Leitura e Produção Textual Apesar da humanidade falar que são raras as coisas que se mantém constante em nossas vidas, há sempre acontecimentos, pessoas ou características que, feliz ou infelizmente, se tornam parte de nós. Infelizmente, a anorexia vem me acompanhando nos últimos nove anos. Tal problema está tão enraizado em mim que considero com o elemento protagonista da minha vida, já que isso me acompanha desde manhã até a hora que eu vou dormir. Já se imaginou tendo algo do teu lado, mesmo tu lutando contra aquilo, por metade da tua vida?Eu te digo, é como eu só consegui-se ver partes quando olho no espelho, não consigo me ver como um algo completo. Eu acredito que isso tenha acontecido por causa do fato de estar distante da minha imagem corporal. É como se o transtorno não permitisse me ver completamente, mas somente aquilo que desagradava, já que, cada vez que eu me olho no espelho, à primeira coisa que meus olhos reparam é nos meus braços--que não estão tão bronzeados quanto eu gostaria-, nas estrias no meu quadril, nas sardas que eu tenho no ombro esquerdo ou até mesmo no meu seio direito que é levemente maior que o esquerdo. É essas pequenas coisas que faz cada dia ser mais difícil Todavia, mesmo tendo os sinais do transtorno alimentar desde nove anos, foi com 11 que as coisas ficaram mais sérias. Havia esse menino que era, para minha versão de 11 anos que só ouvia Taylor Swift, a perfeição, a pessoa para qual eu dedicaria essas duas músicas sobre se apaixonar: “Mine” (Meu) e “You Belong with Me” (Você pertence a mim). Contudo, para ele, eu não estava a sua altura. Sério, imaginem ouvir isso. Porém, o pior nem tinha chegado. Eu juro, esse foi um dos poucos momentos em que eu quis poder usar o vira tempo da Hermione (artifício que possibilita voltar no tempo), porque o que ele me disse antes me deixou muito triste, mas o que veio depois matou para sempre uma parte de mim. Jamais irei esquecer as exatas palavras: — Bibi, você é gorda! Suas bochechas são muito grandes, suas pernas e barriga também! Se você fosse magra, eu até gostaria de você. Agora, depois de anos de terapia, eu sei que essas palavras foram à chama para o barril de pólvora de tudo o que aconteceu e acontece comigo, isso é, o meu pavor por engordar (que me fez desenvolver uma gastrite), a minha reação, muitas vezes bruscas, a qualquer comentário sobre a minha aparência e, até mesmo, o meu receio de comer qualquer coisa que não esteja no meu plano alimentar. Eu sei que, nessa mesma semana, foi a primeira vez que eu fiquei sem comer por um dia; foi nessa mesma semana que o meu vício de me pesar após qualquer coisa que eu comesse surgiu (felizmente, isso acabou em 2019); foi nessa mesma semana que o hábito de contar todas as calorias de TODOS os alimentos que como,infelizmente esse eu ainda tenho, surgiu. Eu tenho percepção de que isso deixou marcas tão profundas que, até hoje, toda vez que eu vejo uma foto tirada de mim ou alguém faz algum comentário sobre o meu corpo, eu tenho uma tendência, a qual eu não me orgulho nem um pouco, de parar de comer Apesar de tudo, eu consigo perceber que várias coisas já melhoraram, uma vez que, hoje eu consigo comer alimentos “calóricos” sem me punir drasticamente depois-já que até 2019, toda vez que eu comia um hambúrguer ou qualquer coisa do gênero, eu me obrigava a pular o almoço no próximo dia ou fazer um jejum muito intenso-, consigo tirar uma foto de corpo todo e postar no Instagram - até ano passado só havia fotos do meu rosto- ou até mesmo tomar banho de piscina com biquíni. Porém, ainda há várias ações ou até mesmo pensamentos que eu ainda não consigo me livrar - como usar uma calça jeans mais justa, conseguir não me preocupar com o peso na balança e entender que ser saudável vai muito, além disso. Espero conseguir superar isso algum dia, mas, por enquanto, eu ainda estou tentando