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Esvaziando A Mala para A Maior Viagem Da Sua Vida
Esvaziando A Mala para A Maior Viagem Da Sua Vida
Feche os olhos, abra seu coração agora. Você pode fazer uma viagem para conhecer
alguém que não imagina: você. Sim, você mesmo. Drummond disse certa vez que
esta viagem é a mais difícil para o ser humano realizar:
Só resta ao homem (estará equipado?)
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
(ANDRADE, p. 21-22)
Uma viagem para dentro do seu coração. Sim, o que você busca há muito tempo já
habita seu coração. E como fazer essa viagem? Você pode perguntar: não preciso de
mala, nem de um veículo para me transportar para esse lugar especial? Não, não
precisa de nada disso, pois não se trata de um lugar. Esvazie a mala. Nem se
preocupe com o tempo. O veículo é você mesmo. Você pode conhecer seu real destino
agora. Sim: basta um instante, e você pode voar sem sair do lugar. Como assim? Veja
algumas dicas que Rumi nos traz:
Faltam-te pés para viajar? Viaja dentro de ti mesmo. E reflete, como a mina
de rubis, os raios de sol para fora de ti. A viagem conduzirá ao teu ser.
Transmutará teu pó em ouro puro.
Feche os olhos e mergulhe dentro de você mesmo. Você vai ouvir naturalmente uma
voz que o chama sem cessar. Essa voz é você mesmo, seu Ser real. No mais profundo
de seu ser, você percebe que não é seu nome, não é sua profissão, nem
nacionalidade, nem sua relação familiar, nem seus pensamentos, desejos, emoções,
ações, ou qualquer coisa de sua rotina. Isso tudo é algo externo a você mesmo.
“E como não percebi isso antes?" – você pode perguntar. É que seus ouvidos não
conseguiam escutar essa voz, que só é ouvida no silêncio. Como assim, escutar algo
no silêncio? Mais uma dica de Rumi:
Ninguém fala para si mesmo em voz alta. Já que todos somos Um, falemos
desse outro modo. Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.
Fechemos, pois, a boca e conversemos através da alma. Só a alma conhece
o destino de tudo, passo a passo. A inspiração que você procura já está
dentro de você. Fique em silêncio e escute.
Esta é uma parte importante da viagem, o primeiro passo: é preciso silenciar. Não se
trata do silêncio exterior, mas do silêncio interior. Suas emoções e desejos causam um
ruído ensurdecedor, não é mesmo?
Na luta pela sobrevivência – para preencher todos seus desejos e o que o seu ego cria
a todo instante – você entra em conflito com os outros e com você mesmo. E tudo isso
é causado pelo egocentrismo e movido pelo medo.
Ou você ataca alguém ou uma situação por medo de perder algo material, ou você
foge por medo de que seus apegos sejam ameaçados – esses apegos que você bem
conhece, não é mesmo? Apegos à sua zona de conforto, aos seus hábitos,
condicionamentos, pensamentos, emoções e, bem oculto, o apego às suas intenções.
Mas, no fundo, você está atacando a si mesmo e fugindo dessa viagem interior.
É como se você se identificasse com uma miríade de desejos autocriados que não
passam de ilusões. Esses pensamentos e emoções são apenas uma projeção das
intenções do ego. Essas projeções simplesmente não existem. Por exemplo: quantas
vezes você sente medo ou evita uma situação que sempre se repete, como se o
perseguisse numa roda? Mas quem criou essa situação foi você mesmo. Você a criou e
a projetou, como uma nuvem, em torno de sua vida. Sim: muitas vezes essas ilusões
podem aprisionar as pessoas por muitos anos ou por uma vida inteira.
Mas a voz interior, de seu Ser real, vai penetrar sua alma para silenciar todo esse
ruído. E assim, nessa paz que pode durar um segundo que seja, você realiza a mais
maravilhosa de todas as viagens – para dentro de si mesmo. Então, você se reconhece
no fundo de seu Ser, onde habita o Átomo invisível que o inunda de luz perene para
guia-lo nessa autodescoberta, a cada batida do seu coração.
Não se preocupe em fazer planos, pois você não pode ser o guia nessa viagem. Isso
apenas mascara seu sentimento, confunde seu pensamento ou força suas ações. A
voz de uma nova alma é que vai guiá-lo. Esta é a voz de uma nova consciência – de
novos sentimentos, pensamentos e, principalmente, de uma atitude de vida
completamente nova. Não lute contra ela, deixe que ela o leve. “Como assim?” – você
pode perguntar.
Em seu coração há uma luz que se reflete em um espelho especial: o espelho de uma
nova consciência. E, guiado por essa voz silenciosa, você se vê então a si mesmo.
Nesse caminhar, vale uma reflexão de Farid Ud-Din Attar, em seu livro “A Conferência
dos Pássaros”:
Para essa viagem, tudo o que você precisa saber está no seu coração, onde habita o
Átomo de uma outra natureza – e que é você mesmo, seu verdadeiro Ser. O Átomo é a
sua bússola a cada passo. E essa viagem acaba e começa assim, a todo instante. Um
passo de fogo, para movê-lo, e um passo de água, para refrigerá-lo. Como uma
inspiração e expiração. Você pode cair, mas isso é parte do processo. Com
persistência e alegria, você se levanta e continua em frente.
Nesse caminho, essa é a voz silenciosa que o faz perceber que você é, agora, o Átomo
e o mundo ao mesmo tempo. Tudo e você já são Um. Boa viagem!
Referências
ATTAR, Farid Ud-Attar. A Conferência dos Pássaros. São Paulo: Círculo do Livro, da
tradução inglesa “The Conference of the Birds”, London: The Janus Press, 1954.