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Nalú Farenzena
FACED/UFRGS, versão 2022
EDUCAÇÃO INFANTIL
Destina-se às crianças de zero a cinco anos de idade, compreendendo a creche – para
crianças de zero a três anos – e a pré-escola – para crianças de quatro e cinco anos (e para as de seis
anos, quando as crianças completam essa idade durante o ano letivo). Essa subdivisão deve-se às
peculiaridades do cuidado e da educação das crianças nas diferentes faixas etárias, tendo
implicações para as exigências institucionais no atendimento a essas diferenças. No texto original
da Constituição de 1988, o atendimento das crianças em creches e pré-escolas estava previsto para a
faixa etária de zero a seis anos. No ano de 2005, a LDB foi modificada prevendo o atendimento das
crianças de seis anos no ensino fundamental. A Emenda Constitucional nº 53/2006 veio a
determinar que a educação infantil abranja o atendimento às crianças de zero a cinco anos de idade.
A criação de uma etapa para a educação das crianças de zero a seis anos, hoje cinco anos,
foi feita pela LDB, coerente com o preceito constitucional de que um dos deveres do Estado para
com a educação seria a garantia de atendimento em creches e pré-escolas. Pela primeira vez uma
constituição brasileira estabeleceu direito/dever quanto à educação infantil. Na legislação da
educação, historicamente estava contemplada apenas a pré-escola.
Mais recentemente, com a aprovação da Emenda nº 59/2009 à Constituição da República, a
educação básica das crianças e adolescentes na faixa etária dos quatro aos 17 anos tornou-se
obrigatória; portanto, a pré-escola tornou-se de frequência obrigatória. Foi prevista a
progressividade na implantação dessa nova obrigatoriedade, até 2016, ou seja, é preceito
plenamente vigente.
ENSINO FUNDAMENTAL
O ensino fundamental possui nove anos de duração. A Lei nº 11.274/2006 estabeleceu essa
duração, sendo que anteriormente eram oito anos, no mínimo. A extensão do ensino fundamental
para nove anos exigiu processos de transição que variaram entre diferentes sistemas e redes
escolares do país. Até a edição da Emenda nº 59/2009 à Constituição Federal, o ensino fundamental
era a etapa obrigatória da educação escolar brasileira. Essa obrigatoriedade atingia as crianças a
partir de seis anos de idade e os adolescentes. Cabe observar que o ensino fundamental “regular”
pode ser aberto ao atendimento de jovens maiores de 18 anos e de adultos, mesmo considerando-se
a possibilidade de oferta de educação na modalidade jovens e adultos.
O termo ensino fundamental foi consagrado na Constituição Federal de 1988 e nessa foi
enunciado como obrigatório, equivalendo ao anterior ensino de 1º grau. Esse último, criado pela Lei
nº 5.692/1971, reunindo os extintos níveis primário e ginásio, constituía a etapa da educação
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Texto didático elaborado para as disciplinas da Área de Política de Gestão da Educação do
DEE/Faced/UFRGS.
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obrigatória. Antes da criação do 1º grau, a educação obrigatória era o ensino primário, o qual, com
base nas determinações da Lei nº 4.024/1961 (a primeira LDB), poderia ter de quatro a seis anos.
ENSINO MÉDIO
O ensino médio deve ter no mínimo três anos de duração. Constitui etapa obrigatória da
educação básica para adolescentes até 17 anos de idade, desde a Emenda Constitucional nº 59/2009
(a plena implantação dessa obrigatoriedade foi prevista até 2016). Antes disso, a legislação
preceituava a progressividade na extensão da universalização e da gratuidade do ensino médio
como dever do Estado.
O termo ensino médio está presente desde longa data na educação brasileira. Na primeira
LDB (Lei nº 4.024/1961) designava três cursos distintos – o secundário, o técnico e o normal, cada
qual com dois ciclos, o ginasial e o colegial, comumente com quatro e três anos de duração,
respectivamente. Com a reforma promovida pela Lei nº 5.692/1971, o segundo ciclo (colegial)
passou a constituir o 2º grau, esse com três ou quatro séries. Até 1982, o 2º grau deveria oferecer
educação geral e habilitação profissional. No processo de reforma, essa habilitação profissional foi
desdobrando-se em plena, parcial ou básica, conforme a maior ou menor carga horária e
aprofundamento de estudos para a habilitação profissional (ou formação especial). Com a edição da
Lei nº 7.044/1982, a habilitação profissional deixou de ser compulsória, determinando-se, contudo,
a oferta de programas de preparação para o trabalho nos cursos que não a oferecessem.
Conforme a atual LDB, o ensino médio deve propiciar a formação geral, pelo qual podemos
chamar de ensino médio/formação geral aquele que não oferece habilitação profissional. Na
legislação vigente, contudo, é possível a oferta de ensino médio/formação geral articulado ao ensino
técnico, bem como o ensino médio/formação geral articulado à formação para docência na educação
infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental (ensino normal de nível médio). Magistério
As possibilidades de articulação entre o médio e o técnico mudaram no processo de
regulamentação da LDB. No texto dessa última lê-se que “[...] o ensino médio, atendida a formação
geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas” (art. 36-A). Assim,
fica posicionado no ensino médio e, portanto, na Educação Básica, o ensino técnico. A LDB prevê
três modalidades de articulação entre o técnico e o médio: a integrada, a concomitante e a
subsequente.
Em fevereiro de 2017, a Lei nº 13.415 alterou preceitos da LDB referentes ao currículo do
ensino médio (lembremos que sua origem foi uma Medida Provisória de 2016). Uma das mudanças
foi a determinação de ampliação progressiva da carga horária, de 800 para 1.400 horas anuais, com
prazo de cinco anos para implantação de 1.000 horas anuais; 2022 marca o momento em que a
reforma do ensino médio deve ser implantada, a começar pelo 1º ano, segundo cronograma
divulgado pelo Ministério da Educação. Parte das mudanças se refere a definições ligadas à Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), a qual contempla, entre outros aspectos: direitos e objetivos
de aprendizagem (ou competências e habilidades) para quatro áreas do conhecimento – linguagens,
matemática, ciências da natureza, ciências humanas e sociais aplicadas; língua portuguesa e
matemática obrigatórias nos três anos; estudo da língua inglesa como obrigatório; estudos e práticas
de educação física, arte, sociologia e filosofia obrigatórios; a base nacional comum deverá ocupar
no máximo 1.800 horas da carga horária total. Além da BNCC, o currículo do ensino médio deverá
ser composto pela oferta de itinerários formativos – linguagens, matemática, ciências da natureza,
ciências humanas e sociais aplicadas, formação técnica e profissional. Neste último itinerário
formativo, é facultada atuação de “profissionais com notório saber reconhecidos pelos sistemas de
ensino” (inciso V do art. 61 da LDB), licença bastante questionável. O processo de implementação
das mudanças curriculares deveria iniciar no segundo ano de homologação da BNCC (homologação
ocorrida com a Resolução nº 04/2018 do CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação, Câmara de
Educação Básica). A Lei nº 13.415/2017 também cria uma Política de Fomento à Implementação de
Escolas de Ensino Médio de Tempo Integral. Essa reforma do ensino médio merece ser examinada
com atenção, sem deixar de considerar que seus propositores e defensores usaram e usam
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argumentos que “[...] aproximam a última etapa da educação básica à visão mercantil da escola
pública e contrariam seu caráter público, inclusivo e universal.” (SILVA; SHEIBE, 2017, p. 19).
OBRIGATORIEDADE ESCOLAR
A emenda nº 59/09 à Constituição da República determinou a obrigatoriedade
escolar para a faixa etária dos quatro aos dezessete anos de idade, a ser implementada
progressivamente, até 2016. Na redação da Constituição Federal, ficou determinado, no
inciso I do art. 208, que é dever do Estado garantir “educação básica obrigatória e gratuita
dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”. A partir de 2007, iniciando-se
com a entrada em vigor do FUNDEB, uma série de políticas foi sinalizando a priorização
da educação básica, do que são exemplos, além do Fundo, o progressivo atendimento às
etapas da educação básica pelos programas nacionais de alimentação escolar, livro didático,
transporte do escolar e dinheiro direto na escola. O Plano de Metas Compromisso Todos
pela Educação, de 2007, se enquadra também nesta linha de priorização da educação
básica. Com essa mudança no enquadramento da obrigatoriedade escolar, a priorização do
gasto público também é redefinida, passa a abranger a pré-escola, o ensino fundamental e o
ensino médio, para crianças a partir de 4 anos de idade e adolescentes.
Complementarmente, o parágrafo 3º do art. 212 da Constituição preceitua: “A distribuição
dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
obrigatório, no que se refere à universalização e à garantia do padrão de qualidade e
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equidade, nos termos do plano nacional de educação”. A oferta de programas
suplementares de alimentação escolar, material didático e transporte escolar para toda a
educação básica (não apenas para a faixa etária atingida pela obrigatoriedade) é agora
também consagrada na Constituição da República.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de
1988 (com emendas).
BRASIL. Lei nº 13.005, de 13 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação.
______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional.
______. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências.
CURY, Carlos Roberto Jamil. A educação básica no Brasil. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 80, p.
168-200, set. 2002.
SILVA, Mônica Ribeiro da; SHEIBE, Leda. Reforma do ensino médio: pragmatismo e lógica
mercantil. Revista Retratos da Escola. Brasília, v. 11, n. 20, p. 19-31, jan./jun. 2017.