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O FIM DO MUNDO ANTIGO

As invasões e o saque de Roma

E assim, no ano 1164 depois da fundação da cidade [de Roma], foi-lhe feito um
ataque por Alarico. Embora a memória deste facto ainda seja recente, nenhuma pessoa
que veja a multidão dos romanos e que os oiça falar admitirá, como eles próprios dizem,
que alguma coisa tenha acontecido. Salvo se, por acaso, tomar conhecimento do fogo
pelas ruínas que ainda existem.
Nesta invasão, Placídia, filha do príncipe Teodósio e irmã dos imperadores
Arcádio e Honório, foi capturada e tomada como mulher por Ataulfo, parente de Alarico,
como se, devido a um juízo divino, Roma a tivesse entregue à maneira de refém e penhor
especial. Com efeito, unida pelo casamento ao mais poderoso rei bárbaro, ela foi de
grande utilidade para a república.
Entretanto, dois anos antes do ataque a Roma, excitados por Estilicão, como já
disse, os povos dos Alanos, dos Suevos, dos Vândalos, e muitos outros com eles,
esmagaram os Francos, atravessaram o Reno, invadiram as Gálias e com um rápido
ímpeto chegaram até aos Pirenéus: retidos durante um tempo por e$a barreira,
disseminaram-se pelas províncias vizinhas.
(Paulo Orósio, História contra os pagãos, trad. em Fernanda Espinosa,
Antologia de texus históricos medievais, Lisboa, 197 6, pp. 8-9)

Lamentação sobre o saque de Roma

Quem acreditaria que Rom4 edificada pelas vitórias sobre todo o universo,
viesse a cair; que tivesse sido simultaneamente a mãe das nações e o seu sepulcro; que
as costas do Oriente, do Egipto e da África, outrora pertencentes à cidade dominadora,
fossem ocupadas pelas hostes dos seus servos e servas; que em cada dia a santa Belém
recebesse como mendigos pessoas de um e de outro sexo que haviam sido nobres e
possuidoras de grandes riquezas?
(S. ferónimo, Comentários sobre o profeta Ezequiel, trad. cit, p.3)

A queda do Império Romano

Oreste, tendo tomado o comando do exército, partiu de Roma ao encontro dos


inimigos e chegou a Ravena, onde parou para fazer imperador seu filho Augústulo. [...]
Porém, pouco depois de Augústulo ter sido estabelecido imperador em Raven4
por seu pai Oreste, Odoacro, rei dos Turcilingos, tendo consigo Ciros, Hérulos e
auxiliares de diversas tribos, ocupou a ltália. Oreste foi morto e o seu filho Augústulo
expulso do reino e condenado à pena de exflio no Castelo Luculano, na Campânia.
Assim, o Império do Ocidente do povo romano, que o primeiro dos Augustos,
Octaüano Augusto, tinha começado a dirigir no ano 7O9 da fundação da cidade de Roma,
pereceu com este Augústulo no ano 522 14761 do reinado dos seus antecessores e
predecessores. Desde aí Roma e a Itália são governadas pelos reis dos Godos.
Entretanto, dominada toda a ltália, Odoacro, rei destas tribos, para estabelecer o
terror entre os romanos, matou no início do seu reinado o conde Bracila junto de Ravena
e conseguiu dominar o seu reino durante quase 13 anos, até ao aparecimento de
Teodorico, por quem subsequentemente temos sido dirigidos.
(fordanes, Histária G6tica, trad. cit., pp. 11-12)
Institutionum Disciplinae (séc. YI!,
programa educativo do jovem aristocrata visigodo

Não é o prestígio da família que deve fazer brilhar a aaÃ:a:eza daqueles que
beneficiaram de um bom nascimento, Dffi as qualidades do coração. Que as aÍnas e
depois os mesfres formem na castidade aqueles que têm de criar, e que eles nada
aprendam de sensual ou vergonhoso, mas que graças ao seu ensino a criança mostre
desde cedo os sinais da sua viÍtude.
Mal chegue à primeira idade da inftincia, convém que saib4 antes de maiso as
primeiras letras, e depois que brilhe no conhecimento das artes liberais, que aprenda
os acentos das sflabas e saiba o significado das palavras. É necessário que ele cante
lentamente aprendendo a atls de modular a sua voz e de se @ntetr, que o faça
agradavelmente e qus não conheçanada de erótico nem de vergonhoso, m*s que cante
poernas épicos dos Antigos que excitam os ouvintes encora$andeos paÍa a glória.
Nestas actividades que a forma das palarras seja tansparente e clara, e suÍl
simplicidade cheia de encanto; toda a sua conversryão diráfana e toda a opinião
eqúlibrada sem dificuldade em ouvir e respondendo prontamente. Os movime,ntos do
seu co{po serão harmoniosos e dignos, e não rápidos, agitados ou desordenados, para
que não imite a pose afectada as contorsões dos mimos e os gestos dos bufões que
andam de um lado pra o orüro. O vício torna-se rapidameúe nafiral: se a natrÍeza
deformar alguma coisa que a arê o conija
Quando começar a tornar-se adolescente e a revestir-se das flores da juventude
primaveril, deve,ná mant€r-se virilmente de pe, com o corpo robusto e os múscúos
solidos. Porque um coração forte dwe comandar um ooqxr igualmente vigoroso, que
a preguiça e o pÍazer da ociosidade ou da opulência, que a facilidade das coims rão o
amoleçam e que a riqueza dos seus pais do o inclinem paÍa a indolência ou paÍa o
luxo, mas qus a virtude o conduza como uma mestra a um trabalho nobre e
interrompido. Então, que se exwite quer nas moilmhas, quer m ütaÍ e frcúâ
surprcendido poÍ ver o seu corpo feliz com o esforço e os serul membros fortificados
pelo trabalho. tlevená não somente lançar o dardo ou montar a cavalo, mas exetcitan'-
se na corrida e no salto, defr,ontar-se na palesha com os seus iguais, peÍcorÍer os
bosques, desalojar a cacfl brarra, etc. Obterá, assim, a gravidade da idade madura, a
obstinação, o endurecimento, a constiincia e a sabedoria acompaohada pela qurádrupla
fonte das virttrdes: a saber, a pnrdênciq a justiça, a corêgem e o domÍnio de si
próprio.
Um dos principis objecúivos dos esürdos daqrcles qup são dignos deles, é que
o perfeito orador reclame coÍlo bem póprio toda a dialéctica, que e,lrcontne as suas
annas não somente nas escolas de declamação dos retóricos, ulas também no campo
das sagradas escriuras. Que ele reteúa também a arte do direito, que compreenda a
filosofia, a mdicina a arimética, a musicq a gometia, a asürologia qrrc o seu
prestígio seja realçado com todas estas disciplinas e quÊ não pareça estar desprovido
destas muito nobres artes

(trad. a paÍtir d6 P. Riché, De l'éárcaion arúique à l'éfuaiotr clcwleresqrc, Paris,


1968, pp. 76-77\

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