Você está na página 1de 103

Título original em inglês:

Guide’s Greatest Escape From Crime Stories

Direitos de tradução e publicação


em língua portuguesa reservados à
CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
Rodovia SP 127 – km 106
Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP
Tel.: (15) 3205-8800 – Fax: (15) 3205-8900
Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888
www.cpb.com.br
1ª edição neste formato
Versão 1.0
2017

Editoração: Marcos De Benedicto e Neila D. Oliveira


Designer Developer: Taffarel Toso
Ilustração de Capa: Marta Telumi Irokawa
Capa: AP Comunicação
Programação Visual: AP Comunicação
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou
parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita
do autor e da Editora.

16273/35976
Um livro sobre bandidos e ladrões? Um tema muito estranho, admito.
Quando esse tema foi sugerido pela primeira vez, não tinha idéia de qual seria
o resultado.

Mas pensando a respeito da história do Bom Samaritano na Bíblia, e


também na conversa que Jesus teve com o ladrão na cruz, comecei a
pesquisar histórias que falassem a respeito de bandidos e ladrões nas páginas
de Guide (uma revista cristã para jovens, distribuída semanalmente). O que
descobri foi uma grande variedade de histórias inacreditáveis e mara-vilhosas
como:

• histórias envolvendo milagres;

• histórias de anjos;

• histórias de orações respondidas;

• histórias de conversão;

• histórias que falam da proteção de Deus;

• e histórias que apontam para a segunda vinda de Cristo.

Espero que você aprecie as histórias deste livro. Oro para que você e eu
estejamos preparados para nos encontrarmos com Jesus quando Ele voltar.
Que Deus o abençoe.

Helen Lee

Organizadora
Por Wayne E. Olson
O viajante olhou à sua volta, bastante preocupado. Havia chegado na parte
mais perigosa de sua viagem. Ele deveria atravessar o desfiladeiro do Riacho
da Nogueira. Dos dois lados, havia enormes e assustadoras paredes rochosas
e à sua frente estava aquela trilha estreita, cheia de curvas e coberta com
pedras. Mas era isso que lhe dava mais medo. Havia escutado muitos boatos a
respeito daquele desfiladeiro. Histórias de bandidos e de viajantes que
tiveram todos os seus pertences roubados. Algumas vezes, pessoas que
passavam por essa garganta rochosa nunca mais apareciam.

Felizmente, ainda faltavam algumas horas para es-curecer, e ele


certamente passaria por aquela zona de perigo antes do anoitecer. Ele segurou
um pouco mais firme em seus livros e começou a descer o desfiladeiro.
Sendo um vendedor de Bíblias, Michael fez mais do que isso. Ele fez uma
oração silenciosa e pediu a proteção do Senhor.

A princípio, a trilha era mais fácil do que ele esperava e seus ligeiros pés o
levavam rapidamente desfiladeiro abaixo. Michael pôde observar a cena à sua
volta e examinar o penhasco cuidadosamente. Que lugar assustador! Por toda
a parte, grandes rochas estendiam-se em direção ao céu, algumas isoladas,
outras em grupos. Michael notou que elas formavam excelentes esconderijos.
Pior que isso, algumas dessas rochas ficavam bem na beira da trilha. Um
bandido poderia esconder-se atrás de uma delas até que um viajante se
aproximasse, e então poderia pular para atacá-lo.

À medida que descia o desfiladeiro, a trilha tornava-se cada vez mais


estreita e sinuosa. O número de pedras aumentava e era com muita
dificuldade que Michael encontrava um lugar para pisar. Logo ele teve que
parar de observar os esconderijos e concentrar-se na trilha. Bem, Michael
pensou, sei que falam muitas histórias deste desfiladeiro, mas já passei por
aqui várias vezes sem nada me acontecer.

– Pare ou mato você! – uma voz ecoou de repente pelo ar.


Alarmado, Michael levantou os olhos. Lá, bem à sua frente, estava um
bandido mascarado, segurando um punhal em sua mão direita, pronto para
atacar.

Michael parou. O bandido continuou, só os seus olhos apareciam acima de


sua máscara.

– Primeiro, me dê todo o seu dinheiro – ele ordenou – e depois vou matá-


lo.

Não havia pressa ou exaltação na voz do bandido. Parecia que ele estava
fazendo algo que já havia feito muitas outras vezes, e certamente pretendia
fazer de novo.

Michael olhou para ele com firmeza. Ele precisava pensar rápido. Um erro
poderia custar sua vida e ele não queria morrer ali. Devo desafiar o bandido?,
ele se perguntou. Com certeza, isso seria muito arriscado. Devo tentar lutar
com ele? Um salto rápido para agarrar o braço do bandido e um soco bem
forte em seu rosto poderiam desarmá-lo e salvar a vida do vendedor de
Bíblias. A maioria das pessoas poderia pensar que essa seria a única chance
de Michael.

Michael, no entanto, optou por um outro método de defesa. Ele decidiu


que trataria o bandido da maneira como ele acreditava que Jesus o faria.

Sendo o mais gentil possível, ele falou calmamente:

– Amigo, não tenho muito dinheiro, mas darei o que tenho a você – e
ofereceu sua carteira.

Se o bandido ficou surpreso, ele não demonstrou nada. Mas ainda


segurava sua faca ameaçadoramente.

– E se você quiser me matar – Michael continuou – eu não vou contrariá-


lo, mas sentirei muita pena se decidir agir assim. Veja, eu estou preparado
para morrer. Se você me matar, não vai me prejudicar muito porque eu terei a
vida eterna. Porém, fico triste em pensar como isso prejudicará você.
O bandido não sabia o que dizer. Ele nunca tinha ouvido ninguém falar
assim.

– Sentirei muita pena de você – Michael continuou – por causa de todo o


sofrimento que você terá que suportar. Em primeiro lugar, assim que você me
matar, você se tornará um homem perseguido. A polícia virá atrás de você.
Você nunca mais poderá voltar para casa sem o medo constante de ser preso
ou enforcado por seu crime. Em segundo lugar, mesmo se a polícia não o
pegar logo, sua consciência o condenará. Você nunca mais sentirá paz ou
alegria de novo, pois saberá que transgrediu a lei de Deus. E depois, quando
morrer, porque isso vai acontecer, você terá que se encontrar com Deus no
juízo final e não saberá que resposta dar. Eu, porém, estou preparado para ir
em paz e sem medo.

O bandido ficou mudo, e seu braço foi baixando aos poucos. Finalmente,
ele encontrou o que dizer:

– Onde... onde – ele gaguejou – você descobriu como morrer sem ter
medo? Já matei outros homens e todos estavam apavorados. Como você
disse, eu teria medo de morrer.

Michael colocou a mão dentro de seu casaco e retirou uma Bíblia:

– Aqui – Michael disse, abrindo em um de seus versos favoritos. – “Ainda


que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque
Tu estás comigo” (Salmo 23:4) – leu Michael.

Folheando a Bíblia, ele leu outro verso:

– “Bem-aventurados sois quando, por Minha causa, ... vos perseguirem.


Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos Céus” (Mateus
5:11 e 12).

– Mas é assim mesmo que está escrito aí? – o bandido interrompeu.

– É assim mesmo! Ouça isto: “Ainda que os vossos pecados sejam como a
escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos
como o carmesim, se tornarão como a lã” (Isaías 1:18). Ouça mais isto: “Se
confessarmos os nosso pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça” (I João 1:9).

– Isso é verdade? – perguntou o bandido com voz trêmula.

– Claro que é!

– Você acredita nisso?

– Sim, eu acredito.

– Isso serve para os meus pecados também? Será que Deus me perdoaria?

Por um instante, Michael não sabia dizer se o bandido estava sendo


sincero ou não. Mas ele olhou nos olhos do bandido e viu que estavam cheios
de lágrimas!

– Amigo – disse Michael, apertando a mão do bandido – é claro que isso é


verdade. Você pode ter os seus pecados perdoados. Você... você gostaria que
nós nos ajoelhássemos aqui para orar pedindo perdão a Deus?

– Por favor – o bandido respondeu, ainda meio hesitante.

Ali mesmo, naquela trilha rochosa e estreita, Michael e o bandido se


ajoelharam lado a lado. Você não acha isso maravilhoso? Lá, naquele
caminho, com os braços nos ombros um do outro, Michael orou pelo homem
que alguns minutos antes queria dar fim à sua vida.

Quando se levantaram, o bandido disse a Michael:

– Posso ficar com um desses livros?

– Você pode ficar com este aqui – respondeu Michael. – Mas não quero o
seu dinheiro em troca. Quero outra coisa.

– O quê?

– Gostaria de trocar esta Bíblia pelo seu punhal.


– Feito! – respondeu o bandido.

Então, ao fazerem a troca, o homem que até ali tinha sido um bandido
falou:

– Se você pensa que eu estava brincando quando ameacei matá-lo, fique


sabendo que eu já matei sete homens com este punhal e eu teria matado você
tão prontamente como fiz com os outros. Mas Deus me impediu e nunca mais
matarei ninguém.

__________
Quando esta história foi publicada, Michael ainda estava vendendo livros religiosos no Líbano.
Por Lawrence Maxwell
O Sr. George Whitefield foi um dos maiores evangelistas de todos os
tempos. Um dia, enquanto viajava a cavalo com um amigo, alguém lhe
contou a história de uma viúva que estava prestes a perder toda a sua mobília
se não pagasse certa quantia em dinheiro imediatamente. O Sr. Whitefield
prontamente deu a ela 5 guinéis (antiga moeda inglesa de ouro), que nos dias
de hoje valeriam aproximadamente 30 reais, mas naquele tempo valiam
muito mais.

Ao prosseguirem a viagem, o amigo disse:

– Você sabe que não tem recursos suficientes e mesmo assim deu todo
aquele dinheiro à viúva! Por que fez isso?

– Quando Deus nos apresenta um caso de angústia e sofrimento, Ele


deseja que nós ajudemos – respondeu o Sr. Whitefield.

De repente, montados em seus cavalos, eles viram uma nuvem de poeira


que saía de um lugar escondido e vinha em sua direção. Então, do meio da
poeira, apareceu um homem mascarado.

– Seu dinheiro ou sua vida – exigiu o bandido, ameaçando-os com uma


pistola.

O Sr. Whitefield e seu amigo pararam e rapidamente esvaziaram suas


carteiras nas mãos do ladrão. O que mais poderiam fazer?

O bandido foi embora e os dois viajantes continuaram seu caminho.

– Agora quem você acha que foi mais sábio? – o Sr. Whitefield perguntou
ao seu amigo. – Dei meu dinheiro para uma viúva e ele vai ser bem
aproveitado. Você guardou o seu e o bandido o levou.

Até onde sabemos, o amigo não respondeu nada e logo teve com que se
preocupar, pois o som do trote do cavalo atrás deles o assustou mais uma vez.
Quando olharam para trás, viram de novo aquele bandido.

– Pare! – ele ordenou, mostrando sua arma.

– O que você quer agora, amigo? – perguntou o Sr. Whitefield.

– Eu quero este casaco que você está vestindo. É bem mais bonito que o
meu.

– Tudo bem – disse o Sr. Whitefield.

Ele tirou seu casaco e o entregou ao ladrão que, em troca, deu ao Sr.
Whitefield o casaco rasgado que ele estava usando.

Mais uma vez o Sr. Whitefield e seu amigo prosseguiram a viagem. Eles
estavam se aproximando de uma vila quando, pela terceira vez, escutaram
aqueles trotes novamente.

– Acho que desta vez ele quer nos matar! – o amigo gritou.

Eles apertaram as esporas na barriga de seus cavalos, correndo o mais


rápido que podiam para alcançar a segurança da cidade. A confusão da
corrida continuou por alguns minutos até que o bandido, percebendo que não
conseguiria alcançar os viajantes antes que chegassem à vila, acabou
desistindo.

Mais tarde naquela noite, o Sr. Whitefield tirou o velho casaco rasgado
que tinha trocado com o ladrão. Em um dos bolsos, bem embrulhadinho,
estava um pacote de moedas no valor de 100 guinéis, sem dúvida o resultado
de muitos assaltos, e 20 vezes a quantia de dinheiro que o Sr. Whitefield
havia dado à pobre viúva naquela manhã.
Por Ka Le Paw e Eric B. Hare
Era um dia úmido e quente no fim da temporada de chuvas. Uma grande
canoa flutuou rio abaixo e parou às margens do lamacento rio Salween,
carregando um grupo de homens armados com longas facas afiadas e armas
de fogo. Eram bandidos temidos por toda a floresta.

Aquela era a hora do dia em que todos os alunos estavam na escola e os


outros moradores da vila es-tavam descansando ou dormindo. Assim,
ninguém estava próximo às margens do rio para dar o alerta de perigo.

Deixando dois homens responsáveis pela canoa, os bandidos pularam para


a margem e silenciosamente seguiram seu chefe pela trilha que levava à vila.
Assim que avistaram a escola, o chefe dos bandidos parou e disse:

– Lá está, rapazes! Está cheio de professores e alunos e ninguém está


armado. Cerquem o local sem fazer barulho. Quando eu atirar, eles gritarão e
correrão em direção à floresta. Agarrem todos que conseguirem. As pessoas
que mandam seus filhos para a escola têm dinheiro, e com o resgate nós
conseguiremos o suficiente para viver muito bem por um ou dois meses.

Bum! fez a arma do bandido.

O pastor Chit Maung olhou pela janela e viu o grupo de bandidos armados
que cercava a escola. Ele ficou pálido e perdeu as forças nas pernas, mas
conseguiu gritar:

– São bandidos! Corram o mais rápido que puderem para a floresta!

Os estudantes correram escada abaixo, muitos gritando de medo.

– Só os maiores! – gritava o chefe. – Eles valem mais e são mais fáceis de


cuidar!

– Thara Chit Maung, socorro! – gritou um garoto de 15 anos ao ser


agarrado por um dos bandidos.

– Fique quieto se for esperto! – resmungou o bandido.

– Maung Thein, Maung Thein, onde você está? Socorro!

Os minutos seguintes foram cheios de terror. A notícia rapidamente se


alastrou por toda a vila. Homens, mulheres e mães com bebês em suas costas
mais do que depressa interromperam suas atividades, deixaram as panelas no
fogo e fugiram para salvar a vida. Era tudo o que os bandidos queriam! Uma
vila vazia, sem ninguém para atrapalhar, e dez prisioneiros de 15 a 22 anos de
idade.

Os prisioneiros foram amarrados e colocados sob vigilância enquanto os


bandidos saqueavam cada chou-pana de bambu. Eles levaram todo o
dinheiro, comida e vestuário que quiseram. Ao colocarem os prisioneiros e as
coisas roubadas na grande canoa à margem do rio, o chefe dos bandidos
deixou um bilhete embaixo de uma pedra à beira da trilha: “Em sete dias,
deixem 25.000 rúpias neste mesmo lugar, e seus amigos serão libertados na
manhã seguinte.” A rúpia é a moeda indiana.

Os moradores da vila e os alunos esperaram na floresta, tremendo de


medo, até que enfim um espião trouxe notícias:

– Eles se foram! Eles se foram! Podem voltar!

Ao fazer a contagem, todos logo perceberam que quatro professores e seis


alunos haviam sido seqüestrados.

Ninguém conseguiu dormir naquela noite. Estavam com muito medo para
ir deitar. Então ficaram sentados em grupos no escuro ou ao redor de
pequenas fogueiras. De vez em quando, aqui e ali, podia-se ouvir uma
oração:

– Ó, Deus! Guarde-os. Ó, Deus! Que eles se man-tenham fiéis a Ti.

No dia seguinte, os amigos e parentes daqueles que foram seqüestrados


começaram a juntar todo o dinheiro que podiam encontrar. Revolviam
garrafas cheias com suas economias – rúpias em notas de papel e moedas de
prata. Venderam o arroz e tudo que podiam. Porém, por mais que tentassem,
tudo o que conseguiram ajuntar foi a quantia de 1.500 rúpias. O que fazer?
Os bandidos exigiam 25.000 rúpias!

Na noite do sétimo dia, eles deixaram a quantia que conseguiram ajuntar


debaixo da pedra à beira da trilha, com um bilhete:

“1.500 rúpias é tudo o que temos! Por favor, tenham misericórdia de nós e
soltem nossos maridos e filhos.”

Em algum momento naquela noite, os ladrões vieram, pegaram o dinheiro


e deixaram outro bilhete:

“Nós lhes daremos mais uma semana. Se o restante do dinheiro não


estiver neste mesmo local até o dia 27 de setembro, seus maridos e filhos
serão mortos.”

Mas não havia mais dinheiro. Não havia mais nada para fazer a não ser
orar. E eles começaram a orar. Enviaram pedidos de oração para os irmãos
em Moulmein, Rangoon, Calcutá e Poona. Não demorou muito e os jovens
adventistas por toda a Índia e Birmânia estavam orando pelos pobres
prisioneiros.

O dia 27 de setembro chegou. Um bilhete foi deixado debaixo da pedra à


beira da trilha:

“Não temos mais dinheiro! Nós oramos para que vocês tenham
misericórdia e soltem nossos maridos e filhos.”

Os ladrões levaram o bilhete aquela noite, mas não deixaram nenhuma


resposta. Um dia angustiante se passou e nenhum prisioneiro apareceu. Outro
dia se passou, outro e mais outro. Mas ninguém apareceu. Será que eles
haviam sido mortos?

Mesmo assim, as pessoas oravam. Elas ainda tinham esperança. Outros


quatro dias se passaram e então, na quinta-feira, dia 6 de outubro, às onze
horas da manhã, os prisioneiros entraram na vila.
– Que... que... quem é você? – gaguejou uma jovem ao ver um homem
barbudo subir as escadas e entrar em sua casa.

– Sou seu marido! Todos nós estamos sãos e salvos... e livres! – o homem
exclamou.

Ao som das vozes, a vila inteira se reuniu.

– Como vocês emagreceram! – disse uma mãe emocionada ao abraçar seu


filho.

– Você também teria emagrecido se tudo o que tivesse para comer fosse
arroz puro, com sal, duas vezes ao dia – respondeu o garoto, chorando de
alegria.

– Você parece tão doente! – disse outra pessoa com simpatia.

– Você estaria assim também se tivesse que dormir ao relento, debaixo de


chuva e sob o ataque de tantos mosquitos – responderam as crianças.

– Para onde eles os levaram?

– O que vocês ficaram fazendo?

– Vocês tentaram...

– Esperem um pouco, esperem um pouco; um de cada vez! – um dos


professores prisioneiros tentou acalmá-los. – Vou tentar contar tudo o que
aconteceu. Não sabíamos onde estávamos exatamente, mas estávamos em
algum lugar da floresta, longe de tudo. No começo, estávamos com tanto
medo que não sabíamos o que fazer. Não tínhamos coragem de ir dormir,
então sentamos todos juntos em um grande grupo.

– Depois de algumas horas, alguns de nós ficamos com sono –


interrompeu alguém.

– Mas dissemos que não poderíamos dormir se não fizéssemos primeiro o


culto – outro continuou.
– Então oramos juntos, e depois alguns dos mais novos pegaram no sono.
Ao amanhecer, fizemos o culto novamente. As crianças disseram que
deveríamos cantar durante o culto. Então cantamos, nos lembramos das
promessas bíblicas e oramos. Vocês precisavam ter visto aqueles bandidos!
Eles não fizeram nada para nos impedir.

– “Em toda a minha vida, nunca vi nem ouvi prisioneiros cantando” –


disse um bandido ao outro.

– “Nunca vi nada igual” – concordou o outro.

– “Logo eles não sentirão mais vontade de cantar, comendo só arroz com
sal duas vezes ao dia e dormindo no chão todas as noites” – disse outro.

– Mas não tinha muito que fazer. Levávamos pouco tempo para cozinhar e
preparar o arroz para o bando de ladrões, e então passávamos o tempo
cantando.

– Foi isso que Paulo e Silas fizeram na prisão, não foi? – perguntou um
dos alunos.

– Os dias passavam devagar. Os mosquitos eram terríveis. Era difícil


comer só arroz com sal. Alguns ficaram com febre. Todos nós emagrecemos.
Mas continuamos a cantar.

– Os ladrões viviam perguntando: “Por que vocês são tão diferentes dos
outros?” E nós aproveitávamos para falar-lhes a respeito de Jesus, que veio
para resgatar e salvar os perdidos.

– “Talvez seja por isso que Jesus permitiu que fôssemos capturados. Para
que pudéssemos contar que Jesus também os ama e quer que sejam bons e
possam ter a oportunidade de morar em lindas mansões no Céu” – um dos
alunos falou aos bandidos.

– Após a primeira semana, ao ver que conseguiram apenas 1.500 rúpias


em vez de 25.000, nós tememos que fossem nos tratar com crueldade. Mas,
para nossa surpresa, eles falavam bondosamente conosco, assim como faziam
antes. Nós cantamos e continuamos a cantar. Então, quando o dia 27 de
setembro passou e o restante do dinheiro não foi entregue, o chefe dos
ladrões disse: “E agora? O que faremos? Vamos matá-los como de costume?”

– “Esses prisioneiros são tão diferentes” – disse um dos ladrões.

– “Não podemos matá-los, chefe” – respondeu outro.

– “Eles são tão alegres e as músicas que eles cantam nos deixam felizes
também.”

– “Vamos pensar por alguns dias sobre o assunto” – decidiu o chefe.

Sete dias se passaram e então o chefe decidiu:

– “Bem, rapazes, parece que não vamos conseguir mais nenhum centavo
de resgate. Além disso, não conseguimos matar estas pessoas; elas são muito
diferentes! Deixem que façam uma boa refeição, levem-nas rio abaixo e
soltem-nas.”

– Folhas de bananeira foram espalhadas pelo chão e sobre elas foram


colocadas porções bem quentinhas de arroz. Dois homens apareceram, um
carregando uma panela de ensopado de porco e o outro uma panela de
ensopado de tartaruga. “Sirvam-se”, eles disseram. “Ao menos uma boa
refeição vocês poderão se lembrar de ter feito conosco.”

– “Mas nós não comemos carne de porco” – falou um dos alunos


balançando a cabeça.

– “Nem tartaruga!” – disse outro.

– “Não?” – perguntaram os ladrões surpresos.

– “Depois de comer só arroz com sal por três semanas, vocês não querem
comer essa comida deliciosa?”

– “A Bíblia diz que porcos e tartarugas são impuros. Nós preferimos


comer só arroz com sal novamente.”

– Os ladrões não conseguiam acreditar no que estavam escutando. “Nunca


ouvimos nada igual”, diziam.

– “Estas são as pessoas mais estranhas do mundo! Não bebem, não


comem carne de porco, não comem tartaruga e só cantam, cantam e cantam!”

– “Bem, que tal um peixinho para acompanhar o arroz?”

– “Seria ótimo!” – nós respondemos.

– Depois disso, eles nos levaram para o rio, conduziram-nos rio abaixo em
sua grande canoa por alguns quilômetros e nos soltaram. E aqui estamos,
graças ao bom Deus!

O coração de todos ali transbordava em gratidão. Na tarde do sábado


seguinte, um culto especial de ação de graças foi oferecido na capela de
Moulmein. Cada prisioneiro, ou melhor, cada ex-prisioneiro participou do
culto, testemunhou e contou como aquela experiência fortalecera sua fé.
Todos estavam contentes e louvaram a Deus por manter os professores e
alunos fiéis e sinceros a Ele e por Deus ser “o nosso refúgio e fortaleza,
socorro bem presente nas tribulações” (Salmo 16:1).
Conforme relatado para Lois Christian Randolph
Passamos por uma experiência muito estranha no trem que ia para
Varsóvia, Polônia. Foi mesmo terrível que uma coisa dessas tivesse que
acontecer justo com o professor Howell. Veja, na última segunda-feira, o
pastor Town, o professor Howell e eu estávamos em uma cabine para quatros
pessoas no trem que ia para Varsóvia na Polônia. Tínhamos que comparecer a
algumas reuniões lá e, assim, planejamos nossa chegada para as sete horas da
manhã de terça-feira.

Na tarde de segunda-feira, o cobrador passou para checar nossas


passagens.

– Os senhores deveriam abrir mais a janela para ventilar a cabine durante a


noite – ele sugeriu, abrindo a janela uns 15 centímetros.

Depois que ele foi embora, empilhamos nossas bagagens contra a porta
que dava para o longo corredor que percorria todos os vagões-leito.
Queríamos nos certificar de que ninguém entraria em nossa cabine para
roubar nossas coisas durante a noite. Em seguida, fomos dormir.

Antes das seis horas da manhã seguinte, o professor Howell se levantou


para se vestir e se barbear.

– Onde elas estão? – ele indagou, olhando à sua volta. – Quem esteve
aqui? Será que alguém está me pregando uma peça? Não é possível que isso
tenha acontecido!

Eu estava ainda meio adormecido. Mas, ao ouvir aqueles comentários, me


dei conta de que o pior havia acontecido. A primeira coisa que fiz foi sentar.
Durante a noite, enquanto nós três dormíamos, alguém havia roubado as
roupas do professor Howell e sua bagagem. Desconfiamos do cobrador que
se mostrara tão ansioso para abrir a janela.

– Vou ter que andar pelas ruas de Varsóvia de pijama! – reclamou o


professor Howell.

O pastor Town e eu não fomos roubados e fizemos o nosso melhor para


ajudar aquele bondoso homem que tinha vindo dos Estados Unidos. Olhei em
volta e descobri que, felizmente, ele havia escondido um envelope com o seu
passaporte e um porta-notas embaixo do travesseiro – que sábia precaução!
Não roubaram seu dinheiro nem os cheques de viagem, mas naquele
momento fiquei pensando se o ladrão não teria causado menos problemas se
tivesse levado um pouco do dinheiro e deixado algumas roupas! Para você ter
uma idéia do “tamanho” do problema, o professor Howell tinha dois metros
de altura!

– Não tenho nenhuma outra peça de roupa deste lado do Atlântico a não
ser o pijama que estou vestindo! – exclamou o professor, inconformado.

Estávamos enfrentando um dilema. Como poderíamos tirar o professor


Howell do trem, vestido decentemente? O trem deveria chegar em Varsóvia
dentro de quarenta minutos!

Felizmente, achei o sobretudo do professor Howell. Ele tinha usado o


sobretudo como cobertor extra durante a noite. Pela manhã, ao se descobrir,
não notou que estava escondido entre as roupas de cama. Senti-me o herói de
uma grande batalha ao descobrir que ainda restava aquela peça de roupa. Isso
nos ajudaria a tirá-lo do trem sem constrangimentos.

Não importava o quanto eu quisesse ajudar o professor, ele era muito alto
para usar minhas roupas. O pastor Town era um pouco mais alto do que eu,
mas mesmo assim media um metro e oitenta! Ele emprestou uma calça para o
professor Howell, mas ela ficou uns quinze centímetros acima de seu
tornozelo. Era o melhor que podíamos fazer. Descobrimos mais tarde que os
ladrões também tinham deixado um par de sapatos, o que ajudou muito.
Nunca pensamos que um sobretudo e um par de sapatos se transformariam
em bênçãos tão preciosas.

Alguns irmãos da União da Polônia foram até a estação para nos


encontrar. Logo estávamos em um táxi a caminho do hotel. Em menos de
duas horas, os irmãos poloneses levaram ao hotel dois alfaiates munidos com
amostras de tecidos, prontos para entrar em ação.
O professor Howell ficou preso em sua suíte por três dias, sem poder sair,
até que os ternos ficassem prontos. Não teve nenhum problema para fazer as
refeições, porque o hotel oferecia serviço de quarto. Porém, ele perdeu a
maioria das reuniões e a sua triste história se espalhou pela região.

O professor Howell não se lamentou pelas roupas que perdeu, mas ficou
chateado pelas anotações que fez a respeito das Escolas Adventistas na
Europa. Elas ficaram na pasta que foi levada pelos ladrões. Enquanto os
alfaiates trabalhavam, ele tentou reescrever tudo o que podia lembrar.

Na sexta-feira à noite, vestindo seu novo terno, o professor Howell pregou


um sermão poderoso a respeito do seguinte verso: “Mas considerai isto: se o
pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que
fosse arrombada a sua casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à
hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mateus 24:43 e 44).
Aquele comovente sermão nos lembrou que precisamos tomar todas as
providências possíveis para que a segunda vinda de Jesus não nos apanhe de
surpresa.
Por Ida E. Roosenberg
– Podemos? Ahhh, deixa papai? – eu implorava enquanto pulava em volta
de sua cadeira.

– Calma! Deixe o papai pensar – disse Hall, meu irmão.

– Beeem... – respondeu o papai depois de pensar por alguns minutos –


acho que podemos fazer diferente esta primavera.

Saí pulando pela sala, enquanto mamãe e Lucile, minha irmã mais velha,
começaram a olhar o novo catálogo da estação, muito empolgadas. Papai
tinha acabado de dizer que podíamos encomendar roupas novas! Que alegria!
Estávamos no final da Grande Depressão, e nessa época coisas novas em
nossa casa eram tão raras quanto trapos velhos no palácio de um milionário.

– Mamãe, posso escolher a cor da minha saia nova? Quero azul! – eu pedi.

– Aqui tem jardineiras do jeito que eu quero – disse Hall.

Depois de passarmos um bom tempo trocando idéias, o pedido estava


pronto para ser enviado pelo correio. Os dias nunca foram tão longos ou
demoraram tanto para passar como os da semana seguinte.

– Não é maravilhoso saber que as plantações estão indo tão bem que
podemos comprar roupas novas? – confidenciei a Pimenta, minha fiel amiga
collie.

Dia após dia, corria à caixa do correio. Mas sempre voltava desapontada.

– Pare de ser tão impaciente! – resmungou Hall. – Se você continuar


olhando toda hora, não vai chegar.

Finalmente a encomenda chegou! Nós nos amontoamos ao redor da caixa


como crianças ao redor de uma árvore de Natal. Com seus dedinhos ligeiros,
Lucile desfez os infinitos nós do pacote. Era como comemorar o Natal e
todos os nossos aniversários de uma só vez. Esse foi realmente um dia muito
empolgante.

Na manhã seguinte, mamãe se preparou para lavar as roupas. Vasilhas


cheias de água borbulhavam no fogão e a tábua de esfregar roupas
descansava na beira do tanque.

Mamãe separou a roupa suja. Naquele dia não havia apenas roupas usadas
e maltrapilhas, mas muitas peças novas que seriam lavadas pela primeira vez.

– Esta é uma das poucas vezes que fico feliz em ter muita roupa para lavar
– mamãe refletiu ao colocar a água fervendo nas tinas de lavar roupa.

– Ida, você me ajuda a colocar a roupa no varal? – mamãe perguntou. –


Pendure estas meias no varal próximo às roseiras.

Enquanto pendurava as meias, gotas de chuva começaram a cair. Isso


significava que teríamos um problema e tanto! Naquele tempo, não existia
secadora de roupa e havia peças demais para serem colocadas na sala para
secar.

– Martin, o que eu faço? – mamãe perguntou para o papai. – Será que


deixo as roupas do lado de fora esta noite? Espero que sequem até amanhã!

– Pode deixar, acho que não terá problema – disse o papai.

E foi o que mamãe fez. A roupa ficou no varal. O barulho da chuva caindo
logo nos deixou com muito sono e fomos rápido para a cama.

Mamãe acordou de madrugada quando ouviu um barulho do lado de fora.

– Martin! Martin! Estou escutando um barulho! Acorde! A Pimenta está


rosnando! Rápido! – sussurrou a mamãe.

Mais do que depressa, papai olhou por todas as janelas e desceu as escadas
da cozinha, espiando a paisagem coberta pelas sombras. Não havia nada de
anormal.
– Querida, você deve estar sonhando! – ele disse, entrando embaixo das
cobertas.

Na manhã seguinte, com lampiões a querosene na mão, papai e Hall


atravessaram a lama em direção à cocheira. As vacas estavam cobertas de
lama, o que tornou o trabalho um tanto longo e cansativo.

Assim que o Sol começou a raiar pelas fendas da cocheira, Hall colocou o
último garfo de feno no cocho.

– Pronto! Estou contente por ter terminado o trabalho aqui na cocheira,


pois tenho que consertar as cercas ainda hoje – disse papai, ao pegar dois
baldes de leite e voltar para casa.

– Ei, Hall! Onde estão as roupas que a sua mãe lavou ontem? Ela ainda
não tirou do varal, tirou?

Hall correu o mais rápido que pôde pela lama do quintal até a cozinha.

– Mãe! Mãe! Onde estão as roupas que a senhora lavou?

– Onde eu as deixei! Lá no varal!

– Não, não estão lá!

– Mas têm que estar lá!

Todos nós saímos pela porta da cozinha e ficamos horrorizados ao ver os


vestígios da luta. Com certeza houve uma briga. Os prendedores de roupa
estavam jogados por toda a parte, havia rastros de lama na grama molhada e
roupas aos montes espalhadas pelo chão.

– Mas, mamãe... – choraminguei. – Onde estão as roupas novas?

– Se procurarmos bem, acho que as encontraremos em algum canto –


disse papai.

Depois de procurarmos entre as azaléias, embaixo das roseiras e ao redor


do moinho, mamãe concluiu:
– Com certeza alguém pegou nossas roupas novas. Alguém que sabia que
compramos roupas novas e que as deixamos do lado de fora esta noite.
Parece que a Pimenta tentou deter o ladrão, mas não conseguiu. Bem, vamos
entrar e fazer nosso culto matinal.

Papai concordou com a mamãe. Subimos as escadas, desanimados. Cada


um sentia um peso no coração e oramos com tristeza. Pedimos ao Senhor que
nos ajudasse a conseguir nossas roupas de volta.

Sem poder acreditar no que tinha acontecido, Hall e Lucile foram para a
escola, papai foi dar comida para as galinhas e eu fui brincar no quintal. Pude
ouvir a mamãe cantarolar ao preparar a massa para fazer biscoitos.

Passamos a manhã inteira tentando imaginar como solucionar o mistério.


Onde estavam as nossas roupas? Será que alguém teria levado tudo mesmo?
Como poderíamos achá-las?

Enquanto isso, papai terminou de dar comida para as galinhas e foi para a
cocheira. Era hora de levar as vacas para o pasto.

– Hummm, isso é estranho. Nunca vi rastros como estes antes! – ele


murmurou ao se aproximar da cocheira.

Mais tarde, depois de levar as vacas para o pasto, cheio de curiosidade


papai decidiu seguir aquele estranho rastro. Percebeu que levava para um
buraco fundo e escuro embaixo da cocheira, onde Pimenta e seus cinco
filhotinhos escolheram para ser sua casa.

– Flossie! Flossie! Venha rápido! – papai chamou.

Correndo para a porta da cozinha, eu gritei:

– Mamãe! Mamãe! Papai está chamando. Venha rápido!

– O que aconteceu? Qual é o problema? – mamãe apareceu na porta da


cozinha, limpando as mãos sujas de farinha no avental.

Nesse momento, papai já estava na porteira da cocheira chamando:


– Venha até aqui um minuto!

Papai levou mamãe até a cocheira. Eu os segui feito um dos filhotinhos da


Pimenta.

– Alguma coisa errada? A novilha está doente?

– Não, a novilha está bem. Mas tem uma trilha que gostaria que você
visse. Olha aqui, tem um rastro muito estranho na lama. O que você acha que
fez isso?

– Parece que a Pimenta andou arrastando seus filhotinhos. Era isso que
você queria me mostrar?

– Muito mais do que isso! – papai exclamou. – Olhe mais perto! – Ele deu
um passo para frente, sorrindo orgulhosamente. Apontou para uma grande
pegada feita por uma bota perto do varal, e outra, e ainda outra pegada
humana.

– Você acha que a Pimenta atacou alguém? – mamãe perguntou.

– Sim. Acho que houve uma grande briga!

– Onde está a Pimenta agora?

– Vamos seguir estes rastros – papai sugeriu. – Vamos ver aonde eles nos
levarão.

Ao avançarem por aquela trilha estranha, Pimenta saiu debaixo da


cocheira com um salto, latindo. Com muito entusiasmo, ela abanava a cauda
e olhava para nós como se estivesse dizendo: “Vocês não acham que eu sou
uma boa guardiã?”

– Lá está – continuou papai. – Estão vendo aquilo saindo debaixo da


cocheira?

Com cuidado, mamãe se abaixou e pegou aquela coisa lamacenta.

– Oh! Oh-h-h não! – ela suspirou. – É uma de nossas fronhas novas!


Como foi parar aqui? Será que as outras roupas estão aqui também?

– Sim, estão todas aqui, todas cheias de lama. Pode agradecer a Pimenta
por salvá-las. Ela deve ter afugentado o ladrão durante a noite. Acho que,
depois da briga, ela trouxe as roupas para cá como uma medida de segurança.

Inclinando-se, papai puxou para fora do buraco todas as roupas. Com


muita alegria, juntamos todas elas em nossos braços.

A Pimenta nunca tinha recebido tantos elogios como naquele dia. Ao


voltarmos para casa, nos ajoe-lhamos novamente e agradecemos a Deus por
ter nos ajudado a encontrar nossas roupas novas.

Mais uma vez, enchemos as tinas de lavar roupa. Só que dessa vez mal
conseguia ouvir o barulho da velha máquina de torcer roupa, porque mamãe
cantava o mais alto que podia em gratidão a Deus.
Por William J. Harris
Chang Po Ching sabia que se encontrava em uma situação perigosa.
Estava do lado errado da fronteira. A guerra e o tumulto tornaram as viagens
arriscadas. Embora ele estivesse fazendo o trabalho de Deus, sabia que estava
no território inimigo.

Ainda era madrugada quando a viagem começou. Chang Po Ching estava


sentado em um riquixá (tradicional transporte chinês de um só passageiro),
que era puxado ao longo do caminho por um carregador. A viagem de riquixá
era muito lenta, e Chang Po Ching queria chegar à igreja de Nan Tsun o
quanto antes. Já haviam passado alguns meses desde que estivera lá, e sua
vontade era ajudar os colportores (vendedores de literatura cristã) que iriam
sair para vender a versão chinesa da revista Sinais dos Tempos.

Eles ainda não tinham ido muito longe quando o carregador parou.

– Aqueles homens lá na frente não se parecem com fazendeiros daqui –


ele sussurrou.

– Não podemos voltar – Chang respondeu. – Vamos tentar não parecer


amedrontados. Vamos prosseguir devagar e passar por eles sem dar muita
importância.

Mas a próxima coisa que Chang Po Ching e o carregador escutaram foi:

– Parem!

Os rifles fizeram “clique” enquanto Chang e o carregador foram colocados


na frente das armas.

– Quem são vocês e de onde vêm? – um dos bandidos perguntou.

Chang Po Ching sabia que não seria sábio dizer que ele vinha do outro
lado da fronteira. Bastante preocupado, ele explicou que era “dali” e indicou
o local com sua mão. Ele não queria dizer que era de Pequim. Isso criaria
mais problemas ainda.

– Aonde você está indo?

– Vou seguir esta estrada – Chang respondeu.

– Foi o que pensei – disse o líder. – Você é um espião!

– De maneira alguma, honorável capitão. Eu não sou um espião. Sou um


obreiro da doutrina de Jesus. Sou um missionário.

Os bandidos não se convenceram.

– Você é um espião. Você fala que é um missionário só para que


deixemos você ir.

– Levem-no daqui e atirem nele – ordenou o líder.

– Não, por favor, não faça isso. Sou um chinês leal. Eu amo meu país e
não sou um espião.

– Onde você conseguiu esses sapatos de couro? – eles interrogaram.

Os chineses comuns usavam sapatos feitos de pano. Porém, os obreiros da


igreja, que tinham que viajar muito, geralmente usavam um tipo de sapato
importado feito de couro. O sapato de couro de Chang Po Ching
imediatamente indicou aos bandidos que ele não era da redondeza, daquela
região rural. Além disso, ele não andava como um fazendeiro nem falava
como um. Obviamente ele era da cidade.

– Você é de Pequim, não é? – o líder falou rispidamente.

– Sim – Chang Po Ching respondeu. – Admito que sou de Pequim. Mas


não sou um espião. Sou um obreiro da doutrina de Jesus. Sou um jovem
cristão. Não sou um soldado e nunca servi o exército!

Na China havia uma forma de descobrir se a pessoa tinha servido o


exército ou não. Todos aqueles que haviam sido soldados tinham a região do
ombro áspera e calejada. Esse era o lugar em que a arma de fogo ficava. Esse
lugar era friccionado semana após semana, mês após mês, e então ficava
marcado.

Os bandidos se aproximaram de Chang Po Ching e rasgaram sua veste.


Passaram a mão para sentir a pele e os ossos do ombro de Chang. Não havia
nenhum calo. A pele era lisinha.

Os homens começaram a discutir entre eles. Talvez ele fosse um jovem


pregador, afinal. Talvez não fosse um espião. Talvez eles não devessem atirar
nele. Enquanto esperava o veredicto, Chang Po Ching orava para saber o que
fazer.

Então o líder falou:

– Amarrem-no. Nós o levaremos para o capitão. Se o capitão disser


“atirem nele”, nós o faremos. O que o capitão disser, acontecerá!

Os bandidos o amarraram bem apertado e o levaram até o acampamento.


Era bem cedinho e o Sol estava começando a nascer. Chang Po Ching foi
pensando por todo o caminho. O que poderia dizer? O que poderia fazer para
provar que realmente era um missionário de Jesus e não um espião? Ele
preparou o melhor discurso que pôde enquanto tropeçava pelos campos
arados.

Quando chegaram ao acampamento, o capitão ainda não tinha acordado.


Os homens o acordaram e ele saiu de sua barraca com uma cara de bravo e
mal-humorado. Ele era um homem grande, com um olhar maldoso e severo.
Sem dar nenhuma chance para Chang Po Ching fazer sua defesa, examinou-o
de alto a baixo e gritou:

– Levem-no e atirem nele!

– Honorável capitão – implorou Chang Po Ching – por favor,


excelentíssimo senhor, eu não sou um espião. Tenho certeza de que o senhor
conhece a religião cristã. Sou um obreiro cristão. Sou um chinês leal. Meu
trabalho é falar para o meu povo a respeito de Jesus, o Filho do Céu. Sou um
pregador da doutrina de Jesus.
– Coloque seus homens em posição, prepare-os e atirem nele!

Não havia mais nada a fazer. Ele deveria ser baleado. O que ele poderia
fazer? O que poderia dizer? Inclinando-se mais uma vez em sinal de respeito
diante do líder, Chang Po Ching disse:

– Excelentíssimo senhor, se eu devo morrer, o senhor permite que eu leia


um pouco do Livro Sagrado dos cristãos que está ali em meu pacote?

O capitão virou-se e asperamente ordenou a um dos soldados que o


desamarrasse. Chang Po Ching abriu o pacote, pegou sua Bíblia e começou a
folheá-la. Onde estavam aquelas promessas? Onde estavam as palavras de
conforto? Ele estava tão nervoso que as folhas pareciam estar todas
embaralhadas. Os rifles faziam “clique, clique, clique” enquanto os soldados
marchavam para a linha de fogo. Ele tinha apenas alguns momentos de vida.
Agitado, ele virava as páginas. Ah, ali estava! Ele leu a passagem em voz
alta:

“Não se turbe o vosso coração... Na casa de Meu Pai há muitas moradas.


Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar... voltarei
e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós
também” (João 14:1-3).

Chang Po Ching sentiu a coragem voltar. Ele olhou para os bandidos e


disse:

– Esta guerra, esta desordem e tumulto que o nosso país está enfrentando
significam que Jesus, o Filho do Céu, o Salvador do mundo, está voltando.
Ele está voltando para este planeta. Meu trabalho é pregar para o meu povo a
respeito desse maravilhoso acontecimento. Meu trabalho é ajudar os meus
conterrâneos a se prepararem para o Céu.

Aqueles homens violentos não se mexeram e ouviram maravilhados o que


Chang dizia. Eles nunca tinham ouvido nada igual. Estavam pasmos. Mesmo
aquele capitão arrogante ouviu em silêncio.

Chang Po Ching falou por aproximadamente meia hora. Ele falou com
todo o ardor de sua alma e pregou para aqueles bandidos sobre a volta de
Jesus.

Quando parou, o capitão levantou a cabeça.

– Atirar neste homem? – ele disse. – Não! Não devemos atirar em um


homem como esse. Com certeza ele é um pregador cristão. Esta é a
mensagem que o nosso povo precisa ouvir. Deixem-no ir! Nós não atiramos
em homens como ele!

Então os bandidos o libertaram. Chang pegou seu embrulho, colocou-o


sobre os ombros e desceu a estrada até a igreja onde os colportores estavam
reunidos.

Quando chegou lá, contou aos colportores o que havia acontecido.

– Estou aqui hoje – Chang disse – e não morto e enterrado em algum lugar
por causa da Palavra de Deus. Li este Livro maravilhoso para aqueles
bandidos sem coração, e eles ouviram as verdades bíblicas e me libertaram. É
muito bom conhecer a Palavra de Deus. Sou muito grato por isso.

O mesmo acontece hoje. A Bíblia ainda é o bem mais valioso deste


mundo. Pode ser que algum dia sua vida também dependa do conhecimento
que você tem da Palavra de Deus.
Por Edgar A. Warren
Já fazia algum tempo que Comfort estava freqüentando a escola
missionária na África Ocidental. Ela havia aprendido a cozinhar, a costurar, a
fazer contas simples de matemática e muitas outras coisas. Mas o melhor de
tudo foi o que ela aprendeu a respeito de Jesus e do presente da salvação que
Ele nos oferece. Comfort também aprendeu a orar a Deus.

– Se vocês algum dia estiverem em dificuldade ou perigo – disse o


professor missionário à sala – orem a Jesus e Ele os ajudará.

Para ilustrar o que ele dizia, o professor contou para eles como Deus havia
livrado Daniel na hora em que ele mais precisava e como as celas da prisão se
abriram para que Paulo e Silas pudessem sair.

Que maravilhoso!, pensou Comfort. Mas eles eram homens bons e


especiais. Será que Deus faria o mesmo por mim se eu precisasse de ajuda?

Aqueles dias felizes de escola haviam terminado. Agora, Comfort era uma
vendedora ambulante e oferecia pequenos objetos de vila em vila. Quando as
suas mercadorias acabavam, ela juntava todo o dinheiro em sua carteira e
voltava à cidade para comprar mais coisas para vender. Então fazia tudo de
novo.

Nesse dia em particular, Comfort tinha vendido tudo. Ela estava


agradecida a Deus por tê-la abençoado tanto. Como resultado, tinha uma
quantia incomum de dinheiro em um rolo de folha que usava como carteira.
De acordo com os costumes de sua tribo, Comfort escondeu sua carteira
debaixo de seu vestido de cores vivas, onde ninguém poderia ver, e
prosseguiu em seu caminho rumo à cidade grande.

O caminho levava a uma trilha estreita que passava no meio da floresta.


Enquanto andava, Comfort começou a cantar alguns hinos que havia
aprendido na escola missionária. De repente, ela viu alguma coisa que fez
com que seu coração batesse mais rápido. Ela parou de cantar. Um homem de
aparência rude vinha pela trilha em sua direção. A trilha era muito estreita
para que ela pudesse sair do caminho do estranho.

Ele a parou.

– Você tem dinheiro – ele disse. – Eu o quero agora. Dê-me tudo!

Comfort olhou à sua volta. Será que havia alguém para ajudá–la?

– Vamos, pegue logo sua carteira. Estou com pressa, eu preciso desse
dinheiro. Afinal, quanto você tem aí?

– Não muito – ela hesitou. – Não é muito para você, mas para mim é tudo.
Se você levar esse dinheiro, eu não sei o que vou fazer.

Ela tentou ficar conversando com ele na esperança de que alguém


conhecido aparecesse. Mas foi em vão.

– Vou lhe dar mais alguns minutos para me dar o seu dinheiro – ele disse.
– Mas, se você não me der logo, eu mesmo vou pegá-lo. Você entendeu?

– Sim, entendi – ela falou chorando. – Mas, como você vai mesmo pegar o
meu dinheiro, então vou lhe pedir só uma coisa. Posso orar a Jesus primeiro?

O homem deu uma gargalhada bem alta.

– Por mim, tudo bem. Se você quer orar, pode ir em frente.

Naquela trilha estreita, no meio da floresta, Comfort ajoelhou-se, fechou


os olhos e orou em voz alta para que Jesus a livrasse daquele ladrão.
Enquanto orava, o homem continuava a dar gargalhadas. Mas, de repente, ele
parou.

O que poderia ter acontecido? Comfort não ousava abrir os olhos. Será
que o homem estava pegando sua faca para matá-la? Será que outro ladrão
estava vindo para se juntar a ele? Com muito medo, ela abriu os olhos,
primeiro um, depois o outro. Com um salto, ela se levantou e olhou à sua
volta. O homem havia desaparecido!
Logo depois ela entendeu o porquê. Lá na frente, do meio daquele capim
alto, um homem apareceu. Era um caçador com uma arma na mão. O ladrão
pensou que o homem estivesse vindo para atirar nele e fugiu para salvar sua
vida!

Comfort logo percebeu que o caçador havia sido enviado em resposta à


sua oração. Ela descobriu por si mesma que o Deus que ela havia aprendido a
adorar realmente escuta e responde às nossas orações, mesmo quando tudo
parece estar perdido.

Ao continuar o seu caminho por aquela trilha longa e estreita no meio da


floresta, Comfort mais uma vez começou a cantar os hinos que havia
aprendido na escola missionária. Ela era uma testemunha viva do
cumprimento da promessa de Deus: “Invoca-Me no dia da angústia; Eu te
livrarei, e tu Me glorificarás” (Salmo 50:15).
Por Eva M. Harding
– Oh-h-h-h-h!

O som das vozes mescladas de gemido e gritos interrompeu o sono da mãe


e fez com que acordasse assustada. Ela abriu os olhos e tentou ouvir melhor,
sem ter certeza se estava sonhando ou não.

– Oh-h-h-h-h!

O que será que é isso?, tentou imaginar, deitada na cama. Ainda era cedo.
O relógio marcava apenas quatro horas da manhã. Ela escutou com muita
atenção. Não tinha certeza de onde o som estava vindo. No começo, parecia
que estava vindo da rua do outro lado da igreja da Missão. Será que alguém
sofrera um acidente? Ou será que alguém estava morrendo? Sem dúvida, algo
estava errado!

A mãe dormia no terraço, como a maioria das pessoas que vivem no


Oriente Médio faz para enfrentar as noites quentes de verão. Johnny, seu
filho, e seu cachorro, Faísca, também estavam dormindo no terraço. O pai
estava no quarto próximo dali, porque dizia que o zumbido dos mosquitos
não o deixava pegar no sono e não conseguia dormir do lado de fora.

A mãe e Faísca levantaram a cabeça quando escutaram o barulho


novamente. Desta vez, havia mais vozes.

– Au, au, au! Au, au, au, au! – Faísca saltou e latiu furiosamente.

– Sh-h-h-h, Faísca. Você vai acordar todo mundo assim. Fique quieto! –
sussurrou a mãe.

Mas o cachorro não obedeceu. Eles ouviram o som mais uma vez e agora
parecia estar mais perto. De onde estava vindo, afinal?

De repente, o vigia noturno da Missão começou a soprar o apito bem alto.


A mãe sabia que ele fazia isso somente em caso de emergência. Ela pulou da
cama. Johnny deu um salto e ouviram o barulho do pai correndo para a
varanda.

A mãe e Johnny correram para o outro lado do terraço, porque dessa vez o
som parecia vir de algum lugar perto da janela do quarto do pai. Eles
correram para o quarto. O pai correu para a janela que dava para o jardim do
vizinho.

Os vizinhos pareciam ser ricos. Eles tinham um lindo jardim com uma
fonte, muitos empregados e também um ótimo carro.

Apenas a alguns metros da janela do quarto do pai, existia um muro alto


que separava a casa luxuosa dos vizinhos do complexo da Missão. No
segundo andar daquele palacete, próximo ao muro, havia uma sacada. A mãe,
o pai e Johnny puderam ver vários homens brigando.

– Por que será que eles estão brigando? – a mãe perguntou.

– Acho que é um ladrão, é um assaltante! – o pai disse.

Johnny arregalou os olhos com grande empolgação.

– Um ladrão de verdade?

O vigia noturno continuou a apitar para chamar a polícia que estava


patrulhando a redondeza. O jardineiro da Missão, que se chamava Ali, corria
em volta do muro para evitar que o ladrão pulasse e fosse para dentro do
complexo.

O ladrão se livrou dos empregados, pendurou-se na grade de ferro e caiu


na sacada de concreto. Logo atrás dele vieram os empregados. O ladrão
correu para o jardim. Os empregados correram atrás dele, gritando.

Nos fundos do jardim tinha uma estufa, e foi para lá que o ladrão se
dirigiu. Ele esperava se livrar dos empregados escalando até o topo da estufa
e pulando para o outro lado do muro que ficava atrás dela.

Nesse momento, dois policiais correram para o jardim, gritando para que o
ladrão parasse. O ladrão continuou a fugir. Ele escalou a estufa e crash! Um
de seus pés atravessou o vidro. Crash! O outro pé também atravessou o vidro.
Os policiais começaram a atirar. Que barulhão! Vidros se quebrando, armas
disparando e a vizinha do outro lado dos prédios da Missão gritando:

– Polícia! Polícia!

De repente, tudo ficou em silêncio. Johnny esticou a cabeça para ver se a


polícia havia conseguido pegar o ladrão.

– Será que eles conseguiram pegá-lo? – ele perguntou.

– Não sei ainda – o pai respondeu. – Não consigo enxergá-los daqui!

O grupo foi para perto da luz. Claro que o ladrão havia sido apanhado.
Suas mãos estavam algemadas por trás de seu corpo e a polícia o escoltava
para dentro da casa.

Quando toda a agitação acabou, Johnny e seus pais voltaram para a cama.
Mas era impossível dormir. Johnny saiu da cama e chamou o vigia noturno.

– O que aconteceu, Ali?

O vigia conversou com os empregados da casa do vizinho e ficou sabendo


da história toda. Ele contou para Johnny que o ladrão tinha uma chave mestra
e já havia aberto três portas antes de alguém (possivelmente um dos
empregados) ouvir o barulho. Aparentemente, ele era um ladrão profissional
e estava tentando deixar uma rota de fuga antes de assaltar a casa. Mas ele
não teve tempo de fazer nada e logo foi descoberto.

– Por que ele esperou tanto para entrar na casa? – a mãe perguntou. – Ele
não sabe que as pessoas poderiam estar acordando a essa hora da madrugada?
(Naquele país, durante o verão, o dia começa a clarear entre as quatro e cinco
horas da manhã.)

O vigia informou que o homem provavelmente era um ladrão de tapetes,


pois tapetes persas são muito valiosos. Se ele tivesse entrado na casa mais
cedo, roubado alguns tapetes e saído carregando-os em seus braços,
imediatamente seria identificado como um ladrão e seria preso. Mas ele
esperou para entrar lá por volta das quatro horas da manhã porque o mercado
abre cedo e, se ele fosse visto carregando lindos tapetes persas às quatro e
meia, ninguém desconfiaria de nada. Eles pensariam que ele era um vendedor
de tapetes a caminho do mercado.

Johnny e sua mãe se lembraram dos versos bíblicos que tinham estudado e
que falavam da bênção de juntar tesouros no Céu, onde ladrões não podem
entrar para roubar.

– Não é muito melhor contribuir para o serviço de Deus do que acumular


dinheiro na Terra? – a mãe disse. – Nós nem mesmo sabemos o que
acontecerá com o dinheiro que acumulamos aqui! Mas doe à causa do Senhor
e você estará juntando tesouros para a eternidade.
Por Virgínia Fagal
Tudo começou em uma linda tarde de domingo em Londres, na Inglaterra.
Meu marido e eu estávamos felizes por estar indo para casa depois de passar
seis semanas filmando lugares na Europa por onde passaram os heróis da
Reforma. Em nossa bagagem, havia 40 rolos de filme. Cada rolo media trinta
metros e meio. Tínhamos trabalhado bastante para conseguir aquelas imagens
e elas seriam usadas na produção do programa de TV Fé para Hoje.

Quando chegamos no terminal da BOAC (Companhia Aérea Internacional


Britânica, hoje conhecida como British Airways) no centro de Londres, o
local estava praticamente deserto. Agrupamos nossas bagagens em uma sala
de espera vazia. Junto com a bagagem estava nosso equipamento de
filmagem – a máquina filmadora dentro do estojo, um tripé, duas sacolas
plásticas contendo as lentes da câmera, fotômetros e outros acessórios.

Além disso, estava carregando uma mala de mão, a qual eu confesso que
estava grande demais. Quando iniciamos a viagem, carregava uma mala que
parecia ser bem grande. Porém, no meio da viagem, comprei uma outra duas
vezes maior do que aquela. Minha nova mala de mão era grande o suficiente
para acomodar não só o que havia na outra mala, mas também muitas outras
coisas da viagem, entre elas um par de sapatos de madeira da Holanda, uma
linda estatueta de Hummel da Alemanha, um passarinho de cristal da Itália e,
o mais importante de tudo, 10 caixas contendo trezentos metros de filme
colorido. O filme em minha mala de mão representava um quarto do trabalho
de seis semanas na Europa.

Mais uma vez, contamos nossa bagagem. Estavam todas lá.

Enquanto esperávamos pelo nosso vôo, quis trocar de roupa para a


viagem, e meu marido precisava reacomodar alguns de seus pertences.
Arrastamos nossas duas malas pessoais por alguns metros para conseguirmos
abri-las. Se o terminal estivesse lotado, nós não teríamos desgrudado os olhos
um minuto do restante da nossa bagagem; mas, como não tinha quase
ninguém por perto, ficamos tranqüilos. Afinal, as outras cinco bagagens só
estavam a alguns metros de distância.

Nós notamos uma mulher bem vestida em pé perto da escada. Um minuto


depois ela passou por entre nós e a nossa bagagem enquanto estávamos
inclinados remexendo nossas malas pessoais.

Depois de achar o vestido que eu queria usar, fui até o banheiro das
mulheres, deixando meu marido com a bagagem. Ele logo terminou de
reacomodar seus pertences e, ao virar-se, percebeu que minha mala de mão
estava faltando. Ele achou que eu a havia levado comigo para o banheiro e
não se preocupou. Só quando eu voltei, dez minutos depois, é que nos demos
conta de que o pior tinha acontecido: minha mala de mão e tudo o que estava
nela se foram.

Os funcionários da companhia aérea foram muito atenciosos e a polícia foi


notificada rapidamente. Eles prometeram fazer o seu melhor, mas ressaltaram
que não tinham nenhuma pista, exceto a possibilidade de que o ladrão fosse
uma mulher.

Tentamos nos consolar, dizendo que poderia ter sido pior. Felizmente,
nossos passaportes estavam no bolso da calça do meu marido. Na minha mala
de mão havia apenas vinte e dois dólares em dinheiro, os cheques de viagem
e as outras coisas não eram tão importantes assim. Mas as 10 caixas de filme
colorido para o programa Fé para Hoje... isso, sim, seria irreparável!

Você mal pode imaginar quão tristes nos sentimos quando o avião cruzou
o Atlântico em direção a Nova Iorque. Começamos a recordar as imagens que
tínhamos feito da sombria torre no sul da França, onde Marie Durant foi
levada quando tinha apenas 15 anos e deixada lá até completar 52 anos de
idade, só porque se recusara a desistir de sua fé. O filme incluía algumas
cenas feitas em Praga e Tcheco-Eslováquia (agora República Tcheca), onde o
brilhante professor John Huss pregou a mensagem da Reforma no início de
1400. John Huss pagou com sua vida o preço de manter-se leal à sua crença,
e até hoje sua coragem e fé são relembradas através de uma grande estátua
feita em sua homenagem na praça do centro antigo de Praga.

Algumas das imagens roubadas também incluíam cenas feitas em


Wittenberg, Alemanha, a catedral onde Martinho Lutero pregou as 95 teses,
dando início à Reforma na Alemanha. O livro O Grande Conflito foi o nosso
guia durante a viagem, descrevendo o tempo da Reforma. Estávamos
arrasados por saber que não poderíamos usar as imagens que havíamos feito
para beneficiar o serviço de Deus.

De volta ao nosso escritório no dia seguinte, contamos a história aos


dedicados funcionários do Fé para Hoje. Todos concordaram que a oração
era nossa única esperança. O ladrão poderia muito bem ter apanhado o
dinheiro e jogado a mala com os outros pertences no rio Tâmisa.

A polícia disse que a busca seria como “encontrar uma agulha no


palheiro”, mas sabíamos que o Senhor poderia fazer com que os filmes
fossem encontrados.

Mesmo que, com o passar dos dias a situação parecesse ainda mais
desanimadora, os funcionários continuaram a orar. Depois de mais de duas
semanas, entrei no First National City Bank, que fica perto do nosso
escritório. Uma das funcionárias se aproximou.

– Senhora Fagal – ela disse – os cheques que foram roubados em Londres


retornaram.

Ela me entregou o talão de cheques que estava naquela mala de mão


abarrotada de coisas! Disse que o talão fora achado na Estação Vitória, uma
estação ferroviária que fica perto do aeroporto. O talão foi levado para o First
National City Bank de Londres, que o enviou para aquela agência.

Surpresa e emocionada com aquela pontinha de esperança, imediatamente


escrevi para a British Railways [Estação Ferroviária Britânica] agradecendo
por terem devolvido o meu talão de cheques, mas dizendo que nosso maior
interesse eram as 10 caixas de filme que estavam na mesma mala de mão,
juntamente com os cheques. Também escrevi para a companhia aérea,
informando sobre o que havia acontecido.

Por doze dias não houve nenhuma resposta, e então as coisas começaram a
acontecer. Um telegrama chegou nos instruindo a ir até a área de carga do
Aeroporto Kennedy de Nova Iorque, no box número 66, onde o nosso pacote
estaria nos esperando. Ao chegarmos lá, mal conseguíamos respirar ao
cortarmos os barbantes. Abrimos a caixa que pesava sete quilos, e dentro dela
encontramos uma grande sacola preta com zíper.

Minhas mãos tremiam ao abrir o zíper. Lá estavam os sapatos de madeira,


a mala de mão e todas aquelas coisas que as mulheres geralmente carregam.
Mas só queríamos saber das 10 caixas amarelas de filme, que pareceram
lindas naquele momento. Nós as contamos. Será que as 10 estavam lá? Sim,
estavam – não faltava nenhuma! As únicas coisas roubadas foram o dinheiro
e um relógio velho.

A ladra fez exatamente o que pensamos. Ela tirou aquilo que queria e
depois descartou o resto. Mas, em vez de jogar a mala no rio para ocultar seu
crime, ela a deixou na estação ferroviária, onde poderia ser achada e levada
ao setor de “Achados e Perdidos”. Mais uma vez a mão de Deus havia guiado
tudo de forma maravilhosa.

Os filmes para o programa Fé para Hoje que foram resgatados por Deus
já estão no ar, e o coração de muitos telespectadores está palpitando de
emoção ao assistir aos programas a cada semana. Você quer saber se nós
acreditamos que Deus responde às nossas orações? É claro que sim! Temos
visto, cada vez mais, inúmeras evidências de que a mão de Deus está guiando
o Ministério de Comunicação. O caso da mala de mão roubada é apenas uma
delas.
Por Sharon Titus
A entrada abrupta de dois homens pela porta giratória desviou a nossa
atenção do sermão naquele sábado de manhã. Eles estavam vestidos com
longos casacos pretos e chapéus da mesma cor, usavam máscaras de meia de
náilon e ficaram parados em silêncio na parte de trás da igreja, segurando
suas armas, prontos para atirar.

Ao olharmos de relance o nosso pastor no púlpito, notamos o seu ar de


preocupação e logo nos demos conta de que aquilo era real. Os dois homens
não eram visitas comuns.

– O que vocês desejam? – questionou o nosso pastor, com voz


surpreendentemente controlada.

Com voz clara e firme, a ordem foi dada:

– Queremos que vocês se dirijam vagarosamente, fileira por fileira, até a


parte de trás da igreja e deixem suas carteiras empilhadas no chão.

Por toda a igreja, as pessoas começaram a tirar discretamente o dinheiro


de suas carteiras e bolsas e colocá-lo em hinários, Bíblias e bolsos até que
uma voz bem alta exigiu:

– Mãos para o alto, todos vocês!

Por favor, Senhor, oramos silenciosamente, proteja-nos destes homens.

Parecia que o sermão interrompido de nosso pastor a respeito dos eventos


finais e o fim do mundo estava sendo ilustrado de forma bem vívida. Como
alguém poderia ousar roubar uma congregação inteira como aqueles dois
homens estavam fazendo? Todos nós imaginávamos o que aconteceria em
seguida.

De repente, um dos homens ordenou:


– Quero que todos cantem bem alto.

E cantar foi o que fizemos! A princípio estava um pouco fraco, mas logo
nossas vozes ficaram mais fortes ao cantar o hino “Oh! Que Amigo em Cristo
Temos”.

Nesse momento, a pilha de carteiras no chão havia crescido bastante, e


enquanto um dos homens jogava tudo em um saco, o outro nos vigiava,
apontando sua arma para nós.

– Pastor – um deles perguntou – onde está o telefone?

– Está na sala pastoral – o pastor respondeu, apontando para a porta à sua


esquerda.

– Está bem, vou cortar os fios. Mas preciso que alguém vá comigo como
refém. – Seus olhos varreram a congregação, fazendo com que sentíssemos
um friozinho na barriga ao imaginarmos quem seria o escolhido.

Nosso pastor vagarosamente virou-se para o coral.

– Jim, você pode ser o refém? – ele perguntou.

Jim, um homem alto e bem robusto, levantou-se e respondeu:

– Sim, posso. Eu vou.

– Pastor, este homem é muito grande para mim – contestou o ladrão.

Então, apontou o dedo para a filha de Jim, Trícia, de apenas nove anos de
idade e disse:

– Vou levar esta menininha aqui.

Um lamento de horror escapou de nossos lábios quando a mãe da menina


se levantou e disse soluçando:

– Não, não minha filhinha!


Do outro lado da igreja, o primo de doze anos de Trícia, Rickey, levantou
a mão. O homem acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e Rickey se
levantou e caminhou rapidamente pelo corredor principal, seguido pelo
homem armado. Eles entraram na pequena sala pastoral e fecharam a porta.

Os segundos pareciam demorar mais para passar ao orarmos


silenciosamente pela proteção de Rickey. Finalmente, a porta se abriu e
Rickey retornou para o seu lugar.

Novamente, o homem armado ordenou que cantássemos. Enquanto isso,


um deles saiu pela porta dos fundos e, antes que percebêssemos, o outro
também saiu.

Então, todos começaram a falar de uma só vez.

– Depressa, vamos ligar para a polícia!

– Alguém vá atrás deles!

– Vocês acreditam que isso realmente aconteceu conosco?

Dois homens correram até a sala pastoral, juntaram os fios cortados do


telefone e em apenas alguns minutos a polícia encheu a igreja. Mas os ladrões
fugiram rápido. Depois de nos interrogar e procurar impressões digitais e
outras evidências, a polícia nos liberou para ir para casa.

Que sábado agitado! Pudemos perceber como a mão de Deus nos


protegera e, ao relembrarmos as bênçãos recebidas, agradecemos o cuidado
do Senhor por nós.

Alguns dias se passaram e parecia que a história do roubo havia sido


esquecida. Então, certo dia, algo estranho aconteceu. Ao olhar a
correspondência, nosso pastor pegou um envelope endereçado com letras
nítidas e caprichadas. Ele abriu o envelope e deparou-se com uma grande
quantia em dinheiro. Sem demora, leu a carta. Será possível? Sim, ele não
estava sonhando. A carta era dos homens armados que roubaram a nossa
igreja!
“Estamos arrependidos de todo o mal que causamos a vocês”, dizia a
carta. “Por favor, orem por nós.” E orar foi o que fizemos!
Por Lois Zachary
Linda Williams estava na esquina de um shopping center em Nashville,
Tennessee, nos Estados Unidos. Ainda era de manhã e, como de costume,
Linda e seus colegas de faculdade estavam participando do dia da recolta. Ou
seja, a arrecadação de donativos para auxiliar no trabalho de assistência social
da igreja.

Linda olhava para os folhetos em suas mãos. Como restavam somente


dois, ela decidiu ir até o estacionamento onde estava o carro do diretor dos
jovens, o pastor Don Holland. O pastor Holland deve estar aqui por perto, e
com certeza tem mais folhetos para me dar, ela pensou.

Naquele horário da manhã, poucas pessoas passavam por ali. O shopping


estava aberto fazia apenas alguns minutos e os carros estavam começando a
entrar.

O que estava acontecendo enquanto Linda caminhava em direção ao


estacionamento é algo que se lê em jornais e se ouve em noticiários, mas
nada que alguém queira vivenciar.

Bem ali, do outro lado da rua, dois homens usando tocas de esquiar e
luvas cirúrgicas saíam rapidamente do Third National Bank [Terceiro Banco
Nacional] com um grande saco de pano. O que os dois homens não sabiam é
que uma corrente elétrica na porta de saída do banco havia acionado uma
bomba de gás escondida entre as notas que somavam dez mil dólares.
Segundos depois de entrarem no carro e fugirem, a bomba explodiu. O gás
encheu o carro e uma cor vibrante cobriu todo o dinheiro.

Os homens agarraram as notas roubadas em desespero. Enfiaram o que


podiam nos bolsos e saíram do carro. Bastante agitados, procuraram outro
carro que pudessem usar na fuga.

O pastor Holland havia acabado de pegar os folhetos para Linda, e estava


voltando para o carro quando os dois homens pularam para dentro do veículo.
Ele havia deixado as chaves no seu novo Renault cinza-azulado. Correndo
para o carro, ele agarrou pelo ombro o homem que estava atrás da direção e
gritou:

– Ei, moço, você está roubando o meu carro!

Quando enfiou a cabeça pela janela, deu de cara com uma pistola
automática 45 milímetros. Ele teve apenas uma fração de segundos para
perceber a intenção dos homens e decidir o que fazer. Mais do que depressa,
fugiu e escondeu-se atrás do carro. Mas como alguém que mede um metro e
oitenta pode se esconder atrás de um Renault tão pequeno?

Enquanto o pastor avaliava a situação em que se encontrava, os ladrões


tentavam desesperadamente engatar a marcha a ré. Então, como se estivesse
combinado, um carro da polícia apareceu descendo a rua. Don se jogou
contra o carro patrulha e gritou:

– Aqueles homens estão roubando o meu carro!

Tudo aconteceu na hora exata. Os ladrões acharam a marcha a ré bem na


hora em que o carro da polícia parou atrás deles.

– Cuidado! Esses homens estão armados! – alertou o diretor de jovens ao


ver que os policiais se aproximaram do Renault. Sabendo do perigo, eles
deram um passo para trás, sacaram as armas e deram a ordem:

– Saiam do veículo devagar e com as mãos para o alto.

Com raiva e muito frustrados, os ladrões saíram do carro. O dia não estava
nada bom para eles. Não foram capazes de terminar nem o primeiro dos cinco
assaltos que haviam planejado realizar naquela data.

Aliviado, o pastor Holland observou os ladrões serem revistados,


algemados e colocados no banco traseiro do carro patrulha. Então, notou a
arma que um dos policiais havia confiscado.

– Esta não é a arma que foi apontada para mim – ele disse ao policial.

Rapidamente, os ladrões foram tirados do carro e revistados novamente,


mas nenhuma arma foi achada.

A essa altura, uma multidão havia se juntado para ver a cena. O pastor
Holland se lembrou das bolsas das meninas que estavam em seu carro e foi
até lá para trancar a porta. Ao chegar no carro, viu que lá no chão do carro,
entre as luvas cirúrgicas e as máscaras de esquiar, estava a arma
desaparecida. No banco traseiro, misturados com os folhetos da recolta,
estavam os dez mil dólares em notas verdinhas.

Aquela noite, quando Linda voltou para a faculdade, ela teve uma
experiência emocionante para contar. Quase sem poder respirar, ela contou
para seus colegas a experiência assustadora que havia presenciado naquela
manhã.

– Você não ficou com medo? – eles perguntaram.

– Claro que sim – respondeu Linda – e tudo o que pude fazer foi orar
muito.

A arma que os ladrões apontaram para Don Holland estava carregada. Um


dos policiais abriu o tambor da arma e deu uma bala para o pastor.

– Aqui está a bala que poderia ter acabado com sua vida – disse o policial.

Segurando a bala, o pastor Holland proferiu uma oração silenciosa e


agradeceu a Deus por tê-lo protegido. Sua vida havia sido poupada pelo
poder de Deus, porque os dois homens estavam drogados e um deles estava
na lista dos mais procurados do FBI.

Que dia feliz aquele em que Linda ficou sem folhetos, mas não sem o
poder da oração intercessória.
Por Bárbara Westphal
– Pare! Desça do cavalo! Dê-me as rédeas! – Era um assalto à mão
armada.

Ângelo, um adolescente evangelista, viajava sozinho a cavalo fazia três


dias e meio à procura de um grupo de “Guardadores do Sábado” que ficava
nas montanhas do México.

– Organizei uma Escola Sabatina com vinte membros – um dos membros


contou para Ângelo. – Leva alguns dias para chegar lá, mas você deve ir
visitá-los. O lugar é um esconderijo de criminosos. Eles moram onde a lei
não pode encontrá-los.

Ângelo também não conseguia achar o caminho. Devia ter errado a


entrada em algum lugar. Estava perdido, e agora o ladrão armado queria que
ele desmontasse e exigia saber:

– O que tem na bolsa da sua sela?

– Um projetor e um adaptador de bateria.

O bandido revistou a bolsa de couro e olhou aquele aparelho estranho.

– Parece um pequeno canhão. Para que serve?

– Serve para projetar slides e....

– Venha comigo. Quero ver como funciona. Se você estiver me


enganando, eu quebro o seu pescoço.

Não havia o que fazer a não ser seguir o bandido até o seu esconderijo.
Ângelo montou novamente em seu cavalo, mas o bandido ficou com as
rédeas e o puxou em direção a uma trilha bem escondida entre as árvores e as
rochas. Por duas horas eles lutaram para descer com segurança o desfiladeiro.
Quando chegaram, o bandido assobiou. Vários homens, um após o outro,
saíram detrás das árvores.

– Por que você trouxe esse rapaz aqui? – o líder reclamou.

– Ele diz que tem um projetor de slides. Se não for verdade, nós o
mataremos.

Tanto Ângelo como seu cavalo estavam com muita fome. Eles não tinham
comido nada o dia todo, mas o capitão disse:

– Já está escuro o suficiente. Precisamos mesmo de uma diversão, então


vamos começar logo.

Ângelo ligou aquele simples equipamento e se lembrou de que havia


levado apenas duas lâmpadas. Ele orou para que as duas lâmpadas, que
freqüentemente superaqueciam e se quebravam, durassem até o fim da
apresentação. Sabia que sua vida dependia da satisfação do bando de ladrões.

Que conjunto de slides ele deveria escolher? Uma vez mais pediu a
direção de Deus. Então escolheu o “Plano da Salvação”. A cada slide, Ângelo
falava aquilo que sentia em seu coração. O roteiro poderia ser lido em 35
minutos, mas ele continuou a falar, falar e falar. Ângelo começou a ouvir
suaves exclamações vindas daqueles homens durões.

– Ó, Deus, tenha misericórdia de mim!

– Me perdoe!

Quando Ângelo parou de falar, já era meia-noite. Por fim, o capitão


perguntou:

– Você está com fome?

Eles prepararam feijão e enchiladas [torta apimentada típica mexicana] e


depois disseram que Ângelo poderia descansar. Mas onde?

– Você dormirá perto de mim – ordenou o líder da gangue. O chefe dos


ladrões se deitou em sua cama e colocou seu facão e sua pistola 45
milímetros embaixo do cobertor, que ele usava como travesseiro. Embaixo da
cama estava seu rifle.

Ângelo se ajoelhou e orou antes de se deitar na cama ao lado do ladrão.


Por volta das seis e meia da manhã ele acordou, procurou seu cavalo e
pretendia fugir enquanto todos dormiam. Ele estava selando o seu cavalo
quando os outros começaram a acordar.

– Você não deve ir! Você não pode ir! – eles gritaram. – Você é nosso
prisioneiro até que acabe de mostrar todos os seus slides e conte tudo o que
sabe sobre eles.

Eles desarrearam o cavalo e o levaram de volta para a barraca.

Depois de comerem tortillas [pão de milho tradicional mexicano] no café


da manhã, os homens se sentaram e Ângelo estudou a Bíblia a manhã inteira
com eles. Ele apresentou outro conjunto de slides à tarde e, naquela noite, das
oito à uma da manhã, apresentou mais duas séries.

Na manhã seguinte, tentou fugir mais uma vez, mas não conseguiu. Eles
mantiveram Ângelo por três dias e quatro noites.

– Agora você pode ir, se prometer que não dirá nada às autoridades sobre
nós.

Um dos homens o guiou de volta à estrada. Ao cavalgarem juntos por sete


horas, Ângelo conversou com o ladrão com a intenção de ajudá-lo a mudar de
vida e se tornar um cristão. Você precisaria ver a felicidade que ele sentiu ao
ouvir o homem dizer:

– Tenha certeza de que a semente que você plantou dará frutos ao menos
na minha vida. Vou deixar a gangue e começar uma vida nova.

Aquele ladrão segurou afetuosamente a Bíblia que Ângelo lhe havia dado.
O ladrão o deixou na estrada que levava à vila que Ângelo estava procurando
antes de sua captura. Na encruzilhada, o ladrão perguntou:

– Quando você retornará?


– Passarei por Huahatla novamente em três ou quatro meses – o jovem
evangelista prometeu.

Eles se ajoelharam e oraram juntos, depois se abraçaram e, emocionados,


se despediram.

– Vou mudar a minha vida e nós nos reencontraremos. – Essas foram as


últimas palavras do guia.

Ângelo encontrou o pequeno grupo de “Guardadores do Sábado” que


estava procurando e ficou vários dias com eles para conversar, trocar
experiências e passar algumas instruções especiais.

Exatamente quatro meses depois, Ângelo retornou para Huahatla,


imaginando se encontraria seu amigo ladrão outra vez. Para a sua surpresa,
ele estava lá. Mas que diferença! Ângelo mal o reconheceu. Suas roupas eram
diferentes – asseadas e limpas – e seu rosto transmitia felicidade e
honestidade em vez de violência e maldade. Ele havia estudado a Bíblia e as
lições que Ângelo havia deixado e agora estava pronto para ser batizado.
Voltou para sua esposa e filhos e estava ansioso para pregar o evangelho a
outras pessoas.

Ângelo é agora um pastor na Cidade do México e diz:

– Que providência divina foi eu me perder no caminho e me tornar um


prisioneiro dos ladrões!
Por Judi Stafford Holt
– Ele ameaçou matar você, Grimez. É melhor você tomar cuidado! – disse
Samuel para o alto e forte guarda-florestal.

Grimez sorriu para o seu companheiro e continuou a caminhar pela


floresta.

– Samuel, você fala igualzinho a minha mulher, e vou lhe dizer a mesma
coisa que sempre digo a ela. Eu tenho armas e cães de guarda. Não preciso
me preocupar com nada – e, com uma gargalhada de desprezo, Grimez
seguiu o caminho em direção à sua cabana.

Nos dias inquietos da época em que Napoleão era o grande general,


Grimez e sua esposa Maria moravam em uma cabana de toras de madeira no
meio da floresta. Grimez vigiava uma grande parte da floresta nas montanhas
silesianas. Ele havia ajudado a prender um bando de ladrões e criminosos.
Apenas o líder da gangue ainda estava em liberdade, e foi esse líder que
jurara vingar-se do guarda-florestal.

Maria era cristã. Ela fielmente lia a Bíblia e orava todos os dias. Mas
Grimez era tão incrédulo quanto sua mulher era religiosa. Ele zombava de
Maria e de suas orações em favor da proteção do marido.

– Não perca o seu tempo orando por mim, Maria. Fique tranqüila. Posso
tomar conta de mim mesmo. Tudo o que eu preciso são armas e cães de
guarda, e não essas orações tolas!

Porém, Maria continuou a orar por seu marido, pedindo a Deus que o
protegesse daquele fora-da-lei.

Certa noite, Grimez não voltou para casa no horário de costume. Com o
passar das horas, Maria ficava cada vez mais ansiosa e preocupada. Ela não
podia parar de pensar na promessa do ladrão de matar o seu marido.
Finalmente, ela decidiu fazer o culto da noite com a sua mãe e a sua filha,
apesar das preocupações. Ela confiaria a segurança do seu marido ao Senhor.

Pegando a grande Bíblia, Maria leu em voz alta o Salmo 71: “Em Ti,
Senhor, me refugio... Sê Tu para mim uma rocha... Livra-me, Deus meu, das
mãos do ímpio, das garras do homem injusto e cruel.”

Após a leitura, as três se ajoelharam e Maria orou: “Senhor Jesus, Tu


sabes que Grimez é orgulhoso, mas é um bom homem. Tu sabes o quanto nós
precisamos dele. Ajude-o a confiar em Ti. Afaste-o do perigo. Pai, também
abençoe este ladrão de quem temos medo. Tenha misericórdia dele e amoleça
seu coração. Obrigada, Senhor, por ouvir nossa oração! Amém.”

Assim que Maria terminou de acomodar sua filha na cama, ouviu passos
vindo do lado de fora. Alguém começou a esmurrar a porta!

– Maria, Maria! Sou eu, Grimez. Deixe-me entrar!

Ela correu para a porta.

– Ó, Grimez! Estou tão agradecida por você ter voltado para casa em
segurança! Estava tão preocupada! Nós oramos por você.

– Bah! – respondeu Grimez – não perca o seu tempo orando por mim. Ao
invés disso, ore para que minha arma funcione e para que os meus cães
estejam sempre alerta. Isso, sim, pode ajudar!

Grimez fechou todas as janelas da cabana, trancou a porta e inspecionou


suas armas de fogo, antes de ir se deitar. Tudo estava seguro e protegido na
pequena cabana.

Na manhã seguinte, quando os raios de sol estavam apenas começando a


penetrar entre as árvores, Grimez se levantou para acender o fogão a lenha.
Para a sua surpresa, uma das janelas da frente estava aberta! Então ele
percebeu que a grande Bíblia de Maria, aquela que ela sempre deixava aberta
em cima da mesa, havia desaparecido. Em seu lugar, estava uma faca de
aparência perigosa e bem afiada!

– Não entendo – disse Grimez intrigado. – Verifiquei duas vezes todas as


janelas antes de dormir. Estou certo de que estavam travadas.

Obviamente, alguém que havia planejado assassinar Grimez estivera


dentro da cabana. Todos revistaram a casa, mas não encontraram nada
faltando, exceto a Bíblia.

Até Grimez teve que admitir que não tinham sido suas armas nem os cães
de guarda que salvaram sua vida.

Grimez pensou a respeito da Bíblia de Maria nos dias que se seguiram.


Parou de zombar de sua mulher e, pouco a pouco, passou a acreditar que, de
alguma forma, as orações tinham algo especial.

Depois daquela noite, o fora-da-lei que havia prometido matar Grimez


simplesmente desapareceu. Ninguém mais ouviu falar dele.

Alguns anos se passaram e Grimez se alistou no exército. Logo se


encontrou na linha de frente de uma batalha violenta, travada às margens de
um lago onde não havia quase nada, exceto algumas cabanas abandonadas.

Durante a batalha, Grimez foi baleado. Ele sentiu uma dor intensa no seu
lado. Tudo ao redor parecia rodopiar e depois ficou escuro. Quando recobrou
a consciência, estava deitado no chão frio, e a dor estava tão forte que não
podia se mexer. A batalha não estava mais sendo travada ali. Eles tinham ido
embora.

Pouco tempo se passou e um pescador remou cuidadosamente em direção


à margem para ver se sua cabana havia sido destruída durante a luta. Ao ouvir
os gemidos do soldado ferido, ele atracou e foi ajudá-lo.

– Aqui – o pescador gritou para os seus companheiros. – Este aqui ainda


está vivo.

Eles carregaram o homem ferido até o barco e remaram para o outro lado
do lago, a aproximadamente três quilômetros de distância dali. Havia muitos
chalés espalhados à beira das águas. Flores azuis e amarelas floresciam nos
jardins. Eles carregaram Grimez para dentro de um desses chalés.
– Depressa, Babetta – o pescador falou para sua esposa. – Busque faixas
limpas e ferva água. Precisamos limpar esses ferimentos.

Então Adolph, o pescador, e sua mulher, Babetta, cuidaram de Grimez


com carinho e dedicação. O pescador escreveu uma carta para a família do
guarda-florestal, e logo Maria e sua filha vieram ficar com Grimez e cuidar
dele até que se recuperasse.

Ao se deitar na cama, Grimez começou a pensar na maneira maravilhosa


como sua vida fora poupada depois de ter sido deixado para morrer no campo
de batalha. Pensou também na maneira maravilhosa como Deus protegeu sua
vida e a de sua família do ataque do ladrão naquela noite tantos anos atrás.
Viu a mão poderosa de Deus em todos esses acontecimentos. Ali, deitado na
cama, Grimez orou e pediu para que Deus perdoasse seus pecados e o
ajudasse a se tornar um cristão.

Quando Grimez se sentiu melhor para voltar para casa, agradeceu ao


bondoso pescador por tudo o que havia feito e ofereceu-se para pagar o
trabalho e as despesas que tiveram com ele. Mas o pescador não queria nada
em troca.

– Na verdade, eu devo muito mais a você do que você poderia um dia


dever para mim – disse o pescador para Grimez.

– Como assim? – o guarda-florestal perguntou surpreso. – Você salvou a


minha vida e eu devo tudo a você!

Adolph foi até o guarda-roupa enquanto falava.

– Tenho um tesouro que peguei de você muito tempo atrás, e agora quero
devolver. – Então virou-se para eles com uma grande Bíblia em suas mãos.

– Oh! – Maria exclamou. Ela reconheceu sua querida e antiga Bíblia, que
herdara de sua família e que havia desaparecido de forma tão estranha
naquela noite inesquecível.

Hesitante, o pescador começou a contar a sua história.


– Vejo que você não me reconhece – disse o pescador, olhando para
Grimez. – Mas sou o fora-da-lei que causou tantos problemas na sua
vizinhança. Você prendeu os meus companheiros e os mandou para a prisão.
Fiquei tão furioso com você que jurei que me vingaria. Uma noite, entrei sem
ser percebido em sua casa, com a intenção de matar você e toda a sua família
enquanto vocês dormiam. Fiquei uma parte da tarde e da noite escondido
embaixo do sofá da sua sala de estar, esperando você chegar em casa e ir
dormir. Enquanto estava escondido, sua mulher leu o Salmo 71 em sua
Bíblia. Então, ela se ajoelhou e orou, não só por você e por sua segurança,
mas também por mim e pelo meu coração endurecido! Enquanto ela lia e
orava, um sentimento estranho se apoderou de mim. Parecia que uma mão
invisível se colocou sobre mim e me impediu de fazer o que havia planejado.
Tudo o que eu queria era pegar aquele livro maravilhoso e lê-lo. Na pressa,
deixei minha faca em cima da mesa. Por alguma razão, os seus cães não
latiram quando me viram fugir pela janela. Fiquei escondido por semanas na
floresta perto de sua casa e não fiz praticamente nada a não ser ler sua Bíblia.
Percebi como eu era pecador, e assim como o outro ladrão, aquele na cruz ao
lado de Jesus, fui perdoado. Depois, fui embora daquela região e me tornei
um pescador. Você, Grimez, confiou nas suas armas de fogo e nos seus cães
de guarda, mas eles não poderiam ter salvado você. Foi a Palavra de Deus
que o salvou. Ela o protegeu aquela noite e também o poupou no campo de
batalha. Então, não me agradeça, mas agradeça a Deus, porque através desse
Livro abençoado a sua vida foi salva – e a minha também!
Por Goldie Down
A cada passo que davam, a poeira se levantava em forma de nuvens
sufocantes e grudava nos cabelos negros dos meninos, na sua pele, nas roupas
e nos livros – tudo estava coberto por uma fina camada acinzentada. Só os
seus rostinhos tinham riscas marrons por onde o suor havia escorrido e
limpado a poeira.

– Está mesmo quente – Saraj suspirou. – Seria muito bom se não


precisássemos fazer esta caminhada na hora mais quente do dia.

Daniel engoliu duas vezes para limpar a poeira de sua garganta, antes que
pudesse responder.

– Queria que a vila Kokergill não fosse tão longe. 15 quilômetros é uma
longa distância.

– Queria poder ter água para beber. Estou com tanta sede!

– Queria que tivéssemos bicicletas. Não pareceria tão longe se fôssemos


pedalando até lá.

– Queria! – Saraj interrompeu, e a máscara de poeira no rosto de Daniel


ficou toda rachada ao abrir um sorriso. – O que adianta ficar sonhando? Uma
bicicleta custa mais de dois meses de salário, e nenhum de nós dois tem esse
dinheiro!

Daniel acenou com a cabeça, dando uma piscadela ao sentir a brisa suave
levantar mais uma nuvem de poeira.

– Seria muito mais fácil se tivéssemos bicicletas. Mesmo assim, não


perderia por nada a classe da Escola Sabatina. Somos os únicos que podemos
ler a Bíblia para o povo da vila. Eles nunca escutarão as histórias bíblicas se
não lhes contarmos.
– É verdade – disse Saraj, aumentando o passo para chegar mais rápido. –
Nós somos muito abençoados por ter a oportunidade de estudar na Escola
Adventista e temos o dever de falar aos outros sobre nossa fé.

Os sábados vinham e iam rapidamente. Ainda estava muito quente e ainda


havia muita poeira (não importa a estação do ano, a temperatura quase não
muda naquela parte do Paquistão).

Numa terça-feira de manhã, Saraj estava estudando no dormitório quando


Daniel entrou com muita pressa. Ele estava tão ofegante e tão empolgado que
se atrapalhou todo para falar, e mal conseguia completar as frases.

– Nosso sonho se tornou realidade... escola comprou bicicletas...


evangelismo na vila... sem caminhadas aos sábados.

Saraj deu um salto e os dois começaram a pular de alegria.

Os meninos se sentiram muito importantes no sábado seguinte ao


pedalarem as bicicletas novinhas em folha.

– Cuidem dessas bicicletas – o professor responsável pela ação


missionária advertiu. – Elas custam muito caro e não quero que brinquem
enquanto estiverem indo para a vila. Elas foram compradas para fazer o
trabalho missionário e mais nada. Nada de apostar corridas, perseguir um ao
outro ou...

Mas Daniel e Saraj mal escutaram o professor e já iniciaram a viagem. O


professor sorriu ao olhar para a nuvem de poeira que ficou suspensa no ar,
marcando a trilha feita pelos meninos.

– Bem, eles são bons meninos – disse ele. – Sei que tomarão cuidado.

E eles realmente tomaram cuidado. Com a Bíblia e a Lição da Escola


Sabatina dentro de suas bolsas de pano penduradas no pescoço, os dois
meninos seguraram firme o guidão e prestaram muita atenção no caminho
para evitar pedras, buracos e arbustos espinhosos. De maneira alguma
queriam que aquelas preciosas bicicletas fossem arranhadas ou danificadas.
Era tão mais rápido pedalar do que andar! Eles chegaram tão rápido que
nem acreditaram. Quase todo mundo veio admirar as bicicletas e ouvir as
histórias bíblicas. Foi uma reunião maravilhosa, e os meninos estavam muito
felizes ao montar em suas bicicletas para voltar à escola.

Por um ou dois quilômetros, a trilha acompanhava o canal de irrigação, e


os meninos tinham que prestar atenção dobrada a fim de não se desviarem
muito para o lado e despencar pelo barranco íngreme direto para o canal.

Eles não tinham ido muito longe quando um homem a cavalo apareceu
perto do dique à sua frente. Dois outros homens armados saltaram bem ali.

– Pare! – eles gritaram.

Daniel, que estava na frente, parou. Saraj vinha um pouco atrás e, assim
que viu o homem a cavalo aparecer, percebeu o problema. Antes que os
homens notassem a sua presença, ele entrou em uma trilha estreita e pedalou
o mais rápido que pôde de volta à vila.

– Aonde você está indo? – o homem questionou Daniel.

Daniel estava apavorado. Sabia que aqueles homens deveriam ser dacoits
– ladrões que não davam a mínima para a vida de suas vítimas nem para a lei.

– Estou levando esta bicicleta de volta para a Escola Adventista – Daniel


gaguejou. – Não é minha. É emprestada.

O homem soltou uma gargalhada.

– É claro que esta bicicleta não é sua. Daqui para frente ela é minha!

– Oh, não! – disse Daniel sentindo sua coragem voltar. Ele deveria
proteger aquele objeto que pertencia a Deus e à escola. – Por favor, não leve
a bicicleta. Ela é usada para fazer trabalho missionário. Pertence a Deus.
Você não pode levá-la.

– Ahhh, não posso? – retrucou o homem com muita raiva e apontando a


arma para o peito de Daniel. – Se eu atirar em você, poderei levá-la.
Mais do que depressa, Daniel levantou sua Bíblia à altura do peito e a
segurou na direção do coração.

– Este é o Livro de Deus. Este é um livro sagrado, assim como o Alcorão.


Deus não gostaria que você atirasse em mim através do Seu livro sagrado.

Por alguns minutos o homem hesitou. Ele acreditava em Deus, mesmo não
obedecendo às Suas leis. Então, um dos outros homens tomou a bicicleta.
Batendo na cabeça de Daniel com a parte inferior do rifle, ele o jogou ao
chão.

– Suma daqui, menino – ele gritou. – Corra para salvar a sua vida, antes
que nós o matemos.

Os homens atiraram por cima da cabeça de Daniel e deram muitas


gargalhadas ao verem Daniel correr para tentar se proteger.

– Corra, garoto – gritou o homem, dando mais um tiro no ar.

Daniel continuou a correr. Ele não parou de correr até chegar na vila
Kokergill, onde Saraj o estava esperando.

– O que vou fazer? – lamentou-se ao entrar em uma casa. – Eles levaram a


bicicleta que estava comigo. Fiz o que pude para evitar que a levassem, mas
eles...

– Ouvi os tiros. Eles acertaram você?

– Não, mas eles roubaram a bicicleta. O que o diretor vai dizer? Como
posso voltar para a escola e encará-lo?

– Você fez o que pôde para salvá-la – Saraj tentou confortá-lo. – Venha, é
melhor voltarmos e contar o que aconteceu. Vou deixar a minha bicicleta
aqui, caso aqueles homens ainda estejam por perto. Um dos moradores a
escondeu para mim.

Os quinze quilômetros nunca pareceram tão longos para aqueles meninos


desanimados, que pareciam se arrastar de volta à escola. Quando contaram ao
diretor o que havia acontecido, ele chamou a polícia. Mas não havia nada
mais a fazer. Muitas gangues de dacoits vagavam pelo interior do país e era
impossível encontrar seus esconderijos. Não havia meios de recuperar a
bicicleta.

No dia seguinte, antes do amanhecer, Daniel se dirigiu mais uma vez para
a vila Kokergill. Saraj estava trabalhando, então Daniel concordou em levar a
outra bicicleta de volta para a escola.

Enquanto corria em meio à poeira, perguntas desanimadoras pairavam em


sua mente. Por que Deus permitiu que isso acontecesse com a bicicleta? Ela
estava sendo usada para fazer o trabalho missionário, e isso não é uma boa
coisa? Então por que Deus não cuidou dela? Levaria um bom tempo para
que a escola conseguisse fundos para comprar outra bicicleta e, enquanto
isso, Saraj e ele teriam que enfrentar aquele longo caminho todos os sábados
à tarde. Daniel suspirou alto. Era tão mais rápido ir pedalando! Talvez Deus
tivesse uma razão para tudo isso, mas seria difícil explicar para os moradores
da vila que estavam apenas começando a ter fé no Deus do Céu.

Ao se aproximar do local onde os ladrões estavam escondidos, Daniel


sentiu o desejo de parar e olhar para o canal.

Ele ignorou aquele sentimento. Não, é melhor não perder tempo. Mas
novamente ele sentiu que deveria parar e olhar para o barranco.

Daniel parou. Por um minuto ele ficou pensativo. Mas se ajoelhou na beira
do caminho e olhou lá embaixo para o canal. Não tinha ninguém por ali e
nada fora do normal. A água estava fluindo rapidamente entre as margens
cobertas por um bambuzal. Os pássaros estavam entretidos com seus ninhos
escondidos nos bambus.

Daniel estava quase se levantando para continuar sua caminhada quando


um pano branco à beira da água chamou a sua atenção. O que será que é
aquilo?

Ele se inclinou o quanto pôde para enxergar melhor. Tinha um pano


branco boiando – e uma bicicleta. Tinha uma bicicleta boiando na água!

Daniel desceu o barranco o mais rápido que conseguiu e puxou os bambus


para o lado. Esticando os braços, conseguiu segurar com os dedos o pneu
traseiro da bicicleta e, pouco a pouco, a puxou para perto da margem. Era
uma bicicleta novinha em folha, igualzinha aquela que ele tinha pedalado.
Será que era a mesma? Sim, era da mesma marca. Era a bicicleta – a bicicleta
de Deus. Não restavam dúvidas. Mas por que será que os ladrões a deixaram
ali?

Ao puxar a bicicleta para fora da água, Daniel notou que o longo pano
branco estava enroscado na correia.

– Ah – ele disse alto.

Era óbvio. Um dos ladrões deve ter montado na bicicleta e a ponta do


turbante deve ter enroscado no dente da correia. Para não perder tempo
desenroscando o turbante e arriscar ser pego, caso Daniel chamasse socorro,
o ladrão escondeu a bicicleta entre os bambus e fugiu a pé.

Logo ele deverá estar de volta para pegar a bicicleta enquanto é cedo e
não há muitas pessoas por perto, pensou Daniel, tentando tirar o pedaço de
pano sem estragar a correia. Devo ir para a vila o mais rápido possível.

Puxando um pouco para cá e torcendo um pouco para lá, Daniel


finalmente conseguiu desenroscar o pedaço de pano. Ele fez uma bola com o
pano e enfiou dentro de sua camiseta. Com dificuldade, Daniel tirou a
bicicleta do barranco. De volta para a estrada, pedalou o mais rápido que
pôde até chegar à vila Kokergill.

Os moradores da vila ficaram surpresos em vê-lo tão cedo. Ficaram ainda


mais surpresos ao ver a bicicleta e ouvir a história toda. Todos se juntaram e
olharam com grande admiração a bicicleta que fora encontrada de maneira
miraculosa.

– Deus a salvou – disse o sábio ancião da vila, alisando sua barba. – Deus
salvou a Sua bicicleta. É um milagre recuperar algo que foi roubado pelos
dacoits. Seu Deus é realmente muito poderoso!
Por Jeannie McReynolds
Sob os raios quentes do Sol, uma charrete passava pela estrada fazendo
muito barulho. Formada por toras de madeira dispostas uma ao lado da outra,
a estrada fazia Betty se lembrar da velha tábua de esfregar que usava para
lavar roupas.

As charretes não tinham molas muito boas. Por isso, os solavancos


pareciam chacoalhar todo o corpo de Betty. Mesmo assim, viajar por aquela
estrada esburacada era bem melhor do que afundar as rodas na lama que
ladeava a estrada. O pântano não era um lugar agradável, e o calor parecia
aumentar a cada minuto.

Se ela pudesse ao menos fazer todas as entregas naquele dia e receber


pelos livros encomendados, teria dinheiro suficiente para pagar suas despesas
nas próximas semanas, enquanto trabalhava para vender mais livros em outra
comunidade. Havia meios mais fáceis de ganhar a vida. Vender livros de
porta em porta algumas vezes era um trabalho solitário. Para Betty, porém,
vender livros cristãos era a chance de poder compartilhar com outros as
preciosas bênçãos que significavam tanto para ela. Era uma verdadeira
alegria encontrar pessoas interessadas na Bíblia e que estivessem dispostas a
ouvi-la quando abria a Palavra de Deus.

Betty chegou à pequena comunidade rural de Hansen ainda pela manhã.


Correu de uma casa para outra, entregando os livros e recebendo o dinheiro.

O dia estava passando rápido. Betty parou um pouco sob a sombra de um


velho carvalho para almoçar. Logo depois, dando uma olhadela para o Sol,
voltou depressa ao trabalho. Certamente ela conseguiria terminar todas as
entregas naquele dia. Seus pés pareciam voar, só de pensar que descansaria
aquela noite em casa com sua irmã, Helen, em vez de seguir os longos
quilômetros de volta naquele calor escaldante no outro dia.

Mas quando chegou na casa da família Thompson, depois de dois


minutinhos de conversa, Betty percebeu que não poderia simplesmente fazer
a entrega e sair. Mary Thompson segurou firme a mão de Betty e começou a
contar a respeito da terrível doença que seu marido havia contraído. Mary
precisava de consolo, precisava de esperança, precisava de Jesus.

Betty ficou sentada por duas horas no sofá desbotado, lendo uma
passagem bíblica após a outra e falando sobre o que Jesus fizera em sua
própria vida. Com lágrimas de compaixão nos olhos, Betty se ajoelhou ao
lado daquela mulher desanimada e, em oração, a entregou nos braços do
amorável Salvador. Vez após vez, repetiu as promessas de Deus. Antes de ir
embora, as nuvens negras que cobriam a face triste de Mary se desfizeram e o
brilho da esperança e alegria se apoderou dela.

Com o coração aliviado, Betty correu escada abaixo e fechou o velho


portão assim que saiu. Mas logo teve que parar suas atividades. O Sol estava
se pondo no horizonte e ela teria que viajar de volta para casa no escuro.
Betty tratou de ignorar o friozinho na barriga. Todo mundo sabia que muitos
bandidos se escondiam naquelas estradas à noite. Preocupada, alisou sua
bolsa que agora estava gordinha e pesada por causa do dinheiro que havia
recebido.

Ainda faltavam onze casas em sua lista. Ela teria que voltar àquela
comunidade no dia seguinte. Não tinha como evitar. Subiu na charrete e
começou a viagem de volta para casa.

Já estava escuro quando Betty entrou na rua estreita que levava para fora
da pequena vila. Ela nunca havia sentido tanto medo em toda a sua vida de
colportora.

Ao se aproximar de uma bifurcação, Betty parou o cavalo para pensar por


uns instantes. Os dois caminhos a levariam para casa. Um atravessava as
colinas e o outro era o mesmo caminho que ela havia feito pela manhã e que
atravessava o pântano. A estrada do pântano provavelmente estava infestada
por milhões de mosquitos, mas era mais curta. Se ela soubesse qual das duas
era a mais segura! Em silêncio, Betty orou pedindo para que Deus a guiasse e
a protegesse.

– Tom! Tom! – ela gritou puxando as rédeas.


O velho cavalo a ignorou e seguiu pela estrada como se soubesse o
caminho. Estranho, ela pensou, ele nunca se comporta assim! Betty orou
mais uma vez pedindo para que Deus estivesse no controle.

A oração fez com que ela se sentisse melhor. Começou a cantar baixinho:
“Não ando só, pois Cristo me acompanha por toda parte, aonde quer que eu
for...” Ela podia sentir sua coragem voltar aos pouquinhos. “Não ando só,
Jesus ao lado tenho, e nEle achei Amigo sem igual. De tal Amigo apoio e
guia obtenho; não ando só, pois Ele me é real.”

Por que ela deveria sentir medo se estava acompanhada pelo Rei do
Universo? Ela não estava fazendo o serviço dEle? A paz começou a inundar
seu coração.

Apesar dos solavancos, Betty estava quase cochilando quando Tom


diminuiu o passo e então parou. Ela se endireitou no assento e sentiu o
friozinho na barriga voltar a subir. Seus braços ficaram arrepiados e ela
paralisou de medo. Mal podia respirar. Lá na estrada, bem à sua frente, estava
uma grande carruagem com dois homens.

Por que será que esses homens estavam parados nessa estrada deserta?
Eles certamente não tinham boas intenções! Betty tinha certeza de que a
estavam esperando. Silenciosamente, ela esperou para ver o que eles fariam.
A cada respiração fazia uma oração. Eles não se moveram. Estavam olhando
para a outra direção. Nem mesmo viraram a cabeça.

Mas a carruagem deles estava bloqueando a estrada por completo. Não


tinha como passar por ali. Até mesmo fazer a volta seria difícil. E se ela
saísse da estrada? Betty inclinou a cabeça para olhar. Mesmo à luz fraca da
lua, ela pôde ver a lama espessa dos dois lados da estrada. Nem o cavalo
conseguiria passar por ali. Então, rogou a Deus, Seu poderoso protetor.

Um movimento à sua direita chamou a atenção. Virando imediatamente,


Betty viu um homem saindo da mata. Sua roupa era tão branca que, mesmo
em meio à escuridão, refletia cada raio de luz. Ele não parecia ter
dificuldades em se movimentar pela lama e foi direto para onde o velho Tom
estava.
Segurando o freio, o homem guiou o cavalo para fora da estrada em
direção à lama. Tom seguiu puxando a charrete. Bem que aquele brejo
pegajoso poderia ser uma estrada pavimentada! Sob a liderança do homem
misterioso, eles deram a volta pela grande carruagem e voltaram novamente
para a estrada. Depois que o estranho deu um tapinha no cavalo, Tom saiu
galopando a toda velocidade estrada abaixo. Betty não pôde fazer nada a não
ser segurar firme.

Em casa, Helen esperava ansiosamente a chegada de sua irmã. O


sentimento de que algo não estava bem era cada vez mais forte. Logo se
convenceu de que Betty estava em perigo e orou por sua segurança.

Depois de algum tempo, que mais parecia horas, Helen ouviu o som dos
cascos de Tom. Correndo para fora, ela o encontrou pingando de suor e muito
cansado.

Sem dizer uma palavra, Helen abraçou Betty com uma oração de alívio e
gratidão em seu coração.

– Entre – ela disse. – Conte-me tudo o que aconteceu.

Na manhã seguinte, depois de terminar as entregas, Betty se sentiu


impressionada a visitar a família Thompson. Mary, com um olhar estranho no
rosto, foi encontrá-la na porta.

– Onde você ficou ontem à noite, Betty? – ela perguntou.

– Fui para casa – Betty respondeu, intrigada.

– Que estrada você pegou? – insistiu Mary.

Quando Betty respondeu, Mary disse:

– Fiquei muito preocupada com você. Depois que você foi embora ontem,
ouvimos dizer que tinha ladrões aguardando você nas duas estradas.

Olhando fixamente para Mary, Betty disse emocionada:

– “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os livra”


(Salmo 34:7).
Por Arlene M. Smith
Bum! bloc, bloc, bloc!

– O que aconteceu? – gritaram os alunos enquanto o ônibus parava no


acostamento.

– Furou o pneu – respondeu o motorista. – Permaneçam sentados e fiquem


calmos. Vou tentar ligar para a escola.

Isso tinha que acontecer justo esta noite!, pensei comigo.

Minha família estava planejando ir à festa anual “Portas Abertas” da


Glenview Junior Academy [Escola de Ensino Fundamental de Glenview]. Se
tudo desse certo, chegaria em casa em cima da hora. Mas agora, com o pneu
furado, com certeza chegaria atrasada.

Meus pensamentos foram subitamente interrompidos pela notícia:

– Entrei em contato com a escola e eles já mandaram outro ônibus para cá.
Deve chegar aqui em 15 minutos – disse o motorista.

Depois de algum tempo, que para mim pareceram horas, o ônibus reserva
chegou. Todos nós passamos para o novo ônibus e seguimos viagem. Eram
sete horas da noite e eu ainda tinha uns vinte e cinco minutos pela frente até
chegar ao meu ponto. Comecei a pensar se meus pais estariam esperando por
mim ou se teria que ficar em casa sozinha.

Quando o meu ponto finalmente chegou, saltei do ônibus e fui para casa o
mais rápido que pude. Ao entrar em casa, encontrei meus pais prontos para
sair. Dei uma rápida explicação do que havia acontecido e meu pai disse:

– Você pode nos levar até a escola e depois voltar para se aprontar. Não
vai perder muita coisa se você se apressar.
Levei meus pais para lá e voltei correndo para casa. Troquei de roupa,
tranquei a casa e segui novamente para a escola. Só mais tarde é que fui saber
que dois ou três homens estavam em um furgão próximo à minha casa
observando as minhas idas e vindas.

A festa “Portas Abertas” foi muito boa. Mas quando a programação da


noite finalmente terminou, respirei fundo, aliviada. Agora, sim, poderia ir
para casa e relaxar depois de toda a correria nas últimas três horas e meia.

– Seu pai e eu vamos ajudar na limpeza – minha mãe falou. – Sei que você
tem lição para fazer, então pode pegar o carro e ir para casa. Quando
terminarmos aqui, ligaremos para você vir nos buscar.

Morar a seis quarteirões da escola pareceu ser realmente uma vantagem


naquela noite, depois de todas aquelas viagens para lá e para cá. Ao
aproximar-me de casa, percebi que a luz do meu quarto estava acesa. Tinha
certeza de que havia apagado tudo ao sair. Enquanto estacionava o carro em
frente à garagem, vi a luz do quarto dos meus pais se acender. Sombras se
moviam por trás das cortinas. Pensei a princípio que talvez alguns amigos
tivessem entrado em casa, mas como teriam conseguido entrar sem as
chaves?

Fiz uma rápida oração: “Senhor, ajuda-me a tomar a decisão certa.”

Decidi dar ré no carro e voltar para a escola.

Depois de estacionar o carro, saí correndo para falar com meu pai:

– Pai! Depressa! Tem alguém na nossa casa – gritei.

Deixando cair o esfregão de suas mãos, meu pai correu comigo para o
carro. Pulamos para dentro dele e fomos para casa.

Quando estacionamos o carro em frente à garagem, a casa estava


completamente escura.

– Fique aqui enquanto dou uma olhada para ver se ainda tem alguém na
casa – disse meu pai.
Fiquei no carro e o vi desaparecer pela porta da garagem em direção ao
quintal. Os invasores ainda estariam ali por perto? Orei para que não
machucassem o meu pai, caso não tivessem ido embora.

De repente, meu pai gritou. Sem pensar em outra coisa, pulei do carro e
fui imediatamente para o quintal. Cheguei a tempo de ver meu pai se
agarrando na grade, enquanto um furgão acelerava em sua direção para
depois desaparecer no final da viela.

– O que aconteceu? – perguntei, enquanto meu pai pulava para dentro do


quintal.

– Quando entrei no quintal, vi um homem perto do portão que sai para a


viela. Ao me ver, ele gritou e saiu correndo. Comecei a correr atrás dele, mas
então o furgão apareceu. Eles tentaram me atropelar, mas pulei na grade a
tempo de me salvar.

– O que eles fizeram na casa? – perguntei.

– Não sei – disse meu pai ainda ofegante. – Vamos lá ver.

Quando entramos na casa, gelei. Que bagunça! As portas da geladeira e do


freezer estavam totalmente abertas e tinha comida por toda a parte. Eram
maçãs e laranjas espalhadas por todo o chão da cozinha. A televisão da sala
tinha sido levada e o rádio do meu pai não estava mais em cima de sua
escrivaninha. Olhei para o meu pai para ver o que ele iria dizer.

– Você pode ligar para a polícia enquanto busco a sua mãe na escola? –
ele perguntou. – E não se esqueça de trancar as portas.

Pouquíssimos minutos depois, meu pai estava de volta com minha mãe e
ficamos esperando a polícia chegar. Decidi dar uma olhada no meu quarto.
Quando entrei, percebi que meu som e meus CDs não estavam lá. Todas as
gavetas da minha cômoda haviam sido puxadas e largadas no meio do
assoalho. O colchão e a roupa de cama estavam do outro lado do quarto. As
roupas que estavam no meu armário encontravam-se espalhadas por todo
canto.
Minutos mais tarde, a polícia chegou. Descobriram que os ladrões não
tinham levado nada a não ser o equivalente a R$ 30,00 em dinheiro. Na viela,
perto do portão, estavam amontoados os nossos pertences. Sem dúvida, os
ladrões estavam trazendo o furgão para os fundos da casa para carregá-lo com
nossas coisas quando chegamos.

Antes de deitar aquela noite, agradeci a Deus por ter estado conosco.
Lembrei-me também da passagem bíblica que diz que “o Dia do Senhor vem
como ladrão de noite” (I Tessalonicenses 5:2). Perguntei-me se estava
preparada para ir e deixar tudo o que possuo para trás ou se estava me
apegando muito às coisas materiais e terrenas.
Por Judy Shull
No tempo da minha avó, as moças não costumavam viajar
desacompanhadas – quer dizer, pelo menos a maioria delas. Mas minha avó
Ruth e sua irmã mais velha, Bernice, não eram como as outras.

As duas irmãs estudavam. Ruth queria se tornar uma enfermeira e


Bernice, uma professora. Mas agora estavam de férias por algumas semanas.

– Sempre achei o verão de Michigan muito quente, mas o calor de Miami


é mesmo insuportável – Bernice disse.

– Ah, não reclame – Ruth respondeu enquanto afundava os pés em uma


bacia com água fria. – O inverno é bem mais ameno aqui, e esse calor não vai
nos matar.

Nos minutos que se seguiram, nenhuma das duas disse mais nada.
Estavam entretidas em seus pensamentos. Então Bernice deu um tapinha no
peitoril da janela e, muito empolgada, foi até o lugar onde Ruth estava
sentada.

– Vamos passar uma semana no litoral!

– Sentir a brisa do mar me parece uma ótima idéia. Aonde será que
podemos ir? – Ruth secou os pés em uma toalha e se levantou, pronta para
arrumar as malas. – Para o Atlântico ou para o Golfo do México?

– Para o sul – disse Bernice.

– Para o sul? Tão longe assim?

– Sim. Nunca fomos para o sul da Flórida, e por que não irmos agora? –
Bernice não podia esconder sua empolgação ao falar. – Olha, podemos ir por
Everglades.
Ruth chegou mais perto da irmã, que já estava estudando o mapa
rodoviário.

– Não sei – Ruth hesitou. – Há somente uma estrada que passa por
Everglades e ela é meio deserta.

– Isso é ótimo! Sem trânsito. Vai ser muito bom. Quando você acha que
devemos partir?

Ruth não estava convencida.

– Mas, Bernice, e se um pneu furar ou o carro quebrar na estrada? Não


terá ninguém por perto para nos ajudar.

– Bem, nesse caso, teremos que trocar o pneu ou consertar o carro


sozinhas – respondeu Bernice, sem a menor preocupação.

– Ouvi dizer que existem jacarés no pântano ao lado da estrada e que


podem atacar os motoristas que param no acostamento.

– Ah, Ruth, não seja tão pessimista. Vamos sair bem cedinho, a tempo de
passar por Everglades antes do anoitecer.

Alguns dias depois, as duas irmãs partiram rumo ao litoral ensolarado do


sul da Flórida. As preocupações de Ruth desapareciam a cada quilômetro que
ela e sua irmã viajavam em seu carro novinho em folha.

Depois de viajarem por algumas horas, Bernice olhou no relógio.

– Ruth, acho que não vamos conseguir passar por Everglades antes do
anoitecer. – Bernice olhou preocupada para sua irmã e depois para o Sol no
horizonte.

O coração de Bernice batia mais forte à medida que pisava fundo no


acelerador. Apesar de achar-se capaz de trocar um pneu furado ou consertar
um problema mecânico, o fato de passar pela estrada deserta de Everglades
depois do anoitecer lhe causava arrepios.

A noite caiu. A luz dos faróis refletia no pântano ao lado da estrada. De


vez em quando, Bernice tinha a impressão de ver olhos no meio da escuridão.
Balançando a cabeça, tentava se convencer de que aquilo não passava de
fruto de sua imaginação. Orou pedindo para que não precisasse parar o carro
no acostamento.

A brisa da noite que entrava pelas janelas era tão agradável que logo Ruth
pegou no sono. De repente, Bernice pisou tão fundo no freio que Ruth quase
bateu a cabeça no vidro.

Com voz trêmula, Bernice apontou para frente e disse:

– Ruth, o que você está vendo?

Ruth esfregou os olhos e prestou atenção.

– Ó, Bernice, há três homens na estrada bem ali!

– Um à direita e outro à esquerda – Bernice observou. – O que você acha


que eles estão fazendo? Eles esticaram uma corrente de um lado ao outro da
estrada!

– Assaltantes de estrada! – Ruth falou com um suspiro, ao se dar conta do


grande perigo em que estavam metidas.

– Faz mais de uma hora que vi um carro passar – Bernice comentou,


tentando não deixar sua irmã perceber o quão assustada estava.

Havia um grande pântano nos dois lados da estrada e não tinha como
desviar para a direita ou para a esquerda. Elas também não poderiam fazer a
volta e virar porque ficariam sem gasolina antes que chegassem ao posto
mais próximo.

– Aqueles homens vão parar o nosso carro. Vão nos roubar e talvez até
nos machucar, não vão? – Ruth sentia tanto medo que sua voz quase sumiu.

– Sim, acho que é isso mesmo que eles têm em mente. Não sei o que
fazer.

– Vamos orar! – Ruth curvou prontamente a cabeça e começou a orar


pedindo ajuda a Deus.

– Ruth! – Bernice disse agitada. – Tem um carro logo atrás de nós. Você
está vendo os faróis?

– De onde ele saiu? Não vimos nenhum carro antes, e com certeza já
teríamos visto os faróis, pois aqui é tudo tão plano – Ruth concluiu.

– Olhe! Os assaltantes viram o carro também e estão baixando a corrente.


Acho que não querem assaltar dois carros ao mesmo tempo.

Bernice esperou até que o outro carro estivesse bem atrás delas. Então,
pisou fundo no acelerador e passou rápido pelos assaltantes.

Olhando para trás, Ruth esforçou-se para enxergar em meio à escuridão.

– Bernice, não consigo mais ver o carro que estava atrás de nós. Os faróis
desapareceram!

Maravilhadas, as duas irmãs não conseguiram falar mais nada.

Depois de passarem por Everglades, Ruth falou baixinho:

– O que você acha que acabamos de ver? O carro simplesmente apareceu e


depois desapareceu!

Bernice virou para sua irmã com o rosto radiante de alegria e disse:

– Ruth, acho que vimos um carro guiado pelos nossos anjos da guarda!
Por Jessica Rumford
Rosa Rodriguez cantarolava baixinho enquanto passava roupa. Aquela
noite estava mais silenciosa do que o normal, porque apenas as três filhas do
casal Garcia estavam em casa. Ela deu um sorriso ao escutar as risadinhas de
Maria e suas duas irmãzinhas, Evet e Marissa, que vinham lá do quarto.
Maria, a mais velha, tinha apenas nove anos, e Rosa era a babá das três
meninas.

Rosa se lembrou da maneira bondosa com que o senhor e a senhora Garcia


sempre a trataram. Quando Rosa chegou aos Estados Unidos alguns meses
antes, não tinha emprego e não sabia falar inglês. Foi então que o senhor e a
senhora Garcia ofereceram um lugar para ela ficar.

De repente, os pensamentos de Maria foram interrompidos ao ela perceber


um movimento do lado de fora da janela. O apartamento ficava no andar
térreo, e Rosa se inclinou para tentar ver o que estava acontecendo. Ela ficou
paralisada de susto ao constatar que um homem estava tentando cortar a tela
de proteção da janela. Por um instante, que mais pareceu uma eternidade,
Rosa ficou imóvel, quase sem respirar, de tanto medo. Tudo o que conseguiu
fazer foi olhar fixamente para o homem vestido de preto, com sua faca que
brilhava à luz do luar.

Rosa sabia que tinha de fazer alguma coisa, mas o quê?

– Vá embora! Vou chamar a polícia!

Mas o homem de preto lançou um olhar fulminante em sua direção e caiu


na risada.

– Vou chamar a polícia – ela gritou novamente.

De novo ele deu uma gargalhada e continuou a cortar a tela.

As meninas!, ela pensou, já entrando em desespero. Tenho que protegê-


las. Rosa correu para o quarto. Que bom! As meninas estavam a salvo.

Naquele momento, ao olhar pela janela, Marissa deu um grito. Rosa


seguiu o olhar da menina. Do lado de fora da janela estava o homem de preto,
dando risada enquanto continuava a cortar a tela de proteção. Certamente
aquilo era um pesadelo.

As meninas começaram a chorar, e Rosa ordenou:

– Meninas, vão para a cama e orem!

Então Rosa pegou um cobertor e, sentindo uma coragem que jamais


imaginou que teria, foi em direção à janela. Seu coração palpitava tanto que
parecia bater mais alto do que todos os outros sons à sua volta. Ela cobriu a
janela com o cobertor para que não pudessem ver aquele homem mau.

– Meninas, orem! – Rosa pediu ao correr para o telefone a fim de ligar


para a polícia.

Depois de chamar o socorro, um sentimento de inutilidade se apoderou


dela. Não posso fazer mais nada, pensou Rosa, andando de um lado para o
outro do quarto.

“Meu Pai celestial’, ela sussurrou, “proteja-nos e guarde-nos de todo o


perigo. Amém.”

Quando a polícia chegou, Rosa contou o que havia acontecido. Eles


fizeram uma busca pela área, mas não conseguiram achar o homem. A única
evidência deixada pelo intruso era a tela rasgada.

Apesar de o invasor não ter sido encontrado, Rosa e as meninas nunca se


esqueceram de como, naquela noite em que estavam aparentemente sozinhas,
o Senhor as protegeu do homem de preto.
Por Viva-Jane Haines
Fiquei olhando assombrada para a grande impressão digital deixada na
mesa em que ficava a televisão. Ela era duas vezes maior do que a minha.
Que tipo de pessoa teria entrado em nossa casa e roubado a TV, o
videocassete, a chave do carro do papai e sabe-se lá o que mais?

Fiquei muito chateada ao olhar ao redor da sala de estar. Não podia


acreditar que nossa casa havia sido assaltada.

“Querido Jesus”, disse ao fechar meus olhos, “ajude-me a manter a


calma.”

Mamãe estava parada no meio da sala. Ela ficava repetindo:

– Precisamos agradecer por estarmos todos bem.

Eu sabia que outras casas em nossa vizinhança haviam sido assaltadas, e


algumas pessoas foram machucadas. Estava agradecida a Deus por nos ter
protegido, mas mesmo assim questionei:

– Mamãe, o que vamos fazer a respeito da chave do carro? E se o ladrão


voltar para roubá-lo?

– Querida – mamãe disse, afagando meus cabelos – de alguma forma,


Deus tomará conta da chave do carro.

– Acordei meia hora atrás e fui pegar um copo de água – papai disse. –
Depois voltei para a cama.

– Como isso pode ter acontecido num espaço tão curto de tempo? –
mamãe se perguntou. – Não ouvi nada. Vocês ouviram?

– Não, pelo menos até poucos minutos atrás. Acho que peguei logo no
sono depois que voltei para a cama – papai balançou a cabeça, inconformado.
– Quem quer que tenha feito isso devia estar desmontando as janelas
enquanto eu estava acordado! Levaria tempo demais até que conseguisse tirar
todos os parafusos.

– Papai, o que devemos fazer a respeito do carro? – perguntei. – E se for


roubado? – Sentia-me especialmente preocupada com o carro, porque
morávamos longe da cidade onde estava o Hospital Adventista em que
mamãe e papai trabalhavam, além da escola que eu freqüentava.

– Ainda não sei o que fazer – papai falou, serenamente. – Mas Deus
proverá.

Ficamos em silêncio enquanto papai fazia uma oração agradecendo por


nossa proteção e por Deus não ter permitido que levassem muitas coisas
importantes.

– Vocês estão vendo a minha carteira ali? – Papai foi até a mesa perto da
janela por onde os ladrões haviam entrado. Seus olhos arregalaram-se ao
abrir a carteira e ver que estava intacta. – Recebi ontem o pagamento do mês
inteiro e todo o dinheiro está a salvo na carteira. O fato de não terem visto o
dinheiro é um milagre. E olhem! Aqui está a minha pasta. Está cheia de
documentos importantes, e está tudo aqui!

Mamãe sorriu.

– Sabe, na verdade, não usávamos muito a TV e o videocassete. Diria que,


apesar de tudo, somos muito abençoados.

– Mas e o carro? – perguntei novamente.

– Ainda está na garagem – papai assegurou. – Acho que fui acordado na


hora exata!

Olhei para a porta da frente. Estava escancarada, e isso dava um ar


assustador. Pude sentir a brisa da noite entrar. Ainda estava escuro lá fora,
mas papai acendeu as luzes da varanda e da casa.

– Acho que eles não voltarão agora que sabem que estamos acordados –
eu disse para o papai. – O que devemos fazer? Ainda tenho muito tempo
antes de começar a me preparar para ir para a escola, mas, depois de tudo
isso, acho que não consigo mais pegar no sono.

– Bem, vou dar mais uma olhada por aí – papai informou. – Vou ficar
vigiando. Já que não temos um telefone, assim que amanhecer vou pedir para
o vizinho ligar para a polícia. Por que vocês duas não voltam para a cama e
pelo menos tentam descansar?

Então papai foi para fora verificar se não faltava nada no quintal. Mamãe e
eu ficamos sentadas no sofá.

– Mãe – encostei minha cabeça em seu ombro, buscando um sentimento


de proteção e consolo – Jesus realmente tomou conta de nós, não foi?

– Tenho certeza que sim – mamãe respondeu, confiante.

Nesse momento, papai entrou caminhando pela porta da frente.

– Adivinhem o que eu achei – papai deu um grito, segurando a chave do


carro no ar. – Parece que os ladrões a deixaram cair enquanto fugiam. A
chave estava no meio da grama e pude encontrá-la ao iluminar o chão do
quintal com a minha lanterna.

– Oh, obrigado, Senhor Jesus, obrigado! – todos exclamamos.

Agora não teríamos que nos preocupar com o fato de alguém andar por aí
com a chave do nosso carro.

– Bem, mamãe, acho que podemos ir descansar, já que papai vai ficar
acordado – eu falei, sentindo o cansaço voltar de repente.

Assim, mamãe e eu fomos deitar e dormimos por algumas horas.


Acordamos quando a polícia chegou para olhar o local. Foi assustador ver as
impressões digitais que os ladrões deixaram, principalmente aquela
grandalhona no meio da mesa. Fiquei com medo só de pensar no que uma
pessoa daquele tamanho poderia ter feito conosco. A polícia disse que
tivemos sorte, mas sabíamos que fora mais do que sorte. Tivemos a proteção
de Deus.
Por Viva-Jane Haines
Tinha chovido a noite inteira e parte da manhã. Olhando pela janela
marcada pelas gotas de chuva, percebi que aquela era a nossa chance.

– Mãe, a chuva parou. Você não acha que devemos aproveitar para dar
uma olhada na casa dos Stewart?

– Sim, vamos antes que comece a chover de novo – mamãe respondeu. –


Calce as botas e coloque um casaco. Vou pegar minhas coisas.

Mamãe foi até o armário do corredor e pegou seu casaco enquanto eu


abria a porta da frente.

– Como gosto da chuva – comentei. – Quando chove, há um cheiro de


frescor e limpeza no ar.

– Eu também – mamãe concordou. – Mas estou feliz por ter parado, assim
podemos ir até a casa dos Stewart e verificar se está tudo bem por lá.

A família Stewart ficaria fora da cidade por uma semana e pediu nossa
ajuda para olhar sua casa e pegar a correspondência enquanto estivessem
viajando. Ao cruzarmos a rua, mamãe e eu pulamos algumas poças d’água e
nos divertimos olhando as gotas de chuva nas pétalas das flores.

– Parece que Deus deu de beber a todas as plantas – eu falei, com uma
risada.

Depois de passarmos pelo grande jardim e pela garagem, chegamos na


porta da frente da casa dos Stewart. Como de costume, toquei a campainha.

– Estou tão acostumada a fazer isso que Marilee sempre sabe quando
estou aqui para brincar.

Mamãe virou a chave e abriu a porta. Entrei na casa e fui direto para a sala
de estar, enquanto mamãe parou para pegar o jornal no chão.

– A casa está com cheiro de mofo – ela comentou. – Acho que é por causa
da chuva.

– Está mesmo escuro e frio aqui – concordei.

Assim que mamãe acendeu a luz, percebi pegadas de lama no carpete


claro. Um friozinho subiu e desceu pela minha espinha.

– Mãe, as minhas botas estão sujas de lama?

Coloquei um pé e depois o outro no ar para minha mãe ver.

– Não – ela respondeu, observando assustada as pegadas de lama no chão.


– E as minhas?

Quando balancei minha cabeça dizendo que não, mamãe segurou firme
em minha mão e sussurrou:

– Acho que devemos voltar para a nossa casa agora.

Ao sairmos da casa, mamãe fechou a porta da frente e deu um suspiro de


alívio.

– Querida, acho que tem alguém na casa. A porta de vidro parece estar
aberta e as pegadas saem de lá em direção aos quartos.

Fiquei meio atordoada por um instante.

– O que, mãe? – Eu não podia acreditar no que ela estava falando.

Mamãe repetiu e acrescentou:

– Precisamos pedir ajuda aos vizinhos.

Corremos pelo gramado encharcado, e com uma olhada rápida em direção


à rua notamos um carro preto. Dois homens abriam com muita pressa as
portas, prontos para pular para dentro do veículo. Pudemos ver a TV dos
Stewart no porta-malas do carro.

Batemos bem forte na porta do vizinho, mas ninguém atendeu. Corremos


para a próxima casa e batemos, mas novamente ninguém respondeu.
Corremos de volta para a nossa casa.

– Mãe, temos que ligar para a polícia imediatamente! – Minha voz estava
trêmula e minha mãe estava ofegante.

– Obrigada, Senhor, por Sua proteção– disse ela em voz alta, enquanto
discava 190.

Mamãe também ligou para o papai, que prometeu que viria direto para
casa.

Os minutos pareciam horas enquanto esperávamos sentadas no sofá.


Mamãe e eu nos ajoelhamos e agradecemos o cuidado de Deus por nós.
Entramos na casa enquanto os ladrões estavam lá. Eles poderiam ter nos
atacado ou até nos seqüestrado! O toque da campainha deve ter feito com que
soubessem que estávamos ali e resolvessem ir embora.

– Estou tão agradecida de ter pedido a companhia de Jesus nesta manhã –


eu falei, aliviada.

– Sim, querida. Também orei pedindo a proteção de Deus. Na verdade, li


Hebreus 13:5 e 6 no meu culto matinal. Vou pegar a minha Bíblia. – Mamãe
foi até o quarto e voltou com a Bíblia nas mãos. Sentamos uma bem pertinho
da outra e mamãe leu: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te
abandonarei.”

Fiquei aliviada quando vi papai estacionar o carro. Ele entrou pela porta
da frente e nos abraçou.

– A polícia está na casa dos Stewart – ele disse – e quer falar com vocês
duas.

– Ah não, papai – reclamei. – Não posso voltar lá. É assustador.

– A polícia tem que saber o que aconteceu – ele respondeu


carinhosamente. – Eu vou ficar junto com vocês.

Dessa vez, estava chovendo ao voltarmos à casa dos Stewart. Já não sentia
a mesma empolgação de ir até lá. Os carros da polícia estavam por toda a
parte.

– Entrem, por favor – disse um policial. – Precisamos fazer algumas


perguntas para vocês a respeito do roubo ocorrido aqui.

Levou mais de uma hora para contarmos aos policiais a história inteira. A
casa estava uma bagunça. As pegadas de lama estavam por todo o carpete
claro. Os armários e as gavetas estavam abertos e remexidos.

– Vocês duas tiveram sorte – o oficial de polícia explicou. – Esta não foi a
única casa roubada. Outras quatro casas nesta mesma rua foram roubadas
também. A casa ao lado na qual vocês bateram na porta também estava sendo
roubada. Vocês os assustaram e fizeram com que fugissem sem levar muita
coisa.

Foram muitos dias até que o sentimento de medo desaparecesse. Quando


dei meu testemunho na Escola Sabatina, todos ficaram impressionados e
agradecidos por Jesus ter protegido minha mãe e eu. É maravilhoso saber que
Ele Se importa tanto assim conosco.
Por E. C. Christie conforme contado a B. Westphal
– Sou o Capitão Raymundo Benítez, do Exército Mexicano.

As palavras soaram forte aos ouvidos dos membros reunidos naquela


pequena igreja num sábado à tarde. O grande capitão, com a face bronzeada e
marcada por cicatrizes, manteve a atenção total de todos voltada para ele.

– Antes de deixar o exército, estive envolvido ativamente na luta contra os


rebeldes das montanhas – ele continuou. – Além disso, recebi outra
responsabilidade: fazer tudo o que pudesse contra os protestantes. Não gosto
nem de pensar nas coisas horríveis que vi e fiz.

– Quem é este capitão? – uma pessoa que estava chegando perguntou.

– Ele é um dos membros da nossa igreja que viveu nas montanhas. Todos
estão contando suas experiências para nós hoje – um membro respondeu.

O capitão continuou a falar.

– Pouco tempo depois, ouvi falar a respeito dos adventistas pela primeira
vez. Minha mulher estudou a Bíblia com eles e aceitou as novas doutrinas,
mas eu não estava disposto a mudar. Não podia me esquecer da vida errada e
manchada com sangue que eu havia levado no passado. Foi então que, numa
noite, tive uma visão que me impressionou muito. Foi-me mostrado que era
tempo de deixar os meus maus hábitos (que não eram apenas incontáveis,
mas terríveis demais para serem mencionados em público). Fui batizado e
logo me deixaram responsável pelo grupo da igreja local formado por dois
membros, minha mulher e eu. Eu era o líder e a minha mulher, a secretária-
tesoureira. Agora, nosso grupo possui 20 membros batizados, 30 interessados
e duas unidades da Escola Sabatina. Algumas pessoas que moram nas
montanhas me conhecem muito bem e não têm mais medo de mim. Mas
ainda há algumas que tentam se esconder quando me vêem passar pela trilha.
Não é de admirar, pois elas tiveram razões de sobra para terem medo de mim
e dos meus soldados alguns anos atrás.
Depois disso, o grande capitão contou uma história incrível.

Delfín Ruíz, um obreiro bíblico voluntário, fez uma viagem para as


montanhas. De alguma forma, fez amizade com dois antigos rebeldes que
estavam se escondendo das autoridades havia muitos anos. Os dois homens
aprenderam a viver como animais. Dormiam em cavernas, deixaram o cabelo
e a barba crescer e comiam o que a natureza tinha para oferecer. De vez em
quando, à noite, eles iam disfarçados até a vila para comprar suprimentos,
como munição, roupas e comida.

Os dois homens eram tão temidos que o governo decidiu oferecer uma
recompensa para quem os pegasse. Trinta mil pesos (o equivalente a cinco
mil e novecentos reais) seriam pagos a qualquer um que capturasse os dois
criminosos vivos ou mortos. Mas os dois homens conheciam as montanhas
muito bem. Até aquele momento tinham sido capazes de fugir e se esconder.

Delfín Ruíz mostrou muita coragem ao visitá-los. A princípio, os


criminosos ficaram com medo de confiar nele, mas, ao falar a respeito da
necessidade de mudança de vida e da importância de entregar o coração a
Jesus, eles começaram a confiar mais em Delfín. Depois de algumas visitas,
Delfín e os criminosos começaram a se tornar bons amigos.

– A misericórdia de Deus é oferecida a todos – Delfín explicou. – Ele os


ama, mesmo sabendo que vocês mancharam essas trilhas com o sangue dos
seus inimigos.

– Mas, ainda que Deus nos aceite como Seus filhos, como vamos fazer
com as autoridades? – questionou José, um dos rebeldes. – Eles ofereceram
uma recompensa por nossas cabeças, e há várias pessoas que desejam o
dinheiro.

– Deixem isso com o Senhor – encorajou Delfín. – Mas vocês têm razão
ao dizer que correm perigo. Quando saí da vila hoje, ouvi os moradores
fazendo planos para vir atrás de vocês. A quantia de trinta mil pesos é uma
boa recompensa para aqueles homens. Acho que eles os encontrarão desta
vez. Talvez hoje seja o seu último dia.

Os criminosos ainda insistiram:


– Delfín, você acha mesmo que Deus nos aceitaria como Seus filhos? Não
temos nada para Lhe oferecer. Será que Ele ouvirá a oração que você nos
ensinou? Se isso for verdade, não nos importamos com o que vai acontecer.
Guarde as nossas armas, assim não ficaremos tentados a usá-las para matar
ninguém!

Eles entregaram as armas para Delfín Ruíz. Ele pegou os revólveres e


observou as marcas feitas na parte de madeira das armas. Havia doze marcas
no revólver de José e dez no de seu companheiro. Isso significava doze
pessoas mortas por José e dez por seu amigo.

– Daqui em diante, vamos confiar na sua palavra de que Deus cuidará de


nós – eles prometeram. – Se Ele nos salvar hoje, seremos Seus seguidores
pelo resto de nossa vida.

– Com Deus, vocês não estarão sozinhos – Delfín lhes assegurou,


enquanto se apressava para ir embora por uma trilha não muito usada, e assim
evitar o encontro com os moradores da vila.

Enquanto passava despercebido pela floresta, Delfín orou para que Deus
cuidasse dos dois criminosos.

Não levou muito tempo até que José e seu amigo percebessem que
estavam realmente em perigo. Tiros vinham em sua direção e eles notaram
que haviam sido encurralados. Seus inimigos estavam atirando por detrás das
pedras e das árvores.

“Senhor Jesus”, clamou José em sua hora de aflição. “Salva-me e eu Te


servirei até o fim!”

Seu colega conseguiu se esconder dentro da caverna, mas José foi atingido
em vários lugares do corpo. Apesar de ferido, ele correu até os homens
armados.

As pessoas tinham tanto medo dele que desapareceram montanha abaixo,


sem notar que ele não estava com seu revólver. Mas estavam certas de que
José morreria logo por causa de seus ferimentos.
Quando foram embora, o criminoso que não tinha sido baleado saiu da
caverna e viu o corpo de José estirado no chão. Ele correu rapidamente na
direção do amigo.

– Vamos, vou levá-lo para a caverna.

– Eles me acertaram em vários lugares – José disse em meio a gemidos. –


Um aqui na cabeça, outro no meu queixo, bem aqui no meu estômago, no
braço e outros dois no meu peito.

Sentados na escuridão e solidão das cavernas, José e seu amigo já haviam


conversado várias vezes a respeito de seus planos. Combinaram que, se algo
acontecesse a um deles, o outro cavaria uma cova dentro de uma das cavernas
e o enterraria ali.

O homem começou a arrastar José para dentro da caverna, onde poderia


enterrá-lo mais tarde. Mas, aos poucos, José começou a andar sozinho e,
quando o susto passou, ele disse:

– Não me sinto tão mal quanto pensava. Talvez você poderia achar um
médico para vir até aqui. Venha, ajude-me a tirar esta camisa primeiro e...

– José! José! – gritava uma voz à distância. Os dois criminosos se


entreolharam com um ponto de interrogação em seus olhos.

– Será o Delfín Ruíz?

– A voz é bem parecida com a dele!

– É Delfín, com certeza!

Esquecendo-se de seus ferimentos, José correu por entre os galhos e


arbustos e, juntamente com seu amigo, foi ao encontro do obreiro bíblico que
estava na trilha. De repente, o amigo percebeu algo e, sem conseguir esperar
para dar a notícia, gritou para Delfín:

– José foi baleado em seis lugares. Olhe para o seu braço, sua cabeça, seu
queixo, seu peito e seu estômago! Mas nenhuma bala entrou em seu corpo!
Nem mesmo a pele está machucada!
Ao examinar José, Delfín não encontrou o que procurava – sangue
jorrando por ferimentos abertos. Encontrou apenas seis pequenos ferimentos
causados pelas balas que atingiram o corpo de José e caíram no chão sem
machucá-lo.

– Deus cuidou de você – Delfín afirmou. – E agora?

– Prometemos ao Senhor que O serviríamos para sempre se Ele nos


salvasse. Ele assim o fez. Mas, Delfín, precisamos da sua ajuda. Não sabemos
o que fazer. As autoridades nunca vão acreditar que nós mudamos. Não
podemos sair do nosso esconderijo.

– Tem uma pessoa que pode ajudá-los e livrá-los do problema com as


autoridades. Ele também pode ensinar-lhes as verdades que a Igreja
Adventista prega. Esse homem é o Capitão Raymundo Benítez.

– Quem? – exclamaram os dois homens, surpresos. – Você com certeza


não se refere ao Capitão Raymundo. Ele e seus homens costumavam enforcar
os rebeldes nas árvores perto dos barrancos. Provavelmente, somos os únicos
dois que ele não conseguiu pegar. Não o capitão!

– Sim – Delfín respondeu calmamente. – O capitão pode ajudá-los. Ele


agora é cristão.

Finalmente, os dois homens foram persuadidos a se encontrar com o


capitão. Os dois ex-criminosos não foram até ele com revólveres em suas
mãos como antigamente, mas com as duas pequenas Bíblias de cor vermelha
que Delfín lhes havia dado. O capitão os encontrou, não como faria no
passado, olhando por trás do cano de um rifle superpotente, mas com um
amigável aperto de mão e um caloroso abraço mexicano.
Por Goldie M. Down
Harry reclinou o corpo contra uma caixa e tentou se acomodar o melhor
que pôde. Tinha que concordar com Frank: aquele desconfortável carro de
bois com apenas alguns centímetros de palha para proteger os ossos
realmente era a pior maneira de se viajar.

Eles haviam viajado o dia todo para levar lousas, caixas de giz e outros
suprimentos para uma das escolas missionárias. Mesmo com o melhor par de
bois daquela parte da Birmânia, como Harry se orgulhava em dizer, a viagem
era lenta, com uma velocidade média de apenas dois quilômetros por hora.
Aquela viagem duraria quatro ou cinco dias.

Às três da manhã, Harry desistiu de tentar pegar no sono. Seu corpo


inteiro estava dolorido, e seus músculos endurecidos se recusavam a agüentar
aquela tortura por mais tempo. Dando um grande bocejo, olhou à sua volta.

A lua desaparecera por volta da meia-noite, mas as estrelas brilhavam o


suficiente para fazer com que os vultos escuros das árvores e arbustos
formassem silhuetas no céu.

À luz das primeiras horas do amanhecer, os bois aparentavam uma cor


acinzentada e tinham um ar assustador. O orvalho resplandecia em seu couro
brilhante e em seus chifres cheios de curvas. As rédeas soltas e o sacudir da
cabeça de Hteelun mostravam que o jovem guia dormia.

Frank se espreguiçou, bocejou e esfregou os braços e pernas para ativar a


circulação.

– Você está acordado? – ele perguntou com voz rouca.

– Sim, não agüento mais ficar neste carro. – Harry bocejou novamente. –
Por que não saímos daqui e andamos um pouco? Podemos caminhar para
esticar os ossos e esperar à beira da estrada até que Hteelun nos alcance.
– Ótima idéia – respondeu Frank.

Os dois homens pularam do carro de bois, acordaram Hteelun e contaram


o que iriam fazer. Bem mais animados, saíram em sua caminhada.

Logo o “nhec-nhec” do carro de bois ficou para trás e, com exceção das
vozes de Harry e Frank, nenhum outro som atrapalhava o silêncio da
alvorada. Seguiram com passos firmes por mais de três quilômetros,
respirando profundamente e apreciando o ar puro, limpo e livre da poeira
levantada pelos cascos incansáveis dos bois.

Perto da curva que estava à frente, eles viram uma árvore caída ao lado da
estrada. Frank sugeriu que descansassem um pouco e esperassem o carro. Os
dois homens se sentaram no tronco e conversaram a respeito do trabalho
missionário na Birmânia.

De repente, Frank levantou a cabeça.

– O que é esse barulho?

Os dois homens ergueram a cabeça, ouvindo com atenção o som distante,


que ia ficando cada vez mais forte.

– Thakin, Harry. Thakin. Thak...

– É Hteelun! – Harry disse, dando um salto e saindo em disparada estrada


afora. Frank corria atrás dele. Por que será que o garoto estava gritando? O
que poderia estar errado?

Eles percorreram uns quatrocentos metros antes de ver Hteelun correndo


em sua direção. Harry o agarrou pelo braço.

– O que aconteceu, Hteelun? Onde está o carro?

– Assaltantes, Thakin! – O garoto ofegante quase não conseguia falar. –


Estava guiando os bois... tranqüilamente... pela estrada... quando quatro
assaltantes... de repente saíram dos arbustos à beira da estrada... e tiraram as
rédeas das minhas mãos. Um deles segurou uma faca contra a minha cabeça...
enquanto os outros tiraram os jugos dos bois... e os levaram para dentro da
mata. Thakin, não sabia o que fazer... havia quatro homens...

– Está tudo bem, Hteelun – Harry acalmou o garoto assustado. – Você não
pôde fazer nada contra tantos homens. Mas nós temos que recuperar aqueles
bois. Eles vão matá-los para comer, e não podemos deixar que isso aconteça.

Os três foram o mais rápido que puderam até o carro abandonado. Lá


estava ele com o varal apontado para o céu e a parte traseira afundada na
poeira. Nada mais fora levado.

Harry foi direto para o lugar onde seus pertences estavam amontoados e
vasculhou a palha até achar o rifle que seu amigo guarda-florestal sempre lhe
emprestava para fazer longas viagens.

Os olhos de Hteelun brilharam ao ver o grande rifle. Pareceu que uma


coragem súbita se apoderou dele ao observar a arma. Muito agitado, remexeu
a palha embaixo de uma caixa cheia de giz e tirou um longo dah-shey, um
tipo de espada. Valente como um leão, agora que tinha os dois missionários
para acompanhá-lo, Hteelun levantou a espada acima de sua cabeça.

– Para que lado eles foram? – Harry olhou para Hteelun, e o garoto
apontou a espada para todos os lados possíveis.

– Para aquele lado, Thakin, aquele outro ali, aquele lá...

Harry encolheu os ombros e começou a rondar a estrada. A luz da manhã


e a grama alta esmagada ao lado da estrada logo responderam à sua pergunta.
Ele deu um passo à frente e parou para dar um grito aos companheiros:

– Frank, é melhor você ficar com o carro e vigiar nossas coisas. Hteelun,
vá na minha frente. Você corre mais rápido do que eu.

Foi fácil seguir a trilha deixada pelos bois na grama. Os dois correram sem
parar por aproximadamente uma hora, até chegar a uma grande clareira no
meio da floresta. No centro da clareira ficava uma cabana feita de bambu.

Hteelun estava a 50 ou 60 passos de distância, e Harry o escutou gritar:

– Estou vendo os bois! Eles estão amarrados em uma estaca embaixo da


cabana!

Ele balançava a espada de um lado para o outro sobre a sua cabeça e


apontava descuidadamente para a clareira em que Harry notou a presença dos
quatro ladrões, que descansavam na varanda da cabana.

Os ladrões ficaram em pé de um salto, xingando e ameaçando o garoto.


Mas eles nem ousaram descer as escadas e capturá-lo, o que sem dúvida
teriam feito se não tivessem visto Harry correr com a enorme arma em sua
direção.

O coração de Harry parecia que ia sair pela boca, e não era só porque
estava correndo. Ele sabia de algo que ninguém mais desconfiava – a arma
estava descarregada! Ele havia se esquecido de carregá-la e de levar munição.

Se os ladrões suspeitassem que sua arma estava descarregada, com certeza


não esperariam nem um segundo para matá-los. Parando por um momento,
Harry levantou a arma, destravou-a, fingiu carregar o tambor e, com um
solavanco, fechou-o novamente, dando um espetáculo cheio de ruídos.

Hteelun correu para a cabana e se esforçou para desatar os nós que os bois
haviam apertado ainda mais ao se agitarem e pularem para lá e para cá. Harry
se aproximou da cabana. Ele estava no meio da clareira quando o chefe dos
ladrões desembainhou sua espada dah-shey e correu escada abaixo, indo ao
seu encontro.

Harry sentiu um enorme frio na barriga. E agora? E se seu blefe falhasse?


Ele sabia que aqueles homens tribais não só eram especialistas em lutas com
espadas, mas também podiam atirá-la com uma exatidão fatal.

Com uma oração nos lábios, Harry continuou a correr. De repente, o chefe
dos ladrões gritou em seu dialeto:

– Meu Senhor!

Atirando sua espada para o lado, em um gesto de submissão, ele se atirou


aos pés de Harry.
Harry quase perdeu a força, aliviado. Mas fez uma cara brava e se lançou
em direção ao chefe.

– Seu ladrão! – Harry disse corajosamente. – Como você ousou roubar


aqueles bois?

O chefe permaneceu curvado.

– Ó, Thakin, não sabia que eles pertenciam a você. Se soubesse, não teria
feito isso!

– Mas você fez. – Harry esforçava-se para falar firme.

Ele sentiu pena do pobre homem agachado ali aos seus pés.

– Você tem sorte que aqueles animais pertençam a mim, um missionário.


Se eu fosse um oficial do governo, você seria punido severamente. Mas sou
um homem de Deus e amo todos os homens como meus irmãos. Aqui... –
Harry pegou a dah-shey do chefe dos ladrões e a devolveu para ele.

– Não! – O chefe não ousou pegá-la. – Sou o seu escravo agora.

Harry sabia o que ele queria dizer. De acordo com o costume birmanês,
quando dois homens entram em combate, o derrotado se torna o escravo do
vencedor.

– Não, não. – Harry deixou a espada no chão, mesmo com risco de que o
ladrão a apanhasse e o atacasse novamente, e esticou a mão. – Vamos ser
amigos. Qual é o seu nome?

– Me chamam de Dah-mya (“Atirador de Espadas”).

Enquanto os outros três ladrões olhavam pasmados a cena sem acreditar


no que estava acontecendo, Harry ajudou o chefe a se levantar. Os dois foram
caminhando e conversando até o fim da clareira, onde Hteelun esperava com
os bois. A atitude do missionário tocou profundamente aquele chefe. E aquele
roubo dos bois foi transformado em uma oportunidade única de apresentar
Aquele que veio libertar a todos da escravidão do pecado – missionários ou
ladrões.
Por Judy MacDonnell
Eu queria ter um animalzinho de estimação. Não queria um gato, nem um
cachorro, mas uma galinha branca. Assim, quando meus pais decidiram
encomendar duas dúzias de galinhas da Austrália, fiquei muito feliz e
empolgada.

– Você vai ganhar a sua galinha – disse papai. – Além disso, quando
crescerem, as galinhas vão abastecer a nossa família com ovos fresquinhos.

A encomenda foi colocada no correio e ficamos aguardando.

Naquela época, nós morávamos em uma Missão chamada Bena Bena, no


meio das montanhas da Nova Guiné. Meu pai era o diretor do colégio interno,
que era circundado por enormes montanhas. De certa forma, eu levava uma
vida muito solitária. Não havia mais nenhuma outra família de missionários
na região e tive que me conformar em completar meus estudos por
correspondência.

A vantagem é que morávamos apenas a uma hora da cidade mais próxima,


Goroka. As outras famílias de missionários, por morarem muito longe, só
podiam ir à cidade mais perto de suas casas uma vez a cada seis meses. Mas
nós íamos uma vez por semana, embora aquela viagem pelas montanhas
fosse bastante difícil.

Um dia, ao chegarmos em Goroka, havia uma caixa à nossa espera e 25


pares de olhinhos brilhantes piscaram quando viram a luz. As 25 franguinhas
fofinhas que ali estavam se agruparam rapidamente.

Com muita empolgação, levamos as franguinhas para a sua nova casa –


um galinheiro feito de bambu e cercado por um alambrado para que
pudessem correr por ali sem se perder. Elas logo se acostumaram ao lugar e
começaram a crescer e a engordar. As semanas se passaram e as franguinhas
se tornaram galinhas fortes e saudáveis. Não faltavam ovos em nossa casa!
Mas certa manhã, assim que papai soltou as galinhas do galinheiro,
percebeu que estavam faltando duas. Nenhum sinal delas podia ser visto, nem
mesmo uma pena! À noitinha, papai trancou o galinheiro.

Alguns dias depois, outras duas galinhas desapareceram. Dessa vez, papai
ficou assustado. Nesse ritmo, não demoraria muito para que o nosso bando de
galinhas fosse exterminado!

Papai colocou uma parede extra no galinheiro, mas as galinhas


continuaram a desaparecer. Ele tentou instalar um sistema de alarme, que
dispararia na casa se o ladrão tentasse entrar, mas não funcionou.

Então papai teve uma idéia. Ele colocou no papel o preço que havia
pagado pelas galinhas e o quanto gastara para alimentá-las até aquele
momento. Calculou o valor atual das galinhas, incluindo os ovos que
botavam. Depois, devolveu o dízimo baseado no aumento de valor, ou lucro,
que tínhamos obtido com as galinhas.

“Pai celestial”, ele orou, “o Senhor prometeu que, se levássemos os nossos


dízimos à Tua casa, o Senhor repreenderia o devorador. Por favor, proteja as
nossas galinhas com a Tua mão poderosa, se esta for a Tua vontade. Amém.”

As galinhas estavam a salvo. Elas continuaram a nos abastecer


regularmente com ovos fresquinhos e nenhuma outra galinha desapareceu do
galinheiro. Ficamos a nos perguntar como o Senhor havia impedido que o
ladrão de galinha continuasse sua obra.

Um dia, um aluno ouviu os moradores da vila conversar e contou a


história para o papai.

– Quando você trouxe as franguinhas aqui pela primeira vez, havia dois
homens espionando – ele disse. – Um deles morava na vila perto daqui.
Assim que as franguinhas cresceram o suficiente para serem comidas, os dois
homens se esconderam no mato perto do galinheiro e esperaram você trancar
tudo. Logo em seguida, quando tudo estava escuro, eles entraram, cortaram o
alambrado e roubaram duas galinhas, uma para cada um. De tempos em
tempos, voltavam para roubar mais duas galinhas. Um dia, enquanto estavam
escondidos no mato, um homem alto vestido de branco desceu a montanha na
direção deles. O homem alto passou pelo galinheiro e foi direto para onde
eles estavam escondidos. Um dos ladrões deu um salto e correu para a vila. O
outro correu pela estrada e se escondeu no matagal no topo do morro. O
homem alto vestido de branco seguiu o ladrão que correu para o morro. Ao
chegar no local onde o ladrão estava escondido, o homem alto se inclinou e o
tocou. Então o homem vestido de branco desapareceu! Os dois homens
ficaram com tanto medo que decidiram que nunca mais roubariam suas
galinhas de novo.

Sabíamos que o homem que espantara os ladrões de galinha aquela noite


não era um homem comum. Era impossível manter as roupas brancas com a
poeira avermelhada das montanhas!

Naquela noite, papai fez uma oração especial: “Obrigado, Senhor, por
enviar um anjo para guardar nossas galinhas. Sabemos que, se o Senhor Se
preocupa até com a segurança de nossas galinhas, quem dirá do bem-estar
dos Seus filhos!”

Você também pode gostar