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MUSEU:;NACIONAL
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OS ESTUDOS LINGUISTICOS
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IMPRENSA NACIONAL
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OS ESTUDOS LINCUISTICOS
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1 945
IMPRENSA NÀCIONAL
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O autor desta palestra esteue nos Estados Unidos da América do Norte
no peúodo comprcendido entre 9 de setembro de 1943 e 14 de abril de 1914,
em uirtude dà uma bolsa de estudos que lhe foi concedida pela Diuisão de
Huntanidades da Fundação Rockefeller paru aperfeiçoar seus estudos de
Itngüística. Dessa bôlsa foram "sponsors" dona Heloisa Albeúo Tôrres,
dirretora do Museu Nacional, e o doutot Santiago Dantas, Dbetor da Facul-
dade Nactonal de Filosofia da Uniuersidade do Brasil, e pata a concessâo
cancoffeu Mr. William Berúen, diretor-assistente da Fundação Rockefeller,
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OS ESTUDOS LINGüÍSTICOS NOS ESTÀDOS UNIDOS
DA AMÉRICÀ DO NORTE 1
Ào começar esta palestra, gue será (desde !â vos previno) a mais desam-
biciosa possível em seu teor e em suas finalidades, ocorrem-me as sensatas
palavras de )osé Veríssimo, hoje mais do que nunca oportunas: "Muito é o
que havemos de aprender e mesmo de imitar dos Estados Unidos, mas que
isto não nos induza a pormo-nos, simplesmente, a copiá-los."
Condenada assim com êle a idéia de uma cópia Dura e simples, não há
como não reconhecer que, em matéria de estudos lingüísticos, o Brasil tem na
grande república irmã do Norte muito que aprender, e mesmo (digamo-lo sem
arabages ) muito que imitar.
À LINGüÍSTICA
Àssim é que a lingüística, aparentemente uma das ciências mais eruditas
e estranhas às coisas práticas, se cultiva com intensidade e carinho na Amé-
rica do Norte.
Conheceis, por certo, de nome ao menos, a tradicional Soàiedade Lin-
güística da América e o seu jornal técnico Language. É ela gue, cada vez
mais prestigiada e pujante, o*ganiza anualmente o Instituto Lingüístico. como
atividade de verão, ora num campus universitário, ora noutro. Mestres emi-
[entes recebern gratificações de várias centenas de dólares para durante dois
meses e meio desenvolver cursos cle exposição doutrinária e de seminário
sôbre a ciência da linguagem.
O Instituto Lingüístico, do ano passado, por exemplo, instalado na Uni-
versidade de Wisconsin, abrangeu cursos de lingüística geral, de métodos
lingüísticos cle campo, de geografia lingüística, de fonética geral, de latim
vulgar, de lingüística histórica germânica, de hitita, de velho irlandês, de velho
nórdico, de galês medieval, de velho espanhol, além de uma introdução às
línguas semíticas e de um seminário semítico. Do Boletim dêsse Instituto des-
taco os seguintes períod.os: "Quatro anos depois de sua organizaião, a So-
ciedade Lingüística da América fundou o Instituto Lingüístico, como meil
adicional para animar. as pesquisas e os estudos na ciência lingüística. Os
M
scholars iingüísticos têm sentido incessantemente a necessidade de se familia-
rizarem com uma ampla variedade de línguas. Poucas instituições têm um
número suficiente de estuCantes que justifique o funcionan,ento de cursos
I
regulares capazes de cobrir partes remotas do território da lingüística. O Ins-
tituto Lingüístico, mantido durante o período de verão, quando aguêles, que
ocupam posições acadêmicas em instituiçóes dispersas por todo o país, poden
compaÍecer, torna possível uma apresentação econômica dessas áreas remo-
tas da ciência da linguagem. de uma maneira em que elas podem ser satisfa-
tôriamente utilizadas. Acresce que a ciência lingüística ainda é relativamente
jovem e dela brotam problemas novos".
Ao lado da sua revista Language, a Sociedade edita Monografias e Dis-
sertações, além de Publicações especiais, como as da série lingüística I4l/-
liam Dwíght Whitney, onde figuram trúalhos de erudição complexa, para
um público muito reduzido de especialistas, e, portanto, sem ensanchas de
encontrar um editor no comércio.
A Sociedade Lingüística da América não é a única em sua especialidade
nos Estados Unidos. Eu próprio tive passoalmente a experiência de mais
duas: o Ctube Lingüísticô, que funciona na Llniversidade de Yale, e o Cít-
culo Lingüístico de Nova Yorlc, criado o ano passado, como uma contraparte
do antigo Círculo Lingüístico de Ptaga, por rnestres norte-americanos e um
escol de mestres europeus emigrados.
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À TRADIÇÃO DE WHITNEY
À ETNOLOGIA LINGüÍSTICA
À essa convicção deve-se gue um antropólogo e etnólogo como FnaNz
Boas tenha insensivelmente enveredado pela lingüística, criando neste âmbito
uma obra tão fecunda guanto original.
Nos estudos da etnologia ameríndia, Boas defrontou-se com o problema
das línguas primitivas norte-americanas, e procurou resolvê-lo dentro de um
prolongamento da técnica etnológica. "Se os fenômenos da linguagem hu-
mana"
- comenta êle - "parecem constituir um tema próprio e autônomo,
ê. talvez em grande parte porque as leis da língua se mantêm inteiramente
desconhecidas aos homens que a falam e os fenômenos lingüísticos nunca vêm
à flor da consciência do homem primitivo, ao passo que todos os outros fenô-
menos etnológicos são, mais ou menos claramente, submetidos a um pensa-
mento consciente". E, partindo dêsse princípio, em gue se estabelece a um
tempo a ligação e a oposição entre a lingüística e a etnologia, consubstan-
ciou-se a obra admirável gue é o Manual das Línguas Índias Norte-america-
nas, cujo método Boes de início assim resumiu: "Nenhuma tentativa se fêz
agui para comparar as formas das gramáticas indígenas com a do inglês ou
a do latim, ou sequer com elas mesmas umas com as outras; mas em cada caso
os agrupamentos psicológicos dados dependem inteiramente da forma Íntima
de cada língua. Em outros têrmos, tratou-se a gramática à maneira do gue
faria um índio inteligente, que se propusesse a desenvolver as formas dos
próprios pensamentos pela análise da própria forma da sua linguagem."
-8-
O que não haveria para imitar de tal objetivo e de tal método, não já no
Brasil, mas em tô{a a Àmérica do Sul!
A crítica às condições presentes do estudo das línguas índias sul-ameri-
canas está irretorquivelmente feita nas seguintes palavras do professor fran-
cês Arrnro Mr,rnaux, as quais eu tive ocasião de ouvir, no Círculo LingüÍs-
tico de Nova York, e peço permissão para vos repetir: "Os lingüistas sul-
-americanos, de modo geral, só estão interessados em curiosidades e etimolo-
gias e pouca atenção prestam às línguas gue ainda se falam em tôrno dêles.
É, portanto, urgente" - insiste o professor MerRaux - "gue um lingüista
exercitado nos métodos modernos se encarregue da análise de uma,língua
sul-americana pelo menos". E conclui: "O balanço das Iínguas sul-americanas
subsistentes não é custoso nem difícil, desde que s€ compteendam a impor-
tância e a urgência da tarefa".
Com FneNz Boes instituiu-se nos estudos universitários a chamada lin-
güistica científica, como um ramo da antropologia cultural. Aí a ciência da
Iinguagem se nos apresenta com aspecto de atividade prática, que algo a dis-
tancia do clima, reconstrutivo e histórico, em que ela se afirrnou nos princí-
pios do século passado.
jI
I
A FILOLOGIA CLÁSSICA
Entretanto, o interêsse pela filologia clássica, o gual data de WnrrNey,
não se deixou abafar pelo desenvolvimento da etnologia lingüística.
Wnlrnry, cono sabeis, foi um abalisado sanscritista, e rur apresentaçáo
descritiva da língua sânscrita a sua gramática ficou até hoje insuperável. Em
Yale, com o proÍessor EocenroN, e em tôdas as outras grandes universidades
norte-americanas, o ensino do sânscrito é uma tradição radicada, e a filologia
indo-europêia lato sensu se cultiva com intensidade e entusiasmo.
Conheci pessoalmente algumas respeitáveis Íiguras dêsse âmbito mais
prôpriamente da lingüística comparativa.
Uma foi o professor Louts Gnay, cujo livro recente * Os Fundantentos
da Linguagem
- já ê {amiliar entre nós. Trata-se, acima de tudo, como já
frisei na recensão que em tempos lhe fiz, de uma obra de indo-europeista só-
lido, atual e probo. Nos Esta<{os Unidos pude tomar conhecimento de outro
não menos notável trabalho, anterior, do professor Gney
- a Introdução à
Lingüística Comparatiua do Semítico
- e tive oportunidade de ouvir, no
Círculo Lingüístico de Nova York, uma comunicação sua sôbre a probabili-
dade de ter havido em gaulês, como um possível fenômeno proto-céltico, o
abrandamento consonântico que transparece no velho irlandês e no cínrico.
Em virtude da sua situação de professor catedrático da Universidade de
Colúmbia e, embora aposentado, prirrcipal orientador dos estudos lingüísticos
ali, não me faltaram ocasiões de contactos pessoais com o professor Gnev,
*9*
intensificados depois nas reuniões do Círculo Lingüístico de Nova York, gue
o tem como vice-presidente. Quaisquer palavras minhas náo poderiam Íazet
jusüça à afabilidade chã e sincera do ilustre mestre, gue da sua solidão de
viúvo sem filhos acompanha a tudo e a todos com um interêsse humano e
compreensivo.
O professor Gnav orgulha-se de uma amizade estreita e continuada com
ANtowe Metrrer, a quem chama carinhosamente, numa fórmula francesa,
mon quasi maítre. Metugr foi durante dois anos professor visitante da Uni-
versidade de Columbia, e das suas aulas ali me falou mais de uma vez, com
entusiasmo, o professor ÀurnoNv Peuna, que eficientemente substitui o pro-
fessor Gnav na cátedra de sânscrito.
Outra notável figura norte-americana em filologia comparada é o pro-
fessor Encen SrunrnvaNT, que ora leciona na Universidade de Yale. Ainda
há pouco saiu a 2,' ediçáo do seu tratado sôbre A Pronuncia do Grego e do
Latim, na série William Dwight Whitney, à qual já aqui me re[eri..
À sua grande e mais relevante atividade é no domínio das pesquisas
sôbre a língua hitita. À Gtamática Compacatiua da Língua Hitita, de Srun-,
TEvÀNT, ainda da série William Dwight Whitney, ê uma prova de como ê
falso supor que à cultura norte-americana repugne a especulaçáo teórica pura.
Citam-se-lhe ainda Um Glossario Hitita,2." ediçâa em 1936, com um Suple-
mento, três anos depois, e Uma Crestomatia Hitita.
Ainda recentement e em 1942, o professor SrunlnvnNr púlicou mais
um estudo de pesquisas pré-indo-européias, modificando em parte certas con-
cepções expostas anteriormente na gramática hitita. Refiro-me ao pequeno
-t
tratado sôbre .As Laringeais Indo-Hititas, no qual formula a hipótese de uma
língua tronco indo-hitita de que se tivessem derivado, de uln lado, o hitita e,
de outro, o proto-indo-europeu; f.az êle assim do hitita, em vez de língua indo-
-européia prôpriamente dita, uma língua anatoliana, cognata de uma fase do
indo-europeu anterior. àquela cuja reconstituição a gramâtica comparativa tem
procurado esboçar pelo cotejo das línguas indo-européias clássicas. A espi-
nha dorsal dêste último trabalho do professor StunteveNt é, entretanto, a
tese da existência de certos elementos consonânticos em proto-indo-europeu,
responsáveis pela rica oposição de quantidade e de timbre do vocalismo indo-
-europeu, prrôpriamente dito, em virtude de se terem êles contraído com a
vogal fundamental e/o. É a hipótese das chamadas laringeais, porque entre-
vistas como sons de natureza laríngea, em cujo debate entra o professor
StunreveNT com idéias às vêzes muito pessoais.
No grupo dos mestres norte-americanos de filologia clássica de que tive
uma impressão pessoal direta, quero ainda citar o professor Canr. Bucx, da
Universidade de Chicago, por certo já conhecido vosso como auior de três
úras capitais: a Gramática Comparatiua do Grcgo e do Lativn, a Introdução
ao Estudo dos Dialetos Gregos e a Grctnática do Osco e do Umbro. Aposen-
tado em suas funções, o professor Bucx passa os dias num recanto reservado
da biblioteca do Departamento de LÍnguas Clássicas da Universidade de
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Chicago, interessado na organização de um léxico comparado das línguas
iado-européias.
A FILOLOGIA ROMÂNICA
Se tal é a vida cultural nos estudos indo-europeus e de filologia clássica,
já imaginais que deve ser igualmente intensa a atividade no âmbito da filolo-
gia românica, pois esta ê uma facêta do mundo latino, o qual a América do
Norte precura sinceramente sentir e compreender.
O latim vulgar e o estudo histórico das línguas neo-latinas tem, com
efeito, grande relêvo nos currículos universitários norte-americanos,
Em referência ao português, sob êsse aspecto, todos nós conhecemos a
atuação do professor EowtN Wlrrnus da Universidade de Pensilvânia.
À sua própria contribuição pessoal deve acrescentar-se a dos moços gue
elê tem formado e orientado nas pesguisas, como HeNny Canren, Rrcneno
ÀsnaseM e NonnaRN Snc«s. O critério de Íazer edições paleográficas de
textos medievais, com uma religiosa fidelidade à apresentação ortográfica do
manuscrito, ê uma lição e urna advertência à fiiologia do Brasil e de Portugal.
De quão forte é a incompreensão do problema no mundo luso-brasiieiro dão
uma idéia as seguintes palavras de um editor crítico lusitano, que é, entretanto,
uma das mais justamente conceituadas figuras da filologia contemporânea de
Portugal: "A simplificaçáo ortográfica" - diz-nos o professor Roonrcues
Lepe numa seleção de textos de FenxÃo LopBs
- "foi rigorosa quanto pos-
sÍvel; todos os sinais escusados, essa vegetação gráflca que da à linguagem
do tempo um aspecto tão rebarbativo" êsses julgamentos de
- atentai para "foram
*
valor em substituição da objetividade científica - banidos sem pie-
dade".
Floje, a pequena famiiia de filólogos da língua portuguêsa na Universi-
dade de Pensilvânia está dispersa pelas injunções do serviço bélico, e os seus
estudos um tanto paralizados; mas o professor E»wtu Wtruatts, do seu ga-
binete de deão da Faculdade de Estudos Graduaclos, continua aten8o à filo-
Iogia portuguêsa e à maneira de se lhe preencherem as grandes e numerosas
lacunas. Uma das sugestões que êle me f.ê2, eu quero agui repetir e transmitir
a guem de direito. "Por quê" - disse-me êle - "não manda a Faculdade
de Filosofia do Rio, como prêmio pós-escolar, alunos seus a Portugal, a fim
de prepararenn edições diplomáticas brasileiras dos antigos manuscritog por-
tuguêses?"
Creio gue bastam essas minhas considerações para dar uma idéia de
como florescem nos Estados Unidos os estudos histórico-comparativos de ex-
clusiva especulação teórica. Nem têm êles qualguer conflito com a chamada
Iingüística científica dos trabalhos de campo, disciplinada e orientada por
Boas.
Há entretanto, aqui, mais e melhor para dizer-vos.
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- -
EDWARD SAPIR
, americanos,
como o professor Eroonarrero e Monrus Swaorsn, está dando
à interpretação dos sons da üngua como unidades de um sisteua e de uma es-
trutura {
- o que é em última análise a noção diretriz da fonologia de Praga e
da fonêmica sapiriana
- a profundidade e a nitidez gue sempre resultam de
um balanço de doutrinas, quando feito com honesto e obietivo espírito cien-
tífico.
Os lingüistas, que eu estou tentando muito imperÍeitamente caracterizar,
desenvolvem particular predileção pelos problemas da lingüística estática, des-
prendida das preocupaçóes históricas, a qual é, por exemplo, a parte mais
intensa e lücidamente tratada na obra Language do professor Br,oomHeLD.
MoRrus Swaoesn ilustra impressionantemente esta tendência no seu
recente livro, escrito em espanhol
- A Nova Filologia "Se
- gue é o resumo de
um curso dado no Instituto Politêcnico do México. me permito especular
um pouco sôbre o processo lingüístico nos tempos remotos"
- diz-nos êle -
"ê para focalizar mais concretamente o passado da nossa espécie, a respeito
do qual todos sentimos alguma curiosidade. Em geral, porém"
- acrescenta
"limito-me ao concreto. e trato de focalizar os fatos na forma que nos dá a
-úave para entendêJos e poder aplicar nosso entendimento aos problemas
práticos, gue têm de ser ütais, visto gue a linguagem é um dos instrumeaúos
bá§cos da vida social."
-13-
Sentimos ai aqueia propensão para as aplicações práticas das verdades
cientificas, qr-:e, há pouco, reconhecemos como um dos traços típicos da cuL
tura norte-americana.
O ESTUDO DO PORTUGUÊS
É óbvio que o português está incluído nas trinta e poucas línguas para
cujo ensino assim se mobilizaram os lingüistas.
Na Universidade de Pensilvânia, assisti a uma aula de português nos
moldes delineados pelo professor BroonaFrELD,. e tenho, por gentileza dos
professôres EnwN Wlruanrs e Hennrs, as Íôlhas mimeografadas por gue
tem de pautar-se o informante, a respeito dos seguintes temas: Where arc
â gou from? e Let's talk about the Weather.
O português do Brasil Íoi também, durante a minha estada na Àmérica
do Norte, submetido a uma interpretação fonêmica em dois artigos do pro-
fessor Rosent Herr |n., publicados na revista Sfudies in Linguistics, que se
edita em Yale sob a responsabilidade do professor GnoncE Tnacp,n.
Êsses artigos foram, por sua vez, comentados e apreciados em três aulas
do professor faxorsoN, gue os tomou como ponto de partida, a fim de Í.azer a
exposição sôbre a maneira mais orgânica e compreensiva de se fo4mular um
sistema fonológico. Em verdade, a apresentação das consoantes em grupos
triangulares k-p-t, g-b-d, x-f-s, i-u-z-, nh-m-n, lhJ-r (e R), pela qual optou
o professor ]exoosoN, me pareceu excelente.
O nosso par de consoantes R: r é, aliás, um belo tema para a doutrina
fonêmica, não só porque apenas há aí uma posição diferencial
lica
- a intervocá-
mas ainda porgue a articulação alveolar ou velar do R forte não al-
-
tera a realidade una do fonema.
Apaixona também aos Íonemistas norte-americanos o problema das nos-
sas vogais nasais. É que em português a vogal nasal puramente vocálica,
aates de pausa, não contrasta com o tipo de vogal nasalizada com consoante
nasal seguinte na mesma sílaba, desde gue êste último tipo só aparece etn
_ 16-
meio de vocábulo. Hen e |axonsoN opõem ao {ato português o do indostano,
em que, ao contrário, ã se pode comparar cam ãn, na mesma posição, e a di-
ferença fonética condiciona diferença mórfica ou semântica.
À oBSERVAÇÃO FONÉTrCÀ
Há, porém, muita elasticidade no pensamento lingüistico norte-anneri-
cano, para gue o perigo venha a concretizar-se.
Ainda recentemente o proÍessor KrNumrr Plxr publicou com a visão
mais minuciosa possível Uma Anáhke Críüca da Teocia Fonétíca, em gue se
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propõe a Íazer, a respeito "dos sons marginais na fala e dos sons bucais gue
não pertencem à fala" "uma classificaçáo noais universal" do que as até agora
realizadas.
Continua concomitantemente o interêsse pela fonética experimental, bri-
lhantemente instituída nos Estados Unidos com os trabalhos de WHBeren
Scnrptung, como .sabeis.
À SEMÂNTICÀ
À lingüística não teve ainda uma intervençáo iguaimente clarificadora e
organizadora no domínio da semântica, que está apaixonando a filosofia norte-
americana, mas à margem da ciência da linguagem.
Iniciou-se uma crítica da razão loqüente, se ê lícita a expressão, com o
objetivo de estabelecer, para os hornens, novos padrões de comportamento e
julgamento dentro da sociedade. É êste, em linhas gerais, o escopo de obras,
como Ciência e.Sanídade de Arrneo Konzynsxr, 2.'ediqão em 1941 , e Intro-
dução à Semântica de Ruoorr CenNep, em 1942.
Ora, ao passo que, para entrar neste âmbito, se impóe o conhecimento
cientiÍico da lingua, os lingüistas profissionais ainda náo se dedicaram sària-
mente ao problema, e estão desprevenidos para Íazer a critica dessa crltica
da linguagem.
À semântica surgiu com BnÉel. como estudo ünicamente evolutivo, e
mesmo sob êste aspecto limitado ainda não tomou pleno conhecimento de si
mesma. A obra do lingüista belga ArnrRT CÀRNoy, intitulada A Ciência d.a
Palaora, ensaio de semântica, não trouxe ainda, como pretendera o autor, um
ponto de partida definitivo para o estudo das mudanças de sentido, e, na sua
nomenclatura profusa, satisfaz-se às vêzes com um nome novo para preencher
a falta de uma noção exata.
Em relação ao estudo das signiÍicações como sistema de eposições atuais,
a lingüística pràticamente ainda nada Iê2. Talvez a atividade dos semanticis-
J
tas que operam na América do Norte à margem da ciêrrcia da linguagep,
venha definitivamente estimular a esta, e fazer com gue a lingüística norte-
americana crie no domínio da semântica uma contraparte do gue é a fonêmica
no dominio dos sons. No Círculo Lingüístico de Nova York assisti a um vago,
mas promissor, esbôço de atividade neste sentido coln a comunicação gue
sôbre as obras de Konzvssxl e Cenxep fêz a professôra Mencennr
Scurlucn, da Universidade de Nova York.
CONCLUSÃO I
E com êste voto termino a minha palestra, a mais desambiciosa possível
(como vos preveni de início) em seu teqr e em suas finalidades.
Ouso crer, não obstante, gue ela vale ao menos, como um depoimento
desapaixonado, e que, das suas linhas informes e incompletas, algo se esbo-
çou, que permitirá a outros mais competentes um ponto de partida, provisó-
rio embora, para o exame crítico dos estudos lingüísticos na América do
Norte.
--*
a
a
í9 46
TMPFIET{SA NACIONAL
RI€' E,E JANEIRO - E'FIA*
--{