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Uma Introdução
1 Dualidade Onda-Partı́cula 5
1.1 O fotão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 O Efeito Fotoelétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.2 O Efeito de Compton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.1.3 Natureza dual do fotão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2 Hipótese de de Broglie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.1 Experiência de Davisson-Germer . . . . . . . . . . . . 21
1.3 A experiência da dupla fenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.4 Interpretação probabilı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.5 Relações de Incerteza de Heisenberg . . . . . . . . . . . . . . 30
3
4 CONTEÚDO
3 Informação Quântica 87
3.1 Informação clássica versus informação quântica . . . . . . . . 87
3.2 O que é um bit quântico? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.3 Sistemas de um qubit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.3.1 Esfera de Bloch . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.3.2 O fotoqubit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.3.3 Gates quânticas de um qubit . . . . . . . . . . . . . . . 100
3.3.4 Criptografia: o protocolo BB84 . . . . . . . . . . . . . 103
3.4 Sistemas de dois qubits . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.4.1 Gates de dois qubits . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.4.2 Entanglement . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
3.4.3 O paradoxo de EPR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.4.4 Teletransporte Quântico . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
3.5 Computadores quânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
3.5.1 Fotões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
3.5.2 Ion traps . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
3.5.3 Quantum dots . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.5.4 NMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
3.5.5 Supercondutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Capı́tulo 1
Dualidade Onda-Partı́cula
1.1 O fotão
Nos finais do séc. XIX a natureza da luz parecia completamente esclarecida:
trata-se de uma onda eletromagnética que se propaga no vazio com veloci-
dade c = 2, 99792458 × 108 m/s (Fig.1.1). Num meio material, a velocidade
de propagação, v, é inferior a c. A velocidade da luz é determinada pelas
constantes elétrica e magnética do meio onde se propaga, e µ, respetiva-
mente:
1 1
em geral, v = √ ; no vazio, c = √ .
µ µ0 0
A luz visı́vel tem a mesma natureza fı́sica das ondas de rádio, dos in-
fravermelhos ou dos raios γ (Fig.1.2). Das ondas de rádio aos raios γ, as
5
6 CAPÍTULO 1. DUALIDADE ONDA-PARTÍCULA
f = c/λ .
cátodo
Exemplo 1.1.1 : Fez-se incidir luz de intensidade 10 kW/m2 sobre uma superfı́cie
de potássio, cuja função trabalho é de 2,2 eV. Classicamente, esperar-se-ia que
decorresse um intervalo de tempo t entre o instante em que se liga a fonte de luz
e o instante em que se inicia a emissão de eletrões. Estime esse valor de t.
E
I=
tA
A área A em causa pode ser estimada como a secção de um átomo de raio r ' 1 Å.
A energia E deverá ser superior a φ, a energia necessária para remover o eletrão.
Assim,
E φ 2, 2 × 1, 6 × 10−19 J
t= > ' ' 1 ms.
IA IA 10 × 103 W/m2 × π × 10−20 m2
Assim, se houver atraso na emissão de fotoeletrões, esse tempo será facilmente
mensurável.
Efotão = h f
ou seja,
e Vp = hf − φ . (1.4)
2.5
2.0
1.5
Vp (V) 1.0
0.5
f
min
0.0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
14
f (10 Hz)
h fmin = φ .
c hc
λmax = = .
fmin φ
1.1. O FOTÃO 11
Resolução:
hc 1240 eV.nm
λmax = = ' 827 nm .
φ 1, 5 eV
Este comprimento de onda pertence à região do infravermelho, o que significa que,
com este material, pode ser usado todo o espetro do visı́vel e ultravioleta para
produzir efeito fotoelétrico.
P E n hf n Efotão
I= = = = ,
A tA tA t A
onde A é a área de incidência, P a potência, E é a energia do feixe que incide
na área A no intervalo de tempo t, n/t é o número de fotões incidentes por
unidade de tempo e Efotão é a energia de cada fotão. Para uma dada fonte
de luz, caraterizada por uma dada frequência ou distribuição de frequências,
a alteração de I faz-se modificando n/t.
c) Explique porque não há emissão de eletrões com o laser de He-Ne, apesar
de este ter uma potência maior do que a lâmpada de ultravioleta.
Resolução:
E n Efotão n
P = = = hf ,
t t t
onde Efotão = hf é a energia de um fotão e n é o número de fotões no
intervalo de tempo t. O número de fotões por unidade de tempo, n/t, é
n P Pλ
= = , ou seja,
t hf hc
n 2 W × 6328 × 10−10 m
= ' 6 × 1018 fotões/s ,
t laser 6, 626 × 10−34 J.s 3 × 108 m/s
n 0, 1 W × 3500 × 10−10 m
= ' 2 × 1017 fotões/s .
t u.v. 6, 626 × 10−34 J.s 3 × 108 m/s
O número de fotões por unidade de tempo é uma ordem de grandeza mais
elevado no laser, em relação ao feixe de luz u.v.
b) Como não há efeito para o laser, há que considerar os dados para a luz u.v.:
hc 12410 eV.Å
Efotão u.v. = h f = = = 3, 54 eV ,
λ 3500 Å
donde, φ = Efotão u.v. − Tmáx = 3, 54 − 1, 34 = 2, 2 eV .
hc 12410 eV.Å
Efotão laser = = = 1, 96 eV ,
λ 6328 Å
ou seja, a energia de cada fotão é inferior a φ. Há muitos fotões por unidade
de tempo, mas nenhum deles tem energia suficiente para arrancar um eletrão
e por isso não há efeito fotoelétrico.
1.1. O FOTÃO 13
Figura 1.5: O efeito de Compton, descrito como o resultado de uma colisão entre
um fotão e um eletrão livre, em repouso.
2
Sugestão: verifique que o produto final da colisão da Fig.1.5 não pode ser apenas um
eletrão.
14 CAPÍTULO 1. DUALIDADE ONDA-PARTÍCULA
ou seja,
hc hc
= 0 + Te , (1.5)
λ λ
onde Te é a energia cinética do eletrão depois do choque; λ e λ0 são os
comprimentos de onda do fotão, antes e depois do choque, respetivamente.
Consideremos as projeções dos momentos lineares nos eixos X e Y da Fig.1.5.
A conservação de momento linear tem a forma
E hf h
p= = =
c c λ
Assim, as equações da conservação do momento linear (1.6) e (1.7) escrevem-
se como
h h
= cos θ + pe cos φ (1.8)
λ λ0
h
0 = sin θ − pe sin φ , (1.9)
λ0
onde pe é o momento linear do eletrão e os ângulos θ e φ são os indicados
na Fig.1.5. Se usarmos a expressão relativista para Te e combinarmos as
equações 1.5 a 1.9, eliminando as variáveis associadas ao eletrão (pe e φ),
obtemos
h
λ0 − λ = (1 − cos θ) , (1.10)
me c
que é a expressão do chamado desvio de Compton. A constante
h hc
λc = =
me c m e c2
1240 eV.nm
= = 0, 00243 nm , (1.11)
511 × 103 eV
designa-se de comprimento de onda de Compton do eletrão.
1.1. O FOTÃO 15
A expressão 1.10 diz-nos que, quando um fotão colide com um eletrão livre
em repouso, o seu comprimento de onda sofre uma variação ∆λ = λ0 − λ que
depende do ângulo θ entre a direção do fotão emergente e a direção do fotão
incidente. O desvio máximo é
∆λmax = λc (1 − cos π) = 2 λc ' 0, 005 nm (1.12)
Assim, para observarmos um desvio ∆λ superior a 1%, os fotões deverão ter
um comprimento de onda inferior a cerca de 0,5 nm. Por outras palavras, o
efeito não é percetı́vel para ondas eletromagnéticas de comprimento de onda
elevado, como é o caso das ondas de rádio (Exemplo 1.1.4).
Resolução:
c 3 × 108
λ= = ' 3, 33 m .
f 90 × 106
O desvio máximo por cada colisão é ∆λmax ' 0, 005 nm. Para N colisões o
desvio máximo será N ∆λmax . Para que esse desvio corresponda a 0,01%=10−4
do comprimento de onda deverá ser
N 0, 005 = 10−4 × 3, 33
Detetor
cristal calcite
alvo de
grafite
fonte de
Raios X
Resolução:
E0 λ λ 1
= 0 = = λc
.
E λ λ + λc (1 − cos θ) 1+ λ (1 − cos θ)
Mas
λc h E E 511 keV
= = 2
= =1 .
λ me c h c me c 511 keV
Donde,
E
E0 = .
2 − cos θ
Louis de Broglie (1924) sugeriu que essa relação deveria ser válida também
para outras partı́culas com momento linear p = mv. Assim, qualquer partı́cula
teria associada uma onda, de comprimento de onda λ dado por
h
λ=
p
Resolução:
Se usarmos a relação de de Broglie temos
h h 6, 6 × 10−34 J.s
λcarro = = = = 1, 32 × 10−38 m ,
p mv 1000kg × 50m/s
h 6, 6 × 10−34 J.s
λpoeira = = −12 = 6, 6 × 10−20 m ,
mv 10 kg × 10−2 m/s
h h
eletrão não relat. de 1eV : λe = =√ = 1, 2 nm = 1, 2 × 10−9 m ,
p 2mEc
h hc
eletrão relativista 100 eV : λe = ≈ = 12 fm = 1, 2 × 10−14 m .
p Ec
por
h h hc 1240eV.nm
λe = =√ =√ = p = 0, 167 nm ,
p 2mEc 2mc2 Ec 2 × 0, 511 × 106 eV × 54eV
Resolução:
Em ambos os casos temos
h
λ=
p
mas a relação entre a energia E e o momento linear p é diferente para os dois casos
e por isso os respetivos comprimentos de onda são muito diferentes. De facto, um
p2
eletrão com esta energia é não relativista e a sua energia é E = 2m . O fotão tem
energia E = pc. Assim, para o eletrão temos
h h hc 12410 eV.Å
λel = =√ =√ =p = 4 Å .
p 2mE 2
2mc E 2 × 0, 511 × 106 eV × 10 eV
h hc 12410 eV.Å
λf = = = = 1241 Å .
p E 10 eV
1.3. A EXPERIÊNCIA DA DUPLA FENDA 23
canhão 2
de balas P2(x)
P12 (x)
parede P12=P1+P2
P12 = P1 + P2
detetor
I12
1 I1
fonte
2 I2
I12 |A1+A2|2
parede x x
I1 |A1| 2 I2 |A2|2
detetor
P12
P1
1
canhão 2
de eletrões P2
parede x x
P1=|ψ1| Δx2
P2=|ψ2| Δx2
P12=|ψ1 +ψ2|2 Δx
Figura 1.12: Experiência de dupla fenda com eletrões
P (x) = |ψ|2 ∆x ,
e por isso
P12 6= P1 + P2 .
Figura 1.13: Experiência de dupla fenda com balas (à esquerda), com água
(ao centro) e com eletrões (à direita). Os eletrões chegam ao alvo como
partı́culas, mas originam uma figura de interferência tı́pica de uma onda.
P1
1
canhão luz
de eletrões 2
P2
P12
x x
P12=P1+P2
Figura 1.14: Tentando observar por qual das fendas passa o eletrão.
1. As partı́culas têm uma natureza ondulatória e por isso há que associar
a uma partı́cula uma função de onda ψ. A quantidade mensurável é
|ψ|2 e tem o significado de uma densidade de probabilidade.
ψ = α ψ1 + β ψ 2
Imaginemos, por ex., uma onda do mar em que são visı́veis várias cristas :
facilmente determinamos λ e portanto k = 2π/λ com uma precisão razoável;
contudo, é difı́cil definir uma posição para a onda, ou seja a incerteza na
posição ∆x é elevada. Ao invés, um único pulso de onda no mar tem uma
pequena incerteza na posição (∆x pequeno) mas a incerteza em k é elevada.
Em geral, podemos dizer que ∆x e ∆k variam na razão inversa:
∆x ∆k ≈ 1 .
O valor exato desse produto depende da forma da distribuição de k’s. No
exemplo 1.5.1 calcula-se esse produto para o caso de uma distribuição gaus-
siana de k’s.
1.5. RELAÇÕES DE INCERTEZA DE HEISENBERG 31
Exemplo 1.5.1 : Considere uma partı́cula livre descrita por função Ψ(x, t) no
instante t=0. A função Ψ(x, t = 0) é dada por uma sobreposição do tipo
nX
max h i
Ψ(x, t = 0) = An ei(k0 +n∆k)x + ei(k0 −n∆k)x . (1.13)
n=0
Resolução:
2 2
A densidade de probabilidade é |Ψ(x)|2 = 4 σk2 π e−2σk x . Fazendo
2 σk2 = (2σx2 )−1 , podemos escrever
x2
−
|Ψ(x)|2 = 4 σk2 π e 2
2 σx (1.16)
=0,1
k
= 0,1
k
=0,1 = 5
k
x
)
A(k)
=0,05
k
= 0,05
Re(
k
=0,05
k = 10
|
x
=0,025
=0,025 k = 0,025
k k
= 20
x
x
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 -100 -50 0 50 100 -100 -50 0 50 100
k x x
Como vimos no Exemplo 1.5.1, se A(k) tem uma forma gaussiana, então
∆x ∆k = 21 e , consequentemente, ∆x ∆p = ~2 . É possı́vel demonstrar que
esse é o valor mı́nimo do produto ∆x ∆p ou seja, em geral,
~
∆x ∆p ≥
2
∆ω ∆t ≈ 1 .
∆E ∆t ≈ ~ .
~
∆E ∆t ≥
2
As relações
~ ~
∆x ∆p ≥ e ∆E ∆t ≥ (1.18)
2 2
p
σx = h(x − hxi)2 i , (1.19)
p
σx = hx2 − 2xhxi + hxi2 i
p
= hx2 i − 2hxihxi + hxi2
p
= hx2 i − hxi2 . (1.20)
ou seja,
p
∆x = hx2 i − hxi2
p
∆p = hp2 i − hpi2
36 CAPÍTULO 1. DUALIDADE ONDA-PARTÍCULA
hp2 i
hEi =
2m
p
Mas ∆p = hp2 i − hpi2 . Neste caso, dada a simetria do problema, temos
hpi = 0 ,
(∆p)2
hEi = .
2m
O valor mı́nimo de hEi será cerca de
~2 ~2 c2
hEi ≈ = ,
8m(∆x)2 8mc2 (∆x)2
ou seja,
1972 eV2 .nm2
hEi ≈ ' 1 eV .
8 × 511 × 103 eV × 0, 12 nm2
(∆p)2 1
E = hEi = + mω 2 (∆x)2 .
2m 2
Mas ∆x ∆p = ~2 , ou seja
~2 1
E= 2
+ mω 2 (∆x)2 .
8m(∆x) 2
A relação de Heisenberg
∆E ∆t ≥ ~/2
~ 10−34 J.s
∆E ≈ = = 0, 5 × 10−26 J ' 3 × 10−8 eV.
2τ 2 × 10−8 s
A frequência do fotão emitido tem uma incerteza ∆f = ∆E/h, ou seja,
3 × 10−8 eV
∆f ≈ eV.s ' 7 MHz .
4, 136 × 10−15
Fundamentos de Mecânica
Quântica
39
40 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
É natural esperar que essa equação seja consistente com princı́pios fun-
damentais da fı́sica e com os resultados de experiências que evidenciam a
natureza ondulatória das partı́culas. Em particular, deve
1. ser consistente com a conservação de energia, que é um princı́pio fun-
damental da fı́sica e pode ser usado como ponto de partida.
E =T +U
2.1. A EQUAÇÃO DE ONDA 41
∂Ψ ~2 ∂ 2 Ψ
i~ =− + UΨ
∂t 2m ∂x2
Ψ(x, t) = ψ(x)φ(t) .
∂
i~ (ψ(x)φ(t)) = E ψ(x) φ(t) ,
∂t
ou seja,
dφ
i~ =Eφ ,
dt
que tem como solução
E
φ(t) = e−i ~ t = e−iωt .
E
Se substituirmos Ψ(x, t) por ψ(x) e−i ~ t na equação de Schrödinger de-
pendente do tempo obtemos
~2 d2 ψ
− + U ψ(x) = E ψ(x)
2m dx2
2.2. OPERADORES 43
2.2 Operadores
Vimos que a equação de Schrödinger traduz a conservação de energia, mas
alguns termos surgem de um forma que não nos é familiar. O termo T Ψ, por
~2 ∂ 2 Ψ
exemplo, associado à energia cinética, aparece como − 2m ∂x2
.
∂
Dizemos que o operador −i~ ∂x representa o momento linear em
Mecânica Quântica. Usamos o acento ˆ para designar um operador.
Temos então,
∂
p̂ = −i~
∂x
44 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
x̂Ψ = xΨ .
p̂2
T̂ Ψ = Ψ
2m
1 ∂ ∂Ψ
= −i~ (−i~)
2m ∂x ∂x
~2 ∂ 2 Ψ
=− (2.8)
2m ∂x2
ou seja
~2 ∂ 2
T̂ = −
2m ∂x2
~2 ∂ 2
Ĥ = T̂ + Û = − + Û
2m ∂x2
~2 d2 ψ(x)
− + U ψ(x) = Eψ(x) (2.9)
2m dx2
pode ser escrita como
2.3 Exemplos
Sabemos que a descrição clássica da dinâmica de uma partı́cula a uma di-
mensão não tem necessariamente de ter como ponto de partida as forças que
actuam sobre ela. O sistema pode ser caracterizado pela função energia po-
tencial U (x), e a resultante Fx das forças sobre a partı́cula é calculada através
de Fx = − dU dx
. A figura 2.1 ilustra dois exemplos de funções U (x) que nos
são familiares.
0 15 30 45 60
3
r ( 10 Km)
Energia (J) R
U(r)
12
11
10
9
8
7
6
U (J)
E
5
4
3
2
1
0
-0.75 -0.50 -0.25 0.00 0.25 0.50 0.75
x (m)
40
Energia (eV)
20
x (nm)
Temos
0 para 0 ≤ x ≤ L,
U (x) =
∞ para x > L e x < 0 ,
onde L é a largura do poço.
Uma vez colocada a partı́cula dentro do poço, esta não pode escapar, pois
a parede do poço é infinita. A partı́cula é forçada a refletir-se nas paredes. Se
48 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
~ 2 d2 ψ
− = Eψ(x) (2.11)
2m dx2
ou √
d2 ψ 2 2mE
2
= −k ψ com k =
dx ~
2
onde m é a massa da partı́cula e E a sua energia . A função cuja segunda
derivada é proporcional à própria função, com uma constante de proporci-
onalidade negativa, é a função oscilatória. Além disso, tratando-se de uma
equação diferencial de segunda ordem, a solução geral tem duas constantes
de integração. Assim, temos
o que significa que kL = nπ. A equação (2.12) é satisfeita para n = 0, ±1, ±2, ....
A solução com n=0 não tem interesse (corresponde a uma função de onda
nula em todo o espaço, ou seja a partı́cula não existe). As soluções com −n
diferem das soluções com +n apenas no sinal da função de onda e, como
veremos adiante, soluções ±ψ são indistinguı́veis. Temos então,
~2 π 2 n2
En = com n = 1, 2, 3, ... (2.14)
2mL2
Note-se que o comprimento de onda de de Broglie da partı́cula, λ = h/p, é
está relacionado com o número de onda k através de λ = 2π/k. Combinando
com a equação (2.13) obtemos
2L
λ= com n = 1, 2, 3, ..
n
que é a condição que conhecemos para ondas estacionárias numa corda de
comprimento L, fixa nas extremidades! Adicionalmente, a equação (2.13)
permite-nos concluir que função de onda é do tipo
nπ
ψ(x) = A sin x , (2.15)
L
que é a dependência espacial de uma onda estacionária numa corda. O signi-
ficado da função de onda é, todavia, diferente: na corda, ψ(x) é diretamente
mensurável - representa uma deflexão numa direção perpendicular a x - en-
quanto que aqui apenas |ψ|2 tem significado fı́sico direto - é uma densidade
de probabilidade de presença. Na corda, a energia é proporcional a A2 e pode
ter qualquer valor. Neste caso, a energia é proporcional a k 2 e por isso só
alguns valores da energia são possı́veis - a energia está quantizada.
Podemo-nos interrogar sobre o significado da constante A na equação
(2.15), sendo ψ(x) a componente espacial da função de onda Ψ(x, t) = ψ(x) e−iωt .
Poderı́amos supor que a constante A pode assumir qualquer valor, pois se ψ
é solução da equação de Schrödinger, então Aψ também é solução da mesma
50 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
Em consequência, vem:
2
|A|2 =
.
L
Uma vez que ψ(x) não é diretamente mensurável, a constante q A podeqser
positiva ou negativa, real ou complexa. Qualquer um dos valores L2 , − L2 ,
q q
i L , −i L2 é aceitável para A e conduz a funções de onda fisicamente
2
~2 π 2 n2
En = com n = 1, 2, 3, ... (2.17)
2mL2
52 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
a) Escreva a forma das soluções ψn (x) da equação Hψn (x) = En ψn (x) para
este sistema.
Resolução:
~2 c2 π 2 n2 1972 (eV.nm)2 π 2 n2
En = = = n2 1, 5 eV .
2mc2 L2 2 × 511 × 103 eV × 0, 52 nm2
Assim, o estado fundamental tem energia E1 = 1, 5 eV ; o primeiro estado
excitado tem energia E2 = 4 × 1, 5 = 6 eV.
| |
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
x (nm) x (nm)
18
E
3
Energia (eV)
12
|
4
E
3 2
6
E
1
1
~2 d2 ψ 1
− 2
+ mω 2 x2 ψ(x) = Eψ(x) (2.18)
2m dx 2
A equação diferencial (2.18) tem solução analı́tica, mas não iremos des-
crever aqui a sua resolução, por ultrapassar o âmbito desta disciplina. Apre-
sentaremos apenas a forma geral das soluções e ilustraremos com um exemplo
concreto. 3
Tal como no caso do poço de potencial infinito, e mais uma vez em con-
traste com o análogo clássico, o espetro de soluções é discreto, caracterizado
por um número quântico n. É possı́vel demonstrar que as soluções ψn (x) da
da equação de Schrödinger independente do tempo têm a forma,
mω 1/4 1 mω 2
ψn (x) = √ Hn (x) e− 2~ x com n = 0, 1, 2, ... (2.19)
π~ 2n n!
onde Hn (x) são polinómios de grau n designados de polinómios de Hermite.
Para o estado fundamental (n=0) e o primeiro estado
p mω excitado (n=1), por
exemplo, tem-se, respetivamente, H0 = 1, H1 = 2 ~ x.
En+1 − En = ~ω .
3
O estudante interessado poderá encontrar a resolução da equação (2.18) na bibliografia
[16].
54 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
-1
x (nm)
1.2
b) Luz com λ = 4550 nm (infraverme- E
1.0 3
Energia (eV)
0.8
fundamental E0 = 12 ~ω0 para o 1o E
2 U
0.6
estado excitado, E1 = 32 ~ω0 . Deter- E
0.4 1
0.0
rad/s. -0.05 -x
0
0.00 x
0
0.05
x (nm)
Resolução:
~2 d2 ψ0 1
Hψ0 = − + mω02 x2 ψ0 (x) .
2m dx2 2
2.3. EXEMPLOS 55
100
80
N 60
40
20
x (metros)
N (x) N (x)
P (x) = = R∞ , (2.21)
N 0
N (x) dx
A altura média da população da figura será uma média pesada pela res-
petiva densidade de probabilidade, i.e.,
R∞ Z ∞
0
x N (x) dx
hxi = x = R ∞ = x P (x) dx = 1, 65 m (2.24)
0
N (x) dx 0
~
∆x ∆p ≥ . (2.30)
2
Assim, mesmo que saibamos tudo o que é possı́vel saber sobre o estado da
partı́cula (a sua função de onda Ψ(x, t)) não sabemos prever que valor con-
creto de x iremos encontrar se fizermos uma medida de x para a partı́cula
no estado Ψ(x, t). Depois de efectuarmos a medida encontraremos um valor
concreto para x, mas se fizermos, no mesmo instante, duas medidas para
duas partı́culas que estão no mesmo estado Ψ(x, t) obteremos, em geral, dois
valores diferentes.
Se soubermos a função de onda Ψ(x, t) podemos no entanto prever o
2.5. PROBABILIDADES E VALORES MÉDIOS 59
valor médio hxi = x, o qual deve coincidir com a média de muitas medidas
realizadas em partı́culas que estavam todas no mesmo estado inicial Ψ.
É pois necessário calcular não só hxi mas também hx2 i sendo
Z L Z L
2 2 2 πx 1 1
2 2 2 2
hx i = x |ψ1 | dx = x sin dx = L − (2.34)
0 0 L L 3 2π 2
o que conduz a r
1 1
∆x = L − 2 = 0, 18 nm.
12 2π
Vejamos agora como calcular o valor médio hAi de uma qualquer grandeza
fı́sica mensurável qualquer.
4
Os limites de integração são 0 e L porque a função de onda é nula fora do poço.
60 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
p̂Ψ(x, t) = p Ψ(x, t) ,
∂
onde p̂ = −i~ ∂x . Ou seja,
Ψ∗ p̂ Ψ = Ψ∗ p Ψ = p |Ψ|2 ,
isto é, Z +∞
hpi = Ψ∗ p̂ Ψ dx . (2.35)
−∞
Assim, as expressões para os valores médios hxi e hpi podem ser escritas
de uma forma formalmente idêntica:
Z +∞
hxi = Ψ∗ x̂ Ψ dx , (2.36)
−∞
Z +∞
hpi = Ψ∗ p̂ Ψ dx , (2.37)
−∞
ou seja,
Z +∞
hxi = Ψ∗ x Ψ dx , (2.38)
−∞
Z +∞
∗ ∂
hpi = Ψ −i~ Ψ dx . (2.39)
−∞ ∂x
Z +∞
hAi ≡ Ψ∗ Â Ψ dx
−∞
2.6. FORMALISMO 61
2.6 Formalismo
As soluções da equação de Schrödinger independente do tempo são, em ge-
ral discretas, e caraterizadas por certos valores de números quânticos que
representamos genericamente por n:
ĤΨn (x) = En Ψn (x) (2.40)
No caso de um poço de potencial infinito de largura L, temos U = 0
dentro do poço e a equação anterior tem a forma
~2 d2 ψn (x)
− = En ψn (x)
2m dx2
cujas soluções são
r
2 nπx ~ 2 π 2 n2
ψn (x) = sin e En = n = 1, 2, ...
L L 2mL2
q
2
Note-se que o factor L
foi determinado de forma a que ψn satisfaça a
condição de normalização
Z
ψn∗ ψn dx = 1 . (2.41)
onde
0 para m 6= n
δmn =
1 para m = n .
Z
hψa |ψb i ≡ ψa∗ ψb dx
A notação hψa |ψb i para designar produto escalar permite escrever a equação
2.44 de uma forma mais condensada:
hψn |ψm i = δmn (2.45)
De acordo com esta definição, a condição 2.45 (que é equivalente a 2.44)
significa que as funções ψn e ψm são ortogonais se os números quânticos n e
m forem diferentes e são normalizadas à unidade se n = m. Dizemos que as
funções ψn constituem um conjunto ortonormado de funções.
No instante inicial, o sistema pode estar num estado Ψ que não coincide
com nenhuma das soluções ψn da equação de Schrödinger para o poço de
potencial infinito. Mas as soluções ψn , além de formarem um conjunto or-
tonormado constitui também um conjunto completo,i.e., o estado inicial Ψ
do sistema, qualquer que ele seja pode ser expresso como uma combinação
linear das funções ψn :
X
Ψ = cn ψ n (2.46)
n
r
2 X nπ
= cn sin x . (2.47)
L n L
o bra correspondente é
a∗1 a∗2
hΨa | = (2.50)
P
O coeficiente bj da expansão |Ψb i = i bi |ei i é dado por hej |Ψb i.
Â|φn i = an |φn i .
Se |φn i constitui uma base ortonormada (i.e. se hφm |φn i = δmn ) e com-
pleta, podemos escrever X
|Ψi = cn |φn i
onde os coeficientes cn se obtêm a partir de cn = hφn |Ψi = φ∗n Ψ dx. O valor
R
hAi = hΨ|Â|Ψi
X X
= c∗m hφm | cn Â|φn i
m n
XX
= an c∗m cn hφm |φn i
m n
X
= |cn |2 an (2.52)
n
hΨ|Ψi = 1
X X
c∗m hφm | cn |φn i = 1
m n
XX
c∗m cn hφm |φn i = 1
m n
X
|cn |2 = 1 (2.53)
n
66 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
Note-se que por isso mesmo o valor médio não se obtém fazendo muitas
medidas no mesmo sistema. Obtém-se fazendo muitas medidas P em sistemas
idênticos, descritos pela mesma combinação linear |Ψi = cn |φn i. Diferen-
tes medidas conduzirão em geral a valores an diferentes. A probabilidade de
encontrar um dado an é dada por |cn |2 , mas é impossı́vel prever qual o valor
concreto que resulta de uma determinada medida.
6 eV: E
2
1 6
x (nm)
Resolução:
1/2, respetivamente.
mas o bra hΨ| é dado por hΨ| = √1 (hψ1 | + ihψ2 |). Assim,
2
i2 E
1 E iE iE
hΨ|H|Ψi = √ √1 hψ1 |ψ1 i + √ 1 hψ2 |ψ1 i − √ 2 hψ1 |ψ2 i − √ 2 hψ2 |ψ2 i
2 2 2 2 2
68 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
E1 E2
= +
2 2
5E1
=
2
= 3, 75 eV
2.8 Resumo
É útil resumir alguns aspectos fundamentais que vimos até aqui. Assim
2.9 O Spin
No nosso dia a dia, todos nós estamos familiarizados com magnetes . Quando
colocamos limalha de ferro junto a um magnete, a limalha orienta-se for-
mando linhas. Dizemos que o magnete cria à sua volta um campo magnético
~ O campo B
B. ~ é um campo vetorial com direção tangente a essas linhas em
cada ponto.
feixe
y
Não há, no entanto, nenhuma razão a priori para que a direção do mo-
mento magnético de spin dos eletrões dos átomos de hidrogénio seja comum
para todos os eletrões. Se o feixe nunca foi submetido a nenhuma experiência
que possa ter efetuado uma seleção de estados, deveremos ter no feixe todas
as direcções possı́veis do vetor momento magnético µ ~ e portanto de S.
~ = γS ~
Se o spin se comportasse como um pequeno magnete clássico, a sua projeção
~ e −|S|
na direcção z teria todos os valores possı́veis entre +|S| ~ e à saı́da a
imagem do feixe seria uma mancha contı́nua.
Contudo, não é isso que sucede: à saı́da há apenas duas manchas com a
mesma intensidade, como indica a figura a seguir. Este resultado significa
que só há duas projeções possı́veis para o momento magnético intrinseco do
eletrão e portanto, sendo µ ~ só há duas projeções possı́veis para o spin
~ = γ S,
de um eletrão numa dada direção. A intensidade relativa das duas manchas
é uma medida da probabilidade relativa de obter cada um dos resultados.
Z
alvo
magnete |z
feixe H
y
| z
Uma vez que as projeções de spin são quantizadas deverão ter um número
quântico associado. Um estado de spin caracteriza-se por dois números
74 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
| z
| z
Bz
feixe H y
Bz
| z Bz | z
| ↑z i e um feixe no estado | ↓z i.
~ ~
Ŝz | ↑z i = + | ↑z i Ŝz | ↓z i = − | ↓z i (2.59)
2 2
Os estados próprios de Sz , spin up e spin down, constituem uma base orto-
normada e completa. Na forma matricial, os vetores de base | ↑z i e | ↓z i, são
matrizes coluna, designadas de spinors:
1 0
| ↑z i = e | ↓z i = (2.60)
0 1
ou seja,
~
e 2
f 0
= e =
g 0 h − ~2
e vem e = (1/2)~, f = 0, g = 0 e h = −(1/2)~. Donde
~ 1 0
Sz = . (2.62)
2 0−1
2.9. O SPIN 77
Resolução:
|x
| x |
= 1/ 2 z
|
+ 1/ 2
z
S-G
x
| x | - 1/ 2|
= 1/ 2 z z
S-G
x
|x
|y
| y
= 1/ 2 | z
+ i/ 2 | z
S-G
y
| y
= 1/ 2 | - i/ 2|
z
z
S-G
y
|y
e
1 1 ~ 1 1 1 1 ~ 1 1
Sy √ = √ Sy √ =− √
2 i 2 2 i 2 −i 2 2 −i
0 1 0 −i 1 0
σx ≡ σy ≡ σz ≡ (2.66)
1 0 i 0 0−1
Mudança de base
Os estados próprios de Sz constituem uma base no espaço de spin, mas os
estados próprios de Sx ou de Sy podem igualmente ser escolhidos como base
e há situações em que essa escolha é mais conveniente. Consideremos o
exemplo seguinte:
Resolução:
Para prever o resultado é necessário fazer uma mudança de base, isto
é, precisamos de exprimir o estado inicial como uma combinação linear na
base de estados finais | ↑x i e | ↓x i. Ou seja é necessário saber quais são os
coeficientes C+ e C− tais que
| ↓y i = C+ | ↑x i + C− | ↓x i (2.67)
A relação anterior pode ser escrita como
1 1 1 1 1 1
√ = C+ √ + C− √ ,
2 −i 2 1 2 −1
1−i 1+i
e obtém-se C+ = 2
e C− = 2
. Podemos então escrever
1−i 1+i
| ↓y i = | ↑x i + | ↓x i . (2.68)
2 2
Assim, a probabilidade de encontrar o valor +~/2 numa medida de Sx
efetuada no estado | ↓y i é |(1 − i)/2|2 = 0, 5. A probabilidade de encontrar
o valor −~/2 na mesma medida é |(1 + i)/2|2 = 0, 5. Esperamos dois feixes
à saı́da de igual intensidade, como sugere a figura seguinte.
| x
| y
S-G
x
| x
82 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTOS DE MECÂNICA QUÂNTICA
Note-se que quando efetuamos uma medida há, em geral, perda de in-
formação. Consideremos o exemplo 2.9.2.3.
| z
| z
S-G S-G
X X
| ↑z i = U+ | ↑x i + U− | ↓x i
e
| ↓z i = D+ | ↑x i + D− | ↓x i ,
ou seja, tais que
1 1 1 1 1
= U+ √ + U− √
0 2 1 2 −1
e
0 1 1 1 1
= D+ √ + D− √ .
1 2 1 2 −1
Facilmente concluı́mos que
1 1
| ↑z i = √ (| ↑x i + | ↓x i) e | ↓z i = √ (| ↑x i − | ↓x i) ,
2 2
ou seja, temos à saı́da, em ambos os casos, dois feixes de intensidades iguais,
um com átomos no estado de spin up na direção x e outro com átomos no
estado de spin down, na direção x. O resultado é exatamente o mesmo em
ambos os casos, o que significa que a medida de Sx não permitiu distinguir os
dois feixes. Note-se que a comparação com o exemplo anterior 2.9.2.2 mostra
que a medida de Sx não permite distinguir também entre um estado down
2.9. O SPIN 83
Sθ = sin θ Sx + cos θ Sz .
x
O operador correspondente será
~ 0 1 ~ 1 0
Sθ = sin θ + cos θ ,
2 1 0 2 0−1
isto é,
~ cos θ sin θ cos θ sin θ
Sθ = e σθ = .
2 sin θ − cos θ sin θ − cos θ
O leitor poderá verificar que estes operadores têm como vetores próprios os
estados up e down na direção θ:
cos 2θ − sin 2θ
| ↑θ i = e | ↓θ i = .
sin 2θ cos 2θ
e y
φ
Sθ,φ = sin θ cos φ Sx + sin θ sin φ Sy + cos θ Sz . x
| θ,φ
| θ,φ = cos θ/2| z |
+ sin θ/2 eiφ z
S-G
θ,φ
Note-se que a direção (θ, φ) pode ser qualquer direção no espaço. Como
veremos mais à frente, qualquer sobreposição α| ↑z i + β| ↓z i de estados up
e down na direção z pode ser escrita na forma cos 2θ | ↑z i + sin 2θ eiφ | ↓z i. Ou
seja, qualquer que seja a sobreposição de estados up e down na direção z, há
uma direção no espaço para a qual essa sobreposição é um estado up (na base
de estados | ↑θ,φ i,| ↓θ,φ i). Se o campo magnético da experiência de S-G tiver
2.9. O SPIN 85
essa direção, o feixe não se separa. Um feixe para o qual é possı́vel encontrar
uma direção em que o feixe não se separa é um feixe coerente.
Resolução:
| z
| S-G
x
z
| x |
= 1/ 2
z
|
+ 1/ 2
z
|
S-G z
x i)
| x
| S-G
z
x
|
1/ 2
z
+ 1/ 2 | z
S-G | x
z
| z ii)
Capı́tulo 3
Informação Quântica
|0i e |1i
87
88 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
cos 2θ
θ iφ θ
|ψi = cos |0i + e sin |1i =
2 2 eiφ sin 2θ
Resolução: Temos
e por isso o fator eiγ pode ser ignorado. Por outro lado, a condição de normalização
da função de onda obriga a que A2 + B 2 = 1 , ou seja os dois parâmetros A e
B não são independentes e é conveniente substituı́-los por um único parâmetro.
Fazendo A = cos θ/2 vem B = sin θ/2. Temos finalmente,
θ θ
|ψi = cos |0i + eiφ sin |1i .
2 2
94 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
cos 2θ
1 1
| ↑x i = √ = .
2 1 eiφ sin 2θ
cos 2θ
1 1
| ↑y i = √ = .
2 i eiφ sin 2θ
θ i π i π
eiφ sin = √ ⇔ eiφ sin = √ ⇔ eiφ = i ⇔ φ =
2 2 4 2 2
cos 2θ
θ iφ θ
|ψi = cos |0i + e sin |1i =
2 2 eiφ sin 2θ
• (|0z i, |1z i) = (|0i, |1i), que é a base padrão, definida ao longo da direção
z. Correspondem aos pontos A e B na figura em baixo, da esfera de
Bloch.
• (|0x i, |1x i) = ( √12 (|0i + |1i) , √12 (|0i − |1i), que é a base ao longo da
direção x. Correspondem aos pontos C e D da figura.
• (|0y i, |1y i) = ( √12 (|0i + i|1i) , √12 (|0i − i|1i) , que é a base ao longo da
direção y. Correspondem aos pontos E e F da figura.
96 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
0 1
1
A: 0 = 0 7→
0 H
1 c
0 e
0 1
0
B : 0 = 0 7→
1
−1 c
π e
H
1 1 1
1
C : 0 = π/2 7→ √
2 1 H
0 c
0 e
−1 1 1
1
D: 0 = π/2 7→ √
2 −1 H
0 c
π e
0 1 1
1
E : 1 = π/2 7→ √
2 i H
0 c
π/2 e
0 1 1
−1 = π/2 1
F : 7→ √
2 −i H
0 c
3π/2 e
Mais uma vez, se pensarmos no qubit como um estado de spin 1/2, reco-
nhecemos facilmente os estados up e down nas direções x e y. Em geral, dois
estados de um qubit são ortogonais se e só se a sua representação na esfera
de Bloch são dois pontos diametralmente opostos.
3.3.2 O fotoqubit
A polarização de um fotão é uma base fı́sica para qubit de grande im-
portância, dada a sua extensa utilização em informação quântica, nomea-
damente na encriptação quântica e no teletransporte quântico. Analisemos
com mais detalhe o significado de um fotoqubit.
Um fotão é uma onda electromagnética e, por definição, a polarização de
~ Se a direção
uma onda eletromagnética é a direção do seu campo elétrico, E.
3.3. SISTEMAS DE UM QUBIT 97
~z e E
No caso mais geral, pode existir uma diferença de fase entre E ~x :
~ serão
As componentes Ez e Ex do vetor E
n o
Ez = Re E ~ · êz = E0 cos α cos(k y − ω t + δz )
n o . (3.5)
Ex = Re E ~ · êx = E0 sin α cos(k y − ω t + δx )
~ = E
E ~z + E ~x
= E0 ei(k y−ω t+δz ) cosα êz + sin α eiφ êx
(3.6)
l ↔
4 2
3π 1
√ (êz − êx )
4
0 2
linear, diagonal esquerda
π π 1
√ (êz + i êx )
4 2 2
circular direita , R
π 3π 1
√ (êz − i êx )
4 2 2
circular esquerda ,L
l
e |Li formam a base y, tal como indica a tabela. No caso de fotoqubits, a
base z é usualmente representada pelo sı́mbolo ⊕ enquanto que a base x é
simbolizada por ⊗.
1
base z ou ⊕ : |0z i = | li =
0
0
|1z i = | ↔i =
1
1
base x ou ⊗ : |0x i = | i = √12
↔
1
1
|1x i = | i = √12
l −1
1 1
base y : |0y i = |Ri = √2
i
1
|1y i = |Li = √12
−i
dois feixes, um com fotões no estado | li e outro com fotões no estado | ↔i,
que são contados pelos detetores D1 e D2, respetivamente. Os detetores em
causa são capazes de detetar fotões um a um.
Consideremos um único fotão com uma polarização caraterizada pelos
ângulos α e φ, que incide no separador de polarização PBS. Vimos que o seu
estado inicial pode ser escrito como uma sobreposição dos estados de saı́da
| li e | ↔i:
|α, φi = cos α | li + sin α eiφ | ↔i
Uma gate NOT quântica deverá fazer corresponder a esse estado de entrada
um estado de saı́da dado por
β
|α |1i + β |0i =
α
3.3. SISTEMAS DE UM QUBIT 101
α β
O operador que transforma o estado no estado é represen-
β α
tado pela matrix
0 1
1 0
que é precisamente a matriz de Pauli σx e que em computação quântica se
designa de X. De facto,
α 0 1 α β
X = =
β 1 0 β α
0 −i
Y = Gate Y de Pauli
i 0
102 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
1 0
Z= Gate Z de Pauli
0−1
1 1 1
H= √ Gate de Hadamard
2 1−1
1 0
Vθ = Gate de fase
0 eiθ
Por exemplo, o efeito da gate de Hadamard num estado de entrada
α|0i + β|1i representa-se como
α
e calcula-se fazendo actuar o operador H sobre o estado , ou seja
β
1 1 1 α 1 α+β
√ =√
2 1−1 β 2 α−β
O resultado expressa-se simbolicamente na forma
√
Por exemplo para α = β = 1/ 2 o qubit de saı́da é |0i. Note-se que a gate
de Hadamard se pode exprimir em função das gates X e Z: H = √12 (X + Z).
Exemplo 3.3.3 : Mostre que uma gate de Hadamard transforma um estado |0z i
num estado |0x i e um estado |1z i num estado |1x i.
Resolução:
7. Alice e Bob rejeitam os bits para os quais as duas bases não coincidem,
o que em média, representa cerca de 50% dos bits gerados. A nova
sequência de bits deverá ser igual para Alice e Bob. Estes selecionam
um subconjunto dessa sequência e comparam-no. Se não houver de-
sacordos na comparação, rejeitam esse subconjunto e a sequência que
sobreviveu constitui a chave secreta partilhada por Alice e Bob. Este
último aspeto não é ilustrado neste exemplo, por se tratar de uma
sequência muito curta.
|00i 7→ |00i
|01i 7→ |01i
|10i 7→ |11i
|11i 7→ |10i . (3.9)
1
na realidade a implementação fı́sica mais frequente é através de técnicas ópticas, no-
meadamente envolvendo o estado de polarização de fotões.
108 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
|B> |B + A>
Exemplo 3.4.1 : Mostre que a gate CNOT é representada pela matriz unitária
1 0 0 0
0 1 0 0
CNOT = .
0 0 0 1
0 0 1 0
Resolução:
A base computacional de estados de dois qubits é dada por
1 0 0 0
0 1 0 0
|00i =
0
|01i =
0 |10i =
1 |11i =
0
0 0 0 1
(3.10)
A ação de CNOT sobre os estados de base é dada por
1 0 0 0 1 1
0 1 0 0 0 0
0 0 0
= ⇔ |00i 7→ |00i
1 0 0
0 0 1 0 0 0
3.4. SISTEMAS DE DOIS QUBITS 109
1 0 0 0 0 0
0 1 0 0 1
1
0
= ⇔ |01i 7→ |01i
0 0 1 0 0
0 0 1 0 0 0
1 0 0 0 0 0
0 1 0 0 0 0
0
= ⇔ |10i 7→ |11i
0 0 1 1 0
0 0 1 0 0 1
1 0 0 0 0 0
0 1 0 0 0
0
0
= ⇔ |11i 7→ |10i
0 0 1 0 1
0 0 1 0 1 0
3.4.2 Entanglement
afastadas uma da outra. No entanto uma pessoa junto ao eletrão 1 que efetue
uma medida de Sz e obtenha o estado 0 (spin up) fica a saber que uma medida
de Sz do eletrão 2, muito afastado do eletrão 1, conduzirá necessariamente
também ao estado 0.
Os estados seguintes exibem todos essa propriedade de estado entangled :
|00i + |11i
|β00 i = √ (3.11)
2
|01i + |10i
|β01 i = √ (3.12)
2
|00i − |11i
|β10 i = √ (3.13)
2
|01i − |10i
|β11 i = √ (3.14)
2
e designam-se de estados de Bell, estados EPR, ou pares EPR, por estarem
associados a um famoso paradoxo apresentado por Einstein, Podolsky e Ro-
sen (EPR) e que teve um desenvolvimento muito importante com Bell, como
discutiremos de seguida. Estes estados desempenham um papel importante
em computação quântica porque a correlação entre medidas num estado de
Bell não tem paralelo com nenhum sistema clássico e abre possibilidades
novas no processamento de informação. O exemplo seguinte mostra que é
possı́vel construir um circuito quântico gerador de estados EPR.
Resolução:
π 0 → e− + e+ .
O eletrão e o positrão são ambas partı́culas de spin 1/2 mas o estado conjunto
tem de ter spin igual ao spin do pião, i.e., spin zero. Um estado desse tipo é
112 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
descrito como:
1 1
√ (| ↑− ↓+ i − | ↓− ↑+ i) = √ (|01i − |10i) (3.15)
2 2
que é o estado de Bell |β11 i mencionado na secção anterior. Os ı́ndices − e
+ na expressão anterior referem-se ao eletrão e ao positrão, respetivamente.
Se o pião decai em repouso, a conservação de momento linear impõe que
o eletrão e o positrão se afastem em direções opostas:
e- π0 e+
Para que sejam utilizados estados entrelaçados, Alice e Bob têm de começar
por se encontrar. A sucessão de operações é a seguinte:
1. Alice e Bob encontram-se e criam um par EPR |β00 i = √12 (|00i + |11i).
O par é um estado conjunto de duas partı́culas, a e b, ou seja |β00 i =
√1 (|0ia |0ib + |1ia |1ib ).
2
1
|ψ0 i = |ψi |β00 i = √ [α|0i(|00i + |11i) + β|1i(|00i + |11i)]
2
3.4. SISTEMAS DE DOIS QUBITS 115
Alice Bob
b1 b2
00 7→ α|0i + β|1i
01 7→ α|1i + β|0i
10 7→ α|0i − β|1i
11 7→ α|1i − β|0i
2
Nos circuitos quânticos a medida é representada por um ponteiro numa escala, suge-
rindo o visor de um aparelho de medida analógico.
116 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
Por outras palavras, Bob sabe que imediatamente após a medida das
partı́culas a e c a sua partı́cula b estará num dos quatro estados possı́veis
indicados em cima. Não sabe, contudo, qual deles é.
6. Alice envia então a Bob, através de um canal clássico, os bits b1 e b2
que resultaram da medida do estado da partı́cula c e a, respetivamente.
7. Bob submete a sua partı́cula b a uma gate Z b1 X b2 . Quaisquer que
sejam os valores dos bits b1 e b2 , o estado final da partı́cula b é o estado
|ψ4 i = |ψi = α|0i + β|1i. De facto,
0 0 α α
Z X =
β β
0 1 β β 0 1 β α
Z X =X = =
α α 1 0 α β
α α 1 0 α α
Z 1X 0 =Z = =
−β −β 0 −1 −β β
1 1 −β 0 1 −β 1 0 α α
Z X =Z = =
α 1 0 α 0 −1 −β β
3.5.1 Fotões
Os fotões têm a grande vantagem de já estar desenvolvida a forma de produzir
um feixe coerente - o laser. A intensidades muito baixas, um laser pode
118 CAPÍTULO 3. INFORMAÇÃO QUÂNTICA
Os iões podem ficar presos no espaço livre usando campos elétricos e os seus
nı́veis de energia são usados para representar estados |0i e |1i ( [12],[13]).
Assim, cada ião é um qubit. A temperaturas muito baixas o tempo associado
à perda de coerência é suficientemente elevado (da ordem de segundos ou
mais) para realizar as operações de inicialização, transformações unitárias
e medida.4 A inicialização é feita por arrefecimento até o sistema ficar no
estado de energia mais baixo. A interação com um ião individual é feita com
um pulso laser, enquanto que a interação entre iões pode ser realizada por
interação local entre iões ou mediada por fotões.
4
Infelizmente, experiências recentes [10] mostram que a coerência diminui com o qua-
drado do número de qubits.
3.5. COMPUTADORES QUÂNTICOS 119
Já foram realizadas sequências de 64 iões em ion traps mas para serem con-
siderados quantum bits têm de estar acoplados. Em 2011 foi conseguido um
entanglement de 14 qubits realizado com iões de cálcio [10].
3.5.4 NMR
O spin de um núcleo atómico é um sistema estável e bem isolado, que pode ser
manipulado com radiação, uma técnica conhecida por ressonância magnética
nuclear (NMR). Uma molécula com N spins nucleares acoplados funciona
como um sistema de N qubits. Esta técnica permitiu demonstrar experimen-
talmente, em 2001, a possibilidade de realizar um computador quântico, em-
bora com um número de qubits demasiado reduzido para poder ter interesse
prático. Uma solução contendo moléculas com 7 spins nucleares comportou-
se como unidades de 7 qubits a correr em paralelo o algoritmo de Shor, tendo
realizado com sucesso a fatorização de ...15. Este método não é, no entanto,
escalável já que o número de spins acoplados numa molécula é sempre limi-
tado.
3.5.5 Supercondutores
Num condutor percorrido por uma corrente elétrica os eletrões perdem coe-
rência muito rapidamente, devido aos processos dissipativos de interação com
o meio. Um supercondutor a baixa temperatura tem, contudo, resistência
nula. Os circuitos de supercondutores podem ser usados como qubits usando
diferentes abordagens descritas na literatura especializada [6].
3.5. COMPUTADORES QUÂNTICOS 121
123
124 BIBLIOGRAFIA
[13] Entangled States of trapped atomic ions, Rainer Blatt and David Wine-
land, Nature 453, 1008-1014 (2008)
[14] Feynman Lectures on Physics - vol. III, Feynman, Leighton and Sands
, Addison-Wesley Publishing Company, 1966.
[15] Modern Physics, Kenneth Krane, 2nd edition, John Wiley & Sons, Inc.