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Gabriel Envall
Vinicius Pires
Brasília
2020
Gabriel Envall
Vinicius Pires
Brasília
2020
i
Reprodução parcial permitida desde que citada a fonte.
ii
Gabriel Envall
Vinicius Pires
Banca Examinadora:
_________________________________________
Prof. Dr. Osvaldo Kojiro Iha
Doutor em Físico-Química
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
_________________________________________
Prof. Me. Tiago de Melo
Mestre em Integridade de Materiais da Engenharia
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
_________________________________________
Me. Leonardo Ivo de Carvalho Silva
Mestre em Ciências Mecânicas
Nota: ______
iii
Dedico esta monografa aos meus dois
avôs, paterno e materno, os quais não irão
conseguir em vida presenciar minha
certificação no ramo da Engenharia
Mecânica, mas tenho plena certeza que
ambos ficarão muito felizes. Saudade das
nossas risadas, mas um dia iremos rir
novamente, para sempre amarei vocês.
Os autores.
iv
AGRADECIMENTOS
v
RESUMO
O estudo acerca das influências que a eficiência volumétrica possui em relação a um motor de
ignição por centelha torna-se cada vez mais uma atividade essencial para o ramo da engenharia
mecânica, pois, a cada dia que se passa essa necessidade da existência de um motor mais
econômico, menos poluente e mais potente torna-se cada vez maior. O presente trabalho possui
como objetivo principal validar a afirmação realizada por Brunetti em 2012 de que a eficiência
volumétrica desse tipo de sistema está diretamente ligada às suas diversas variáveis, internas
ou externas ao motor. Essa validação é realizada por meio da avaliação das propriedades obtidas
durante seu funcionamento, como por exemplo a relação estequiométrica entre um combustível
com certa quantidade de massa de ar admitida para o interior dos cilindros. O motor utilizado é
o GM Powertech MPFI 1.0 com oito válvulas, considerado portador de baixa capacidade
volumétrica, tornando-o excelente objeto de estudo para aplicação desse conceito. Com o
intuito de propor mais segurança tanto nos testes quanto na obtenção dos dados é realizado o
reparo do veículo como um todo, e com o monitoramento das variáveis que influenciam na
eficiência volumétrica é calculada a eficiência volumétrica do motor em condição naturalmente
aspirado, e somente após essas tratativas é selecionado um turbocompressor que seja capaz de
proporcionar ao sistema um aumento significativo na quantidade de massa de ar admitida para
o interior dos cilindros, de modo que se obtenha um retorno significativo no quesito de torque
e potência.
vi
ABSTRACT
• The study about the influences that volumetric efficiency has in relation to a spark
ignition engine becomes increasingly an essential activity for the mechanical
engineering industry, because every day that there is a need for a more economical, less
polluting and more powerful engine becomes increasingly larger. The main objective of
this work is to validate the statement made by Brunetti in 2012 that the volumetric
efficiency of this type of system is directly linked to its various variables, internal or
external to the engine. This validation is performed by evaluating the properties
obtained during its operation, such as the stochiometric relationship between a fuel with
a certain amount of air mass allowed for the inside of the cylinders. The engine used is
the GM Powertech MPFI 1.0 with eight valves, considered carrier of low volumetric
capacity, making it an excellent object of study for the application of this concept. In
order to propose more safety both in the tests and in the data collection is performed the
repair of the vehicle as a whole, and with the monitoring of the variables that influence
the volumetric efficiency is calculated the volumetric efficiency of the engine in
naturally aspirated condition, and only after these treatments is selected a turbocharger
that is able to provide the system with a significant increase in the amount of air mass
allowed into the cylinders , so that a significant return is obtained in the torque and
power item.
• Key words: volumetric efficiency, stochiometric ratio, downsizing and turbocharger.
vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
viii
LISTA DE TABELA
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
Flex Flexible-Fuel ou combustível flex
MCI Motor de Combustão Interna
ICE Internal Combustion Engine
MIE Motor de Ignição Espontânea
MIF Motor de Ignição por Faísca
MIC Motor de Ignição por Centelha
MPFI Multi Point Fuel Injection ou múltiplos pontos de injeção de combustível
GM General Motors – fabricante de automóveis e componentes automotivos
MM Magnetti Marelli – fabricante de peças de reposição do ramo automotivo
VW Volkswagen – fabricante de automóveis e componentes automotivos
FA Fluido Ativo
PMI Ponto Morto Inferior
PMS Ponto Morto Superior
2T Motor com funcionamento baseado no ciclo de dois tempos
4T Motor com funcionamento baseado no ciclo de quatro tempos
TAI Temperatura de Autoignição
TC Taxa de Compressão
ECU Eletronic Control Unit ou unidade de controle eletrônico
WOT Wide-Open Throttle ou borboleta totalmente aberta
MAP Mass Air Flow ou medidor de fluxo mássico de ar
E27 Gasolina brasileira tipo “C” com teor de etanol igual a 27%
E95 Etanol hidratado – mistura de 95% de etanol com 5% de aditivo
C Carbono
H Hidrogênio
O Oxigênio
𝑂2 Gás oxigênio
x
LISTA DE VARIÁVEIS
𝜂𝑣 Eficiência volumétrica Adimensional
𝜂𝑣𝑝 Eficiência volumétrica perfeita Adimensional
𝑇𝑜𝑟 Torque N.m
𝑃𝑜𝑡ê𝑛−𝑊 Potência entregue em Watts W
𝑃𝑜𝑡𝑐𝑣 Potência entregue em Cavalos cv
𝑃𝑜𝑡ℎ𝑝 Potência entregue em horse power ou cavalo vapor HP
𝑃𝑜𝑡𝑤𝑒𝑙𝑙 Potência medida nas rodas em wheel horse power wHP
𝑁 Velocidade rotacional do virabrequim rps
𝑇 Temperatura K
𝑅 Constante universal dos gases ideais J/kg.K
%𝐶𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 Porcentagem molar de carbono na mistura de combustível Adimensional
%𝐻𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 Porcentagem molar de hidrogênio na mistura de combustível Adimensional
%𝑂𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 Porcentagem molar de oxigênio na mistura de combustível Adimensional
a Balanceamento molar de carbono na mistura de combustível mol/g
b Balanceamento molar de hidrogênio na mistura de combustível mol/g
c Balanceamento molar de oxigênio na mistura de combustível mol/g
𝑛𝑜 Moles necessários para oxidar certa quantidade de combustível mol/g
𝑀𝐶 Massa molar do carbono g/mol
𝑀𝐻 Massa molar do hidrogênio g/mol
𝑀𝑂 Massa molar do oxigênio g/mol
𝑀𝑎−𝑎𝑡 Massa molecular do ar atmosférico g
%𝑛𝑜−𝑎𝑡 Proporção de moles de oxigênio presente no ar atmosférico Adimensional
𝜌𝑎 Densidade atmosférica padrão do ar g/𝑚3
𝑉𝑑 Volume deslocado pelo cilindro 𝑚3
(𝐴/𝐶)𝑒𝑠𝑡 Relação estequiométrica entre o ar e o combustível Adimensional
λ Variável fornecida pelo sensor lambda Adimensional
ṁ𝑐 Consumo mássico horário de combustível realizado pelo motor g/s
ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 Consumo mássico horário real de ar seco admitido pelo motor g/s
ṁ𝑎−𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎 Consumo mássico teórico de ar g/s
𝑃𝑜𝑡ê𝑛−𝑊 Potência em estado de maior torque do MCI W
𝐶𝐸𝐶 Consumo Específico de Combustível g/Ws
𝑃𝐶𝐼 Poder Calorífico Inferior W/g
Ṡ𝑖𝑛𝑑𝑖 Vazão volumétrica indicada 𝑚3 /s
Ṡ𝑚á𝑥𝑖 Vazão volumétrica máxima 𝑚3 /s
𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜 Pressão absoluta kPa
𝑃𝑎𝑡𝑚𝑜𝑠 Pressão atmosférica kPa
𝑅𝑝 Razão de compressão Adimensional
𝑡𝑟𝑖𝑚 Razão de tamanho entre o indutor e a descarga Adimensional
𝑖𝑛𝑑𝑢𝑐𝑒𝑟 Tamanho do indutor m
𝑒𝑥𝑑𝑢𝑐𝑒𝑟 Tamanho da descarga m
A/R Razão de seção da voluta com o raio dos corpos do turbocompressor m
𝐴𝑣 Área de seção da voluta 𝑚2
𝑅𝑒 Raio do eixo do turbocompressor m
xi
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
1.1. OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 14
1.2. OBJETIVO ESPECÍFICO ................................................................................. 14
2. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ............................................................... 15
2.1. MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA – MCIs ........................................ 15
2.2. TEMPOS DO MOTOR...................................................................................... 17
2.2.1. Admissão ........................................................................................................ 17
2.2.2. Compressão ................................................................................................... 18
2.2.3. Combustão ..................................................................................................... 18
2.2.4. Exaustão ........................................................................................................ 18
2.3. FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO DOS MOTORES .... 19
2.3.1. Abertura e fechamento das válvulas ........................................................... 20
2.4. DADOS ORIGINAIS DO MOTOR EM ESTUDO .......................................... 21
2.5. CONCEITO DE POTÊNCIA ............................................................................ 21
2.6. CONCEITO DE TORQUE ................................................................................ 22
2.7. CONCEITO ACERCA DA RELAÇÃO AR-COMBUSTÍVEL ....................... 23
2.7.1. Sonda lambda ................................................................................................ 24
2.8. DOWNSIZING APLICADO À ENGENHARIA MECÂNICA ......................... 25
2.9. DINAMÔMETRO DE ROLO ........................................................................... 26
2.10. CONCEITOS ACERCA DA EFICIÊNCIA VOLUMÉTRICA ...................... 27
2.11. TURBOCOMPRESSOR.................................................................................. 30
3. METODOLOGIA ............................................................................................... 36
3.1. MÉTODO EXPERIMENTAL APLICADO NO MCI ...................................... 37
3.2. PREPARAÇÃO E SUBMISSÃO AO DINAMÔMETRO DE ROLO ............. 37
4. RESULTADOS PARCIAIS ............................................................................... 38
4.1. RESULTADOS OBTIDOS EM CONDIÇÕES ORIGINAIS ........................... 38
4.1.1. Determinação da eficiência volumétrica ..................................................... 39
4.1.2. Determinação do turbocompressor ............................................................. 43
4.1.3. Alteração das características físicas do veículo .......................................... 47
5. RESULTADOS FINAIS ..................................................................................... 49
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 51
xii
1. INTRODUÇÃO
13
O modelo de motor estudado é fabricado pela empresa General Motors (GM),
denominado Multi point fuel injection (MPFI) com capacidade volumétrica igual a 999 cm³,
quatro cilindros e oito válvulas, sendo duas válvulas por cilindro, uma de admissão e outra de
exaustão. Esse motor equipa um GM corsa sedan, fabricado no ano de 2003. A busca por
melhorias no quesito de desempenho durante o desenvolvimento dos motores é uma ação
constante, uma vez que é desejada a diminuição gradativa da emissão de poluentes na
atmosfera, mas nada impede de que sejam realizadas algumas alterações nas características
originais de fábrica deste veículo, tornando-o equiparado em níveis de desempenho e diversos
retornos positivos com os demais veículos da atualidade. Por conta disso, este trabalho
demonstra como aliar um conceito relativamente novo à engenharia mecânica, o downsizing.
Este trabalho possui como principal finalidade validar a afirmação exposta por Franco
Brunetti em 2012 acerca das diversas variáveis que influenciam na eficiência volumétrica de
um motor de combustão interna – cujo funcionamento é baseado no ciclo real de Otto –, por
meio da avaliação de diversas propriedades monitoradas durante o funcionamento do veículo
quando submetido a um dinamômetro de rolo.
14
2. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
15
de motor a mistura ar-combustível deve ser previamente dosada, pois se trata de um sistema de
injeção indireta com ambiente turbulento, cuja mistura tende ao equilíbrio estequiométrico, e
que posteriormente deve ser conduzida ao processo de queima, em que os gases de escape são
monitorados pelo sensor lambda.
Os motores alternativos são classificados de acordo com o número de tempos do ciclo
de operação do sistema, mas não deve ser confundido o conceito de tempo com processo, em
que o tempo é caracterizado pelo curso do pistão, movimentação do Ponto Morto Inferior (PMI)
ao Ponto Morto Superior (PMS), ou vice-versa.
Um motor de combustão interna conforme demonstra a Figura 1 é classificado como
portador de quatro tempos e capaz de realizar as quatro etapas do ciclo, admissão, compressão,
expansão e exaustão, em duas revoluções do virabrequim.
Figura 1 – sequência de trabalho do motor baseado no ciclo Otto.
Diferentemente dos motores baseados no ciclo Diesel, que são classificados como
Motores de Ignição Espontânea (MIEs), os Motores de Ignição por Faísca (MIFs) necessitam
de um sistema com propriedade elétrica capaz de gerar uma pequena fagulha para que inicie o
processo de ignição em cada cilindro. Nos MIEs o processo de combustão ocorre por meio da
capacidade da mistura ar-combustível entrar em processo de autoignição ocasionada pelo
contato direto com o ar quente no interior da câmara de combustão, uma consequência gerada
pela Temperatura de Autoignição (TAI) do combustível, a qual é ocasionada pelo aumento da
pressão no interior do cilindro.
Os motores de ignição por faísca possuem como característica a operação em taxas de
compressão relativamente baixas. A adoção dessas taxas inferiores é escolhida de forma
16
proposital justamente para não provocar a autoignição do fluido ativo antes que a faísca
proporcionada pelos eletrodos da vela seja lançada no interior de cada cilindro. De acordo com
Heywood (2006), o fenômeno da detonação é considerado um dos principais obstáculos no
quesito da busca pela melhoria da eficiência nos Motores de Ignição por Centelha (MICs).
2.2.1. Admissão
17
2.2.2. Compressão
2.2.3. Combustão
No momento em que o pistão se aproxima do PMS, ponto em que a mistura possui maior
nível de energia cinética, entre os pontos (3) e (4), a vela de ignição do sistema lança uma
centelha no interior da câmara de combustão, provocando sua combustão. Essa etapa é a única
capaz de gerar trabalho, tornando-a uma das principais diferenças entre os motores baseados no
ciclo Otto e Diesel.
2.2.4. Exaustão
18
2.3. FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO DOS MOTORES
De acordo com Brunetti (2012), é possível realizar a divisão da curva de torque em até
três partes, sendo elas.
➢ Baixa rotação, até 3000 rpm;
➢ Média rotação, acima de 3000 rpm e abaixo de 4000 rpm;
➢ Alta rotação, acima de 4000 rpm.
De acordo com Nabbout (2017), em baixas rotações o ar possui um baixo nível de
energia cinética ocasionando um fluxo mais lento e é por esse motivo que os MCIs possuem
déficits em relação ao completo preenchimento do cilindro, ocasionando um nível de torque
suavizado. Com o aumento proposital dos níveis de rotação do motor o fluxo de ar
consequentemente é elevado, proporcionando assim uma maior facilidade no preenchimento do
cilindro e consequentemente na entrega de torque até um ponto máximo.
19
2.3.1. Abertura e fechamento das válvulas
20
2.4. DADOS ORIGINAIS DO MOTOR EM ESTUDO
Os dados originários de fábrica servem como auxílio para uma melhor compreensão dos
fatos que podem ocorrer durante o estudo. Esses dados podem ser conferidos na Tabela 1.
Tabela 1 – motor GM 1.0 Powertech MPFI de 8 válvulas.
4 cilindros em linha, comando no cabeçote
Tipo
(SOHC), 8 válvulas.
Cilindrada 999 cm³
Taxa de compressão 9,4:1
Torque máximo/Potência Máxima 8,3 kgf.m (81,4 N.m) / 3.000 rpm
(NBR ISO 1585) 60 cv (44,1kW) / 6000 rpm
Injeção eletrônica multiponto Delphi, digital semi-
Formação da mistura sequencial, realimentação de sinal (closed loop),
catalizador trifásico.
Eletrônica mapeada, estática, E.S.T. (Eletrônico
Ignição Spark Timing), gerenciamento conjugado com
Sistema de ignição.
Consumo - NBR 7024 (km/l) Urbano: 11,3 km/l - Rodoviário: 16,8 km/l
Fonte: ESTADO DE MINAS – VRUM. Ficha técnica do corsa sedan 1.0 8V MPFI 4P. Disponível em: <
https://estadodeminas.vrum.com.br/fichatecnica/chevrolet/corsa/1999/004080-0>. Acessado em: 12 de julho de
2019, adaptada.
Segundo Brunetti (2012), um motor de combustão interna é definido como uma máquina
térmica e sua produção de potência provém do fornecimento de calor resultante da combustão
da mistura ar-combustível, resumindo-se no conceito do triângulo da combustão – calor,
oxigênio (ar) e o combustível. Também são observadas atualmente nos MCIs o aumento da
potência e torque sem que ocorra o aumento da cilindrada total do motor. Algumas melhorias
são proporcionadas principalmente pela possibilidade de sobrealimentação, então sendo
possível a redução da cilindrada total mantendo a mesma potência, essa alternativa vem
ganhando muito espaço no ramo automotivo juntamente com a redução do número de cilindros
do motor.
De acordo com Brunetti (2012), a redução do consumo de combustível a qual é
proporcionada pelo conceito do downsizing possui um melhor relacionamento quando o motor
21
opera em cargas parciais – borboleta parcialmente aberta – por causa da redução das perdas por
bombeamento causadas pela borboleta do corpo de aceleração. Ele ainda ressalta que um
exemplo desse tipo de conceito pode trazer reduções de consumo no ciclo urbano, que é
predominante a utilização de regimes em níveis de cargas parciais. Para que um motor atinja
valores de potência e torque comparáveis aos motores os quais possuem uma maior cilindrada,
é necessário realizar adequações nas formas de sobrealimentação, neste caso a turbocom-
pressão. De acordo com Brunetti (2012), a Tabela 2 demonstra uma estimativa genérica entre
os diferentes tipos de aspiração nos MIFs e MIEs nos quesitos de potência e torque.
O torque é responsável pela capacidade em que um motor possui para produzir uma
força motriz, a qual se resume em um movimento giratório. Essa força é a responsável pela
ação de movimento do veículo, ultrapassando o limite máximo de inércia, possibilitando
arrancar do lugar e também a vencer ladeiras consideradas íngremes, ou seja, quanto maior for
sua massa maior deverá seu torque para que esse veículo consiga operar. Cada motor possui
por natureza de projeto uma faixa ideal de operação em que o torque apresenta-se em maior
intensidade durante o processo de desempenho. O ponto de maior torque de um motor será
quando as extremidades de alavanca formarem uma máxima distância perpendicular entre o
centro de rotação do virabrequim junto ao seu ponto coincidente com a biela.
De acordo com Brunetti (2012), o desempenho de um MCI está fortemente relacionado
à quantidade de ar que é aspirado para o interior dos cilindros por meio do processo de admissão
e retirado posteriormente pelo processo de exaustão, pois quanto maior é o fluxo de admissão
maior é a quantidade de combustível que deve ser adicionado para uma equilibrada oxidação
do fluido ativo.
22
2.7. CONCEITO ACERCA DA RELAÇÃO AR-COMBUSTÍVEL
Para que um motor seja capaz de operar em níveis satisfatórios de eficiência é necessário
a correta dosagem do combustível para que seja fornecido ao sistema uma boa relação
estequiométrica – comburente/combustível – a qual é admitida para o interior dos cilindros pela
junção dos sistemas de admissão e injeção eletrônica em quantidades precisas desses elementos,
determinando então uma relação ideal de combustão. A incorreta dosagem e inserção no sistema
desse combustível que compõe o fluido ativo fará com que o motor não atinja seu ponto de
maior rendimento, em alguns casos extremos poderá até danificá-lo.
Os tipos de mistura usualmente são divididos em três, sendo eles: estequiométrica,
mistura rica e mistura pobre, conforme especificados a seguir.
➢ Uma mistura estequiométrica é quando a relação ar-combustível encontra-se em
níveis ideais, com uma quantidade de ar ideal para queimar todo o combustível presente no
interior da câmara de combustão, caracterizando teoricamente uma combustão perfeita;
➢ A mistura rica ocorre quando é admitido para o interior dos cilindros uma maior
quantidade de combustível que o necessário em relação à quantidade mássica de ar, em que
uma parte desse combustível não será queimada, tornando-a incompleta e consequentemente
aumentando os níveis de emissão de poluentes ao ambiente em que se utiliza o veículo;
➢ Uma mistura pobre ocorre quando uma mistura possui menos combustível que
o necessário, cuja parte do oxigênio admitido não é utilizado, mas a combustão também ocorre
de maneira ineficiente e o nível de emissão de poluentes também aumenta.
Segundo Martinelli (2008), uma combustão em nível ideal de mistura ou estequio-
métrica ocorre quando seus resíduos de queima fornecem ao corpo de escapamento somente
dióxido de carbono, água e nitrogênio, mas devido às imperfeições da própria câmara de
combustão sempre existirá gases poluentes neste ambiente em que esse nível estequiométrico
varia de acordo com a utilização de cada combustível. Ele ainda ressalta que uma combustão
incompleta produz além do dióxido de carbono e do vapor de água mais alguns poluentes, como
por exemplo o monóxido de carbono, em níveis a partir de 0,3% no ambiente é capaz de
provocar a morte de um ser humano adulto em cerca de trinta minutos, hidrocarbonetos,
combustível não queimado, e óxidos de nitrogênio, o qual é a associação do nitrogênio com o
oxigênio.
23
2.7.1. Sonda lambda
De acordo com TEM-Thompson (2004), uma sonda lambda pode ser definida como
sendo um elemento em forma de dedal composto por dióxido de zircônio, um material
cerâmico, o qual possui uma fina camada interna e externa composta por platina microporosa
resumindo-se numa célula galvânica ou uma pilha. Sua propriedade de percepção elétrica torna-
se possível quando a camada de dióxido de zircônio é aquecida em torno de 300ºC, conduzindo
íons de oxigênio da camada interna de platina em contato direto com a atmosfera para a camada
externa em contato com os gases de exaustão.
De acordo com Faggi ( 2012), o funcionamento dos motores dos mais variados tipos de
veículos tende a operar com o coeficiente de lambda próximo ou igual a 1. O nível de equilíbrio
estequiométrico proporciona um menor nível de emissão de poluentes e menor consumo de
combustível, mas esse estado somente é possível em condições de operação com o corpo de
borboleta totalmente aberta, em Wide Open Throttle (WOT). O sensor lambda possui como
característica a capacidade de detecção do teor de oxigênio nos gases de escape, que logo em
seguida essa leitura é transmitida à Eletronic Control Unit (ECU) do veículo quanto a sua
presença em relação ao ar de amostragem dentro do sensor para a realização do cálculo
estequiométrico. A ECU em certos momentos não utiliza esses valores captados nesse cálculo,
como por exemplo na fase fria, pois a mistura sempre deve ser rica para facilitar a ignição do
sistema, na aceleração rápida ou em plena carga, em WOT, e na desaceleração do MCI. A Figura
5 demonstra a constituição deste sensor, em situação de mistura rica, com menor teor de
oxigênio no processo pós queima, e em situação de mistura pobre, com maior teor de oxigênio
após a combustão.
Figura 5 – constituição do sensor lambda.
Mistura rica Mistura pobre
27
substâncias são nomeados como a, b e c, respectivamente, e adotados com a mesma simbologia
neste estudo, cujo equacionamento pode ser conferido nas Equações 1, 2 e 3.
%𝐶𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎
𝑎= Eq. 1
𝑀𝐶
%𝐻𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎
𝑏= Eq. 2
𝑀𝐻
%𝑂𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎
𝑐= Eq. 3
𝑀𝑂
onde,
• 𝑎, corresponde ao balanceamento molar de carbono em meio ao combustível;
• 𝑏, corresponde ao balanceamento molar de hidrogênio em meio ao combustível;
• 𝑐, corresponde ao balanceamento de oxigênio em meio ao combustível;
• %𝐶𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 , é a porcentagem molar de carbono na mistura de combustível;
• %𝐻𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 , é a porcentagem molar de hidrogênio na mistura de combustível;
• %𝑂𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 , é a porcentagem molar de oxigênio na mistura de combustível;
• 𝑀𝐶 , é a massa molar do carbono;
• 𝑀𝐻 , é a massa molar do hidrogênio;
• 𝑀𝑂 , é a massa molar do oxigênio.
De acordo com Heywood (1988), com o auxílio das porcentagens molares é possível
definir a quantidade necessária de moles de gás oxigênio, 𝑂2, para oxidar completamente certa
quantidade de combustível, a qual pode ser relacionada de acordo com a Equação 4.
𝑏 𝑐
𝑛𝑜 = 𝑎 + 4 − 2 Eq. 4
onde,
• 𝑛𝑜 , corresponde ao número de moles necessários para uma combustão completa.
A realização do processo de combustão não se dá graças à utilização do oxigênio como
fluido completo, mas sim do uso do ar atmosférico, sendo necessário a estimativa da proporção
de oxigênio presente nele. Segundo Jones (1978), a proporção de moles de oxigênio – %𝑛𝑜−𝑎𝑡
– é igual a 20,496% por molécula de ar atmosférico seco.
De acordo com Jones (1978), o valor dessa massa molecular atmosférica – 𝑀𝑎−𝑎𝑡 –
𝑔
calculado por ele é igual a 28,963 𝑚𝑜𝑙, valor esse também adotado nesta obra.
onde,
• ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 , representa o consumo mássico horário de ar seco realizado pelo motor;
• 𝜆, corresponde à análise feita pelo sensor lambda no processo pós queima;
• ṁ𝑐 , representa o consumo mássico horário de combustível do motor;
• (A/C)𝑒𝑠𝑡 , corresponde à relação estequiométrica entre o ar e o combustível.
Um conceito válido de ser ressaltado neste momento é em relação à eficiência
volumétrica entre os motores baseados no ciclo Otto teórico e real, este capaz de admitir
somente uma quantidade menor de ar do que seria possível. Outro fator importante de ser
lembrado é a impossibilidade de conversão integral da energia do combustível em energia útil,
sendo parte dessa desperdiçada no processo de fricção entre os diversos componentes do motor,
bombeamento do próprio sistema e no acionamento dos acessórios de funcionamento.
Um motor baseado no ciclo real é incapaz de preencher por completo sua capacidade
volumétrica, pois o caminho percorrido pelo ar que é admitido ocasiona atrito, resultando em
perdas para o motor como por exemplo a resistência de ultrapassagem do ar pela película física
de filtragem de ar.
De acordo com Heywood (1988), a vazão de ar que teoricamente pode ser admitida pelo
cilindro do motor pode ser estimada com o auxílio da seguinte Equação 7.
𝜌𝑎 .𝑉𝑑 .𝑁
ṁ𝑎,𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎 = Eq. 7
2
onde,
• 𝜌𝑎 , se refere a densidade do ar tratado como gás ideal;
29
• 𝑉𝑑 , corresponde ao volume deslocado por cada pistão individualmente;
• 𝑁, corresponde à velocidade rotacional do próprio virabrequim;
• O fator de razão dois dessa equação refere-se à realização de um tempo de expansão a
cada duas rotações do virabrequim, pois se trata de um motor baseado em quatro tempos.
A obtenção da eficiência volumétrica do motor em estudo é realizada por meio da
utilização da Equação 8, a mesma utilizada por Villela et al. em 2014 para estimativa das
mesmas características em seu motor de estudo. Este equacionamento relaciona a vazão mássica
real de ar admitida pelo motor com a vazão mássica teórica que o MCI poderia admitir em
condições ideais de teste ou uso.
onde,
• 𝜂𝑣 , corresponde à eficiência volumétrica do motor;
• ṁ𝑎,𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎 , é o fluxo de vazão mássica teórica do ar admitido pelo motor.
A obtenção da atual densidade ar corresponde ao ar seco atmosférico, portanto a
eficiência volumétrica obtida corresponde à totalidade do sistema de admissão de ar.
É notável a percepção que os atuais veículos do mercado normalmente operem em
pontos distantes da máxima eficiência volumétrica. Essa dispersão é provocada pela limitação
de admissão do ar provocada pelo corpo borboleta, que é atingida com o motor em plena carga
de funcionamento, em WOT.
2.11. TURBOCOMPRESSOR
onde,
• 𝐶𝐸𝐶, corresponde ao consumo específico de combustível;
• 𝑃𝐶𝐼, corresponde ao poder calorífico inferior da gasolina;
• 𝜂𝑇 , corresponde à eficiência térmica do motor.
Com a obtenção do consumo específico de combustível é possível calcular a vazão
mássica da mistura, pois, a massa de combustível possui dependência direta em relação à massa
de ar admitida. A relação ar-combustível aplicada pelos fabricantes tende ao equilíbrio
estequiométrico, mas em alguns casos o projeto do sistema pode ser direcionado à operação por
meio da mistura pobre, com fator de correção lambda maior que um (𝜆 > 1) indicando maior
quantidade de oxigênio na mistura.
Considerando a potência no momento de pico de torque do motor juntamente com a
utilização da gasolina como combustível que compõe o fluido ativo, e aplicada na Equação 11
também é possível determinar a vazão mássica real de ar.
ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 = 𝑃𝑜𝑡ê𝑛−𝑊 . 𝜆. 𝐶𝐸𝐶 Eq. 11
onde,
• ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 , representa o consumo mássico horário de ar seco realizado pelo motor;
• 𝑃𝑜𝑡ê𝑛−𝑊 , corresponde à potência no instante de maior torque;
• 𝜆, corresponde à análise feita pelo sensor lambda no processo pós queima;
• 𝐶𝐸𝐶, corresponde ao consumo específico de combustível;
A vazão volumétrica indicada, Ṡ𝑖𝑛𝑑𝑖 , pode ser determinada por meio da utilização da
Equação 12, que relaciona a densidade do ar com a vazão mássica do ar.
ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙
Ṡ𝑖𝑛𝑑𝑖 = Eq. 12
𝜌𝑎
onde,
• Ṡ𝑖𝑛𝑑𝑖 , corresponde à vazão volumétrica indicada;
32
• ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 , representa o consumo mássico horário de ar seco realizado pelo motor;
• 𝜌𝑎 , se refere a densidade do ar tratado como gás ideal.
Considerando uma perfeita admissão realizada pelo sistema, um máximo rendimento
volumétrico (𝜂𝑣 = 1), a vazão volumétrica máxima do sistema, Ṡ𝑚á𝑥𝑖 , pode ser obtida por meio
da utilização da Equação 13.
𝑉𝑑 .𝑁
Ṡ𝑚á𝑥𝑖 = . 𝜂𝑣𝑝 Eq. 13
2
onde,
• Ṡ𝑖𝑛𝑑𝑖 , corresponde à vazão volumétrica indicada;
• 𝑉𝑑 , corresponde ao volume deslocado por cada pistão individualmente;
• 𝑁, corresponde à velocidade rotacional do próprio virabrequim;
• 𝜂𝑣𝑝 , corresponde à eficiência volumétrica perfeita.
A pressão absoluta, 𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜 , que é necessária para que o motor alcance a nova potência,
motivo de implementação do turbocompressor, é obtida por meio da realização de algumas
alterações na equação dos gases ideais, cujo número de moles por massa é substituído pela
própria massa de ar, resultando na Equação 14.
2.ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 .𝑅.𝑇
𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜 = Eq. 14
𝜂𝑇 .𝑁.𝑉𝑑
onde,
• 𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜 , corresponde à pressão absoluta;
• ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 , representa o consumo mássico horário de ar seco realizado pelo motor;
• 𝑅, corresponde à constante universal dos gases ideais;
• 𝑇, corresponda à temperatura de admissão;
• 𝜂𝑇 , representa a eficiência térmica do motor.
• 𝑁, corresponde à velocidade rotacional do próprio virabrequim;
• 𝑉𝑑 , corresponde ao volume deslocado por cada pistão individualmente.
onde,
• 𝑅𝑝 , corresponde à razão de compressão;
33
• 𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜 , corresponde à pressão absoluta necessária para o MCI alcançar a potência
desejada;
• 𝑃𝑎𝑡𝑚𝑜𝑠 , corresponda à pressão atmosférica.
Tanto o comportamento quanto a seleção de um turbocompressor são definidos por meio
de consultas embasadas em gráficos que demonstram à relação entre a razão de pressão e sua
taxa de escoamento do fluxo mássico de ar. A área útil do gráfico expõe as ilhas de eficiência,
as curvas de sobrecargas, as curvas de estrangulamento e a velocidade de trabalho do
compressor. A vazão volumétrica máxima de um compressor centrífugo é normalmente
limitada pela área de admissão do próprio compressor. Quando a vazão máxima do compressor
de admissão é atingida, não é possível que ocorra nenhuma tipologia de aumento da vazão
volumétrica.
A seleção de um turbocompressor que possua as melhores características e que melhor
atenda o projeto é realmente um desafio, neste caso durante o uso urbano, principalmente
quando relacionado ao acoplamento à uma máquina de fluxo. Graças ao ganho de velocidade
do rotor desse componente o ar é admitido de modo axial, e consequentemente adquiri um fluxo
acelerado em relação ao seu estado anterior, atingindo uma alta velocidade que posteriormente
é expelido por meio de um direcionamento axial como é exposto na Figura 8.
Figura 8 – fluxo no turbocompressor.
onde,
• 𝑡𝑟𝑖𝑚, é a razão do tamanho entre o indutor e o corpo de descarga;
• 𝑖𝑛𝑑𝑢𝑐𝑒𝑟, corresponde ao tamanho do indutor;
• 𝑒𝑥𝑑𝑢𝑐𝑒𝑟, corresponde ao tamanho do corpo de descarga.
𝐴
A razão entre a área de seção da voluta e o raio do eixo, 𝑅, determina a geometria do
onde,
• 𝐴𝑣 , corresponde à área de seção da voluta;
• 𝑅𝑒 , corresponde ao raio do eixo.
Relações menores demonstram que o turbocompressor opera em menores níveis de
rotação, mas em casos de grande razão entre a área da seção da voluta e o raio do eixo é
necessário a presença de um grande fluxo de vazão mássica de ar para ocorrer o total
preenchimento. Esse fenômeno acarreta um efeito indesejável ao sistema, denominado como
turbo lag, que consiste no retardamento do sistema, presente em níveis inferiores de rotação,
conforme exposto na Figura 9.
Figura 9 – corpo de turbina.
O estudo das variáveis que interferem sobre a eficiência volumétrica deste MCI, tema
proposto por Brunetti em 2012, é dividido em duas partes, expostas da seguinte forma:
➢ Avaliar o desempenho do motor quando submetido ao dinamômetro de rolo e estimar
as características que influenciam na eficiência volumétrica do MCI;
➢ Determinar um modelo de turbocompressor comercial que melhor atenda às
características do sistema.
A segmentação que é aderida durante o processo de realização deste estudo, obedece a
três pilares essenciais conforme exposto na Figura 10.
36
3.1. MÉTODO EXPERIMENTAL APLICADO NO MCI
37
4. RESULTADOS PARCIAIS
39
Ao analisar a plotagem gráfica da Figura 12 é notada um pico de rotação do motor
ocasionado pela aceleração do sistema, e consequentemente o sensor lambda entrega uma
captura de dados direcionados a uma mistura pobre. Esse fator de proporção pobre é esperado,
pois, com o aumento da rotação do MCI o nível de fluxo mássica de ar admitido para o interior
dos cilindros é aumentado de maneira muito repentina, resultando em uma combustão com
menor quantidade de combustível, e logo em seguida é notada um aumento gradativo da
voltagem entregue por esse sensor, isso se dá graças à correção realizada pelo sensor MAP. É
notado um pequeno atraso na ação de correção da proporção de mistura, isso se dá graças ao
tempo que todo o sistema, desde de o início da admissão do ar, necessita para realizar a correção
estimada pelo conversor de dados entregues pelo sensor Lambda. O Os dados obtidos por meio
da interface de observação do sensor MAP numa rotação igual a 3181 rpm, demonstra um valor
de sensor lambda igual a 0,95, valor esse utilizado durante o processo de determinação do fluxo
mássico real do ar admitido nesse ponto. É constatado também nesse nível de rotação um
𝑔
consumo mássico de combustível realizado pelo motor igual a 2,328842132 𝑠 .
Com o auxílio dos dados obtidos até o momento é possível inseri-los na Equação 6 para
que seja possível a determinação do fluxo mássico real de ar, ṁ𝑎−𝑟𝑒𝑎𝑙 , que é admitido pelo
𝑔
sistema, resultando no valor de 29,08077645 𝑠 . Para avaliação inicial da aspiração do ar
100 85
Pressão de coletor
80 72
60
(mbar)
60
42,5
35,1
40
20
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
Rotação (rpm)
Fonte: autoria própria (2019).
40
cilindros do sistema, sua cilindrada total, juntamente com o número de rotações realizadas pela
𝑔
árvore de manivelas, resultando no valor igual a 31,3544808 𝑠 . Como o motor não opera em
regime único é necessário a realização do cálculo da vazão mássica de mistura real nos
específicos níveis de rotação impostos ao MCI. A Equação 6 é aplicada para determinar essa
vazão em qualquer nível de rotação, conforme exposto na Tabela 6.
Tabela 6 – vazão mássica real de mistura do motor original.
Vazão mássica real em diversas rotações
Rotação de estudo (rpm): Vazão mássica de mistura real (g/s):
3000 37,5
4000 50,1667
5000 62,5
6000 75,1667
Fonte: autoria própria (2019).
É obtido o resultado de potência máxima estimada nas rodas do veículo igual a 48,87
whp (≅ 49,54 cv) em faixa de rotação de 5615 rpm e um torque máximo de 6,87 kgf.m (≅
67,374 N.m) para a estimativa de 3181 rpm. Esses parâmetros são observados em velocidade
máxima de 88 km/h. Essas características são observadas na Figura 14, obtidos pelo próprio
sistema de software do aparelho.
100%
98%
96%
Eficiência volumétrica
94% 92,7%
92% 90,7% 91,1% 90,2% 89,8%
90,1%
90%
88,3% 89,7% 87,6%
88% 86,4%
87,3%
86%
84%
82%
80%
1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
Rotação - RPM
Fonte: autoria própria (2019).
É possível notar uma forte relação entre os quesitos de torque e eficiência de admissão
nas Figuras 14 e 15, em que esta corresponde aos valores obtidos por meio dos equacionamentos
da eficiência volumétrica e aquela ao desempenho obtido após a submissão do motor ao
dinamômetro de rolo. A relação entre essas duas imagens já era um fato esperado, pois, de
acordo com Brunetti (2012), o torque está relacionado com a quantidade de ar que é admitida
para o interior dos cilindros, e com uma eficiência volumétrica elevada esse desempenho torna-
se apenas uma consequência.
Os dados obtidos após a plotagem gráfica da eficiência volumétrica deste MCI
confirmam a afirmação realizada por Heywood em 1988, a qual é direcionada à estimativa da
quantidade realmente admitida por um motor com a efetividade do sistema de admissão,
resumidamente denominada por ele como eficiência volumétrica.
42
4.1.2. Determinação do turbocompressor
60 50,65 49,67
50 44,15
40 34,02 36,82
vazão de ar (g/s)
29,41 31,3
30 21,17
16,56
20
7,33 7,56
10
0
500 1500 2500 3500 4500 5500 6500
Rotação (rpm)
70
55 54
60 48
Potência (cv)
50 40
34 37
40 32
30 24
18
20 14
8
10
0
500 1500 2500 3500 4500 5500 6500
Rotação (rpm)
Fonte: autoria própria (2019).
43
No maior ponto de eficiência volumétrica do motor é constatada a mesma vazão mássica
𝑔
real de ar que foi obtida com a aplicação da Equação 6, igual a 29,08077645 𝑠 . Graças à
determinação do novo valor da vazão mássica de mistura fresca que escoa para o interior do
cilindro é possível determinar a pressão absoluta, 𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜 , com o auxílio da Equação 14.
Um fator determinante na seleção do turbocompressor comercialmente acessível é
demonstrado na Figura 18. Nela é possível observar que pequenos deslocamentos de ar
mediante a cilindrada de até dois litros com menos de 200 cv, existem três modelos possíveis
de ratificação.
Figura 18 – mapeamento Garret.
44
dele, alcançando os objetivos de potência, torque, consumo de combustível e emissão de
poluentes.
Entre os três modelos localizados no gráfico acima o que possui uma maior eficiência
𝐴
de turbina é a GT20, mas a relação de geometria desse modelo não é recomendada para um
𝑅
motor que possua uma cilindrada inferior a 1,4 𝑚3 , pois, esse fator resulta no fenômeno
indesejável de turbo lag no motor GM 1.0 MPFI.
O modelo GT12 possui uma geometria de voluta maior no corpo de turbina quando
comparada ao compressor, que após a plotagem gráfica ocasiona na dedução de que esse
modelo preza pelo trabalho em baixas rotações, menores que 3000 rpm, tornando-o inviável ao
projeto. É determinado que o modelo que melhor atende a este projeto é o modelo GT15, o qual
é possível de atuar em sintonia com motores desde a amplitude de 1.0 a 1.6 e possui uma faixa
de potência a qual varia ente 100 a 200 cv de potência.
Considerando a pressão de sobrealimentação igual a 0,7 bar obtida por meio da
realização dos cálculos anteriores e com parâmetro de rotação estipulado em 6500 rpm, é
indicado na representação gráfica do compressor modelo GT15 os pontos situados na
intersecção entre as escalas vertical e horizontal.
A aplicabilidade da Equação 15 proporciona a obtenção da razão de pressão igual a 1,71,
significando um aumento igual a 0,71 bar ou 71 kPa em relação à pressão atmosférica, portanto,
a pressurização do turbo que atende as necessidades impostas torna-se igual a 0,7 bar. Com o
auxílio da Equação 16 é possível definir que quanto maior o trim maior será o fluxo mássico de
ar que escoa pelo interior do turbocompressor, entretanto quanto menor for o rotor de turbina
mais aceleração ganhará em menores níveis de vazão no ponto de escape.
Considerações e aproximações são feitas na plotagem gráfica dos pontos no mapa do
compressor da marca Garret de modelo GT15, sendo elas.
➢ Utilização da equação de Clapeyron em função das vazões mássicas;
➢ Pressão absoluta de trabalho igual a 156,65 𝑘𝑃𝑎;
➢ Eficiência volumétrica indicada em torno de 93%;
𝐽
➢ Constante de gás ideal igual a 286,90 ;
𝑘𝑔.𝐾
45
É exposto na Figura 19 as intersecções que melhor representam a plotagem gráfica em
diversas situações de rotação.
Figura 19 – mapa da turbina GT15 45mm, 60 trim, 0.48 A/R.
Por meio da Figura 19 é possível extrair várias informações, sendo algumas delas em
𝑔
3000 rpm com uma razão de pressão igual a 1,65 e fluxo mássico de ar corrigido de 45,8 𝑠 , em
𝑔
6000 rpm com uma razão de pressão igual 1,7 e com um fluxo de ar corrigido de 78,5 e
𝑠
também em 6500 rpm com uma razão de pressão igual a 1,7 e com fluxo de ar corrigido igual
𝑔
a 85,2 𝑠 , respectivamente.
A linha de estrangulamento que delimita a máxima vazão está localizada à direita das
representações das ilhas de eficiência, denominada choke line. Está localizado na parte esquerda
do gráfico a linha de sobrecarga, denominada surge line, a qual é resumidamente formada pela
falta de fluxo de ar na entrada do compressor, possuindo vazão volumétrica muito pequena em
relação a sua razão de compressão elevada, resultando na não aderência da vazão às pás do
rotor e consequentemente ocasionando a interrupção do processo de descarga.
46
O aumento direcionado aos níveis de eficiência do motor proporcionado pelas turbinas
não se encontram acionados a todo instante, mas sim a partir de determinados níveis de rotações
realizados pelo MCI e no caso do modelo GT15 da marca Garret, isso não seria diferente.
𝑔
Esse modelo possui um fluxo de vazão mássica igual a 37,8 em 3000 rpm e o início
𝑠
Para que ocorra uma melhor condução elétrica e por motivos preventivos à corrosão do
eletrodo de vela, esse condutor foi substituído por um modelo mais moderno com melhores
características de construção e materiais mais nobres. O modelo adquirido pela equipe foi o
LFR7AIX Iridium grau 7 da marca NGK, renomada fabricante deste tipo de componente. Esse
modelo possui uma construção baseada em metal nobre, neste caso o Iridium, com alta
resistência ao desgaste, principalmente térmico, que possibilita a redução do diâmetro do
eletrodo central, de 0,4mm a 0,6mm, proporcionando uma melhor ignição e maior durabilidade
da estrutura. A alteração pela vela de Iridium de acordo com a própria fabricante possibilita
demais melhorias ao sistema, como por exemplo uma maior economia de combustível, maior
estabilidade em marcha lenta, partida a frio facilitada, menor índice de falhas de ignição, uma
considerável redução no quesito de emissão de poluentes, e por ser um eletrodo do tipo resistivo
evita interferência no sistema eletrônico do veículo.
O primeiro desafio encontrado pela equipe durante a implementação do turbocompres-
sor foi a necessidade de deslocamento do corpo de turboalimentação para a parte posterior e
47
inferior do motor por meio do auxílio de um tubo de alimentação do processo de admissão,
denominado tubo de pressão positiva. O deslocamento do turbocompressor é ocasionado graças
à ausência de espaço físico na parte superior do COF do motor, cuja melhor localidade para
essa situação foi a opção pelo deslocamento desse corpo. A Figura 21 demonstra perfeitamente
essa ação.
48
5. RESULTADOS FINAIS
Este trabalho serve como uma eficaz ferramenta tanto para aqueles que possuem sede
de conhecimento no ramo da Engenharia Mecânica quanto para qualquer pessoa que se
interesse pelos assuntos relacionados ao torque, à potência, à turboalimentação e demais
assuntos relacionados ao aprimoramento de um motor de combustão interna. As melhorias tanto
em sistemas quanto em processos são, em seu cerne, junções de várias ideias formuladas por
diversos pesquisadores ao longo da trajetória em busca de melhoria e aperfeiçoamento, que são
comprovadas pela prática e aplicação de seus conceitos, que neste caso torna-se uma fonte de
conhecimentos adquiridos ao longo da trajetória deste curso de formação, o qual une diversas
fontes de pesquisa e ideias já trabalhadas, todas citadas em Referências.
No trajeto inicial são tratadas as noções em que o motor enquadra-se e proporciona,
como por exemplo suas características de performance, tempo de uso, revisão dos conjuntos
essenciais, condições de uso em ambientes mistos, dados do fabricante etc. Durante o
desenvolvimento desta obra é realizado o levantamento no campo da literatura tanto dos dados
quanto dos conceitos determinantes aos processos. Primeiramente são coletados os dados
divulgados pela fabricante do veículo, e em segunda instância todo o conjunto veicular é
submetido ao dinamômetro de rolo.
Durante o processo de submissão do veículo ao dinamômetro de rolo e realização dos
testes de aferição, todas as variáveis que influenciam ou que podem atingir a eficiência
volumétrica deste motor são monitoradas com o auxílio do software da NAPRO. Com o
manuseio de todas as equações expostas no referencial bibliográfico é possível constatar a
veracidade da afirmação realizada por Brunetti em 2012, de que a eficiência volumétrica de um
motor de combustão interna está diretamente relacionada a diversas variáveis do sistema, que
consequentemente impactam diretamente no quesito torque. Essas variáveis analisadas, com
maior influência sobre a eficiência volumétrica, são relacionadas à vazão mássica de ar que
adentra o corpo do coletor de admissão, à temperatura do ar no interior desse coletor – atinge
diretamente na densidade do fluxo mássico de ar –, rotação do virabrequim e proporção
estequiométrica momentânea da mistura que é captada pelo sensor Lambda nos gases de
exaustão no interior do coletor de escape.
É possível notar algumas dispersões nos testes do motor utilizado em relação às
informações coletadas na literatura, com aproximadamente 17,43 % menos torque, 17,23 %
menos potência e autonomias inferiores no uso urbano e rodoviário, este com 5,31% e aquele
com 26,76%. Após a implementação do turbocompressor é esperado um aumento de
49
aproximadamente 137,5 % (≅ 160 N.m) em torque e 146,3 % (≅ 122 cv) em potência, porém
consequentemente o consumo irá aumentar em 39,25 % durante o uso urbano e 26,83 % no uso
rodoviário.
Como recomendação para realização de trabalhos futuros é possível realizar melhorias
no motor, como por exemplo a substituição ou troca dos sensores (de admissão, Lambda etc)
com o intuito de obter uma melhor leitura do fluxo mássico de admissão e gases de exaustão.
Também é interessante que estudos sejam direcionados às vertentes do combustível utilizado,
podendo abordar sua pureza e composição, e quais podem ser os benefícios em alternar entre
uma composição de fluido ativo em relação a outra com o motor após o processo de turbinagem.
50
6. REFERÊNCIAS
51
PASTORELLI, P. P. Análise numérica da implementação de um turbocompressor
em motor monocilíndrico para competição fórmula SAE. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Automotiva) – Departamento de Engenharias da Mobilidade,
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, 2015.
RODRIGUES, T. M. “Downsizing” em motores de combustão interna: uma
abordagem de inovação tecnológica. Especialização (Engenharia Automotiva) – Escola de
Engenharia Mauá, Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul,
2014.
VILLELA, A. C. S.; CARVALHO, R. N. Fuel consumption technical and economical
study for flexible fuel vehicles, São Paulo, Brasil: SAE technical paper, v. 23, n. 2, p. 1-5.
52