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Andava um dia
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Em pequenino
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Nos arredores
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De Nazaré,
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Em companhia
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De São José,
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O bom Jesus,
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O Deus Menino.
Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do Sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.
Jesus, doído
Do desgraçado
● Do passarinho,
● Sai do caminho,
● Corre apressado,
● Quebra o encanto,
● Foge a serpente,
● E de repente
● O pobrezinho,
● Salvo e contente,
● Rompe num canto
● Tão requebrado,
● Ou antes pranto
● Tão soluçado,
● Tão repassado
● De gratidão,
● De uma alegria,
● Uma expansão,
● Uma veemência,
● Uma expressão,
● Uma cadência, Que comovia
● O coração!
● Jesus caminha
● No seu passeio,
● E a avezinhaContinuando
● No seu gorjeio
● Enquanto o via;
● De vez em quando
● Lá lhe passava
● A dianteira
● E mal poisava,
● Não afroixava
● Nem repetia,
● Que redobrava
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De melodia! Assim foi indo
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E foi seguindo.
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De tal maneira,
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Que noite e dia
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Numa palmeira,
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Que havia perto
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Donde morava
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Nosso Senhor
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Em pequenino
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(Era já certo)
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Ela lá estava
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A pobre ave
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Cantando o hino
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Terno e suave
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Do seu amor
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Ao Salvador!
Olávio Bilac, Brasil, século XIX
A AVÓ
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A avó, que tem oitenta anos,
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Está tão fraca e velhinha!...
● Teve tantos desenganos !
● Ficou branquinha, branquinha,
● Com os desgostos humanos.
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A velha acorda sorrindo.
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E a alegria a transfigura;
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Seu rosto fica mais lindo,
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Vendo tanta travessura,
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E tanto barulho ouvindo.
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Chama os netos adorados,
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Beija-os, e, tremulamente,
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Passa os dedos engelhados,
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Lentamente, lentamente,
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Por seus cabelos doirados.
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Fica mais moça, e palpita,
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E recupera a memória,
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Quando um dos netinhos grita :
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"Ó vovó ! conte uma história!
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Conte uma história bonita!"
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Então, com frases pausadas,
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Conta histórias de quimeras,
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Em que há palácios de fadas,
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E feiticeiras, e feras,
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E princesas encantadas ...
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E os netinhos estremecem,
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Os contos acompanhando,
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E as travessuras esquecem,
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- Até que, a fronte inclinando
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Sobre o seu colo, adormecem ...
Manuel Bandeira, Brasil, Século XX
● TREM DE FERRO
● Oô...
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Quando me prendero
● No canaviá
● Cada pé de cana
● Era um oficiá
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Oô...
● Menina bonita
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Do vestido verde
● Me dá tua boca
● Pra matá minha sede
● Oô...
●
Vou mimbora vou mimbora
● Não gosto daqui
● Nasci no Sertão
● Sou de Ouricuri
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Oô...
●
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Vou depressa
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Vou correndo
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Vou na toda
● Que só levo
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Pouca gente
● Pouca gente
● Pouca gente...
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Cecília Meireles, Brasil, Século XX
A CANÇÃO DOS TAMANQUINHOS
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Troc… troc… troc… troc…
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ligeirinhos, ligeirinhos,
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troc… troc… troc… troc…
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vão cantando os tamanquinhos…
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Chove. Troc… troc… troc…
● no silêncio dos caminhos
● alagados, troc… troc…
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vão cantando os tamanquinhos…
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E até mesmo, troc… troc…
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os que têm sedas e arminhos,
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sonham, troc… troc… troc…
● com seu par de tamanquinhos…
CECÍLIA MEIRELES – COLAR DE
CAROLINA
● Com seu colar de coral,
● Carolina
● corre por entre as colunas
● da colina.
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● O colar de Carolina
● colore o colo de cal,
● torna corada a menina.
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Ou guardo dinheiro e não compro o doce,
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ou compro o doce e não guardo o dinheiro.
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Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
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e vivo escolhendo o dia inteiro!
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Não sei se brinco, não sei se estudo,
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se saio correndo ou fico tranqüilo.
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Mas não consegui entender ainda
●
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Vinícius de Moraes, Século XX
● Lá vem o pato
● Pata aqui, pata acolá
● Lá vem o pato
● Para ver o que é que há
● Lá vem o pato
● Pata aqui, pata acolá
● Lá vem o pato
● Para ver o que é que há
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O pato pateta
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Pintou o caneco
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Surrou a galinha
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Bateu no marreco
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Pulou do poleiro
●
No pé do cavalo
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Levou um coice
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Criou um galo
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Comeu um pedaço
● De genipapo
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Ficou engasgado
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Com dor no papo
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Caiu no poço
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Quebrou a tigela
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Tantas fez, o moço
● Que foi pra panela
José Paulo Paes, 1990
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio,pião.
Só que
bola, papagaio,pião
de tanto brincar
se gastam.
● As palavras não:
● quanto mais se brinca
● com elas
● mais novas ficam.
● - Giraaafffaaa!!!
● Ô giraaafffaaa!
● Me escuta aqui!
● Tô cá na Terra.
● - Não precisa gritar
● Sou pescoçuda,
● Mas não sou surda.
Tatiana Belinky, 1987
● Ao ver uma velha coroca
● Fritando um filé de minhoca,
● O Zé Minhocão
● Falou pro irmão
● “Não achas melhor ir pra toca?”
Ulisses Tavares, 1984
● Último Acorde do Violino Solitário
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Às vezes nem eu mesmo
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sei quem sou.
● às vezes sou.
● "o meu queridinho",
● às vezes sou
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"moleque malcriado".
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Para mim
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tem vezes que eu sou rei,
● herói voador,
● caubói lutador,
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jogador campeão.
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às vezes sou pulga,
● sou mosca também,
● que voa e se esconde
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de medo e vergonha.
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Às vezes eu sou Hércules,
● Sansão vencedor,
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peito de aço
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goleador!
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Mas o que importa
● o que pensam de mim?
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Eu sou quem sou,
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eu sou eu,
● sou assim,
● sou menino.
Maria Dinorah, 1986
● MAPA
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Boi de olhar tristonho, olhar perdido […]
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Caminhas cada dia para a morte,
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E nem sabesque amanhã precisaremos
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Tua carne dourando a nossa fome
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Nosso prato diário desconhece
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Teu mugido tristonho, teu olhar descansado.