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Então você se coloca certas metas — compromete-se a emagrecer, a cuidar da sua saúde,

a cuidar da sua vida espiritual, a estudar mais. E acontece que, em algum momento, você
fura a dieta e come aquela torta de limão. Ou não acorda no horário. Ou não termina um
estudo que havia começado.
E aí, o que acontece com você? Em vez de se colocar em um lugar de humildade e dizer:
“Beleza, não deu para fazer a coisa do jeito mais perfeito possível, mas não é por isso que
eu vou chutar o pau da barraca e abandonar tudo. Vou continuar de onde eu parei, voltar
um passo atrás e continuar no meu plano”, você tem vontade de jogar tudo para o alto.
Quando temos uma expectativa irreal, uma alta expectativa sobre nós mesmos, isso de-
monstra um total desconhecimento sobre quem a gente é, demonstra uma total falta de
humildade. Humildade é caminhar diante da verdade. Mas, quando chutamos o pau da
barraca, demonstramos uma incapacidade de admitir que somos fracos mesmo, que não
somos o Super Homem, a Mulher Maravilha.
Então, se enxergue, enxergue essa miséria constitucional que você e eu temos, todo mun-
do tem isso, é assim que funciona. O que você faz? Não faça nada. “Ah, comi torta de limão.”
Tudo bem, e agora você vai passar o resto do mês comendo torta de limão? Não. Sem re-
morso, você diz: “É, esse sou eu.” No dia seguinte, você recomeça a dieta. Simples.
Mas, se você abandona tudo, veja o processo que acontece na sua cabeça: você não vai
mais ter de dizer “eu falhei”. Mas você vai ter falhado. Desistindo, você não mais terá a sen-
sação psicológica de falha, mas a sua vida terá falhado. Quando você se põe metas claras,
você pode falhar. Quando você não tem meta nenhuma, você psicologicamente não tem
a sensação de falha, mas a sua vida inteira terá virado uma falha. Você falhou biografica-
mente.
Cuidado com essas armadilhas da falha psicológica. É bom ter falha psicológica, é bom
ter a percepção de que você falhou, porque isso significa que você tem metas, que você
quer progredir, que você entendeu que não está bom ser preguiçoso, ser desleal, ser um
falsário. Você entendeu isso. Então, você coloca metas em sua vida e, eventualmente, você
vai ser desleal, não pontual, vai incorrer na preguiça de novo. Tudo bem, é assim. Enquan-
to você estiver vivo, pode cair, pode tropeçar. Não tem problema nenhum. O que você não
pode é trocar uma sensação psicológica de falha por uma falha biográfica efetiva. É isso
que eu não quero que aconteça com você.
Comeu torta de limão? Comeu, tá comido. É daqui para frente. O problema é que a falha
psicológica faz com que você olhe daqui para trás e diga, “Ah, está tudo perdido”. Deixa
eu te contar uma coisa? Sua vida já está perdida. Se você não der conta da sua vida, se
você não se emendar, a sua vida está perdida mesmo. Então, o que você vai fazer? É daqui
para frente. Daqui para frente. O nosso carro tem um puta de um pára-brisa na frente e um
pedacinho só de retrovisor. Retrovisor é 5% da história. Você vai olhar de vez em quando
para trás. Se fosse pra ficar olhando o tempo todo para trás, o retrovisor era do tamanho
do pára-brisa, e tinha um buraquinho para você ver o que tem na frente. Mas não é assim
que funciona, e a vida humana não é assim também. Você olha para frente e tem uns 5,
uns 3% ali que você olha para trás. Pronto!

É daqui pra frente.

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