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Eletromagnetismo

Módulo III
Nível Básico
Copyright © 2017 Dr. Marcos Paulo Pontes Fonseca

C ENTRO F EDERAL DE E DUCAÇÃO T ECNOLÓGICA DE M INAS G ERAIS

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Conteúdo

1 Associação de Resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1 Associação de Resistores em Série 7
1.2 Associação de Resistores em Paralelo 9
1.3 Associação Mista de Resistores 12
1.4 Curto-Circuito 13
1.5 Medidas Elétricas 14
1.5.1 Amperímetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5.2 Voltímetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.6 Ponte de Wheatstone 18
1.7 Geradores 21
1.7.1 Equação Característica do Gerador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.7.2 Curva Característica do Gerador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.7.3 Rendimento do Gerador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.8 Leis de Kirchhoff 25
1.8.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.8.2 As Leis de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.8.3 Análise de Circuito com Base nas Leis de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.9 Questinário 29
1.10 Problemas 31
2 Campo Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.1 Imãs 37
2.2 O Campo Magnético de um Imã 39
2.3 Campo magnético uniforme 43
2.4 Força Magnética sobre uma carga elétrica 44
2.4.1 Direção e sentido da força magnética sobre uma carga elétrica . . . . . . . . . . 46
2.4.2 Quando a velocidade é perpendicular ao campo magnético . . . . . . . . . . . . 47
2.4.3 Quando a velocidade ~v forma um ângulo θ qualquer com o campo magnético ~B
48

3 A origem do campo magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55


3.1 Campo magnético gerado por um fio retilíneo muito longo (infinito) 56
3.1.1 Módulo do vetor de indução magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.2 Campo magnético gerado por uma espira circular 61
3.3 Campo magnético gerado por um solenoide 63
3.4 Propriedades Magnéticas dos Materiais 66
3.4.1 Materiais Ferromagnéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.4.2 Permeabilidade Relativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.5 Problemas 70

4 Força Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.1 Força magnética em um fio condutor percorrido por uma corrente elétrica
73
4.1.1 Espira retangular imersa em campo magnético uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.1.2 Forças magnéticas entre dois condutores retilíneos e paralelos . . . . . . . . . . . . 78
4.2 Indução Eletromagnética 80
4.3 Lei de Lenz 83
4.4 Força eletromotriz induzida 86
4.5 Lei de Faraday-Neumann 87
4.6 Problemas 88

5 O início da Física Quântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91


5.1 Radiações eletromagnéticas 91
5.2 Radiação térmica 92
5.2.1 Lei de Stefan-Boltzmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.3 Modelo quântico das radiações 94
5.4 O Efeito fotoelétrico 95
5

5.5 Modelos atômicos 98


5.5.1 Modelo de Rutherford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.5.2 Modelo de Niels Bohr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.6 Transições eletrônicas 100
5.6.1 Análise espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.7 Problemas 102

6 Relatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
6.1 Postulados de Einstein 107
6.2 A dilatação do tempo 108
6.3 Contração do comprimento 109
6.4 Composição de velocidades 111
6.5 A massa relativistica 111
6.6 As quatro interações 113
6.6.1 Força nuclear forte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
6.6.2 Força eletromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
6.6.3 Força nuclear fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
6.6.4 Força gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
6.7 Problemas 114

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Livros 115

Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
1. Associação de Resistores

Os resistores são componentes eletrônicos que tem diversas aplicações práticas. Não existe um
circuito eletrônico em que não se tenha uma resistência elétrica, pois um fio condutor possui,
as trilhas de um circuito também, ou seja, mesmo que não haja um resistor em um circuito
mesmo assim teremos resistência elétrica. Bom por outro lado, alguém pode indagar: "mas e
os supercondutores?"É realmente esses materiais possuem resistividade zero, e portanto não tem
resistência elétrica. Por outro lado são materiais que possuem essa propriedade apenas a baixíssimas
temperaturas, e portanto, no ponto de vista prático, até o momento não tem aplicações nos circuitos
eletrônicos dos eletrodomésticos atuais.
As aplicações dos resistores são diversas, como por exemplo, em chuveiros elétricos, ferros
de solda e ferros de passar roupa. Todos esses exemplos baseia-se no Efeito Joule que é a dissipação
da energia elétrica transformando-se em energia térmica. Além desses, as principais aplicações são
em circuitos eletrônicos para baixar tensões, dividir a corrente, polarizar transistores, temporizar
circuitos de carga e descarga e etc. Fundamentalmente, nesse capítulo iremos estudar algumas
técnicas básicas de análise de circuitos, que envolvam resistores, geradores e receptores.

1.1 Associação de Resistores em Série


Quando temos uma associação de resistores ligados apenas em série, o circuito constituído nesse
tipo de ligação proporciona um único caminho para corrente elétrica, pois não apresenta um ou mais
nós que caracterizem bifurcações no circuito para a passagem da corrente elétrica. Sendo assim, a
correte elétrica nesse tipo de ligação é a mesma em todo o circuito.
8 Associação de Resistores

Para entendermos isso melhor vamos considerar o circuito da figura 1.1 a seguir. Nesse circuito
temos três resistores R1 , R2 e R3 ligados em série, onde os pontos A e B são os terminais desta
associação. Um gerador representado por uma pilha aplica uma diferença de potencial (ddp) nos
terminais igual a U. Essa ddp proporciona uma corrente elétrica i que será a mesma em todo o
circuito. Como já vimos anteriormente a simbologia dos resistores podemos representar essa ligação

Figura 1.1: Associação de Resistores em Série.

de forma esquemática como pode ser visto na figura 1.2 a seguir. Aqui, U1 , U2 e U3 são as quedas de

Figura 1.2: Associação de Resistores em Série.

tensão nos resistores R1 , R2 e R3 respectivamente, e UT é a tensão fornecida pela bateria, isto é a


tensão total do circuito. Pela conservação da energia espera-se que a soma das quedas de tensão
em cada resistor seja igual a tensão aplicada pela bateria UT . Dessa forma obtemos a seguinte
relação:

UT = U1 +U2 +U3 . (1.1)

Aplicando a 1ª Lei de Ohm na equação 1.1 obtemos:

RT I = R1 I + R2 I + R3 I, (1.2)

colocando I em evidência na equação 1.2 podemos cancelar a corrente em ambos os lados da equação
para obtermos a expressão da resistência equivalente ou total do circuito como:

RT I = (R1 + R2 + R3 )I,

RT = R1 + R2 + R3 . (1.3)
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 9

Portanto, a resistência total ou equivalente do circuito é a soma de todas as resistências ligadas em


série. No quadro abaixo vamos fazer um resumo dessa análise feita até agora para a associação de
resistores em série.
1.1.1 — Associação de resistores em série. Nessa associação a corrente elétrica no circuito
é sempre a mesma, pois não há bifurcações. De forma genérica vamos considerar n resistores
ligados em série. Portanto, temos as seguintes relações:

IT = I1 = I2 = I3 = ... = In ,

A tensão total UT fornecido pelo gerador é igual a soma das quedas de tensão em todas as
resistências

UT = U1 +U2 +U3 + ... +Un ,

E por fim a resistência total ou equivalente é igual a soma de todas as resistências

RT = R1 + R2 + R3 + ... + Rn ,

É importante ressaltar que se um resistor na associação em série parar de conduzir o circuito é


interrompido, ou seja, o circuito fica aberto e não haverá corrente elétrica. Outro fator importante é
que quanto maior for a resistência total do circuito menor será a corrente elétrica.

Exercício 1.1 Considere a associação de resistores da figura 1.3 abaixo. A tensão total aplicada
pela bateria é igual a 200V, e os resistores R1 , R2 e R3 tem valores iguais a 20Ω, 30Ω e 50Ω
respectivamente. Determine:
a) a intensidade da corrente elétrica em cada resistor; Resp.2,0A
b) a tensão em cada resistor.Resp.40V, 60V e 100V


Figura 1.3: Associação de Resistores em Série.

1.2 Associação de Resistores em Paralelo


Quando temos dois ou mais resistores que estão ligados através de pontos em comum no circuito
dizemos que eles estão ligados em paralelo. Dessa forma, esses pontos em comum são chamados de
nó, e ao contrário da associação de resistores em série, a corrente elétrica pode percorrer diversos
caminhos distintos devido a ramificação presente no nó. Portanto, em cada parte dessa ramificação
10 Associação de Resistores

a corrente elétrica terá um caminho para percorrer, e terá maior intensidade aonde houver menor
resistência na ramificação.
Para melhor visualização considere a figura 1.4, onde temos três resistores R1 , R2 e R3 ligados em
paralelo cujos pontos em comum são representados pelos nós, sendo o primeiro a ser considerado o
da esquerda e o segundo o da direita. Observe que a corrente elétrica total i se ramifica no primeiro nó
em três correntes I1 , I2 e I3 passando pelos respectivos resistores, e se juntam novamente no segundo
nó para formar a corrente elétrica total novamente. Aqui, mais uma vez estamos considerando
UT como sendo a ddp total fornecida pela bateria. Diferentemente do circuito em série a corrente

Figura 1.4: Associação de Resistores em Paralelo.

que passa em cada resistor é diferente se considerarmos as resistências também diferentes. De um


modo geral, como já dissemos anteriormente quanto maior for a resistência menor será a corrente
elétrica que flui através daquele respectivo resistor. Como exemplo, se considerarmos os valores dos
resistores como sendo R1 > R2 > R3 teremos correntes elétricas fluindo numa relação I1 < I2 < I3 .
Uma coisa importante a ser notada é que a diferença de potencial(ddp) UT fornecida pela bateria é a
mesma em todos os três resistores. Aqui, apresentamos outra característica do circuito de associação
de resistores em paralelo que difere da associação em série. Usando a Lei dos nós que já vimos
anteriormente podemos escrever a seguinte relação entre as correntes elétricas em cada resistor e a
corrente total do circuito como:

IT = I1 + I2 + I3 , (1.4)

e além disso como dissemos acima

UT = U1 = U2 = U3 . (1.5)

Para determinarmos a resistência total do circuito podemos usar a 1ª Lei de Ohm na equação 1.4 de
maneira que podemos escrever

UT U1 U2 U3
= + + , (1.6)
RT R1 R2 R3

Usando a relação 1.5 podemos reescrever a equação 1.6 como

UT UT UT UT
= + +
RT R1 R2 R3
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 11

 
UT 1 1 1
= UT + +
RT R1 R2 R3

1 1 1 1
= + + (1.7)
RT R1 R2 R3
Invertendo as frações em ambos os lados da equação 1.7 obtemos uma fórmula geral para determinação
da resistência total ou equivalente para a associação de resistores em paralelo como
1
RT = 1
(1.8)
R1 + R12 + R13

Vamos portanto, fazer um resumo da análise do circuito da associação em paralelo no quadro


abaixo.
1.2.1 — Associação de resistores em paralelo. Nessa associação a ddp nos resistores é
sempre a mesma, pois a ddp nos pontos A e B é comum a ddp em relação aos nós onde todos os
terminais dos resistores são ligados em comum. De forma genérica vamos considerar n resistores
ligados em paralelo. Portanto, temos as seguintes relações:

UT = U1 = U2 = U3 = ... = Un ,

A corrente elétrica total IT é igual a soma das correntes que fluem em todas as resistências

IT = I1 + I2 + I3 + ... + In ,

E por fim a resistência total ou equivalente é igual a soma dos inversos das resistências
1
RT = 1 1
,
R1 + R2 + R13 + ... + R1n

Existem também alguns casos especiais de resistores associados em paralelo. Por exemplo, se temos
apenas dois resistores em paralelo podemos obter a resistência equivalente como
1 1 R1 R2
RT = 1
= R1 +R2 → RT = . (1.9)
R1 + R12 R1 R2
R1 + R2

Outro caso seria se tivéssemos n resistores com o mesmo valor em paralelo. Dessa forma poderíamos
calcular a resistência equivalente de forma bem rápida como
1 1 R
RT = 1 1 1 1
= n → RT = . (1.10)
R + + + ... +
R R R R n

Nesse caso bastaria pegar o valor de uma resistência e dividir pelo número total de resistências.
12 Associação de Resistores

Exercício 1.2 Considere a associação de resistores da figura 1.5 a seguir. A tensão total aplicada
pela bateria é igual a 100V, e os resistores R1 , R2 e R3 tem valores iguais a 2Ω, 4Ω e 5Ω
respectivamente. Determine:
a) a resistência equivalente do circuito;Resp.1,05Ω
b) a intensidade da corrente elétrica total no circuito; Resp.95A
c) a intensidade da corrente elétrica em cada resistor.Resp.50A, 25A e 20A


Figura 1.5: Associação de Resistores em Série.

1.3 Associação Mista de Resistores


A associação de resistores mista consiste numa combinação ou mistura entre a associação em
série e paralelo acontecendo de forma simultânea. Nesse caso a nossa análise deve levar em conta as
características das diferenças de potencial e da corrente elétrica em cada parte do circuito, assim
como a disposição dos resistores no circuito. Os cálculos para obtenção das características do circuito
são os mesmos já vistos para a associação em série e paralelo. Como um exemplo vamos considerar
a figura 1.6. Nesse exemplo temos uma associação mista de resistores representado em azul. Observe

Figura 1.6: Associação de Resistores em Série.


Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 13

que os resistores de 30Ω e 60Ω estão em paralelo na região representada pela linha pontilhada azul
clara. A resistência equivalente em paralelo tem um valor igual a 20Ω, que por sua vez estará em
série com todos os demais resistores, como pode ser visualizado pelo circuito em vermelho. Por
fim temos o circuito verde que nos mostra a resistência total ou equivalente do circuito todo da
associação mista. Com o valor da resistência total podemos obter a corrente elétrica total do circuito
se conhecermos a ddp entre os pontos A e B. Conhecendo a corrente total podemos determinar
através da 1ª Lei de Ohm as ddp’s em cada resistor, e com esses valores é possível calcular também
através da Lei de Ohm os valores das correntes elétricas nos resistores de 30Ω e 60Ω. Isso ficará
como exercício para você.

Exercício 1.3 Considere a associação de resistores da figura 1.6, onde é aplicado uma ddp de
600V entre os terminais A e B. Determine:
a) a intensidade da corrente elétrica total no circuito; Resp.2A
b) a diferença de potencial em cada resistor.Resp.R70Ω = 140V , R100Ω = 200V , R110Ω = 220V e
R30Ω = R60Ω = 40V
c) a intensidade da corrente elétrica em cada resistor.Resp..R70Ω = R100Ω = R110Ω = 2A,
R30Ω = 1, 33A e R60Ω = 0, 66A 

1.4 Curto-Circuito
Considere, por exemplo, duas lâmpadas idênticas ligadas em série e submetidas a uma diferença
de potencial, 2V como pode ser visualizado na figura 1.7. Obviamente como elas são iguais a ddp
de 2V aplicada na associação se dividirá igualmente para as duas lâmpadas, pois as resistências
são iguais. Além disso, a corrente que atravessa as lâmpadas também são iguais uma vez que estão
ligadas em série.

Figura 1.7: Duas lâmpadas iguais ligadas em Série.

Anteriormente nós mencionamos que a corrente elétrica sempre busca transitar pelo caminho de
menor resistência.
14 Associação de Resistores

Assim, se ligarmos um fio condutor de resistência desprezível entre os terminais A e B como


mostrado na figura 1.8, a lâmpada L1 será apagada pois a corrente elétrica buscará o caminho de
resistência zero representado pelo fio cor de rosa, e portanto nenhuma corrente elétrica passará pela
lâmpada L1 . Além disso, a lâmpada L2 passará a brilhar mais uma vez que toda a ddp estará em seus
terminais.

Figura 1.8: Duas lâmpadas iguais ligadas em Série sendo L1 curto-circuitada.

Definição: Podemos definir um curto-circuito quando um fio de resistência desprezível interliga


quaisquer dois pontos em um circuito fazendo com que a diferença de potencial(ddP) entre os
pontos seja nula. Em outras palavras, o fio iguala os potenciais entre dois pontos quaisquer no
circuito.

1.5 Medidas Elétricas


Para medirmos a corrente elétrica num trecho de um circuito ou a tensão(ddp) entre dois pontos
quaisquer do mesmo devemos usar um aparelho chamada de galvanômetro. Os galvanômetros,
como o da figura 1.9, são aparelhos que têm a sensibilidade de detectar correntes elétricas que
passam por ele. A medida é feita através de um ponteiro que sofre uma deflexão proporcional a
intensidade da corrente elétrica que passa por ele.

Figura 1.9: Galvanômetro.


Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 15

No circuito elétrico o galvanômetro é representado pelo símbolo da figura 1.10, onde RG é a


resistência interna do galvanômetro. Em geral são extremamente sensíveis e suportam pequenas

Figura 1.10: Galvanômetro esquemático.

correntes elétricas. O maior valor de corrente que o aparelho pode medir é chamado de corrente de
fundo de escala. Os galvanômetros podem funcionar como amperímetros (medidores de corrente
elétrica) ou como voltímetros (medidores de tensão), para isso basta mudar a chave seletora para
mudança de escala de medida. Quando o galvanômetro é ideal, assunto que falaremos um pouco
mais adiante ainda nessa seção, a simbologia dele no circuito fica apenas como na figura 1.11 A

Figura 1.11: Galvanômetro ideal.

representação do amperímetro e do voltímetro ideal é a mesma da figura 1.11, basta trocar a letra G
por A ou V respectivamente.

1.5.1 Amperímetro
Como já mencionamos o amperímetro é o aparelho usado para medir a corrente elétrica. Para
que seja efetuada a medida da corrente elétrica é necessário que ela passe pelo aparelho. Se a
corrente elétrica que passará pelo amperímetro for maior que seu fundo de escala isso pode danificar
o aparelho. Para resolver esse problema ligamos, em paralelo a resistência interna RG outro resistor
RS com um valor bem menor do que o valor de RG denominado de resistor de shunt. Como o resistor
de shunt é bem menor do que o valor da resistência do amperímetro a maior parte da corrente I passa
por RS de shunt, e apenas uma pequena fração da corrente passa pela resistência do amperímetro
(RG ). Assim, o aparelho não danifica. Relacionando a leitura da corrente elétrica no amperímetro IG

Figura 1.12: Amperímetro com resistor de shunt.


16 Associação de Resistores

com a corrente I que desejamos medir, temos:


UAB = RG · IG UAB = RS · IS . (1.11)
Igualando as equações 1.11 obtemos
RG
RG · IG = RS · IS → IS = · IG . (1.12)
RS
Finalmente substituindo a equação 1.12 em I = IG + IS temos os seguinte resultado
 
RG RG
I = IG + · IG → I = 1 + · IG . (1.13)
RS RS
Aqui o termo 1 + RG /RS é chamado de fator de multiplicação de shunt. Na prática os galvanômetros
já vem com o fator de shunt interno e graduado para leitura do fundo de escala. Na equação 1.13 I é
o valor da corrente que se quer medir, e IG é a corrente de fundo de escala.

Exercício 1.4 Determine o valor da resistência shunt para medir uma corrente elétrica de
intensidade de 10mA com um miliamperímetro cuja resistência é 202, 5Ω e o fundo de escala é
de 1mA. Resp.22, 5Ω 

Agora veremos como de fato devemos ligar um amperímetro em um circuito para que ele efetue a
medida da corrente elétrica em um determinado trecho, e veremos também qual é o amperímetro
ideal. Para que o amperímetro efetue uma medida de corrente elétrica é necessário que ela passe
pelo aparelho é portanto o amperímetro deve sempre ser ligado em série no trecho do circuito
onde se quer medir a corrente. Para ilustramos isso melhor considere então a figura 1.13, onde
uma resistência R é ligada a uma bateria proporcionado uma ddp U e nosso amperímetro tem uma
resistência interna RG . Obviamente a corrente elétrica medida i’ não é de fato a corrente real do

Figura 1.13: Amperímetro com resistor de shunt.

circuito sem o amperímetro, pois sua resistência RG influencia no resultado. Usando a Lei de Ohm
para essa análise obtemos o resultado
U
i0 = . (1.14)
R + RG
De acordo com a equação 1.14 podemos observar que esse valor medido é inferior ao valor real.
Portanto, para que seja medido o valor teórico real a resistência interna do amperímetro deve ser
nula.
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 17

Definição: Podemos definir um amperímetro ideal como sendo um aparelho que possuir uma
resistência interna desprezível.

1.5.2 Voltímetro
Para medirmos uma diferença de potencial através de um voltímetro ele também necessita de um
resistor para que seja adequado o fundo de escala do aparelho sem danificá-lo. Considerando que o
voltímetro tem uma resistência interna RG devemos associar em série a ele uma outra resistência
de valor muito maior chamada de resistência multiplicadora RM . Para ilustrarmos melhor o
voltímetro vamos considerar a ligação da figura 1.14. Analisando a figura 1.14 temos a relação direta

Figura 1.14: Voltímetro com resistor multiplicador.

U = UM +UG , que usando a Lei de Ohm podemos escrever


UG
U = RM · IG + RG · IG → U = (RM + RG ) · IG → U = (RM + RG ) · (1.15)
RG
Logo temos:
 
RM
U = 1+ ·UG . (1.16)
RG
Aqui, U é a ddp que queremos medir e UG é a ddp nos terminais do voltímetro.

Exercício 1.5 A corrente que corresponde à deflexão máxima do ponteiro de um galvanômetro é


1,0mA e sua resistência interna é igual a 0,5Ω. Qual deve ser o valor da resistência que precisa
ser colocada neste aparelho para que ele se transforme em um voltímetro apto a medir até 10V?
Como deve ser colocada essa resistência em relação ao galvanômetro? Resp.1 × 104 Ω e em série


Para efetuarmos uma medida da diferença de potencial entre dois pontos em um circuito, o
voltímetro deve ter seus terminais ligados nesses dois pontos. Portanto, o voltímetro deve ser ligado
em paralelo no circuito. Dessa forma, vamos considerar a figura 1.15 a seguir. O circuito da figura
1.15 consiste em uma bateria que fornece uma ddp U ligada a um resistor R. Paralelamente ao
resistor temos um voltímetro, cuja resistência interna é RG ligado nos terminais A e B do resistor.
De acordo com essa ligação já sabemos de antemão que o valor a ser medido deve ser igual a U, pois
o esquema é caracterizado por uma ligação em paralelo, portanto as ddp’s devem ser iguais tanto
18 Associação de Resistores

Figura 1.15: Voltímetro com resistência interna RG ligado em paralelo a um resistor R.

no resistor R quanto no RG . Entretanto, a corrente elétrica i’ que flui no resistor R é diferente do


valor real, pois parte da corrente deve fluir no voltímetro. Para que isso, não aconteça é necessário
que a corrente passe somente no resistor R, e não passe pelo voltímetro. Assim, a resistência RG
do voltímetro deve ser exageradamente grande, pois assim a corrente buscará apenas o caminho de
menor resistência proporcionando uma leitura correta do aparelho.
Para verificarmos isso considere a resistência total aplicada no circuito da figura 1.15 como
R · RG R
RTotal = → RTotal = (1.17)
R + RG 1 + RRG

Como sabemos, pela Lei de Ohm, o resultado correto da medida deve ser U = I · R, ou seja, a
resistência total do circuito deve ser apenas R. Assim, comparando com o resultado da equação 1.17
vemos que isso aconteça é necessário que RG seja infinito! Portanto, provamos que realmente a
resistência deve ser exageradamente grande para que se faça uma medida da diferença de potencial
corretamente.
Definição: Podemos definir um voltímetro ideal como sendo um aparelho que possuir uma
resistência interna infinita.

1.6 Ponte de Wheatstone


A ponte de Wheatstone consiste em uma associação de resistores como mostrado na figura 1.16.
Essa ligação tem como objetivo principal determinar o valor de um resistor desconhecido. Para isso
aplicamos uma diferença de potencial ente os pontos A e B e ligamos um galvanômetro entre os
pontos C e D. Nessa ligação os resistores R1 e R4 são conhecidos, o resistor R3 é um resistor variável
e o R2 é o resistor desconhecido. Como é feita a determinação do valor do resistor desconhecido?
Para determinarmos esse valor variamos o valor do resistor variável até que a corrente elétrica seja
nula no galvanômetro. Nesse instante sabemos que os potenciais nos pontos C e D são iguais, e
dizemos que a ponte está equilibrada. Então temos:
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 19

Figura 1.16: Ponte de Wheatstone.

UAC = R1 · i → VA −VC = R1 · i

UAD = R4 · i0 → VA −VD = R4 · i0 . (1.18)

Como VC = VD as equações 1.18 podem ser igualadas de maneira que

R1 · i = R4 · i0 . (1.19)

De forma semelhante temos:

UCB = R2 · i → VC −VB = R2 · i

UDB = R3 · i0 → VD −VB = R3 · i0 . (1.20)

Mais uma vez VC = VD então as equações 1.20 podem ser igualadas de maneira que

R2 · i = R3 · i0 . (1.21)

Dividindo a equação 1.19 pela equação 1.21 obtemos:

R1 · i R4 · i0
= . (1.22)
R2 · i R3 · i0
Cancelando os termos semelhantes na equação 1.22 e fazendo o produto cruzado dos termos que
sobram no cancelamento, finalmente podemos escrever a seguinte conclusão em relação ao equilíbrio
da ponte de Wheatstone.
20 Associação de Resistores

1.6.1 — Ponte de Wheatstone. Quando a ponte está em equilíbrio, ou seja, VC = VD o produto


dos resistores dos ramos opostos são iguais.

R1 · R3 = R2 · R4 . (1.23)

Uma maneira alternativa de se criar a ponte de Wheatstone é o que chamamos de ponte de fio. A
ponte de fio consiste em substituir dois dos resistores da ponte de Wheatstone por um fio homogêneo
cuja seção transversal é a mesma em todo o seu comprimento. Sobre o fio desliza um cursor, até que
se encontre o ponto de equilíbrio da ponte, ou seja, VC = VD . Nas proximidades do fio é colocado
uma régua que fornece os comprimentos L1 e L2 referentes as extremidades do fio com o cursor.
Veja a figura 1.17.
Usando a equação de equilíbrio 1.23 da ponte de Wheatstone juntamente com a 2ª Lei de Ohm

Figura 1.17: Ponte de fio.

podemos escrever
L2 L1
R1 · ρ = R2 · ρ . (1.24)
A A
Cancelando em ambos os membros da equação 1.24 a resistividade ρ e a área A, pois se trata do
mesmo fio podemos fazer a conclusão em relação a ponte de fio.

1.6.2 — Ponte de fio. Quando a ponte está em equilíbrio, ou seja, VC = VD o produto dos
resistores pelos comprimentos dos ramos opostos são iguais.

R1 · L2 = R2 · L1 . (1.25)
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 21

Exercício 1.6 No circuito representado na figura 1.18 determine o valor do resistor R1 , para que
a potência dissipada no resistor de 10Ω seja nula. Resp.4, 0Ω 

Figura 1.18: Circuito do exercício 1.6.

Exercício 1.7 No circuito representado na figura 1.19 determine o valor da resistência equivalente
entre os pontos A e B. Resp.5, 3Ω 

Figura 1.19: Circuito do exercício 1.7.

1.7 Geradores
Nos tópicos anteriores já mencionamos que os geradores fornecem a energia elétrica para um
determinado circuito, e agora vamos aprofundar um pouco no seu funcionamento. Nós podemos
definir um gerador como:

Definição: Podemos definir um gerador como sendo qualquer dispositivo na qual transforma um
determinado tipo de energia em energia elétrica.

Como exemplo temos os geradores mecânicos, que podem ser as usinas hidroelétricas ou também
motores movidos a combustível. Temos também os geradores químicos que correspondem as pilhas
e baterias comuns, os geradores luminosos que correspondem as células foto-voltaicas. Além disso,
temos os geradores térmicos, que produzem energia elétrica através da conversão de energia térmica
em elétrica.
Em termos gerais todos eles possuem características semelhantes, ou seja, quando não estão em
funcionamento existe uma força eletromotriz (fem) em seus terminais. Quando ligamos o gerador
em um circuito a corrente elétrica irá fluir através do gerador, e a diferença de potencial U fornecida
pelo gerador será menor que a força eletromotriz que ele tinha antes da ligação. Isso acontece porque
todo gerador possui internamente uma resistência elétrica. Portanto, não importa a fonte primária do
22 Associação de Resistores

gerador, seja ela mecânica, química, luminosa ou térmica, todos eles apresentam essas características
uns de forma mais acentuada do que outros. De agora em diante vamos denotar ε como sendo a
força eletromotriz (fem), U a ddp fornecida pelo gerador e r a sua resistência interna. Vamos
representá-lo nos circuitos pela seguinte simbologia representada na figura 1.20. Essa simbologia

Figura 1.20: Esquemático simbólico dos geradores de tensão contínua.

se refere apenas a geradores de tensão contínua, com relação a geradores de tensão alternada a
simbologia é outra. No entanto iremos estudar apenas os geradores que proporcionam uma corrente
elétrica contínua.

1.7.1 Equação Característica do Gerador


A equação do gerador é uma expressão que fornece o valor da ddp U nos terminais do gerador,
quando este é ligado em um circuito.

Definição: A força eletromotriz (fem) é definida como sendo a razão entre a energia não elétrica
(mecânica, química, luminosa ou térmica) transformada em elétrica por unidade de tempo pela
corrente que o atravessa. Em outras palavras, é a razão entre a potência total fornecida pelo
gerador pela corrente que flui através dele.
Ptotal
ε= . (1.26)
I
Como já mencionamos anteriormente durante a transformação das energias em elétrica num gerador
ocorrem perdas de energia devido a resistência interna do gerador. Portanto, podemos definir a
potência útil do gerador por

Definição: a potência útil do gerador PU é definida como sendo o balanço energético entre a
potência total e a potência dissipada PD .

PU = Ptotal − PD . (1.27)

Substituindo na equação 1.27 as definições já vistas de potência podemos reescrevê-la

PU = Ptotal − PD → U · I = εI − r · I 2 . (1.28)
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 23

1.7.1 — Equação do Gerador. Dividindo ambos os termos da equação 1.28 pela corrente
elétrica I a equação do gerador pode ser escrita de forma algébrica como:

U = ε − r · I. (1.29)

OBSERVAÇÔES:
1ª) A ddp entre os polos A e B do gerador é sempre menor que a fem.
2ª) O gerador é chamado de ideal quando não possui resistência interna (r=0), embora na prática
ele não exista!
3ª) Por convenção adotamos a corrente elétrica interna do gerador como sendo do polo positivo
para o negativo.

1.7.2 Curva Característica do Gerador


Vamos fazer uma análise do comportamento gráfico da ddp U nos terminais do gerador. De
acordo com a equação 1.29 do gerador podemos observar que a medida em que a corrente elétrica
aumenta maior será a dissipação interna do gerador proporcionado uma ddp U em seus terminais
cada vez menor. Graficamente podemos considerar os dois extremos do funcionamento do gerador,
ou seja, quando ele está desligado do circuito (U = ε) e em curto (U = 0). Outro fato a ser ressaltado
é que a equação do gerador é linear como função da corrente, então o gráfico será uma reta que
está representada na figura 1.21 abaixo. Pelo comportamento do gráfico vemos que realmente a ddp

Figura 1.21: Curva Característica do Gerador.

U diminui com o aumento da corrente I. É por esse motivo que em algumas residências quando
ligamos o chuveiro notamos que e luminosidade da lâmpada do banheiro diminui, pois a dissipação
do gerador aumenta fornecendo menor ddp U tanto para lâmpada quanto para o chuveiro.

1.7.3 Rendimento do Gerador


O rendimento de um gerador está relacionado com a potência útil fornecida por ele em relação a
sua potência total máxima sem desperdício, ou seja, antes dele ser ligado ao circuito.
24 Associação de Resistores

1.7.2 — Rendimento do Gerador. Fazendo uma regra de três simples correspondendo a


potência total a 100% e a potência útil ao rendimento η chegamos a expressão do rendimento do
gerador:
U
η= × 100%. (1.30)
ε
Englobando o gerador real com o ideal podemos verificar que 0% ≤ η ≤ 100%.

A potência máxima transferida ao circuito externo pelo gerador ocorre quando a ddp U entre os
seus terminais é igual a metade da sua fem. Outra conclusão que pode ser tirada disso é que para que
isto aconteça é necessário que a resistência interna do gerador deve ser igual a do circuito na qual
ele será ligado. Além disso, nessa condição de máxima transferência de potência o rendimento do
gerador é sempre de 50%.

Exercício 1.8 Considere um gerador padrão U = ε − r · I ligado a um resistor R apenas. Prove


tudo que dissemos no último parágrafo escrito acima deste exercício. 

Para resumirmos tudo que foi falado sobre geradores no ponto de vista prático para a análise
de circuitos podemos considerar a resistência interna do gerador como sendo mais um resistor
no circuito aonde ele estiver ligado e considerar a fem como a ddp fornecida em seus terminais.
Portanto, é bem simples no ponto de vista prático. Tente fazer o exercício a seguir e verás como é
simples.

Exercício 1.9 No circuito representado na figura 1.22 temos um gerador com uma fem igual a
30V e uma resistência interna cujo valor é 2Ω ligado a um conjunto de resistores R1 , R2 e R3 .
Determine:
a) a intensidade da corrente elétrica que percorre o gerador AB;Resp.3, 0A
b) a ddp entre os pontos C e D;Resp.6, 0V
c) a intensidade da corrente elétrica que percorre os resistores R2 e R3 ;.Resp.I2 = 2, 0A e I3 = 1, 0A
d) a ddp fornecida pelo gerador nessa ligação;Resp.24, 0V
e) o rendimento do gerador nessa ligação;Resp.80%
f) esboce a curva característica do gerador. 

Figura 1.22: Circuito do exercício 1.9.


Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 25

1.8 Leis de Kirchhoff


1.8.1 Considerações Iniciais
Para fecharmos este capítulo vamos fazer a nossa última abordagem em relação aos circuitos
elétricos. A premissa do nosso capítulo leva o nome dele associação de resistores. Aqui, vamos ser
um pouco mais generalista e dizer que um circuito elétrico pode ser caracterizado por um conjunto
de componentes eletrônicos tais como: geradores, resistores, receptores e etc, que ligados de alguma
forma permitem um caminho para a passagem da corrente elétrica.
Queremos enfatizar que apesar de termos citado os receptores não abordaremos o assunto deles
aqui. Mas para não passar em branco podemos dizer que um receptor é um dispositivo que transforma
a energia elétrica em outra forma de energia, que não seja somente a térmica. Talvez o principal
receptor seja o motor elétrico, pois através dele transformamos a energia elétrica em mecânica
com diversas aplicações, como por exemplo, ventiladores, liquidificadores geladeiras e etc. Eles
também possuem uma equação característica. Eles têm como característica principal uma força
contra eletromotriz (fcem), uma curva característica e também um rendimento.
No ponto de vista prático na teoria e análise de circuitos um receptor tem as mesmas particularidades
do gerador, a diferença está na forma de como a corrente elétrica chaga nos seus terminais. Inclusive
um gerador pode ser um receptor em um circuito dependendo de como ele está ligado. Na simbologia
do circuito apresentamos a diferença entre os geradores e receptores na figura 1.23. Note que na

Figura 1.23: Simbologia de um gerador e de um receptor.

simbologia a única diferença é que a corrente do circuito sai do polo positivo do gerador e no
receptor ela chega no polo positivo. Dai para frente o circuito é analisado como um outro qualquer,
portanto é bastante simples!
Bom depois de tudo isso vamos falar exatamente sobre as Leis de Kirchhoff último assunto deste
capítulo. As Leis de Kirchhoff são usadas para determinar as correntes elétricas que percorrem um
circuito mais complexo com várias ramificações constituídas por diversos resistores, receptores e
geradores. Antes de falarmos das Leis de Kirchhoff temos que definir algumas coisas importantes em
um circuito elétrico. Para facilitar essas definições vamos considerar um circuito elétrico qualquer,
que pode ser visualizado na figura 1.24.
26 Associação de Resistores

Figura 1.24: Circuito elétrico com dois nós resistores, geradores e receptores.

Nesse circuito genérico da figura 1.24, temos E1 , E2 , E3 e E4 , que podem ser geradores ou
receptores dependendo do sentido da corrente elétrica que passa por eles. Aqui, estamos admitindo
que todos são ideais, mas poderia não ser. Temos também os resistores R1 , R2 , R3 e R4 , que alguns
deles poderiam ser as resistências internas dos geradores caso não fossem ideais. E por fim o mais
importante nesse momento para as nossas definições, que são os pontos destacados no circuito A, B,
C, D, E e F. Então, baseado nesses pontos temos as seguintes definições fundamentais.

DEFINIÇÔES:

Nó→ é qualquer ponto do circuito que é comum a três ou mais condutores ou dispositivos,
onde proporciona uma ramificação do circuito disponibilizando a passagem da corrente elétrica
por diversos caminhos. No circuito da figura 1.24 temos dois nós nos pontos B e E.

Ramo→ é qualquer trecho do circuito compreendido entre dois nós consecutivos. A identificação
dos ramos é importante, pois o número de ramos é igual a quantidade de correntes elétricas, ou
seja, em cada ramo passa somente um valor de corrente. No circuito da figura 1.24 do exemplo
temos três ramos entre os nós B e E são eles: o ramo BCDE, o BE e o BAFE.

Malha→ é qualquer conjunto de ramos formando um circuito fechado, ou seja, inicia e termina
no mesmo ponto. No circuito da figura 1.24 temos três malhas são elas: ABEFA, BCDEB e
ABCDEFA.
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 27

1.8.2 As Leis de Kirchhoff


As Leis de Kirchhoff são usadas para determinar as correntes elétricas em cada ramo dos circuitos
mais complicados. É claro que conhecendo as correntes elétricas e o valor dos resistores ou dos
receptores podemos determinar as quedas de tensão (ddp’s) em cada um dos componentes do circuito
usando a Lei de Ohm. Consequentemente calcularmos também as potências dissipadas em cada um.
Considerando o princípio da conservação da carga elétrica, Gustav Kirchhoff anunciou a seguinte
lei:
1.8.1 — Primeira Lei de Kirchhoff. A soma das intensidades das correntes elétricas que chegam
em um nó é igual à soma das intensidades das correntes que saem do mesmo nó.

Como exemplo, para esta primeira lei, observe a figura 1.25 e veja que as correntes elétricas i1 e
i2 estão chegando no nó, enquanto que as correntes i3 e i4 estão saindo do nó. Portanto, para este
exemplo temos a seguinte expressão baseada na primeira lei de Kirchhoff i1 + i2 = i3 + i4 .

Figura 1.25: Lei dos nós.

Considerando agora que para um mesmo ponto do circuito a ddp é sempre nula Kirchhoff enunciou
a seguinte lei:

1.8.2 — Segunda Lei de Kirchhoff. Se percorrermos uma malha do circuito num mesmo sentido
a soma das tensões encontradas em cada elemento do circuito é sempre igual a zero.

Para a segunda lei de Kirchhoff temos algumas regras básicas na convenção de sinais. Quando
percorremos uma malha, na análise do circuito, o sentido para percorrer é arbitrário, ou seja, pode
ser tanto no sentido horário quanto no anti-horário. Uma vez estabelecido esse sentido, que vamos
chamar de β , temos as seguintes convenções de sinais para as ddp’s dos geradores e receptores,
podem ser visualizadas na figura 1.26.

Figura 1.26: Convenção de sinais para geradores e receptores.


28 Associação de Resistores

Já para os resistores além de conhecermos o sentido do β arbitrário é necessário conhecer também


o sentido da corrente elétrica que atravessa o resistor. Assim, as diferenças de potenciais em cada
um deles obedecem as seguintes regras de sinais, que podem ser vistas na figura 1.27. De uma

Figura 1.27: Convenção de sinais para os resistores.

forma geral, quando β tem o mesmo sentido da corrente elétrica que passa no resistor o produto
R · I > 0 é positivo, e quando tem sentidos contrários o produto R · I < 0 é negativo. Como macete
para os geradores e receptores você pode adotar a mesma convenção levando em consideração a
corrente elétrica interna dos geradores e receptores. Em outras palavras, adote o sentido da corrente
convencional internamente como sendo do polo positivo para o negativo.

1.8.3 Análise de Circuito com Base nas Leis de Kirchhoff


Nesse último tópico vamos descrever o passo a passo para a análise de circuitos baseada nas Leis
de Kirchhoff. Dessa forma devemos seguir os seguintes etapas:
1ª Etapa→ Identificar os nós e as malhas do circuito. Normalmente, os nós são identificados
pelas letras A, B, C, ... e as malhas como β , α, γ e etc.

2ª Etapa→ Atribuir a cada ramo do circuito um sentido para a corrente elétrica. Que pode
a princípio ser adotado o sentido convencional da corrente elétrica criada pelos geradores.

3ª Etapa→ Sendo n o número de nós, aplica-se a primeira Lei de Kirchhoff a (n − 1) nós.

4ª Etapa→ Adotamos um sentido arbitrário que pode ser o horário ou anti-horário, ou até
mesmo ambos, para aplicação da segunda lei de Kirchhoff. O número de equações (análise das
malhas) deve ser tal que juntamente com o passo da terceira etapa constitua um conjunto de
equações para a solução do sistema.

5ª Etapa→ Solução do sistema para a obtenção dos valores das correntes elétricas e análise
correta dos sentidos delas em cada ramo.
Para uma melhor aprendizagem e fixação do conteúdo sugiro que seja feito o exercício a seguir.

Exercício 1.10 No circuito representado na figura 1.28 determine os valores e sentidos das
correntes elétricas em cada ramo do circuito. 
Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 29

Figura 1.28: Figura do exercício 1.10.

Chegamos ao final de mais um capítulo convido você agora a responder o questionário e em


seguida resolver os problemas propostos neste capítulo. Desejo a você bons estudos!

1.9 Questinário
 Pergunta 1.1 Cite algumas aplicações dos resistores, que se baseiam no Efeito Joule.


 Pergunta 1.2 O que é o Efeito Joule?




 Pergunta 1.3 Cite outras aplicações dos resistores em circuitos eletrônicos.




 Pergunta 1.4 O que é uma resistência total ou equivalente de uma associação de resistores?


 Pergunta 1.5 Quais são as principais características da associação de resistores em série?




 Pergunta 1.6 Quais são as principais características da associação de resistores em paralelo?




Pergunta 1.7 Quando temos n resistores ligados em paralelo como podemos calcular a resistência
equivalente de forma mais rápida?


 Pergunta 1.8 O que é um curto-circuito?



30 Associação de Resistores

 Pergunta 1.9 O que é um galvanômetro?




 Pergunta 1.10 O que é um amperímetro e um voltímetro?




 Pergunta 1.11 O que é um resistor de shunt?




 Pergunta 1.12 Qual característica de ter um amperímetro para que seja considerado como ideal?


 Pergunta 1.13 Qual característica de ter um voltímetro para que seja considerado como ideal?


 Pergunta 1.14 O que é uma resistência multiplicadora?




 Pergunta 1.15 O que é uma ponte de Wheatstone?Para que serve esta configuração?


 Pergunta 1.16 O que é uma ponte de fio?




 Pergunta 1.17 O que são geradores? Cite exemplos de geradores.




 Pergunta 1.18 O que acontece com a ddp útil fornecida pelos geradores, quando a corrente
elétrica aumenta?


 Pergunta 1.19 Qual é a relação entre a ddp útil e a fem de um gerador quando ele fornece a
potência máxima?


 Pergunta 1.20 Qual é o rendimento de um gerador quando fornece sua potência máxima?


 Pergunta 1.21 Qual é a relação entre a resistência interna de um gerador com a resistência
equivalente de um circuito para que sua potência seja máxima nesse circuito?


 Pergunta 1.22 O que são receptores?




 Pergunta 1.23 O que é um nó em um circuito elétrico?




 Pergunta 1.24 O que é um ramo em um circuito elétrico?




 Pergunta 1.25 O que é uma malha em um circuito elétrico?




 Pergunta 1.26 Como determinamos o número de correntes elétricas em um circuito?



Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 31

 Pergunta 1.27 Enuncie as Leis de Kirchhoff.




 Pergunta 1.28 Quais as etapas que devem ser seguidas para a análise de um circuito baseada nas
leis de Kirchhoff?


1.10 Problemas
Problema 1.1 Considerando a circuito da figura 1.29 determine:
a) a resistência equivalente do circuito;
b) a corrente total e a corrente em cada resistor;
c) a queda de tensão em cada resistor;
d) a potência dissipada por cada resistor.

Figura 1.29: Figura do problema 1.1.

Problema 1.2 Considerando a circuito da figura 1.30 determine:


a) a resistência equivalente do circuito;
b) a corrente total e a corrente em cada resistor;
c) a queda de tensão em cada resistor;
d) a potência dissipada por cada resistor.

Figura 1.30: Figura do problema 1.2.


32 Associação de Resistores

Problema 1.3 Determine a resistência equivalente medida nos terminais AB.

Figura 1.31: Figura do problema 1.3.

Problema 1.4 Determine a resistência equivalente medida nos terminais AB.

Figura 1.32: Figura do problema 1.4.

Problema 1.5 Determine a resistência equivalente medida nos terminais P e Q nos casos da figura
1.33.

Figura 1.33: Figura do problema 1.5.


Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 33

Problema 1.6 No circuito da figura 1.34 determine:


a) a resistência equivalente;
b) a ddp aproximada no resistor R4;
c) a tensão da bateria.

Figura 1.34: Figura do problema 1.6.

Problema 1.7 No circuito da figura 1.35 os resistores R1=500Ω, R2=8,2KΩ, R3=10KΩ e E=20V.
Calcule a tensão, a corrente e a potência dissipada em cada resistor.

Figura 1.35: Figura do problema 1.7.

Problema 1.8 No circuito da figura 1.36 encontre a potência dissipada pelo resistor R5 sabendo
que I1 =120mA, E=24V e os resistores tem valores iguais a R1=R3=R4=R5=100Ω e R2=150Ω.

Figura 1.36: Figura do problema 1.8.


34 Associação de Resistores

Problema 1.9 No circuito da figura 1.37 determine:


a) a intensidade da corrente elétrica que percorre o gerador AB;
b) a diferença de potencial enter os pontos C e D;
c) a intensidade da corrente nos resistores R2 e R3.

Figura 1.37: Figura do problema 1.9.

Problema 1.10 No circuito da figura 1.38 considere o gerador como sendo ideal. Calcule o valor
de R2, para que a lâmpada L opere nas especificações 3W e 6V.

Figura 1.38: Figura do problema 1.10.

Problema 1.11 No circuito da figura 1.39 determine o valor da resistência elétrica do resistor que
deve ser ligado nos pontos X e Y, para que a corrente que passa em R1 seja de 0,3A.

Figura 1.39: Figura do problema 1.11.


Capítulo 1 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 35

Problema 1.12 No circuito da figura 1.40 temos um gerador de fem igual a 36V como uma
resistência interna de 1Ω alimentando um resistor de 17Ω. Determine:
a) a potência elétrica útil do gerador;
b) a potência elétrica desperdiçada;
c) o rendimento do gerador.

Figura 1.40: Figura do problema 1.12.

Problema 1.13 No circuito da figura 1.41 determine o sentido e o valor de todas as corrente elétricas
em cada ramo do circuito.

Figura 1.41: Figura do problema 1.13.

Problema 1.14 No circuito da figura 1.42 determine o valor da leitura do amperímetro.

Figura 1.42: Figura do problema 1.14.


36 Associação de Resistores

Problema 1.15 No circuito apresentado, onde os geradores ou receptores elétricos são ideais,
verifica-se que, ao mantermos a chave K aberta, a intensidade de corrente assinalada pelo amperímetro
ideal A é i = 1 A. Ao fecharmos essa chave K, qual será a intensidade de corrente assinalada pelo
amperímetro?

Figura 1.43: Figura do problema 1.15.


2. Campo Magnético

Vamos iniciar, agora, o estudo do Eletromagnetismo. Veremos, por exemplo, que a corrente
elétrica, além de produzir efeitos em um fio condutor, também afeta o espaço ao redor dele. A
tecnologia disponível no mundo atual está em grande parte fundamentada no Eletromagnetismo. Por
exemplo, motores em geral, dos mais delicados, que fazem funcionar tocadores de CD, até aqueles de
grande porte, que movem indústrias e locomotivas, têm seu princípio de funcionamento relacionado
a fenômenos eletromagnéticos. Esse assunto é bem abrangente. Para termos uma ideia, abordaremos,
por exemplo, o princípio de funcionamento da campainha elétrica, dos galvanômetros analógicos,
dos microfones, das usinas geradoras de energia elétrica tais como: as hidrelétricas, as termelétricas
e nucleares, dos transformadores de tensão, dos cartões magnéticos, das antigas fitas magnéticas
de áudio e vídeo, dos espectrômetros de massa, que são equipamentos usados na determinação
de massas atômicas e na separação dos isótopos dos elementos químicos, e dos aceleradores de
partículas que são destinados ao bombardeamento de núcleos atômicos, o que causa o aparecimento
de novas partículas que ajudam a desvendar os mistérios da estrutura da matéria.
O estudo do Eletromagnetismo também nos possibilita entender o comportamento dos ímãs e
a ocorrência das auroras boreais polares. Na Medicina moderna, sua aplicação no diagnóstico por
imagem, como a ressonância magnética nuclear, é muito importante.

2.1 Imãs
Provavelmente você já manuseou um ímã e pôde observar que ele atrai alguns materiais, como,
por exemplo, o ferro.
As regiões de um ímã em que as ações magnéticas são mais intensas são chamadas de polos
magnéticos. Em geral, um ímã tem dois polos. Os polos dos ímãs em forma de barra, por exemplo,
localizam-se, mais comumente, em suas extremidades.
38 Campo Magnético

Se você manusear dois ímãs de polos magnéticos conhecidos, facilmente descobrirá que: os polos
magnéticos de mesmo nome se repelem e polos magnéticos de nomes diferentes se atraem.

Figura 2.1: Em a e b, os ímãs se repelem, pois polos de mesmo nome estão próximos: norte-norte e
sul-sul, respectivamente. Em c, os ímãs se atraem, já que polos de nomes diferentes estão próximos.

Esse fato leva-nos a concluir que, se o polo norte magnético da agulha da bússola aponta para
o polo norte geográfico, é porque no polo norte geográfico existe um polo sul magnético. Da
mesma forma, no polo sul geográfico existe um polo norte magnético.
Salientamos ainda que, na verdade, os polos geográficos e os polos magnéticos da Terra não
estão exatamente no mesmo local. Foi por isso que dissemos anteriormente que a agulha da bússola
indica aproximadamente a direção norte-sul geográfica.

Figura 2.2: O polo sul magnético da Terra encontra-se no Canadá, a cerca de 1300 km do polo norte
geográfico, e seu polo norte magnético está na costa do continente antártico. Dessa maneira, a Terra
se comporta aproximadamente como o ímã representado, que forma cerca de 11° com a direção
norte-sul geográfica. (Ilustração com elementos sem proporção entre si e em cores fantasia).

Em 1750, o geólogo e astrônomo inglês John Michell (1724-1793) usou uma balança de torção,
que ele mesmo inventou, para investigar as forças de campo entre polos magnéticos de ímãs e
Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 39

elaborou a seguinte lei: Dois polos magnéticos se atraem ou se repelem na razão inversa do quadrado
da distância que os separa.

Figura 2.3: Dobrando a distância entre os polos, a intensidade das forças reduz-se a um quarto do
valor inicial.

A experiência mostra que é impossível separar os polos magnéticos de um ímã. Isso significa
que é impossível obter um pedaço de ímã que tenha só o polo norte magnético ou só o polo sul
magnético. De fato, quando dividimos um ímã ao meio, obtemos dois outros ímãs, cada um com
seus próprios polos norte e sul. Se dividirmos ao meio esses dois novos ímãs, obteremos quatro ímãs
também com seus próprios polos norte e sul e assim sucessivamente. Observe a figura 2.4.

Figura 2.4: Inseparabilidade dos polos magnéticos.

2.2 O Campo Magnético de um Imã


Um ímã, cria uma região de influências ao seu redor que são significativas tanto para outros ímãs
como também para alguns materiais, como o ferro, o cobalto, o níquel e algumas ligas. Essa região é
chamada de campo magnético. O campo magnético de um ímã também é descrito por um vetor.
Esse vetor é denominado vetor indução magnética, e é simbolizado por ~B. Por enquanto, veremos
apenas a direção e o sentido de B, mais para frente abordaremos a sua intensidade.
40 Campo Magnético

Figura 2.5: Direção e sentido do vetor campo magnético ~B.

Na figura 2.5, uma bússola se encontra sob a ação do campo magnético de um ímã. Suponha
desprezíveis outros eventuais campos magnéticos na região, inclusive o da Terra. O vetor indução
magnética B, criado pelo ímã, na posição em que a bússola está, com sua agulha em equilíbrio
estável, tem a seguinte orientação:

Direção: da reta r com a qual a agulha se alinha.


Sentido: para onde aponta o polo norte magnético da agulha.

Então, se conhecermos o vetor indução magnética em determinado local, saberemos também como a
agulha da bússola vai se estabilizar naquele local:

Figura 2.6: Direção e sentido do vetor campo magnético ~B.


Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 41

Suponhamos, agora, um ímã e várias bússolas bem pequenas ao seu redor, todos sobre uma mesa,
como mostra a figura 2.7 a seguir. Podemos traçar linhas de um polo a outro do ímã, de modo que
elas tangenciem as agulhinhas das bússolas.

Figura 2.7: Direção e sentido das agulhas de bússolas colocadas na proximidade de um íma.

Essas linhas são denominadas linhas de indução do campo magnético do ímã; na região
externa ao ímã, elas são orientadas convencionalmente do polo norte para o polo sul, como mostra a
figura 2.8 a seguir. Desse modo, o vetor B, que tangencia essas linhas em cada um de seus pontos,
tem sentido concordando com o das linhas. Na região externa a um ímã, as linhas de indução

Figura 2.8: Direção e sentido do vetor campo magnético ~B.

orientam-se do polo norte para o polo sul. Para a visualização das linhas de indução, também
podemos utilizar limalha de ferro. Se colocarmos um ímã debaixo de uma placa de papelão, plástico
ou madeira fina e, em seguida, pulverizarmos limalhas de ferro por toda a placa. Você verá, então, a
42 Campo Magnético

Figura 2.9: Linhas de indução do ímã obtidas experimentalmente.

configuração de linhas de indução mostrada na figura 2.9, denominada padrão do campo magnético.
Nessa verificação experimental, cada fragmento da limalha de ferro imanta-se na presença do campo
magnético do ímã, comportando-se como uma minúscula agulha magnética. A limalha de ferro
também é útil para observarmos o padrão do campo magnético de ímãs com outros formatos. As
linhas de indução do campo magnético de um ímã não existem apenas na região externa a ele, mas
também em seu interior. Portanto, essas linhas são fechadas. Observe que, como na região externa

Figura 2.10: Linhas de indução do ímã.

ao ímã a orientação dessas linhas foi convencionada de norte para sul, elas se orientam de sul para
norte na região interna. As linhas de indução de um campo magnético não podem se cruzar. Se isso
acontecesse, o vetor B teria duas orientações possíveis no cruzamento, o que é absurdo, ou seja,
teríamos um vetor com duas direções. Você deve se lembrar de que essa mesma proibição existe com
Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 43

relação às linhas de força de um campo elétrico. Ao representar um conjunto de linhas de indução, a


concentração dessas linhas (densidade de linhas) é maior onde o campo magnético é mais intenso.
Confirme isso, observando a concentração das linhas de indução nas proximidades dos polos do ímã.

2.3 Campo magnético uniforme


O campo magnético uniforme é aquele em que o vetor indução magnética ~B tem o mesmo
módulo, a mesma direção e o mesmo sentido em todos os pontos do meio. Embora possam ser
desenhadas em todos os pontos do campo, as linhas de indução de um campo magnético uniforme
são representadas por algumas linhas retas paralelas entre si e igualmente orientadas. Além disso,
elas são traçadas com espaçamentos iguais para indicar que a intensidade do campo é igual em toda
a região.

Figura 2.11: Em um campo magnético uniforme, as linhas de indução são representadas por linhas
retas paralelas, igualmente espaçadas e com a mesma orientação.

Imaginemos um campo magnético uniforme em que as linhas de indução são perpendiculares


ao plano da página. Se o sentido do campo for para fora do papel, ele será representado por um
conjunto de pontos uniformemente distribuídos, como representa a figura 2.12 a seguir.

Figura 2.12: Campo magnético perpendicular a página saindo do papal.


44 Campo Magnético

Se ocorrer o contrário, isto é, se o sentido do campo for para dentro do papel, ele será representado
por um conjunto de “cruzinhas” também uniformemente distribuídas, conforme a figura 2.13 a seguir.
Esses pontos (•) e essas “cruzinhas” (X) também podem ser usados para representar um campo

Figura 2.13: Campo magnético perpendicular a página entrando do papal.

magnético não uniforme e quaisquer outras grandezas vetoriais, e até mesmo correntes elétricas
“saindo” ou “entrando” no papel.

2.4 Força Magnética sobre uma carga elétrica


Os portadores de carga elétrica, como o próton e o elétron, possuem uma propriedade física, de
interagir com campos magnéticos, submetendo-se a uma força magnética F~m .
Vamos supor, por enquanto, que as partículas eletrizadas se submetam a campos magnéticos
estacionários, isto é, a campos magnéticos em que o vetor ~B é, em cada ponto do campo, invariável
no tempo. Esses campos são chamados de magnetostáticos, e podem ser produzidos por ímãs
permanentes e correntes elétricas contínuas e constantes.
Para estudar a força magnética F~m numa partícula eletrizada com carga q, vamos supor que ela
esteja com velocidade ~v em relação a um referencial R, numa posição em que se submete a um
campo magnético estacionário, cujo vetor indução magnética,nesse mesmo referencial R, é igual a ~B.
A força magnética F~m que atua sobre a carga elétrica só se manifesta quando a velocidade ~v
do portador de carga elétrica não é nula e, além disso, tem direção diferente da do vetor indução
magnética ~B.
Agora imagine o seguinte experimento, para isto considere um canhão de prótons que está
acoplado a um tubo de vidro em que se fez o vácuo. Sua extremidade mais larga é uma tela recoberta
internamente com material fluorescente, de modo que o ponto atingido pelos prótons se torna
luminescente. Na verdade o que estamos tentando descrever para você, é o que chamamos de tubo
de raios catódicos, ou seja, os antigos tubos de televisão, como pode ser visualizado na figura 2.14.
Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 45

Figura 2.14: Tubo de raios catódicos.

Na ausência do ímã representado na figura 2.14, e de outras forças relevantes, os prótons emitidos
pelo canhão movem-se sensivelmente em linha reta, com velocidade ~v em relação ao laboratório,
atingindo o ponto P da tela. Na presença do ímã, entretanto, a trajetória modifica-se, e os prótons
0
desviam-se para cima, atingindo P . Concluímos, então, que o campo magnético atua nos prótons
provocando uma força magnética F~m .
Esse experimento revela que, embora os prótons se desviem verticalmente para cima, o módulo
de suas velocidades permanece o mesmo. Assim, a força magnética F~m que o campo magnético faz
surgir em cada próton do feixe deve ter direção perpendicular ao plano definido pelos vetores ~B e ~v e
sentido para cima.
Se substituirmos o canhão de prótons por um de elétrons e repetirmos o experimento descrito
anteriormente, vamos observar que os elétrons se desviam para baixo. Isso significa que a força
magnética F~m tem sentido para baixo.
Experimentos mostram que, em determinado campo magnético, a intensidade dessa força
é proporcional ao módulo da carga elétrica, e ao módulo da velocidade da partícula, quando a
velocidade é perpendicular ao campo magnético.
Se a velocidade ~v da partícula eletrizada formar com o vetor indução magnética ~B um ângulo θ
qualquer, podemos determinar as componentes de ~v na direção de ~B e na direção perpendicular a ~B.
A componente paralela da velocidade v// tem a mesma direção de ~B e, como já vimos, não
provoca o surgimento da força magnética. A componente |~v| sin θ é perpendicular a B e, portanto,
faz surgir uma força magnética fornecida pela seguinte equação:
46 Campo Magnético

2.4.1 — Força Magnética sobre uma carga elétrica.

|F~m | = |q||~v||~B| sin θ . (2.1)

No Sistema Internacional de unidades, a unidade de medida da intensidade de do campo magnético


~B é o tesla (T), e podemos dizer que: um tesla (1 T) é a intensidade de um campo magnético
uniforme em que uma partícula hipoteticamente eletrizada com carga igual a 1 C, movendo-se
com velocidade de 1 m/s, perpendicularmente ao campo, submete-se a uma força magnética de 1
N de intensidade.

É importante ressaltar que se o ângulo θ entre a velocidade ~v e o campo magnético ~B for igual a
(θ = 0 ou θ = 180), ambos os valores levam o seno ter o valor igual a zero, e portanto não temos o
aparecimento da força magnética F~m . Isso corresponde ao fato da velocidade ser paralela ao campo
magnético. Por outro lado quando o ângulo for igual a 90° terremos o valor máximo para a força
magnética atuando sobre a carga elétrica.

2.4.1 Direção e sentido da força magnética sobre uma carga elétrica


Até aqui, vimos como calcular a intensidade F~m da força magnética estudada, e conhecemos
também a direção dessa força, que é perpendicular ao plano definido pelos vetores ~B e ~v.
Agora, vamos ver como determinar o sentido da força magnética. Para isso, usaremos uma regra
prática, denominada regra da mão direita espalmada, que está de acordo com as observações
experimentais.
Considere uma partícula dotada de carga positiva q, movimentando-se com uma velocidade ~v
num campo de indução magnética ~B e submetendo-se a uma força magnética F~m .
Para determinar o sentido dessa força, aponte, com a mão direita espalmada, o polegar no sentido
da velocidade ~v e os outros dedos no sentido de ~B. A força F~m será, então, perpendicular à palma da
mão, “saindo” dela, como é mostrado na figura 2.15. Se a carga for negativa, a força magnética

Figura 2.15: Regra da mão direita.

terá sentido oposto ao que teria se a carga fosse positiva. Nesse caso, a força também é perpendicular
à palma da mão, mas “entrando” nela. Isto é o mesmo que dizer que a regra se aplica para mão
esquerda.
Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 47

2.4.2 Quando a velocidade é perpendicular ao campo magnético


Considere um campo magnético uniforme e constante, perpendicular a esta página e apontando
para você. Uma partícula de massa m, dotada de carga positiva q, é lançada perpendicularmente ao
campo. Como a força magnética F~m é perpendicular à velocidade ~v, o movimento da partícula é

Figura 2.16: Uma carga elétrica positiva penetrando numa região de campo magnético.

uniforme: F~m só pode modificar a direção de~v fazendo a partícula descrever uma trajetória curvilínea
plana. Sendo F~m uma força centrípeta, e o ângulo θ , entre ~B e ~v, igual a 90º, podemos escrever:

m|~v|2 m|~v|
|Fm | = |Fc | → |q||~v||~B| sin 90o = → |q||~B| = ,
R R
m|~v|
R= . (2.2)
|q||~B|

Como os valores de m, |~v|, |q| e |~B| são os mesmos em todos os pontos da trajetória da partícula,
o raio de curvatura R dessa trajetória também é igual em todos os pontos. Por isso, a curva plana
descrita pela partícula é uma circunferência. Portanto, podemos concluir que:

Figura 2.17: Uma carga elétrica positiva penetrando numa região de campo magnético.
48 Campo Magnético

Quando um portador de carga elétrica é lançado perpendicularmente a um campo magnético


uniforme e constante, ele realiza um movimento circular e uniforme de raio R, dado por

m|~v|
R= .
|q||~B|

O período de rotação da carga na presença do campo magnético pode ser determinado como

m|~v| |q||~B|R
R= → |~v| = (2.3)
|q||~B| m

Como o período (T) é o tempo para uma volta completa, e a volta tem uma distância de 2πR,
podemos escrever a velocidade da partícula

∆θ 2πR
|~v| = → |~v| = (2.4)
∆t T

Igualando as equações 2.3 e 2.4 obtemos o período da carga girando no campo magnético
como
2πm
T= (2.5)
|q||~B|

Observe, na expressão obtida, que o período desse movimento não depende do valor da velocidade da
partícula nem do raio da circunferência. Isso acontece porque a alteração de ~v (veja a expressão 2.3)
acarreta uma alteração proporcional em R e, consequentemente, no perímetro 2πR da circunferência.
Assim, quanto maior for~v, maior será o comprimento da circunferência a ser percorrida pela partícula,
mas o período será o mesmo.
Esse fato tem grande importância nos aceleradores de partículas para bombardeamento de
núcleos atômicos.

2.4.3 Quando a velocidade ~v forma um ângulo θ qualquer com o campo magnético ~B


Como já vimos, a velocidade ~v com que a partícula é lançada admite uma componente de
velocidade (v// ), paralela ao campo magnético ~B, e uma outra componente v⊥ , perpendicular ao
campo ~B.

Figura 2.18: Uma carga elétrica positiva penetrando numa região de campo magnético.
Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 49

A componente v// não se altera, pois o campo magnético não influi em movimentos na sua
mesma direção. Portanto, nessa direção a partícula descreve um movimento retilíneo uniforme
(MRU), com velocidade de módulo igual a v// = |~v| cos θ .
Já a componente perpendicular v⊥ = |~v| cos θ gera um movimento circular uniforme (MCU)
contido em um plano perpendicular ao campo magnético ~B como pode ser visto na figura 2.19.

Figura 2.19: Uma carga elétrica positiva penetrando numa região de campo magnético.

O movimento resultante é, então, a composição do MRU com o MCU, que dá origem a um


movimento helicoidal e uniforme (MHU) como pode ser visto na figura 2.20.

Figura 2.20: Uma carga elétrica positiva penetrando numa região de campo magnético descrevendo
um movimento helicoidal.

A curva descrita pela partícula é denominada hélice cilíndrica, e o comprimento p indicado


na figura 2.20 é o passo da hélice, isto é, a distância que a partícula percorre na direção do campo
magnético, em MRU, durante um período T do MCU.
Um fenômeno natural que representa esse movimento helicoidal das cargas elétricas, quando
penetram numa região de campo magnético, é a aurora boreal e aurora austral. Além de ondas
eletromagnéticas, a atmosfera terrestre recebe do Sol partículas dotadas de carga elétrica (o “vento
solar”), com predominância de elétrons. Esses elétrons interagem com o campo magnético da Terra,
dirigindo-se para os polos. Veja na figura 2.21, o que acontece aproximadamente com dois dos
muitos elétrons que estão chegando do Sol.
Esses elétrons excitam o oxigênio (que então emite luz azul-esverdeada) e o nitrogênio (que
50 Campo Magnético

Figura 2.21: Constituição das auroras boreais e austrais.

emite luz avermelhada). Nas proximidades dos polos, isso dá origem a espetaculares colorações
no céu, denominadas auroras boreais, quando acontecem no Hemisfério Norte, e austrais, quando
acontecem no Hemisfério Sul.

Figura 2.22: Fotografia de uma aurora boreal.


Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 51

Problema 2.1 A figura 2.23 representa algumas linhas de indução de um campo magnético:
a) Copie a figura e desenhe o vetor indução magnética nos pontos A e B.
b) Em qual desses pontos o campo magnético é mais intenso?Justifique.

Figura 2.23: Figura do problema 2.1.

Problema 2.2 A figura 2.24 mostra os pontos cardeais (N, S, L e O), um ímã em forma de barra reta
e um ponto P nas proximidades do Equador terrestre. Sabendo que a intensidade do vetor indução
magnética criado pelo ímã no ponto P é 3 vezes a do vetor indução criado pela Terra nesse ponto,
determine a posição de equilíbrio estável da agulha de uma bússola colocada na região circular
tracejada. Suponha coincidentes as direções norte-sul geográfica e magnética.

Figura 2.24: Figura do problema 2.2.


52 Campo Magnético

Problema 2.3 Na figura 2.25, um elétron e um próton são atirados perpendicularmente a uma placa
retangular, disposta verticalmente e dividida em duas regiões. Antes de atingir a placa, porém, as
duas partículas passam entre os polos de um ímã. Na ausência do campo magnético do ímã, as
partículas atingiram o centro O da placa. Na presença do ímã, determine a região (I ou II) atingida:
a) pelo elétron;
b) pelo próton.

Figura 2.25: Figura do problema 2.3.

Problema 2.4 Uma partícula com carga negativa é lançada do ponto P, passando pelas regiões 2
e 1, onde existem campos magnéticos B ~2 e B~1 , perpendiculares ao papel, uniformes e constantes.
Supondo que as únicas forças atuantes na partícula sejam devidas aos campos B ~1 e B
~2 , responda:
~ ~
a) Quais são os sentidos de B1 e B2 : “entrando” ou “saindo” do papel?
b) Qual campo é mais intenso, B~1 ou B ~2 ?Justifique.
c) Compare os tempos para a partícula percorrer os arcos MN e ST, ∆tMN e ∆tST . Qual é o maior?
Justifique.

Figura 2.26: Figura do problema 2.4.


Capítulo 2 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 53

Problema 2.5 A figura 2.27 mostra as trajetórias seguidas por três partículas (elétron, próton
e dêuteron) lançadas de um mesmo ponto O, perpendicularmente às linhas de indução de um
campo magnético uniforme e constante ~B, todas com a mesma velocidade inicial V0 . Quais são,
respectivamente, as trajetórias descritas pelo próton, pelo dêuteron (partícula constituída por um
nêutron e um próton) e pelo elétron? Justifique.

Figura 2.27: Figura do problema 2.5.

Problema 2.6 O espectrômetro de massa é um instrumento usado na determinação de massas


atômicas e também na separação de isótopos de um mesmo elemento químico. A figura mostra
esquematicamente um tipo de espectrômetro. A fonte produz íons que emergem dela com carga 1e e
são acelerados por um campo elétrico não indicado na figura 2.28. As fendas F1 e F2 servem para
colimar o feixe de íons, isto é, para que prossigam apenas íons que se movem em uma determinada
direção. Os íons que passam pela fenda F2 invadem o seletor de velocidade, que é uma região onde
existem um campo elétrico e um campo magnético, ambos uniformes e constantes, perpendiculares
entre si e perpendiculares ao feixe de íons. Só prosseguem na mesma trajetória retilínea os íons que
têm determinada velocidade v. Os íons que atravessam a fenda F3 entram em movimento circular e
uniforme de raio R. Considerando E = 4, 0 × 103 N/C, B = 2, 0 × 10−1 T e R = 2, 0 × 10−2 m e sendo
e = 1, 6 × 10−19C, determine a massa do íon.

Figura 2.28: Figura do problema 2.6.


3. A origem do campo magnético

Em 1820, o físico dinamarquês Hans Christian Oersted (1777-1851), professor de Física da


Universidade de Copenhague, mostrou experimentalmente que um fio percorrido por corrente elétrica,
colocado nas proximidades de uma bússola, era capaz de provocar desvio na agulha magnética.
Dessa maneira, comprovou-se a relação existente entre eletricidade e magnetismo.

Figura 3.1: Experiência de Oersted.

Na figura 3.1 ilustramos a experiência de Oersted. O experimento consiste em um fio condutor


ligado a um conjunto de pilhas, em que inicialmente a chave está aberta, e uma bússola é alinhada
56 A origem do campo magnético

na direção do campo magnético da Terra próxima ao fio condutor. Ao fechar a chave a agulha da
bússola sofre um desvio apontando o norte da agulha para o campo magnético resultante. Portanto, é
possível concluir que a corrente elétrica gerada no fio cria um campo magnético nas proximidades
dele.
Conclusão: A origem do campo magnético é devida ao movimento de cargas elétricas, ou seja,
correntes elétricas, criam um campo magnético na região do espaço que as circunda.

Ampère mostrou também experimentalmente, pouco tempo depois dessa experiência de Oersted,
que um fio de cobre enrolado em forma de hélice cilíndrica, chamado solenoide (ou bobina), produzia
externamente os mesmos efeitos que um ímã em forma de barra reta quando nesse fio era estabelecida
uma corrente elétrica.
Neste momento, podemos questionar a origem do campo magnético de um ímã. Pois, para que
ele produza seu campo magnético, não é necessário que ele seja ligado a uma pilha ou a uma bateria,
ou seja, não precisamos fazer uma corrente elétrica passar por ele. Do ponto de vista clássico, a causa
do campo magnético de um ímã, entretanto, continua sendo as correntes elétricas: são pequeníssimas
correntes decorrentes do movimento dos elétrons dos átomos que constituem o ímã, como veremos
ainda nesse capítulo.

3.1 Campo magnético gerado por um fio retilíneo muito longo (infinito)
Na prática, quando nos referimos a “fio muito longo” ou “fio infinito”, estamos considerando as
regiões próximas do fio e bem afastadas de suas extremidades.
A figura 3.2 sugere um experimento em que será gerado um campo magnético supostamente
intenso o suficiente para podermos ignorar o campo magnético da Terra. Neste experimento um fio
retilíneo AB perfura perpendicularmente uma placa madeira. Esse fio está ligado a um gerador capaz
de produzir nele uma corrente elétrica de grande intensidade i. Veremos adiante que quanto maior
for a corrente elétrica maior será também o campo magnético gerado por ela.

Figura 3.2: Fio longo ligado a uma bateria.


Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 57

Se pulverizarmos limalha de ferro sobre a placa, poderemos observar a configuração das linhas
de indução do campo magnético gerado pelo fio como mostrado na figura 3.3 Observamos que as

Figura 3.3: Padrão do campo magnético gerado pela corrente elétrica em um fio retilíneo. Cada
partícula de ferro comporta-se como uma minúscula agulha imantada.

linhas de indução desse campo são circunferências dispostas em um plano perpendicular ao fio, todas
com centro nesse fio. Para descobrir o sentido dessas linhas de indução, usamos uma bússola em vez
de limalha de ferro. Deslocamos a bússola sobre a placa, mantendo-a sempre à mesma distância
do fio. Para facilitar essa operação, poderíamos, inicialmente, traçar na placa uma circunferência e,
depois disso, fazer o fio perfurar a placa no centro da circunferência traçada. Veja, na ilustração 3.4
a seguir, os posicionamentos da agulha. Lembrando que a agulha se alinha com o vetor ~B, criado

Figura 3.4: A bússola indica o sentido das linhas de indução.

pelo fio, com seu polo norte magnético apontando no sentido de B, descobrimos a orientação das
linhas de indução indicada na figura 3.5
58 A origem do campo magnético

Figura 3.5: O vetor ~B é, em cada ponto, tangente a uma linha de indução e tem o sentido indicado
por ela.

Uma regra prática para orientar as linhas de indução é a regra da mão direita envolvente. Para
aplicar essa regra, “segure” o fio com a mão direita, de modo que seu dedo polegar aponte no sentido
da corrente elétrica i, como mostra a figura 3.6. Os outros dedos girando ao redor do fio darão,
automaticamente, o sentido das linhas de indução.

Figura 3.6: Regra da mão direita envolvente.

Outras notações bastante úteis para determinação desta regra podem ser visualizadas nas figuras
3.7 e 3.8, gostaríamos de chamar a atenção para os captions das figuras para um melhor entendimento
dessas notações.
Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 59

Figura 3.7: Representação de um fio perpendicular ao plano do papel, com a corrente “saindo” desse
plano.

Figura 3.8: Representação de fio estendido no plano do papel. À direita do fio, as linhas de indução
têm sentido entrando no papel e, à esquerda do fio, saindo do papel.

3.1.1 Módulo do vetor de indução magnética


O cálculo da intensidade do vetor ~B, criado por um condutor retilíneo muito longo percorrido
por uma corrente elétrica, requer o conhecimento da Lei de Ampère.
Vamos considerar uma linha curva arbitrária e fechada, contida em um meio em que existe
um campo magnético ~B. Vamos representar por ∆l ~ o comprimento de um trecho elementar dessa
curva, ou seja, um pedacinho dessa linha, e por I a corrente elétrica constante que atravessa a
região envolvida pela linha, como mostra a figura 3.9. Esta linha fechada é chamada de superfície
amperiana. Sempre desenhamos esta superfície tentando obedecer a simetria da linha de indução.
60 A origem do campo magnético

Figura 3.9: Representação de fio estendido no plano do papel, onde temos uma superfície fechada
amperiana sobre uma linha de indução a uma distância R do centro do fio condutor.

No caso de um fio longo já vimos que a linha de indução é um círculo de raio R em relação ao centro
do fio condutor, onde percorre a corrente elétrica, portanto a superfície amperiana também será um
círculo nesse caso.

3.1.1 — Lei de Ampère. é fornecida pela seguinte expressão:

~ cos θ = µI.
∑ |~B||∆l| (3.1)

~ que compõem a superfície amperiana representada


A soma ∑ é feita sobre todos os pedacinhos ∆l
~ e o vetor ~B
pelo círculo azul na figura 3.9. O ângulo θ é o ângulo compreendido entre o vetor ∆l
do campo magnético.
A grandeza µ, que apareceu nessa expressão, é denominada permeabilidade magnética
absoluta do meio em que a linha curva foi traçada. Trata-se de uma característica do meio, e sua
unidade, no SI, é TA·m . Suponha que o meio ao redor do condutor seja o vácuo. A permeabilidade
absoluta do vácuo, cujo símbolo é µ0 , tem, no SI, o seguinte valor adotado:
Tm
µ0 = 4π · 10−7 .
A
Mais adiante, veremos que o valor da permeabilidade absoluta m de muitos outros meios, como o
ar, a água e o óleo, por exemplo, são praticamente iguais a µ0 .
Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 61

Agora, vamos usar a lei de Ampère apresentada e determinar a intensidade do vetor ~B gerado por
um condutor retilíneo. Para isso, aplicaremos essa lei, ao longo de uma linha de indução da figura
3.9, já que pode ser usada qualquer curva fechada, embora seja interessante respeitar a simetria do
problema. Assim, como o ângulo (θ = 0) o cosseno será igual a um. Então, teremos:
~ cos 0o = µI ⇒ ∑ |~B||∆l|
∑ |~B||∆l| ~ = µI (3.2)
| {z }
=1

Como o campo magnético ~B tem sempre a mesma intensidade a uma distância R do centro do fio,
~ ao longo do círculo de raio R, é
o termo |~B| pode sair da soma, e somar todos os pedacinhos |∆l|
~ = 2πR . Então, teremos:
exatamente o perímetro da circunferência do fio, ou seja, ∑ |∆l|
~ = µI ⇒ |~B| ∑ |∆l|
∑ |~B||∆l| ~ = µI (3.3)
| {z }
=2πR

Isolando o módulo de |~B| na equação 3.3 obtemos

a intensidade do campo magnético a uma distância R do fio como:


µI
|~B| = . (3.4)
2πR
Observe pela equação 3.4 que quanto maior for a intensidade da corrente elétrica que percorre o fio
maior será o módulo do campo magnético ao redor do fio. Além disso, quanto mais afastado for do
fio menor será o valor do campo magnético gerado por ele.

3.2 Campo magnético gerado por uma espira circular


Para determinarmos o cálculo da intensidade do vetor ~B, criado por uma espira circular, é
necessário conhecermos a Lei de Biot-Savart. Então, vamos considerar um fio percorrido por uma
corrente elétrica de intensidade constante i. Vamos representar por ∆L o comprimento de um trecho
elementar desse fio e por P um ponto a uma distância r desse trecho elementar, como pode ser
visualizado na figura.

Figura 3.10: Representação de fio estendido no plano percorrido por uma corrente elétrica i, que
gera num ponto P um campo magnético de intensidade ∆L.
62 A origem do campo magnético

3.2.1 — Lei de Biot-Savart. O trecho de comprimento ∆L cria, em P, um vetor indução magnética


~ com intensidade fornecida pela expressão
∆B,

~ sin θ
µI|∆L|
|∆~B| = , (3.5)
4πr2
onde o θ é o menor ângulo formado pela reta tangente em ∆L com o segmento de reta r que liga
ao ponto P. A direção é perpendicular ao plano α definido pelas retas citadas, e o sentido é dado
pela regra da mão direita já vista.

Para obter o vetor indução magnética criado em P pelo fio inteiro, devemos determinar a resultante
~ de todos os trechos elementares que constituem o fio.
das contribuições ∆B
Vamos, então, usar a lei apresentada e determinar a intensidade do vetor ~B gerado por uma espira
circular, em seu centro. Na figura a seguir, temos uma espira circular de raio R e centro O, percorrida
por uma corrente elétrica de intensidade I. Cada trecho elementar de comprimento ∆L cria, em O,

Figura 3.11: Representação de fio estendido no plano percorrido por uma corrente elétrica i, que
gera num ponto P um campo magnético de intensidade ∆L.

~ de intensidade:
um vetor indução ∆B,

~ sin 90 µI∆L
µI|∆L|
|∆~B| = = , (3.6)
4πR2 4πR2

A intensidade do vetor indução magnética resultante ~B, em O, é dada pelo somatório das contribuições
de todos os trechos elementares. Então, como todos os ∆B ~ têm mesma direção e mesmo sentido,
temos:

~B = ∑ |∆~B| = µI ∑ ∆L, (3.7)


4πR2
Aqui, chamamos a atenção que R, µ e I são constantes, portanto não participam da soma, e sendo
assim podemos verificar que a soma de todos os ∆L ao longo da espira é igual ao perímetro dela, ou
seja, ∑ ∆L = 2πR. Agora substituindo este resultado na equação 3.7 obtemos:
Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 63

a expressão para o campo magnético resultante no centro de uma espira circular de raio R sendo
percorrida por uma corrente elétrica I

~B = µI . (3.8)
2R
Quando fazemos um enrolamento condutor cilíndrico constituído de n espiras, em que a espessura
e é bem menor que o diâmetro 2R, obtemos a chamada bobina chata. Assim, a intensidade do
vetor indução magnética resultante no centro da bobina pode ser expressa por:

~B = nµI . (3.9)
2R
O sentido das linhas de indução é, também, dado pela regra da mão direita envolvente. Observe na
figura 3.12 que, no centro da espira, o vetor indução é perpendicular ao plano definido por ela.

Figura 3.12: Direção e sentido do vetor indução magnética em um espira circular.

3.3 Campo magnético gerado por um solenoide


O solenoide, é mais conhecido como bobina, ele consistem em um fio condutor enrolado em
forma de hélice cilíndrica parecendo uma mola comum.
Na figura 3.13, um solenoide é percorrido por uma corrente elétrica de intensidade i, que entra
pela sua extremidade esquerda e sai pela direita. Observe a configuração das linhas de indução
do campo magné- tico gerado por essa corrente. Note que, no interior do solenoide, em pontos

Figura 3.13: Um solenoide sendo percorrido por uma corrente elétrica I.


64 A origem do campo magnético

não muito próximos do fio condutor ou das extremidades, as linhas de indução são representadas
aproximadamente por linhas retas, paralelas, igualmente espaçadas e orientadas. Isso significa
que, nessa região, o campo magnético é praticamente uniforme. Caso o solenoide seja longo
(comprimento algumas vezes maior que o diâmetro) e suas espiras estejam bem juntas, o campo na
região interna é acentuadamente mais uniforme.
Do mesmo modo que aconteceu com as espiras, em um solenoide também surgem polos
magnéticos quando uma corrente passa por ele. Nas regiões externas ao solenoide, as linhas de
indução orientam-se, como sempre, do polo norte para o polo sul. Observe ainda que, nessas regiões,
existe grande semelhança entre as linhas de indução do campo do solenoide e as do ímã em forma de
barra reta.

Figura 3.14: A regra da mão direita envolvente, aplicada a uma espira qualquer do solenoide, fornece
o sentido das linhas de indução e, consequentemente, também a polaridade magnética de suas
extremidades.

Para determinar a intensidade do vetor B na região interna em que o campo é sensivelmente uniforme,
vamos usar novamente a Lei de Ampère, apresentada no estudo do campo de fio retilíneo. Vamos
considerar um solenoide cilíndrico compacto em que as espiras encontram-se encostadas. Se o
comprimento do solenoide for pelo menos quatro vezes seu diâmetro, o campo magnético em seu
interior será sensivelmente uniforme, variando apenas em pontos bem próximos do fio condutor ou
das extremidades. Na figura 3.15 apresentamos o solenoide em um corte transversal.
Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 65

Figura 3.15: A figura representa um solenoide cortado transversalmente cujas espiras estão juntas.

A linha pontilhada retangular MNPQ é a superfície amperiana. Essa linha envolve um trecho de
comprimento L em que n espiras são percorridas por corrente de intensidade constante i. Lembrando
que a lei de Ampère é
~ cos θ = µI,
∑ |~B||∆l| (3.10)

temos os trechos NP e MQ iguais a zero, pois o ângulo entre o ~B e ∆L é igual a 90° levando o termo
do cosseno ser igual a zero. Além disso, o trecho QP também é nulo pois próximo ao solenoide o
campo magnético é nulo, para um solenoide infinito, ou seja, o comprimento muito maior que seu
diâmetro. Então, sobra apenas o trecho MN, que podemos escrever
~ cos 0o = µnI ⇒ |~B|L = µnI.
∑ |~B||∆l| (3.11)
| {z }
=1

O campo magnético gerado por um solenoide no seu interior é dado por:


µnI
|~B| = (3.12)
L

É importante ressaltar que na equação 3.12 acrescentamos o termo n do lado direito da equação, já
que o total da corrente elétrica envolvida pela superfície amperiana é n · I. Alem disso, essa expressão
também pode ser usada nos casos em que se considera n o número total de espiras e L o comprimento
total do solenoide. Observe que n/L é o número de espiras por unidade de comprimento do solenoide
ou densidade linear de espiras.
66 A origem do campo magnético

3.4 Propriedades Magnéticas dos Materiais


A análise das propriedades magnéticas dos materiais é bastante complexa, requerendo, para uma
correta interpretação, conceitos de Teoria Quântica que não serão abordados neste estudo. Entretanto
o modelo atômico clássico, que considera o átomo como sendo constituído de um núcleo central de
carga positiva, ao redor do qual giram elétrons, satisfaz razoavelmente uma das nossas necessidades.
Um elétron em uma órbita suposta circular comporta-se como uma espira circular de corrente.
Esta, como já vimos, apresenta polos magnéticos, comportando-se como um ímã.
Um elétron, assim como muitas outras partículas, possui um momento angular intrínseco
denominado spin, e o movimento análogo ao de rotação no próprio eixo com uma diferença que o
elétron pode girar tanto no sentido horário quanto no anti-horário, graças ao qual ele produz um outro
campo magnético ainda mais significativo que o produzido pelo movimento orbital de translação ao
redor do núcleo do átomo.
A corrente elétrica associada a essa rotação confere polos magnéticos aos elétrons, acarretando o
aparecimento deste outro campo magnético. Os orbitais são regiões da eletrosfera, de diversas formas

Figura 3.16: Momento angular intrínseco do elétron chamado de spin.

geométricas, em que há maior probabilidade de se encontrarem elétrons. Como cada orbital pode
conter no máximo dois elétrons, quando ele já tem os dois elétrons dizemos que está completo. É
importante saber que os dois elétrons de um orbital completo sempre possuem spins opostos. Por isso,
esses dois elétrons não contribuem para o campo magnético do átomo a que pertencem. Por outro
lado, os elétrons não emparelhados, isto é, aqueles que estão solitários em orbitais incompletos, dão
uma contribuição magnética não nula ao átomo, sendo essa a principal causa do campo magnético
de um átomo.
O campo magnético de um átomo é gerado pelo movimento orbital de seus elétrons e, principalmente,
pelo spin dos elétrons de orbitais incompletos.

3.4.1 Materiais Ferromagnéticos


São denominados materiais ferromagnéticos os que se imantam consideravelmente quando
submetidos a um campo magnético. Além disso, esses materiais são fortemente atraídos pelos ímãs.
Dentre estes materiais podemos citar o ferro, o cobalto, o níquel e algumas ligas como o alnico (liga
que contém alumínio, níquel e cobalto), além do disprósio e do gadolíneo, quando em temperaturas
abaixo da temperatura ambiente.
Nos materiais ferromagnéticos, cada átomo apresenta um campo magnético relativamente grande,
causado principalmente pela presença de elétrons não emparelhados em orbitais incompletos. É
o caso do ferro, que apresenta quatro elétrons não emparelhados no terceiro nível. Esses quatro
elétrons possuem spins em concordância porque isso minimiza a energia do átomo.
Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 67

Veja, no esquema a seguir, a distribuição eletrônica do átomo de ferro, em que as setas indicam
os sentidos dos spins e as letras s, p e d simbolizam os subníveis eletrônicos existentes nesse átomo.
Existem forças interatômicas que obrigam tais átomos a se disporem de modo que seus campos

Figura 3.17: Distribuição eletrônica dos elétrons no átomo de ferro.

magnéticos fiquem paralelos e concordantes, formando os chamados domínios magnéticos (Teoria


de Curie-Weiss). Essa organização do conjunto de átomos em cada domínio minimiza a energia do
conjunto e acontece apesar da agitação térmica, desde que esta não ultrapasse determinados limites.
Nos materiais ferromagnéticos que nunca foram imantados, os domínios estão dispostos de
maneira desorganizada de modo que o campo magnético resultante de todos eles é nulo. Entretanto,

Figura 3.18: Domínios magnéticos.

quando o material ferromagnético virgem é submetido a um campo magnético externo, os domínios


em concordância com esse campo tendem a crescer à custa da captura de átomos de domínios
vizinhos. E os domínios que não estão em concordância com o campo externo deformam-se,
tendendo à concordância. Assim, o material passa a se apresentar imantado. Retirando o campo

Figura 3.19: Domínios magnéticos.

magnético externo, as fronteiras dos domínios magnéticos não voltam exatamente às suas posições
68 A origem do campo magnético

originais. Desse modo, persiste no material uma imantação residual. Essa retenção de campo
magnético, que possibilita a fabricação de ímãs permanentes, é denominada histerese magnética.
Quando aumentamos a temperatura de um material ferromagnético, a agitação térmica provoca
o desagregamento dos domínios magnéticos, até que, em uma temperatura denominada ponto Curie,
em homenagem ao físico francês Pierre Curie, o material deixa de ser ferromagnético.

3.4.2 Permeabilidade Relativa


Denomina-se permeabilidade relativa (µr ) de um material o quociente de sua permeabilidade absoluta
(µ) pela permeabilidade absoluta do vácuo (µ0 ):
µ
µr = (3.13)
µ0
Para os materiais não ferromagnéticos, ou seja, para a grande maioria dos materiais, temos mr
muito aproximadamente igual a 1, já que, para eles, µ ' µ0 . Em outras palavras, esses materiais
apresentam um comportamento magnético muito semelhante ao do vácuo. Com relação aos materiais
ferromagnéticos, porém, a situação é muito diferente. De fato, suas permeabilidades relativas são
muito maiores que 1.
Veja alguns valores de mr para esses materiais:

Figura 3.20: Permeabilidade relativa de alguns materiais.

Esses elevados valores de µr conferem aos materiais ferromagnéticos uma grande utilidade prática,
no que diz respeito a sistemas magnéticos. Se o interior de um solenoide, por exemplo, for preenchido
por um bastão ferromagnético, o vetor indução magnética B em seu interior e em suas extremidades
se tornará muito mais intenso do que se existisse, em seu interior, um material não ferromagnético.
Se o solenoide fosse compacto, com comprimento L e n espiras, poderíamos escrever o solenoide
preenchido por ar(µ ' µ0 ) como:
n
B0 = µ0 i, (3.14)
L
e preenchido por ferro (µ >> µ0 )
n
B = µ i. (3.15)
L
Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 69

Dividindo, membro a membro, as equações 3.15 e 3.14 obtemos:


B µ
= = µr ⇒ B = µr B0 . (3.16)
B0 µ0
Considerando que o bastão de ferro tenha µr igual a 5500, note que B será 5500 vezes B0 .
Assim, as extremidades de um solenoide com o bastão de ferro (núcleo de ferro) atraem materiais

Figura 3.21: Eletroímã.

ferromagnéticos muito mais intensamente do que se o solenoide estivesse preenchido por ar.
Bem nosso capítulo termina aqui. Gostaria que você fizesse os exercícios e problemas propostos
para um melhor entendimento e fixação do conteúdo. Desejo a você um bom estudo!

Exercício 3.1 Um fio retilíneo muito longo, situado num meio de permeabilidade absoluta µ =
4π × 10˘7 T m/A , é percorrido por uma corrente elétrica de intensidade i = 5,0 A. Considerando o
fio no plano do papel, caracterize o vetor indução magnética no ponto P, situado nesse plano. 

Exercício 3.2 Dois longos fios retilíneos, estendidos no plano do papel, se cruzam perpendicular-
mente sem que haja contato elétrico entre eles. Esses fios são percorridos pelas correntes de
intensidades i1 e i2 , cujos sentidos estão indicados na figura 3.22.

a) Em quais das regiões é possível ser nulo o campo magnético resultante dos dois fios?
b) Caracterize o campo magnético resultante ~B no ponto P, supondo i1 = 10A, i2 = 40A,
µ = 4π × 10˘7 T m/A, r1 = 10cm e r2 = 20cm. 

Figura 3.22: Exercício 3.2.


70 A origem do campo magnético

Exercício 3.3 Uma espira circular de raio R = 20 cm é percorrida por uma corrente i = 40 A.
Sabe-se que o meio onde a espira se encontra tem permeabilidade absoluta µ = 4π × 10˘7 T m/A.

a) Calcule a intensidade do vetor indução magnética no centro O da espira.


b) Considerando uma partícula eletrizada com carga q = 2 mC deslocando-se ao longo de um
diâmetro da espira, calcule a intensidade da força magnética que atuará nessa partícula ao passar
por O, sabendo que sua velocidade, nesse ponto, vale 1000 m/s.


Exercício 3.4 Um solenoide compacto de 20 cm de comprimento contém 1 000 espiras e é


percorrido por uma corrente elétrica de 5,0 A. Sendo µ = 4π × 10˘7 T m/A a permeabilidade
absoluta do meio existente em seu interior. Calcule:
a) o módulo do vetor indução magnética criado pelo solenoide nessa região.
b) se o interior desse mesmo solenoide fosse preenchido por um núcleo ferromagnético de
permeabilidade relativa igual a 5500, qual seria a intensidade do campo magnético sob as mesmas
condições anteriores?


3.5 Problemas
Problema 3.1 Considere dois fios metálicos longos (1) e (2) percorridos por correntes elétricas i1 =
2A e i2 = 6A respectivamente localizados no vácuo ( µ0 = 4π × 10˘7 T m/A). Calcule a intensidade
do vetor de indução magnética no ponto M, e indique a direção e sentido dele.

Figura 3.23: Problema 3.1.


Capítulo 3 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 71

Problema 3.2 Duas espiras circulares, concêntricas e coplanares, de raios 3πm e 5πm, são
percorridas por correntes de 3A e 4A. Calcule o módulo, direção e sentido do vetor resultante
de indução magnética no centro das espiras sabendo que elas estão localizadas no vácuo ( µ0 =
4π × 10˘7 T m/A).

Figura 3.24: Problema 3.2.

Problema 3.3 Uma bobina circular constituída pela justaposição de 100 espiras de raio igual a
5πcm, é percorrida por uma corrente elétrica de 10A. Calcule o módulo, direção e sentido do vetor
resultante de indução magnética no centro da bobina sabendo que ela está localizada no vácuo (
µ0 = 4π × 10˘7 T m/A).

Figura 3.25: Problema 3.3.

Problema 3.4 Dois fios A e B retos e longos estão paralelos e distantes em 2m. Uma espira circular
de raio igual a π4 m encontra-se com seu centro a uma distância de 2m do fio B conforme a figura
3.26. A espira e os fios são coplanares e são percorridos por correntes elétrica iguais a 1A indicadas
na figura. Determine o vetor de indução magnética no centro O da espira sabendo que o conjunto se
encontra no vácuo ( µ0 = 4π × 10˘7 T m/A).

Figura 3.26: Problema 3.4.


72 A origem do campo magnético

Problema 3.5 Um professor de Física, para construir um eletroímã, montou um circuito com as
seguintes características: valor da resistência R=15Ω, solenoide com 8π × 10−2 m de comprimento,
5000 espiras e resistência r=85Ω, conforme ilustrado na figura 3.27. Determine o módulo do vetor
de indução magnética resultante no interior do solenoide quando a ddp é igual a 60V, e indique
a posição de alinhamento de uma agulha de uma bússola colocada no seu interior. O conjunto
encontra-se no ar.

Figura 3.27: Problema 3.5.

Problema 3.6 Considere a ligação do problema 3.5 nas mesmas configurações sem a bússola. Se
colocarmos no interior dela um tarugo de Permalloy 78 no valor máximo de sua permeabilidade
magnética relativa, qual será o valor do campo magnético gerado pela bobina?
4. Força Magnética

O assunto deste capítulo possibilitará a compreensão do princípio de funcionamento dos motores


elétricos, dos galvanômetros analógicos, dos alto-falantes e etc.
Em 1822, o físico e químico inglês Michael Faraday (1791-1867) fez passar uma corrente
contínua através de um condutor colocado entre os polos de um ímã. Como consequência, esse
condutor executou um movimento de rotação. Esse movimento de rotação foi provocado pela
interação entre o campo magnético do ímã e o campo magnético gerado pela corrente no fio. Assim,
estava praticamente inventado o motor elétrico.

4.1 Força magnética em um fio condutor percorrido por uma corrente elétrica
Nos capítulos anteriores, vimos que uma carga elétrica (q) movendo-se com uma velocidade (|~v|)
em uma região de campo magnético uniforme ~B experimenta uma força magnética F~m dada por

|F~m | = q|~v||~B| sin θ , (4.1)

onde θ é o menor ângulo entre v e B. Então, se um fio condutor é percorrido por uma corrente
elétrica e está presente em uma região de campo magnético, como ilustra a figura 4.1, uma força
magnética F~m atua em todas as cargas em movimento. Usando a regra da mão direita e lembrando
que a carga do elétron é negativa, determinamos a orientação dessa força. Lembre-se que o sinal da
carga inverte o sentido da força, e portanto o sentido é contrário ao da palma da mão.
74 Força Magnética

Figura 4.1: Força sobre as cargas elétricas em um fio condutor percorrido por uma corrente elétrica.

Observe na figura 4.2 que se adotarmos o sentido convencional da corrente elétrica, ou seja, o
movimento dos prótons, a direção e o sentido da força permanece o mesmo. Além disso, como a

Figura 4.2: Força sobre as cargas elétricas em um fio condutor percorrido por uma corrente elétrica.

soma de θ e θ 0 é igual a 180°, seus senos são iguais, então as forças magnéticas também são iguais.
Portanto, para fins práticos vamos considerar a seguinte regra para mão direita:

Regra da mão direita ⇒ o polegar aponta no sentido da corrente elétrica, e os demais dedos, no
sentido do campo magnético B. A força F~m tem direção perpendicular à palma da mão e sentido
saindo dela.
Agora, considere o pedaço de um fio condutor retilíneo, de comprimento L, imerso em um campo
magnético uniforme de módulo B e percorrido por uma corrente elétrica de intensidade i, como
pode ser visto na figura 4.3 Nessa figura temos um pedaço elementar do fio condutor ∆L onde

Figura 4.3: Força sobre as cargas elétricas em um fio condutor rígido percorrido por uma corrente
elétrica.

passa uma certa quantidade de carga elétrica q durante um intervalo de tempo ∆t. Desta forma
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 75

podemos considerar a velocidade das cargas elétricas nesse pequeno trecho do fio condutor como
sendo |~v| = ∆L/∆t, e substituindo essa velocidade na equação 4.1 obtemos:
∆L ~
|F~m | = q |B| sin θ , (4.2)
∆t
Para termos a força magnética em função da corrente elétrica podemos ainda dizer que I = q/∆t, e
reescrever a equação 4.2 como

|F~m | = |~B|I∆L sin θ , (4.3)

onde essa equação é chamada de Lei de Laplace. Note que as forças F~m têm a mesma direção
e sentido em todos os trechos elementares, e terá também o mesmo módulo uma vez que B e
I são constante ao longo dele. Então, a intensidade da força magnética F~m que atua no fio de
comprimento L pode ser calculada somando todos os ∆L0 s que será igual ao comprimento total L do
fio.
4.1.1 — Força magnética em um fio condutor percorrido por uma corrente elétrica,
quando submetido há presença de um campo magnético externo.

|F~m | = |~B|IL sin θ , (4.4)

onde θ é o menor ângulo entre o fio (L) e o campo magnético (B). A direção e o sentido da força
são fornecidas pela regra da mão direita já mencionada.

Nas figuras abaixo apresentamos alguns casos particulares para uma melhor compreensão.

Figura 4.4: Força sobre as cargas elétricas em um fio condutor rígido percorrido por uma corrente
elétrica.
76 Força Magnética

É possível notar que quando o fio está paralelo (θ = 0o ) ou anti-paralelo (θ = 180o ) ao campo
magnético B não há força magnética sobre o fio, e ela será máxima quando o (θ = 90o ).

4.1.1 Espira retangular imersa em campo magnético uniforme


Nessa secção vamos entender como é o funcionamento de um motor elétrico. Para isso vamos
considerar uma espira retangular condutora, imersa num campo magnético uniforme, com seu plano
inicialmente paralelo ao vetor indução magnética B, como pode ser visto na figura 4.5 a seguir.

Figura 4.5: Força sobre uma espira condutora percorrida por uma corrente elétrica na presença de
um campo magnético externo.

Fazendo passar uma corrente contínua pela espira, surgem forças opostas nos lados PS e QR,
que formam um binário de braço L. Nos lados SR e PQ não surgem forças, pois os valores do ângulo
θ formado entre o fio e o vetor B são iguais a 0º e 180º, respectivamente. O binário surgido provoca
a rotação da espira no sentido indicado, sendo esse o princípio de funcionamento do motor elétrico e
de vários outros aparelhos.
À medida que a espira gira a partir da posição representada na figura, o braço do binário
constituído pelas forças Fm e -Fm vai diminuindo, como você pode observar na figura abaixo, que
representa a espira vista pelo observador O, indicado na figura 4.5. Com a diminuição do braço,

Figura 4.6: Força sobre uma espira condutora percorrida por uma corrente elétrica na presença de
um campo magnético externo.
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 77

diminui também a eficiência dessas forças em produzir rotação. Quando o plano da espira se torna
perpendicular às linhas de indução, o binário citado tem braço nulo, pois as forças Fm e -Fm se
alinham. Portanto, essa é a posição em que a espira deveria ficar em equilíbrio. Entretanto, por estar
em movimento, a espira avança além dessa posição. Com isso, o citado binário passa a atuar contra a
rotação da espira, fazendo com que ela pare e volte, passando a executar, em seguida, um movimento
oscilatório.

Figura 4.7: Força sobre uma espira condutora percorrida por uma corrente elétrica na presença de
um campo magnético externo.

Para que a rotação da espira continue favorecida pelo binário, ao passar pela posição de equilíbrio
(forças magnéticas alinhadas), o sentido da corrente deve inverter-se. É o que acontece em um motor
elétrico de corrente contínua. Quando a espira passa pela posição de equilíbrio, isto é, quando o
plano da espira torna-se perpendicular a B, o sentido da corrente que passa por ela é invertido. Assim,
os sentidos das duas forças representadas nas figuras anteriores também se invertem e o binário
constituído por elas continua favorecendo a rotação. Quem faz o papel de inverter o sentido da
corrente elétrica é o comutador, que é um anel cortado ao meio, onde cada metade do anel está ligado
a uma extremidade da espira. A medida que a espira gira o anel vai trocando as polaridades de cada
metade em contato com as escovas ligadas a bateria. Esse é o princípio básico do funcionamento

Figura 4.8: Motor elétrico.1) campo magnético uniforme. 2)Espira de corrente 3)comutador
4)escovas 5) bateria.
78 Força Magnética

de um motor elétrico. Na realidade um motor elétrico é constituído de várias espiras enroladas em


núcleos de ferro e dispostas em ângulos diferentes um em relação a outra afim de potencializar o
torque do motor.

4.1.2 Forças magnéticas entre dois condutores retilíneos e paralelos


Consideremos dois longos fios retilíneos, dispostos paralelamente um ao outro, em um meio
de permeabilidade absoluta µ. Se houver corrente elétrica em ambos, surgirá uma força magnética
em cada um deles, pois um se submeterá ao campo magnético criado pelo outro. Como veremos a
seguir, essas forças podem ser tanto de atração quanto de repulsão, que vão depender dos sentidos
das correntes elétricas dispostas neles.
Correntes elétricas de mesmo sentido nos condutores
Na figura abaixo, estão representados trechos de dois fios paralelos, de comprimento L, com uma
distância r um do outro, percorridos por correntes de mesmo sentido. Para facilitar o entendimento,
representamos com a mesma cor cada corrente e o campo magnético gerado por ela. O condutor 1

Figura 4.9: Força magnética em condutores paralelos.

cria um campo magnético B1 no condutor 2 fazendo surgir nele a força Fm. Já o condutor 2, por
sua vez, cria outro campo magnético B2 , que vai atuar no condutor 1, causando-lhe a força -Fm.
Quando as correntes têm o mesmo sentido, as forças entre os condutores são de atração. O
módulo da força que atua no trecho de comprimento L pode ser calculada a partir de qualquer um
dos condutores, uma vez que a força é mútua, ou seja, é a mesma em qualquer um dos condutores.
Considerando, por exemplo, o condutor 2, temos:

|F~m | = |B
~1 |I2 L sin 90o = B1 I2 L
µi1
Mas B1 =
2πr
(4.5)
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 79

4.1.2 — Forças magnéticas entre dois condutores retilíneos e paralelos.

µI1 I2 L
|F~m | = . (4.6)
2πr

Correntes elétricas de sentidos contrários nos condutores


Vamos analisar, agora, a situação em que os fios são percorridos por correntes de sentidos
contrários, como mostra a figura abaixo. Como você pode concluir, nesse caso, as forças entre os

Figura 4.10: Força magnética em condutores paralelos.

condutores são de repulsão e seu módulo é calculado, no trecho de comprimento L, pela mesma
expressão 4.6.

Exercício 4.1 Um condutor retilíneo, percorrido por uma corrente elétrica de intensidade I igual
a 2,0 A, está imerso em um campo magnético uniforme de intensidade B, igual a 2, 0 × 10−4 T.
Determine a intensidade da força magnética em um trecho desse condutor, de comprimento L
igual a 0,20 m, nos seguintes casos das figuras 4.11. 

Figura 4.11: Figuras do exercício 4.1.


80 Força Magnética

Exercício 4.2 A barra condutora MN, cilíndrica e homogênea, de 200 N de peso e 1 m de


comprimento, é suspensa por fios condutores leves e flexíveis aos pontos P e Q. A barra, disposta
horizontalmente, é percorrida por uma corrente elétrica de intensidade I igual a 100 A no sentido
indicado, e encontra-se num campo magnético uniforme e horizontal de intensidade constante e
igual a 2 T, perpendicular à barra. Supondo que apenas a barra se submeta ao citado campo:
a) calcule a intensidade da força magnética atuante na barra;
b) calcule a intensidade da tração em cada fio de suspensão;
c) qual seria a intensidade da tração em cada fio, se a barra fosse disposta paralelamente ao campo
magnético? 

Figura 4.12: Figuras do exercício 4.1.

Exercício 4.3 Dois fios metálicos retilíneos, paralelos e muito longos distam 1,5 m entre si, no
vácuo. Calcule a intensidade da força que age no comprimento igual a2,0 m de um dos fios,
quando em cada um deles circula uma corrente elétrica I igual a 0,51 A (µ0 = 4π × 10−7 unidades
do SI). Determine ainda se essa força é de atração ou de repulsão. 

4.2 Indução Eletromagnética


Depois de constatado que as correntes elétricas criavam campo magnético, os cientistas começaram
a pesquisar o fenômeno inverso, ou seja, se o campo magnético era capaz de criar correntes elétricas.
Michael Faraday conseguiu provar experimentalmente que esse fenômeno inverso é possível. A
descoberta da indução eletromagnética talvez tenha sido o passo mais útil dado pelo homem até
hoje na Física. Com a nova descoberta, o uso da energia elétrica generalizou-se, já que se tornou
possível obtê-la a partir da energia mecânica proveniente das quedas de água, como ocorre nas usinas
hidrelétricas.
Para estudarmos a indução eletromagnética, é necessário definir uma grandeza denominada fluxo
de indução ou fluxo magnético. Então, considere uma linha fechada condutora, que pode ser um
anel ou uma espira, envolvendo uma superfície plana de área A e imersa em um campo magnético
uniforme como mostrado na figura 4.13.
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 81

Figura 4.13: Fluxo magnético.

Na figura, N é uma reta normal a superfície e forma um ângulo θ com o vetor de indução
magnética B, que veremos mais tarde induzirá a corrente elétrica no condutor.

4.2.1 — Fluxo do vetor de indução magnética ~B. O fluxo de indução está associado a
quantidade de linhas do campo magnético ~B que atravessa a superfície considerada.

Φ = BA cos θ , (4.7)

onde θ é o ângulo entre a normal (N) e o campo magnético (B), A é a área da superfície e Φ é o
fluxo de indução magnético. No SI, a unidade de fluxo de indução é o weber (Wb). Fazendo uma
análise dimensional das unidades podemos perceber que

1T = 1W b/m2 .

Então, a intensidade do vetor B pode ser medida em weber por metro quadrado, que equivale à
unidade tesla. Por isso, o vetor indução magnética B também é denominado densidade de fluxo
magnético, o que significa “fluxo magnético por unidade de área”.

Como o fluxo de indução está associado a quantidade de linhas de indução que atravessa a superfície
considerada, quanto mais linhas atravessa a área maior será o fluxo de indução. Para ilustrar isso
melhor considere as figuras 4.14. Na figura 1, temos θ = 90o e Φ = BA cos 90o = 0. Nesse caso,

Figura 4.14: Fluxo magnético.

então, o fluxo é nulo, uma vez que nenhuma linha atravessa a espira. Na figura 2, o fluxo vale
82 Força Magnética

Φ = BA cos θ e não é nulo. Observe, nesse caso, que existem linhas de indução atravessando a espira.
Na figura 3, a espira está posicionada perpendicularmente às linhas de indução. Por isso, θ = 0o .
Nesse caso, o fluxo é máximo, pois cos 0o = 1, e é o máximo valor possível para o cosseno, então
Φmax = BA.
Agora, que definimos o fluxo magnético Φ já podemos definir o que é a indução eletromagnética.

Imagine um contorno fechado, imerso em um campo magnético, e que esse contorno seja condutor,
como por exemplo um anel metálico ou espira. Sempre que houver variação do fluxo de indução
através da área desse condutor, surgirá nele uma corrente elétrica. A esse fenômeno damos o
nome de indução eletromagnética.

A corrente que surge é denominada corrente induzida, e o fluxo que a produziu, é chamado de
fluxo indutor. É preciso salientar que a corrente induzida só existe enquanto o fluxo indutor está
variando no tempo. Se não houver variação não surgirá a corrente elétrica na espira.
Basicamente só há três formas de produzir um fluxo magnético variável, que pode ser variando o
θ girando a espira numa região de campo magnético. Esse é o caso das usinas de energia em geral,
quanto mais rápido fazer girar a espira maior será o valor da corrente induzida na espira. Na figura
4.15 apresentamos essa forma de geração de corrente elétrica.

Figura 4.15: Fluxo magnético.

Outra maneira seria variando a área de uma espira em uma região de um campo magnético
constante. Para ilustrarmos essa forma considere uma espira retangular condutora, disposta sempre
perpendicularmente a um campo magnético uniforme e constante, e conectada a um galvanômetro,
como representado na figura 4.16 a seguir. Observe que a área A, através da qual ocorre o fluxo,
varia quando fazemos a espira penetrar mais ou penetrar menos no campo. Quando A aumenta, surge
corrente em determinado sentido. Quando A diminui, surge corrente em sentido contrário. Quando
a espira está em repouso ou totalmente mergulhada no campo, não surge corrente, porque não há
variação de fluxo através dela.
Mais uma vez, constata-se, também nesse caso, que, quanto mais rápida for a variação da área A,
maior será o módulo da corrente induzida.
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 83

Figura 4.16: Fluxo magnético.

A última maneira de variarmos o fluxo de indução em um condutor seria variar o campo


magnético. Como exemplo, considere um ímã e uma espira condutora, conectada a um galvanômetro
como mostrado na figura 4.17. Se o ímã está em repouso em relação à espira, o galvanômetro

Figura 4.17: Fluxo magnético.

não registra corrente na espira. Nesse caso, não está havendo variação de fluxo. Quando o ímã
aproxima-se da espira, o galvanômetro registra corrente em um sentido. Nesse caso, está havendo
variação de fluxo. Quando o ímã se afasta da espira, novamente surge uma corrente porém num
sentido contrário ao anterior. Mais uma vez ocorre variação de fluxo. Agora, se o ímã, após mover-se,
é levado novamente ao repouso, a corrente volta a valer zero. Nesse caso, não está mais havendo
variação de fluxo.

4.3 Lei de Lenz


Vimos que a variação de fluxo em um circuito fechado induz uma corrente elétrica nesse circuito.
Vamos, agora, discutir o sentido dessa corrente. imagine um condutor metálico fixo, dobrado em
forma de U e situado no plano desta página, como representa a figura a seguir. Suponha também que
esse plano seja “perfurado” pelas linhas de indução de um campo magnético uniforme e constante,
com sentido “saindo do papel”, que chamaremos de ~Bindutor .
Uma haste metálica, sempre em contato com o condutor em forma de U, é colocada em
movimento com velocidade v, como está indicado na figura 4.18. Usando a regra da mão direita,
84 Força Magnética

você vai concluir que os elétrons livres existentes na haste se submetem a forças magnéticas que os
deslocam para uma de suas extremidades.

Figura 4.18: Experimento da corrente induzida.

Observe que as extremidades da haste ficam eletricamente polarizadas, ou seja, surge uma
diferença de potencial entre elas. Consequentemente, na parte do condutor fixo, à esquerda da haste,
elétrons livres passam a se deslocar no sentido indicado na figura 4.19.

Figura 4.19: Experimento da corrente induzida.

Então, na espira de área A formada pelo condutor fixo e pela haste, passa a existir uma corrente
elétrica induzida, de intensidade i, no sentido indicado. Usando a regra da mão direita, concluímos
que essa corrente gera, no interior da espira, um outro campo magnético, “entrando no papel”,
que simbolizamos por ~Binduzido . Enquanto a haste é movimentada, o fluxo do vetor ~Bindutor através
da espira, “saindo do papel”, está aumentando, pois a área A da espira também aumenta. A
corrente induzida surge, então, num sentido tal que gera um fluxo induzido “para dentro do papel”,
contrariando assim a variação (crescimento) do fluxo indutor que lhe deu origem.
Suponha, agora, que a velocidade da haste tivesse sentido oposto ao que teve na situação que
acabamos de analisar. Nessa nova situação, a polarização da haste se inverte, dando origem a uma
corrente induzida no sentido indicado na figura 4.20.

Figura 4.20: Experimento da corrente induzida.


Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 85

Note que o fluxo indutor, “para fora do papel”, está diminuindo, pois a área A da espira está
sendo reduzida. A corrente induzida surge, então, em um sentido tal que gera um fluxo induzido
“para fora do papel”, contrariando assim a variação (diminuição) do fluxo indutor que lhe deu origem.
Esses resultados experimentais levaram o físico russo Heinrich Lenz à descoberta da lei que leva
o seu nome. A Lei de Lenz pode ser enunciada da seguinte maneira:

4.3.1 — Lei de Lenz. A corrente induzida surge em um sentido tal que produz um fluxo
induzido em oposição à variação do fluxo indutor que lhe deu origem.

Veja, agora, outros exemplos em que a Lei de Lenz é aplicada. Quando o polo norte de um ímã
é aproximado de uma espira, o f luxo indutor através dela aumenta. Para contrariar essa variação
(aumento) do f luxo indutor, surge, na espira, uma corrente induzida que gera um f luxo induzido
contrário ao indutor. Nessa situação, a espira fica polarizada magneticamente.

Figura 4.21: Experimento da corrente induzida.

Surge, então, na face da espira voltada para o ímã, um polo norte (o ímã “vê” um polo norte
na espira). Isso nos faz concluir que o operador tem de exercer força contra a força magnética
repulsiva para conseguir aproximar o ímã da espira. O trabalho motor útil, realizado pela força que o
operador exerce, corresponde à energia entregue ao sistema e que se converte em energia elétrica,
como previsto pelo Princípio da Conservação da Energia.
Considere, agora, o polo norte do ímã afastando-se da espira. Nesse caso, o fluxo indutor através
da espira diminui. Para contrariar essa variação (diminuição) do fluxo indutor, surge uma corrente
induzida na espira que gera um fluxo induzido a favor do indutor. Esse fluxo induzido soma-se,
então, ao indutor, “tentando evitar” a variação. Em outras palavras, a corrente induzida “luta”
sempre para que o f luxo total através da espira não se altere. E, mais uma vez, a espira polariza-se
magneticamente. Na face da espira voltada para o ímã surge, agora, um polo sul para contrariar o

Figura 4.22: Experimento da corrente induzida.

afastamento do ímã. Novamente, a força do operador precisa realizar um trabalho, que corresponde
86 Força Magnética

à energia fornecida ao sistema e que se converte em energia elétrica.

4.4 Força eletromotriz induzida


Considere agora a situação seguinte: um fio condutor retilíneo de comprimento L está em
repouso, disposto perpendicularmente a um campo magnético uniforme e constante. Suponha, agora,
que o fio condutor seja arrastado em movimento de translação, com velocidade v, perpendicular às
linhas de indução e ao fio. Como consequência, surgirá uma força magnética em cada elétron livre.

Figura 4.23: Força eletromotriz induzida.

Essa força fará que os elétrons livres se desloquem para a extremidade inferior do condutor.
Assim, o fio ficará eletricamente polarizado. Essa polarização elétrica estabelece, entre as extremidades
do fio, uma diferença de potencial denominada força eletromotriz induzida, que simbolizaremos
por ε. Em consequência dessa diferença de potencial, temos, no interior do fio, o aparecimento de
um campo elétrico ~E. À medida que mais elétrons descem para a extremidade inferior do fio, mais
intenso torna-se o campo elétrico ~E. Esse campo provoca, nos elétrons livres, uma força elétrica
Fe para cima. Assim, à medida que ~E se torna mais intenso, a intensidade de Fe também aumenta.
Quando a intensidade de Fe torna-se igual à da força magnética Fm , o movimento ordenado dos
elétrons no interior do fio que constitui uma corrente elétrica nele induzida cessa. Temos, então:

Fm = Fe ⇒ |q|vB sin 90 = |q|E ⇒ vB = E (4.8)

Como Ed = |U|, fazendo d = L e |U|=|ε|, obtemos:


|ε|
EL = |ε| ⇒ E = (4.9)
L
Substituindo a equação 4.9 na 4.8, obtemos:
|ε|
vB = ⇒ |ε| = BLv. (4.10)
L
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 87

Essa expressão fornece o módulo da força eletromotriz induzida no fio, que é a causa da corrente
induzida estudada em itens anteriores.

4.5 Lei de Faraday-Neumann


Considere um condutor em forma de U, em repouso e disposto perpendicularmente às linhas
de indução de um campo magnético uniforme e constante. Considere, também, outro condutor
retilíneo de comprimento L, deslizando com velocidade constante v sobre o primeiro, de modo
que ambos delimitem sempre uma espira retangular fechada. No intervalo de tempo ∆t, a área da

Figura 4.24: Força eletromotriz induzida.

espira retangular delimitada pelo condutor em forma de U e pelo condutor retilíneo móvel sofre uma
variação ∆A, ocorrendo na espira uma variação de fluxo ∆Φ. Assim, teremos:

Φ = BA ⇒ ∆Φ = B∆A. (4.11)

Entretanto, ∆A = L∆S, em que ∆s é a distância percorrida pelo fio retilíneo durante o intervalo de
tempo ∆t. Assim, substituindo na equação 4.11, obtemos:

∆Φ = BL∆S. (4.12)

Dividindo essa expressão por ∆t, obtemos:


∆Φ BL∆S
= . (4.13)
∆t ∆t
∆S ∆Φ
Como v = ∆t , temos que: ∆t = BLv, e |ε| = BLv

4.5.1 — Lei de Faraday-Neumann. Estabelecido um fluxo de indução através de um condutor.


A força eletromotriz média induzida nesse condutor, em determinado intervalo de tempo ∆t, é
dada pela seguinte expressão:
∆Φ
ε =− (4.14)
∆t
O sinal de menos (-) que aparece na Lei de Faraday-Neumann significa que nela está implícita a Lei
de Lenz. Esse sinal indica que a força eletromotriz induzida surge com a “intenção” de criar um
fluxo induzido “contra” a variação do fluxo indutor, o que está de acordo com a Lei de Lenz.
88 Força Magnética

4.6 Problemas
Problema 4.1 Um ímã em forma de barra reta, inicialmente em repouso em relação a uma espira
circular, é abandonado acima dela e cai, atravessando-a. Para o observador O, qual é o sentido da
corrente induzida na espira:
a) enquanto o ímã está em repouso em relação a ela?
b) um pouco antes de o ímã começar a atravessá-la?
c) logo após a passagem completa do ímã através dela?

Figura 4.25: Problema 4.1

Problema 4.2 Uma espira condutora retangular, situada no plano do papel, está penetrando em um
campo magnético uniforme e constante, com velocidade v, como indica a figura. Em relação ao
leitor, qual é o sentido da corrente induzida na espira:
a) enquanto ela está penetrando no campo, isto é, antes de estar totalmente dentro dele?
b) enquanto ela está totalmente dentro do campo?
c) quando a espira está saindo do campo?

Figura 4.26: Problema 4.2

Problema 4.3 Uma espira quadrada de 20 cm de lado está totalmente imersa em um campo de
indução magnética uniforme e constante, de intensidade 4,0 T. Calcule o fluxo de indução através
dessa espira, nos seguintes casos:
a) o plano da espira é perpendicular às linhas de indução;
b) o plano da espira é paralelo às linhas de indução.
Capítulo 4 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 89

2,0
Problema 4.4 Um anel circular de raio √ π
m é introduzido em um campo magnético uniforme,
ficando totalmente imerso nele. Sendo B 5 1,5 Wb/m2, calcule o fluxo de indução através do anel,
nos seguintes casos:
a) quando o plano do anel é paralelo às linhas de indução;
b) quando o plano do anel é perpendicular às linhas de indução;
c) quando a normal ao plano do anel forma um ângulo θ (cos θ = 0,60) com as linhas de indução.

Problema 4.5 Uma espira retangular de 10 cm de largura por 30 cm de comprimento é colocada,


totalmente imersa, em um campo de indução magnética uniforme e constante, de módulo igual a 2,0
T. As linhas de indução formam um ângulo de 30° com o plano da espira.
Calcule:
a) o fluxo do vetor indução magnética concatenado com a espira;
b) o fluxo citado, supondo o plano da espira perpendicular às linhas de indução e admitindo que a
espira continue totalmente imersa no campo.

Figura 4.27: Problema 4.5

Problema 4.6 O sistema esquematizado na figura está disposto em um plano vertical. O resistor de
resistência R = 5Ω está ligado aos fios I e II, verticais, supostos ideais e muito longos. Uma haste
condutora ideal CD de comprimento L = 1 m, pesando P = 10N, é abandonada do repouso e passa a
mover-se sem atrito, sempre disposta perpendicularmente aos fios I e II, e sem perder contato com
eles. Determine a velocidade máxima atingida pela haste, sabendo que existe um campo magnético
uniforme e constante perpendicular ao plano do sistema, como mostra a figura, e de intensidade B =
1 T. Despreze a influência do ar.

Figura 4.28: Problema 4.6


90 Força Magnética

Problema 4.7 Do instante t1 = 1, 0 s ao instante t2 = 1, 2 s, o fluxo de indução magnética através de


uma espira variou de Φ1 = 2, 0 Wb a Φ2 = 8, 0 Wb. Determine a força eletromotriz média induzida
na espira, no intervalo de tempo entre t1 e t2 .

Problema 4.8 Uma barra de cobre MN, disposta perpendicularmente às linhas de indução de um
campo magnético uniforme B, move-se com velocidade v perpendicular a B.
Sendo B = 0,50 T, v = 100 m/s e L = 1,0 m o comprimento da barra:
a) calcule o módulo da força eletromotriz induzida entre suas extremidades;
b) determine a polaridade elétrica das extremidades M e N.

Figura 4.29: Problema 4.8

Problema 4.9 Um avião encontra-se em movimento retilíneo e horizontal, a 250 m/s, em um local
onde o campo magnético terrestre possui uma componente vertical de 2, 0 × 10˘5 T de intensidade.
Sabendo que a distância entre as extremidades das asas desse avião é igual a 20 m, estime o módulo
da força eletromotriz induzida entre esses pontos. As asas desse avião são metálicas e estão em
contato elétrico com a fuselagem também metálica.

Problema 4.10 Uma espira circular perfeitamente condutora, de área igual a 1, 0 × 10˘2 m2 , imersa
em um campo magnético uniforme, perpendicular ao plano da espira.
No instante t1 = 1, 0s, o módulo do vetor indução magnética vale 0,20 T. Em seguida, o módulo
desse vetor aumenta e, no instante t2 = 3, 0s, passa a valer 1,4 T. Ligado à espira, existe um resistor
de resistência igual a 2, 0mΩ. Determine:
a) os fluxos, nos instantes t1 e t2 ;
b) a força eletromotriz média induzida;
c) o sentido da corrente elétrica no resistor, durante o crescimento do módulo de B;
d) a intensidade da corrente elétrica média.

Figura 4.30: Problema 4.10


5. O início da Física Quântica

No final do século XIX e início do século XX, várias questões científicas continuavam sem
respostas. Grandes foram os esforços de muitos físicos para tentar explicar o comportamento da
matéria nas escalas atômica e subatômica, utilizando a Física Clássica. Entretanto, algum fato
sempre ficava sem explicação, e surgiam inconsistências na teoria. Porém, em meados de 1900
iniciou-se o desenvolvimento da teoria Quântica. Como veremos, essa nova teoria foi capaz de
explicar satisfatoriamente muitos dos problemas que pareciam não ter solução, e mais do que isso,
ela foi desenvolvida originalmente para tentar explicar a matéria nas escalas atômica e subatômica,
entretanto ela se mostrou aplicável também em sistemas macroscópicos.

5.1 Radiações eletromagnéticas


No século XIX, James Clerk Maxwell, verificando as leis já pré-estabelecidas do eletromagnetismo
sugeriu pequenas modificações de simetrias nas Leis de Ampère e Faraday, e com isso surgiram as
famosas equações de Maxwell. As quatro equações de Maxwell resumem todas as leis referentes ao
eletromagnetismo.
A simetria dessas equações implicam na possibilidade dos campos eletromagnéticos propagarem-se
juntos, ou seja, um campo elétrico variável no tempo induz o surgimento de um campo magnético
e vice-versa. Ao se propagarem de forma conjunta os campos eletromagnéticos constituem
as radiações eletromagnéticas. Essas radiações apresentam comportamento ondulatório e são
chamadas de ondas eletromagnéticas.
As ondas eletromagnéticas são criadas por cargas elétricas(elétrons) aceleradas e oscilantes
com uma determinada frequência característica, e obviamente as ondas eletromagnéticas geradas
apresentam a mesma frequência dos elétrons oscilantes.
Os campos elétrico e magnético que constituem a onda são variáveis no tempo e estão sempre
92 O início da Física Quântica

em fase. Além disso, são perpendiculares entre si e também à direção de propagação da onda como
pode ser visto na figura 5.1. A velocidade de propagação dessas ondas no vácuo, é denotada por c, e

Figura 5.1: Característica da onda eletromagnética.

foi calculada por Maxwell por meio da seguinte relação advinda de suas equações, antes de saber
que a luz é uma onda eletromagnética.
1
c= √ . (5.1)
µ0 ε0
Nessa expressão, µ0 = 4π × 10−7 T m/A e ε0 = 8, 85418 × 10−12 F/m são, respectivamente, a
permissividade elétrica e a permeabilidade magnética do vácuo, e obtemos c = 2, 99792 × 108 m/s.
Essa velocidade é válida tanto para o vácuo quanto para o ar, e coincidiu com a velocidade de
propagação da luz no ar, determinada experimentalmente. Maxwell, então, concluiu, corretamente,
que a luz visível também é uma onda eletromagnética. Uma característica notável das ondas
eletromagnéticas é o fato de elas não interagirem com campos elétricos nem com campos magnéticos
eventualmente presentes no meio por onde passam. Então, a luz, por exemplo, não sofre desvios
quando passa perto de um corpo eletrizado ou de um polo magnético.

5.2 Radiação térmica


Todo corpo, em qualquer temperatura acima do zero absoluto, emite energia na forma de
radiações eletromagnéticas. Por estar relacionada com a temperatura do corpo que a emite, essa
energia é denominada radiação térmica.
Quando a superfície do corpo está na temperatura ambiente, a radiação térmica emitida por ele
é predominantemente infravermelha. A medida em que a temperatura aumenta a radiação térmica
torna-se mais intensa. Em torno de 700°C começa aparecer a emissão de uma luz avermelhada, e se
aumentarmos cada vez mais a temperatura do corpo, a cor passa depois para o laranja, amarelo e
assim por diante tendendo a cor branca. Aumentando ainda mais a temperatura de um corpo que
já atingiu a coloração branca, ele passará a apresentar uma coloração azulada. É por isso que as
estrelas mais quentes são azuladas.

5.2.1 Lei de Stefan-Boltzmann


A lei de Stefan-Boltzmann nos fornece uma relação entre a potência total irradiada pela superfície
externa de um corpo em função da temperatura. Essa lei foi obtida empiricamente pelo f´sica Josef
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 93

Stefan e demonstrada matematicamente por Ludwing Boltzmann.

5.2.1 — Lei de Stefan-Boltzmann.

P = eσ AT 4 , (5.2)

onde P é a potência total irradiada pela superfície externa de um corpo (energia total da radiação
emitida por unidade de tempo), que se encontra a uma temperatura absoluta T; (e) é a emissividade
ou poder de emissão do corpo, uma grandeza adimensional que depende da natureza da superfície
emissora e que pode assumir valores entre 0 e 1; σ = 5, 67 × 10−8W /m2 K 4 é uma constante
universal denominada constante de Stefan-Boltzmann, e por fim A é a área da superfície emissora.

O poder de absorção de um corpo é igual ao de emissão. Isso significa que um corpo bom absorvedor
de radiação térmica (mau refletor) também é um bom emissor e que um mau absorvedor (bom
refletor) é um mau emissor.
Todo corpo está emitindo e absorvendo energia na forma de radiação térmica. Quando, em cada
unidade de tempo, o corpo absorve mais energia do que emite, sua temperatura tende a aumentar.
Quando, porém, emite mais do que absorve, sua temperatura tende a diminuir.
No equilíbrio térmico (temperatura constante e igual à do ambiente), as quantidades de energia
absorvida e emitida na forma de radiação térmica, por unidade de tempo, são iguais.

Corpo negro
Um corpo que absorve toda a radiação térmica que incide nele é chamado de corpo negro.
Assim, ele é um absorvedor perfeito, ou seja, seu poder de absorção a é igual a 1. Embora se trate de
uma idealização, existem maneiras de obter, na prática, corpos que se comportam aproximadamente
como um corpo negro. Uma delas é revestir um corpo qualquer com uma camada irregular de
pigmentos pretos. Lembrando que (a = e), temos que a emissividade de um corpo negro também é
igual a 1. Assim, ele é um absorvedor e um emissor ideal. Na figura 5.2 mostramos o gráfico da
intensidade da radiação emitida por um corpo negro em função do comprimento de onda λ , obtida
numa determinada temperatura T. Nesse gráfico, é importante observar que:

Figura 5.2: Intensidade da radiação emitida por um corpo negro em função do comprimento de onda.
94 O início da Física Quântica

• a radiação térmica emitida é constituída de muitas radiações distribuídas em uma faixa contínua de
comprimentos de onda;
• existe uma radiação, de um determinado comprimento de onda (λmax ), que é emitida com
intensidade máxima (Imax ).
No gráfico a seguir apresentamos o aspecto dos gráficos da intensidade I das radiações emitidas
no por um corpo negro, em duas temperaturas distintas, T1 e T2, onde T2 é maior que T1, em
função do comprimento de onda λ . Esse gráfico mostra que para um mesmo corpo negro a partir

Figura 5.3: Intensidades das radiações emitidas por um corpo negro em função do comprimento de
onda para duas temperaturas distintas.

do momento em que a temperatura aumenta a intensidade de cada radiação emitida, de um dado


comprimento de onda também aumenta. Além disso, o ponto de máximo da curva se desloca
de modo que o comprimento de onda máximo diminui, o que equivale a dizer que a frequência
correspondente aumenta.
Esse deslocamento foi demonstrado por Wien através da seguinte relação:
b
λmx = , (5.3)
T
onde b = 2, 898 × 10−3 m · K. Veremos na próxima seção que esse comportamento da radiação
mostrado pelos gráficos da figura 5.3 são incompatíveis com a teoria clássica das equações de
Maxwell relacionadas ao eletromagnetismo, e que levou ao surgimento da origem física quântica.

5.3 Modelo quântico das radiações


Embora a teoria eletromagnética de Maxwell era correta no que se refere aos fenômenos
relacionados com a propagação das radiações eletromagnéticas, o mesmo não aconteceu com relação
a radiação do corpo negro em função do comprimento de onda (λ ). A previsão teórica da teoria
eletromagnética de Maxwell, é muito diferente do comportamento experimental, principalmente
na região dos comprimentos de onda menores. Essa discrepância foi um grande transtorno para os
físicos no final do século XIX e ficou conhecida como “a catástrofe do ultravioleta”. Na figura 5.4
mostramos o comportamento teórico da física clássica em relação ao comportamento experimental
no gráfico da intensidade da radiação de corpo negro em função do comprimento de onda.
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 95

Figura 5.4: Intensidades das radiações emitidas por um corpo negro em função do comprimento de
onda, onde o gráfico A é o experimento e B é a previsão da teoria clássica de Maxwell.

Em 1900, o físico alemão Max Planck apresentou uma teoria para contornar o problema. Além
de audaciosa, ela conflitava drasticamente com a teoria clássica. Ele considerou que, na superfície
do corpo negro, existem osciladores harmônicos simples (cargas elétricas oscilantes) que só podem
ter determinados valores E de energia, dados pela expressão

E = nh f . (5.4)

Nessa expressão, o número inteiro ( n = 0, 1 ,2, 3, ...) é denominado número quântico, h é uma
constante que recebeu o nome de constante de Planck e f é a frequência do oscilador. Para cada valor
de n, o oscilador está em um determinado estado quântico. Isso significa que a energia do oscilador
é quantizada, ou seja, só pode ter determinados valores, no caso múltiplos inteiros de h f .
É importante destacar que essa teoria de fato contraria totalmente a Física Clássica, segundo a
qual um determinado oscilador harmônico simples pode ter qualquer quantidade de energia e, além
disso, essa energia não depende da frequência, mas apenas da amplitude de suas oscilações.
Em sua teoria, Planck também considerou que os osciladores existentes na superfície do corpo só
emitem ou absorvem energia quando passam de um estado quântico para outro, ou seja, , a emissão
e a absorção de energia também se dão em quantidades quantizadas.
A teoria quantizada para a radiação do corpo negro está em excelente concordância com os
resultados experimentais da radiação. Surgiu, entretanto, uma nova dúvida: se a energia só é emitida
em quantidades determinadas e, portanto, em determinadas frequências ou comprimentos de onda,
como o espectro da radiação térmica emitida por um corpo pode ser contínuo? Planck, ao ser
questionado sobre isso, argumentou que existem tantos osciladores, com tantas energias diferentes,
que torna muito grande a probabilidade de serem emitidas radiações de qualquer frequência. Portanto,
quantizados eram os osciladores, e não a radiação eletromagnética.

5.4 O Efeito fotoelétrico


Um outro exemplo muito marcante da incompatibilidade dos resultados experimentais com a
teoria de Maxwell é o efeito fotoelétrico, constatado experimentalmente no final do século XIX. A
primeira observação relacionada com esse fenômeno foi feita pelo físico russo Alexander Stoletov.
96 O início da Física Quântica

O fenômeno observado por Stoletov, e que Hertz também constatou em 1887, foi interpretado
assim:
Quando radiações eletromagnéticas incidem numa placa metálica, as cargas elétricas podem
absorve energia suficiente para escaparem dela. A esse fenômeno é chamado de efeito fotoelétrico.

Figura 5.5: O efeito fotoelétrico.

Contribuíram para a descoberta do fenômeno sem a explicação física do efeito fotoelétrico o próprio
Stoletov e o físico alemão Philipp von Lenard (1862-1947). Entretanto, os resultados experimentais
obtidos por eles não puderam ser explicados pela teoria eletromagnética de Maxwell. Aqui, havia
dois problemas que a física clássica não conseguia explicar nesse fenômeno. O primeiro é que as
energias cinéticas dos elétrons extraídos da placa não dependem da intensidade da radiação incidente,
e o segundo é que essas energias cinéticas dependem da frequência da radiação incidente.
Em 1905, o físico alemão Albert Einstein explicou o efeito fotoelétrico. Para isso, ele estendeu a
teoria de Planck às radiações eletromagnéticas, considerando que a energia dessas radiações também
é quantizada. Assim, uma radiação eletromagnética passou a ser tratada como um feixe de partículas
denominadas fótons. Einstein supôs que a energia de um fóton (quantum) é dada por:

E = hf, (5.5)

onde h é a constante de Planck e f é a frequência da radiação. No SI, a constante de Planck tem o


seguinte valor h = 6, 63 × 10−34 Js. Quando uma radiação eletromagnética de frequência f incide em
uma placa metálica, ocorrem colisões entre fótons da radiação e elétrons do metal. Em cada uma
dessas colisões, um fóton pode fornecer toda a sua energia (h f ) a um único elétron. Absorvendo o
fóton, o elétron será extraído se a energia h f , que depende da frequência da radiação for suficiente, e
não da sua intensidade. Caso contrário, o elétron permanecerá no metal.
É importante destacar que Einstein adotou um novo modelo para a luz e as demais radiações
eletromagnéticas contrapondo-se ao modelo ondulatório. Como um fóton é um concentrado de
energia, podemos chamá-lo de “corpúsculo” ou “partícula” de energia. Por isso, o novo modelo é
denominado modelo corpuscular das radiações eletromagnéticas.
A energia cinética máxima do elétron retirado da placa relaciona-se com a energia do fóton por
meio da expressão:

Ecmax = h f −W, (5.6)

em que h f é a energia do fóton absorvido pelo elétron; W é uma característica do metal chamada
de função trabalho. Essa grandeza significa a energia mínima necessária para extrair um elétron
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 97

situado na superfície do metal. Se um elétron absorver um fóton com apenas essa energia W, ele sairá
do metal, porém com energia cinética igual a zero. Ao fóton de energia igual a W está associada uma
frequência mínima fmin , tal que W = h fmn . O leitor deve saber que a equação 5.6 é uma equação de
primeiro grau na frequência cujo gráfico é

Figura 5.6: Gráfico do efeito fotoelétrico.

O coeficiente angular dessa reta é a constante de Planck h. Portanto, se o gráfico for construído para
vários metais, em um mesmo par de eixos, os trechos inclinados serão paralelos entre si.
Como a energia de um fóton é pequena demais em comparação com as unidades de energia que
estamos habituados a usar, frequentemente lidamos com a unidade elétron-volt (eV), também útil na
Física Atômica e na Física Nuclear. Em relação ao joule (J), a unidade de energia elétron-volt (eV)
pode ser expressa assim

1eV = 1, 6 × 10−19 J. (5.7)

Diversas são as aplicações do efeito fotoelétrico, dentre eles podemos destacar as células foto-elétricas
que podem ser fotoemissivas e as fotocondutivas, resistores LDR, e também as memórias eproms.

Exercício 5.1 A potência total irradiada pelo Sol (Pot) é aproximadamente igual a 3, 8 × 1026W ,
e seu raio (R) mede cerca de 7, 0 × 108 m. Adote ainda as seguintes aproximações:
σ = 5, 7 × 102 mW2K4
π = 3, 14
b = 2, 9 × 1023 mK (Constante da Lei de Wien)
c = 3, 0 × 108 m/s (velocidade da luz no vácuo)
a) Estime a temperatura na superfície do Sol, considerando-a um corpo negro (emissividade e
igual a 1). Resp. T = 5, 7 × 103 K
b) Estime a frequência fImáx da radiação solar emitida com a máxima intensidade.Resp. f =
5, 9 × 1014 Hz


Exercício 5.2 A mínima frequência que uma radiação precisa ter para extrair elétrons de uma
placa de tungstênio é igual a 1, 1 × 1015 Hz. Sendo h = 6, 63 × 10−34 Js a constante de Planck,
c = 3, 0 × 108 m/s a velocidade das ondas eletromagnéticas no vácuo e m = 9, 1 × 10−31 kg a
massa do elétron, calcule:
a) a função trabalho para o tungstênio, em joules e em elétron-volts;Resp. W = 7, 3 × 10−19 J =
4, 6eV
98 O início da Física Quântica

b) a energia cinética máxima e a velocidade máxima dos elétrons emitidos pelo tungstênio,
no vácuo, quando nele incide uma radiação de comprimento de onda igual a 0, 18µm.Resp.
Ec = 3, 7 × 10−19 J e Vmax = 9, 0 × 105 m/s


5.5 Modelos atômicos


Num átomo, os elétrons encontram-se em diversos níveis de energia. Os mais próximos do
núcleo encontram-se nos níveis mais baixos, enquanto os que estão mais afastados dele encontram-se
em níveis mais altos de energia.
Por não se ter acesso visual à estrutura de um átomo, ele sempre foi estudado por meio de
modelos propostos pelos cientistas. Todos os modelos atômicos foram baseados em resultados
experimentais, e um dado modelo é aceito enquanto não falhar na explicação dos fenômenos. Neste
estudo, interessa-nos abordar apenas dois modelos atômicos.

5.5.1 Modelo de Rutherford


Um desses modelos foi proposto pelo físico neozelandês Ernest Rutherford. Ele descrevia o
átomo como sendo semelhante a um sistema planetário, tendo um núcleo central de carga positiva
com elétrons em órbita ao seu redor. O modelo de Rutherford mostrou-se inadequado para explicar
alguns fatos. Pela teoria eletromagnética de Maxwell, qualquer carga dotada de alguma aceleração
emite radiação eletromagnética e, portanto, perde energia. Um elétron do átomo de Rutherford,
descrevendo, por exemplo, uma circunferência em torno do núcleo, possui uma aceleração: a
centrípeta. Então, esse elétron deveria estar permanentemente emitindo radiação à custa de uma
redução de seu nível de energia. Com isso, deveria descrever uma trajetória espiralada até cair
no núcleo. Isso, entretanto, não ocorre, pois as eletrosferas dos átomos são estáveis. Existe ainda
outro problema no modelo de Rutherford. De acordo com a teoria eletromagnética de Maxwell, a
radiação emitida pelo elétron tem frequência igual à do seu movimento. Então, como a frequência
do movimento do elétron seria variável continuamente durante sua ida espiralada até o núcleo, o
elétron deveria emitir radiação com frequência variável também continuamente. Entretanto, como
veremos, a radiação emitida por um átomo só pode ter frequências de determinados valores, ao
contrário da radiação térmica emitida por um corpo, cujo espectro é contínuo. Evidenciou-se, então,
a necessidade de se criar um novo modelo atômico.

5.5.2 Modelo de Niels Bohr


O novo modelo, que foi proposto, em 1913, pelo físico dinamarquês Niels Bohr, foi baseado em
ideias quânticas. Bohr postulou que, para a eletrosfera de um átomo manter-se estável, os elétrons
desse átomo só podem ter determinados níveis de energia, denominados estados estacionários
ou quânticos: a cada um desses estados corresponde uma determinada energia. Em seu modelo,
Bohr propôs que, em um estado estacionário, o átomo não emite radiação. Assim, sua eletrosfera
mantém-se estável. Experimentos realizados a partir de 1914 confirmaram a existência dos estados
estacionários.
Em termos de nomenclatura, o estado estacionário, no qual os elétrons estão nos níveis mais
baixos de energia, é denominado estado fundamental; os demais estados permitidos são denominados
estados excitados. Para o caso particular do átomo de hidrogênio, que possui um único elétron, os
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 99

níveis de energia possíveis são dados pela seguinte expressão, decorrente da teoria de Bohr:

13, 6
En = − eV (5.8)
n2
em que n = 1, 2, 3, ... é o número quântico principal, que chamaremos simplesmente de número
quântico, e En é a energia correspondente a cada número quântico. O estado fundamental corresponde
a n = 1, e os estados excitados correspondem a n = 2, 3, ...
Observe que os valores de En são negativos. Isso significa que o elétron precisa receber energia
para chegar ao nível zero, situação em que ele está deixando de interagir com o núcleo, ou seja,
desvinculando-se do átomo. Bohr também postulou que todo átomo, ao passar de um estado
estacionário para outro, emite ou absorve um quantum de energia igual à diferença entre as energias
correspondentes aos dois estados, como exemplificam as seguintes figuras.

Figura 5.7: O elétron “saltará” do nível de energia E2 para o nível de energia E3 se absorver um
quantum de energia h f , tal que: h f = E3 − E2 .

Figura 5.8: O elétron retornará do nível de energia E3 para o nível de energia E2 emitindo um
quantum de radiação h f , tal que: h f = E3 − E2 .

Esse fato também não pode ser explicado pela teoria de Maxwell, pois, segundo ela, a frequência
da radiação emitida está relacionada com a frequência do movimento do elétron, o que não é verdade,
já que a frequência da radiação emitida está relacionada apenas com a diferença de energia entre os
estados inicial e final. No modelo de Bohr, os elétrons descrevem órbitas circulares em torno de um
100 O início da Física Quântica

núcleo positivo, submetidos à força de atração dada pela Lei de Coulomb, que desempenha o papel
de força resultante centrípeta. Os raios (r) dessas órbitas só podem ter determinados valores. No caso
do átomo de hidrogênio e de íons com apenas um elétron (como hélio ionizado e lítio duplamente
ionizado), os raios permitidos obedecem à seguinte relação:

rn = n2 r1 (5.9)

em que rn é o raio da órbita correspondente ao número quântico n e r1 é o raio correspondente ao


estado fundamental (n = 1).
Embora a teoria quântica de Bohr tenha explicado corretamente o espectro de emissão do átomo
de hidrogênio e de íons dotados de apenas um elétron, ela não conseguiu esclarecer o espectro
de emissão de átomos ou íons com mais de um elétron. Falhou grotescamente até no caso do
átomo de hélio, um átomo simples em que existem apenas dois elétrons. Outros fatos experimentais
importantes também não puderam ser explicados por essa teoria. Evidenciava-se, portanto, a
necessidade de se buscar uma nova abordagem do átomo. Depois de muito esforço dos físicos,
surgiu uma teoria satisfatória: a Mecânica Quântica. Essa teoria foi desenvolvida em 1925 pelo
físico austríaco Erwin Schrödinger.

5.6 Transições eletrônicas


No caso de uma radiação eletromagnética incidir em um átomo, um elétron dele só pode
absorver um fóton (quantum de energia) se a energia deste (h f ) for exatamente a quantidade de
energia necessária para o elétron “saltar” de um nível permitido para outro também permitido. Caso
contrário, ele não o absorve. Quando um elétron absorve um fóton, ele pode “saltar” para qualquer
um dos níveis superiores permitidos de energia, dependendo da energia do fóton absorvido. Estando
o átomo já excitado, o elétron retornará ao estado fundamental, pois o estado excitado é instável.
Existe uma probabilidade de esse retorno acontecer num único “salto”, caso em que o elétron devolve
a energia que havia absorvido, emitindo um único fóton de radiação.
Existe também uma probabilidade de o elétron retornar por etapas do estado excitado para
o estado fundamental. Quando isso ocorre, ele dá mais de um “salto”, passando por níveis
intermediários permitidos. Em cada “salto”, o elétron emite um fóton de energia menor que a
do fóton que ele havia absorvido na excitação e, portanto, de frequência associada menor que a
daquele fóton. A soma das energias de todos os fótons emitidos é igual à energia do fóton incidente
(absorvido). Como h f = h f 0 + h f 00 concluímos que as frequências f 0 e f 00 são menores que f .
Isso significa que um átomo pode ser excitado por luz de determinada frequência e emitir luzes de
frequências mais baixas, como acontece, por exemplo, nas lâmpadas fluorescentes.

5.6.1 Análise espectral


Átomos de um elemento químico no estado gasoso atômico (não molecular) só podem emitir
um conjunto de radiações eletromagnéticas de determinadas frequências, característico do elemento,
como se fosse sua impressão digital. Esse conjunto de radiações possíveis chama-se espectro de
emissão do elemento. Considerando apenas as radiações visíveis, um átomo de gás hélio, por
exemplo, só pode emitir sete radiações, todas com frequências bem definidas, independentemente da
causa da emissão. Dizemos, então, que o espectro de emissão do átomo de hélio, bem como dos
átomos de outros elementos químicos no estado gasoso atômico, é descontínuo. Podemos dizer,
também, que é um espectro de linhas ou de raias. A figura a seguir dá uma ideia de como se pode
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 101

Figura 5.9: Experimento de espectro de emissão.

obter o espectro de emissão de um elemento químico. No interior do tubo de vidro transparente


de uma lâmpada existe um determinado elemento químico no estado gasoso atômico. Os átomos
desse elemento são excitados e emitem luz, que atravessa duas estreitas fendas existentes nas placas
opacas, gerando um estreito pincel de luz.
Veja, a seguir, os espectros de emissão de alguns elementos químicos, na região visível do
espectro eletromagnético os elementos também emitem radiações não visíveis. Como o espectro de

Figura 5.10: Experimento de espectro de emissão.

emissão de um átomo é uma característica dele, a análise desse espectro permite identificá-lo. A
análise espectral tem aplicação na metalurgia, pois permite controlar a composição dos materiais. A
composição química dos minerais também pode ser determinada por essa análise.
102 O início da Física Quântica

Vamos ver agora o espectro de absorção de um elemento químico no estado gasoso atômico.
Para isso, vamos considerar um experimento em que é usada uma fonte de luz de espectro de
emissão contínuo do vermelho ao violeta. Essa fonte pode ser o filamento de uma lâmpada de
incandescência. Como na montagem experimental proposta para se obter o espectro de emissão,
neste caso, a luz proveniente da fonte também passa por duas fendas, obtendo-se um estreito pincel
de luz. Antes de passar por um prisma óptico, esse pincel atravessa uma ampola de vidro dentro da
qual existe um elemento químico no estado gasoso atômico. Em seguida, o pincel passa pelo prisma,
onde é decomposto, e incide em um filme fotográfico. Nesse filme fica registrado um espectro
composto de cores que variam gradualmente do vermelho ao violeta, mas com algumas linhas
escuras que correspondem às frequências das radiações que desapareceram do espectro contínuo
original, por terem sido absorvidas e espalhadas pelos átomos do interior da ampola. As linhas
escuras observadas constituem o espectro de absorção (na região visível) do elemento e também
permitem identificá-lo. O físico alemão Joseph von Fraunhofer, usando um prisma óptico, observou

Figura 5.11: Experimento de espectro de absorção.

linhas escuras no espectro (contínuo) da luz produzida pelo Sol. Essas linhas receberam o nome
de linhas de Fraunhofer e correspondem às frequências das luzes absorvidas e dispersadas pela
cromosfera solar, que é gasosa e rarefeita. Por meio desse espectro de absorção foi possível descobrir
elementos químicos existentes no Sol.
A análise dos espectros de absorção também possibilitou identificar elementos químicos em
outras estrelas. Foi ela que levou o astrônomo americano Edwin Powell Hubble a propor, em 1929, a
Teoria do Universo em Expansão. Hubble observou que as linhas espectrais de elementos químicos
identificados na luz das galáxias eram recebidas na Terra com frequências diminuídas, com isso ele
concluiu que há um movimento relativo de afastamento entre as galáxias e a Terra.

5.7 Problemas
Problema 5.1 Faça uma estimativa da temperatura do filamento de uma lâmpada de incandescência,
supondo que:
• a potência total irradiada seja Pot = 60W ;
• a emissividade do filamento seja e = 0, 30;
• o filamento seja um fio cilíndrico de comprimento L = 20 cm e seção transversal de raio r = 50µm.
Constante de Stefan-Boltzmann: σ = 5, 7 · 10−8 (SI)

Problema 5.2 A radiação cósmica de fundo detectada atualmente no espaço é, segundo a teoria
do big-bang, a radiação de corpo negro emitida naquela grande explosão, “esfriada” ao longo do
tempo em virtude da expansão do Universo. Hoje, a temperatura associada a essa radiação pela
Lei de Wien é de 2, 7K. Na Lei de Wien considere a constante b igual a 2, 9 × 1023 mK e calcule o
comprimento de onda correspondente ao pico de intensidade da radiação cósmica de fundo. Verifique
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 103

que esse pico está na faixa das micro-ondas, conforme medidas obtidas pelo satélite Cobe (Cosmic
Background Explorer), em 1989, e outras obtidas desde 1965. Informação adicional: as micro-ondas
são radiações eletromagnéticas com comprimentos de onda entre 1 mm e 30 cm, aproximadamente.

Problema 5.3 Suponha que a pele de uma pessoa esteja na temperatura de 35oC. Calcule a
frequência da radiação mais intensa emitida pela pele. Use: constante da Lei de Wien igual a
2, 9 × 10˘3 mK e velocidade da luz igual a 3, 0 × 108 m/s.

Problema 5.4 Considerando a constante de Planck igual a 6, 6 × 10−34 Js, calcule, em joules, a
energia do fóton:
a) de luz violeta de frequência igual a 7, 7 × 1014 Hz.
b) de radiação g de frequência igual a 5, 0 × 1021 Hz (essa radiação é emitida por núcleos instáveis
de átomos radiativos, quando se desintegram)

Problema 5.5 A potência luminosa (Pot) irradiada por uma lâmpada que emite, no ar, luz de
comprimento de onda (λ ) igual a 5 500 Å é igual a 40 W. Determine o número de fótons emitidos
por essa lâmpada durante 1,0 minuto.
Dados: velocidade da luz no ar: 3, 0 × 108 m/s;
Constante de Planck: 6, 63 × 10−34 Js.

Problema 5.6 A mínima energia necessária para extrair um elétron de uma chapa de ferro é igual
a 4,5 eV. Quando fótons de radiação ultravioleta incidem nessa chapa, a energia cinética máxima
dos elétrons ejetados dela é igual a 1,5 eV. Determine a frequência dos fótons incidentes na chapa
(Constante de Planck 6, 63 × 10−34 Js).

Problema 5.7 O gráfico a seguir fornece dados extraídos de um experimento em que se investigou
o efeito fotoelétrico no metal sódio. Nesse gráfico, Ecmx é a energia cinética máxima dos fotelétrons
e f é a frequência da luz que incidiu no metal.
Com base nos valores indicados no gráfico:
a) calcule a constante de Planck, em unidades do SI;
b) calcule a função trabalho do sódio, em eV.

Figura 5.12: Problema 5.7.

Problema 5.8 A figura a seguir representa algumas transições possíveis (A, B, C, D, E e F ) de um


elétron de determinado átomo quando ele absorve ou emite um fóton.
104 O início da Física Quântica

a) Em quais das transições indicadas o elétron absorve energia?


b) Em qual dessas transições é absorvido um fóton de menor comprimento de onda?
c) Em qual das transições é emitido um fóton com o maior comprimento de onda?

Figura 5.13: Problema 5.8.

Problema 5.9 Uma ampola de vidro contém um elemento químico no estado gasoso atômico.
Quando esse gás é excitado ele emite luz, e um estreito feixe dessa luz atravessa um prisma
óptico, decompondo-se em estreitos feixes cujas cores estão indicadas na figura 5.14. A figura 5.15
representa as transições (I, II, III e IV) responsáveis pela emissão dos feixes da figura 5.14. A cada
cor representada na figura 5.14 associe a transição correspondente indicada na figura 5.15.

Figura 5.14: Problema 5.9.

Figura 5.15: Problema 5.9.

Problema 5.10 Sejam n = 1, n = 2 e n = 3 alguns dos níveis de energia em que um elétron de


determinado átomo pode estar, correspondentes às energias E1, E2 e E3, respectivamente. Na
Capítulo 5 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 105

transição de n = 3 para n = 2, esse elétron emite um fóton de comprimento de onda igual a 570 nm.
Dado que E2 = 5E1 e E3 = 7E1, determine o comprimento de onda do fóton emitido pelo elétron na
transição:
a) de n = 3 para n = 1;
b) de n = 2 para n = 1.
6. Relatividade

Como se estuda em Mecânica Clássica, a velocidade, por exemplo, é uma grandeza relativa,
isto é, uma grandeza que depende do referencial em relação ao qual é determinada, assim como,
outras grandezas que dependem da velocidade, tais como: a energia cinética e a quantidade de
movimento também são relativas. Já as grandezas comprimento, tempo e massa, entretanto, sempre
foram tratadas como absolutas, isto é, independentes do referencial em que são medidas.
Entretanto, como veremos o comprimento, a massa e o tempo, que são grandezas consideradas
como absolutas na Mecânica Clássica, também são grandezas relativas quando estudamos situações
em que as velocidades são muito altas, isto é, não desprezíveis em comparação com a velocidade da
luz no vácuo. Como veremos mais adiante, um corpo trafegando em altas velocidades, pode viajar
no tempo!

6.1 Postulados de Einstein


O Einstein construiu a Teoria da Relatividade Restrita a partir de dois postulados:
Primeiro Postulado→Todas as leis da Física são as mesmas em qualquer referencial inercial, ou
seja não existe um referencial inercial privilegiado.

Segundo Postulado→A velocidade da luz no vácuo tem o mesmo valor que é aproximadamente
igual a 300000 km/s em relação a qualquer referencial inercial.

É importante ressaltar que nenhuma composição de velocidades poderá resultar em um valor superior
ao da luz no vácuo, que é, pelos conhecimentos atuais, a maior velocidade possível no Universo.
Observe que esses postulados se aplicam a referenciais inerciais, que podem ser satisfatoriamente
entendidos como sendo não dotados de qualquer tipo de aceleração em relação às estrelas. A Terra,
108 Relatividade

então, não é um referencial inercial porque seus movimentos possuem acelerações em relação às
estrelas (especialmente o movimento de rotação em torno de seu eixo). Entretanto, as intensidades
dessas acelerações são pequenas o suficiente para podermos tratar a Terra como referencial inercial
em fenômenos de curta duração em relação a 24 horas.

6.2 A dilatação do tempo


Considere um vagão em movimento retilíneo e uniforme, com velocidade v em relação ao solo.
Um espelho plano está colado no teto do vagão e uma lanterna está colada em seu piso, a uma
distância d do espelho, como representa a figura. A lanterna emite do piso um pulso de luz que vai

Figura 6.1: Considerações iniciais para dilatação do tempo.

até o espelho no teto e retorna à lanterna. Vamos definir dois eventos:


• Primeiro evento: a lanterna emitindo o pulso de luz.
• Segundo evento: o pulso de luz chegando de volta à lanterna.
Vamos analisar o intervalo de tempo, decorrido entre esses dois eventos, em relação a dois referenciais
assim definidos:
• R’: referencial em repouso em relação ao local onde ocorreram os eventos. Para esse referencial, o
intervalo de tempo entre os eventos será representado por ∆t 0 .
• R: referencial em movimento em relação ao local onde ocorreram os eventos. Para esse referencial,
o intervalo de tempo entre os eventos será representado por ∆t.
Observe que, na situação representada na figura acima, R’ é um referencial no vagão e R é um
referencial no solo. Do ponto de vista do referencial R’, a luz faz o trajeto indicado naquela figura,
propagando-se com velocidade c e percorrendo a distância 2d durante o intervalo de tempo ∆t 0 .
Levando em conta estas considerações podemos escrever

2d
∆t 0 = . (6.1)
c
O trajeto da luz, entre os dois eventos citados, em relação ao referencial R, estacionário no solo (mas
em movimento em relação ao local dos eventos) pode ser visto na figura 6.2.
Capítulo 6 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 109

Figura 6.2: Eventos visto pelo referencial R.

No referencial R, nesse trajeto, a luz, também com velocidade c, percorreu durante um intervalo
de tempo ∆t a distância c · ∆t/2 na ida e o mesmo valor na volta. Além disso, ele viu o vagão com
uma velocidade v, se deslocar v · ∆t. Usando o teorema de Pitágoras no triângulo destacado na figura
6.2 podemos escrever o tempo dilatado.

6.2.1 — Dilatação do tempo no referencial R. Para um referencial R, que se move em relação


ao local onde ocorrem eventos, o intervalo de tempo ∆t entre os eventos é maior que o intervalo
∆t 0 medido pelo referencial R’, em repouso em relação ao local dos eventos.

∆t 0
∆t = q (6.2)
2
1 − vcc
q
2
Como a expressão 1 − vcc é menor do que 1, concluímos que ∆t é maior que ∆t 0 . Note que isso
tinha de acontecer, pois, como a velocidade da luz é a mesma para os dois referenciais, o intervalo
de tempo entre os dois eventos tem de ser maior para o referencial R, que vê a luz percorrer a
maior distância.
Observe que esse resultado mostra que é possível viajar no tempo, quando se move em altíssimas
velocidades. Na verdade o tempo visto pelo observador R, por ser maior do que o tempo medido no
referencial R’, proporciona ao observador R’ viajar no tempo em relação ao observador R.

Exercício 6.1 João e Pedro são irmãos gêmeos. Há 25 anos João partiu para uma missão espacial
a bordo de uma espaçonave, viajando a uma velocidade de 200.000 km/s. Quando retornou a
Terra encontrou Pedro com 85 anos de idade. Qual é a idade real de João ao retornar a Terra?
Resp. 69,7 anos. 

6.3 Contração do comprimento


Considere o mesmo vagão da seção anterior, nas mesmas condições lá estabelecidas. Vamos
supor que o vagão vai passar por um túnel, como ilustra a figura 6.3. Vamos considerar que o vagão
é uma partícula em relação ao túnel. A medida do comprimento do túnel será analisada em relação a
dois referenciais assim definidos:
• R: referencial em repouso em relação ao corpo cujo comprimento será medido (no caso, o corpo é
o túnel). Para esse referencial, o comprimento do túnel é L.
• R’: referencial móvel em relação ao corpo (túnel) cujo comprimento será medido. Para esse
110 Relatividade

referencial, o comprimento do túnel é L’.


Para o referencial R, o comprimento do túnel mede L. Então, enquanto o vagão passa completamente
pelo túnel, esse referencial R o vê percorrer uma distância L durante um intervalo de tempo ∆t,
medido em um relógio em seu pulso. Então,

L = v · ∆t. (6.3)

Figura 6.3: Eventos vistos pelos referenciais R e R’.

Para o referencial R’, o túnel tem comprimento igual a L’ e se move para a esquerda, com
velocidade de módulo v, indicada em azul na figura acima. Assim, R’ vê o túnel passar completamente
por ele, percorrendo uma distância L’ durante um intervalo de tempo ∆t 0 , medido em um relógio em
seu pulso. Então, podemos escrever a contração do comprimento.

6.3.1 — Contração no comprimento no referencial R. Para um referencial R, que está em


repouso em relação a um corpo, esse corpo tem comprimento L, e para um referencial R’, que se
move em relação ao mesmo corpo, o comprimento desse corpo é L’, sendo L’ menor que L.
r
v2
L0 = L 1 − c . (6.4)
c
q
2
Como a expressão 1 − vcc é menor do que 1, concluímos que L0 é menor que L. É preciso
destacar que essa contração só acontece na direção do movimento.

Se o corpo em estudo estivesse dentro do vagão e fixado nele, o referencial R, em repouso em relação
ao corpo, estaria no vagão. O referencial R’, por sua vez, em movimento em relação ao corpo, estaria
no solo, ou seja, ao contrário ao da figura 6.3. Nessa situação, a contração do comprimento do corpo
ocorreria para R’ no referencial do solo.

Exercício 6.2 Num acelerador de partículas, elétrons com velocidade igual a 0,999975c percorrem
um trecho de um tubo de 3,2 km de comprimento. Para os elétrons qual é o comprimento desse
trecho do tubo?
Resp. 22,63 m. 
Capítulo 6 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 111

6.4 Composição de velocidades


A maneira de compor as velocidades na Teoria da Relatividade é bem diferente do que se faz na
Mecânica Newtoniana. Retomando o vagão analisado anteriormente, vamos considerar a seguinte
situação particular, em que as velocidades têm a mesma direção. O vagão move-se com velocidade
v em relação ao solo, e um objeto P move-se com velocidade u’ em relação ao vagão. Pode-se
demonstrar que a velocidade u do objeto P em relação ao solo é dada por

u0 + v
u= 0 . (6.5)
1 + uc2v

Ao usar essa expressão, cada velocidade terá um valor algébrico: positivo, quando tem o mesmo
sentido do eixo de referência (ver figura anterior), e negativo, quando tem sentido oposto ao desse
eixo. Se tivéssemos a situação v = c e u0 = c o valor de (u) seria igual (u = c) também. Se v e
u’ fossem desprezíveis em relação a c, teríamos como resultado a Mecânica Clássica (u = u0 + v),
portanto a equação 6.5 é consistente.

6.5 A massa relativistica


Considere, por exemplo, uma pedra em repouso em relação ao solo. Vamos simbolizar por m0 a
massa da pedra medida nessa situação chamada de massa de repouso. Suponha, agora, que essa
mesma pedra esteja em movimento em relação ao solo, com velocidade v. Pode-se demonstrar que,
nessa nova situação, a massa da pedra passa a ser m, é dada pela expressão
m0
m= q . (6.6)
2
1 − cv2
q
2
Note que, sendo 1 − vc2 menor que do 1, m é maior que m0 , ou seja, a massa da pedra em
movimento é maior que sua massa de repouso. Note também que, quanto maior for v, maior será
a massa m. Evidentemente esse aumento de massa não significa um aumento da quantidade de
partículas que constituem a pedra, mas um aumento da sua inércia. Por exemplo, se a pedra estiver
em movimento retilíneo acelerado, sob ação de uma força resultante constante, sua aceleração não
será constante, mas diminuirá à medida que sua velocidade aumentar, conforme ilustra a figura 6.4.
Nos aceleradores de partículas, em que elétrons, por exemplo, atingem velocidades próximas de c, a
variação da massa com a velocidade é plenamente comprovada.
Essa massa de repouso equivale a uma energia intrínseca dada por:

E0 = m0 c2 . (6.7)

Todas as reações que liberam energia, inclusive as reações químicas exotérmicas, fazem-no devido a
uma perda de massa, que se transforma em energia. A energia solar, por exemplo, provém de uma
reação nuclear denominada fusão nuclear. Nessa reação, núcleos de hidrogênio se unem produzindo
um núcleo de hélio. A massa do núcleo de hélio, porém, é ligeiramente menor que a soma das
massas dos núcleos de hidrogênio, e essa perda de massa corresponde à energia liberada. Nesse
processo, o Sol perde cerca de 4 milhões de toneladas de massa a cada segundo! A fusão nuclear
também ocorre na explosão de uma bomba de hidrogênio. Do exposto, concluímos que massa é uma
forma de energia.
112 Relatividade

Figura 6.4: O gráfico 1 representa a previsão da mecânica clássica:a aceleração da pedra é constante
e sua velocidade cresce indefinidamente. O gráfico 2 representa a previsão relativística: a aceleração
da pedra diminui com o tempo, em virtude do aumento de sua inércia, e sua velocidade é limitada
pelo valor c.

Se um corpo estiver em movimento em relação a um referencial no qual ele possui uma massa
de repouso igual a m0 , sua energia total E será dada por
m0
E = mc2 = q · c2 , (6.8)
v2
1 − c2

em que m é a massa relativística do corpo. Essa energia total E é a soma da energia de repouso do
corpo, E0 , com sua energia cinética Ec :
E = E0 + Ec . (6.9)
Podemos também escrever a quantidade de movimento Q do corpo como:
~ = m~v = q m0 ·~v,
Q (6.10)
2
1 − vc2

É oportuno constatar que um corpo com massa de repouso m0 6= 0 não pode atingir a velocidade da
luz no vácuo (c). De fato, se fizermos v tender a c, nas expressões (6.8) e (6.10), E e Q tenderão a
infinito, o que é absurdo.
Se elevarmos ao quadrado as expressões 6.8 e 6.10, isolarmos v2 em uma das novas expressões
obtidas e substituirmos v2 na outra, obteremos, após algum trabalho algébrico, o seguinte resultado,
que relaciona E com Q:
E 2 = Q2 c2 + (m0 c2 )2 . (6.11)
Uma partícula com massa de repouso igual a zero move-se com velocidade igual a c. É o que
acontece com os fótons. Na realidade, dizer que os fótons têm “massa de repouso nula” equivale a
dizer que não existem fótons em repouso. É importante destacar que a quantidade de movimento dos
fótons não é nula e pode ser calculada a partir da expressão:
E = Qc. (6.12)
Capítulo 6 Dr.Marcos Paulo Pontes Fonseca 113

Exercício 6.3 Calcule quantos joules são necessários por quilograma de massa de repouso para
acelerar um foguete até ele atingir a velocidade de 0,98c.
Resp. 3, 6 × 1017 J. 

6.6 As quatro interações


Tudo que acontece no Universo é devido a somente quatro forças fundamentais de interação são
elas: a nuclear forte, a eletromagnética, a nuclear fraca e a gravitacional.

6.6.1 Força nuclear forte


É a força responsável pela estabilidade de núcleos atômicos, permitindo, por exemplo, que
prótons, a despeito da extraordinária repulsão eletrostática existente entre eles, mantenham-se coesos
dentro do núcleo do átomo. Nos processos de fusão nuclear, em que núcleos leves se aderem para
formar elementos mais massivos, e nos processos de fissão nuclear, em que núcleos pesados são
desmantelados e dão origem a isótopos menores, ocorre liberação de enormes quantidades de energia
e, em ambos os casos, as forças nucleares fortes exercem papel preponderante. Essas forças, no
entanto, restringem-se aos núcleos atômicos, manifestando-se apenas em distâncias da ordem de
10−15 m. Acredita-se que a força nuclear forte atue também nos quarks, os supostos componentes de
prótons e nêutrons. Nessas últimas interações tal força recebe a denominação de carga de cor, que
nada tem a ver com carga elétrica ou cor.

6.6.2 Força eletromagnética


Ela explica as atrações e repulsões entre polos magnéticos, entre partículas dotadas de carga
elétrica e entre essas partículas e campos elétricos e magnéticos. É por causa da força eletromagnética
que o elétron de um átomo se mantém em órbita em torno do respectivo núcleo. Em um âmbito mais
amplo, é ela que assegura a estabilidade e a própria existência de átomos em geral. A emissão e a
absorção de luz, além de outras radiações, podem ser relacionadas à força eletromagnética que está
presente em saltos quânticos e na produção de ondas eletromagnéticas por partículas eletrizadas
em processo de aceleração. Forças de adesão e coesão também têm origem eletromagnética. Essas
interações englobam as forças de contato presentes no dia a dia, como trações, compressões, flexões,
atritos etc. As forças eletromagnéticas são de longo alcance, podendo, teoricamente, manifestar-se
em distâncias infinitas.

6.6.3 Força nuclear fraca


Ela é responsável pela degradação radioativa de certos núcleos atômicos. Em particular, essa
força rege o processo de decaimento beta (beta-menos ou beta-mais). No caso do decaimento
beta-menos, um nêutron divide-se espontaneamente em um próton, um elétron e um antineutrino.
Se um nêutron dentro do núcleo de um átomo decai dessa maneira, em razão da emissão do elétron
(partícula β ), ele se converte em um próton. Isso acrescenta um novo próton ao núcleo, transformando
um elemento químico em outro, como ocorre no interior de estrelas e em explosões de supernovas.
Nesses casos, há captura e decaimento de nêutrons. As forças nucleares fracas têm raio de ação
ainda menor que o das forças nucleares fortes, sendo notadas em dimensões bastante restritas, da
ordem de 1018 m.
114 Relatividade

6.6.4 Força gravitacional


É a menos expressiva dentre as quatro, mas sua importância é suprema, já que, por meio dela,
é possível explicar a queda de corpos e a aglomeração de poeira cósmica para a formação de
estrelas e de outros corpos celestes. Explica-se também a gravitação de planetas e satélites, a
formação de galáxias, buracos negros e a provável Expansão do Universo. Diferentemente da força
eletromagnética, a gravitacional é exclusivamente atrativa, podendo ser sentida a distâncias muito
grandes da massa que a produz.
As modernas teorias da Física têm abandonado o conceito de “ação a distância” e apontam no
sentido de que cada uma das quatro forças da natureza é “transmitida por partículas virtuais”,
denominadas mediadoras. Assim, a força nuclear forte teria como mediadoras os glúons; a
eletromagnética, os fótons; a nuclear fraca, os bósons; e a gravitacional, os grávitons.

6.7 Problemas
Problema 6.1 Considere uma barra em repouso em relação a um sistema de referência R’. Este se
movimenta em relação ao sistema de referência inercial R com velocidade u=0,8c. Seja L’=1,0 m o
comprimento da barra medido no referencial R’. Sabendo que a barra está alinhada na direção do
movimento, determine o comprimento da barra em relação ao referencial R.

Problema 6.2 Um foguete parte da Terra com uma velocidade igual a 0,8c levando um astronauta.
A viajem, em relação ao foguete dura três anos. Quanto tempo durou a viajem em relação a um
observador na Terra?

Problema 6.3 Um trem se desloca com velocidade u=0,3c em relação ao solo. Um objeto se
movimenta com velocidade v’=0,5c, em relação ao trem na mesma direção e sentido do movimento
do trem. Qual a velocidade do objeto em relação ao solo?

Problema 6.4 O princípio da correspondência estabelece que as novas teorias sobre a descrição
da natureza devem conter teorias clássicas já confirmadas. Utilizando essa ideia, verifique sua
confirmação para velocidades do nosso dia a dia, que é muito menor que a velocidade da luz
(v«c), no caso da dilatação do tempo, da contração do comprimento e na quantidade de movimento
relativística.

Problema 6.5 Resolva as situações a seguir.


a) O pêndulo de um relógio da casa de João realiza oscilações, e cada oscilação, medida por João,
dura 2,0 s. Qual é o tempo de duração de cada oscilação desse pêndulo para José, que é um astronauta
dentro de uma nave que se move em linha reta, com velocidade constante e igual a 0,60c em relação
à casa de João? (c é a velocidade da luz no vácuo.)
b) Considere a ocorrência de um evento dentro da nave, de 2,0 s de duração, medidos por José. Qual
é a duração desse evento para João?

Problema 6.6 Imagine um trem de 200 m de comprimento (medido em um referencial A em


repouso em relação ao trem), viajando a uma velocidade v constante e igual a 0,8 c em relação a um
túnel retilíneo que ele irá atravessar (c é a velocidade da luz na vácuo). Para um referencial B, em
repouso em relação ao túnel, seu comprimento é igual a 150 m. Em relação a B, o trem chegará a
“sumir” completamente dentro do túnel durante a travessia?
Bibliografia

Livros
[1]MÁXIMO, A. e ALVARENGA, B. Curso de Física vol.2, Ed.6ª, Scipione São Paulo, 2007.
[2]JUNIOR, F.R., FERRARO, N.G. e SOARES, P.A.T. Fundamentos da Ótica vol.1, Ed.9ª,
Moderna, São Paulo, 2007.
[3]HALLIDAY, D., RESNICK, R. e MERRILL, J. Fundamentos da Física vol.4, Ed.3ª, LTC, Rio
de Janeiro, 1994.
[4]ALONSO, M., FINN, E.J., Physics, Ed.1ª, Addison Wesley, New York, 1996.
Índice

A origem da campo magnético, 55, 73 Geradores, 21


Amperímetro, 15
Análise de Circuito, 28 Imãs, 37
Associação de Resistores em Paralelo, 9
Leis de Kirchhoff, 25
Associação de Resistores em Série, 7
Associação Mista de Resistores, 12 Medidas Elétricas, 14
Campo Magnético, 37 O início da Física Quântica, 91
Campo magnétiCo gerado por um solenoide,
63 Ponte de fio, 20
Campo magnético uniforme, 43 Ponte de Wheatstone, 18
Curto-circuito, 13 Primeira Lei de Kirchhoff, 27
Curva Característica do Gerador, 23 Problemas, 31

Direção e sentido da força magnética sobre Relatividade, 107


uma carga elétrica, 46 Rendimento do gerador, 23

Equação do Gerador, 22–24 Segunda Lei de Kirchhoff, 27

Força Magnética sobre uma carga elétrica, 46 Voltímetro, 17

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