não possuem indicação cirúrgica,
tipo do paciente e pela presença de
uma vez que mostra boa sensibilida-
gases intestinais. Apesar disso, ca-
de e especificidade para a sua detec-
racteriza-se como um excelente mé-
ção e caracterização. Por meio dele,
todo de triagem, dado o fato de que
consegue-se identificar a presença
evita as complicações advindas de
do aneurisma e estimar o seu diâme-
exames invasivos, que podem fazer o
tro, com uma baixa margem de erro,
uso de radiação e de contraste.
que gira em torno de 4mm, além de
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Figura 4. Ultrassonografia de AAA. Fonte: Introdução à Ultrassonografia Vascular, 6ª Ed., Elsevier).

A angiotomografia consiste no exa- os aspectos e riqueza de detalhes já


me que mais proporciona riqueza de mencionados.
detalhes e que possui a melhor re- Nos casos de rotura, por meio desse
lação custo-benefício-tempo, sendo exame, pode-se topografar o local de
o exame de escolha diante de uma ruptura, avaliando-se o mecanismo
necessidade de intervenção, a fim de bloqueio do extravasamento de
de planejar o procedimento cirúrgico. sangue, como a presença de coágu-
Por meio dele, pode-se encontrar o los ao redor do ponto de ruptura.
diâmetro do vaso aneurismático com
mais exatidão, identificar a presença O ônus desse exame consiste na ex-
de trombos, calcificações e doenças posição substancial do paciente à
arteriais oclusivas concomitantes, as radiação ionizante, principalmente
relações topográficas do aneurisma quando da realização de exames se-
e acometimento de vasos vitais ad- riados, bem como no uso do contras-
jacentes, além de permitir recons- te, o qual pode ser danoso, em espe-
truções tridimensionais de excelente cial quando se fala da população com
qualidade que realçam ainda mais doença renal.
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Figura 5. Angiotomografia revelando aneurisma de aorta abdominal Fonte: Sabiston, Textbook of Surgery, 20th Ed., Elsevier.

Figura 6. Reconstrução tridimensional obtida por tomografia computadorizada


Fonte: Adaptado de Rutherford’s Vascular Surgery, 9th Ed., Elsevier
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A angiorressonância magnética pode terapêutica, de modo a não ser a me-


fornecer quase que as mesmas in- lhor escolha para o planejamento de
formações que a angiotomografia uma intervenção cirúrgica, muito me-
computadorizada, com o benefício nos para o diagnóstico de rotura de
do não uso de contraste iodado e por aneurisma.
não requerer o uso de radiação ioni- Não utiliza contraste, mas a utilização
zante. Porém, consiste em um exame de gadolínio se relaciona com fibrose
de alto custo e que leva muito tem- nefrogênica sistêmica em pacientes
po para ser realizado, além do fato de com baixa taxa de filtração glomeru-
não ser capaz de dar tantas informa- lar. Além disso, a sua utilidade é mais
ções como a angiotomografia, como bem evidenciada quando da obten-
o fato de não ser capaz de identifi- ção de imagens dinâmicas sincroni-
car calcificações da parede aórtica, o zadas com o ciclo cardíaco.
que pode ser importante na decisão

Figura 7. Angiorressonância magnética revelando aneurisma de aorta abdominal Fonte: Adaptado de Sabiston, Tex-
tbook of Surgery, 20th Ed., Elsevier e Rutherford’s Vascular Surgery and Endovascular Therapy, 9th Ed., Elsevier.

A arteriografia consiste em um exa- anteriormente citados, sendo o seu


me capaz de identificar ruptura, bem uso pouco corrente.
como a dimensão geral do aneu-
risma, mas não capta tantas rique-
zas de detalhes como os exames
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Figura 8. Arteriografia revelando aneurisma de aorta abdominal. Fonte: Sanarflix

Como toda e qualquer doença e são mais característicos, as seguintes


evento patológico, é importante ter- possibilidades:
mos em mente os diagnósticos dife-
• Gastrite aguda;
renciais a serem levados em conta,
que são coerentes com a apresen- • Apendicite;
tação do paciente. De forma gené- • Infecção do trato urinário;
rica, faz-se importante conhecer as
patologias envolvidas, de modo que • Diverticulite;
essas possam ser consideradas e • Pancreatite aguda;
descartadas com lógica, a fim de que
o diagnóstico do paciente seja acer- • Colelitíase;
tado. Uma vez que os sinais de AAA • Obstrução do intestino grosso;
não são patognomônicos para essa
doença, devemos levar em conta, ex- • Infarto do miocárdio;
cluindo nos casos de rotura, que já • Úlcera péptica ativa;
• Obstrução do intestino delgado.
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Recomendações para triagem e • < 2,6cm: não é recomendada tria-


observação gem adicional
A triagem e acompanhamento de • Entre 2,6 – 2,9cm: reexaminar em
AAA deve ser feita para pacientes 5 anos
específicos. No quesito de rastreio,
• Entre 3,0 – 3,4cm: reexaminar em
recomenda-se que seja realizado ao
3 anos
menos uma vez um exame de ultras-
sonografia para buscar a presença de • Entre 3,5 – 4,4cm: reexaminar em
AAA em homens entre 65 e 75 e que 12 meses
sejam tabagistas ou que já o foram. • Entre 4,5 – 5,4cm: reexaminar em
Para homens da mesma faixa etária, 6 meses
que nunca foram tabagistas, mas com
história familiar positiva para a doen-
ça, é recomendado que também seja Tratamento
feito ao menos um exame de ultras-
No quesito de indicação para o repa-
som para rastreio de AAA. No caso
ro cirúrgico, existem recomendações
de mulheres, ainda não há consenso,
absolutas para que a intervenção seja
mas existe evidência de maior chance
feita, em pacientes cujo risco de rup-
de desenvolvimento de AAA em mu-
tura seja excessivamente alto, sendo
lheres com mais de 65 anos, com his-
que tal abordagem não é a prepon-
tória familiar positiva para aneurismas
derante para os pacientes portado-
de aorta abdominal e/ou com história
res de AAA. Recomenda-se que seja
prévia ou presente de tabagismo, de
realizada a cirurgia em pacientes que
modo que o rastreio por meio da re-
se enquadram nos quesitos a seguir:
alização de ultrassonografia é válido
para essas pacientes. • Aneurismas com diâmetro >
Uma vez diagnosticado o aneurisma, 5,5cm (em mulheres, considera-se
recomendam-se intervalos adicionais até 5cm e até 4,5cm em pacientes
para a triagem de acordo com o ta- com síndrome de Marfan);
manho do aneurisma (diâmetro aór- • Presença de aneurismas saculares;
tico externo máximo) e risco de rup-
• Crescimento do aneurisma > 5mm
tura associado, sendo a periodicidade
em 6 meses ou > 1cm em 1 ano;
do acompanhamento relacionada ao
diâmetro do aneurisma elucidada a • Pacientes sintomáticos;
seguir:
• Pacientes que apresentem compli-
cações (como embolização distal)
ou ruptura do aneurisma.
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O tratamento cirúrgico pode ser feito pela Nos casos de aneurismas rotos, a prepa-
via cirúrgica aberta, ou por via endovas- ração da pele e a colocação dos campos
cular. Sabe-se que os índices de mortali- são realizados antes da indução anesté-
dade e morbidade precoce são menores sica, a fim de permitir a rápida exposição
no reparo endovascular. Porém, quando e controle, caso a indução gere um colap-
é feita a comparação tardia, após cerca so hemodinâmico.
de dois anos, não é observada diferença Colocam-se os campos no paciente, rea-
estatisticamente significante quanto às lizando-se a incisão mediana para a lapa-
duas abordagens. No caso da aborda- rotomia, do processo xifoide até logo aci-
gem convencional, os riscos são maiores ma do púbis (incisão xifopubiana);
quando há a necessidade de clampear a
aorta em seu segmento suprarrenal ou No caso de intervenção eletiva, com evi-
supramesentérico. denciação por meio de exame de ima-
gem, de doença ilíaca necessitando de
O reparo por cirurgia aberta do aneurisma extensão de enxerto bifurcado para ar-
de aorta abdominal pode ser realizado téria femoral de um ou dos dois lados, a
por via transperitoneal ou retroperitoneal. dissecção da artéria femoral deve ser re-
O reparo transperitoneal via laparotomia alizada antes da laparotomia.
com incisão mediana consiste na aborda- Comparado ao reparo cirúrgico aberto,
gem mais utilizada para aneurismas in- o reparo endovascular apresenta menor
frarrenais típicos, oferecendo uma expo- tempo de internação, morbidade e mor-
sição rápida, com excelente acesso para talidade em 30 dias, mas não possui im-
vasos renais e ilíacos, podendo examinar pacto positivo quanto à qualidade de vida
completamente a cavidade abdominal. após três meses e a sobrevida após dois
Para melhorar a exposição a nível das ar- anos. As vantagens da cirurgia endo-
térias renais ou acima delas, pode-se re- vascular se estendem para os casos de
correr à ligadura e secção das tributárias aneurisma roto, diante do qual está asso-
da veia renal esquerda (gonadal, lombar e ciado a menor morbidade e mortalidade
adrenal), caso a veia renal esquerda seja hospitalar.
preservada, ou a secção proximal da pró- A maioria das endopróteses disponíveis
pria veia renal esquerda. são de enxerto bifurcado modular, con-
O reparo infrarrenal transperitoneal é sistindo em um corpo aórtico principal
iniciado por meio da administração de para ser utilizado com um número varia-
antibiótico pré-operatório (geralmen- do de componentes, de extensão ilíaca e
te cefalosporina de primeira geração) e aórtica proximal. Existe uma maior taxa
meticulosa preparação da pele, desde os de reintervenção da cirurgia endovascu-
mamilos até as coxas. lar quando comparada com o tratamento
por via convencional, sendo que após 2
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ou 3 anos, não há diferença significativa complicações locais da ferida, oclusão


na taxa de mortalidade global. inadvertida da artéria renal ou hipogás-
As complicações relacionadas ao aces- trica, podendo ocorrer, em casos mais
so incluem: hematoma, pseudoaneu- raros, isquemia de cólon ou de medula.
risma, oclusão ou dissecção arterial e Enquanto isso, as complicações tardias
ruptura ou transecção de artéria ilíaca, incluem: ruptura, oclusão do enxerto,
embolização periférica, insuficiência renal, crescimento do saco aneurismático e in-
fecção do enxerto.

Figura 9. Técnica de reparo endovascular. A; é realizada uma arteriografia inicial para traçar o perfil das artérias
renais. B; o stent é inserido por meio de um fio guia até o nível das artérias renais. C; note os marcadores radiopacos
indicando o começo da endoprótese (seta). D; a bainha da endoprótese é retirada, permitindo a abertura parcial do
enxerto proximal (seta fina). Note que o topo da endoprótese continua a restringir os fios de fixação suprarrenal (seta
espessa). E; Faz-se a canulação do óstio ilíaco (seta) contralateral. É introduzido contraste por meio de um cateter a fim
de confirmar o sucesso da canualação antes de alocar o enxerto em campo ilíaco. F-H; a angiografia de ambas as ar-
térias ilíacas com cateteres carcadores alocados permite os deslocamento dos enxertos ilíacos, com a preservação de
ambas as ilíacas internas. I-K; Balonamento moldando o enxerto proximal, sobrepondo os segmentos do corpo prin-
cipal da endoprótese e óstios ilíacos, vedando zonas distais dos óstios ilíacos a fim de facilitar a vedação dos compo-
nentes proximais. L, angiografia completa mostrando a exclusão da rede aneurismática, sem evidência de vazamentos,
que poderiam ser evidenciados por meio de um preenchimento restante do saco aneurismático por meio da injeção de
contraste. Fonte: Adaptado de Rutherford’s Vascular Surgery and Endovascular Therapy, 9th Ed., Elsevier
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Figura 10. Técnica de reparo cirúrgico e endovascular de aneurisma de aorta abdominal. Com o reparo aberto (ima-
gem A), os vasos superiores e inferiores ao aneurisma são controlados. O saco aneurismático é aberto, seguindo-se
da interposição de um enxerto que é suturado às extremidades proximal e distal da aorta não acometida. No caso do
reparo endovascular (imagem B), um stent é introduzido na luz arterial por meio de um acesso fêmoro-ilíaco. O stent
funciona como uma ponte entre os segmentos normais do vaso, passando pelo saco aneurismático e se ancorando na
aorta proximal e distal. Fonte: Adaptado de Aortic Abdominal Aneurysm, New England Journal of Medicine, 2014.

No caso de pacientes sem a indica- conforme elucidado anteriormente,


ção de realização de tratamento cirúr- por meio de exames de ultrassom, os
gico, realiza-se o manejo clínico con- fatores de risco cardiovascular devem
servador, principalmente no tocante ser controlados, como a hipertensão
à redução dos fatores de risco. Desse arterial, por meio do uso de inibidores
modo, a principal estratégia consiste da enzima conversora de angiotensi-
na orientação da cessação do tabagis- na (IECA), bloqueadores do receptor
mo, dado o seu papel preponderante de angiotensina (BRA) e betabloque-
na gênese, desenvolvimento e risco adores, bem como a dislipidemia, tra-
de ruptura em AAA. Junto a isso, deve tada por meio do uso de estatinas.
ser feito o acompanhamento rotineiro
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MAPA MENTAL: QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO, EXAMES, TRIAGEM E TRATAMENTO

Acompanhamento
Enxerto vascular Aberta Cessar tabagismo
com ultrassom
Aneurisma > 5,5cm
Roto
Paciente sintomático Tratamento Diminuir
Cirurgia SIM NÃO
Aneurisma sacular conservador fatores de risco
Crescimento > 5mm em 6
meses ou > 1cm em 1 ano
Manejo da
Endoprótese Endovascular
hipertensão e
dislipidemia
Tratamento

Homens > 65 anos


Tabagista e/ou
História familiar ANEURISMAS
Geralmente
Triagem DE AORTA Quadro Clínico
assintomáticos
Mulheres > 65 anos, ABDOMINAL
tabagista e/ou com
história familiar prévia Isquemia distal

Diagnóstico Jovens

Angiorressonância Desconforto abdominal


Ultrassom Angiotomografia Massa pulsátil
Angiografia

Diagnóstico Maior riqueza de Menos detalhes


detalhes
inicial e triagem Planejamento cirúrgico Pouco utilizados
DOENÇA ANEURISMÁTICA 21

MAPA MENTAL: RESUMO AAA

Manejo da hipertensão Localização Etiologia Formato


e da dislipidemia

Cessar tabagismo Classificação


Idoso

Conservador

Sexo masculino
ANEURISMA
Principais
Cirúrgico Tratamento DE AORTA
fatores de risco
ABDOMINAL
Hipertensão

Endovascular

Exames

Exame inicial Exame de escolha para


Ultrassom Angiotomografia
Acompanhamento planejamento cirúrgico

Angiorressonância
Menos utilizados Riqueza de detalhes
e angiografia

Menos detalhes
DOENÇA ANEURISMÁTICA 22

2. ANEURISMA DE AORTA trata somente desse tipo de lesões,


TORÁCICA mas de todo o aneurisma que acome-
te a aorta toracoabdominal.
O aneurisma de aorta torácica (AAT)
se assemelha ao AAA em quase todos O tipo I consiste na lesão aneuris-
os seus aspectos, sendo os fatores de mática que acomete a aorta torácica,
risco os mesmos, bem como a histó- chegando à aorta abdominal, mas so-
ria clínica compatível e o exame físico mente ao nível suprarrenal. Já o tipo
correspondente. O que vai mudar aqui II, consiste em um aneurisma que
é que, como se trata de um aumento acomete toda a aorta descendente,
de massa no tórax, não teremos uma desde o seu segmento torácico até o
massa pulsátil no abdome. fim do segmento abdominal. O tipo III
consiste no acometimento da aorta
Para o diagnóstico de AAT, o ideal é torácica abaixo da VI costela, acome-
que seja feita uma angiotomografia tendo toda a extensão da aorta até o
com contraste, dado que, pela anato- final do vaso. O tipo IV, consiste em
mia do tórax, o ultrassom aqui não se- um aneurisma que é basicamente de
ria o ideal para obter uma boa visuali- toda a aorta abdominal, acometendo
zação das estruturas vasculares, bem também a região da transição toraco-
como do seu possível acometimento, abdominal da artéria aorta. Já o tipo
sendo difícil mensurar diâmetros com V consiste no aneurisma que comete
uma margem de segurança adequada. a aorta abaixo do nível da VI costela,
chegando a acometer a aorta abdo-
Classificação minal ao nível suprarrenal.

Os AAT são classificados de acordo


com o sistema de Crawford, que não

Figura 11. Sistema de classificação de Crawford Fonte: Adaptado de Sabiston, Textbook of Surgery, 20th Ed., Elsevier.
DOENÇA ANEURISMÁTICA 23

Tratamento AAT, propiciando um bypass entre as


regiões saudáveis do vaso por meio da
O tratamento cirúrgico dos AAT é feito endoprótese.
quando o diâmetro máximo desse se
encontra acima de 5,5cm, sendo que a Existe também a opção da realização
intervenção convencional, por cirurgia de uma cirurgia híbrida, na qual uma
aberta, consiste em um procedimento parte do procedimento é feita de modo
em conjunto com a cirurgia cardíaca, aberto e a outra, por via endovascular,
necessitando do uso de circulação ex- como a troca de arco aórtico por via
tracorpórea quando o reparo é realiza- aberta, propiciando um ambiente se-
do próximo à região do arco aórtico. guro para a ancoragem da endopróte-
se que será colocada logo em seguida
Existe a opção da abordagem endo- para corrigir a porção da aorta torácica
vascular, sendo utilizada para isso, a
acometida.
mesma técnica já mencionada para os

MAPA MENTAL AAT

Tabagismo Hipertensão Dislipidemia

Fatores de risco I

II
História Clínica
ANEURISMA
DE AORTA Classificação III
TORÁCICA
Angiotomografia
IV

Tratamento V

Cirúrgico Conservador

Diâmetro > 5,5cm Manejo da hipertensão

Cirurgia aberta Cessação do tabagismo

Cirurgia endovascular
DOENÇA ANEURISMÁTICA 24

3. ANEURISMAS em homens, com cerca de 65 anos,


PERIFÉRICOS sendo bilaterais em 50% dos casos
e associados a aneurismas de aorta
Definição
abdominal.
Os aneurismas periféricos, apesar
de raros, apresentam grande perigo
Quadro clínico, sintomatologia e
quando da sua ocorrência, diferente-
complicações
mente dos anteriormente citados, não
por colocar risco iminente à vida, mas Cerca de metade dos pacientes são
porque estão associados a graves assintomáticos e, quando o são, ge-
complicações como isquemia distal. ralmente o único achado consiste na
Os aneurismas periféricos mais co- presença de uma massa pulsátil na
mumente observados são os das se- região poplítea. Geralmente, esses
guintes artérias: poplítea (sendo esse pacientes apresentam algum grau de
o mais comum), femoral, braquial e isquemia aguda secundária a com-
carótida. plicações tromboembólicas, sendo
Como qualquer outro aneurisma, os associados a altas taxas de morbi-
que acometem a artéria poplítea são dade e de perda do membro, sendo
classificados quando há um aumen- essa a principal complicação possível
to acima de 50% do diâmetro do quando da existência dessa patologia
vaso normal, podendo ser usado o vascular.
valor de referência de 1,2cm para a Sintomas menos frequentes incluem:
classificação. sudorese de membros inferiores e dor
secundária ao efeito da massa aneu-
rismática em estruturas vásculo-ner-
Epidemiologia e fatores de risco
vosas adjacentes. Tal efeito pode ser
O principal fator de risco para o de- oriundo da compressão venosa pelo
senvolvimento de aneurisma de ar- aneurisma, uma vez que a artéria
téria poplítea (AAP) consiste na hi- e a veia poplítea são muito íntimas.
pertensão arterial, a qual aumenta a Diante desse cenário, ocorre o cola-
força de cisalhamento na parede do bamento da veia, alterando o fluxo
vaso, conferindo um ambiente pro- sanguíneo e propiciando a formação
pício para a lesão. Tal situação pode de um trombo, podendo culminar em
ser agravada quando da presença uma trombose venosa profunda. Jun-
de outros fatores, como tabagismo e tamente, pode ocorrer a compressão
dislipidemia. de rede nervosa pela expansão aneu-
Os aneurismas de artéria poplítea rismática, o que pode desencadear
são predominantemente observados
DOENÇA ANEURISMÁTICA 25

sintomas neurológicos como pareste- ser feito um ultrassom Doppler de ar-


sia, paresia e neuralgia. téria poplítea, a fim de avaliar o fluxo
Uma possível complicação é a rup- sanguíneo e o tamanho da dilatação.
tura, apesar do fato dessa ser rara. Pode ser realizada uma tomografia
Porém, quando essa ocorre, é asso- para a averiguação das dimensões
ciada a altas taxas de amputação do da lesão, principalmente para o pla-
membro. nejamento do procedimento cirúrgico
quando esse for indicado.
A arteriografia é pouco utilizada para
Diagnóstico o diagnóstico, uma vez que consiste
O AAP é diagnosticado diante de em um exame muito invasivo para ser
uma história clínica compatível com a realizado. A sua utilidade atualmente
patologia, podendo ser acompanhada consiste no uso intraoperatório du-
dos sintomas já supracitados. Junto a rante o tratamento endovascular,
isso, para fechar o diagnóstico, deve principalmente.

Figura 12. Angiotomografia e angiografia demonstrando aneurisma de artéria poplítea. Fonte: Management of
Asymptomatic Popliteal Artery Aneurysm, International Journal of Angiology, 2019.

Um importante diagnóstico diferen- poplítea. A sua diferenciação quanto


cial a ser considerado quando da ava- ao aneurisma será o caráter pulsátil
liação de um possível quadro de AAP do AAP, que não está presente nesse
consiste no cisto de Baker, que é em cisto. Quando da realização de exa-
uma bolsa de líquido sinovial envolto mes de imagem, a tomografia reve-
pela sua bainha homônima e por es- lará qual das patologias acomete o
truturas adjacentes na região da fossa paciente pelo sinal hiperatenuante do
DOENÇA ANEURISMÁTICA 26

vaso aneurismático, o que não ocorre de riscos oriundos desse dano, como
no cisto. Além disso, uma ressonân- tromboses.
cia magnética em ponderação T2 re- O tratamento por via aberta é feito por
velará um hipersinal no cisto, uma vez uma incisão na fossa poplítea, sendo
que esse consiste basicamente em realizado o ligamento e ressecção do
uma bolsa cheia de líquido, o qual é aneurisma, com interposição por meio
destacado na ressonância. de autoenxerto de veia safena mag-
na, uma vez que estamos falando de
Tratamento um vaso arterial de baixo calibre, de
modo a propiciar uma maior durabi-
O reparo cirúrgico do aneurisma é in- lidade desse reparo, dado que o te-
dicado quando esse possuir diâme- cido vivo do próprio paciente sofrerá
tro maior do que 2 cm ou quando for uma endotelização mais adequada e
sintomático, de acordo com o quadro mais próxima do que seria uma pa-
que já mostramos anteriormente. rede arterial. Pode-se também utilizar
Aneurismas de artéria poplítea po- as próteses de Dacron ou de PTFE,
dem ser tratados por meio de repa- sendo a primeira a mais comumente
ro por via aberta ou endovascular, utilizada.
sendo o reparo aberto o preconiza-
do, pelas características da região SE LIGA! O reparo cirúrgico é preferen-
de articulação, uma vez que essas cial para os casos assintomáticos, quan-
regiões “de dobra” poderiam dani- do há boa condução venosa, em pacien-
tes sem comorbidades significativas.
ficar o stent, propiciando o aumento

Figura 13. Reparo cirúrgico aberto do aneurisma de artéria poplítea Fonte: Management of Asymptomatic Popliteal
Artery Aneurysm, International Journal of Angiology, 2019
DOENÇA ANEURISMÁTICA 27

O reparo endovascular é adequado endoprótese, com vasos sadios, sem


para pacientes sem boa condução dilatação, sendo escolhidos geral-
venosa, ou em pacientes mais velhos, mente os locais com ao menos 2 cm
cujas comorbidades severas os colo- livres de quaisquer complicações. Por
quem em alto risco. O procedimento meio do fio guia, a endoprótese é in-
é realizado por meio de um planeja- serida na luz arterial, sendo instalada
mento cirúrgico com angiotomografia e realizando, assim como ocorre no
computadorizada, localizando o pon- aneurisma de aorta, um bypass entre
to de dilatação do vaso, bem como as regiões saudáveis do vaso.
o melhor ponto para ancoragem da
DOENÇA ANEURISMÁTICA 28

MAPA MENTAL AAP

Diâmetro
> 1,2cm de diâmetro
arterial > 1,5 do normal

Hipertensão

Definição
Homens Dislipidemia

Associados a AAA Epidemiologia Fatores de risco Tabagismo


ANEURISMA
DE ARTÉRIA
POPLÍTEA Ultrassom Doppler
Acima de 65 anos Quadro clínico Diagnóstico
Angiotomografia

Massa pulsátil
Excluir cisto de Baker
em fossa poplítea Tratamento
Isquemia de
extremidades
Autoenxerto de veia
Cirúrgico
safena magna

Diâmetro arterial > 2cm


Ou paciente sintomático
Endoprótese

Endovascular
Pacientes sem boa
condução venosa
DOENÇA ANEURISMÁTICA 29

MAPA MENTAL RESUMO ANEURISMAS

Homens Idosos Tabagista Hipertenso Síndrome de Marfan

Pacientes de risco
Ultrassom
Cirúrgico ou
endovascular
Tratamento Aorta abdominal Exames Angiotomografia

Conservador

Ressonância magnética

Manejo dos
fatores de risco ANEURISMA
Angiografia

Cirurgia aberta Aorta torácica Poplítea Massa pulsátil

Isquemia em
Endovascular Tratamento Sintomas
extremidades

Angiotomografia Diagnóstico Tratamento Cirurgia

Endovascular

Autoenxerto
Prótese vascular
DOENÇA ANEURISMÁTICA 30

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
Sabiston textbook of surgery: the biological basis of modern surgical practic / [edited by]
Courtney M. Townsend, Jr, R. Daniel Beauchamp, B. Mark Evers, Kenneth L. Mattox. 20th
edition.
Names: Sidawy, Anton N., editor. | Perler, Bruce A., editor. Title: Rutherford’s vascular sur-
gery and endovascular therapy / [edited by] Anton N. Sidawy, Bruce A. Perler. Other titles:
Rutherford’s vascular surgery. Description: Ninth edition. Philadelphia, PA: Elsevier, 2019
Robbins e Cotran, bases patológicas das doenças / Vinay Kumar... [et al.]; [tradução de Patrí-
cia Dias Fernandes... et al.]. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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Kent KC. Clinical practice. Abdominal aortic aneurysms. N Engl J Med. 2014;371(22):2101‐2108.
doi:10.1056/NEJMcp1401430
DOENÇA ANEURISMÁTICA 31

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