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ELIMINAÇÃO DA ETAPA DE DESSULFURAÇÃO DO GUSA

NA ESTAÇÃO DE PRÉ TRATAMENTO DO GUSA PARA


PRODUÇÃO DOS AÇOS ELÉTRICOS DE GRÃO NÃO
ORIENTADO1
Edilson Simões Cavalieri2
José Geraldo Oliveira Ank3
Nildomar Soares Ferreira2
Péricles Guimarães Oliveira Aguiar4

Resumo
Este trabalho tem como objetivo mostrar como foi possível eliminar a etapa de
dessulfuração do gusa na estação de Pré Tratamento do Gusa (PTG) para os aços
elétricos GNO produzidos na Aperam South América. Os estudos mostraram
que, em função da redução do teor de enxofre do gusa a partir da mudança do
redutor do Alto Forno 2, em junho de 2011, poderia ser eliminada a etapa de
dessulfuração sem comprometer a qualidade do aço, tendo sido necessário adequar
a composição química da escória na fase do refino secundário e otimizar o processo
de dessulfuração do aço no desgaseificador a vácuo VOD. Este trabalho permitiu
eliminar o uso do agente dessulfurante na estação PTG e reduzir o teor médio de
enxofre de 15 ppm em 2010 para 5 ppm em 2012 para os aços elétricos GNO com
2% de silício e manter o mesmo teor para os aços elétricos GNO com 3% silício.
Palavras-chave: Dessulfuração; Aços elétricos de grão não orientado;
Desgaseificação sob vácuo.

ELIMINATION OF PIG IRON DESULFURIZATION IN THE HOT METAL


PRETREATMENT STATION FOR PRODUCTION OF NON GRAIN ORIENTED
ELECTRIC STEEL
Abstract
This paper aims to show how it was possible to eliminate the hot metal
desulphurization in the Hot Metal Pretreatment (PTG) for Electrical Steels NOG
produced in Aperam South America. Studies have shown that, due to the reduction
of sulfur content of hot metal, it could eliminate the desulfurization process without
worsing the steel quality. However, it was necessary to adjust the chemical
composition of the slag during secondary refining step and optimize the
desulfurization process of steel in the Vacuum Oxygen Decarburization (VOD). This
work has allowed us to eliminate the use of the dessulfurizing agent in the PTG
station, and reduce the average sulfur content of 15 ppm in 2010 to 5 ppm in 2012
for 2% Silicon Electrical Steel NOG, and maintain the same level for 3% Silicon
Electrical Steels NOG.
Key words: Desulfurization; Non oriented grain electrical steel; Vacuum degassing.

1
Contribuição técnica ao 44º Seminário de Aciaria – Internacional, 26 a 29 de maio de 2013, Araxá,
MG, Brasil.
2
Técnico Metalurgista; Analista Técnico da Gerência Executiva de Aciaria, Aperam South America,
Timóteo, MG, Brasil.
3
Engenheiro Metalurgista; Assistente Técnico da Gerência Executiva de Metalurgia de Aços
Elétricos, Aperam South America, Timóteo, MG, Brasil.
4
Engenheiro de Materiais; Assistente Técnico da Gerência Executiva de Metalurgia de Aços
Elétricos, Aperam South America, Timóteo, MG, Brasil.
1 INTRODUÇÃO

O aço elétrico de grão não orientado (GNO) é fabricado na Aperam South America
via Aciaria a oxigênio. A sequência de produção segue na ordem listada abaixo:
 carro torpedo -– transporte do ferro-gusa do alto forno para aciaria;
 estação PTG – redução dos teores de silício, fósforo e enxofre;
 convertedor MRP-L – conversão do ferro-gusa em aço;
 forno panela – aquecimento elétrico do aço e adição de fundentes;
 estação VOD – redução do teor de carbono, nitrogênio e desoxidação do aço;
e
 lingotamento contínuo – solidificação do aço na forma de placas.
Para melhor compreensão, a sequência de produção está representada
esquematicamente na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma de produção do aço GNO.

O controle do teor residual de enxofre é muito importante na fabricação dos aços


GNO. Acima de certo valor, ele afeta as propriedades magnéticas do aço. O teor de
enxofre no aço piora a perda magnética, afetando o desempenho do aço em sua
aplicação (Figura 2).

Correlação da perda magnética como função do teor de Enxofre no aço

6,0%
Aumento da Perda Magnética (%)

5,0%
y = 8,3516x + 0,0038
4,0% R2 = 0,9484

3,0%

2,0%

1,0%

0,0%
0,0000 0,0010 0,0020 0,0030 0,0040 0,0050 0,0060
S (%)

Figura 2. Aumento da perda magnética em função do teor de enxofre no aço GNO 2% silício na
condição 10 T/ 60 Hz.
Os aços GNO 2% de silício apresentam uma perda magnética maior quando
comparados aos aços GNO 3% de silício. Em função de maior exigência de
performance dos aços GNO 3% de silício, o teor de enxofre objetivado é de no
máximo 10 ppm e 20 ppm para o GNO 2% de silício. A Figura 3 apresenta a
evolução do teor médio de enxofre no aço para o GNO com 2% e 3% com de silício.
Evolução do Teor médio de enxofre nos aços GNO 2% e 3% Silício

0,0018

0,0016 0,0015

0,0014
0,0012
0,0012
Enxofre (%)

0,0010

0,0008 0,0007

0,0006 0,0005

0,0004 0,0003
0,0002
0,0002

0,0000
2010 2011 JAN~JUN 2011 JUL~DEZ

GNO 2% Si GNO 3% Si

Figura 3. Evolução do teor médio de enxofre no aço para o GNO 2% e 3% de silício.

O teor de enxofre do aço pode ser controlado na etapa de dessulfuração tanto do


gusa que é realizada na estação de Pré Tratamento do Gusa (PTG) como do próprio
aço, que ocorre no desgaseificador VOD. Controlar o teor de enxofre no gusa é
fundamental para atingir teores ultra-baixos de enxofre no aço. Conforme
apresentado na Figura 4, à medida que o teor de enxofre no gusa aumenta, maior é
o teor de enxofre dissolvido no aço.

Teor de enxofre no Gusa X Teor de enxofre no Aço

0,045

0,040

0,035
Enxofre no Gusa (%)

0,030

0,025 y = 4,9544x + 0,0219


R2 = 0,8796
0,020

0,015

0,010

0,005

0,000
0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 0,0025 0,0030 0,0035 0,0040
Enxofre no Aço (%)
Figura 4. Correlação do teor de enxofre no gusa como função do teor de enxofre no aço.
Em 2011, com a mudança do redutor do Alto Forno 2 de coque metalúrgico para
carvão vegetal, o teor de enxofre no gusa reduziu 26%, o que motivou iniciar um
trabalho na Aciaria com o objetivo de eliminar a etapa de dessulfuração do gusa
para produção dos aços elétricos GNO. A Figura 5 apresenta a evolução do teor de
enxofre do gusa entre 2009 e 2011.

Teor médio de Enxofre no Gusa

0,0500

0,009
0,0400
0,015
Enxofre (%)

0,0300
Mudança
0,008 para carvão
0,0200 vegetal no
0,0385
Alto Forno 2
0,0284 0,005
0,0100 0,0190
0,0107

-
2009 2010 JAN ~ JUN 2011 JUL ~ DEZ 2011
ANO

Média Desvio Padrão

Figura 5. Evolução do teor médio de enxofre do gusa entre 2009 e 2011.

2 ADEQUAÇÃO NOS METODOS E NOS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO


AÇO NA ACIARIA

Para eliminar a etapa de dessulfuração do gusa na estação PTG e garantir um teor


ultra-baixo de enxofre no aço, além da redução do teor de enxofre do gusa, foi
necessário ajustar o processo de elaboração do aço no refino secundário. Este
ajuste passou pela adequação da composição química da escória de panela e pelo
tempo de homogeneização do aço no desgaseificador VOD.

2.1 Ajuste da Composição Química da Escória

De acordo com Ribeiro(1) os aspectos termodinâmicos que garantem uma


dessulfuração eficiente são: baixa atividade do oxigênio no aço e na escória, alta
atividade do CaO na escória e altas temperaturas.
A desoxidação do aço e da escória ocorre após a etapa de descarburação do aço no
desgaseificador VOD com a adição de ligas de silício. Nesta etapa, tem-se a
redução da atividade do oxigênio no aço e na escória e a temperatura do banho
aumenta em função da reação exotérmica de formação da sílica (SiO2).
Para garantir uma proteção ao refratário da panela, a sílica formada durante a
desoxidação do aço e da escória é neutralizada pelo CaO presente na escória. O
CaO é adicionado na forma de Cal Cálcica no Forno Panela, etapa que antecede o
processamento do aço no desgaseificador VOD. Todas as ligas e fundentes, que
contêm carbono em sua constituição, devem ser adicionadas antes da etapa de
descarburação no desgaseificador VOD, visto que se objetiva obter o menor teor de
carbono possível na composição química final dos aços GNO.
Além de neutralizar a sílica, o CaO reage com o enxofre dissolvido no aço
promovendo a sua dessulfuração. O aumento da atividade do CaO na escória
depende do aumento do valor da basicidade binária da escória (relação CaO/SiO2).
Correlacionando o teor de enxofre no aço como função do valor da basicidade
binária da escória, é possível definir qual o valor ótimo da basicidade binária para
garantir os teores objetivados de enxofre. A Figura 6 apresenta a relação entre o
teor de enxofre dissolvido no aço e o valor da basicidade binária da escória (relação
CaO/SiO2).

Relação do teor de enxofre no aço em função da basicidade binária da escória

0,0050
-11,652x
y = 243280e
2
R = 0,9213
0,0040
Teor de Enxofre (%)

0,0030

0,0020
Teor de Enxofre objetivado
para GNO 2% de Si

0,0010
Teor de Enxofre objetivado para
GNO 3% de Si

0,0000
1,5 1,55 1,6 1,65 1,7 1,75 1,8 1,85
Basicidade Binária
Figura 6. Relação do teor de enxofre no aço em função da basicidade binária da escória.

Como podemos observar na Figura 6 o valor da basicidade binária da escória


apresenta uma correlação direta com o teor de enxofre presente no aço. Para o aço
GNO 2% de silício a basicidade binária mínima que garante atingir o teor de enxofre
objetivado é de 1,6, sendo que para o aço GNO 3% de silício este valor é
aproximadamente 1,68.

2.2 Influência do Tempo de Homogeneização do Aço no Desgaseificador VOD

Outro ponto abordado por Ribeiro,(1) foi que os aspectos cinéticos complementam os
termodinâmicos, dentro do objetivo de se atingir teores ultra-baixos de enxofre no
aço.
A etapa de homogeneização do aço ocorre logo após a sua desoxidação e da
escória no desgaseificador VOD. Nesta etapa, a sinergia entre aplicação de vácuo e
a insuflação de gás inerte aumenta o coeficiente de transferência de massa entre
metal e escória, permitindo obter uma dessulfuração profunda do aço.
O transporte de massa entre o metal e a escória ocorre por difusão da matéria e o
tempo de tratamento é fundamental para atingir os teores de enxofre objetivados, já
que à medida que o teor de enxofre reduz no aço, mais difícil e mais demorada é a
remoção do mesmo.
Com o objetivo de estabelecer um tempo ótimo para a etapa de homogeneização,
foram analisadas 7 corridas onde o tempo de homogeneização variou de 3 minutos
a 8 minutos. Também é importante observar que as corridas selecionadas para os
testes apresentavam características semelhantes (basicidade binária, pressão de
vácuo e vazão de gás inerte). A Figura 7 apresenta os teores de enxofre no aço em
função do tempo de homogeneização do aço no desgaseificador VOD.

Teor de enxofre no aço como função do tempo de homogeneização

0,0045

0,0040
-0,3547x
y = 0,0085e
0,0035 2
R = 0,733
Teor de Enxofre (%)

0,0030

0,0025
Teor de Enxofre objetivado
para GNO 2% de Si
0,0020

0,0015 Teor de Enxofre objetivado para


GNO 3% de Si
0,0010

- Basicidade Binária: 1,65 ~ 1,75


0,0005 - Pressão de vácuo: 2,5 ~ 3,5 mbar
- Vazão de gás inerte: 160 ~ 200 Litros/minuto
0,0000
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo Homogeneização (minutos)
Figura 7. Teor de enxofre no aço como função do tempo de homogeneização do aço no
desgaseificador VOD.

Como mostrado na Figura 7 e previsto por Ribeiro,(1) o tempo de tratamento


apresenta grande influência no teor enxofre presente no aço. O tempo de
homogeneização necessário para atingir os teores objetivados de enxofre varia entre
4 minutos e 7 minutos de acordo com o aço.

3 RESULTADOS

Depois do período de desenvolvimento e adequação dos métodos e processos de


elaboração do aço na Aciaria somado à redução do teor de enxofre do gusa, os
resultados apresentados nas Figuras 8 e 9 indicam o sucesso do trabalho realizado.
Comparado com o resultado de 2010, foi possível reduzir o teor médio de enxofre no
aço de 15 ppm para 5 ppm em 2012 para os aços GNO 2% de silício e manter o
mesmo teor para os aços GNO 3% de silício. A Figura 8 apresenta a evolução do
teor médio de enxofre no aço para o GNO 2% e 3% de silício.
Evolução do Teor médio de enxofre nos aços GNO 2% e 3% Silício

20

18

16 15,0

14
Enxofre (ppm)

12,0 12,0
12

10 9,0

8 7,0
6,0
6 5,0 5,0
4,0 4,0
4 3,0 3,0 3,0
2,0 2,0 2,0
2

0
2010 2011 JAN~JUN 2011 JUL~DEZ 2012
MEDIA GNO 2% Si 15 12 7 5
MEDIA GNO 3% Si 5 3 2 3
DESVIO PADRÃO 2% Si 12 9 6 4
DESVIO PADRÃO 3% Si 3 2 2 4
NUMERO DE CORRIDAS 2075 1061 1127 1950

Figura 8. Evolução do teor médio de enxofre no aço para o GNO 2% e 3% de silício.

O índice de atendimento às faixas objetivadas de enxofre no aço aumentou


19 pontos percentuais de 2010 para 2012 nos aços GNO 2% de silício e 5 pontos
percentuais nos aços GNO 3% de silício como pode ser observado na Figura 9.

Índice de atendimento ao teor objetivado de Enxofre no aço

120%

98% 99% 99%


100% 94% 93%

80%
Atendimento (%)

80%

60%

40%

20%

0%
2010 2011 2012

GNO 2% Si GNO 3% Si
Figura 9. Evolução do índice de atendimento ao teor objetivado de enxofre no aço.

Em função do teor de enxofre no aço apresentar uma correlação direta com a perda
magnética, o índice de atendimento à perda magnética objetivada no aço GNO 2%
de silício aumentou 26 pontos percentuais de 2010 para 2012, diminuindo o desvio
de material por não atendimento a perda magnética. Os resultados de qualidade do
aço GNO 3% de silício foram mantidos. A Figura 10 apresenta a evolução do índice
de atendimento à perda magnética objetivada no aço GNO 2% silício.

Índice de atendimento a perda magnética objetiva no aço GNO 2% Silício

90%
86%
83%

80%
Atendimento (%)

70%

60%
60%

50%

40%
2010 2011 2012

Atendimento a perda magnética

Figura 10. Evolução do índice de atendimento a perda magnética objetivada no aço GNO 2% silício
na condição 10 T/ 60 Hz, espessura 0,54 mm e perda magnética máxima 2,91 W/kg.

Outro resultado alcançado com o trabalho foi a eliminação do uso do agente


dessulfurante e da utilização da estação PTG, reduzindo o custo direto de fabricação
do aço GNO e o tempo de elaboração do aço na Aciaria. A Figura 11 apresenta a
redução do consumo de agente dessulfurante nos aços GNO.

Consumo de Agente Dessulfurante nos aços GNO

5,00

4,50
Consumo (kg/tonela de placa)

4,37

4,00 3,86

3,50
3,35
3,17
3,00

2,50 2,51

2,00 2,02
1,86
1,74
1,50

1,00

0,50 0,49
0,29
- - -

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2011

Agente dessulfurante
Figura 11. Evolução do consumo de agente dessulfurante nos aços GNO.
4 CONCLUSÃO

A redução no teor de enxofre do gusa combinada com a adequação nos processos


de elaboração do aço GNO, permitiram reduzir o teor médio de enxofre no aço de
15 ppm em 2010 para 5 ppm em 2012 no aço GNO 2% de silício e manter o mesmo
teor para o aço GNO 3% de silício.
A determinação do valor mínimo da basicidade binária e do tempo de
homogeneização foi fundamental para garantir uma dessulfuração profunda do aço
no desgaseificador VOD.
A redução no teor de enxofre do aço e o aumento do índice de atendimento aos
teores objetivados de enxofre diminuíram o desvio de material por não atendimento
à perda magnética no aço GNO 2% de silício e mantiveram os resultados de
qualidade dos aços 3% de silício.
A eliminação do uso do agente dessulfurante e da utilização da estação PTG reduziu
o custo direto da fabricação do aço GNO e o tempo de elaboração na Aciaria.

REFERÊNCIAS

1 RIBEIRO, D. B (coord); ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE METALURGIA E MATERIAIS.


Refino Secundário dos Aços; Cursos ABM; Programa de Educação Continuada, 2010.

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