Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
THE PERSPECTIVE OF MULTICULTURAL
EDUCATION IN TEACHER EDUCATION: A
POSSIBLE CURRICULUM PROPOSAL FOR EJA
Josinélia dos Santos Moreira.
Universidade do Estado da Bahia –UNEB.
neliauesb@yahoo.com.br
_______________________________________________________________________________
RESUMO
1
________________________________________________________
ABSTRACT
This paper is a clipping of the thesis named: Teaching in Youth and Adult
Education: a look at the formation of teachers in the multicultural perspective, which
aimed to analyze teaching in Youth and Adult Education (EJA), based on the
identity profile of their teachers, associated with the paths of formation of the
teaching life and their connection in the curricular practices. The reflections that
supported the research go through the theoretical assumptions of Nóvoa (2002);
Imbernón (2005); Feldmann (2009) and Machado (2008), regarding teacher training.
In multicultural issues, the conceptions of McLaren (1997), Banks (1999), Canen
(2007), Candau (2008) and Mota (2013). And lastly, in the EJA-related issues, the
studies by Freire (1996), Dantas (2012), Faria (2010), Eugênio (2010), Soares
(2008), Arroyo (2017) and Gadotti (1992), among others. . The research is of a
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
qualitative nature that methodologically approached the Case Study and to obtain the
data were held meetings with the Focus Group, questionnaires and interviews, as
well as autobiographical (memorial) writings by the interlocutors. Parts of the
research results demonstrated educators' awareness of the teaching profession and
signaled the importance of life histories in teacher education for the resignification
of pedagogical practices.
1. INTRODUÇÃO
Portanto, se faz necessário que haja atenção à diversidade étnica e cultural na formação
continuada dos professores, uma vez que a população brasileira é constituída pela pluralidade
quer no âmbito da etnicidade, gênero, religiosidade quer em tantos outros contextos sociais e
culturais emergentes (CANEN; XAVIER, 2011). Assim, esse trabalho parte da questão de
pesquisa: Como os professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) revelam seu
2
conhecimento crítico sobre as questões multiculturais que caracterizam seus discentes e de
que maneira esse conhecimento é aplicado nas práticas curriculares da EJA? O trabalho
apresentado tem como objetivo geral analisar a docência na Educação de Jovens e Adultos, a
partir do perfil identitário de seus professores, associado ao percurso de formação docente e
suas práticas curriculares na EJA, sendo um dos objetivos específicos investigar os saberes
docentes e o atendimento à diversidade cultural da EJA, a partir dos pressupostos da educação
multicultural.
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
No contexto das pesquisas temos observado como alguns teóricos vêm discutindo sobre
a formação de professores, assinalando como esse processo vem se dando ao longo dos
tempos, os objetivos de cada época e os reflexos da prática pedagógica. Em cada tempo
histórico, os entraves e os avanços são percebidos, trazendo a reflexão de que o contexto
educacional está inserido no âmbito das transformações sociais, culturais e econômicas de
uma sociedade na mesma proporção das mudanças que ocorrem em cada período.
Em relação à formação dos professores da EJA, Flecha e Mello (2012, p. 51), afirmam:
3
Portanto, a principal questão a ser pensada na formação de professores da EJA é refletir
sobre os currículos dos cursos de licenciatura (formação inicial), para que esta formação
abarque a EJA como modalidade de ensino. Segundo Machado (2008), o descompasso entre a
formação do professor e a realidade dos estudantes da EJA causa, ou vem causando, situações
de difícil resolução, por exemplo:
[...] como lidar com alunos que chegam cansados, a ponto de dormir durante quase
toda aula? Como auxiliar os alunos no seu processo de aprendizagem, com
atendimento extra ou atividades complementares, se uma grande parte deles trabalha
mais de oito horas diárias, inclusive no final de semana? Como atender as diferenças
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
de interesse geracional, tendo na mesma sala adolescentes e idosos? [...] (Ibid. 2008,
p. 166).
4
suas principais variáveis estão estreitamente relacionadas. Pois, neste local delimitado por
diversos grupos culturais (professores, alunos, comunidade e demais profissionais da
educação), o conhecimento da escola como instituição multicultural por excelência é de
fundamental importância (CANEN; SANTOS, 2009).
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
trata de uma política que venha a ser imposta, mas que seja construída num contínuo processo
de ação/reflexão com toda a comunidade escolar, com base na crença do que afirma Gadotti
(1992, p. 3):
5
proporcionando uma educação formal que viabilize e garanta o ingresso, a permanência e o
sucesso de todos os discentes, considerando a diversidade dos universos culturais. Não
devemos esquecer que a educação exige respostas rápidas que preparem as futuras gerações
para lidar com sociedades cada vez mais plurais e desiguais. A coletividade cobra,
especificamente do currículo escolar, as medidas necessárias para a formação de cidadãos
abertos ao mundo, tolerantes, democráticos e flexíveis em seus valores (CANEN;
OLIVEIRA, 2002).
Isso é possível? Mas, como fazer? A partir de onde começaremos? Muitos são os
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
questionamentos acerca dessas indagações, contudo notamos que a escola, como espaço
considerado democrático, pode proporcionar aos atores envolvidos - discentes, pais,
educadores e servidores em geral - uma convivência harmoniosa, primando não só o respeito
às semelhanças, mas também às diferenças. Nós, seres humanos, em geral, dependemos do
reconhecimento que nos é atribuído; sendo assim, um conceito inferiorizado é uma forma de
violência e opressão com o outro.
Partindo dessas proposições, por meio do grupo focal e das entrevistas obtivemos as
reflexões dos interlocutores, apresentando desta forma seus saberes acerca da educação
multicultural, bem como as práticas pedagógicas desenvolvidas, levando em consideração as
diversidades dos discentes da EJA. A primeira a se pronunciar foi a interlocutora Edelvais que
falou:
6
intolerância no contexto escolar e aponta que uma das causas para isso é não conhecer o
outro, como este vive, sua cultura sua etnia etc. Referente a este assunto, Canen (2007, p. 104)
salienta que: “as estratégias multiculturais devem ser voltadas para a pluralidade cultural
dentro da própria sala de aula, valorizando as culturas e significados plurais pelos quais se
constroem as percepções dos alunos”. Ela também sugere que o professor trabalhe na sala de
aula, desafiando as posturas antidiscriminatórias, homogeneizadoras e racistas que permeiam
algumas falas dos discentes e até de alguns professores (CANEN, 2007).
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
Na sequência, a professora Dália fala que não concebe refletir sobre educação sem
pensar em pessoas, diversidades, diferenças e particularidades. Ao lermos o depoimento de
Dália, observamos que, assim como Edelvais, ela pensa nas questões multiculturais no
contexto da sala de aula da EJA. Vejamos o que nos diz:
Eu vejo que quando se fala de educação escolar, eu não vejo como a gente não
pensar nessa questão de ser multicultural. Depois se faz educação e se pensa
educação pra gente, para pessoas. Pessoas é sinal de diversidade, de diferença, de
particularidades também. Então não tem como eu projetar, planejar uma aula e
pensar só em um único aluno, não tem como. Eu tenho que pensar que tenho alunos
na sala, então se eu tenho alunos na sala, essas pessoas são diferentes e eu preciso
entender isso. Eu necessito estar próximo da história de vida desse aluno e
compreender um pouquinho a história desse aluno (DÁLIA).
É muito importante, assim, porque não tem como você trabalhar sem pensar no
multicultural. A gente deve trabalhar com a cultura do aluno e valorizar a
diversidade. Eu acredito que é isso, nós não podemos fazer um bom trabalho sem
observar as diferenças e eu acredito ser muito importante para a nossa função. Em
7
sala de aula eu venho sempre trabalhando com esse olhar. A gente percebe assim,
nós temos alunos e eu sempre tive nas minhas classes, alunos com problemas de
dificuldades, alunos especiais, alunos com seus traumas, em relação à cor, porque a
gente sabe que há a discriminação racial, principalmente nesse público que a gente
tem, que são muitas vezes de uma classe menos favorecida e sofre muito com esse
tipo de preconceito. Temos a questão da religião que também é muito forte e hoje
percebemos que a maioria das turmas possui muitas pessoas que tem suas religiões e
não aceita a outra, precisa a gente saber como trabalhar isso, também, com eles para
que não haja atritos na sala de aula. E também a questão sexual, porque tem alunos
que são homossexuais (não sei se é a palavra correta), temos alunas, meninas novas
já mães que sofrem também com a questão do preconceito e por aí vai (TULIPA).
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
nas questões multiculturais, ressaltando que devemos trabalhar com a cultura do aluno, ao
mesmo tempo em que valorizamos as demais e, assim, contemplamos o atendimento à
diversidade. A partir dessas questões mencionadas pelos interlocutores da pesquisa, um dos
grandes desafios para o professor da EJA é pautar suas ações docentes levando em
consideração as diferenças socioculturais (religiosa, faixa geracional, étnica, de gênero,
condição sexual) dos seus discentes, considerando que seus marcadores identitários tendem a
ser estereotipados e até silenciados no contexto da sociedade contemporânea e no contexto da
sala de aula (FERRO; PINHEIRO, 2015).
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
Eu tenho aqui cada estágio e eu trabalho aqui o mesmo conteúdo, porém de forma
diferente, digamos assim, na tarefa. Eu não posso dar a mesma atividade à Dona
Valdelice e ao Seu Antônio, mas estão na mesma sala, são tratados do mesmo jeito,
eu digo para eles aqui que ninguém é melhor do que ninguém, somos todos iguais e
para a gente crescer basta querer. Então eu vejo assim, quando eu vou fazer
atividade, tem Dona Carmosina, aqui eu faço diferente, a mesma atividade, porém
diferente. Eu fico preocupadíssima assim – poxa!- não estão aprendendo e aí o que é
que eu faço? A escola poderia dar mais suporte, né? (CRAVINA).
É a educação para todos, tanto para os mais jovens ao mais idoso. Hoje nessa turma
eu tenho alunos de 17, 18 anos. Acho que o mais velho que tenho é com os seus 40 e
poucos anos. E eu tive nos anos anteriores alunos com 60 anos, então é uma mistura,
não é? Eu vejo como uma mistura do mais jovem com o mais velho e por aí vai
(MAGNÓLIA).
A partir da análise das falas das interlocutoras Cravina e Magnólia, observamos que
embora as duas professoras não tenham experiência de formação com a abordagem
multicultural, elas demonstram sensibilidade no tratamento da diversidade, portanto, se faz
necessário, na formação continuada, o trabalho com a perspectiva da educação multicultural,
com o objetivo de apresentar aos professores a concepção desta pedagogia como uma das
perspectivas de trabalho com as turmas da EJA.
9
socioculturais. Também a educação multicultural versa pelo ingresso, permanência,
aprendizagem e êxito de todos os discentes inseridos no contexto escolar (BANKS, 1999).
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
mudança de postura, de paradigma e de valores. Uma vivência teórico/prática dos
profissionais da educação a partir do conhecimento não só dos conteúdos, mas, também, da
valorização das ações humanas.
1.2. Considerações
10
Os resultados da pesquisa apresentam que o perfil identitário docente do professor da
EJA é de um profissional que demonstra ter afetividade pelos discentes da EJA e acredita nas
suas potencialidades. Nas conversas no grupo, pudemos observar os sentimentos de
dedicação, compromisso, ética e respeito nas falas e nos depoimentos dos professores sobre
suas práticas e seus educandos. A necessidade de trabalhar com questões relacionadas à
diversidade dos sujeitos da EJA, sinalizada nesses diálogos, aponta para a importância da
formação continuada alicerçada nas proposições da educação inter/multicultural, favorecendo
a ampliação da democratização da escola, garantindo não só o acesso, mas a permanência e o
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
sucesso dos educandos, independente das suas etnias, religião, gênero entre outros.
2. REFERÊNCIAS
BANKS, James; BANKS, Cherry. Multicultural education: Issues and perspectives. 2. ed.
Boston: Allyn and Bacon, 1993.
CANEN, Ana. O multiculturalismo e seus dilemas: implicações na educação.
Comunicação & política, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 91-107, 2007.
11
CANEN, Ana; XAVIER, Giseli Pereli de Moura. Formação continuada de professores para a
diversidade cultural: ênfases, silêncios e perspectivas. Revista Brasileira de Educação, Rio
de Janeiro, v. 16, nº. 48, set-dez. 2011.
CANEN, Ana; OLIVEIRA, Ângela Maria Araújo de. Multiculturalismo e currículo em ação:
um estudo de caso. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 21, p. 61-169,
set./out./nov./dez. 2002.
CANEN, Ana; SANTOS, Ângela Rocha dos. Educação Multicultural: teoria e prática para
professores e gestores em educação. Rio de Janeiro: Moderna Ltda., 2009.
Anais do VI Encontro Internacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. Anais. Salvador (BA), 2019.
FERRO, Jenaice Israel; PINHEIRO, Rosa Aparecida. A ação docente e o currículo na EJA:
um repensar a partir das diferenças socioculturais dos alunos. Revista Brasileira de
Educação de Jovens e Adultos, v. 3, n. 5, p. 99-120, 2015.
GADOTTI, Moacir. Diversidade cultural e educação para todos. Rio de Janeiro: Graal,
1992.
MOTA, Kátia; SOUZA, Janine Fontes de. Formação docente na educação de jovens e
adultos (EJA): entraves e desafios do sistema educacional no nordeste do Brasil. In: II
ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO SOBRE O TRABALHO DOCENTE E FORMAÇÃO?
POLÍTICAS, PRÁTICAS E INVESTIGAÇÃO: PONTES PARA A MUDANÇA. Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade do Porto. Portugal, 2013.
SOARES, Leôncio José Gomes. O educador de jovens e adultos e sua formação. Educação
em Revista. Belo Horizonte, n. 47, p. 83-100, jun. 2008.
12