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FACULDADE DE DIREITO – USP

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEORIA GERAL DO DIREITO

DFD0215 - SOCIOLOGIA JURÍDICA

GRADUAÇÃO, 2º ANO – 1º SEMESTRE DE 2022


Turmas 13 e 14

Docente: Professor Titular José Eduardo Faria

Monitoria

Coordenação: Prof. Dr. Lucas Fucci Amato (lucas.amato@usp.br )

TURMA 13: Daniel Gabrilli de Godoy (danielgabrilli@gmail.com )


Cassiano Toledo Ribas (cassiano.ribas@usp.br )

TURMA 14: Viktor Lemos (viktor.lemos@usp.br )


Vinícius Naguti Resende (vnaguti@usp.br )

I. OBJETIVOS
(i) Investigar o papel do direito como instrumento de organização, controle e direção social, mediante o exame de suas categorias,
procedimentos e instituições, tendo como contraponto histórico a evolução socioeconômica da sociedade brasileira no século 20,
especialmente depois da Revolução de 30;
(ii) Examinar as relações entre direito e sociedade no sentido inverso, verificando os novos tipos de conflito surgidos no País com
o avanço da crescente complexidade social, política e econômica e os desafios que propõem ao direito, enquanto instrumento de
organização, direção e controle social;
(iii) Identificar os novos campos de ação, as novas fontes e as novas formas de produção do direito advindas com a universalização
da concorrência, a integração dos mercados, a relativização do princípio da soberania e a concentração do poder econômico;
(iv) Avaliar o impacto dessas mudanças nas profissões jurídicas no Brasil e no exterior.

II. EMENTA
A primeira parte do curso é introdutória e permeia os programas de Teoria Geral do Estado (que estuda questões relativas à
organização política da sociedade), de Economia (que estuda questões relativas às forças de produção e às relações de produção) e
de Teoria Geral do Direito (que, entre outros propósitos, apresenta os elementos estruturais da “dogmática jurídica”). Como a
Sociologia sempre se debateu entre tendências teóricas conflitantes, produzidas por diferentes visões de mundo e localizadas em
formações sociais contraditórias, o curso enfatizará os problemas da parte da disciplina que considera os elementos básicos da
estrutura e funcionamento da sociedade contemporânea – com especial atenção para a sociedade brasileira.
A segunda e a terceira partes do curso tratam da Sociologia do Direito, valorizando as sociedades marcadas por uma grande tradição
de Ciência formal do Direito, como a brasileira. Em seu início, a Sociologia do Direito absorveu de modo acrítico conceitos
propostos pela Teoria e pela Filosofia do Direito, o que limitou o alcance de suas análises. Essa é a razão pela qual o curso
pretende mostrar como, numa segunda etapa, a Sociologia do Direito passou a enfrentar os dilemas inerentes às múltiplas
transformações no interior das formações capitalistas – da consolidação e do ápice do Estado-nação, entre o final do século 17 e a
segunda metade do século 20, ao avanço, a partir dos anos 80 do século passado, dos fenômenos do policentrismo decisório e do
pluralismo jurídico. A parte final do curso é dedicada ao exame das mudanças provocadas no universo jurídico brasileiro pela
interconexão dos sistemas financeiros, pela integração mundial dos mercados de bens e serviços e pela crise econômica iniciada em
2007 e agravada em 2011 – um período que mostrou a necessidade de rearranjos institucionais a partir do questionamento da
capacidade, da eficácia e da legitimidade do poder público para governar a economia.

III. PROGRAMA DAS AULAS TEÓRICAS


1. Paradigmas científicos e senso comum: desafios epistemológicos do direito.
2. Sociologia, sentido e compreensão: conceitos sociológicos fundamentais.
3. Formas de conflito e construção da legalidade.
3. Sociologia do Contrato e formas de associação contratual.
4. Mudança e conflito: a institucionalização das funções jurídicas.
5. Equilíbrio de conflitos e racionalização da violência: a positivação do direito.
6. Regulação e burocratização: o papel do direito na industrialização brasileira.
7. Era Vargas versus Era Pós-Vargas: o direito e os demais meios de controle social.
8. A crise do Estado e limitações do poder nacional na economia globalizada.
9.Globalização, despolitização dos mercados e padronização das políticas econômicas.
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10. Reformas estruturais, abertura comercial e revisão de direitos.
11. Autorregulação, pluralismo jurídico. Novos tipos de conflito e novas configurações do espaço público. Espaços jurídicos
trsnancionais.
12. A “dolarização” do conhecimento técnico-jurídico.
14. Os operadores do direito e as novas profissões jurídicas.
15. Os marcos teóricos da ordem jurídica contemporânea.

IV. BIBLIOGRAFIA GERAL


• André-Jean Arnaud, Pour une pensée juridique européenne, Paris: PUF, 1997.
• Anthony Kroman, Max Weber, Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2010.
• Boaventura de Sousa Santos, Poderá o direito ser emancipatório, in Revista Crítica de Ciências Sociais, 65 (2003).
• Boaventura Santos e Jane Jenson, Globalizing Institutions: case studies in regulation and innnovation, Aldershot: Ashgate, 2000.
• Bob Jessop, State Power: a strategic relational approach, Cambridge: Polity Preess, 2008.
• Bob Jessop e Ngai-Ling Sum, Beyond the Regulation Approach: putting capitalist economies in their place, Cheltenham: Edward
Elgar, 2007.
• Christian Jöerges et al. (org.), Transnational Governance and Constitutionalism, Oxford: Hart, 2004.
• Coriolano Gatto, Luiz César Faro, Rodrigo de Almeida, José Luiz Bulhões Pedreira. A Invenção do Estado Moderno Brasileiro,
Rio de Janeiro, Insight Engenharia de Comunicação, 2009.
• David Nelken, Law’s New Boundaries, Aldershot: Ashgate/Darmouth. 2001.
• David Trubek, Law and Development in a time of multiple vision: the challenge of law in the New Developmental State, texto
apresentado no Centro de Estudos de Análise e Planejamento (Cebrap) e na Escola de Direito da FGV, 2008.
• Günther Teubner (org.), Global Law without a State, Aldershot: Ashgate/Dartmouth, 1996.
• Helmut Willke, Smart Governance: governing the global knowledge society, Campus, 2007.
• Jacques Chevalier, L’État post-moderne, Paris: LGDJ, 2003.
• Karl-Heinz Ladeur, Public Governance in the Age of Globalisation, Aldershot: Ashgate, 2004.
• Larry Catá Becker, Economic globalization and the rise of efficient systems of global private lawmaking: Wal-Mart as global
legislator, in Connecticut Law Review, Hartford, vol. 39, nº4.
• Rolf Kuntz, O Poder como Direito, tese de livre-docência apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
USP, 2009 (não publicada,mas disponível).
• Stephen Holmes e Cass Sunstein, El costo de los derechos: por que la libertad depende de los impuestos, Buenos Aires, Siglo
Veintiuno, 2011.
• Yves Dezalay e Bryant Garth, Dealing in virtue, Chicago: Chicago University, 1996.
• ________, Marchants de droit: la restructuration de l’ordre juridique international par les multinationals du droit, Paris: Fayard,
1992.
• ________, Global Prescriptions: the production, exportation and importation of a new legal ortodoxy, Ann Arbor: The University
Michgan Press, 2005.
Obs/1> O curso não adota um manual. Caso o aluno deseje uma indicação, como subsídio, a recomenda-se o Curso de Sociologia
Jurídica, de Lier Pires Ferreira, Ricardo Guanabara e Wladimyr Lombardo Jorges (Rio: Campus, 2011).
Obs/2> Para identificar os critérios de elaboração do programa e a orientação do curso, ver de José Eduardo FARIA:
. Direito e Conjuntura, São Paulo:Saraiva/Fundação Getúlio Vargas, 2010 (integral no drive).
. O Direito e o Estado depois da crise, São Paulo: Saraiva/Fundação Getúlio Vargas, 2011.
. Direito e Globalização Econômica, São Paulo: Malheiros, 1996 (1ª ed.) e 2015 (última ed.).
. Juristas fora da curva: três perfis (Revista Direito GV, 2016).

V. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA (sobre mudança social e mudança legal no Brasil)


• Albert Hirschman, A estratégia do desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura Econômica, 1961.
• Carlos Estevam Martins (org.), Estado e Capitalismo no Brasil, São PauloHicitec/Cebrap, 1977.
• Eugênio Gudin; Roberto Simonsen, A controvérsia do planejamento na economia brasileira, Rio: Ipea, 2010.
• F. Oliveira Vianna, Instituições Políticas Brasileiras, BH/SP: Itatiaia/Edusp/UFF, 1987.
• Fernando Henrique Cardoso, Democratização e Autoritarismo, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
• Henry Steiner, “Tradições e tensões na educação jurídica brasileira: um estudo sobre a mudança socioeconômica e legal”, in
Cadernos da PUC, Rio de Janeiro: 1974, nº 3.
• José Murilo de Carvalho, Os bestializados, São Paulo: Cia das Letras, 1987.
• __________, A construção da ordem: a elite política imperial, Rio de Janeiro: Delume/Dumará/UFRJ, 1996.
• José Reinaldo de Lima Lopes, O oráculo de Delfos, São Paulo: Saraiva, 2010.
• Luiz Werneck Vianna, Ensaios sobre política, direito e sociedade, São Paulo: Hucitec, 2015.
• Raymundo Faoro, Os donos do poder, Rio de Janeiro: Globo, 2008.
• Sérgio Adorno, Os aprendizes do poder: o bacharelismo liberal na política brasileira, Rio: Paz e Terra, 1988.
• Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, São Paulo: Cia das Letras, 1997.
• Victor Nunes Leal, Coronelismo, Enxada e Voto, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
• Wanderley Guilherme dos Santos, Ordem burguesa e liberalismo político, São Paulo: Duas Cidades, 1978.
• _________, Cidadania e Justiça, Rio de Janeiro: Campus, 1979.
• _________ , As razões da desordem, Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
• _________, O cálculo do dissenso tolerável, Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.

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VI. DINÂMICA DAS AULAS

 7:25h-9h: MONITORIA (TURMA 13 e TURMA 14, salas separadas)


o Em até 40 minutos, grupo faz exposição esquemática dos 2 ou 3 textos de seminário
o No tempo restante, debate, a partir de questões propostas pelo grupo e por outros alunos+

 9:15h-11h: AULA EXPOSITIVA PROF. FARIA (TURMAS REUNIDAS)

VII. AVALIAÇÃO
 Apresentação de um seminário (em grupo, mas nota individual): até 3,0 pontos
o O grupo deve disponibilizar um esquema (hand-out) para a turma em formato digital (drive ou whatsapp); e
entregar tal esquema (até 4 páginas, fichando os 2 ou 3 textos) em via impressa para os monitores
 Participação ao longo do semestre: até 1,0 ponto
 Prova semestral: até 6,0 pontos

VIII. PROGRAMA DAS AULAS DE SEMINÁRIO (disponíveis no e-disciplinas)

16/3: 0. Apresentação do curso e organização dos seminários

23/3: 1. Introdução: as transformações contemporâneas no universo jurídico


• Daniel Eduardo Bonilla Maldonado, “O formalismo jurídico, a educação jurídica e a prática profissional do direito na
América Latina”, in Revista da Faculdade de Direito UFG, vol. 36, nº 02, jul./dez. 2012.
• João Pedroso, “As profissões jurídicas entre a crise e a renovação: o impacto do processo de desjudicialização”,
Coimbra: Centro de Estudos Sociais e Observatório da Justiça Portuguesa, 2002.

30/3: 2. Sociologia Jurídica: objeto, problemas e dilemas


• F. C. Santiago Dantas, “A Educação jurídica e a crise brasileira”, in Encontros da UnB, Brasília: UnB, 1978/1979, pp.
9-37.
• Joaquim Falcão, Classe dirigente e ensino jurídico: uma releitura de Santiago Dantas. Cadernos FGV Direito Rio, v.
3, 2009.

06/04: 3. A sociologia jurídica e o pluralismo normativo


• Boaventura de Sousa Santos, O direito dos oprimidos. São Paulo: Cortez, 2014. Capítulo 2 (“O direito dos oprimidos:
a construção e a reprodução do direito em Pasárgada”).
• Luciano de Oliveira, “Direito, Sociologia Jurídica e Sociologismo”, Recife: mimeo, 2002.

13/04: SEMANA SANTA

20/04: 4. O Judiciário e o acesso à justiça


• Boaventura de Sousa Santos, “Introdução à Sociologia da Administração da Justiça”, in José Eduardo Faria (org.),
Direito e Justiça: a função social do Judiciário, São Paulo: Ática, 1989.
• Celso Campilongo, “Os desafios do Judiciário: um enquadramento teórico”, in José Eduardo Faria (org.), Direitos
Humanos, Direitos Sociais e Justiça, São Paulo: Malheiros, 1999.
• Boaventura de Sousa Santos. Para uma Revolução Democrática da Justiça. São Paulo: Cortez, 2007, p. 31-46.

27/04: 5. O Judiciário e a resposta às demandas sociais


• Víctor Abramovich. Linhas de trabalho em direitos econômicos, sociais e culturais:
instrumentos e aliados. Sur, Revista Internacional de Direitos Humanos, 2005.
• Matthew M. Taylor, “O Judiciário e as políticas públicas no Brasil”. Dados, 50 (2007).

04/05: 6. Crise social e crise do Estado de Bem-Estar Social


• Claus Offe, A democracia partidária competitiva e o welfare state keynesiano: fatores de estabilidade e desorganização.
In: Problemas estruturais do Estado capitalista, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
• Rolf Kuntz, “Estado, mercado e direitos”, in Rolf Kuntz e José Eduardo Faria, Qual o futuro dos Direitos?, São Paulo:
Max Limonad, 2002.

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11/05: 7. A reconstrução econômica e as transformações do Estado
• José Eduardo Faria, “As mudanças do direito entre duas eras econômicas”, in O direito na economia globalizada, São
Paulo: Malheiros, 1999.
• José Manuel Pureza, “Para um internacionalismo pós-vestfaliano”, in Boaventura Santos (org.), A globalização e as
ciências sociais, São Paulo: Cortez, 2002.
• José Luís Fiori, “Cosmopolitismo de cócoras”, in Insight/Inteligência, Rio de Janeiro, 2000.

18/05: 8. A reconstrução econômica e as transformações do direito


• Wolfgang Streek, “As crises do capitalismo democrático”, in Novos Estudos, São Paulo, Cebrap, nº 92, março de 2012
• José Eduardo Faria, A globalização econômica e sua arquitetura jurídica (dez tendências do direito contemporâneo),
mímeo, 2010.
• José Eduardo Faria, “Poucas certezas e muitas dúvidas: o direito depois da crise financeira”, Revista DIREITO GV, 10
(2010).

25/05: 9. Globalização e os espaços jurídicos transnacionais


• Yves Dezalay e Brian Garth, “La internacionalización de las luchas por el poder” (pp. 65-97) e “Los abogados
intermediarios como constructores oportunistas de instituciones” (pp. 301-328), in La internacionalización de las luchas
por el poder: la competencia entre abogados y economistas por transformar los Estados latinoamericanos, 2002.

01/06: 10. Soberania e cidadania na reestruturação econômica


• Jürgen Habermas, “Nos limites do Estado”. Folha de São Paulo, 18 de junho de 1999.
• Jürgen Habermas, “Aprender com as catástrofes” e “A constelação pós-nacional e o futuro da democracia”, ambos in
A constelação pós-nacional, São Paulo: Littera Mundi, 2002.

08/06: 11. Reestruturação econômica, multiculturalismo e direito


• Boaventura Santos, “A reinvenção solidária e participativa do Estado”, São Paulo: mimeo, 1998.
• Boaventura Santos, “Por uma concepção multicultural de direitos humanos“

15/06: 12. Direito, políticas de gênero e grupos específicos


• Marta Rodriguez Machado, J. Rodrigo Rodriguez, F. Marques Prol, Gabriela Justino da Silva, Marina Zanata
Ganzarolli e Renata do Vale Elias. Disputando a Aplicação das Leis: A Constitucionalidade da Lei Maria da Penha nos
Tribunais Brasileiros. Sur, v.16, 2012.
• Wendy Brown, Sofrendo os Paradoxos dos Direitos. In: BROWN, Wendy, HALLEY, Janet (eds.). Left legalism / Left
critique. Durham, N.C.: Duke University Press, 2002.

22/06: 13. Direito, ensino e pesquisa


• Roberto Mangabeira Unger. “Uma nova faculdade de direito no Brasil”. Cadernos FGV Direito Rio, 1(2005).
• Marcos Nobre. “Apontamentos sobre a pesquisa em direito no Brasil”. Revista Novos Estudos. n. 66, pp. 145-154.

29/06: Revisão

Prova semestral: provavelmente 6 ou 13 de Julho

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