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Dentro de um abraço
(Martha Medeiros)
Onde é que você gostaria de estar agora, neste exato momento?
Fico pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num
determinado restaurante de uma ilha grega, em diversas praias do Brasil e do mundo, na casa de bons
amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa
sala de cinema assistindo à estreia de um filme muito esperado e, principalmente, no meu quarto e na
minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar – a intimidade da gente é irreproduzível.
Posso também listar os lugares onde não gostaria de estar: num leito de hospital, numa fila de banco,
numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira
de dentista.
E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?
Meu palpite: dentro de um abraço.
Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente
com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre
seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que
você pensa e sofre dentro de um abraço se dissolve. Que lugar melhor para um recém-nascido, para um
recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma
situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.
O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre
se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço
voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito. [...]