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8RASIUA, IS DE MAIO DE 197' - N.• M4 - A.NO rY - CRS f ,00 - MANAUS E SELEM (VIA UREA) CRS 7,00 - PORTUGAL ESC.

TUGAL ESC. 20$00


Brasllla, 13 de ma io de 1974 - N. 0 664
- Ano XV - DPF/ DCDP - 240.P.209/ 73

A Comparação Portugal evolua para o


bem-estar do povo portu-
• Os jornais de Portugal guês".
deram grande destaque ao
comentário feito pelo jornal A Expulsão
franoêa Le Monde, que com-
parava o General Spínola, • As relações do governo
presidente da Junta de Sal- deposto com a igreja Católi-
vação Nacional portuguesa, ca vinham se agravando
ao falecido General De progressivamente. Nas co-
Gaulle. A comparação lônias a posição dos padres
baseia-se no fato do Gene- era de ostensiva repulsa à
ral De Gaulle, grande pa- maneira como os portugue-
triota, ter introduzido refor- 8eS trntava.m os nativos. O
mas com apoio militar e ter coroamento da crise foi a
sido o iniciador da descolo- expulsão de onu missioná-
n.ização. rios italianos de Moçambi-
que, na semana passada.
As Reformas
Os Novos Nomes
• Para o jornal londr ino
Daily Telegraph, pareciam • A revolução vai se refle-
bastante improváveis que tindo até na toponímia. A
aa refonnas delineadas pelo Rua 31 de Janeiro, do Por-
General Spínola possam ser to, data cara ao salazaris-
implantadas rapidamente mo, foi rebatizada com seu
sem risco de criar o caos. antigo nome de Rua Santo
Para o diário, com exceção Antônio. Na localidade de
da menção de eleições li- Calheta, na Ilha da Madei-
vres dentro de um ano, ne- ra, o nome de sua principal
nhuma ••tabela horária" foi avenida foi trocada para
deacrita para o cumprimen- Antônio de Spínola.
to das restantes promessas.
O Código Morse
A Revelação • Os presos pol!ticos da
• O Dúirio Popular de Lis- prisão de Caxias receberam
boa publicou reportagem a comunicação de que o go-
dando conta de que Paris é verno caíra de forma origi-
a terceira cidade do mundo nal. Um automóvel, após a
em população portuguesa. vitória dos revolucionários,
Atualmente trabalham lá parou à porta da prisão e
812 mil portugueees, "cons- transmitiu uma mensagem,
tituídos por jovens mal pa- através da buzina, em Cõdi-
gos, dóceis e que se sujei- go Morse.
tam à execução de traba-
lhos inaalubres". O Feriado
• Um dos primeiros
A Golpada decretos-lei instituído pela
Junta militar proclamava o
• Enquanto iam caindo os 1. 0 de Maio como feriado
últimos redutos salazaris- nacional. Portugal era dos
tas, o lisboeta podia optar raros países que não come·
por um programa cinemato- morava esaa data. Mas este
gráfico no qual, entre ou- ano a efusão foi contagiosa,
tros, figuravam os seguin- com manifestações popula-
tes filmes: Eusébio, a Pan- res no Terreiro do Paço e
tera Negra, As Ordens de arredores.
Vosslncio, com Cantinflas,
e o filme norte-americano Ficou Tonto
The Sting, que no Brasil
chama-se Golpt de Mestre e • Em São Paulo, o jornalis-
em Portugal recebeu o títu- ta João Apolinário não es-
lo de A Golpada. condia sua satisfação. Após
quaae meio século de sala·
zarismo o critico t.>atrnl de
A Reação 50 anos disae ter renascido,
• A primeira reação de um tonto ao respirar o ar da li-

~:~~;~:ª~~~:~:!;
cautel080 comunicado, for-
::1~r! ~~i: ~~~º·~::;
PO · TUCAL HOJE I
berdade. Afirmou sua confi-
ança no futuro de Portugal
e a crença de que o país não
tornará a cair em regime
semelhante.

REPORTAGEM DOS ENVIADOS ESPECIAIS DIRCEU NASCIMENTO E FRAN -


CISCO TÁVORA. Maria do Amparo e Téla Sequerra (dp Sucursal de Usboa).
Selma Chvldchenko, Lia Blower, Gratia Dei Braga, Angela Regina Cunha
(Pesquisa). Wlfllam Annoni (Brasília). Pedrosa Filho e Ellzabeth Aizim .
Fotos: Antonio Ferreira , Carlos Gil, Franclsoo Ferreira, Abel Fonseca e MI·
randa Castela (Usboa). Rolnam Pimenta (Brasllla ). Moaclr Gomes e Hugo
Góes. Agtnciea GAMMA e AP

3
ENTRE TANQUES E FLORES, O VELHO PRESÍDIO POLÍTICO 1FOI TRANSFORMADO NUMA BASTILHA PORTUGUESA
de abril de 1974. As 13 horas,
25 forças rebeldes depõem o
Presidente Américo Tomás e o
Primeiro-Ministro Marcelo Caetano,
controlam a situação em todo o país
e conduzem ao poder a Junta de Sal-
vação Nacional, chefiada pelo Gene·
ral Antônio Ribeiro de Spínola.
l.º de maio de 1974. Desde as 18
horas, gigantescas concentrações de
populares, estudantes, políticos, ho·
mens, mulheres, portugueses do nor-
te, do sul e de além-mar, são vistas
pelas ruas de Lisboa, comemorando,
pela primeira vez em 46 anos, o Dia
do Trabalho.
Entre uma data e outra, Portugal
terá vivido, nesta última semana,
sete dos mais importantes dias de
sua história neste século. Da queda
do regime salazarista, iniciada quase
de s urpresa na madrugada de
quinta-feira, à explosão de alegria do
povo nas ruas, não só na capital mas
em vários outros pontos do país, tal·
vez tenha nascido o que os portugue·
ses, agora com orgulho, chamam de Ae torça• rebeldes conUnuem
Novo Portugal.

As primeiras horas que se segui-


ram à tomada do poder pelas forças
rebeldes foram de perplexidade e in-
certeza. Perplexidade diante da rápi·
da e inesperada ação das tropas que
se deslocaram do norte do país até
Lisboa para depor o governo em i>ou·
cas horas. Incerteza porque não se
sabia, àquela altura, até que ponto
o movimento estava vitorioso - e se
havia, ainda, possibilidade de cho·
ques armados.
A partir do momento em que as
emissoras de rádio e televisão - as-
s im como os jornais que pela primei·
ra vez, em quase meio século, circu·
lavam sem censura - confirmavam
a queda do antigo regime e a ascen·
são de Spí no! a ao poder, 11 m novo
Portugal começou a surgir,

Nos quatro primeiros dias, o co·


mércio, os bancos, as principais in·
dústrias fecharam suas portas, en·
quanto Spínola, através de apelos di·
vulgados pela imprensa, pedia tran-
qüilidade ao povo, a essa altura em·
peohado na perseguição aos agentes
da PIDE, agora extinta e transfor·
mada no Departamento Geral de Se·
gurança. Na segunda-fei ra, dia 29, o
país começava a voltar à normalida·
de. E as emissoras de rádio ainda to·
cavam, em intervalos regulares,
Grandola, Vila Morena, canção proi·
bida pelo antigo regime (homenagem
a uma cidade que se rebelara contra
.SalazarJ, que os rebeldes usavam
como senha: "Em cada rosto igualda·
de, o povo é quem mais ordena ..." •

A Prllto de Cuia• foi convertida numa a•pécle de Bntllha portugu-, elmbolo do Nluarlamo. De la
Exército e povo ae contundem na• ruu agora cheia• de Ulboa. A todo momento, um toram libertado• 79 presoe polltlcoe, enquanto mal• de 200 agentee da PIDE eram ali recolhidos. Nce dlu
café, um retreeco, blscoltoe para oe eoldado• que ae mant6m pennanentemente alet1u, que ae eegulram, todo• - ex-prlelonelroe, militar•• e povo - ueararn llorM corno eimbolo de aua vltórlL
embora a vitória J' eetel• conqul.stada. O. portugu- da capital vibraram com a revolução.

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DUAS CANÇÕES ESTÃO NA HISTÓRIA DESTA REVOLUÇÃO. UMA DELAS FOI A SENHA PARA A VITÓRIA FINAL

D ESDE logo o novo governo pro-


curou deixar clara a sua posição
quanto às províncias ultramarinas:
em lugar de uma propalada e imedi-
ata desooloniza(âo da África, a Jun-
ta de Salvação Nacional - seg11ndo
as palavras do próprio Splnola -
proc11raria estudar um processo de
autodeterminação, de duração inde-
terminada. que permitisse a escolha
"entre a independência definitiva e a
manutenção, ainda que com autono-
mia dos territórios africanos, de um
sistema de vínculos com a Metrópo-
le,,
Na segunda-feira mesmo, repre-
sentantes do Movimento Democráti-
co Português. união antifaseista de
partidos de esquerda, entregaram a
Spínola um memorando com uma sé-
rie de 14 solicitações. Entre elas, a
de destituição dos diretores das
emissoras oficiais, bem como de ór-
gãos de informação subvencionados
pelo governo "para impedir a adulte-
ração da opinião pública e a pressão
ideológica"; a imediata liberdade de
füncionamento dos partidos; a prisão
dos agentes de segurança da extinta
PIDE; destituição de órgãos e füncio-
nários públicos nomeados politica-
mente; permissão para retorno à pá-
tria de portugueses exilados.
O FESTIVO
1. 0 DE MAIO
Embora prometendo estudar - ou
até mesmo atender - a maior parte
das solicitações. Spínola se rec'180u a
consultar a esquerda para a forma-
ção do novo governo e prometeu es-
colher, para ministros do seu gabine-
te, integrantes das Forças Armadas
que atuaram no movimento de 25 de
abril. embora representando várias
tendências políticas:
- Só um gabinete formado por di·
versas correntes de opinião pode as·
segurar as eleições livres no futuro.
Durante as comemorações do J .0
de Maio - de<:retado feriado nacio-
nal em todo o país - a Junta procu-
rou deixar o povo manifestar-se Ji.
vremente. pedindo, apenas, modera-
ção e fazendo dos chefes de cada gru·
po político os responsáveis por quais-
quer incidentes.
Enquanto isso, no exterior, ao fim
da primeira semana da J11nta no po·
der. as reações eram de apoio 11 Spí·
nola e a se11S homens. O Brasil foi
o primeiro país a reconhecer o novo
governo. Os !;;stados Unidos, através
do seu Departamento de Estado, di·
vulgaram nota oficial informando
que snas relações com Portugal con-
tinuavam as mesmas. Na Airica, as
forças militares ali sediadas aderiam
ao movimento. E passaram a aguar·
dar que a Junta finalmente se de<:i-
A alegria dos jovens, enquanto, nas paredes, velhos cartazea aão esquecido-. disse sobre o novo caminho a seguir.

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ENCARCERADAS POR CRIMES POLÍTICOS, MAIS DE 100 PESSOAS FORAM SURPREENDIDAS COM ANISTIA GERAL

Liberdade
para os
presos
Uma das primeiras medidas do novo
governo português foi dar anistia geral a
todos os prisioneiros políticos. Assim,
presos como Palma Inácio, que desde 1947
estava na clandestinidade, puderam voltar à
vida normal. Enquanto isso, os "pides"
eram perseguidos e levados para o
presídio de Caxias.

_ E SCRE'.VO sob a maior e·


moçao e nem sei como
começar. As últi mas horas foram,
para mim, sirnultaneament.e as mais
angustiosas e as mais inesperadas de
sempre. Vivi-as minuto a minuto, se-
gundo a segundo, apaixonadamente.
Para mim, prisioneiro em Caxias,
tudo começou realmente sexta-feira
de manhã, quando no terraço da ca·
deia, por baixo da minha janela, vi
os meus camaradas da impr ensa,
acompanhando os mil itares. Não
posso me esquecer quando os pára·
quedistas e fuzileiros abriram nossas
celas. Era inacreditável.
Fernando Correia, redator do Diá·
rio de Lisboa, foi um dos muitos pre·
sos políticos q ue foram a nistiados
pe lo governo do General Spínola.
Apenas os prisioneiros que também
tinham processos de delito com um
não saíram.

PALMA INÁCIO
TAMBÉM LIVRE
Hermínio da Palma Inácio, um dos
mais ferozes inimigos do salazaris·
mo. ma l pôde acreditar quando se
sentiu livre:
- Isto é maravilhoso. Que coisa
linda um Portugal livre! Oxalá não
seja só urna liberdade de 12 meses.
Não estava em liberdade desde 1947.
Vivo na clandestinidade desde aque·
la data ...
Na rua, o povo esperava por seus
filhos. Queria revê-los. Um capitão
acalmava todos, consola ndo:
- Tenho cá um filho e tê-lo -ei
muito em breve nas mãos .. Tem 20
anos e está cá há cinco meses.
Os que saiam tratavam de dar
burras, abraçar-se com seus familia·
res e com os militares. No dia se·
guinte, também os presos do Forte
de Pen iche, onde havia cerca de 22
presos políticos, foram soltos.
Outros portugueses, oposicionistas
ao regime derrubado, que esbverarn
também nas prisões da PIDE, volta· Os familiares dos presos políticos foram festejar a liberda·
ram. ll: o caso de Mário Soares e ÁI· de dos pa rentes na fortale za d e Ca xias. A esq uerd a, o li·
varo Cunhal. entre outros. • der que retornava, Mário Soares, com o Gen. Spfnola.

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DEFENDENDO UMA SOLUÇÃO POLÍTICA PARA A QUESTÃO AFRICANA, SPÍNOLA CONQUISTOU A SIMPATIA POPULAR

PROVINCIAS
ULTRAMARINAS
Infestadas por guerri lheiros negros, Angola, Moçambique e Guiné -
as três mais importantes provínc ias do ultramar português -
transformaram-se nos últimos anos em gigantescos sorvedouros de
soldados e divisas. Mais do que a importânc ia econômica dos ricos
territórios africanos, o povo de Portugal sempre deu valor a seus
filhos, que viajavam para morrer emboscados nas florestas.
Defendendo a sol ução política para o problema, o General Spíno la
movimentou a opinião pública, provocando a queda de um regime que
durou praticamente meio século. Agora, Po rtugal está diante do futuro.

o estopim da rebeliao

Usboa a gora quer dialogar e p6r um fim nas guerrilhas na selva.

ANGOLA GUINÉ
• Com 1.246.700 qu ilômetros qua· • Considerada província ultramari- • Governa da pelos portugu eses há
drados, An gola é suficientem e nte na de Portuga l e pa rte integrante de mais de 500 a nos, e t ransfor mada
grande pa ra conter, j untos, os terri· se u te rr itório, Moçambique tem em Provlncia Ultramarina em 1951,
tórios de Portugal, Alemanha Oci- 783.030 quil ôm etros quad ra d os e a Guiné Portuguesa é um território
dental, Fra n ça e Es pa nha . De s u a uma população de 7.040 mil habitan· de 36.125 q uilômet ros quadrados,
popu lação de 5.225 mil ha bi tan tes, tes, composta, e m s ua maioria abso- com 527 mil ha bitantes pertencentes
cerca de 400 mil são e uropeus (quase luta (97%-0, por nat ivos negros. Há, a d iversos grupos étnicos. A capital,
todos portugueses residentes), fican· porém, 200 mil europeus radicados, Bissau, tem apenas 26 mil residen-
do em 40 mil o número de mestiços todos eles originários de Portugal , 20 tes fixos. Em setembro do a no passa·
europeus-africanos. Apesar dos mo- mil asiáticos e 40 mil mestiços. A ca- do, a proclamação da independência
vimentos de guerrilhas, este territó- pital de Moçambique, Lourenço Mar- foi a nunciada pelo chefe dos rebel·
rio ultramarino encontra-se num es- ques, é uma cidade de 250 mil habi- des, Luís Cabral, que tornou-se pre-
tágio de franco desenvolvimento eco- tantes, moderna e com um movímen· sidente da República Guiné-Bissau,
n ômico a tax a de lO'N anualmente. tado comércio de produtos europeus não reconhecida por Portugal, embo-
Entre os principais produtos de ex- e asiáticos. ra tenha sido pelas Nações Unidas e
portação angolanos, os de maior des- seus organismos.
taque são o milho, fumo, sisai, café Seus produtos agrícolas de expor· O comércio da Guiné, centralizado
(4.º produtor mundial), minérios de tação são a cana-de-açúcar, algodão, na cap ital , está inteiramente nas
ferro, diamantes e petróleo. Em castanha-de-aiiju e sisai . Mas as mai- mãos dos quatro mil europeus ali re-
1972, o volume de exportações che- ores riquezas do território só foram sidentes, restringindo-se a exporta·
gou a 492 milhões de dólares CCrS descobertas ultimamente: berilo, ções de arroz, palmito e castanha.

. -, 3,2 bilhões). No mesmo período, po- bauxita, carvão e, também, urânio. Para Port ugal , que ainda controla
rém, as autoridades portuguesas em Suas importações, a maioria delas parte do território da Guiné, o futuro
Angola foram obrigadas a importar realizadas em acordos com os países e o desenvolvimento econômico da
Cr$ 2,6 bilhões em equipamentos de da Europa Ocidental, são de equipa- província dependem da descoberta
transportes, maquinaria em geral, mentos industriais, maquinaria, pe· de jazidas de petróleo, ouro e bauxi-
Armados de metralhadoraa, OI guerrllhelrOI, oo.n- e mutherM, transformaram num Inferno a vida dos tecidos, ferro e aço. De acordo co.., tróleo e tecidoe. De acordo com le- ta, que estão sendo pesquisados por
portugu- na Afrlca. Obflgado8 a cumprir um serviço mllitar de quatro anos de duraçlo, OI jovens dados recentes, o produto nacional vantamentos recentes, O"Produto na- empres as alemãs e norte·ame·
IOldadoa (à direita) vlMI com alegria a hora de voltar para caaa, llvranc:fo.M doa perigos do ultramar. bruto ultrapassou a casa dos CrS 9 cional bruto atingiu Cr$ 6,5 bilhões, ricanas. A agitação interna, porém,
bilhões, com uma renda per capita de enquanto a renda per capita ÍlXOu-se tem prejudicado as sondagens e esca·
220 dólares CCr$ 1.430,00). em Cr$ 850,00. vações.

12 13
A REVOLUÇÃO D.E SPÍNOLA É, ANTES DE TU DO, MORA~. ELA CONSOLIDA O FIM DE UM REGIME DO PASSADO

O SALAZARISMO M0 RREU COM SALAZAR 1

O jornalista e escritor David Nasser, autor


de Portugal, Meu Avozinho, livro q ue
conquist ou o Prêm io Camões de 1966,
acentua que a atual revo lução portuguesa
está muito longe de sig nificar a
ind ependênc ia de Angola, Moçambique e
de outras provínc ias ultramari nas

RATA-SE de um moviqien-
- T interno contra o regi-
to
me que governava o país, e não para
- N O livro Portugal Meu
Avozinho, David Nasser
afirmava que os brasileiros da gera-
a libertação das antigas colônias. ção de Vergas não podiam julgar os
Embora a q ueda deste regi me só portugueses da geração de Salazar:
agora se tenha efetivado, David Nas- "Não creio, nem de longe, que.o sere-
ser acha que o salazarismo já havia no julgamento da História há de
morrido ct>m Salazar. apontar Salazar como um exemplo a
ser seguido pelos povos livres. Mas
monge que dirigia o Es-
- O tado Portugu ês não se
apoiava numa ideologia ou num mé-
não poderá d izer que ele não soube
ensinar o seu povo a não ser escra-
vo." David Nasser acredita que os
todo de governo, mas em seu presti- tempos tenham mudado. E também
gio pessoal e no exe mplo de sua vida. os métodos, tanto em Portugal como
Morto Salazar, a simples convocação no Brasil.
de Marcelo Caetano fez com que os
portugueses imed iatamente passas- FINAL, se Spínola era um
sem a sonhar oom as liberdades na•
turais que l hes e'ram negad as em
Da vid Na_, - A general de Salazar, o
golpe que deu e m Marcelo Caetano
nome da ordem ibérica e africana. O aqueles que o assumiram não são di- não sign ifica uma condenação ao
homem comum português,da cidade, ferentes e provavelmente pensam da passado, mas uma plataforma demo-
sabia da imp-0ssibilidade do mestre mesma forma. crática para o futuro. Salazar, para
de Direito, que era Marcelo Caetano, ele, talvez fosse, no seu tempo, a úni-
REIO que Marcelo Cae-
conciliar uma nova política no ultra-
mar com a abertura no Portugal eu-
ropeu. Bem que ele tentou, antes do
- C tano, se tivesse as con-
dições profissionais do General Spí-
ca solução.
O jornalista recorda um dos três
encontros que. teve com Salazar, que
General Spín ola, mas deu com os nola, faria o mesmo. Acontece qu e, lhe perguntou sobre a repercussão
burros n'água. no meu entender , o presidente da que tivera, no Brasil, a morte de seu
David Nasser considera pura ilu- Junta de Salvação Nacional estabe- ex-colaborador Humberto Delgado.
leceu sua autolimitação na platafor-
Bem no centro de Uaboa, na Avenida da Uberdade, o povo manifesta sua alegria. A derruba da de Caetano por Splno la e uma plataforma democrá são acreditar-se que a independência
de terras "banhadas com o suor e o ma <ll! seu livro e sabe que, se abrir pior possível, respon<li·

baixador de Portugal no Brasil:


sangue de tantos portugueses" ve-
nha a partir de Lisboa. E cita o pró-
de uma vez as comportas, corre o ris-
co de transtormar Portugal em colô-
- A lhe com franqueza. E en-
tão ele me confessou que a execução
• Na s ed e d a c hance laria da Trê s dias antes da insurreiç ão n ia de Angola e Moçambique. As na·
Embaixador Embaixa da de Portugal em Bra- militar portuguesa - e dois me·
"Cremos na cultura como o úni-
co fator que pode trazer os ho-
prio livro de Spínola:
ções altamente industrializadas es-
do general oposicionista pelos agen-
tes da PIDE não t ivera a sua aprova-
sllla, o levante militar chefiado ses após a publicaç ão do livro mens de todas as condições, lu· - Q UEM o leu sabe que isso
é uma utopia. O último
preitam a hora de conquistar esses ção e esperava punir os responsá-
José Hermano pe lo General Sp íno la parecia
" um fato de há muito espera-
Portugal e o Futuro, do General
Antõnlo de Spínola, deflagrador
gares e raças da Terra à comu-
nhão dos sentimentos que irm a -
vínculo virã romper-se naturalmen ·
te, como aconteceu com o Brasil. E
mer cados consumidores e celeiros
exuberantes.
veis. Se isso foi feito, não sei. Só sei
que Delgado teve o pescoço quebrado
do" . Não havia nenhum sinal de da crise - o Embaixador José nam e à aceitaç ã o dos ideais David Nasser considera a PIDE por u m saco de batatas que lhe ati-
Saraiva apreensã o ou nervosismo p ela
falta de informações oficiais so-
He rmano Saraiva d iscursou em
Porto Alegre alud indo à d ata (22
que reúnem. Cre mos na cultu ra
e aceitamos toda a responsa bi·
é até possível q ue seja um p<>rtuguês
que o faça. Mas querer que um D.
um capítulo à ~rte, comparando-a à
polícia de Getúlio Vergas.
rou um policial num armazém de se-
cos e molhados. Aracari, a brasileira
bre a rebelião em Lisboa e em de abril) consagrada à Comuni· João VI faça o papel de D. Pedro I
lidade dessa nossa crenç a, con· é brincar com a História. que o acompanhava, foi também eli-
revolução de Spínola, pa-
outras cidades portuguesas .
Uns poucos funcionários da por-
taria d lscullam a s ituação dian-
dade Luso-Bras ileira. Afirmou
entã o sua crenç a " na paz au-
têntica , voluntária , fecunda ,
tinuando hoje no mundo - os
portugueses na África, o s brasl·
David Nasser lembra que o Gene-
ral Spínola imagina u ma confedera-
- A ra mim, não é territorial
ou econômica, porém moral. Se os
minada, a tiros, para não ser a única
testemunha.
leiros na América - o dever sa- ção afro-portuguesa, cada qual com o David Nasser cita alguns de seus
te dos repórteres, munidos de aquel a que enraiza no amor e antigos governantes não tinham livros - Falta Alguém em Nurem-
no respeito mútuo, a única em grado de trazer à p lenitude da seu parlamento e suas leis, mas com meios de apagar a mancha policial
um pequeno rádio transístor, civilizaçã o a totalida de da s po- berg, A Reuoluçào <kis Couardu e ou-
transformado na única fonte de que os homens se podem e n· sede em Lisboa. E diz que, se a In- que d ividia o português em dois, tal
pulações nascidas nos territó- glaterra, a França, a Bélgica e ou- tros - para confirmar o q ue pensa
notícias sobre a revoluç ão em contrar como irmãos, filhos d e rios naciona is." O Embaixad or qual a gestapo de Vargas fizera com da PIDE e de todas as polícias do ge-
Portugal. També m o Embaixa- Deus, iguais em s ua sede de t ras nações colonizadoras não conse- o brasileiro, era preciso que um bra-
José Hermano Saraiva, falando guiram tal faça Dha, dificil mente nero:
"REPUDIAMOS O dor José Herm a no Sa raiva só ti-
nha acesso, no seu gabinete, a
justiça e em seu dire ito à fellc l-
dade e à justa reparti ç ão dos
a FATOS E FOTOS, concordou Portugal o fará. E acrescenta·
vo general lusitano assumisse o po-
der e, com a esponja de sua autorida- AO manchas negras nas
RACISMO E NÃO Informa ç ões ch e gadas pelos
noticiários radiofónicos. Conhe-
bens do mundo". E enfatizoo:
"Por isso repudiamos o racismo
em ver no seu pronunciamento
do dia 22 de a bril vá rios pontos - O mérito do golpe de Spí-
nola é de ter avançado
de e do seu passado de veterano da
África, estabelecesse a liberdade in-
- S histórias das nações e
dos governos que as encobrem. Para
e nã o aceitamos que a cor de coincide ntes com o pensamento os ponteiros da Histôria, suprimindo dividual que tinha na policia política
ACEITAMOS QUE A cedor profundo da História d o
Brasil e estudioso da comunida· pele poss a servir de critérios à
do General Splnola, que alguns
funcionários mais graduados da uma etapa para a libertação total o seu maior entrave. Talvez o preço
mim, que sempre considerei o ho--
mem um templo de carne, intocável
dos futuros brasis da África. Tudo seja alto para o português europeu.
COR DA PELE POSSA de luso·brasileira, ele homena-
geia o nosso país através d e um
definiç ão de fronteiras, que se-
riam outros tantos abismos a
chancelaria definem como " um
pensado r, talve z o único pensa- virá naturalmente, no tempo certo, Talvez suas terras africanas se
qualquer que seja sua crença, cor ou
ideologia, a revol ução do General
imenso cristal de rocha, colo- como um parto sem dor de 7 de se- emancipem. Mas, feitas as contas, a
DEFINIR FRONTEIRAS" cado estrategi c amente sob re
separar os homens e ame açar a
paz." Em outra parte de seu
dor portug u ês nos últimos 40
anos". tembro. manutenção de 150 mil soldados no
Spínola não foi para libertar Angola
e Moçambique de Portugal, mas
Emba ixador J osé Hermano Saralv1 sua mesa de trabalho. pronunciamento, afirmou o em- Na opinião de David Nasser, os continente negro custa a Lisboa mP- para libertar Portuga l dos esbirros
homens que deixaram o governo e tade do seu orçamento. da PIDE. •

15
14
MESMO FORA DO PAÍS DE ORIGEM, ELES NÃO DEIXARAM DE ACOMPANHAR OS MOVIMENTOS DA REVOLTA

OOUEOS
PORTUCUESES
NO BRASIL
PENSAM DA A. Gom es da Costa

COMO VEJO A
REVOLUCAO
Na Guanabara, como em São Paulo e outros
REVOLUÇÃO
• A. Gomaa da Costa, 40 anos, eco·
nomlsta e administrador de empre-
sas, • natural do Porto. Vive no Brasil
estados brasileiros, os portugueses não ficaram h6 20 anos e • o presidente da Fede·
alheios à revolução comandada pelo General "çlo das A ssoclaç6es Portuguesas
e luso·Bra sllelras, 6rglo que reolne
Antônio de Spíno la. Todos fo rmaram opinião. 160 entidades num total de quase 400
Alg uns, mais céticos, preferem aguardar um mll peu oas, entre portugueses e bt'a·
allelros. Para e le, a derrubada de um
po uco mais para sentirem como ficará o país. regime que durou quase meio s6culo
precisa da unl6o de todos para asse·
Entretanto, ninguém disco rda que realmente só gu rar o progresso e o bem-estar do
uma revolta poderia salvar a nação portuguesa. povo portugu6s . " O sa lazarlsmo foi
uma decorr6ncla da r evolução de 28
d e maio de 1926, constituiu-se numa
doutrina centrada e m princípios que
Mesmo durante as horas decisivas da re volução, o Gener al Antônio de Splnola era solicitado a a utografar seu Uvro Portugal e o Futuro. vlseva m manter a unidade da naç6o
e acabar com a s dl verg6nclas parti·
dárlas e o s daaequllibrlos orçamenlli·
• Man~I Ferreira, 4-0 anos, bal- • Fernando Andrade, 67 anoa, rio s. O movimento militar e m Portu-
PARA 62%O MOVIMENTO FOI UMA SURPRESA conista ~padaria. " Ainda não
posso dizer nada a respeito porque OTIMISMO E ESPERANÇA, auxiliar de gerlncia comercial.
"Ainda é muito cedo para dizer
qualquer coisa. Por isso não sei se
g al, que culminou com a derrubada
do salazarlsmo e com a entrega do
não conheço os ideais da revolu- poder à Junta presidid a pelo General
ção. Mas, concordo totalmente
com o movimento armado sob o
UM CRÉDITO À REVOLUÇÃO a revolução foi boa ou ruim. Creio
que todo o governo quo trabalhe
Ant6nlo de Spínola, teve o rigens no
pro b lema u ltramarino português.
Mil portugueses, de todas as Não opinaram ..........................•............... 6,6% comando do General Antônio de par a o bem da nação é o bom. Re- Quando, hl poucos meses, o General
Spínola. Acho que a revolução cebi a noticia com indiferença, Spínola, depois de brilhante campa·
categorias sociais e sexos, Dentre os que opinaram que e88a revolução veio em boa hora, mas vou aguar~ pois sou apolltico." nha como soldado e esta dista na Pro-
residentes no Brasil há mais de vai trazer uma mudança na politlca Interna dar." • Ernesto dos Santos Rodrig11es, vlncla da Guln6, publicou o livro Por-
cinco anos, opinaram sobre a de Portugal : • Manuel Madeira Simões, 44 23 anos, balconista comercial. "A tugal e o Futuro, expondo teses con-
anos, balconista de bar. "Estou revolução foi certa porque o go- trlirlaa à polftlca do g overno, ficou pa-
revolução portuguesa nesta Para melhor ..........................:................... 74,6%
por fora da pol ítica. Soube da re- verno não podia suportar os pro- tenteado que existiam profundas dl-
pesquisa, especialmente Para pior ................................................... 19,1%
volução pelos jornais, mas não blemas das col ônias. Agora o nl- verg6nclas na lid erança governamen·
Não opinaram .............................•..•.....•..• 6,3%
encomendada ao Institu to tive nenhuma emoção. Do Gene- vel de vida lá vai melhorar. Sõ fi. tal. Os acontecimentos acaba ram por
Brasileiro de Opinião Pública e ral Spínola pouco ouvi falar e quei preocupado com os meus pa- convergir para a rebelião militar, com
P) Esta revolução vai trazer uma mudança na nem sei como ele ê. Dizem que ele rentes que moram no Porto. Mas suas lnevltllvels conseqüên cias polltl·
Estatística (IBOPE) pela revista politica das col6nlas ? era oficial no Ultramar. Não é tudo está bem melhor do que an- cas: queda do governo anterior e a
FATOS E FOTOS. Sim ............................................................. 72,9% isso mesmo? É só isso que sei." Fernando Ant6nio Ernesto Manuel tes." formação da Junta de Salvação Naci-
Não ..........................................................•.. 18,1% • Armindo Bastos, 37 anos, bar- Andrade Alvas Rodrigues Ferrei ra • Domingos Moreira Gomes, 56 onal, que se prop6e a conduzi r o pais
P) Para os senhoras a revolução e m Portugal : Não opinaram .......................................... 9,0% ~iro. "Acho que aquilo lá vai fi. anos, caixa ~ restaurante. "Sou a para novas estruturas constltuclo·
Foi s urp resa ...•...........•.............••.....••..••..• 62,9% car muito bom. O país precisava favor da revolução. Estamos em nals. E nunca se rll demais lembrar
Dentre os que consideram que ena revolução de uma polltica que resolvesse os outra era, o mundo está avançan- que nl ngu6m melhor que os portugue-
Jll esperava que acontecesse ............. 36,7%
Não opina ram ..•...•.••....••.............•...........• 0,4% vai tr azer uma mu dança na politlca das problemas das colônias no territi>- do e Portugal estava totalmente ses para defender os Interesses de
col6nias: rio africano. O povo de Portugal parado. O que aconteceu é nor- Portugal E se aatamos abertos à coo·
P) Na sua opiniã o ena revolução representa: estava muito oprimido e a im- mal. Não sou polltico, mas acho peraçlo, ao dllllogo, ao encontro
Para melhor ·-··········································· 73,2% prensa nunca podia falar sobre o que a mundo está evoluindo e to- (n unca o deixa mos de estar). saibam
A vontade d a maioria do povo portugu6s 66,2% Para pior ..•...........................•••..•.•............. 21 ,6% que era necessário. Foi bom." dos os povos precisam de liberda· os outros povos corresponder a essa
A vontad e da minoria da população .• 25,2% Não opinaram ..•........................•.........•••.• 5,2% • laaura Simõa, 25 anos, bako- de." cooperaç6 o, a e sse diálogo, a e 88e
N6o opin aram •..........•.....•..•••...••..........••.. 8,6% nrsta ck armarinho. "Acho que a • Antõnú> Aluei, 45 ano1, tlÓCÍ.O ~ encontro sem ferir as aspirações per-
P) Pessoalmente os senhoras estio: situação em Portugal melhorou uma firma comercial. "Se eu esti· manentes do povo português, em sua
P) Esta revoluçlo vai trazer uma mudança na bastante depois da revolução, pois vesse em Portugal participana da pres en ça plu rlcontln ental e e m sua
Plenamente de acordo com a revoluçlo 42,9%
politica lnte m a de Portugal? o negócio lá era muito rigoroso. revolução de qualquer maneira . vocaçio ecu mênica."
Concordam em parte ••..•.........•.......•....•. 31,9%
Sim ....•..........•........••.........................•......... 82,4% Quem falava era preso. Agora Domingos Manuel Armindo Isaura Aquilo estava bem ruim. O povo
Não' concordam ...........................•....••..... 20,5%
N 6o .................•.............•.•...................•....... 11,0% não, todos podem falar livremente Gomes Si mões Bastos Simões não tinha liberdade para nada e
• Não opinaram ...•..........•..........•................ 4,7%
o que quiserem e o que pensam! a solução foi começar a emigrar!'

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