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ISSN: 2595-6825
Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.2, p. 6103-6115 mar./apr. 2021
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ISSN: 2595-6825
RESUMO
Objetivo: Avaliar os riscos do uso desregulado do ácido hialurônico (AH). Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cujo tema foi pesquisado em diferentes
bases de dados com o cruzamento dos descritores “ácido hialurônico”; “malefícios”;
“consequências”; “estética”, sendo incluídos artigos dos últimos 5 anos, com texto
completo, que tratavam dos efeitos negativos do uso do AH, nos idiomas inglês e
português, relacionados a humanos. Resultados: Os artigos analisados evidenciaram um
aumento no uso de AH em procedimentos estéticos e a necessidade do conhecimento da
história clínica, anatomia facial e técnicas de injeção para bons resultados. Profissionais
não capacitados são um risco adicional para aplicação e nem todos conseguem lidar com
a gama de reações adversas existentes. Eritemas, edemas, hematomas, abcessos,
infecções, alergias, necrose, oclusão vascular, inflamações são possíveis efeitos da
aplicação errônea do AH. Esses, gerados principalmente por respostas imunes negativas
ao AH, trazem grandes prejuízos estéticos, psicológicos e funcionais na vida dos
pacientes. Considerações finais: Diante do elevado risco do uso de AH de forma
desregulada, é de extrema importância profissionais bem capacitados para a aplicação
facial do AH, para que minimize ao máximo os efeitos adversos e garanta um bom
resultado estético.
ABSTRACT
Objective: To evaluate, through a review, the risks of unregulated use of hyaluronic acid
(HA). Methods: This is an integrative review whose theme was researched in the database
of the VHL, PubMed and Scielo with the crossing of the descriptors “hyaluronic acid”;
“Harm”; "consequences"; “Esthetics”, including articles from the last 5 years, with full
text, which dealt with the negative effects of the use of HA, in English and Portuguese,
related to humans. Results: The analyzed articles showed an increase in the use of HA in
aesthetic procedures and the need for knowledge of clinical history, facial anatomy and
injection techniques for good results. Untrained professionals are an additional risk for
application and not everyone can deal with the range of adverse reactions that exist.
Erythema, edema, bruising, abscesses, infections, allergies, necrosis, vascular occlusion,
inflammation are possible effects of the wrong application of HA. These, generated
mainly by negative immune responses to HA, bring great aesthetic, psychological and
functional damage to the patients' lives. Final considerations: In view of the high risk of
using HA in an unregulated manner, it is extremely important that professionals who are
well trained in the facial application of HA, so that it minimizes adverse effects and
ensures a good aesthetic result.
1 INTRODUÇÃO
O ácido hialurônico (AH) é responsável pelo volume da pele, ajuda a manter a
elasticidade e a maciez desta, dá forma aos olhos, é componente importante na
lubrificação das articulações e, além disso, contribui para a sustentação dos tecidos, uma
vez que as moléculas desse componente se entrelaçam e podem amortecer choques. Ele
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2 MÉTODOLOGIA
O presente artigo trata-se de uma revisão integrativa de literatura sobre os
possíveis efeitos deletérios do uso do ácido hialurônico para fins estéticos. Para
elaboração da questão de pesquisa, utilizou-se a estratégia PICO (Acrômio para Patient,
Intervention, Comparation e Outcome). Assim, a questão de pesquisa delimitada foi
“Quais são as possíveis consequências físicas do uso do ácido hialurônico para fins
estéticos”? Nela, temos P= Pessoas que fazem uso do ácido hialurônico; I= O ácido
hialurônico; C= não se aplica à esta pergunta; e O= Consequências físicas. Foi realizado
o cruzamento dos descritores “Ácido hialurônico”; “malefícios”; “consequências”;
“estética”; nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Google
Acadêmico, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online
(SCIELO) Sistema de Informação Online para Revistas Científicas da América Latina,
Caribe, Espanha e Portugal (LATINDEX).
A estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de
dados selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra
dos artigos selecionados nas etapas anteriores.
Foram encontrados 3478 artigos para a análise inicial do título. Como critérios de
inclusão, foram considerados artigos originais publicados no período entre 2015 e 2020,
nos idiomas inglês e português, estudos relacionados a humanos que abordassem o tema
pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo, sendo excluídos aqueles
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(n=874).
Estudos selecionados para análise
do texto completo. (n=135)
3 RESULTADOS
A partir da análise completa da íntegra dos 19 artigos devidamente selecionados,
foi possível observar que muitos apresentavam propósitos semelhantes, como a
identificação dos efeitos adversos proporcionados pelo uso do ácido hialurônico.
Diversos estudos também pontuaram a respeito da técnica desfrutada e da falta de amparo
teórico e preparatório para a realização de tais procedimentos. O quadro a seguir foi
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6 Almeida et al., Diagnóstico e tratamento dos Estudo sugere um consenso para o diagnóstico e tratamento
(2017) eventos adversos do ácido dos eventos adversos devido ao uso do AH, definindo sinais
hialurônico: recomendações e sintomas a serem observados tanto de início imediato,
de consenso do painel de quanto precoce, quanto tardio e oferecendo a recomendação
especialistas da América mais viável a cada um.
Latina
7 Cavallieri et al., Edema tardio intermitente e Caracterização de uma complicação específica, o edema
(2017) persistente ETIP: reação tardio e persistente, de caráter intermitente (Etip).
adversa tardia ao preenchedor
de ácido hialurônico
8 Alcântara et al., Granulomatous reaction to Reação granulomatosa ao AH na região oral e perioral.
(2017) hyaluronic acid filler material Algumas preparações de AH estimulam a síntese de
in oral and perioral region: A interleucina-12 e fator de necrose tumoral em monócitos
case report and review of humanos.
literature
9 Robati et al., The Risk of Skin Necrosis Importância de conhecer a história clínica do paciente, pois
(2018) Following Hyaluronic Acid pode haver um reposicionamento de vasos sanguíneos que
Filler Injection in Patients aumentam os riscos de isquemia, necrose e embolia
With a History of Cosmetic vascular após injeção de ácido hialurônico.
Rhinoplasty
10 Vidic; Bartenjev, An adverse reaction after Relato de caso em que três dias após aplicação do HÁ no
(2018) hyaluronic acid filler lábio superior, região glabelar e raiz nasal, ocorreu uma
application: a case report erupção cutânea na glabela, incluindo a área da raiz nasal ao
couro cabeludo e à pálpebra superior esquerda.
11 Gutmann; Reações adversas associadas Podem haver reações precoces (eritema, edema, hematoma,
Robertson, (2018) ao uso de preenchedores infecção, efeito Tyndall*, reações alérgicas, nódulos e
faciais com ácido hialurônico necrose) e tardias (granulomas, cicatrizes hipertróficas,
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13 Vieira et al., Eventos adversos e demais Estudo aponta diversos efeitos adversos encontrados em
(2018) incidentes no cuidado estético tratamentos estéticos e explana a necessidade do tema
realizado pelo biomédico segurança do paciente ser introduzido na graduação do
Biomédico.
14 Doerfler et al., Arterial Occlusion and Atualmente as complicações relacionadas ao
(2019) Necrosis Following preenchimento estão aumentando e, dentre todas, a mais
Hyaluronic Acid Injection and temida e perigosa é a oclusão vascular.
a Review of the Literature
15 Daher et al., Complicações vasculares dos Profissional deve estar preparado para reconhecer os sinais
(2019) preenchimentos faciais com de oclusão vascular, pois caso esta intercorrência não seja
ácido hialurônico: confecção interrompida pode evoluir a necrose e sequela permanente.
de protocolo de prevenção e Assim, desenvolveram um protocolo para intervenção
tratamento precoce.
16 Shoughy, (2019) Visual loss following cosmetic Os preenchedores à base de AH foram aprovados pela Food
facial filler injection and Drug Administration para uso em dobras
nasolabiais. No entanto, o ácido hialurônico é usado Off-
label para restaurar o volume em outras áreas, incluindo as
bochechas e a testa, fazendo com que a cegueira seja uma
das possíveis complicações.
17 Rosa, (2019) Necrose em glabela causada Homem de 49 anos submetido à preenchimento com AH na
por preenchedores: relato de re região temporo-frontal do lado direito e após 2 dias
caso começou a apresentar sintomas de necrose na região da
glabela.
18 Veloso et al., Celulite em face após Paciente se submeteu ao tratamento com AH com
(2019) preenchimento com ácido profissional da saúde não médico, que evoluiu para edema
hialurônico e rubor facial, e abscessos bilaterais até o sétimo dia,
necessitando de drenagem cirúrgica e antibioticoterapia
endovenosa.
19 Humphrey; Retrospective review of As reações mais comuns são o edema, formação de nódulos,
Shannon et al.,
delayed adverse events eritema, calor e sensibilidade ou dor. Em 34% dos casos
(2020) secondary to treatment with a houve um gatilho imunológico, imediatamente antes dos
smooth, cohesive 20-mg/mL sintomas aparecerem.
hyaluronic acid filler in 4500
patients
Legenda: *Efeito Tyndall: reação adversa em que o local da aplicação adquire outra coloração; Off-label:
uso difere do aprovado em bula.
Fonte: GUIMARÃES A. C. R. C., et al., 2020.
4 DISCUSSÃO
Vem sendo descrita uma grande variedade de complicações decorrentes do uso
estético de AH, principalmente durante os últimos 15 anos. Em ordem cronológica, foi
percebido inicialmente processos inflamatórios pela ação bacteriana, seguido de nódulos,
biofilmes e, mais recentemente, cegueira e complicações vasculares (ALMEIDA et al.,
2017).
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Outras complicações menos relatadas entre os demais artigos são prurido, perda
da sensibilidade e escurecimento local, deslocamento do produto, angioedema labial,
tenossinovite, pólipo uterino, hemorragia vaginal, nódulos papulocísticos, amigdalite
aguda, nasofaringite e bronquite (VIEIRA; JUNIOR, 2018).
Entre as consequências com maior preocupação profissional, pelo alto risco de
formação de sequelas, estão as complicações vasculares. É importante um grande
conhecimento anatômico da face, respeitando as regiões de maior perigo. A substância
preenchedora pode obstruir o fluxo com sua presença intra-arterial ou por aumento da
pressão externa exercida pelo volume da substância. Por sua vez, a obstrução venosa é
incomum (DAHER et al., 2020).
Os autores dos artigos selecionados, Guttman; Dutra (2018); Robati; Moeineddin;
Narsrabadi (2018); Shoughy (2019); Veloso et al. (2019) e Daher et al., (2020) estão em
consonância no que diz respeito às zonas de risco do corpo para embolia e necrose. São
elas a nasal, a temporal, a glabela, a testa e o sulco nasolabial. O nariz abriga ramos
terminais da artéria angular, pobre em ramos colaterais (DOERFLER; HANKE 2019).
Ademais, qualquer preenchimento nesse local deve ser realizado no plano supraperiosteal
profundo para evitar a rede venosa anastomótica. A região temporal está envolvida com
a artéria temporal (LOH et al., 2016). A glabela também pode necrosar por compressão
ou oclusão do fluxo da artéria supratroclear e seus ramos. Essa região tem, ainda, estreita
conexão com o sistema vascular ocular pela proximidade com a artéria oftálmica ou
retiniana, um ramo da carótida interna. (VIEIRA; JUNIOR, 2018). A testa, pela artéria
supraorbital, também está associada ao risco de perda da visão pela oclusão dos vasos
oculares. O sulco nasolabial é irrigado pela artéria facial, que se torna superficial na fossa
piriforme, e pelas artérias angulares e labial superior (SANTONI, 2018).
Shoughy; (2019), acrescenta que, apesar de certas áreas serem acometidas com
mais frequência, a aplicação em qualquer local da face pode ser responsável por danos
oculares. O mecanismo é iniciado quando o preenchedor supera a pressão arterial sistólica
e, dessa forma, move-se contra o fluxo sanguíneo ao longo da artéria oftálmica. Loh e
seus colaboradores (2016), apontam que a oclusão oftálmica, além da necrose, pode ser
percebida por manifestações como estrabismo horizontal, oftalmoplegia, edema de
córnea, ptose e phthisis bulbi, com ou sem dor local.
A força da injeção, se suficientemente alta, pode levar à circulação cerebral. Se
essa força diminuir, pode haver oclusão da artéria cerebral média, causando isquemia
cerebral. Shoughy (2019), ainda relata fraqueza no braço esquerdo do paciente, um
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5 CONCLUSÃO
Sabe-se que o uso do AH para tratamentos estéticos, como harmonização facial,
está em crescimento nos últimos anos. Apesar de ser considerado seguro e eficaz por sua
biocompatibilidade, deve-se atentar para os riscos e as possíveis complicações, precoces
e tardias: resposta inflamatória, eritema, edema, sensibilidade, dor, nodulações,
ulcerações, crostas, necrose, embolia vascular, cegueira, formação de biofilme,
granuloma, entre outros. Por isso, para o uso adequado, necessita-se de profissionais
habilitados, com extenso conhecimento da anatomia da face e compreendam a história
clínica individual. É importante avaliar os riscos e benefícios dessa aplicação e informar
ao paciente todas as possibilidades de efeitos adversos, para que seja feita uma decisão
conjunta e consciente. Dessa forma, esse estudo demonstra que os incidentes não devem
ser subestimados e as técnicas corretas, sempre preconizadas, a fim de evitar agravos.
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