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Brazilian Journal of Health Review 25709

ISSN: 2595-6825

Análise da dispensação de antibióticos antes e durante a pandemia da


COVID-19 em uma farmácia pública do município de Marialva-PR

Analysis of the dispensation of antibiotics before and during the


pandemic of COVID-19 in a public pharmacy in the city of Marialva-
PR

DOI:10.34119/bjhrv4n6-170

Recebimento dos originais: 08/10/2021


Aceitação para publicação: 19/11/2021

Bárbara Luara Da Silva Favaro


Graduanda em Farmácia
Centro Universitário Ingá (UNINGÁ)
Rodovia PR 317, n° 6114, Parque Industrial, Maringá/PR, Brasil
E-mail: barbaraluarasf@gmail.com

Ana Paula Margioto Teston


Doutora em Ciências da Saúde
Centro Universitário Ingá (UNINGÁ)
Rodovia PR 317, n° 6114, Parque Industrial, Maringá/PR, Brasil
E-mail: farmacia@uninga.edu.br

Danielly Chierrito
Doutora em Ciências Farmacêuticas
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Avenida Colombo, 5790, Zona 7, Maringá/PR, Brasil
E-mail: danielly.chierrito@gmail.com

Vivian Taciany Bonassoli


Doutora em Ciências Farmacêuticas
Centro Universitário Ingá (UNINGÁ)
Rodovia PR 317, n° 6114, Parque Industrial, Maringá/PR, Brasil
E-mail: prof.vivianbonassoli@uninga.edu.br

RESUMO
A compreensão dos padrões de consumo de antibióticos, considerando a atual pandemia
da doença causada pelo coronavírus (COVID-19), contribui para o melhor planejamento
na padronização de fármacos e quantidades adquiridas. O objetivo desse trabalho foi
analisar o padrão de consumo de antibióticos de uma farmácia pública do município de
Marialva/PR antes e durante a pandemia da COVID-19, por meio de um estudo do tipo
transversal. Foram analisados o consumo de 22 antibióticos dispensados nos meses de
março a maio de 2019 e 2020. O total de prescrições avaliadas foi de 4.728, sendo 3.063
referentes ao período avaliado do ano de 2019, e 1.665 de 2020, as quais envolveram
41.697 e 30.808 comprimidos ou cápsulas, e 1.346 e 1.000 frascos ou bisnagas,
respectivamente. Os dados demonstraram redução na dispensação de antibióticos, de
acordo com a quantidade e classes prescritas, o que pode estar relacionado às medidas de
segurança estabelecida pelo município em período de pandemia, maior cuidado quanto a

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proteção individual e redução do número de infecções bacterianas. Desta forma, este


estudo permitiu caracterizar o perfil de consumo desses medicamentos, o que pode
contribuir na avaliação do perfil epidemiológico e de problemas de saúde da população.

Palavras-chave: Antimicrobiano, uso racional de medicamentos, dispensação.

ABSTRACT
Understanding antibiotic consumption patterns, considering the current pandemic of the
disease caused by the coronavirus (COVID-19), contributes to better planning in the
standardization of drugs and quantities purchased. The objective of this study was to
analyze the pattern of antibiotic consumption in a public pharmacy in the city of
Marialva/PR before and during the COVID-19 pandemic, through a cross-sectional study.
The consumption of 22 antibiotics dispensed from March to May 2019 and 2020 were
analyzed. The total number of prescriptions evaluated was 4,728, with 3,063 referring to
the period evaluated in 2019 and 1,665 in 2020, which involved 41,697 and 30,808 pills
or capsules, and 1,346 and 1,000 vials or tubes, respectively. The data showed a reduction
in the dispensing of antibiotics, according to the amount and classes prescribed, which
may be related to the safety measures established by the municipality during the pandemic
period, greater care in terms of individual protection and a reduction in the number of
bacterial infections. Thus, this work allowed to characterize the profile of consumption
of these drugs, which can contribute to the assessment of the epidemiological profile and
health problems of the population.

Keywords: Antimicrobial, rational use of medications, dispensation.

1 INTRODUÇÃO
Os antimicrobianos podem ser classificados como substâncias de origem natural
ou sintética, que atuam sobre microrganismos, sendo capazes de interferir no seu
crescimento e até mesmo destruí-los. Essa classe farmacológica foi descoberta pelo
cientista britânico Alexander Fleming, em 1928, onde o mesmo observou que a penicilina
produzida pelo fungo do gênero Penicillium poderia ser efetiva contra infecções fatais, o
que foi considerado uma grande evolução farmacológica (FERNANDES, 2014;
FURTADO, et al., 2019).
Existem vários tipos de antibióticos como as quinolonas, glicopeptídeos,
oxazolidinonas, aminoglicosídeos, macrolídeos, loncosamidas, nitroimidazólicos,
cloranfenicol, estreptograminas, sulfonamida, tetraciclinas, sendo os β-lactâmicos os
mais utilizados, os quais possuem um anel β-lactâmico no seu núcleo estrutural,
fornecendo a atividade bactericida. Entre os medicamentos que compõe o grupo dos β-
lactâmicos estão as penicilinas, cefalosporinas, cabapenens e monobactans (ANVISA,
2007; RODRIGUES; BERTOLDI, 2010).
Atualmente, o uso indiscriminado de antibióticos vem causando sérios problemas
na população, sendo esses um dos medicamentos mais prescritos, ocupando cerca de 40%

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das prescrições em pacientes hospitalizados para fins profiláticos. Sabe-se que o uso e
prescrição inadequada desses fármacos podem levar ao aparecimento de microrganismos
resistentes, o que envolve diferentes condutas clínicas, desenvolvimento de novos
protocolos e aumento dos custos do sistema de saúde, pois cada vez mais são necessários
estudos e novos esquemas terapêuticos (WANNMACHER, 2004; CASTRO, el at, 2002;
CORRÊA, L.; SILVA, E. U., 2008; TAVARES; BERTOLDI; MICCILLO-BAISCH,
2008; RODRIGUES; BERTOLDI, 2010).
Neste contexto, três teorias de como as bactérias podem ter resistência aos
antimicrobianos β-lactâmicos são descritas na literatura, como através da produção de β-
lactamase, enzima capaz de hidrolisar o anel β-lactâmico, através da quebra da ligação
amida, o que resulta na perda da habilidade de inibir a síntese da parede celular bacteriana,
através de modificações estruturais das proteínas que fazem a ligação de penicilina (PLP),
que são produzidas pelo gene mecA e através da redução da permeabilidade bacteriana
ao antibiótico que se dão por meio de mutações e modificações das porinas (AVILA-
CAMPOS; NAKENO; NISHIYAMA, [s.d.]; ANVISA, 2007).
Com as diferentes classes de antibióticos disponíveis no mercado, o alto consumo
desses medicamentos é um problema de impacto mundial, principalmente quanto aos
casos clínicos de resistência. Esse cenário envolve e afeta tanto os profissionais da saúde,
pacientes e o sistema de saúde em geral, tornando fundamental a elaboração e
desenvolvimento de estratégias voltadas para o uso racional desses medicamentos, de
educação em saúde e conscientização da população (WANNMACHER, 2004).
A atual pandemia causada pelo Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2
(SARS-CoV-2) é caracterizada por acometimento respiratório e pulmonar, entre outros,
sendo que o paciente pode apresentar febre, falta de ar, sensação de peito carregado,
cansaço, fadiga e quadro de pneumonia, o que está relacionado às altas taxas de
mortalidade a nível mundial. Desta forma, os antibióticos foram considerados como
opção terapêutica no acompanhamento clínico desses pacientes (BAGATTINI, et al.,
2020; BEZERRA, et al., 2020; WHO, 2021).
Sendo assim, a compreensão dos padrões de consumo desses medicamentos em
diferentes momentos, considerando as particularidades deste período de pandemia, pode
contribuir para o melhor planejamento na padronização dos fármacos e das quantidades
adquiridas, permitindo propor estratégias para a diminuição dos problemas relacionados
ao seu uso e possibilitar a melhoria dos tratamentos ofertados aos pacientes atendidos
(HOUVESSOU; SOUZA; SILVEIRA, 2020). Desta forma, o objetivo deste estudo foi

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analisar o padrão de consumo e conhecer o perfil dos usuários de antibióticos de uma


farmácia pública do município de Marialva/PR antes e durante a pandemia COVID-19.

2 METODOLOGIA
O presente estudo refere-se a um estudo transversal, realizado na farmácia pública
do município de Marialva/Paraná, com o intuito de avaliar o perfil de pacientes em uso
de antibióticos e de suas prescrições.
O município de Marialva-PR tem uma população residente de aproximadamente
35.804 habitantes, assistidos por somente uma farmácia pública. Foram incluídos no
estudo prescrições de pacientes do período de março a maio de 2019 e 2020, período
anterior e durante a pandemia da COVID-19, respectivamente, os quais receberam pelo
menos um tratamento com antibiótico nas formas de comprimidos, cápsulas, suspensões,
soluções otológicas, soluções oftálmicas e/ou cremes dermatológicos.
Os dados foram coletados a partir da análise do banco de dados de controle de
dispensação de medicamentos utilizado pelo município, denominado “sistema G-mus”.
As variáveis coletadas foram obtidas através dos prontuários eletrônicos dos pacientes,
organizados em planilhas Microsoft Office Excel®, para as etapas de análise,
apresentação e discussão, sendo que os dados de identificação pessoal não foram
divulgados.
O estudo foi submetido à apreciação pelo Comitê de Ética de Pesquisa com seres
humanos do Centro Universitário Ingá (Uningá), com aprovação conforme parecer no
4.602.017.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo foram analisados o consumo de 22 antibióticos dispensados na
farmácia municipal de Marialva-PR, nos meses de março a maio de 2019 e 2020. O total
de prescrições avaliadas foi de 4.728 prescrições, sendo 3.063 referentes ao período
avaliado do ano de 2019, e 1.665 do ano de 2020, o demostra redução no número total de
antibióticos dispensados. De acordo com os dados, foi possível observar que essa redução
ocorreu nos três meses avaliados. Além disso, nota-se maior número de prescrições de
pacientes do sexo feminino, quando comparado ao sexo masculino, conforme exposto na
Tabela 1.

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Tabela 1 - Dispensação de antibióticos, segundo sexo dos pacientes atendidos na farmácia pública do
município de Marialva-PR, nos meses de março a maio de 2019 e 2020.
Dispensação de antibióticos, segundo sexo dos pacientes
Variáveis Março/19 Abril/19 Maio/19 Março/20 Abril/20 Maio/20
Feminino 543 642 643 471 260 286
Masculino 320 490 425 301 167 180
Total 863 1132 1068 772 427 466
TOTAL 3.063 1.665

Quanto à quantidade de unidades de medicamentos dispensados, como esperado,


também foi observada uma diminuição no número total de comprimidos ou cápsulas de
antibióticos nos meses avaliados de 2020, sendo dispensados no total 30.808 unidades,
comparado ao mesmo período de 2019, onde foram dispensados o total de 41.697 (Tabela
2). Resultados semelhantes foram observados para as demais formas farmacêuticas
(suspensão, creme vaginal, pomada dermatológica, solução oftálmica e solução
otológica), que também apresentaram uma queda no total de unidades dispensadas em
2020 (n=1.000), comparado a 1.349 em 2019, conforme demonstrado na Tabela 2.

Tabela 2 - Quantidade de comprimido/cápsula e frasco/bisnaga dispensados na farmácia pública do


município de Marialva-PR nos meses de março a maio de 2019 e 2020.
Dispensações de antibióticos, segundo forma farmacêutica
Variáveis Marco/19 Abril/19 Maio/19 Março/20 Abril/20 Maio/20
Comprimido/Cápsula 12.815 14.599 14.283 12.980 8.028 9.800
TOTAL 41.697 30.808
Frasco/Bisnaga 356 543 447 719 177 104
TOTAL 1.346 1.000

Quanto às quantidades de cada classe de antibiótico dispensado, foi possível


comparar as variações entre os diferentes tipos e/ou formas farmacêuticas da mesma
opção medicamentosa. Os dados estão apresentados nas figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Em março
de 2020, houve redução na dispensação de antibióticos, como Amoxicilina 500 mg,
Azitromicina 500 mg, Cefalexina 500 mg e Ciprofloxacino 500mg comparado ao mesmo
mês de 2019. No mesmo período, um aumento expressivo no consumo foi observado para
a Amoxicilina + Clavulanato 500 mg/125mg, pois o mesmo não constava na Relação
Municipal de Medicamentos Essencias (REMUME) do município de Marialva-PR no ano
de 2019, sendo incluído somente em 2020, resultando na dispensação do mesmo. Outros
antibióticos que sofreram aumento foram o Metronidazol 250mg, a Nitrofurantoína 100
mg e a Sulfametoxazol + Trimetoprima 400 mg+80 mg (Figura 1).

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Figura 1: Quantidades de comprimidos/cápsulas por tipo de antibiótico, dispensados nos meses de março
de 2019 (colunas em azul) e março de 2020 (colunas em laranja). Amox.: Amoxicilina 500 mg; Amox.+
Clav.: Amoxicilina + Clavulanato 500 mg/125mg; Azitr.: Azitromicina 500 mg; Cefal.: Cefalexina 500
mg; Cipr.: Ciprofloxacino 500mg; Metr.: Metronidazol 250mg; Sulf.: Sulfadiazina 500mg; Nitr.:
Nitrofurantoína 100 mg; Sulf.+Trim.: Sulfametoxazol + Trimetoprima 400 mg+80 mg.

A análise do consumo de frascos e bisnagas nos meses de março também mostrou


discreta redução de 50% dos fármacos avaliados entre os anos estudados. Entretanto, um
aumento expressivo foi observado no consumo de Amoxicilina + Clavulanato 50
mg/12,5mg suspensão, de 421 frascos em março de 2020, assim como no caso de
comprimidos, uma vez que o mesmo não estava padronizado na rede, o que justifica o
seu consumo somente no ano de 2020 (Figura 2).

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Figura 2: Quantidades de frascos/bisnagas por tipo de antibiótico, dispensadas nos meses de março de 2019
(colunas em verde) e março de 2020 (colunas em azul). Eixo X: Amox.: Amoxicilina 250mg/5mL; Amox.+
Clav.: Amoxicilina+Clavulanato 50 mL/12,5mg; Azitr.: Azitromicina 600mg (200mg/5mL); Cefal.:
Cefalexina 50mg/mL; Metr.: Metronidazol 100mg; metr.: Metronidazol 40mg/mL; Sulf.+Trim.:
Sulfametoxazol + Trimetoprima 200 mg/5mL+40mg/5mL; Sulf.: Sulfadiazina de Prata 1%; Pol.:
Polimixina B + Associações 10.000 UI/mL; Gent.: Gentamicina 0,50%.

A comparação entre os meses de abril de 2019 e 2020 mostrou uma queda


relevante no consumo de alguns dos antibióticos mais dispensados na farmácia, como a
Amoxicilina 500mg cápsula, de 3.759 cápsulas para 2.000, respectivamente. O mesmo
ocorreu com a Cefalexina 500mg comprimido, sendo que em 2019 foram dispensados
4.856 comprimidos e 2.140 em 2020 (Figura 3).

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Figura 3: Quantidades de comprimidos/cápsulas por tipo de antibiótico, dispensadas nos meses de abril de
2019 (colunas em azul) e abril de 2020 (colunas em laranja). Amox.: Amoxicilina- 500 mg; Amox.+ Clav.:
Amoxicilina + Clavulanato 500 mg/125mg; Azitr.: Azitromicina 500 mg; Cefal.: Cefalexina 500 mg; Cipr.:
Ciprofloxacino 500mg; Metr.: Metronidazol 250mg; Sulf.: Sulfadiazina 500mg; Nitr.: Nitrofurantoína 100
mg; Sulf.+Trim.: Sulfametoxazol + Trimetoprima 400 mg+80 mg.

Já o consumo de frascos e bisnagas em abril de 2019 e 2020 também apresentou


diminuição para a maioria dos antibióticos no último ano, com maior queda na
dispensação de Amoxicilina 250mg/5mL suspensão (Figura 4)

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Figura 4: Quantidades de frascos/bisnagas por tipo de antibiótico, dispensadas nos meses de abril de 2019
(colunas em verde) e abril de 2020 (colunas em azul). Amox.: Amoxicilina 250mg/5mL; Amox.+ Clav.:
Amoxicilina+Clavulanato 50 mL/12,5mg; Azitr.: Azitromicina 600mg (200mg/5mL); Cefal.: Cefalexina
50mg/mL; Metr.: Metronidazol 100mg; metr.: Metronidazol 40mg/mL; Sulf.+Trim.: Sulfametoxazol +
Trimetoprima 200 mg/5mL+40mg/5mL; Sulf.: Sulfadiazina de Prata 1%; Pol.: Polimixina B + Associações
10.000 UI/mL; Gent.: Gentamicina 0,50%.

Os últimos meses analisados foram maio de 2019 e 2020, onde observou-se uma
diminuição do consumo dos medicamentos em 2020 para a maioria dos antibióticos
avaliados, como a Azitromicina 500mg comprimido, de 1.042 para 1.031 e o
Ciprofloxacino 500mg comprimido, de 1.377 para 1.245. Quando avaliados
medicamentos como a Cefalexina 500mg comprimido a diminuição do consumo foi
maior, sendo de 4.915 em 2019 para 2.420 em 2020. A Amoxicilina 500mg cápsula
também sofreu diminuição do consumo, de 4.452 em 2019 para 2.751 em 2020.

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Figura 5: Quantidades de comprimidos/cápsulas por tipo de antibiótico, dispensadas nos meses de maio de
2019 (colunas em azul) e maio de 2020 (colunas em laranja). Amox.: Amoxicilina- 500 mg; Amox.+ Clav.:
Amoxicilina + Clavulanato 500 mg/125mg; Azitr.: Azitromicina 500 mg; Cefal.: Cefalexina 500 mg; Cipr.:
Ciprofloxacino 500mg; Metr.: Metronidazol 250mg; Sulf.: Sulfadiazina 500mg; Nitr.: Nitrofurantoína 100
mg; Sulf.+Trim.: Sulfametoxazol + Trimetoprima 400 mg+80 mg.

O mesmo foi observado em relação ao número de frascos e bisnagas dispensados,


sendo observado na figura 6 que o consumo de Amoxicilina 250mg/5mL suspensão e
Azitromicina 600mg (200mg/5mL) suspensão foram os que apresentaram redução mais
acentuada em maio de 2020.

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Figura 6: Quantidades de frascos/bisnagas por tipo de antibiótico, dispensadas nos meses de maio de 2019
(colunas em verde) e maio de 2020 (colunas em azul). Amox.: Amoxicilina 250mg/5mL; Amox.+ Clav.:
Amoxicilina+Clavulanato 50 mL/12,5mg; Azitr.: Azitromicina 600mg (200mg/5mL); Cefal.: Cefalexina
50mg/mL; Metr.: Metronidazol 100mg; metr.: Metronidazol 40mg/mL; Sulf.+Trim.: Sulfametoxazol +
Trimetoprima 200 mg/5mL+40mg/5mL; Sulf.: Sulfadiazina de Prata 1%; Pol.: Polimixina B + Associações
10.000 UI/mL; Gent.: Gentamicina 0,50%.

Diante do contexto da atual pandemia da COVID-19 o dia-a-dia da população


passou por alterações devido às medidas de prevenção e segurança adotadas quanto à
disseminação do vírus, como o lockdown. Essa medida se caracteriza pelo confinamento
total ou parcial da população, onde no confinamento total ocorre a suspensão de todas as
atividades não essenciais e também com restrição da circulação de pessoas, funcionando
somente serviços essenciais. Já o confinamento parcial ocorre o funcionamento de alguns
serviços não essenciais, mas devem seguir todas as normas recomendadas para o seu
funcionamento (HOUVESSOU; SOUZA; SILVEIRA, 2020).
Considerando o exposto, as pessoas não saiam para trabalhar, as crianças não
estavam frequentando a escola e houve redução do número de atendimentos em clínicas
e de cirurgias eletivas, o que pode ter contribuído para a redução de prescrições e
dispensação de antibióticos (BERQUÓ; BERTOLDI, 2004; HOUVESSOU; SOUZA;
SILVEIRA, 2020).
Estudo sobre o consumo de antibióticos foi realizado por Rodrigues e Bertoldi
(2010) em um hospital privado, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, sendo realizado

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a análise da quantidade consumida de cada antimicrobiano utilizado por pacientes


internados no período de março a junho de 2006. Os autores relataram consumos
inapropriados ou desnecessários, sendo seus resultados similares a outros estudos em
hospitais do Brasil. Destaca-se que o presente estudo avaliou o perfil de consumo dos
antibióticos considerando também um período da atual pandemia da COVID-19, o que
torna o contexto diferente, com maior cuidado em relação às internações hospitalares,
consultas de rotina e procedimentos de não urgência/emergência.
Devido a este cenário de pandemia, iniciou-se uma preocupação sobre a proteção
individual da população, visando a diminuição da propagação do vírus por via gotículas
e aerossol. As máscaras cirúrgicas são de uso individual, descartável, devendo conter 3
camadas e com nível de filtração bacteriana comprovado. Outro tipo de máscara é a de
proteção, como a N95, PFF2 ou equivalentes a elas. Com o uso de máscaras ocorre a
filtração do ar, assim diminuindo as chances de contaminação, pois com o uso das
máscaras ocorre diminuição da propagação de diferentes vírus por via gotículas de
espirros e tosses, evitando a contaminação de outras doenças que possuem essas vias de
transmissão (ANVISA, 2020; ANVISA, 2021; EISEN, 2021).
Segundo Eisen (2021), a circulação dos vírus Influenza A (FLUAV) e Influenza
B vírus (FLUBV), sofreu diminuição quando comparado aos anos anteriores, decorrente
a maior aderência à vacinação da gripe, ao uso de máscaras e devido a outros cuidados
adquiridos devido à COVID-19, fatores que podem estar associados à redução do
consumo dos antibióticos relatada neste estudo (EISEN, 2021).
Além disso, o uso de álcool em gel também foi uma medida adotada para a
prevenção da propagação da COVID-19. O álcool é um composto orgânico, sendo sua
estrutura química composta por carbono e o grupo funcional hidroxila (-OH), ligado ao
carbono saturado, possui características anfifílicas, sendo solúvel em substâncias polares
e apolares, possuindo potencial de assepsia e desinfecção, sendo utilizado em hospitais,
unidades de saúde e de pronto atendimento, e outros estabelecimentos (OLIVEIRA, et
al., 2021). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde (MS)
e o Conselho Federal de Química (CFQ), o álcool 70% é o tipo mais eficaz na inativação
do vírus SARS-CoV-2. O álcool atua na desnaturação proteica e também interfere no
metabolismo microbiano (OLIVEIRA, et al., 2021). O uso frequente de álcool em gel e
o aumento na frequência da lavagem das mãos contribuíram para diminuir a propagação
de bactérias que seriam tratados com antibioticoterapia, o que também pode estar

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associado à redução do número de prescrições e dispensação dos antibióticos


(RODRIGUES; FONTES, 2013).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo identificou uma diminuição do consumo de antibióticos quando
comparado os períodos anterior e durante a pandemia da COVID-19, com maior número
de prescrições dispensadas para pacientes do sexo feminino. Os resultados encontrados
podem estar associados às mudanças no estilo de vida da população, pois com o
isolamento social, uso de máscaras, álcool e maior frequência na lavagem das mãos, as
pessoas permanecerem mais em suas casas e aumentaram os cuidados de higiene pessoal
e coletiva. Com isso, a propagação de diferentes doenças que seriam tratadas com
antibioticoterapia também diminuiu, gerando redução do número de prescrições e
consequente dispensação desses medicamentos.
Os resultados obtidos são importantes, destacando possível relação entre
mudanças de hábitos no estilo de vida e o perfil de consumo de antimicrobianos. Desta
forma, novos estudos podem ser desenvolvidos como estratégia para conscientização do
uso racional desses medicamentos e de educação em saúde.

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REFERÊNCIAS

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- Bases teóricas e uso clínico, 2007. Disponível em:
<https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_w
eb/modulo1/conceitos.htm>. Acesso em 19/07/2021.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Orientações


gerais - Máscaras faciais de uso não profissional, 2020.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Medidas de


precaução e controle de infecções relacionada à assistência à saúde. Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=G_tU7nvD5BI>. Acesso em: 03/09/2021.

AVILA-CAMPOS. M. J.; NAKENO, V.; NISHIYAMA, S. A. Beta-lactamases: sua


importância na resistência bacteriana. Disponível
em:http://www.icb.usp.br/bmm/mariojac/index.php?option=com_content&view=article
&id=47&Itemid=57&lang=br. Acesso em 19/08/2021.

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