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Universidade de Coimbra
Electromagnetismo
Notas lectivas
de apoio à disciplina
Coimbra - 2013
ii
Notas prévias
iii
R. Vilão Electromagnetismo Índice
iv
Conteúdo
1 Introdução e fundamentos 1
1.1 Sistemas de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Sistema de coordenadas cartesianas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Sistema de coordenadas cilı́ndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.3 Sistema de coordenadas esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Campos e operadores diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.1 Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.2 Divergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.3 Rotacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.4 Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.5 Alguns resultados importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2.6 Equações de Maxwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2 Electrostática 13
2.1 Lei de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Princı́pio da sobreposição e campo eléctrico . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2.1 Aproximações macroscópicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3.1 Linhas de Campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3.2 Fluxo e lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3.3 Forma diferencial da lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3.4 Lei de Gauss aplicada a superfı́cies de carga . . . . . . . . . . . . . 18
2.4 O campo electrostático: um campo conservativo . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.4.1 Trabalho realizado pelo campo electrostático; potencial electrostático 21
2.4.2 Relação entre campo eléctrico e potencial eléctrico . . . . . . . . . . 23
2.4.3 Equações diferenciais para o potencial electrostático: equação de
Laplace e equação de Poisson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.4 Continuidade das componentes do campo eléctrico paralelas a uma
distribuição superficial de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
v
R. Vilão Electromagnetismo Índice
4 Magnetostática 57
4.1 Corrente eléctrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.1.1 Densidades volúmica e superficial de corrente . . . . . . . . . . . . 58
4.1.2 Equação de continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2 Força de Lorentz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2.1 A força magnética não realiza trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.2.2 Força magnética numa corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.3 Lei de Biot e de Savart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.3.1 O campo gerado por um corrente rectilı́nea . . . . . . . . . . . . . . 65
4.4 Força entre dois fios rectilı́neos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.5 Um aparte relevante: a lei de Ohm . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.6 Lei de Ampère. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.7 A divergência do campo magnetostático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.8 Condições de fronteira em superfı́cies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.8.1 Continuidade das componentes transversas do campo magnético . . 72
4.8.2 Descontinuidade das componentes do campo magnético paralelas à
superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.9 O potencial vector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.9.1 O potencial vector devido a correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.9.2 Condições de fronteira em superfı́cies . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.10 Resumo da magnetostática básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
vi
R. Vilão Electromagnetismo Índice
6 Electrodinâmica 105
6.1 A lei de Ohm revisitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
6.1.1 Lei de Joule . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
6.2 Geradores e força electromotriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
6.2.1 A pilha de Volta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
6.2.2 Estabelecimento de uma corrente num circuito . . . . . . . . . . . . 108
6.2.3 A força electromotriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
6.2.4 Força electromotriz induzida: o gerador . . . . . . . . . . . . . . . . 110
6.2.5 Origem da força electromotriz na experiência de Faraday - lei de
Faraday . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
6.3 Indutância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
6.3.1 Indutância mútua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
6.3.2 Auto-indutância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
6.4 Energia em circuitos magnéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
6.5 Corrente de deslocamento de Maxwell: lei de Ampère-Maxwell . . . . . . . 121
6.5.1 ”Estado da arte” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
6.5.2 Problemas da lei de Ampère em electrodinâmica . . . . . . . . . . . 121
6.5.3 A lei de conservação da carga e a corrente de deslocamento de Maxwell124
6.6 As equações de Maxwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
6.6.1 Equações de Maxwell em meios materiais . . . . . . . . . . . . . . . 127
6.6.2 Formulação das equações de Maxwell em termos do potencial . . . . 130
6.6.3 Aproximações quase-estáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
6.7 Correntes induzidas e correntes de Foucault . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
6.7.1 Travagem magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
vii
R. Vilão Electromagnetismo Índice
viii
Capı́tulo 1
Introdução e fundamentos
dτ = dx dy dz (1.2)
1
Em electrodinâmica é usual designar-se o volume por τ , reservando a letra latina V para o potencial
eléctrico.
1
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
dσx = dy dz êx
dσy = dx dz êy
dσz = dx dy êz (1.3)
• uma superfı́cie cilı́ndrica de raio ρ (ou r), cujo eixo é o eixo dos ZZ;
• um semi-plano perpendicular ao plano XOY , cujo eixo é novamente o eixo dos ZZ,
e que faz um ângulo φ com o plano XOZ.
dτ = ρdρ dφ dz (1.5)
É possı́vel definir ainda elementos de superfı́cie orientados associados a cada uma das
superfı́cies:
2
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
3
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
• uma superfı́cie cónica, cujo vértice se encontra na origem dos eixos coordenados e
cujo eixo é o semi-eixo positivo dos ZZ, sendo θ o seu ângulo de abertura.
É possı́vel definir ainda elementos de superfı́cie orientados associados a cada uma das
superfı́cies:
4
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
1.2.1 Gradiente
O gradiente é um operador que actua num campo escalar φ(r) e que determina a variação
espacial deste campo, sendo definido de forma que a variação dφ do campo correspondente
a um deslocamento ds é:
dφ = grad φ · ds (1.10)
∂φ ∂φ ∂φ
grad φ = êx + êy + êz (1.12)
∂x ∂y ∂z
Costuma também usar-se a seguinte notação:
∂φ ∂φ ∂φ
∇φ = êx + êy + êz (1.13)
∂x ∂y ∂z
em que se define o operador nabla (∇):
∂ ∂ ∂
∇= êx + êy + êz (1.14)
∂x ∂y ∂z
5
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
1.2.2 Divergência
A divergência de num campo vectorial V num ponto r define-se como o seguinte limite:
I
1
divV(r) = lim V(r) · dσ (1.15)
∆τ →0 ∆τ σ
R
em que σ V(r) · dσ é o fluxo do campo V através da superfı́cie fechada σ que delimita
o volume ∆τ .
A divergência corresponde assim ao fluxo do campo vectorial através de uma superfı́cie
infinitesimal, por unidade de volume. A partir desta definição segue-se de forma (quase)
imediata o teorema de Gauss, integrando a divergência num volume finito τ :
Z Z
divV(r)dτ = V(r) · dσ (1.16)
τ σ
Expressão da divergência
Consideremos um volume τ delimitado por uma superfı́cie σ, onde se encontra uma den-
sidade de carga ρ(r) = dq/dτ . Consideremos ainda que as cargas se encontram em
movimento, originando uma densidade de corrente j(r) = dq/(dt dσ). A carga total no
volume τ é:
Z
ρdτ (1.18)
τ
6
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
A carga que sai do volume τ por unidade de tempo, atravessando a superfı́cie σ, é:
Z Z
j · dσ = divjdτ (1.20)
σ τ
A lei da conservação da carga eléctrica exige que a taxa a que a carga sai do volume
corresponda à taxa de variação da carga no volume, isto é:
Z Z
d
divjdτ = − ρdτ (1.21)
τ dt τ
∂ρ
divj = − (1.22)
∂t
7
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
1.2.3 Rotacional
O rotacional de um campo vectorial V num ponto r é um vector cujas componentes se
definem a partir do seguinte limite:
I
1
(rotV(r)) · n = lim V(r) · dλ (1.23)
∆σ→0 ∆σ λ
H
em que λ V(r) · dλ é a circulação do campo V ao longo do percurso fechado λ que
delimita a superfı́cie ∆σ. (rotV(r)) · n é a componente do rotational na direcção n
perpendicular à superfı́cie ∆σ.
A partir desta definição segue-se de forma (quase) imediata o teorema de Stokes,
integrando o rotacional numa área finita σ:
Z I
rotV(r) · dσ = V(r) · dλ (1.24)
σ λ
Significado fı́sico
Para ilustrar o significado do rotacional, consideremos uma massa de água que roda com
velocidade angular constante ω em torno de um eixo central vertical êz . A velocidade das
partı́culas de água à distância r do eixo é (em coordenadas cilı́ndricas) v = ω r êφ .
O rotacional de v, calculado a partir da definição, é:
I I I
1 1 ωr
(rotV(r)) · êz = lim v(r) · dλ = lim 2 ω r êφ · dλêφ = lim 2 dλ = 2ω
∆σ→0 ∆σ λ r→0 πr λ r→0 πr λ
(1.26)
A componente do rotacional na direcção de êz corresponde assim ao dobro da veloci-
dade angular.
1.2.4 Laplaciano
O laplaciano de um campo escalar φ é um operador diferencial de segunda ordem que
corresponde à divergência do gradiente desse campo:
8
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ
∇2 φ = + + 2 (1.28)
∂x2 ∂y 2 ∂z
Significado fı́sico
∇2 V = 0 (1.29)
Esta equação basicamente informa-nos então que o valor médio do potencial em torno
de um ponto P é igual ao valor do potencial no próprio ponto P.
9
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
∇ × (∇V ) = 0 (1.30)
Deste modo, a um campo vectorial V cujo rotacional seja nulo pode ser associado, com
imensas vantagens de cálculo, um campo escalar φ. É o que acontece, por exemplo, com o
campo electrostático E, a que se associa o potencial electrostático V , convencionando-se,
conforme veremos no decurso da disciplina, E = −∇V .
∇ · (∇ × A) = 0 (1.31)
Assim, a um campo vectorial B cuja divergência seja nula também pode ser associado,
com algumas vantagens de cálculo, um outro campo vectorial A. Conforme veremos, é
o que acontece, por exemplo, com o campo magnetostático B, a que se pode associar o
potencial vector A, convencionando-se B = ∇ × A.
2
Este último resultado é conhecido por teorema de Helmholtz. Para uma demonstração detalhada,
consultar D. J. Griffiths, Introduction to Electrodynamics, 3rd edition, Prentice-Hall (1999), p. 555.
10
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
∇·B=0 (1.34)
∂E j
c2 ∇ × B = + (1.35)
∂t 0
Estas equações traduzem as propriedades básicas dos campos eléctrico e magnético, e
já eram praticamente todas conhecidas antes de Maxwell: a lei de Coulomb (eq. 1.32),
a inexistência de cargas magnéticas (eq. 1.34), a lei de Faraday (eq. 1.33) e a lei de
Ampère-Maxwell (eq. 1.35).
No caso estático (∂E/∂t = 0, ∂B/∂t = 0), as equações de Maxwell reduzem-se a dois
pares de equações, que envolvem os campos eléctrico e magnético separadamente, e que
correspondem a dois domı́nios importantes designados electrostática e magnetostática.
Há toda a vantagem em estudá-los separadamente, dando depois lugar ao estudo da
electrodinâmica.
11
R. Vilão Electromagnetismo Introdução
12
Capı́tulo 2
Electrostática
• é repulsiva entre cargas do mesmo tipo e atractiva entre cargas de tipos diferentes.
13
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
1
k= (2.2)
4π0
0 é designada permissividade eléctrica do vazio e o seu valor é, por definição:
107
0 = ∼ 8.85 × 10−12 F/m (2.3)
4π c2
onde c = 299 792 458 m/s é a velocidade da luz no vazio 1 .
Sabemos hoje que as cargas eléctricas estão quantizadas na Natureza, sendo a carga
elementar
FQ = QEQ (2.7)
1
Actualmente, no SI, o valor da velocidade da luz no vazio é definido. Este valor, em conjunto com a
definição de segundo, determina a definição do metro.
2
A definição do ampère será abordada na secção 4.4, p. 66.
14
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
qi → dq = ρ(r)dτ (2.10)
e aproximando a soma de todas as cargas por uma soma de Riemann, i.e., por um
integral em todo o volume τ onde se define ρ:
X Z
→ (2.11)
qi τ
15
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
êx êy êz
dl × E = 0 ⇔ dx dy dz = 0 (2.15)
Ex Ey Ez
Figura 2.1: Representação das linhas de campo de um carga pontual. À medida que nos
afastamos da origem do campo, a densidade de linhas de campo (linhas de campo por
unidade de área) vai diminuindo com o inverso do quadrado da distância.
16
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
17
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
I Z
1
E · dS = ρ(r)dτ (2.20)
S 0 τint
Z Z
1
div E dτ = ρ(r)dτ (2.21)
τint 0 τint
ρ
div E = (2.22)
0
Um caso particular com especial relevância é aquele em que as cargas se distribuem numa
superfı́cie, como acontece no caso dos materiais condutores (em particular os metais)
e nas zonas de deplecção das junções semicondutoras dos dı́odos. Neste caso, é possı́vel
extrair algumas conclusões gerais sobre o campo eléctrico nas proximidades de cada ponto
exterior à superfı́cie. Para isso consideramos uma superfı́cie de Gauss em torno do ponto,
tal como ilustra a figura 2.2 e analisamos o fluxo através desta superfı́cie de Gauss no
limite em que a superfı́cie de Gauss se torna muito pequena, delimitando o ponto da
superfı́cie carregada em análise.
18
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
• a área S dos topos do cilindro tomado como superfı́cie de Gauss deverá ser sufi-
cientemente reduzida para que o campo eléctrico nos pontos da superfı́cie de cada
um dos topos do cilindro possa ser considerado aproximadamente o mesmo em cada
ponto;
s
E1
E2
Figura 2.2: Aplicação da lei de Gauss às proximidades de um ponto de uma superfı́cie
carregada com a densidade superficial σ. O campo eléctrico nas proximidades do ponto é
E1 num dos lados da superfı́cie e E2 no outro lado. Representa-se também um versor n̂,
apontando do lado 1 para o lado 2, de acordo com a convenção usada habitualmente.
5
Ainda hoje as formigas julgam que a Terra é plana...
19
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
dq = σdS (2.24)
σ
(E⊥2 − E⊥1 ) = (2.25)
0
• a semelhança formal entre a equação (2.25) e a equação (2.22) leva muitos autores
a reescrevê-la na forma divS E = σ0 , onde se define divS E = (E⊥2 − E⊥1 )dS;
20
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Z rb
Wa→b = F · dl (2.26)
ra
q1 Q
F=k r̂ (2.27)
r2
rapidamente se conclui que o trabalho realizado pela força de Coulomb que actua na
carga Q é (assumimos, por simplicidade e sem perda de generalidade que a carga q1 está
na origem do sistema de coordenadas):
q1 Q q1 Q
Wa→b = k −k (2.29)
ra rb
21
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
h i
Wa→b = − Ep (rb ) − Ep (ra ) (2.31)
a força de Coulomb não permite assim projectar ciclos de trabalho semelhantes aos
ciclos de expansão de gases, em que o sistema realiza um trabalho não nulo sobre o
exterior ao fim de um ciclo; se o electromagnetismo se resumisse à força de Coulomb,
não existiria engenharia electrotécnica.
22
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
!
X qi Q X q j Q X qi X qj h i
Wa→b = k (i) − k (j) = −Q k (i) − k (j) = −Q V (rb ) − V (ra )
i r a j rb i rb j ra
(2.33)
(i) (i)
onde ra e rb são as distâncias da carga Q à carga i quando se encontra na posição
ra e rb , respectivamente.
A expressão 2.33 informa-nos ainda que o trabalho realizado pela força de Coulomb
no deslocamento da carga Q pode ser escrito na forma:
h i
Wa→b = −Q∆V (r) = −Q V (rb ) − V (ra ) (2.34)
onde se usou a definição de campo eléctrico F = QE. Obtemos assim uma importante
relação entre o potencial eléctrico e o campo eléctrico:
Z rb
∆V (r) = − E · dl (2.37)
ra
∇ × E = −∇ × ∇V (r) = 0 (2.39)
Repare-se que a integração de ∇ × E numa superfı́cie S conduz, utilizando o teorema
de Stokes, a :
23
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Z I
(∇ × E) · dS = 0 ⇔ E · dl = 0 (2.40)
S
Linhas equipotenciais
Tal como acontece para o campo eléctrico, para o qual se definem linhas de campo que têm
por fim facilitar a visualização, também para o potencial eléctrico é conveniente definir
linhas equipotenciais, que unem os pontos situados ao mesmo potencial. Estas linhas são
assim definidas pela equação:
dV = 0 ⇔ E · dl = 0 (2.42)
em que se fez uso da equação (2.37). Da definição (2.42) resulta imediatamente que
o campo eléctrico é perpendicular às linhas equipotenciais (E · dl = 0 ⇒ E ⊥ dl); as li-
nhas de campo, paralelas ao campo em cada ponto, são pois perpendiculares às linhas
equipotenciais em cada ponto.
24
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Podemos combinar a lei de Gauss na forma diferencial (2.22) com a eq. (2.38) e obter
dessa forma uma equação diferencial de 2a ordem para o potencial na presença de uma
distribuição de carga ρ:
ρ ρ ρ
∇·E= ⇔ ∇ · ∇V = − ⇔ ∇2 V = − (2.43)
0 0 0
∇2 V = 0 (2.44)
25
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
s
E1
n
h
d
E2
• o percurso deve ser suficientemente próximo da superfı́cie carregada para que esta se
possa considerar como sendo aproximadamente plana, permitindo que seja adequado
tomar um percurso rectangular de altura h e largura d, conforme ilustra a figura
2.3;
26
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
I
E · dl = E1 · dl1 + E2 · dl2 = (Ek1 − Ek2 )d (2.45)
onde dl1 = −dl2 = d d̂l1 , e Ek1 e Ek2 são as componentes do campo paralelas à
superfı́cie carregada. O facto de o campo electrostático ser conservativo, ou independente
do caminho, implica (eq. 2.40) que a circulação de E num percurso fechado seja nula,
i.e.:
rotS E = 0 (2.48)
6
Convenhamos que esta é uma forma particularmente crı́ptica de dizer que as componentes do campo
eléctrico paralelas a uma superfı́cie são contı́nuas...
27
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
E o potencial?
N X
N
X qi qj
EP = k (2.49)
i=1 j=i+1
r
N N
1 X X qi qj
EP = k (2.50)
2 i=1 j6=i,j=1 r
7
Cf. J. D. Jackson, Classical Electrodynamics, terceira edição, Wiley (1999), p. 31. Tal como acontece
para o campo eléctrico, à descontinuidade entre os dois lados da superfı́cie corresponde uma variação
contı́nua no interior da superfı́cie.
28
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
N
X qj
Vi = k (2.51)
j6=i,j=1
r
N
1X
EP = qi Vi (2.52)
2 i=1
Aproximações macroscópicas
Z
ρ
V (r) = k dτ (2.53)
τ r
Z
σ
V (r) = k dS (2.54)
S r
Z
λ
V (r) = k dl (2.55)
l r
Z
1
EP = ρ V dτ (2.56)
2 τ
Eppure...
29
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
A eq. (2.56) permite-nos ainda obter uma expressão particularmente poderosa para a
energia potencial electrostática. Utilizando a lei de Gauss ∇ · E = ρ/0 , obtemos:
Z
0
EP = (∇ · E) V dτ (2.57)
2 τ
0 2
energia por unidade de volume = E (2.60)
2
Note-se que o princı́pio da sobreposição não se aplica à energia armazenada no campo.
Se E = E1 + E2 , temos:
Z Z Z Z Z
0 2 0 0 0 0
EP = E dτ = E · Edτ = E12 dτ + E22 adτ + 2E1 · E2 dτ (2.61)
2 τ 2 τ 2 τ 2 τ 2 τ
8
Relembre-se que os casos, por vezes tratados, em que as distribuições de carga se estendem até ao
infinito, embora sejam extremamente úteis enquanto aproximações, são artificiais do ponto de vista fı́sico.
30
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Problemas e subtilezas
A expressão (2.60) afirma claramente que a energia potencial armazenada numa distri-
buição de carga é sempre positiva. No entanto, as equações de que partimos (eqs. 2.50
e 2.52) correspondem a quantidades que tanto podem ser positivas como negativas: por
exemplo, a energia potencial electrostática de um par de cargas de sinais diferentes é
negativa... Existe pois uma inconsistência que requer explicação.
O problema reside na passagem da equação (2.50) (reescrita na forma da eq. 2.52)
para a equação (2.56). Note-se que na expressão (2.50) tivémos o cuidado de excluir a
auto-energia de cada carga, explicitando que o somatório no ı́ndice j ocorre para j 6= i.
Neste somatório não é pois tida em conta a energia necessária para construir cada carga
qi , qj . Trata-se de um procedimento lı́cito, sobretudo tendo em conta que em geral as
cargas elementares disponı́veis na Natureza (protões, electrões) já ”estão feitas”, sendo
indiferente os detalhes da sua estrutura interna para as variações de energia potencial.
No entanto, quando escrevemos a eq. (2.56), incluimos no integral a auto-energia
associada a todas as cargas e estamos a assumir que todas as cargas presentes podem ser
escritas na forma dq = ρdτ . Assumimos até ser possı́vel tomar o limite dτ → 0. Trata-se
mais uma vez de uma aproximação legı́tima do ponto de vista macroscópico, mas que é
completamente despida de fundamento na abordagem a cargas elementares como a do
electrão. De facto, se teimarmos em utilizar a eq. (2.56) para obter a energia associada a
uma carga pontual (seja lá o que isso signifique), obtemos um resultado absurdo:
0 ∞ q 2
Z Z
0 q 2
k 2 dτ = k 2 4πr2 dr = ∞ (2.62)
2 r 2 0 r
31
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Figura 2.4: Resumo das relações principais entre as três quantidades básicas da elec-
trostática: a densidade de carga ρ, o potencial V e o campo eléctrico E. (D. J. Griffiths,
Introduction to Electrodynamics, fig. 2.36)
32
Capı́tulo 3
33
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
2 2
d 2 d 2 2d
z− =z 1− ∼z 1− = z2 − d z (3.2)
2 2z 2z
−1/2
1 1 1 zd
q ∼q = 1− 2 (3.3)
x2 + y2 + (z − d 2
) r2 1 − zd
r r
2 r2
−1/2
1 zd 1 1 zd
1− 2 ∼ 1+ (3.4)
r r r 2 r2
1 1 1 zd
q ∼ 1− (3.5)
x2 + y 2 + (z + d2 )2 r 2 r2
z
V (x, y, z) = k qd (3.6)
r3
1
(1 + x)n ∼ 1 + n x + ...
34
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
p = qd (3.7)
p cos θ p · êr
V (x, y, z) = k 2
=k 2 (3.8)
r r
∂V 2kp cos θ
Er = − =
∂r r3
1 ∂V kp sin θ
Eθ = − =
r ∂θ r3
1 ∂V
Eφ = − =0 (3.9)
r sin θ ∂φ
1 p
E= (2 cos θ êr + sin θ êθ ) (3.10)
4π0 r3
35
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Torque
Na presença do campo, o dipolo fica sujeito a um sistema de forças de resultante nula (um
binário de forças), não ocorrendo pois translação do centro de massa. No entanto, dado
as forças estarem aplicadas em pontos diferentes do sistema, o momento (ou torque) do
binário não é nulo. Tomando a carga negativa como referência, o momento τ do binário é
simplesmente r+ × F+ , onde r+ é a posição da carga positiva em relação à carga negativa
e F+ = qE é a força que age na carga positiva devido à acção do campo eléctrico:
τ = r+ × F+ = r+ × q E = p × E (3.11)
Energia potencial
Sendo E = Eêz , o potencial associado a este campo em todo o espaço pode ser calculado
a partir da equação (2.37):
Z Z z
∆V = − E · dl ⇔ V (z) − V (z = 0) = − E dz ⇔ V (z) = V (0) − E z (3.12)
0
em que V (0) pode ser estabelecido arbitrariamente V (0) = 0 em alguma origem con-
veniente. Estabeleçamos então mais uma vez a origem na posição da carga negativa do
dipolo, sendo r+ = x+ êx + y+ êy + z+ êz a posição da carga positiva. A energia potencial
do sistema de cargas que constitui o dipolo na presença do campo eléctrico externo resulta
assim2 :
2
Note-se que, como habitualmente, estamos a excluir a energia potencial armazenada no dipolo, não
só a auto-energia de cada carga, mas também a energia potencial - constante - do par de cargas que
constitui o dipolo.
36
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
N
X qi
V (R) = k (3.14)
i=1
ri
2 " #1/2
di 2d i · r̂
ri = R − di ⇔ ri2 = R2 + d2i − 2di · R ⇔ ri = R 1 + − (3.16)
R R
1/2 −1/2
2di · r̂ 1 1 2di · r̂
ri ∼ R 1 − ⇔ ∼ 1− (3.17)
R ri R R
37
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
que se reduz ao anterior no caso de duas cargas simétricas. Este momento dipolar
eléctrico depende em geral da origem do sistema de coordenadas: é, no entanto, possı́vel
demonstrar que o momento dipolar eléctrico da distribuição de cargas é independente da
origem no caso de a carga total ser nula (Q = 0).
Para distribuições contı́nuas de carga com densidades volúmica, superficial ou linear
ρ, σ ou λ, respectivamente, o momento dipolar P eléctrico
R da distribuição decorre imedia-
tamente da abordagem habitual qi → dqi , i → :
Z
p= ρ rdτ (3.21)
Z
p= σ rdA (3.22)
Z
p= λ rdl (3.23)
38
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Como sabemos, a matéria vulgar é composta de átomos, os quais são constituı́dos por um
núcleo maciço de carga positiva e por electrões de carga negativa. A massa dos electrões é
quase duas mil vezes inferior à massa do núcleo mais leve (o do átomo de hidrogénio, com-
posto de um único protão), pelo que não é de estranhar que as propriedades dos materiais
sejam determinadas sobretudo pela estrutura electrónica dos materiais, permanecendo os
núcleos em posições relativamente estáveis. As propriedades eléctricas/electrónicas dos
materiais4 decorrem das propriedades dos átomos que os constituem e da forma como estes
átomos estabelecem ligações (de natureza electromagnética) entre si, sobretudo através
dos electrões das camadas atómicas mais externas (electrões de valência).
A compreensão das propriedades dos materiais não pode pois ser levada a cabo sem o
estudo do comportamento dos electrões, o que exige a intervenção da mecânica quântica.
Um dos resultados principais da teoria quântica de sólidos consiste na quantificação dos
nı́veis de energia dos electrões em bandas de energia, quase-contı́nuas. Uma distinção
básica surge então entre os materiais cujas bandas se encontram completamente preen-
chidas e os materiais em que tal não acontece. No caso em que as bandas se encontram
completamente preenchidas, a condução eléctrica não é possı́vel e os materiais são isolado-
res eléctricos; havendo nı́veis de energia por ocupar dentro das bandas, torna-se possı́vel
a condução eléctrica através da promoção dos electrões para esses nı́veis, e os materiais
são condutores eléctricos, designando-se esses electrões por electrões de condução e essas
bandas por bandas de condução. Os electrões de condução têm pois a possibilidade de se
movimentar pelo material, razão pela qual são também designados por electrões ”livres”.5
4
E as propriedades mecânicas, térmicas, ópticas e magnéticas...
5
Esta brevı́ssima introdução deixa obviamente quase tudo por explicar, em particular a existência de
materiais com propriedades semicondutoras ou a condução em lı́quidos como os electrólitos... Somente
como curiosidade, acrescente-se que os semicondutores podem ser pensados como isoladores em que a
Natureza ou o fı́sico/engenheiro arranjou forma de controlar a promoção de electrões para a banda
de condução. Quanto aos electrólitos, os iões desempenham aqui um papel fundamental na condução
eléctrica.
39
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
ρ = 0
V = constante (3.25)
Como é evidente, se existirem cavidades no interior dos condutores, nada impede que
o campo eléctrico no seu interior assuma um valor qualquer, em função das cargas que
existam na cavidade. No entanto, numa situação estática, as cargas livres no interior do
condutor rearranjam-se quase instantaneamente de forma a garantir que o campo eléctrico
permaneça nulo no interior (ou, por outras palavras, enquanto o campo não for nulo no
interior do condutor, este não terá atingido a situação de equilı́brio electrostático...). A
lei de Gauss permite-nos extrair algumas conclusões imediatas sobre este rearranjo:
• a densidade de carga continua a ser nula em equilı́brio, pelo que a haver distribuição
de cargas, terá de ocorrer à superfı́cie do condutor;
• se considerarmos uma superfı́cie de Gauss contida no volume do condutor (cf. fig
3.1), E = 0 implica que o fluxo através da superfı́cie de Gauss é nulo, pelo que a
carga total contida na superfı́cie de Gauss é também nula, para qualquer superfı́cie
de Gauss contida no volume; então, havendo uma carga não nula na cavidade, haverá
necessariamente uma carga total na superfı́cie interior do condutor que a cancela de
modo exacto.
40
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
E=0
E¹ 0
Figura 3.1: Uma cavidade no interior de um condutor, supondo-se que existem cargas
na cavidade que justifiquem E 6= 0 na cavidade. No entanto, no interior do condutor em
equilı́brio o campo continua a ser nulo, o que se justifica por uma redistribuição de cargas.
Então, uma vez que as cargas num condutor se distribuem à superfı́cie, aplicam-se as
conclusões gerais que extraı́mos para o campo nas superfı́cies de carga:
6
Este resultado também se pode compreender da seguinte forma: se houvesse componente do campo
paralela à superfı́cie num condutor em equilı́brio, esta componente forçaria as cargas livres da superfı́cie
a uma corrente superficial; não se verificaria portanto a condição de equilı́brio.
41
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Gaiola de Faraday
Note-se que, no caso em que não existe inicialmente carga no interior da cavidade
de um condutor, então o campo eléctrico no seu interior permanece sempre nulo, inde-
pendentemente do campo electrostático existente no exterior do condutor. Uma forma de
proteger zonas do espaço da acção de campos electrostáticos consiste pois em rodeá-las
de um material condutor. Este procedimento é designado por gaiola de Faraday.
Efeito de pontas
Qa Qb Qa ra
k =k ⇔ = (3.26)
ra rb Qb rb
Qa
σa 4πra2 Qa rb2 rb
= Qb
= 2
= (3.27)
σb 4πrb2
Q b ra ra
Ea σa rb
= = (3.28)
Eb σb ra
ra
rb
Figura 3.2: Duas esferas condutoras de raios ra e rb , ligadas por um fino fio condutor.
42
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
• da equação (3.26) resulta que a carga tende a acumular-se na esfera de raio maior;
uma forma de escoar carga indesejada de superfı́cies condutoras consiste pois em
ligar essas superfı́cies a objectos condutores que sejam muito maiores (ligar à Terra);
um condutor ligado à Terra permanece assim com uma carga praticamente nula à
superfı́cie e funciona assim como uma gaiola de Faraday invertida, protegendo o
exterior de quaisquer campos electrostáticos existentes nas suas cavidades.
7
Estes fenómenos de luminescência são conhecidos dos marinheiros desde a antiguidade, na medida
em que são observados junto das pontas dos mastros, recebendo por vezes a designação de ”fogo de
Sant’Elmo”. Recorde-se que Camões descreve brevemente o fenómeno n’Os Lusı́adas:
43
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Figura 3.3: Luminescência (”fogo de Sant’Elmo”) observada numa asa de avião. A foto-
grafia, disponı́vel também na página http://www.meteoros.de/light/elmse.htm, é devida a
Martin Popek (República Checa).
44
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Podemos calcular a força que actua num condutor de forma particularmente expedita
a partir da expressão (2.41):
F = −∇Ep (3.29)
Consideremos então um condutor carregado positivamente cuja superfı́cie, de área A,
é deslocada ligeiramente na direcção do campo eléctrico que lhe é perpendicular. Este
deslocamento, dx, ocorre na direcção da força e reduz portanto a energia potencial elec-
trostática total do sistema. Podemos calcular esta redução atendendo a que, durante
o deslocamento, o volume A dx, que estava no exterior do condutor e sujeito ao campo
σ/0 , passa a estar no interior, a um campo nulo. Conforme vimos (eq. 2.60), a densi-
dade de energia armazenada no campo é 0 E 2 /2, pelo que a variação de energia potencial
electrostática resulta:
0
dEp = − E 2 A dx (3.30)
2
A força electrostática que actua no condutor é, então:
dEp 0
F =− = E2 A (3.31)
dx 2
Esta força, recorde-se, actua apenas na direcção x, que é a direcção do campo.
Daqui extraı́mos também a pressão electrostática a que está sujeito o condutor:
F 0
P = = E2 (3.32)
A 2
e que corresponde pois à densidade de energia electrostática na superfı́cie.
Note-se que a força que calculámos pode ser reescrita em função da carga Q do con-
dutor Q = σ A
0 2 0 σ 2 1σ 1
F = E A= 2
A= Q = Q|E| (3.33)
2 2 0 2 0 2
Esta expressão é curiosa e informa-nos que a força é metade da que esperarı́amos numa
abordagem descuidada em que nos limitássemos a ”multiplicar a carga pelo campo”. Essa
abordagem é possı́vel também, mas requer que nos lembremos que a força num elemento
de área corresponde ao produto da carga desse elemento de área pelo campo criado pelas
outras cargas. Mas σ/0 é o campo total, incluindo o campo criado pelo elemento de
área em causa, que é aproximadamente σ/(20 ). Daı́ a força ser apenas aproximadamente
metade da ”esperada”.
45
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Q
=C (3.34)
Vsup
Esta constante de proporcionalidade depende exclusivamente da geometria do condu-
tor e costuma designar-se capacidade do condutor.8
Se tivermos um conjunto de N condutores carregados, o princı́pio da sobreposição
assegura que o potencial em cada condutor é simplesmente a soma dos potenciais devido
a cada condutor e, atendendo à proporcionalidade entre a carga de cada condutor e o
respectivo potencial à superfı́cie, podemos escrever então:
N
X
Qi = Cij Vj , i=1,...,N (3.35)
j=1
Condensadores
Um sistema particularmente relevante é aquele que é constituı́do por dois condutores
com cargas simétricas, +Q e −Q. Um tal sistema designa-se condensador e obtém-
se naturalmente de dois condutores inicialmente neutros e entre os quais ocorre uma
transferência de carga, originando uma diferença de potencial ∆ V entre os condutores.
Esta diferença de potencial é também ela proporcional à carga Q, o que permite definir a
capacidade do condensador de forma análoga à da capacidade do condutor:
Q
=C (3.36)
∆V
Um exemplo: condutor esférico e condensador de condutores esféricos
8
Note-se que esta definição de capacidade pressupõe um condutor finito para o qual é possı́vel es-
tabelecer o potencial nulo a uma distância suficientemente grande (infinito). Esta definição não é pois
adequada para as situações artificiais em que os condutores se prolongam infinitamente.
46
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Q
V = (3.37)
4π0 R
A capacidade do condutor esférico é então:
C = 4π0 R (3.38)
Se considerarmos agora dois condutores esféricos, entre os quais se estabeleceu uma
diferença de potencial ∆ V através da transferência de carga Q de um para o outro,
então o potencial à superfı́cie do condutor positivamente carregado é V = Q/(4π0 R) e
o potencial à superfı́cie do condutor negativamente carregado é V = −Q/(4π0 R). A
diferença de potencial ∆ V é então V = 2Q/(4π0 R), de onde resulta a capacidade do
sistema de condutores:
C = 2π0 R (3.39)
Note-se que esta capacidade é metade da capacidade de cada condutor isolado.
1
Ep = QV (3.40)
2
Atendendo a Q = CV , esta energia também se pode escrever:
1 1 Q2
Ep = CV 2 = (3.41)
2 2C
Associações de condensadores
47
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Q Q1 + Q2
C= = = C1 + C2 (3.42)
V V
Q Q Q 1 1 1
V = V1 + V2 ⇔ = + ⇔ = + (3.43)
C C1 C2 C C1 C2
48
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
A polarização
Admitamos que sob a acção de um campo eléctrico ocorre, a nı́vel atómico, a separação
da carga q de uma distância δ, originando um momento dipolar eléctrico atómico p = qδ.
Sendo n o número de átomos por unidade de volume, então o momento dipolar P por
unidade de volume, isto é, a polarização, será:
P = nqδ (3.44)
49
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
ρp = −∇ · P (3.48)
Na superfı́cie exterior do material, a equação (3.45) conduz ainda à relação entre a
densidade superficial σp de cargas de polarização e a polarização (onde n̂ representa, como
habitualmente, a normal à superfı́cie):
dq
σp = = P · n̂ = −divS P (3.49)
dS
Recorrendo ao conceito matemático de divergência superficial, podemos reescrever esta
equação como:
50
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
∇ · D = ρf (3.52)
∇ × D = 0 ∇ × E + ∇ × P ⇔ ∇ × D = ∇ × P (3.53)
O conhecimento completo de um campo, recorde-se, pode obter-se apenas desde que
se conheça a sua divergência e o seu rotacional, munidos das respectivas condições fron-
teira. O resultado que acabámos de obter chama a atenção para o facto de o campo D ter
efectivamente uma dependência das cargas de polarização, ao contrário do que sugere a
equação (3.52). A resolução das equações (3.52) e (3.53) requer assim o conhecimento da
relação entre D e P. Não é pois possı́vel determinar D usando simplesmente o conheci-
mento das cargas livres ρf , a não ser que se garanta que ∇ × P = 0. Tal acontece no caso
particular de meios lineares, homogéneos e isotrópicos, que consideraremos de seguida.
onde a matriz χij (r) representa o tensor susceptibilidade eléctrica. Este tensor traduz
o facto de o comportamento dos materiais poder ser em geral complicado, dependendo a
polarização de ponto para ponto e também da direcção em que aponta o campo eléctrico.
51
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
P = 0 χ(r)E (3.57)
P = 0 χ E (3.58)
D = 0 E + P = 0 E + 0 χ E = (1 + χ)0 E = r 0 E = E (3.59)
= (1 + χ)0 = r 0 (3.60)
52
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Partindo da equação (3.52), a lei de Gauss pode ser assim reescrita como:
ρf
∇ · D = ρf ⇔ ∇ · (E) = ρf ⇔ ∇ · E = (3.61)
Esta equação dá-nos uma informação extremamente útil: em meios lineares, ho-
mogéneos e isotrópicos, toda a electrostática se resume às cargas livres e
à substituição da permissividade eléctrica 0 do vazio pela permissividade
eléctrica do meio (0 → ).
A susceptibilidade eléctrica χ é em geral positiva, pelo que a permissividade eléctrica
do material, = (1 + χ)0 é superior a 0 . Então, a equação (3.61) informa-nos que o
campo eléctrico no interior de um dieléctrico é equivalente a um campo criado pela den-
sidade de carga efectiva ρf /r .
A partir das equações (3.48) e (3.58), podemos extrair a relação entre cargas livres e
cargas de polarização:
ρp = −0 χ∇ · E (3.62)
ρp = −χρ (3.63)
ρf
ρf = (1 + χ)ρ ⇔ ρ = (3.64)
r
53
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Energia electrostática
σ Qd
∆V = d= (3.68)
0 A0
pelo que a capacidade é:
0 A
C= (3.69)
d
Quando introduzimos um dieléctrico de permissividade eléctrica na região entre as
placas, sem que se altere a carga do condensador, a intensidade do campo e a diferença
de potencial entre as placas diminuem do factor r , o que conduz a um aumento da
capacidade do condensador deste mesmo factor.
Historicamente, foi a descoberta do aumento da capacidade dos condensadores quando
preenchidos com um meio dieléctrico que levou à consideração do efeito das propriedades
dieléctricas, mesmo no desconhecimento da estrutura atómica da matéria.
Este aumento da capacidade é devido à formação das cargas de polarização, que con-
trariam o campo aplicado. Então, para se obter a mesma diferença de potencial entre as
54
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
Rigidez dieléctrica
Por último, refira-se que, sob a acção de campos eléctricos particularmente intensos, é
possı́vel ionizar os átomos/moléculas que compõem um meio, fazendo com que o meio se
torne condutor. O campo eléctrico máximo suportado por um isolador, acima do qual
ocorre a ruptura dieléctrica do meio, designa-se rigidez dieléctrica. É este fenómeno que
ocorre nas vulgares descargas através do ar, seja nos raios que ocorrem numa trovoada,
seja nas faı́scas observadas quando se desliga um aparelho da tomada. Para o ar, a rigidez
dieléctrica é cerca de 3 MV/m.
55
R. Vilão Electromagnetismo Electrostática
56
Capı́tulo 4
Magnetostática
57
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
dq
I= (4.1)
dt
λ v dt
I= = λv (4.2)
dt
J = ρv (4.4)
58
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
De igual forma, podemos considerar uma densidade superficial de carga σ, que num
dado ponto do espaço se movimenta com uma velocidade v. A carga que atravessa uma
linha dl = dln̂ no intervalo de tempo dt é agora dq = σ dS = σ dl (v⊥ dt) = σ v · dl dt,
onde v⊥ é a componente da velocidade perpendicular à linha. A corrente que atravessa a
linha é então:
Z Z
dq
I= = σ v · dl = K · dl (4.5)
dt
K = σv (4.6)
Z I Z
dqout
= ρ v · dS = J · dS = ∇ · J dτ (4.7)
dt S τ
Mas a conservação da carga requer que a carga total permaneça constante, pelo que a
soma da carga qout que sai com a carga q que permanece no volume permanece constante:
Z
dqout dq d
q + qout = constante ⇔ =− =− ρ dτ (4.8)
dt dt dt τ
Z Z
d ∂ρ
∇ · J dτ = − ρ dτ ⇔ ∇ · J = − (4.9)
τ dt τ ∂t
Recorde-se que esta constitui a equação de continuidade que já tı́nhamos obtido en-
quanto exemplo do significado fı́sico do operador divergência.
59
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
a) b)
I
Figura 4.1: Linhas de campo magnético, detectadas por uma bússola, em torno de um
fio rectilı́neo transportando uma corrente I: (a) perspectiva no espaço; (b) projecção no
plano da folha, sendo o sentido da corrente especificado pela convenção comummente
utilizada: representa uma corrente que emerge do plano e ⊗ representa uma corrente
que imerge no plano. As linhas de campo magnético formam vórtices em torno do fio,
cuja orientação é dada pela regra da mão direita.
60
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
B1
F2/1 F1/2
I1 I2
B2
Figura 4.2: Atracção entre dois fios transportando correntes paralelas, que emergem da
folha: representam-se as forças em cada fio, bem como as linhas de campo que passam
em cada fio, geradas pelo outro fio, com o campo magnético respectivo.
F = Qv × B (4.10)
Em rigor, esta expressão constitui a definição do campo magnético B que actua numa
carga Q.2 Na presença simultânea de um campo eléctrico E e de um campo magnético
B, a força resultante que age numa carga Q é assim
F = QE + Qv × B (4.11)
2
Cf. E. M. Purcell, Electricity and Magnetism, Berkeley Physics Course, Vol. 2, McGraw-Hill (1965).
61
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Em que, de acordo com as expressões 4.2, 4.6 e 4.4, a corrente linear I devida ao
movimento de uma densidade linear de cargas λ, a densidade superficial de corrente K
devida ao movimento de uma densidade superficial de cargas σ, e a densidade volúmica
de corrente J devida ao movimento de uma densidade volúmica de cargas ρ se relacionam
com a velocidade v através de:
62
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
63
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
dqv × r̂
Z
µ0
B= (4.19)
4π r2
I × r̂
Z
µ0
B= dl, para uma corrente rectilı́nea (4.20)
4π C r2
K × r̂
Z
µ0
B= dS, para uma corrente superficial (4.21)
4π S r2
J × r̂
Z
µ0
B= dτ, para uma corrente volúmica (4.22)
4π τ r2
Note-se que poderá haver a tentação de escrever, a partir dos resultados anteriores, o
campo criado por uma carga pontual q com velocidade v:
µ0 qv × r̂
B= (4.23)
4π r2
3
Cf. Jackson, Classical Electrodynamics, 3rd edition, p. 560.
64
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
dl q
r
z
a dB
a x
Figura 4.3: Esquema auxiliar para o cálculo do campo magnético criado por uma corrente
rectilı́nea, representando o campo magnético elementar dB gerado por um elemento de
corrente Idl
Para calcular o campo criado a uma distância a de uma corrente rectilı́nea I, servimo-
nos do esquema representado na figura 4.3, onde se representa o campo magnético elemen-
tar dB gerado na posição (a, 0, 0) por um elemento de corrente Idl, situado em (0, 0, z).
Este campo é claramente perpendicular
R ao plano da folha, com o sentido representado,
pelo que o campo total B = dB também terá esta direcção e sentido. A intensidade do
campo pode ser calculada facilmente atendendo a:
• dl × r̂ = dl sin θ
• r 2 = a2 + z 2
• sin α = − cos θ, e cos α = sin θ
• z = a tan θ ⇒ dz = a sec2 αdα
Z Z Z
µ0 sin θ µ0 I cos α
B= dB = I dl = dz (4.24)
4π C
2
a +z 2 4π a2 C 1 + tan2 α
65
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Z α2 Z α2
µ0 I cos α µ0 I µ0 I
B= a sec2 αdα = cos α dα = (sin α2 − sin α1 ) (4.25)
4π a2 α1
2
sec α 4π a α1 4π a
µ0 I
B= (4.26)
2π a
Em coordenadas cilı́ndricas, o vector campo magnético escreve-se:
µ0 I
B= êφ (4.27)
2π a
µ0 I1 µ0 I2
B1 = , B2 = (4.28)
2π d 2π d
µ0 I1 I2 L1
F1 =
2π d
µ0 I1 I2 L2
F2 = (4.29)
2π d
F1 F2 µ0 I1 I2
= = (4.30)
L1 L2 2π d
66
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
V = RI (4.31)
onde R designa a resistência entre os terminais. À primeira vista, e atendendo aos
resultados (4.2) e (4.4), este resultado é surpreendente. De facto, se admitirmos que
o campo é constante no interior do material, a diferença de potencial V entre os dois
terminais à distância L será V = E L, enquanto que a corrente é I = j A, onde j é a
densidade de corrente e A a secção do fio:
L
EL = RjA ⇔ j = E ⇔ j = σE (4.32)
RA
onde σ = 1/ρ se designa condutividade do material, sendo ρ a resistividade. A re-
sistência exprime-se assim em função da resistividade como:
ρL
R= (4.33)
A
O formulação a que chegámos é conhecida por forma local da lei de Ohm:
4
Decreto-Lei 238/94, de 19 de Setembro. Cf. a página do Instituto Português da Qualidade na
internet:
http://www.ipq.pt/backFiles/Legislacao metrologica nacional.pdf
Consulte também a página do Gabinete Internacional de Pesos e Medidas na internet:
http://www.bipm.org/en/si/base units/
67
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
j = σE (4.34)
Tendo calculado, na secção 4.3.1 o campo magnético criado por uma corrente rectilı́nea,
podemos facilmente calcular a respectiva circulação num circuito fechado C qualquer:
I I Z
µ0 I µ0 I
B · dl = êφ · ρ dφêφ = dφ (4.35)
2πρ 2π C
68
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
R
Para o cálculo de C
dφ, temos duas hipóteses:
pelo que
I
B · dl = µ0 I (4.37)
C
• se o circuito não contornar o fio, será delimitado por dois ângulos φ1 e φ2 , sendo
então: Z Z φ2 Z φ1
dφ = dφ + dφ = 0 (4.38)
C φ1 φ2
∇ × B = µ0 J (4.42)
A equação (4.40) traduz a forma integral da lei de Ampère, enquanto que a equação
(4.42) traduz a respectiva forma local. Note-se que nos limitámos a demonstrar a lei
de Ampère para correntes rectilı́neas, partindo da lei de Biot-Savart. É possı́vel, con-
forme indicaremos seguidamente, obter uma ”demonstração”mais geral. No entanto, em
última análise, quer a lei de Ampère quer a lei de Biot-Savart decorrem dos resultados
69
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
∇ · (∇ × B) = µ0 ∇ · J ⇔ ∇ · J = 0 (4.43)
Este resultado recorda-nos que a lei de Ampère é uma lei básica da magnetostática,
mas que necessita necessariamente de correcção em situações electrodinâmicas em que
∂ρ/∂ t 6= 0.
A forma circular fechada das linhas de campo magnético em torno de uma corrente rec-
tilı́nea contrasta fortemente com a forma radial das linhas de campo electrostático geradas
por uma carga pontual e sugere que a divergência do campo magnético seja nula. Tal
não representa um resultado surpreendente, à luz da discussão inicial sobre a origem do
campo magnético, que advém do movimento de cargas eléctricas e não de quaisquer ”car-
gas magnéticas”. A própria lei de Biot-Savart/Ampère reflecte este facto. Vamos pois
verificar de seguida que, em geral, o campo magnético descrito pela lei de Biot-Savart é
efectivamente um campo de divergência nula (os campos com esta propriedades também
costumam designar-se solenoidais 6 ).
Para o cálculo de ∇ · B, comecemos por explicitar a equação (4.22) em coordenadas
cartesianas:
J(x0 , y 0 , z 0 ) × (r − r0 ) 0 0 0
Z
µ0
B(x, y, z) = dx dy dz (4.44)
4π τ |r − r0 |3
5
Cf. R. P. Feynman et al., The Feynman Lectures on Physics, vol. II
6
O campo magnético criado por um solenóide é o protótipo de um campo solenoidal...
70
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Note-se que o campo magnético é calculado na posição r = x êx + y êy + z êz , a partir
das correntes existentes nas posições r0 = x0 êx + y 0 êy + z 0 êz . A divergência do campo na
posição r está associada às derivadas nessa posição:
J(x0 , y 0 , z 0 ) × (r − r0 ) 0 0 0
Z
µ0
∇ · B(x, y, z) = ∇· dx dy dz (4.46)
4π τ |r − r0 |3
• o rotacional de J, ∇×J, é o operador nas coordenadas (x, y, z), das quais J(x0 , y 0 , z 0 )
não depende; logo, ∇ × J(x0 , y 0 , z 0 ) = 0.
1
= − 3r
Mas ∇ × r = 0 e ∇ r3 r5
(verifique!), pelo que:
r
3r
∇× 3 =r× =0 (4.48)
r r5
∇·B=0 (4.49)
isto é, o fluxo do campo magnético através de uma qualquer superfı́cie fechada S é
sempre nulo.
71
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
A equação (4.50), ou a sua equivalente eq. (4.49), constitui uma das equações básicas
do electromagnetismo e exprime o facto os campo magnéticos terem origem em cargas
eléctricas em movimento, e não em ”cargas magnéticas”.7
Por último, refira-se que o procedimento que adoptámos para o cálculo da divergência
de B a partir da lei de Biot-Savart escrita na forma da equação (4.22) pode ser reproduzido
para demonstrar de uma forma geral a lei de Ampère ∇ × B = µ0 J.
7
Esta é a ocasião em que os fı́sicos, embaraçados, começam a balbuciar expressões como ”spin”e
”monopolos magnéticos”. A presumı́vel existência de cargas monopolares magnéticas justificaria a quan-
tização da carga eléctrica, de acordo com um argumento teórico proposto por Dirac. Não se encontraram
até à data quaisquer monopolos magnéticos, embora haja grandes esforços experimentais na sua detecção.
Quanto ao ”spin”, esse existe e é fonte de grande perplexidade: voltaremos ao assunto mais tarde.
72
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
B2 · t̂ − B1 · t̂ = µ0 K (4.53)
• As figuras 4.4 e 4.5 esquematizam uma situação geral em que se tem uma confi-
guração do campo magnético que pode ser devida a outras fontes para além da dis-
tribuição superficial de corrente que está em análise. No caso de o campo magnético
ser exclusivamente devido à distribuição de corrente K na superfı́cie, é facilmente
demonstrável que o campo magnético é paralelo à superfı́cie e perpendicular a K,
apontando em sentidos opostos de cada lado da superfı́cie e assumindo em cada lado
o valor µ0 K/2;
73
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
• Atendendo à orientação dos vectores definida na figura 4.5, podemos ainda reescrever
a equação (4.53) na forma vectorial, sintetizando assim toda a informação de que
dispomos:
B2
n
h
d
B1
Figura 4.4: Esquema para o cálculo da circulação do campo magnético nas proximida-
des de um ponto de uma superfı́cie transportando uma corrente superficial K. O campo
magnético nas proximidades do ponto é B1 e B2 em cada lado da superfı́cie. A circulação
está orientada no sentido anti-horário, definindo o circuito uma superfı́cie que está ori-
entada de acordo com a regra da mão direita, sendo a orientação da superfı́cie paralela
K.
74
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
B2 t n
2
1 K
B1
B2-B1
Figura 4.5: A mesma figura 4.4, detalhando a orientação relativa dos vectores envolvidos:
a densidade superficial de corrente, K; os campos magnéticos de cada lado da superfı́cie,
B1 e B2 ; a respectiva diferença, B2 − B1 ; o versor paralelo ao segmento da circulação do
lado 2, t̂; o usual versor perpendicular à superfı́cie, apontando do lado 1 para o lado 2, n̂.
∇·B=0⇒B=∇×A (4.55)
Esta equação é o equivalente para o campo magnético da equação ∇ × E = 0 ⇒
E = −∇V que define o potencial electrostático do campo electrostático, razão pela qual
o campo vectorial A se designa potencial vector do campo magnético.
Na forma integral, a equação (4.55) escreve-se, atendendo ao teorema de Stokes:
Z I
B · dS = A · dl (4.56)
S C
isto é, o fluxo do campo magnético através de uma superfı́cie S corresponde à cir-
culação do potencial vector no caminho C em que assenta a superfı́cie.
A relação B = ∇ × A não define de forma unı́voca o potencial vector. Recorde-se
que um campo vectorial é completamente definido apenas quando se especifica a sua di-
vergência e o seu rotacional, munidos das condições de fronteira adequadas. De facto, po-
demos adicionar a A o gradiente de uma função escalar qualquer, que o campo magnético
se mantém inalterado:
A0 = A + ∇f ⇒ ∇ × A0 = ∇ × A + ∇ × ∇f = ∇ × A (4.57)
Em electromagnetismo clássico, é costume usar-se a liberdade de escolha da divergência
de A, convencionando:
∇·A=0 (4.58)
75
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
∇ × B = µ0 J ⇔ ∇ × (∇ × A) = µ0 J (4.59)
e, atendendo a que ∇ × (∇ × A) = ∇(∇ · A) − ∇2 A, temos:
∇(∇ · A) − ∇2 A = µ0 J (4.60)
A escolha do padrão de Coulomb ∇· A = 0 torna-se agora óbvia, pois permite escrever
a equação anterior na forma:
∇2 A = −µ0 J (4.61)
Este resultado mais não é do que a equação de Poisson, escrita para cada componente
do potencial vector (∇2 Ai = −µ0 Ji ), e que sublinha mais uma vez a sua analogia formal
com o potencial escalar da electrostática.
Note-se que o potencial vector não tem, ao contrário do potencial escalar do campo
electrostático, uma interpretação imediata em termos do trabalho realizado pelo campo
(recorde-se, aliás que o campo magnético não realiza trabalho), pelo que a sua utilidade
é menor. No entanto, a analogia formal estabelecida pela equação (4.61) é extremamente
poderosa, pois permite-nos resolver problemas magnetostáticos com o recurso a analogias
electrostáticas. A partir do momento em que conheçamos uma solução da equação de
Poisson, por exemplo através de um problema electrostático, podemos utilizar essa solução
no âmbito da magnetostática.
1
V → Ai , → µ0 , ρ → Ji (4.63)
0
obtendo-se
8
Ou gauge de Coulomb, na literatura anglo-saxónica.
76
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Z Z
µ0 Ji µ0 J
Ai = dτ ⇒ A = dτ (4.64)
4π τ r 4π τ r
Esta constitui a expressão geral do potencial vector na presença de uma corrente J.
As correspondentes expressões para correntes superficiais K ou lineares I ficam:
Z
µ0 K
A= dS (4.65)
4π S r
Z Z
µ0 I µ0 Idl
A= dl = (4.66)
4π λ r 4π λ r
h
A2k − A1k = (B2 · n̂ + B1 · n̂) (4.69)
2
Pelo que, no limite h → 0, se obtém a continuidade das componentes de A paralelas
à superfı́cie:
77
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Figura 4.6: Resumo das relações principais entre as três quantidades básicas da magne-
tostática: a densidade de corrente J, o potencial vector A e o campo magnético B. (D.
J. Griffiths, Introduction to Electrodynamics, fig. 5.46)
78
Capı́tulo 5
Az = 0 (5.3)
Calculemos seguidamente a componente Ax , gerada pela corrente nos segmentos AB
e CD. Estes segmentos, de comprimento a, constituem um par de correntes iguais I
1
Cf. R. P. Feynman et al., The Feynman Lectures on Physics, vol. II, 14-5
79
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
(a) Z Y
r
D
I C
b
A X
a B
(b)
Jx (<0) l<0
D C D ----------------------- C
p=(la)b
A Jx (>0) B A +++++++++++ B
l>0
Figura 5.1: (a) Uma espira quadrada de corrente transportando uma corrente I. (b)
Esquema utilizado para o cálculo do potencial vector, através da adequada analogia elec-
trostática.
80
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
em sentidos opostos e à distância b uma da outra, tal como esquematiza a figura 5.1(b).
O correspondente electrostático, esquematizado na mesma figura, consiste de duas distri-
buições lineares de carga λ, cada uma com a carga λ a. No limite que estamos a considerar
(r >> a e r >> b), estas distribuições de carga reduzem-se a um dipolo eléctrico de mo-
mento dipolar p = −(λ a)bêy . A potencial por ele gerado, que obedece a (5.2), já foi
estudado anteriormente,, sendo a solução (3.8):
1 p · êr 1 y
V (x, y, z) = 2
=− λab 3 (5.4)
4π0 r 4π0 r
Onde utilizámos p = −(λ a)bêy e êr = r/r = (xêx + yêy + zêz )/r. A componente Ax
resulta imediatamente através da substituição µ0 → 1/0 , λ → I:
µ0 y
Ax (x, y, z) = − I ab 3 (5.5)
4π r
µ0 x
Ay (x, y, z) = I ab 3 (5.6)
4π r
µ0 I a b
A= (−yêx + xêy ) (5.7)
4π r3
µ0 I a b
A= sin θêφ (5.8)
4π r2
µ0 I a b
B= (2 cos θ êr + sin θ êθ ) (5.9)
4π r3
81
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Ao compararmos esta expressão com a do campo gerado por um dipolo eléctrico (eq.
3.10), as semelhanças são evidentes:
1 p
E= (2 cos θ êr + sin θ êθ ) (5.10)
4π0 r3
Uma espira de corrente gera assim um campo magnético, em todas as regiões do espaço
suficientemente afastadas da espira, com a mesma forma do campo eléctrico gerado por
um dipolo eléctrico, em que a quantidade I a b desempenha o papel do momento dipolar
eléctrico. A quantidade I a b designa-se momento dipolar magnético da espira e costuma
designar-se por m. Há toda a vantagem, tal como com o momento dipolar eléctrico, em
conferir uma orientação ao momento dipolar magnético, dada neste caso pela regra da
mão direita: a orientação do vector momento dipolar magnético de uma corrente plana é
definida perpendicularmente ao plano da corrente com a orientação positiva. No caso da
figura 5.1, resulta:
m = I a b êz (5.11)
podendo-se reescrever o correspondente vector potencial A como:
µ0 m × êr
A= (5.12)
4π r2
Em geral, o momento dipolar magnético de um circuito corresponde simplesmente ao
produto:
82
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
• as forças FAB e FCD têm módulo FAB = FCD = IaB; o torque devido a este par de
forças, calculado por exemplo em relação ao centro da espira, é nulo;
• as forças FBC e FDA têm módulo FBC = FDA = IbB e definem um torque τ não
nulo:
83
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
(a) Z
FCD
D
I C
FAD
b FBC
A
a
B
FAB
(b)
FAD Z
m
dq
q
dq
FBC
Figura 5.2: (a) Diagrama de forças que actuam sobre uma espira quadrada de corrente
transportando uma corrente I. (b) Projecção, ilustrando o par de forças com um torque
não nulo.
84
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
a massa e a carga (no caso dos electrões, M/Q = −me /e, sendo e a carga elementar
(positiva). Podemos escrever assim uma relação entre o momento angular associado ao
movimento das cargas de uma espira e o respectivo momento magnético da espira (para
o caso de a corrente ser devida a electrões):
e
m=− L = γL (5.17)
2 me
Descobrimos assim que o momento magnético da espira é simplesmente proporcional
ao momento angular das cargas que transportam a corrente que o origina, sendo γ =
−e/2me o factor de proporcionalidade (dito razão giromagnética). As equações (5.17) e
(5.15) permitem-nos escrever a lei fundamental da dinâmica da rotação para uma espira
transportando uma corrente:
dL dm
=τ =m×B⇔ = γm × B (5.18)
dt dt
Este resultado é muito importante e informa-nos que a variação com o tempo de um
momento magnético sujeito a um campo magnético é perpendicular quer ao momento
magnético, quer ao campo. O movimento resultante é um movimento de precessão do
momento magnético em torno do eixo definido pelo campo magnético, com frequência an-
gular ωL = γ B. Este movimento de precessão costuma designar-se precessão de Larmor e
é semelhante ao de um pião.4 Neste movimento, o momento magnético mantém constante
a sua orientação em relação ao campo, o que é consistente com o facto conhecido de o
campo magnético não realizar trabalho.
Assim, embora o torque favoreça o alinhamento do momento magnético com o campo,
tal apenas pode acontecer por interacção com uma força externa. A partir da figura 5.2,
é possı́vel calcular o trabalho necessário para rodar a espira de um ângulo dθ, mantendo
constante a corrente. Nesta rotação, os segmentos BC e AD deslocam-se da distância
dr = a dθ/2 estando sujeitos às forças FBC e FAD , respectivamente, sendo π/2−θ o ângulo
entre o deslocamento e a força. O trabalho realizado por BC é então:
a π a π
dW = FBC cos − θ dθ+FAD cos − θ dθ = I b B a sin θ dθ ⇒ W = −m B cos θ+K
2 2 2 2
(5.19)
onde K é uma constante. Este resultado é suficientemente incómodo: se o campo
magnético não realiza trabalho, como é que é possı́vel que a energia da espira diminua
deste modo? A resposta é: não é possı́vel, por meios puramente magnetostáticos, diminuir
4
Note-se que, tal como no pião, a existência prévia de um momento angular é essencial para o resultado
precessão. No caso dos dipolos eléctricos, não existe uma ”razão giroeléctrica”que motive um movimento
semelhante: são pois também semelhantes ao pião, mas que cai simplesmente quando cessa o movimento
de rotação em torno do eixo; também os dipolos eléctricos se limitam a alinhar com o campo eléctrico.
85
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
a energia da espira deste modo. Um momento dipolar magnético, numa situação magne-
tostática, limita-se a precessar em torno do campo magnético, mantendo constante a sua
energia. De facto, a rotação que apresentámos configura já uma situação electrodinâmica,
que requer a intervenção das leis electrodinâmicas - em particular a lei de Faraday - para
ser completamente descrita (e em particular para que se mantenha constante a corrente
na espira).
A expressão (5.19) não contém pois uma descrição completa da realidade, mas é de
grande utilidade para descrever a diminuição de energia de um dipolo magnético de mo-
mento dipolar constante (isto é, mantendo-se constante a corrente que lhe dá origem),
através da rotação, motivada por um agente externo, na presença de um campo magnético.
Esta expressão é reminiscente da equação (3.13), pelo que é usual definir-se uma energia
potencial do dipolo magnético na presença de um campo magnético, da forma usual:
De onde decorre, deixando cair as constantes inúteis (recorde-se que estamos a con-
siderar uma expressão que apenas nos dá como informção útil as variações de energia, e
mesmo assim não todas):
86
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
A expressão (5.21) pode ser fonte de desnecessários equı́vocos. Afinal é possı́vel definir
uma energia potencial para o campo magnetostático? A resposta é: não. Recorde-se
que a energia potencial é definida apenas para campos conservativos, o que não é o
caso do campo magnetostático. Por outro lado, o campo magnetostático é um campo
que não realiza trabalho, pelo que as considerações energéticas parecem à primeira vista
descabidas.
No entanto, faz todo o sentido perguntar pela energia necessária para gerar um campo
magnético, isto é, pela energia necessária para colocar em movimento as cargas eléctricas
origem das correntes que geram um campo magnético. Para isso, é necessário realizar
trabalho. Mas, novamente, colocar cargas em movimento representa uma situação que,
para ser compreendida cabalmente, necessita dos recursos da electrodinâmica. Não deixa-
mos de indicar desde já o resultado para a energia W armazenada no campo magnético,
que obteremos posteriormente, mas cuja semelhança formal com o resultado obtido na
electrostática não é mera concidência:
Z
1 2
W = B dτ (5.22)
τ 2µ0
Existe pois uma energia armazenada num circuito onde circula uma corrente I, que
verificaremos ser proporcional a I 2 .
1
W = L I2 (5.23)
2
87
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
eh̄
µB = = 9.27 × 10−24 J/T (5.24)
2me
e o momento magnético tı́pico associado a um protão (designado magnetão nuclear,
µN ) é assim:
eh̄
µN = = 5.05 × 10−27 J/T (5.25)
2mp
Os momentos magnéticos associados ao movimento dos electrões são assim cerca
de 1800 vezes superiores aos associados aos núcleos, razão pela qual as propriedades
magnéticas da matéria são essencialmente devidas à contribuição dos electrões. Assim,
quando se fala em magnetismo, em geral subentende-se magnetismo electrónico.5
A Natureza, no entanto, é cheia de surpresas, e acontece que os electrões, para além
do momento magnético que lhes está associado quando possuem momento angular, pos-
suem também um momento magnético intrı́nseco. Quando se descobriu este momento
magnético intrı́nseco, associado a um momento angular intrı́nseco, supôs-se que estaria
associado à estrutura interna dos electrões e ao momento angular das cargas no seu inte-
rior: chamou-se-lhe por isso spin (da palavra inglesa para ”rodar”). No entanto, no limite
do conhecimento actual, não se conhece estrutura interna para os electrões, pelo que a
natureza do spin permanece um mistério.6 Tanto o momento magnético orbital como o
momento magnético de spin contribuem para o momento magnético dos átomos e, logo,
para o magnetismo dos materiais.
Em muitos materiais, os momentos magnéticos totais dos electrões nos átomos acabam
por se cancelar mutuamente, conduzindo a um momento magnético total nulo. Sob acção
de um campo magnético externo, e conforme recordaremos mais adiante quando revirmos
5
No entanto, o magnetismo nuclear é bem mais do que um mero exotismo, conforme atesta a dissemi-
nada técnica de ressonância magnética nuclear, vulgarizada sobretudo devido à sua extraordinária utili-
dade na imagiologia médica. Esta técnica serve-se da possibilidade de orientar os momentos magnéticos
nucleares num campo magnético externo.
6
Na descrição quântica e relativı́stica, os electrões são descritos pela chamada equação de Dirac, que
inclui ”naturalmente”o spin e também os positrões - anti-matéria. No entanto, esta equação não esclarece
a natureza de um nem de outro.
88
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
89
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
m = M Az (5.26)
Podemos pensar esta magnetização como sendo devida a momentos magnéticos mi-
croscópicos dm, de área a e corrente I, sendo:
dm = I a = M a z (5.27)
Imag = M z (5.28)
n
x
a I
Figura 5.3: (a) Diagrama para o cálculo da corrente equivalente de magnetização devida
a uma superfı́cie plana uniformemente magnetizada.
90
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Imag
km = =M (5.29)
z
A orientação do vector km vem dada em função da orientação do vector magnetização
e da perpendicular n̂ à superfı́cie em cada ponto:
km = M × n̂ (5.30)
.
Esta equação pode ser reescrita ainda atendendo à noção de rotacional superficial:
rots M = km (5.31)
∂Mz
Ix = (Mz (y + dy) − Mz (y)) dz = dy dz (5.32)
∂y
.
Figura 5.4: (a) Diagrama para o cálculo da corrente equivalente de magnetização numa
situação de magnetização não uniforme
91
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Jmag = ∇ × M (5.36)
.
Note-se que Jmag obedece à condição magnetostática ∇ · Jmag = 0. Refira-se ainda
que é possı́vel obter os resultados (5.30) e (5.36) directamente a partir do potencial vector
do dipolo magnético (equação 5.12).
J = Jf + Jmag (5.37)
A lei de Ampère resulta assim:
B
∇ × B = µ0 (Jf + Jmag ) ⇔ ∇ × −M = Jf (5.38)
µ0
isto é:
∇ × H = Jf (5.39)
92
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
onde definimos
B
H= −M (5.40)
µ0
I
f
H · dl = Iint (5.41)
C
f R
onde Iint = S Jf · dS representa as correntes livres que atravessam a superfı́cie delimi-
tada pelo circuito fechado C. O campo auxiliar H desempenha nos materiais magnéticos
um papel semelhante ao do campo deslocamento eléctrico D nos materiais dieléctricos.
Contudo, o campo H é de longe mais útil e, logo, de uso mais frequente. A razão para
tal reside no facto de H depender directamente das correntes livres, que em geral corres-
pondem à grandeza fı́sica que é directamente controlável experimentalmente (logo tecno-
logicamente, logo industrialmente). Existe assim em geral um controlo directo do campo
H, enquanto que o campo B dependerá também da magnetização presente, que não é
facilmente controlável. Por isso, sobretudo em literatura mais antiga, é frequente desig-
nar o campo H por campo magnético e o campo B por campo de indução magnética.
Trata-se de designações equı́vocas e que vivamente desaconselhamos: o campo B é que é
o campo magnético próprio, do qual decorre a força magnética de acordo com a expressão
da força de Lorentz. O campo H é um mero auxiliar matemático que podemos designar
simplesmente de ”campo H”. Note-se que no caso dos materiais dieléctricos o problema
não se coloca da mesma forma, pois aı́ não temos em geral controlo directo sobre as
cargas livres: a grandeza fı́sica mais útil para o controlo experimental (logo tecnológico,
logo industrial) é a diferença de potencial, que controla directamente o campo eléctrico
resultante e não o campo D. Conforme veremos de seguida, esta diferença tem outras
pequenas consequências práticas.
93
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
M = χm H (5.42)
B B B B
H= − χm H ⇔ (1 + χm )H = ⇔ µr H = ⇔H= (5.43)
µ0 µ0 µ0 µ
Onde definimos a permeabilidade magnética relativa do meio µr e a permeabilidade
magnética do meio, µ, como:
µr = 1 + χ m (5.44)
µ = µr µ0 (5.45)
A equação (5.43), em conjunto com a equação (5.39), permite concluir:
∇ × B = µJf (5.46)
Isto é, de forma análoga ao que acontecia nos materiais dieléctricos, nos materiais
magnéticos lineares, isotrópicos e homogéneos aplica-se uma lei de Ampère modificada,
94
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
em que basta considerar as correntes livres, sendo o efeito das propriedades magnéticas
do material tido em conta pela mera substituição µ0 → µ. Note-se que continuamos a ter
∇ · B = 0, pelo que a eq. 5.46 define completamente o campo.
∇ · H = −∇ · M (5.47)
Importa sublinhar assim que a divergência de H só é nula se também o for a divergência
de M. Assim, quanto às condições de fronteira em superfı́cies, usando os mesmos métodos
utilizados anteriormente, facilmente se conclui que:
rotS H = Kf (5.49)
95
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
96
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
alterações irreversíveis
das fronteiras
dos domínios
alterações reversíveis
das fronteiras dos domínios
campo aplicado
(b)
97
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
98
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
de temperatura, tal como para a prata e o ouro, mas que subitamente, abaixo de 4.1 K,
desapareciam todos os sinais de resistividade. Esta transição ocorre a uma temperatura
bem definida, dita temperatura crı́tica, TC , o que indica que se trata de uma transição de
fase (tal como a ebulição da água, que ocorre a 373 K) entre duas fases (por vezes também
designados imprecisamente por ”estados”): a fase ”normal”e a fase supercondutora.
E=0 (5.50)
o que permite que haja uma corrente finita no interior do supercondutor. No entanto,
experimentalmente é difı́cil (leia-se: impossı́vel) estabelecer que a resistividade é exac-
tamente zero. Uma das evidências mais fortes em favor não é directa, mas provém do
estabelecimento de correntes persistentes num supercondutor. Vejamos como. Conside-
remos um anel supercondutor sujeito a um campo magnético B; o fluxo φ que atravessa
a superfı́cie delimitada pelo anel é:
Z
φ = B · dS (5.51)
A lei de Faraday, que recordaremos no próximo capı́tulo, assegura que a taxa de va-
riação do fluxo magnético corresponde à força electromotriz induzida, que é simplesmente
a circulação do campo eléctrico num circuito (fechado):
I
dφ
= − = − E · dl (5.52)
dt C
dφ
=0 (5.53)
dt
O fluxo do campo magnético permanece assim constante. A forma de estabelecer uma
corrente persistente num supercondutor é a seguinte. Começa-se com um anel supercon-
dutor acima da temperatura crı́tica, TC , que se submete a um campo magnético externo
B, que origina um fluxo φ no anel. Se agora arrefecermos o material até uma temperatura
inferior à temperatura crı́tica TC , obtemos a fase supercondutora, onde o fluxo magnético
permanece constante. Se desligarmos o campo magnético externo, o fluxo permanece, o
que implica que o próprio supercondutor gera o fluxo magnético que o atravessa através
da geração de uma corrente I. Gerámos assim uma corrente no anel supercondutor, que
99
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
• ligamos um campo magnético externo, que penetra o material, uma vez que este
não está na fase supercondutora;
• arrefecemos de seguida até T < TC : o supercondutor expele o campo magnético,
através da geração de correntes persistentes!
M = −H (5.54)
isto é, da definição de susceptibilidade (eq. 5.42):
χm = −1 (5.55)
Os supercondutores designam-se assim diamagnetes perfeitos.
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R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Tipo I Tipo II
101
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
Tipo I Tipo II
Figura 5.7: Dependência com a temperatura dos campos crı́ticos, para supercondutores
do tipo I e do tipo II.
ns e 2
I Z
j · dl = − B · dS (5.56)
C me
onde ns é a densidade de electrões na fase supercondutora, e e me são a carga e a
massa do electrão, respectivamente. Desta equação resulta, por aplicação do teorema de
Stokes:
ns e 2
∇×j=− B (5.57)
me
e, sendo B = ∇ × A, vem:
ns e 2
j=− A (5.58)
me
Esta última expressão é válida também no caso não estático e costuma designar-se
equação de London.
Da equação de London na forma estática (eq. 5.57) e da lei de Ampère ∇ × B = µ0 j
resulta:
102
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
ns e2 1
∇ × (∇ × B) = −µ0 B = − 2B (5.59)
me λ
onde λ tem dimensões de comprimento e costuma designar-se comprimento de pene-
tração, sendo:
1/2
me
λ= (5.60)
µ0 ns e 2
De facto, se considerarmos um supercondutor plano cuja superfı́cie seja paralela ao
plano y − z, e aplicarmos um campo paralelo à superfı́cie, B = B0 êz , rapidamente con-
cluı́mos (verifique!) que a equação (5.59) se reduz a:
d2 Bz (x) 1
2
= 2 Bz (x) (5.61)
dx λ
cuja solução é:
x
Bz (x) = B0 exp − (5.62)
λ
Assim, a equação de London prevê que o campo magnético decaia exponencialmente
no interior do supercondutor, sendo λ o comprimento tı́pico de decaimento (o campo
magnético reduz-se do factor e ao fim de um comprimento de penetração).
103
R. Vilão Electromagnetismo Magnetostática
104
Capı́tulo 6
Electrodinâmica
∇×E=0 (6.2)
∇ × B = µ0 J (6.4)
Sendo um campo vectorial completamente especificado através da sua divergência e do
seu rotacional, em conjunto com as condições de fronteira adequadas, estes dois pares de
equações definem assim dois domı́nios distintos, que podem ser estudados separadamente
com vantagem. No entanto, estes dois domı́nios representam apenas parcelas limitadas,
onde se ignoram os efeitos das variações de densidades de carga e de corrente com o tempo.
É ao estudo destes efeitos que agora damos inı́cio.
105
R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
J = σE (6.5)
A lei de Ohm, conforme vimos, traduz a existência de uma espécie de atrito viscoso que
se opõe ao movimento dos electrões sujeitos ao campo eléctrico. A origem microscópica
deste fenómeno reside nas colisões dos electrões com os defeitos e impurezas do material.
Em rigor, a lei de Ohm traduz a resistência ao movimento das cargas quando estas são
sujeitas a um força externa, independentemente da sua natureza. Em particular, pode
escrever-se:
J = σf (6.6)
f =E+v×B (6.7)
No entanto, a lei de Ohm escrita na forma (6.5) constitui a forma mais útil. Note-se
que, se a condutividade σ for uniforme, teremos:
∇ · J = σ∇ · E (6.8)
e, sendo ∇ · J = 0 na magnetostática:
∇ · E = 0 ⇒ ρ = 0 ⇒ ∇2 V = 0 (6.9)
106
R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
Recorde-se que a potência P necessária para manter um corrente I devido a uma diferença
de potencial V numa resistência R é:
P = V I = R I2 (6.10)
Z Z Z Z
J
P =F·v = ρe E · vdτ = ρe E · dτ = E · (σE)dτ = σ E2 dτ (6.11)
ρe
Note-se que a potência descrita pela lei de Joule corresponde à potência necessária
para manter uma corrente num material que obedeça à lei de Ohm. Trata-se, conforme
sabemos, de potência dissipada sob a forma de calor no material no processo de colisões
que origina o ”atrito viscoso”que justifica a lei de Ohm. Esta lei, contudo, não responde
à pergunta, de carácter bem mais geral, sobre a energia necessária para criar a corrente,
isto é, para fazer com que as cargas adquiram uma certa velocidade, independentemente
do carácter óhmico ou não do material onde se encontrem. É a esta pergunta que pro-
curaremos responder de seguida. Para tal, começaremos por analisar os geradores mais
simples.
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
1
As primeiras experiências derivaram da descoberta de que, enconstando dois pedaços de metais
diferentes ligados entre si à lı́ngua, se gerava um formigueiro; a saliva desempenha aqui o papel de
electrólito.
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
f = fb + E (6.12)
esta força total é, neste caso, a força responsável pela densidade de corrente J, sendo:
J = σf (6.13)
Se integrarmos esta força total por unidade de carga ao longo do circuito completo,
obtemos o trabalho realizado por unidade de carga ao longo do circuito:
I I
f · dl = fb · dl = E (6.14)
H
onde usámos o facto de o campo electrostático ser conservativo E · dl = 0 . Esta
circulação não nula da força total por unidade de carga ao longo do circuito designa-
se força electromotriz. Trata-se de uma designação histórica consagrada, apesar de ser
equı́voca: a força electromotriz não é uma força, mas corresponde sim à energia por
unidade de carga transferida pela bateria. De facto, admitindo por simplicidade que a
densidade de corrente J é constante:
I I I I
J I 1
E= fb · dl = · dl = dl = I dl = R I (6.15)
σ Aσ Aσ
109
R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
Consideremos agora uma forma alternativa de gerar uma força electromotriz - o gerador.
Aqui, o mecanismo é puramente mecânico e consiste no seguinte: coloca-se um circuito
fechado, de resistência R, na presença de um campo magnético B e aplica-se de seguida
uma força externa fext que faz mover o circuito com velocidade v, retirando-o da zona
onde existe o campo, conforme ilustra a figura 6.1.
Figura 6.1: Diagrama esquemático de um gerador. Assume-se que apenas a zona sombre-
ada está sujeita a um campo magnético perpendicular ao plano do circuito, que imerge
na folha (sentido ⊗).
Quando o circuito se desloca com velocidade v, o mesmo sucede com as cargas que o
compõem, que ficam assim sujeitas a uma força magnética . Atendendo à orientação da
velocidade e do campo magnético, esta força magnética aponta sempre no sentido b → a,
sendo assim responsável por uma corrente (convencional) neste mesmo sentido. Gera-se
assim uma corrente (real) no sentido anti-horário. A força magnética exercida por unidade
de carga é fmag = v B e, portanto, a energia transferida por unidade de carga no percurso
de comprimento h, isto é, a força electromotriz, é:
E = vBh (6.16)
110
R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
Um paradoxo
Tropeçamos mais uma vez no constante paradoxo: se a força magnética não realiza tra-
balho, qual é a força responsável pelo trabalho necessário para colocar as cargas em mo-
vimento? A resposta é: trata-se da força externa que mantém o movimento. A resolução
do paradoxo encontra-se considerando o diagrama da figura 6.2. No segmento a − b, para
além da velocidade v comum a todo o circuito, as cargas têm uma componente vertical
u, sendo a sua velocidade total v0 = u + v. A força magnética que age nestas cargas
é perpendicular a v0 , não exercendo por isso qualquer trabalho, e a força magnética por
unidade de carga é assim:
fmag = v 0 B (6.17)
A força externa necessária para manter uma velocidade horizontal constante do circuito
corresponde à componente horizontal da força magnética:
Z Z Z
fext · dl = fext dl cos(π/2 − θ) = (v 0 B cos θ)dl sin θ =
h
= v 0 B cos θ sin θ = v 0 B h sin θ = v B h (6.19)
cos θ
Este trabalho corresponde assim à força electromotriz induzida. Ocorre assim o se-
guinte: a força magnética é a responsável pela força electromotriz, sendo o trabalho
necessário fornecido pela força externa.
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
ext
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
Z
φ= B · dS = B h s (6.20)
dφ ds
=Bh = −B h v = −E (6.21)
dt dt
ou:
dφ
E =− (6.22)
dt
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
∂B
∇×E=− (6.24)
∂t
As expressões (6.23) e (6.24) traduzem a lei de Faraday. Note-se que ambas se reduzem
à forma electrostática no caso estático, em que ∂B/∂t = 0:
I
E · dl = 0 (6.25)
∇×E=0 (6.26)
A lei de Faraday, quer na forma integral (6.23), quer na forma local (6.24), implica
uma orientação cuidadosa das superfı́cies, dos circuitos, e dos campos envolvidos. Esta
orientação poderia ser fonte de confusão, não fosse uma regra prática conhecida por lei
de Lenz, que nos garante que a corrente induzida pela força electromotriz tem sempre o
sentido tal que o campo magnético por ela gerado contraria a variação do fluxo magnético
que lhe dá origem. Isto é, se o fluxo diminui, então a corrente induzida tende a aumentá-lo
e vice-versa.
Repare-se que a lei de Lenz garante a conservação da energia e a estabilidade do
sistema: se a corrente induzida criasse um fluxo no mesmo sentido, este fluxo induziria
uma corrente maior e o sistema não seria estável.
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
6.3 Indutância
dl1 · r̂
I
µ0
B1 = I1 ∝ I1 (6.27)
4π r2
Z
φ2 = B1 · dS2 ∝ I1 (6.28)
φ2 = M21 I1 (6.29)
φ2 I1
E2 = − = −M21 (6.30)
dt dt
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R. Vilão Electromagnetismo Electrodinâmica
É possı́vel obter uma expressão para o cálculo da indutância mútua dos circuitos, que
exprime o seu carácter geométrico. Partindo da eq. (6.28) a atendendo a que B1 = ∇×A1 ,
temos:
Z Z I
φ2 = B1 · dS2 = (∇ × A1 ) · dS2 = A1 · dl2 (6.31)
Mas o potencial vector criado pelo circuito 1 escreve-se (da eq. 4.66):
I
µ0 dl1
A1 = I1 (6.32)
4π r
pelo que:
I I
µ0 dl1
φ2 = I1 · dl2 (6.33)
4π r
dl1 · dl2
I I
µ0
M21 = (6.34)
4π r
dl1 · dl2
I I
µ0
M12 = M21 =M = (6.35)
4π r
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