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Brazilian Journal of Development 28226

ISSN: 2525-8761

Controle de qualidade de álcool líquido e em gel a 70% durante


utilização em uma farmácia escola

Quality control of 70% liquid and gel alcohol during use in a


university pharmacy
DOI:10.34117/bjdv8n4-357

Recebimento dos originais: 21/02/2022


Aceitação para publicação: 31/03/2022

Yanny Adrielly Razera


Farmacêutica
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: yanny.a.razera@gmail.com

Myllena Mazzo de Queiroga Gonçalves


Graduanda do curso de Farmácia
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: myllena.goncalves@unioeste.br

Eduarda Luisa Schneider Andrzejewski


Graduanda do curso de Farmácia
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: eduarda.andrzejewski@unioeste.br

Ionete Lúcia Milani Barzotto


Doutorado em Engenharia Biomédica
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: ionete.barzotto@unioeste.br

Helena Teru Takahashi Mizuta


Doutorado em Ciências Farmacêuticas
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: helena.takahashi@unioeste.br

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Fernanda Giacomini Bueno


Doutorado em Ciências Farmacêuticas
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: fernanda.bueno@unioeste.br

Simone Maria Menegatti de Oliveira


Doutorado em Engenharia Biomédica
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Endereço: R. Universitária, 2069 - Universitário, Cascavel - PR, Brasil
CEP: 85819-110
E-mail: simone.oliveira@unioeste.br

RESUMO
Os álcoois, em especial o etanol, são antissépticos utilizados no combate a disseminações
de doenças. Com o surgimento da pandemia do Covid-19 foram lançadas novas
legislações e definidos critérios para fabricação e venda de produtos para higienização,
permitindo sua manipulação em farmácias magistrais. Esta pesquisa teve como objetivo
avaliar a qualidade físico-química e microbiológica de amostras do álcool etílico 70%
líquido e em gel durante 30 dias de utilização em uma Farmácia Escola. Para isso foram
realizados ensaios organolépticos, físico-químicos e microbiológicos, a cada semana,
durante 30 dias. O álcool líquido e em gel a 70% foram manipulados na Farmácia Escola
e disponibilizados para uso na área de dispensação. Em relação às características
organolépticas do álcool líquido, todas as amostras mostraram-se homogêneas,
transparentes e límpidas, com odor característico de álcool. O álcool em gel apresentou-
se homogêneo, viscoso, translúcido, e com odor característico em todas as amostras. O
pH das amostras de álcool líquido variaram de 6,06 a 6,73, e do álcool em gel, de 6,73 a
6,78. As densidades das amostras líquidas não sofreram alterações, permanecendo
próximas a 0,86 g/cm³, e nas amostras em gel, variaram de 0,88 a 0,86 g/cm³. As
viscosidades dos álcoois em gel variaram de 3490 a 1928 cP. Todas as amostras foram
aprovadas no teste de atividade antimicrobiana. E finalmente, tanto a amostra líquida
quanto em gel se manteve na faixa da graduação alcoólica preconizada (70% a 75% p/p)
durante todo o período de utilização de 30 dias, assegurando sua qualidade e efetividade
num ambiente importante de atendimento primário à saúde, como é a farmácia.

Palavras-chave: álcool etílico a 70%, teor alcoólico, estabilidade.

ABSTRACT
Alcohols, especially ethanol, are antiseptics used to combat disease spread. With the
emergence of the Covid-19 pandemic, new legislation was launched and criteria were
defined for cleaning products manufacture and sale, allowing their production in
manipulation pharmacies. This research aimed to evaluate physicochemical and
microbiological quality of samples of 70% liquid and gel ethyl alcohol during 30 days of
use in a University Pharmacy. For this, organoleptic, physicochemical and
microbiological tests were carried out every week for 30 days. The 70% liquid and gel
alcohol were manipulated at the University Pharmacy and made available for use in the
dispensing área. Regarding liquid alcohol organoleptic characteristics, all samples were
homogeneous, transparent and limpid, with a characteristic alcohol odor. All samples of
alcohol gel were homogeneous, viscous, translucent, and with a characteristic odor. The

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pH of the liquid alcohol samples ranged from 6.06 to 6.73, and for gel alcohol, from 6.73
to 6.78. The densities of the liquid samples did not change, remaining close to 0.86 g/cm³
and in the gel samples ranged from 0.88 to 0.86 g/cm³. The gel alcohols viscosities ranged
from 3490 to 1928 cP. All samples passed the antimicrobial activity test. Finally, both
liquid and gel samples remained within the recommended alcoholic strength range (70%
to 75% w/w) throughout 30-day period of use, ensuring its quality and effectiveness in
an important environment of health primary care, as the pharmacy.

Keywords: 70% ethyl alcohol, alcohol contente, stability.

1 INTRODUÇÃO
Os álcoois etílico e isopropílico têm sido amplamente utilizados em instituições
de saúde como antisséptico na pele de pacientes, na higienização das mãos de
profissionais e como desinfetante de artigos e superfícies (ANDRADE et al, 2007;
BRASIL, 2009; BRASIL, 2010a; BRASIL, 2010b). Os antissépticos eliminam ou inibem
o crescimento de microrganismos quando aplicados sobre a pele ou mucosas. Podem ser
classificados como agentes bactericidas devido à capacidade de destruir as bactérias nas
formas vegetativas, e como agentes bacteriostáticos pois são capazes de inibir o
crescimento do microrganismo sem destruí-lo (REIS et al., 2011). Os desinfetantes
possuem largo espectro de atividade antimicrobiana, devido às suas propriedades
bactericidas, viricidas e fungicidas que causam a inativação de microrganismos na forma
vegetativa (não esporulada) em superfícies inanimadas (SOUZA et al., 2005).
Os álcoois, em especial o etanol, se apresentam como agentes de ação biológica
de largo espectro, podendo agir sobre bactérias, fungos e vírus. Quando surtos de doenças
contagiosas, oriundas de micro-organismos começam a se propagar, as técnicas de
higienização pessoal e de superfícies passam a atuar como grandes protagonistas no
combate às suas disseminações (LIMA et al., 2020). Por exemplo, em 2009, por
consequência da epidemia de H1N1 (MILANESI et al., 2011), e, principalmente, com o
surgimento da pandemia do Covid-19 (do inglês coronavirus disease 19) na China em
2019 (ZHU et al., 2020) os hábitos de saúde da população modificaram-se. Como essas
doenças são rapidamente dissemináveis através do contato das mãos e objetos
contaminados, o uso de antissépticos difundiu-se, sendo encorajado pelo Ministério da
Saúde, tanto em locais domésticos quanto comerciais. Sem dúvida, os agentes
antissépticos mais popularmente utilizados para fazer a higienização das mãos são as
preparações hidroalcóolicas (BENY, 2021). O álcool etílico age apenas em vírus
envelopados, como o SARS-CoV-2 (sigla em inglês que significa Síndrome Respiratória

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Aguda Grave - Coronavírus 2), o causador da pandemia. Esse vírus possui uma membrana
fosfolipídica, onde o produto age em um processo chamado de desnaturação proteica
(LIMA et al., 2020).
No Brasil, os produtos de higiene pessoal com a finalidade antisséptica, que
contenham álcool etílico em sua composição, até março de 2020, deveriam atender as
resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), como a Resolução
da Diretoria Colegiada (RDC) nº 46/2002 (BRASIL, 2002a); RDC nº 219/2002
(BRASIL, 2020b); RDC nº 322/2002 (BRASIL, 2002c) e RDC nº 14/2007 (BRASIL,
2007).
No entanto, com o surgimento do novo corona vírus em 2019, aumentou a
demanda da produção de álcool gel e líquido a 70% nas empresas fabricantes, além de
outros setores que anteriormente não faziam esta produção, como por exemplo as
instituições de ensino superior (RODRIGUES & VIEIRA, 2021). Foram então criadas
legislações em caráter temporário, como a Nota Técnica nº 03/2020 (BRASIL, 2020a), a
RDC 350/2020 (BRASIL, 2020b); a RDC 347/2020 (BRASIL, 2020c), onde são
definidos critérios e procedimentos para fabricação e venda de produtos para higienização
sem autorização prévia da ANVISA. As regras se aplicam a preparações antissépticas e
sanitizantes oficinais, como por exemplo o álcool gel e o álcool etílico 70% (p/p), sendo
que o prazo de validade dos produtos não poderá ser superior a 180 dias.
Segundo o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira (FNFB) (BRASIL,
2012), o álcool para desinfecção deve conter no mínimo 70% (p/p) e no máximo 75%
(p/p), de álcool etílico a 15 oC, e, após preparado deve ser armazenado em recipiente
adequado, de plástico, bem fechado, protegido da luz e a temperatura inferior a 25 ºC.
Como antisséptico, recomenda ainda o prazo de validade do álcool a 77 ºGL (70% p/p)
por 7 dias; 79 ºGL por 15 dias e 81 ºGL (75% p/p) por 30 dias.
Durante sua utilização, seja por parte do usuário, quanto pelo armazenamento,
podem ocorrer alterações no álcool líquido ou no álcool gel disponibilizado, levando à
sua instabilidade e/ou ineficácia. Na farmácia escola da UNIOESTE, no Campus de
Cascavel – PR, são fabricados o álcool líquido e em gel a 70%, e utilizados pelos
funcionários e pacientes atendidos. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a qualidade
físico-química e microbiológica de amostras do álcool etílico 70% líquido e em gel
durante 30 dias de utilização destes produtos na farmácia escola da UNIOESTE.

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2 METODOLOGIA
As análises foram realizadas nos laboratórios da Farmácia Escola e Laboratório
de Controle Microbiológico de Água, Alimentos, Medicamentos e Cosméticos da
UNIOESTE, Campus Cascavel – Pr.

2.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS


O álcool líquido a 70% (p/p) foi manipulado conforme descrito no FNFB
(BRASIL, 2012). Para seu preparo, foi utilizado álcool etílico a 92,8 °GL (marca Tupi).
Primeiramente, foi realizada a verificação do grau alcoólico aparente e da temperatura da
amostra, com o auxílio de um alcoômetro com termômetro acoplado (modelo Gay-Lussac
e Carrier 20 ºC, marca Incoterm®, Brasil). O valor do grau alcoólico real foi obtido da
Tábua da Força Real dos Líquidos Espirituosos (BRASIL, 2012). Calculou-se então, a
quantidade de água e álcool necessários através da Fórmula 1, onde Y é a quantidade de
álcool etílico a ser medido, P é a quantidade de álcool antisséptico/desinfetante que se
deseja preparar, B é o grau alcoólico que se deseja obter (77% v/v que equivale a 70%
p/p) e A é o grau alcoólico real do álcool etílico (corrigido pela Tabela a 15 °C).

Y= (P x B) Fórmula 1
A

O álcool gel a 70% (p/p) foi preparado com hidroxietilcelulose (HEC), de acordo
com técnica desenvolvida Barzotto e colaboradores (2020). As descrições quantitativas
e qualitativas dos componentes da formulação estão na Tabela 1.

Tabela 1. Descrição qualitativa e quantitativa dos componentes para preparo de 1000 mL do gel
hidroalcóolico de HEC.
COMPONENTES QUANTIDADES
FASE A
Hidroxietilcelulose 0,8%
Água destilada (1000 – x) mL
FASE B
Metilparabeno 0,015%
Álcool etílico calculado x mL
Fonte: Autores (2021).

Primeiramente, foi calculada a quantidade de álcool etílico necessário através da


Fórmula 1. Este valor foi descontado da quantidade final a ser preparada, obtendo-se

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então, a quantidade de água destilada necessária para o volume final. Em becker, foi
adicionado 0,8% de hidroxietilceluse 4400 (Êxodo científica) e a quantidade calculada de
água destilada, formando a Fase A. Esta fase foi aquecida em chapa aquecedora até a
gelificação (50 - 60 °C). A fase B, foi formada pelo álcool etílico calculado e o
metilparabeno P.A. (Êxodo científica) a 0,015%, usado como conservante. Após o
resfriamento da fase A abaixo de 40 °C, para evitar a evaporação do álcool, foi adicionada
a fase B por meio de constante agitação em agitador mecânico.
Para realização desta pesquisa foram preparados 1500 mL de álcool líquido, que
foram divididos em 3 almotolias de 500 mL cada, e disponibilizados na área de
dispensação e de serviços farmacêuticos. Também foram preparados 3000 mL de álcool
gel, os quais foram divididos em 3 frascos transparentes de 1000 mL, com válvula tipo
“pump”, e disponibilizados na área de atendimento da Farmácia Escola.
O álcool líquido e em gel das amostras foram utilizados pelos atendentes e
profissionais da farmácia escola, assim como pelos clientes ali atendidos durante 30 dias,
quando foram coletadas amostras em triplicata. Cada período de coleta compreendeu os
tempos: 0, 7, 14, 21, 30 dias após a fabricação. Foram registradas as temperaturas do
ambiente na hora das coletas.

2.2 PARÂMETROS ORGANOLÉPTICOS E FÍSICO-QUÍMICOS


2.2.1 Avaliação organoléptica do álcool em gel:
Foi analisada a cor, o aspecto (homogeneidade, ausência de grumos e precipitados,
separação de fases e turvação), a transparência (opaco, transparente ou translucido), e o
odor, a olho nu, sob condições de luz natural (BRASIL, 2008).

2.2.2 Determinação de pH do álcool gel:


Utilizou-se um pH-metro (Gehaka PG-1800) calibrado, e o pH foi determinado
através da imersão do eletrodo diretamente na amostra, sendo consideradas três leituras
sucessivas.

2.2.3 Determinação da Viscosidade do Álcool Gel:


A viscosidade do gel foi determinada utilizando-se o viscosímetro de Brookfield
série LV, spindle n°4, na velocidade 3,0 RPM (Rotações Por Minuto) à temperatura de
25±1 °C, e representada em centipoise (cP). Para a realização da leitura, as amostras
foram acondicionadas em béquer, e o spindlle foi introduzido na amostra de modo a evitar

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a formação de bolhas de ar, para não ocasionar erros na leitura. Os resultados


correspondem à média de três leituras com o respectivo desvio padrão.

2.2.4 Determinação da Densidade


2.2.4.1 Determinação da densidade do álcool 70% em gel:
Foi utilizado um picnômetro metálico, como segue: Pesou-se o picnômetro vazio
e anotou-se o seu peso (M0). A seguir, foi completado com água purificada, evitando-se
a introdução de bolhas. Depois de seco, foi novamente pesado e anotado seu peso (M1).
O picnômetro (limpo e seco) foi então, preenchido completamente com a amostra,
evitando-se a formação de bolhas, e em seguida foi pesado mais uma vez e seu peso (M2)
anotado.
Cálculo:
d = M2 - M0 Fórmula 2
M1 - M0

Onde: d = densidade; M0 = massa do picnômetro vazio, em gramas; M1 = massa


do picnômetro com água purificada, em gramas; M2 = massa do picnômetro com a
amostra, em gramas.

2.2.4.2 Determinação da densidade do etanol a 70% líquido:


Com auxílio de uma balança analítica pesou-se um balão volumétrico vazio de 10
mL. Após, adicionou-se 10 mL de água destilada ao balão, medindo sua temperatura na
escala Celsius. Através dos dados obtidos (volume e temperatura) calculou-se a densidade
da água e chegou-se ao volume exato do balão volumétrico. Em seguida, adicionou-se
10mL da amostra de álcool a ser analisada ao balão, previamente seco. Utilizando a massa
da amostra e o volume exato do balão volumétrico anteriormente calculado, verificou-se
a densidade da amostra, conforme fórmula 3.

d= m Fórmula 3
V

Onde: d = densidade; m = massa; V = Volume

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2.2.5 Análise do teor alcóolico


2.2.5.1 Teor alcoólico do etanol líquido método da densidade:
Os procedimentos para determinação da densidade foram realizados conforme
Farmacopeia Brasileira (2019). Através deste resultado e com auxílio da Tabela de
Densidade do Álcool, foi calculada a concentração de água/álcool presente nas amostras
(BRASIL, 2010; TIYO et al., 2009).

2.2.5.2 Teor alcóolico do etanol líquido pelo método do alcoômetro:


Transferiu-se a amostra para uma proveta de 500 mL, na qual foi inserido o
Alcoômetro de Gay-Lussac com termômetro acoplado. Foi realizada a leitura do grau
alcoólico aparente e da temperatura da amostra, e verificado o grau alcoólico real na
Tábua da Força Real dos Líquidos Espirituosos (BRASIL, 2012).

2.2.5.3 Teor alcóolico do álcool gel:


Para avaliação do teor alcóolico do gel, foi utilizado um refratômetro portátil
RTU-100 Incotherm, devidamente calibrado. As amostras foram mantidas na temperatura
de 20 °C. A leitura foi feita em grau Brix, escala numérica de índice de refração e
posteriormente convertida em teor alcóolico através de dados contidos na tabela
“Concetrative properties of aqueous solutions: density, refractive index, freezing point
depression, and viscosity” (LIDE, 2004).

2.3 PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS DO ÁLCOOL EM GEL:


Foram coletadas assepticamente três amostras de 10 g das amostras de álcool em
gel a 70%, em frascos de vidro estéreis nos tempos 0, 7, 14, 21 e 30 dias. As triplicatas
foram denominadas como A1, A2 e A3 para cada tempo de coleta. As análises
microbiológicas foram realizadas conforme técnica descrita na Farmacopeia Brasileira
(2019). Após homogeneização da amostra, dois gramas foram diluídos em 98 mL de
diluente universal (diluição 1:50) e posteriormente foram realizadas mais uma diluição
decimal em solução fisiológica (0,9%). Após o preparo das diluições 1:50 e 1:500, as
mesmas foram plaqueadas em duplicata pelo método de profundidade nos meios de
cultura Agar Triptona de Soja (TSA) e Agar Sabouraud-Dextrose (SD). As placas
contendo meio TSA, para contagem de bactérias mesófilas, foram incubadas a 35-37 °C
por 24-48 horas e as placas com Agar SD, para contagem de bolores e leveduras, foram
incubadas a 20-25 °C por cinco-sete dias.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 PARÂMETROS ORGANOLÉPTICOS E FÍSICO-QUÍMICOS
Na tabela abaixo (tabela 2) estão os parâmetros organolépticos dos produtos
avaliados desde o momento em que foi preparado (dia 0) até o 30º dia, onde percebeu-se
que o os produtos não sofreram alterações.

Tabela 2. Caracteres organolépticos das amostras de álcool líquido e álcool gel a 70% ao longo do tempo
de estudo.
ÁLCOOL LÍQUIDO 70%
DIA COR ODOR ASPECTO FÍSICO
0 Incolor Característico Homogêneo, transparente e límpido
7 Incolor Característico Homogêneo, transparente e límpido
14 Incolor Característico Homogêneo, transparente e límpido
21 Incolor Característico Homogêneo, transparente e límpido
30 Incolor Característico Homogêneo, transparente e límpido
ÁLCOOL GEL 70%
DIA COR ODOR ASPECTO FÍSICO
0 Incolor Característico Homogêneo, viscoso e translúcido
7 Incolor Característico Homogêneo, viscoso e translúcido
14 Incolor Característico Homogêneo, viscoso e translúcido
21 Incolor Característico Homogêneo, viscoso e translúcido
30 Incolor Característico Homogêneo, viscoso e translúcido
Fonte: Própria autoria

A Hidroxietilcelulose (HEC) é um polímero originado da celulose, de


características não iônica, compatível com eletrólitos, e possui sensibilidade reduzida ao
pH do meio. Destaca-se pela facilidade de dispensação, facilmente obtida pela agitação
em água fria, porém a formação da estrutura coerente do gel ocorre mais rapidamente por
aquecimento. Barzotto e colaboradores (2020), com a escassez e alto custo da matéria-
prima Carbopol 940®, devido a pandemia causada pela Covid-19, desenvolveram uma
técnica à quente para preparo do álcool gel 70% (p/p), resultando em um produto de
menor custo e à base de um gelificante disponível no mercado brasileiro, a HEC. Obteve-
se, assim, um gel translúcido, incolor e homogêneo, com odor característico de álcool
(tabela 2). Segundo o FNFB, a HEC dá origem à géis transparentes e incolores ou
levemente amarelados (BRASIL, 2012). Nesse estudo foi utilizada a HEC 4400 (Êxodo
científica), Barzotto e col. (2020) utilizaram o produto com nome comercial Natrosol®
250 HHR (Alpha Química), o que anteriormente, deu origem a um gel levemente
amarelado.

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A estabilidade é definida como o tempo no qual um produto mantém, dentro dos


limites especificados e durante todo o período de estocagem e uso, as mesmas
propriedades e características que possuía no momento de sua fabricação (SILVA et al.,
2009). Na tabela 2 são apresentados os resultados das análises de densidade, pH e
viscosidade do álcool líquido e em gel, ao longo do tempo de estudo.

Tabela 2. Análises físico-químicas do álcool líquido e em gel durante 30 dias de uso.


Tempo
0 7 14 21 30
(dias)
Álcool líquido
Densidade
0,86±0,0033 0,86±0,0036 0,86±0,0055 0,86±0,0037 0,86±0,0051
(g/mL)
pH 6,73±0,13 6,62±0,16 6,10±0,23 6,06±0,11 6,06±0,11
Álcool gel
Densidade
0,88±0,13 0,88±0,24 0,86±0,20 0,86±0,27 0,86±0,12
(g/mL)
pH 6,78±0,23 6,73±0,39 6,77±0,26 6,76±0,30 6,76±0,45
Viscosidade
3490±0,09 2790±0,04 2271±0,16 2236±0,11 1928±0,09
(Cp)
OBS.: Os resultados foram expressos em média ±coeficiente de variação (n=3).
Fonte: Autores (2021).

Os pHs do álcool líquido variaram de 6,06 a 6,73, e do álcool em gel, de 6,73 a


6,78. Avaliando os resultados dos produtos em gel, eles estão de acordo com os
encontrados por Silva (2011) em que o valor de pH foi compreendido entre 6,53 e 6,59
para os álcoois fabricados na farmácia escola da Universidade de São Caetano do Sul
(FarmaUSCS) e também de Gisch e Col. (2017) que encontraram os valores de 6,4 a 7,8
em álcool manipulados em farmácias magistrais.
Os pHs encontrados nesse experimento podem ser benéficos em relação à
compatibilidade com a pele humana, pois esta apresenta pH levemente ácido (4,6 a 5,8),
sendo que na camada superficial das mãos, este pH é ligeiramente ácido (GISCH et al.,
(2017). O pH da pele pode ser alterado em consequência da utilização de produtos tópicos
inadequados, afetando a barreira de proteção da pele, torna-a ressecada, devido à perda
transepidermal de água (LEONARDI et al., 2001). Como o álcool etílico é um solvente,
com capacidade de dissolver lipídios, em concentrações elevadas pode causar a morte
precoce das células epiteliais, no entanto, na concentração a 70% essa agressão é
diminuída (SOUSA, 2019).
Observou-se também que as densidades das formas farmacêuticas líquidas não
sofreram alterações, no entanto, da forma em gel, variou de 0,88 a 0,86 g/cm³. A
densidade é utilizada para avaliar a pureza de certas substâncias e a identidade da amostra.

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No caso de líquidos ou semissólidos este parâmetro pode indicar a incorporação de ar ou


a perda de ingredientes voláteis (MELO et al., 2018). No caso da mistura hidroalcóolica
a 15ºC, a densidade deve ficar em torno de 0,85854 a 0,87234 g/cm3 (BRASIL, 2012),
que equivale à concentração de 70 a 75% (p/p) do álcool. E, no caso do álcool em gel, a
densidade física deve ficar entre 0,8786 a 0,8834 g/cm3.
Quando as viscosidades foram avaliadas em viscosímetro de Brookfield,
observou-se que sofreram alterações (Tabela 2), ocorrendo diminuição ao longo do
tempo, e corroborando com o que foi observado visualmente. Considerando-se que não
houve variação do pH e nem da densidade das amostras, a alteração da viscosidade pode
estar relacionada com o comportamento viscoelástico da mesma, pois a literatura
classifica a HEC como agente doador de viscosidade em formulações semissólidas, com
comportamento viscoelástico (SILVA JÚNIOR & PEREIRA, 2009).
A estabilidade depende de fatores relacionados ao ambiente, como temperatura,
umidade e luz, e de outros fatores relacionados ao próprio produto, como propriedades
físicas e químicas de substâncias ativas e excipientes farmacêuticos, forma farmacêutica
e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades dos materiais de
embalagem (MELO et al., 2018). Os impactos dos fatores extrínsecos podem ser
minimizados com o uso de excipientes específicos, embalagens apropriadas e condições
adequadas de armazenamento (BRASIL, 2019). A estocagem adequada do álcool é
fundamental na manutenção da sua qualidade, sendo recomendado o armazenamento em
locais onde não haja temperatura e umidade elevada. As embalagens devem proteger o
produto de extravasamento, contaminações químicas ou biológicas por contato com o
ambiente ou com as mãos (TIYO et al., 2009).
Os valores de viscosidade das amostras estão abaixo do especificado pela RDC nº
46/2002, a qual determina que a viscosidade do álcool em gel a 70% deve ser maior que
8.000 cP (centipoise) a 25 ºC, para diminuir os riscos de acidentes por queimadura ou
ingestão do produto (BRASIL, 2002). No entanto, na UNIOESTE, o álcool em gel é
embalado em frascos do tipo “spray” ou “pump”, o que faz com que esses riscos sejam
menores. A maior viscosidade do produto pode implicar em mais tempo de contato com
a superfície e os microrganismos, pois o gel deixa resíduos nas superfícies aplicadas
(ANDRADE et al., 2007). No entanto, segundo Gisch e col. (2017), apresentando baixas
viscosidades, os géis podem ser mais bem aceitos pelos consumidores, pois sua aplicação
e absorção tornam-se mais rápidas, menos pegajosas, além de mais fáceis de serem
retirados dos frascos. Vale ressaltar que Silva e col. (2011), observaram que os álcoois

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gel a 70% com viscosidade intermediária são mais eficazes quanto à atividade bacteriana
e fungicida.

3.2 ANÁLISE DO TEOR ALCOÓLICO:


Os teores alcoólicos médios encontrados nas amostras de álcool gel e líquido
analisados estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Teor alcoólico do álcool líquido e do álcool gel durante os 30 dias de uso.
Tempo (dias) 0 7 14 21 30
Álcool gel -
refratometria (% 70,00±0,00 70,00±0,00 70,00±0,00 70,00±0,00 70,00±0,00
p/p)
Álcool líquido -
método densidade 71,43±0,65 72,38±2,00 72,20±2,11 71,81±1,33 72,20±1,86
(% p/p)
Álcool líquido -
alcoômetro (% 72,1±0,52 72,6±0,00 71,6±0,00 70,1±0,00 70,0±0,00
p/p)
OBS.: Os resultados foram expressos em média ±coeficiente de variação (n=3).
Fonte: Própria autoria

Para que o álcool etílico tenha ação desinfetante, preconiza-se o título ponderal no
mínimo 70% p/p e no máximo 75% p/p. Na medida de densidade, a mistura alcoólica
deve estar entre 0,85854 e 0,87234 g/cm³ a 15 °C, para corresponder a essa porcentagem
(BRASIL, 2012; BRASIL, 2005). Ao avaliar a densidade, deve-se estar atento a
temperatura, pois qualquer variação desta pode-se afetar a medida de densidade, que
decresce cerca de 0,03% por ºC de aumento de temperatura (REIS, 2006).
Tanto o produto na forma farmacêutica líquida quanto em gel se manteve na faixa
da graduação alcoólica preconizada, durante todo o período de ensaio (tabela 2). Apesar
de as temperaturas apresentarem-se relativamente altas durante o período, variando entre
21 e 28 °C, a volatilização do álcool não foi significativa.
Os valores obtidos nas análises foram agrupados na figura 1, onde podemos
observar que a concentração (% p/p) do álcool durante os períodos de análise variou
dentro dos limites aceitáveis (entre 70 e 75% p/p). A variação foi devida à baixa
sensibilidade do método, em virtude das aproximações dos valores de densidade com os
da Tabela de Alcoometria do FNFB (BRASIL, 2012).

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Figura 1. Teor alcoólico médio encontrado nas amostras de álcool líquido e de álcool gel analisadas ao
longo do estudo pelo método da densidade e da alcoometria.

73,0 72,6
72,1
71,6 71,6
72,0 71,6
Grau alcoólico

71,2 71,2 71,2


(%p/p)

71,0

70,0 70,0 70,0 70,1 70,0 70,0 70,0


70,0

69,0

68,0
0 7 14 21 30

Tempo (dias)

Método densidade (álcool líquido)

Método alcoômetro (álcool líquido)

Método refratômetro (álcool gel)


FONTE: Autores (2021).

O método da refratometria pode ser utilizado para medir a concentração em


porcentagem do volume de álcool em soluções aquosas, onde o índice de refração de uma
solução varia regularmente com a concentração do soluto. Sendo assim, a composição da
solução pode ser estimada através de seu índice de refração por comparação com tabelas
de referência (REIS, 2006). Como a determinação do grau alcoólico feita através da
técnica da alcoometria, com densímetro de Gay-Lussac só é possível para produtos
líquidos, para avaliação do teor alcóolico do gel, foi utilizado um refratômetro.
O resultado convertido obtido foi em ºINPM, e não em °GL, sendo que a principal
diferença entre o álcool em gel °INPM e o °GL é que eles medem grandezas diferentes
(massa e volume, respectivamente). Para relacionar essas grandezas, utiliza-se a
densidade. O álcool etílico possui densidade igual a 0,789 g/cm³, ou seja, a massa de
álcool presente numa solução 70 °INPM é maior do que a presenta na solução 70 °GL.
Elas somente seriam iguais se a densidade fosse igual a um. De todo modo, ambas são
eficientes para a assepsia (CFQ, 2020).
O símbolo ºGL é a sigla de “Gay-Lussac”, e significa a concentração de álcool e
água em porcentagem de volume (%v/v), ou seja, o volume de etanol puro em 100 mL de
mistura aquosa disponível no comércio. Já INPM é a sigla do Instituto Nacional de Pesos

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e Medidas. A unidade INPM relaciona-se à porcentagem em massa (%m/m), ou seja,


corresponde à massa de etanol puro em 100 g de mistura hidroalcoólica.
A importância de se analisar o teor alcoólico é verificar se o álcool está mantendo
sua função antisséptica, pois, como constatado por Widmer (2000), a fricção com álcool
apresenta vantagens quando comparada à lavagem simples das mãos, como economia de
tempo, maior adesão por parte dos usuários e até maior efetividade contra
microrganismos. No entanto, a reprovação do ensaio de teor de álcool pode indicar que o
produto não é eficaz na eliminação de microrganismos, criando a falsa ideia de que o
usuário está seguro. Ou seja, a qualidade do álcool como antisséptico está diretamente
ligada ao seu teor alcóolico. Se estiver abaixo do preconizado, sua ação microbicida pode
estar comprometida e gerar consequências. No caso de contaminação destes agentes
antissépticos, podem se tornar possíveis fontes de infecções (KUSAHARA et al, 2016).
Daí a importância de se conhecer em que condições e por quanto tempo o produto pode
ser armazenado, mantendo suas propriedades originais.
No caso estudado, pôde-se verificar que todos os quesitos citados por Tiyo e
colaboradores (2009), para manter a qualidade do álcool 70% p/p no aspecto físico-
químico, foram observados. Os autores estudaram a variação na concentração alcoólica
de amostras de álcool a 70% em 50 farmácias do município de Maringá/PR. Os fatores
que podem comprometer a qualidade do produto são: matérias-primas em concentrações
diferentes da indicada, uso de água não purificada para diluição, estocagem em locais
com umidade e temperatura elevada, embalagens inadequadas e rotinas que não cumprem
as técnicas de boas práticas de manipulação (SANTOS et al, 2002).

3.3 PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS


Na primeira coleta (tempo 0), das três amostras, houve crescimento microbiano ≥
5,00 x 101 UFC/g em duas amostras: A1 e A2. A amostra A1, apresentou contagem de
bolores e leveduras de 5,00 X101 UFC/g. Na amostra A2, os resultados foram de 7,50 x
101 UFC/g e de 5,50 x 101 UFC/g, para as contagens de bactérias mesófilas e bolores e
leveduras, respectivamente. Em relação às análises da amostra A3 e demais coletas de A1
e A2, a contagem de bactérias mesófilas e fungos foram < 5,00 X101 UFC/g. Também
não houve detecção de micro-organismos patogênicos em nenhuma das amostras em
todos os tempos analisados.
O álcool em gel é classificado como produto cosmético de grau II, considerado
como um antisséptico. Os cosméticos de grau II são produtos de higiene pessoal, suas

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características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, informações e cuidados,


modo e restrições de uso (BRASIL, 2019; BRASIL, 2015).
A Resolução n.º 481/1999, da ANVISA estabelece os limites aceitáveis de
contaminação em cosméticos. São considerados cosméticos do Tipo I os produtos para
área dos olhos, de uso infantil ou que entram em contato com mucosas, e a contagem de
micro-organismos mesófilos totais aeróbios devem estar abaixo de 5,00 x102 UFC/g. Os
produtos cosméticos e de higiene pessoal do tipo II são os demais produtos susceptíveis
a contaminação microbiológica e devem apresentar valores inferiores a 5,00 x103 UFC/g
ou ml para mesófilos totais aeróbios. Os produtos citados anteriormente,
independentemente se pertencentes aos tipos I ou II, não devem apresentar micro-
organismos patógenos: Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Escherichia
coli (BRASIL, 1999).
Todas as amostras analisadas mantiveram-se dentro dos padrões estabelecidos
pela Resolução n.º 481/1999 (BRASIL, 1999). É de suma importância o atendimento a
estes parâmetros, devido ao risco que um produto contaminado apresenta para o
consumidor. Os microrganismos, além de poderem degradar componentes da formulação
comprometendo sua eficácia, oferecem riscos de infecção (BRITO, 2019; BUGNO et al.,
2003).
O uso do álcool em gel tem sido bastante recomendado pelas autoridades
sanitárias como antisséptico, principalmente neste período de pandemia causada pela
Covid-19, desta forma, é imprescindível que os consumidores sejam informados sobre o
grau de eficiência e forma de aplicação destes produtos (LIMA et al., 2020).
Em um estudo conduzido por Araújo e colaboradores (2019) onde foi avaliada a
eficiência do álcool em gel e líquido adquiridos do comércio do município de Teixeira de
Freitas, Bahia, como desinfetantes, confirmou-se o potencial microbicida das
formulações em gel em relação às líquidas, que permitiu o crescimento bacteriano.
Considerando esse estudo, pode-se afirmar que o álcool em gel poderia ser empregado
como antisséptico e desinfetante, sendo fundamental a adesão aos protocolos de higiene,
bem como o uso de diferentes volumes e a concentração adequada do produto.
Segundo Andrade e colaboradores (2007), alguns dos principais fatores que
interferem na ação antimicrobiana do etanol 70% são a presença de matéria orgânica, tipo
e nível de contaminação e a resistência intrínseca do microrganismo, destacando-se a
importância da aplicação das boas práticas de manipulação e análises de controle de
qualidade.

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4 CONCLUSÃO
Considerando o cenário atual da pandemia causada pela Covid-19, e o grande
aumento na utilização pela população do álcool etílico a 70% como agente antisséptico,
seja veiculado em gel ou em forma líquida, é relevante que a utilização contínua deste
produto, por profissionais e clientes em um estabelecimento farmacêutico, não cause
alteração nos parâmetros físico-químicos e microbiológicos, garantindo assim a
efetividade do produto e, consequentemente, a segurança aos usuários.

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extraordinários e temporários para a fabricação e comercialização de preparações
antissépticas ou sanitizantes oficinais sem prévia autorização da Anvisa e dá outras
providências, em virtude a emergência de saúde pública internacional relacionada ao
SARS-CoV-2. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2020b.

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