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Esta nota apresenta as principais mensagens e acções que surgiram do Workshop de Intervenientes sobre a Gestão
Sustentável dos Pequenos Sistemas de Abastecimento de Água em África, realizado em Maputo, Moçambique, nos
dias 6 a 8 de Outubro de 2010. O workshop teve como objectivo fazer um balanço de 20 anos de esforços nos países
africanos para melhorar a qualidade dos serviços de abastecimento de água através da delegação da gestão dos
pequenos sistemas de abastecimento de água a operadores privados ou associações de utentes.
As vilas e os centros rurais de crescimento são de extrema
importância estratégica para o desenvolvimento económico
e social em África.
A gestão delegada dos pequenos sistemas de abastecimento
de água é um elemento fundamental da maioria das estratégias
nacionais.
© WSP/Luis Macaria
(213) e Mali (703).
Rumo a uma
gestão sustentável:
PRINCIPAIS
MENSAGENS
A gestão delegada dos pequenos sistemas
de abastecimento de água é um elemento
fundamental da maioria das estratégias
nacionais.
A gestão delegada está a crescer
rapidamente. A gestão delegada
nacionais, podem variar de 2.000 a 50.000 sustentável destes pequenos sistemas de
caracteriza-se pelo estabelecimento de
habitantes. Eles oferecem oportunidades abastecimento de água está a tornar-se
uma relação contratual entre uma entidade
económicas e são vitais para conter a cada vez mais importante à medida que os
contratante e um operador. A entidade
migração rural-urbana e a acumulação dos sistemas de água canalizada continuam a
contratante é responsável por assegurar
pobres desempregados nas zonas peri- crescer nas áreas rurais e semi-urbanas.
os serviços de abastecimento de água e é
urbanas das grandes cidades.
o dono do património. O operador presta
Sistemas sustentáveis de abastecimento
serviços de acordo com as condições
Por isso, os governos africanos vêm de água fazem parte integrante da boa
do contrato. Esta separação de funções
construindo sistemas de água canalizada governação local. Com a implementação
e responsabilidades é um elemento
nos pequenos centros de crescimento ao da descentralização, os governos
fundamental de um serviço sustentável.
longo dos últimos 20 anos. Esta tendência locais nas vilas e áreas rurais vêm
tem vindo a aumentar rapidamente desde progressivamente aumentando seus
O workshop documentou um forte
o início de 2000. Em 2010, 15% a 20% da poderes ao longo dos últimos 20 anos. Os
crescimento da gestão delegada ao longo
população rural dos países africanos mora governos locais actuam com poderes a
dos últimos dez anos. 25% dos pequenos
na área de serviço de um pequeno sistema eles delegados pela legislação nacional em
sistemas de abastecimento de água (em
de abastecimento de água. Em países domínios como a educação, saúde ou meio
dez dos países participantes) já estão sob
como o Senegal, Ruanda e Mauritânia, ambiente. O número de governos locais
gestão delegada, e em alguns países essa
isto chega a mais de 30%. A gestão varia de algumas dezenas em Ruanda (30)
Um serviço profissional de abastecimento de água faz um
consumidor satisfeito.
Um serviço profissional de
abastecimento de água faz um
consumidor satisfeito
A experiência dos operadores privados
mostrou os benefícios de uma gestão mais
profissional para melhorar a qualidade dos
serviços de água. Contudo, persistem
desafios importantes em termos das
capacidades técnica e de gestão dos
pequenos operadores, além de restrições
técnicas na operação.
A profissionalização dos serviços de abastecimento de água
cria um ciclo virtuoso que beneficia os operadores privados,
consumidores e governos locais.
Uma PPP sustentável é mais que um contrato assinado.
© WSP/Traibou Maiga
tarefa.
Os operadores podem identificar os investimentos de alto
impacto, mas na maioria dos casos, não podem financiá-los.
© WSP/Maximilian Hirn
financeiramente viável do sistema, e para
assegurar que a responsabilidade pelos
investimentos necessários para garantir
esta viabilidade seja claramente atribuída.
Estes factores variam muito, dependendo
das características do sistema, da idade
das instalações, e das tarifas, entre outros.
No entanto, nas licitações raramente pede-
se um plano de negócios, e, em qualquer
caso, os operadores muitas vezes não têm
a capacidade de prepará-lo. Alguns países
têm tentado introduzir planos-modelo
de negócios (Benin, Mali, Uganda), e os
participantes concordaram em capitalizar
essas experiências e aproveitá-las
sistematicamente.
O património do operador pode ser combinado com
empréstimos comerciais e subvenções.
pequenos sistemas, onde o investimento Este tipo de acordo financeiro permite o uso
Box 6: Bancos financiam a água
na reabilitação e expansão gradual pode eficiente dos limitados recursos públicos.
muitas vezes ser a melhor opção. A subvenção garante que o impacto da
Quénia, K-Rep Bank dívida sobre a tarifa não exclua os pobres
• 12 projectos financiados Funcionários de governos locais que do acesso à água, enquanto as obrigações
participaram no workshop salientaram a de reembolsar a dívida comercial impõem
• USD 1 milhão de empréstimos
necessidade de se envolver na advocacia a disciplina do mercado no operador. Os
• USD 1 milhão mobilizados via OBA para a alocação de recursos às autoridades incentivos de desempenho poderiam ser
• Empréstimos de USD 65,000 a USD locais. Isso deve ser possível, pois os reforçados através de subvenções baseadas
100,000 valores envolvidos são relativamente nos resultados (Output-Based Aid). Por
pequenos, desde que façam parte de uma exemplo, desembolsam-se as subvenções
estratégia global. somente depois da realização de certas
Mali, Bank of Africa obras e ligações domiciliárias, como no
• Financiamento do projecto de O financiamento mista é uma caso do K-Rep.
expansão na vila de Kalabancoro: oportunidade. O património do operador
300 ligações, 6 km de tubos privado ou da comunidade pode ser Nos exemplos apresentados no workshop
• Operador: Energie Tilgaz Mali combinado com empréstimos comerciais do Camboja, Madagáscar, Colômbia ou
e subvenções. Esta abordagem tem sido e Mali, o nível de financiamento privado
• USD 100.000 empréstimo
ensaiado com sucesso no Quénia (K-Rep (capital + empréstimo) com montantes até
• USD 15.000 capital da Tilgaz Bank), e outros países estão a estudar US$ 120.000 variou de 40% a 100% dos
as perspectivas em seus respectivos custos de investimento, dependendo dos
contextos (Benin, Mali). termos do contrato.
© WSP/Traibou Maiga
e contas auditadas, a falta de garantias
ou activos colaterais. Contudo, estes
obstáculos podem ser superados se o
financiamento comercial for integrada
numa estratégia global de apoio ao PPP,
como nos casos de algumas poucas, mas
significativas, operações apresentadas no
workshop (K-Rep no Quénia, Tilgaz no
Mali).
A regulação dos serviços de abastecimento de água requer
uma combinação de acções centrais e locais.
A falta de regulação põe as PPPs em operadores e consumidores, ou entre • A produção de estatísticas e análises
risco. operadores e autoridades locais; longas para actualizar os indicadores
Os debates sobre a regulação concluíram disputas sempre acabam prejudicando
• O desenvolvimento de benchmarks para
que a regulação é o elo mais fraco da a operacionalidade do serviço. Se for a
o sector
gestão delegada, em quase todos os entidade contratante, a autoridade local
países. não pode exercer as funções de regulação, • O acompanhamento e revisão dos
e mesmo se não a seja, representa processos de selecção dos operadores
Não se operacionaliza a regulação, essencialmente os consumidores • A resolução de conflitos que não podem
embora seja essencial. Na maioria dos (cidadãos) e, portanto, não tem a ser resolvidos a nível local
países participantes, a regulação abrange independência necessária.
apenas as actividades dos maiores A regulação local deve ser empossada
operadores de sistemas urbanos de Regulação local e regulação central. através da delegação de autoridade,
abastecimento de água. Um pequeno Ficou claro no workshop que a regulação e deve fiscalizar o serviço, impor o
número de agências reguladoras têm dos serviços de abastecimento de água cumprimento das disposições regulatórias
começado a trabalhar com os operadores requer uma combinação de acções e regular os conflitos quotidianos através
dos pequenos sistemas (Ruanda, centrais e locais. dos intervenientes locais. As instituições
Mauritânia, Moçambique), mas seus desconcentradas do sector podem
esforços são dificultados pela dispersão A estrutura central deve ter o mandato legal desempenhar um papel importante ao nível
geográfica das instalações e das partes para regular e prestar contas ao governo local também.
interessadas. central. Seu mandato deveria abranger
as actividades normativas e analíticas, A independência, o financiamento e a
Os operadores e os governos locais incluindo: recolha de dados: três desafios para a
salientaram que a sua própria experiência regulação. Para ser capaz de desempenhar
• A melhoria contínua do quadro
mostra que a ausência de regulação é as suas funções, um regulador tem de ser
regulatório e dos indicadores de
prejudicial para a gestão sustentável dos credível aos consumidores, às entidades
desempenho, na base da experiência
serviços de abastecimento de água. Isso contratantes e aos operadores. Para isso,
prática
dificulta a resolução de conflitos entre o regulador deve ser independente, com
um financiamento estável, e com acesso a
informações e dados fiáveis.
Figura 2: Funções Regulatórias Centrais e Locais
O sistema de recolha de dados deveria
ter cobertura nacional, o que constitui
Ministério Regulação - Autoridade um grande desafio técnico e logístico. A
Central - Normas expansão das redes de internet e telefonia
- Regras móvel vêm abrindo novas oportunidades
- Verificação a curto e médio prazo para sistemas
de informação compartilhados entre os
Município interessados.
Delegação
Os serviços profissionais especializados contribuem à prestação
de serviços sustentáveis.
mas apenas para cidades acima de conflitos poderiam ser evitados através
Um outro SDE apresentado no workshop
10.000 habitantes. No Mali e no Níger, da educação, informação e comunicação
é a manutenção preventiva e curativa
pagam-se taxas para serviços técnicos adequadas dos consumidores, com a
(reparação de bombas, geradores, etc.)
prestados por operadores “STeFi” e “SAC” explicação dos padrões de serviço, a
no Senegal. A necessidade de serviços
respectivamente, que incluem algumas publicação dos resultados operacionais
semelhantes em outros países (Níger) foi
actividades regulatórias. Na maioria dos e, geralmente, medidas para aumentar
identificada.
países, porém, estes mecanismos ainda a transparência da gestão dos serviços
não estão implementados em grande de água. O governo local e as entidades
Os SDE podem também ser prestados
escala e enfrentam obstáculos práticos, reguladoras precisam trabalhar juntos para
por organizações de coordenação dos
devido à dispersão geográfica, o impacto assegurar um diálogo eficaz com os utentes.
fornecedores de água. Estes serviços
nas tarifas, etc. Houve consenso no
podem ser mais abrangentes e contar
workshop que a regulação pode ser Os serviços profissionais especializados
com financiamento público (Uganda). Nas
financiada parcialmente através das contribuem à prestação de serviços
Filipinas, a agência reguladora gere um
tarifas, mas que algum subsídio pode ser sustentáveis
fundo de maneio para os prestadores de
necessário também. Os serviços de apoio externo são
SDE para obterem ajuda na planificação
relativamente recentes no sector. As
de negócios/investimentos e outras
A educação e envolvimento dos utentes. experiências inovadoras apresentadas no
acções necessárias para melhorar serviços
Esta questão foi colocada fortemente pelas workshop despertaram o interesse dos
deficitários.
autoridades locais e operadores. Muitos participantes.
Os SDE podem também apoiar a
10
Os serviços de desenvolvimento empresarial até a agora
cobrem apenas uma fracção dos sistemas e operadores,
e a sua viabilidade é fraca.
regulação. No Mali e no Níger, por possíveis para garantir a sustentabilidade • Utilização das tecnologias Internet e
exemplo, prestadores de SDE contribuem dos SDE: de telefonia móvel para estabelecer
à produção, numa base regular e fiável, de plataformas comuns para a recolha,
• Integração dos SDE no quadro
dados técnicos e financeiros indispensáveis transmissão, e processamento de
institucional e regulatório (Mali, Níger)
para o regulador. dados, e o fornecimento de relatórios
• A concessão de SDE para grupos aos operadores (mWater, Senegal)
Um modelo de negócios para SDE geográficos de sistemas, ou seja, a
concorrência “para o mercado” (para • Expansão para outras áreas
viáveis está a emergir. Os SDE até a agora
STeFi no Mali, para manutenção no de necessidade (transacções,
cobrem apenas uma fracção dos sistemas
Senegal) financiamento)
e operadores, e a sua viabilidade é fraca.
Trocas no workshop indicaram modelos
Box 7: SDE mWater (Senegal, Mali) Box 8: SDE via STEFI (Mali) Box 9: SDE via uma Organização
de Coordenação em Uganda
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O lugar da gestão delegada dos pequenos sistemas de
abastecimento de água deve ser reforçado dentro do quadro
estratégico, institucional e jurídico do sector.
Rumo a uma
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A assistência técnica no terreno deve complementar
o programa de capacitação.
© WSP/Maximilian Hirn
capacitação é essencial. Isto pode ser
conseguido através da ancoragem dos
programas de formação em estruturas
existentes, estáveis, e na medida possível,
descentralizadas. O custo destes serviços
deve ser acessível aos intervenientes
relevantes, de modo que possa ser
necessário introduzir subsídios.
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Recomendou-se que os esforços se concentrem em dois níveis:
a nível nacional, através de planos de acção nacionais, e a nível
regional.
Recomendou-se que os esforços se (estratégias, guiões, métodos, ferramentas, ferramentas operacionais e plataformas
concentrem em dois níveis: a nível nacional, modelos, etc.) devem ser recolhidos que podem ser utilizados em vários
através de planos de acção nacionais, de forma sistemática, compilados e países, vai se beneficiar directamente da
e a nível regional, onde as acções de disseminados. O valor destes produtos colaboração regional em termos de fluxos
colaboração podem beneficiar vários deve ser aumentado a nível regional através de informação e da partilha de custos.
países. A colaboração regional basear- da análise comparativa e benchmarking. Sugestões do workshop incluem:
se-ia nas experiências nacionais, e por Conhecimentos e materiais de referência
• Uma caixa de ferramentas de PPP para
sua vez alimentaria e melhoraria os planos devem ser disponibilizados através de
pequenos sistemas de abastecimento
nacionais de acção. páginas dedicadas ou já existentes no
de água, incluindo modelos de
Internet, como por exemplo a Plataforma
contratos para PPP e de planos de
Colaboração regional para partilhar WatSan. A realização de reuniões regulares
negócios, módulos de formação, etc.
conhecimentos, desenvolver (por exemplo, uma vez a cada dois
ferramentas e realizar estudos e anos) de intervenientes a nível regional • Uma plataforma de Internet e telefonia
pilotos. constituem um segundo pilar da estratégia móvel para a troca de dados e
de divulgação. avaliações comparativas.
Destilação e disseminação de
conhecimento. As experiências e os Ferramentas e plataformas Estudos prospectivos e pilotos. Pesquisas
conhecimentos gerados a nível nacional compartilhadas.O desenvolvimento de aplicadas são necessárias para identificar
e avaliar ideias de negócios, conceitos
e produtos inovadores, com vista a sua
Figura 4: Acções de Reforço Mútuo aos Níveis Nacional e Regional possível aplicação em grande escala. Estas
poderiam ser realizadas a nível regional
(com o apoio de programas como o WSP)
ou no âmbito dos planos nacionais de
acção. Exemplos relevantes para a gestão
sustentável dos pequenos sistemas de
abastecimento de água incluem:
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O plano de acção deve estar bem integrado no quadro
sectorial, e desenvolvido através de um debate com os actores
nacionais e os parceiros de desenvolvimento.
gestão, o plano de acção irá delinear as a visibilidade e a legitimidade do plano de Conteúdo. O plano de acção deverá definir
modalidades de implementação. acção e facilitar a mobilização de recursos os objectivos e resultados esperados, com
Propriedade. O plano de acção deve para a sua implementação. Finalmente, indicadores qualitativos e quantitativos. O
estar bem integrado no quadro sectorial o plano de acção deve ser adoptado cronograma do plano de acção deve ser
e deve ser desenvolvido e acordado pelo Governo para que se torne o ponto coerente com os objectivos e resultados
através de um processo de debate com de referência para a identificação e definidos. A tabela abaixo apresenta as
os actores nacionais e os parceiros de programação de acções no subsector. prioridades definidas por cada país, a partir
desenvolvimento. Isso ajudará a reforçar do quadro de acção.
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WSP
The World Bank
Hill Park Building
Upper Hill Road
PO Box 30577 - 00100
Nairobi, Kenya
Novembro 2010
PARCEIROS FINANCEIROS:
Austrália, Áustria, Banco Mundial, Canadá,
Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, França,
Fundação Bill e Melinda Gates, Irlanda,
Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Reino
Unido, Suécia, e Suíça.
AGRADECIMENTOS:
Este relatório do workshop foi elaborado por
Luc Hoang Gia, Thomas Fugelsnes e Peter
Hawkins, do WSP-Africa
REVISÃO TÉCNICA:
Christophe Prevost, Ella Lazarte, Sylvain
Adokpo Migan, Jema Sy, e Nick Pilgrim, do
WSP.
As constatações, interpretações e conclusões expressas neste documento são da total responsabilidade dos autores e não devem
ser atribuídos de forma alguma ao Banco Mundial, às suas organizações afiliadas ou aos membros de sua Directoria Executiva ou às
empresas que estes representam.
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