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Brazilian Journal of Health Review 6103

ISSN: 2595-6825

Efeitos deletérios do uso do ácido hialurônico para fins estéticos

Deletary effects of the use of hyaluronic acid for aesthetic purposes


DOI:10.34119/bjhrv4n2-167

Recebimento dos originais: 04/02/2021


Aceitação para publicação: 01/03/2021

Ana Clara Rosa Coelho Guimarães


Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
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E-mail: anarosa@unipam.edu.br

Eythor Ávila Reis


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Hugo Sanchez Gomes


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Lucas Ferreira Gonçalves


Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
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Nathália Moreira Pereira


Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
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Thiago da Mata Martins


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Natália de Fátima Gonçalves Amâncio


Doutora em Promoção de Saúde pela Universidade de Franca – UNIFRAN
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
Endereço: Rua Major Gote, 808 – Bairro Caiçaras, Patos de Minas – MG, Brasil
E-mail: nataliafga@unipam.edu.br

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.2, p. 6103-6115 mar./apr. 2021
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ISSN: 2595-6825

RESUMO
Objetivo: Avaliar os riscos do uso desregulado do ácido hialurônico (AH). Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cujo tema foi pesquisado em diferentes
bases de dados com o cruzamento dos descritores “ácido hialurônico”; “malefícios”;
“consequências”; “estética”, sendo incluídos artigos dos últimos 5 anos, com texto
completo, que tratavam dos efeitos negativos do uso do AH, nos idiomas inglês e
português, relacionados a humanos. Resultados: Os artigos analisados evidenciaram um
aumento no uso de AH em procedimentos estéticos e a necessidade do conhecimento da
história clínica, anatomia facial e técnicas de injeção para bons resultados. Profissionais
não capacitados são um risco adicional para aplicação e nem todos conseguem lidar com
a gama de reações adversas existentes. Eritemas, edemas, hematomas, abcessos,
infecções, alergias, necrose, oclusão vascular, inflamações são possíveis efeitos da
aplicação errônea do AH. Esses, gerados principalmente por respostas imunes negativas
ao AH, trazem grandes prejuízos estéticos, psicológicos e funcionais na vida dos
pacientes. Considerações finais: Diante do elevado risco do uso de AH de forma
desregulada, é de extrema importância profissionais bem capacitados para a aplicação
facial do AH, para que minimize ao máximo os efeitos adversos e garanta um bom
resultado estético.

Palavras-Chaves: Ácido hialurônico, Efeitos adversos, Estética.

ABSTRACT
Objective: To evaluate, through a review, the risks of unregulated use of hyaluronic acid
(HA). Methods: This is an integrative review whose theme was researched in the database
of the VHL, PubMed and Scielo with the crossing of the descriptors “hyaluronic acid”;
“Harm”; "consequences"; “Esthetics”, including articles from the last 5 years, with full
text, which dealt with the negative effects of the use of HA, in English and Portuguese,
related to humans. Results: The analyzed articles showed an increase in the use of HA in
aesthetic procedures and the need for knowledge of clinical history, facial anatomy and
injection techniques for good results. Untrained professionals are an additional risk for
application and not everyone can deal with the range of adverse reactions that exist.
Erythema, edema, bruising, abscesses, infections, allergies, necrosis, vascular occlusion,
inflammation are possible effects of the wrong application of HA. These, generated
mainly by negative immune responses to HA, bring great aesthetic, psychological and
functional damage to the patients' lives. Final considerations: In view of the high risk of
using HA in an unregulated manner, it is extremely important that professionals who are
well trained in the facial application of HA, so that it minimizes adverse effects and
ensures a good aesthetic result.

Keywords: Hyaluronic acid, Adverse effects, Esthetics.

1 INTRODUÇÃO
O ácido hialurônico (AH) é responsável pelo volume da pele, ajuda a manter a
elasticidade e a maciez desta, dá forma aos olhos, é componente importante na
lubrificação das articulações e, além disso, contribui para a sustentação dos tecidos, uma
vez que as moléculas desse componente se entrelaçam e podem amortecer choques. Ele

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é um biopolímero formado pelo ácido glucurônico e a N-acetilglicosamina, sendo um


polissacarídeo de alta viscosidade. Naturalmente é encontrado no líquido sinovial, no
humor vítreo e no tecido conjuntivo de numerosos organismos. Do ponto de vista
bioquímico, é classificado dentro dos grupos dos glicosaminoglicanos (GAG), sob
condições fisiológicas, comporta-se como um sal, sendo portanto, também denominado
de hialuronato de sódio (NAHAS et al., 2016).
O fato do AH ser biocompatível, deve-se ao fato de esse componente estar
presente na matriz extracelular natural do corpo humano. Desse modo, cria-se um
ambiente propício (sem imunogenicidade), que facilita a adesão, a proliferação e a
diferenciação celular, além da existência de sinalização celular específica, o que auxilia
a reestruturação dos tecidos e dos componentes acessórios. Em condições fisiológicas, o
AH absorve grandes quantidades de água, formando uma estrutura hidratada em forma
de rede, o que lhe dá características de elasticidade e suporte protetivo e lubrificante
(NASCIMENTO; LOMBELLO, 2016).
Como agente curativo, o AH é utilizado em inúmeras aplicações, entre as quais se
destacam a cirurgia ocular, a reconstrução de tecidos, as doenças articulares degenerativas
e inflamatórias, a reposição de fluido sinovial, a liberação de agentes químicos em
implantes cirúrgicos, os sistemas de encapsulamento e liberação controlada de
medicamentos e os cosméticos tópicos. No tratamento local de feridas, é utilizado na
forma de creme, gel ou gaze impregnada para promover a cicatrização de feridas crônicas
de diversas etiologias, como lesão térmica, úlcera venosa e pé diabético, pois possui
características essenciais para qualquer cobertura biológica, como biocompatibilidade e
biodegradabilidade (DALMEDICO et al., 2016).
Suas potenciais complicações não são muito frequentes, porém, podem ser
classificadas como reações precoces e tardias. Eritema, edema, hematoma, infecções
inflamatórias, equimoses, efeito Tyndall, reações alérgicas, nódulos ou abscessos nos
sítios de aplicação e necrose tecidual são classificadas como reações precoces, ou seja, da
data de aplicação até 15 dias após o procedimento de aplicação. Edema persistente,
granulomas, cicatrizes hipertróficas, migração do material de preenchimento são eventos
tardios, ocorrendo de 6 a 24 meses após o procedimento de aplicação. Esses efeitos podem
ser causados por alergia ou por resposta imunológica aos componentes proteicos
presentes nas soluções de ácido hialurônico e podem ser tratados com injeção local de
hialuronidase (GUTMANN; ROBERTSON, 2018).

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Haja vista a quantidade de variações de usos como preenchimento de linhas de


expressão, aumento do volume da pele, melhora do aspecto visual da pele, e a
complexidade dos possíveis efeitos adversos, justifica-se a necessidade de buscar
evidências científicas que subsidiem a melhor decisão clínica no manejo do AH. Assim,
faz-se necessário um estudo que busque avaliar a extensão dos efeitos deletérios
consequentes do uso ou da aplicação desregulada do AH, uma vez que o conhecimento
antecipado desses efeitos adversos é fundamentais para evitar-se sequelas a longo prazo,
aumentando assim a segurança e o crédito dos procedimentos. Esse é o alicerce para evitar
reações adversas inesperadas, mas também existem outros fatores complementares, como
saber a procedência do produto e a capacidade do profissional que vai manuseá-lo, assim
como a garantia dos requisitos básicos de segurança (GUTMANN; ROBERTSON, 2018).

2 MÉTODOLOGIA
O presente artigo trata-se de uma revisão integrativa de literatura sobre os
possíveis efeitos deletérios do uso do ácido hialurônico para fins estéticos. Para
elaboração da questão de pesquisa, utilizou-se a estratégia PICO (Acrômio para Patient,
Intervention, Comparation e Outcome). Assim, a questão de pesquisa delimitada foi
“Quais são as possíveis consequências físicas do uso do ácido hialurônico para fins
estéticos”? Nela, temos P= Pessoas que fazem uso do ácido hialurônico; I= O ácido
hialurônico; C= não se aplica à esta pergunta; e O= Consequências físicas. Foi realizado
o cruzamento dos descritores “Ácido hialurônico”; “malefícios”; “consequências”;
“estética”; nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Google
Acadêmico, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online
(SCIELO) Sistema de Informação Online para Revistas Científicas da América Latina,
Caribe, Espanha e Portugal (LATINDEX).
A estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de
dados selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra
dos artigos selecionados nas etapas anteriores.
Foram encontrados 3478 artigos para a análise inicial do título. Como critérios de
inclusão, foram considerados artigos originais publicados no período entre 2015 e 2020,
nos idiomas inglês e português, estudos relacionados a humanos que abordassem o tema
pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo, sendo excluídos aqueles

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estudos que não correspondiam ao período considerado no levantamento de dados, os que


não possuíam texto completo disponível, os que não foram relacionados a humanos e os
que não envolviam resultados vinculados aos efeitos negativos do uso do ácido
hialurônico. Após leitura criteriosa das publicações, 3459 artigos não foram utilizados
devido aos critérios de exclusão. Dessa forma, 19 artigos foram selecionados para a
análise final e construção da revisão bibliográfica acerca do tema (Figura 1).

Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos artigos.


Identificação

Publicações identificadas na Inicialmente foram excluídas: 3343


pesquisa inicial. (n=3478). publicações pelos seguintes critérios:

Ano de publicação: Foram excluídos os


estudos não publicados no período
considerado. (n= 1491).
Triagem

Disponibilidade: Foram excluídas as


publicações com texto completo não
disponível. (n=978).

Estudos não relacionados a humanos.


Elegibilidade

(n=874).
Estudos selecionados para análise
do texto completo. (n=135)

Foram excluídas mais 116 publicações:

Estudos que não envolviam resultados


relacionados a efeitos físicos negativos do
uso do ácido hialurônico ou possuíam
resultados inconclusivos. (n=102).
Selecionados

Publicações duplicadas. (n=14).


Estudos para análise
final (n=19)

Fonte: GUIMARÃES, A. C. R. C., et al., 2020.

3 RESULTADOS
A partir da análise completa da íntegra dos 19 artigos devidamente selecionados,
foi possível observar que muitos apresentavam propósitos semelhantes, como a
identificação dos efeitos adversos proporcionados pelo uso do ácido hialurônico.
Diversos estudos também pontuaram a respeito da técnica desfrutada e da falta de amparo
teórico e preparatório para a realização de tais procedimentos. O quadro a seguir foi

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construído de modo a simplificar as principais informações e proporcionar melhor


visualização de cada estudo utilizado (Quadro 1).

Quadro 1: Características dos estudos selecionados na revisão integrativa.


Nº Autor (ano) Título Achados principais
1 Loh et al., (2016) Prevention and management O ácido hialurônico (AH) pode se alojar e causar necrose. É
of vision loss relating to facial de extrema importância que haja compreensão adequada da
filler injections anatomia facial e boas técnicas de injeção.
2 Andre; Haneke, Nicolau syndrome due to Após a injeção hialurônica, pode haver uma série de
(2016) hyaluronic acid injections sintomas, que deram o nome a síndrome que evolui da
seguinte forma: dor imediata → ulcerações → crostas em
alguns dias → necrose. É importante um conhecimento
profundo da anatomia facial para evitar áreas de risco.
3 Parada et al., Manejo de complicações de Não apenas a quantidade de procedimentos sofreu um
(2016) preenchedores dérmicos aumento, mas também os profissionais com permissão para
executá-los. Entretanto, nem todos estes profissionais estão
preparados para lidar com a gama de possíveis efeitos
adversos, assim como promover um planejamento
terapêutico adequado e uma técnica apurada.
4 Brenner et al., Late granulomatous reaction Doenças autoimunes podem facilitar a ocorrência de
(2016) to hyaluronic acid associated complicações e devem ser acompanhadas cuidadosamente
with rheumatoid arthritis antes do enchimento com ácido hialurônico. Anteriormente
treated with leflunomide ao preenchimento, é necessário avaliar os riscos e
benefícios caso a caso.
5 Lynch; Tahera, Late-Onset Inflammatory Resposta inflamatória de início tardio juntamente com
(2017) Response to Hyaluronic Acid edema e caroços, devido a uma hipersensibilidade
Dermal Fillers retardada.

6 Almeida et al., Diagnóstico e tratamento dos Estudo sugere um consenso para o diagnóstico e tratamento
(2017) eventos adversos do ácido dos eventos adversos devido ao uso do AH, definindo sinais
hialurônico: recomendações e sintomas a serem observados tanto de início imediato,
de consenso do painel de quanto precoce, quanto tardio e oferecendo a recomendação
especialistas da América mais viável a cada um.
Latina
7 Cavallieri et al., Edema tardio intermitente e Caracterização de uma complicação específica, o edema
(2017) persistente ETIP: reação tardio e persistente, de caráter intermitente (Etip).
adversa tardia ao preenchedor
de ácido hialurônico
8 Alcântara et al., Granulomatous reaction to Reação granulomatosa ao AH na região oral e perioral.
(2017) hyaluronic acid filler material Algumas preparações de AH estimulam a síntese de
in oral and perioral region: A interleucina-12 e fator de necrose tumoral em monócitos
case report and review of humanos.
literature

9 Robati et al., The Risk of Skin Necrosis Importância de conhecer a história clínica do paciente, pois
(2018) Following Hyaluronic Acid pode haver um reposicionamento de vasos sanguíneos que
Filler Injection in Patients aumentam os riscos de isquemia, necrose e embolia
With a History of Cosmetic vascular após injeção de ácido hialurônico.
Rhinoplasty

10 Vidic; Bartenjev, An adverse reaction after Relato de caso em que três dias após aplicação do HÁ no
(2018) hyaluronic acid filler lábio superior, região glabelar e raiz nasal, ocorreu uma
application: a case report erupção cutânea na glabela, incluindo a área da raiz nasal ao
couro cabeludo e à pálpebra superior esquerda.
11 Gutmann; Reações adversas associadas Podem haver reações precoces (eritema, edema, hematoma,
Robertson, (2018) ao uso de preenchedores infecção, efeito Tyndall*, reações alérgicas, nódulos e
faciais com ácido hialurônico necrose) e tardias (granulomas, cicatrizes hipertróficas,

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existência de biofilmes e migração do material de


preenchimento).
12 Santoni, (2018) Uso de ácido hialurônico AH apresentou-se como um bom preenchedor facial, tendo
injetável na estética facial: um tempo de duração esperado, havendo poucos efeitos
uma revisão da literatura colaterais e se adaptando aos contornos faciais.

13 Vieira et al., Eventos adversos e demais Estudo aponta diversos efeitos adversos encontrados em
(2018) incidentes no cuidado estético tratamentos estéticos e explana a necessidade do tema
realizado pelo biomédico segurança do paciente ser introduzido na graduação do
Biomédico.
14 Doerfler et al., Arterial Occlusion and Atualmente as complicações relacionadas ao
(2019) Necrosis Following preenchimento estão aumentando e, dentre todas, a mais
Hyaluronic Acid Injection and temida e perigosa é a oclusão vascular.
a Review of the Literature
15 Daher et al., Complicações vasculares dos Profissional deve estar preparado para reconhecer os sinais
(2019) preenchimentos faciais com de oclusão vascular, pois caso esta intercorrência não seja
ácido hialurônico: confecção interrompida pode evoluir a necrose e sequela permanente.
de protocolo de prevenção e Assim, desenvolveram um protocolo para intervenção
tratamento precoce.
16 Shoughy, (2019) Visual loss following cosmetic Os preenchedores à base de AH foram aprovados pela Food
facial filler injection and Drug Administration para uso em dobras
nasolabiais. No entanto, o ácido hialurônico é usado Off-
label para restaurar o volume em outras áreas, incluindo as
bochechas e a testa, fazendo com que a cegueira seja uma
das possíveis complicações.

17 Rosa, (2019) Necrose em glabela causada Homem de 49 anos submetido à preenchimento com AH na
por preenchedores: relato de re região temporo-frontal do lado direito e após 2 dias
caso começou a apresentar sintomas de necrose na região da
glabela.
18 Veloso et al., Celulite em face após Paciente se submeteu ao tratamento com AH com
(2019) preenchimento com ácido profissional da saúde não médico, que evoluiu para edema
hialurônico e rubor facial, e abscessos bilaterais até o sétimo dia,
necessitando de drenagem cirúrgica e antibioticoterapia
endovenosa.
19 Humphrey; Retrospective review of As reações mais comuns são o edema, formação de nódulos,
Shannon et al.,
delayed adverse events eritema, calor e sensibilidade ou dor. Em 34% dos casos
(2020) secondary to treatment with a houve um gatilho imunológico, imediatamente antes dos
smooth, cohesive 20-mg/mL sintomas aparecerem.
hyaluronic acid filler in 4500
patients
Legenda: *Efeito Tyndall: reação adversa em que o local da aplicação adquire outra coloração; Off-label:
uso difere do aprovado em bula.
Fonte: GUIMARÃES A. C. R. C., et al., 2020.

4 DISCUSSÃO
Vem sendo descrita uma grande variedade de complicações decorrentes do uso
estético de AH, principalmente durante os últimos 15 anos. Em ordem cronológica, foi
percebido inicialmente processos inflamatórios pela ação bacteriana, seguido de nódulos,
biofilmes e, mais recentemente, cegueira e complicações vasculares (ALMEIDA et al.,
2017).

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As reações adversas podem ser classificadas em precoces, que aparecem em um


período de horas a dias, e tardias, que ocorrem entre 6 a 24 meses após injeção de AH.
Por sua vez, Brenner et al., (2016), dividem os efeitos em intermediários, de um a 12
meses depois do preenchimento, e em longo prazo, mais de 12 meses após o
preenchimento. Será considerada, para a organização desse texto, a primeira
classificação, utilizada por Parada et al., (2016); Guttman; Dutra (2018); Veloso et al.,
(2019); Daher et al., (2020).
Dentre as precoces, de forma geral, as mais comuns citadas por esses autores
mencionados anteriormente são dor, equimoses, hematomas, hiperemia, e inflamação
local. Normalmente, são causadas pelas propriedades físico-químicas do material, do
calibre da agulha e da velocidade da injeção. São, em sua maioria, autolimitadas e não
requerem grandes intervenções (PARADA et al., 2016). Brenner et al., (2016), adiciona
que podem existir os sintomas sistêmicos, como artralgias, artrite, secura de olho e boca
e lesões cutâneas.
Eritema e edema ocorrem em cerca de 80% das aplicações devido ao dano tecidual
e podem durar várias horas ou vários dias, respectivamente. O efeito Tyndall é
caracterizado pela coloração azulada da pele, como resultado de vestígios de
hemossiderina após lesão vascular e/ou refração visual após lesão vascular. É ocasionado
pela aplicação superficial de AH, que, além da tindalização, pode ser responsável pelo
surgimento de nódulos e/ou pápulas (PARADA et al., 2016; GUTTMAN; DUTRA, 2018;
DAHER et al., 2020)
É importante diferenciar, segundo Vidic; Bartenjev (2018), esses nódulos
precoces não eritematosos que são formados quando há excesso de produto em uma
região dos nódulos tardios, que surgem após infecções, com sinais inflamatórios. Pode
haver, ainda, nódulos fibróticos palpáveis e indolores, resultantes de granulomas
transitórios.
De acordo com Parada et al., (2016), a agulha da injeção dérmica de
preenchedores pode danificar axônios e, dessa forma, ativar uma resposta inflamatória
com subsequente ativação de herpes simples. O ácido hialurônico pode, também,
desencadear uma reação imune de hipersensibilidade, variando de simples hiperemia a
anafilaxia. Além disso, a injeção pode introduzir bactérias da flora residente,
principalmente Staphylococcus ou Streptococcus spp., que são capazes de usar AH como
substrato. Esses microrganismos estão relacionados com infecções cutâneas ou
sistêmicas, com sintomas como febre e calafrios.

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Outras complicações menos relatadas entre os demais artigos são prurido, perda
da sensibilidade e escurecimento local, deslocamento do produto, angioedema labial,
tenossinovite, pólipo uterino, hemorragia vaginal, nódulos papulocísticos, amigdalite
aguda, nasofaringite e bronquite (VIEIRA; JUNIOR, 2018).
Entre as consequências com maior preocupação profissional, pelo alto risco de
formação de sequelas, estão as complicações vasculares. É importante um grande
conhecimento anatômico da face, respeitando as regiões de maior perigo. A substância
preenchedora pode obstruir o fluxo com sua presença intra-arterial ou por aumento da
pressão externa exercida pelo volume da substância. Por sua vez, a obstrução venosa é
incomum (DAHER et al., 2020).
Os autores dos artigos selecionados, Guttman; Dutra (2018); Robati; Moeineddin;
Narsrabadi (2018); Shoughy (2019); Veloso et al. (2019) e Daher et al., (2020) estão em
consonância no que diz respeito às zonas de risco do corpo para embolia e necrose. São
elas a nasal, a temporal, a glabela, a testa e o sulco nasolabial. O nariz abriga ramos
terminais da artéria angular, pobre em ramos colaterais (DOERFLER; HANKE 2019).
Ademais, qualquer preenchimento nesse local deve ser realizado no plano supraperiosteal
profundo para evitar a rede venosa anastomótica. A região temporal está envolvida com
a artéria temporal (LOH et al., 2016). A glabela também pode necrosar por compressão
ou oclusão do fluxo da artéria supratroclear e seus ramos. Essa região tem, ainda, estreita
conexão com o sistema vascular ocular pela proximidade com a artéria oftálmica ou
retiniana, um ramo da carótida interna. (VIEIRA; JUNIOR, 2018). A testa, pela artéria
supraorbital, também está associada ao risco de perda da visão pela oclusão dos vasos
oculares. O sulco nasolabial é irrigado pela artéria facial, que se torna superficial na fossa
piriforme, e pelas artérias angulares e labial superior (SANTONI, 2018).
Shoughy; (2019), acrescenta que, apesar de certas áreas serem acometidas com
mais frequência, a aplicação em qualquer local da face pode ser responsável por danos
oculares. O mecanismo é iniciado quando o preenchedor supera a pressão arterial sistólica
e, dessa forma, move-se contra o fluxo sanguíneo ao longo da artéria oftálmica. Loh e
seus colaboradores (2016), apontam que a oclusão oftálmica, além da necrose, pode ser
percebida por manifestações como estrabismo horizontal, oftalmoplegia, edema de
córnea, ptose e phthisis bulbi, com ou sem dor local.
A força da injeção, se suficientemente alta, pode levar à circulação cerebral. Se
essa força diminuir, pode haver oclusão da artéria cerebral média, causando isquemia
cerebral. Shoughy (2019), ainda relata fraqueza no braço esquerdo do paciente, um

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indício de embolia cerebrovascular. Aponta, ainda, que o preenchimento facial afeta o


Sistema Nervoso Central em 23,5% dos casos. Rosa (2019), descreve outra complicação,
um caso de necrose glabelar que evoluiu para diversos infartos na circulação cerebral,
dispersos no lobo parietal, após fluxo embólico retrógrado.
Outros achados clínicos característicos de danos vasculares especificados por
Robati et al., (2018) são palidez ou branqueamento da região, padrão de livedo,
descoloração preto-azulada, formação de bolhas, ulceração, descamação e demarcação.
Correlaciona, também, o histórico de rinoplastia com risco maior de necrose, pela
alteração da vasculatura do nariz, comprometendo anastomoses protetoras da circulação
carotídea.
Dentre todos os artigos, apenas Andre e Haneke (2016), aborda a Síndrome de
Nicolau, uma dermatite com padrão livedoide com dor imediata e que evolui, após alguns
dias, para necrose e crostas.
Todos efeitos deletérios supracitados são precoces. Os tardios são,
principalmente, a formação de biofilmes, granulomas e cicatrizes hipertróficas. Os
biofilmes são uma matriz com a consistência firme e semelhante à de uma cola, resistente
à ação imunológica e aos antibióticos, propício para o desenvolvimento de bactérias
(GUTTMAN; DUTRA, 2018).
Diversos autores citam os granulomas, dentre eles Brenner et al., (2016); Parada
et al., (2016); Almeida et al., (2017); Guttman e Dutra (2018); Santoni (2018); Vieira e
Junior (2018); Doerfler e Hanke (2019). Os granulomas surgem como nódulos palpáveis
cuja patogênese inflamatória é ainda desconhecida, embora possivelmente relacionado
com a presença de impurezas no processo de fermentação bacteriana na produção de AH.
A comprovação de que a causa da inflamação é a presença de AH se dá por análise
histológica do ácido encapsulado com granulomas de corpo estranho com células gigantes
multinucleadas. Tal afirmação condiz com o que foi proposto por Alcântara e seus
colaboradores (2017), que acresce a presença de células inflamatórias mononucleares que
rodeiam depósitos de material basofílico azulado e misturado com leucócitos
polimorfonucleares.
Brenner et al., (2016), acrescentam que as reações granulomatosas geralmente
surgem até 18 meses após o procedimento, mas pode chegar até a 36 meses. Discorre
sobre a contraindicação relativa de injeção de AH em pacientes com colagenopatias e
lúpus eritematoso, e, apesar, de não ter suporte na literatura, aponta surgimento de
granuloma associado à artrite reumatoide.

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Lynch (2017), descreve respostas sistêmicas iniciadas por linfócitos T e mediada


por células CD4+, possivelmente uma hipersensibilidade tardia do tipo 4, associada ou
não com granuloma de corpo estranho e manifestada como edema persistente e nódulos
inflamatórios.
Há, ainda, relatos de edema tardio e persistente no local da injeção, como foi
apontado por Cavalierri et al., (2017) e Veloso et al., (2019). Apresentam períodos de
remissão com tempo variável, deflagrados por gatilhos específicos e persiste enquanto
houver AH tecidual. De acordo com Humprey et al., (2020), juntamente com a formação
de nódulos, o edema foi a reação adversa mais comum e ocorreu, em média, 4 meses após
a aplicação.
Veloso et al., (2019) ressalta a importância da realização de uma anamnese
direcionada ao histórico de infecções, reações adversas e alergias antes do início do
processo de preenchimento para identificar riscos. Preconiza, ainda, técnicas adequadas
de limpeza da pele e cuidados com os materiais utilizados. Entretanto, mesmo com toda
a limpeza, não é um procedimento estéril, pois a agulha pode atravessar uma glândula
sebácea contaminada. Outrossim, é necessário evitar o preenchimento em áreas próximas
a inflamações ou infecções prévias.

5 CONCLUSÃO
Sabe-se que o uso do AH para tratamentos estéticos, como harmonização facial,
está em crescimento nos últimos anos. Apesar de ser considerado seguro e eficaz por sua
biocompatibilidade, deve-se atentar para os riscos e as possíveis complicações, precoces
e tardias: resposta inflamatória, eritema, edema, sensibilidade, dor, nodulações,
ulcerações, crostas, necrose, embolia vascular, cegueira, formação de biofilme,
granuloma, entre outros. Por isso, para o uso adequado, necessita-se de profissionais
habilitados, com extenso conhecimento da anatomia da face e compreendam a história
clínica individual. É importante avaliar os riscos e benefícios dessa aplicação e informar
ao paciente todas as possibilidades de efeitos adversos, para que seja feita uma decisão
conjunta e consciente. Dessa forma, esse estudo demonstra que os incidentes não devem
ser subestimados e as técnicas corretas, sempre preconizadas, a fim de evitar agravos.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.2, p. 6103-6115 mar./apr. 2021
Brazilian Journal of Health Review 6114
ISSN: 2595-6825

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