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NORTE
Natal-RN
2019
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Ronald Cristian Ferreira
NATAL – RN
2019
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Ronald Cristian Ferreira
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ANÁLISE DE PRESCRIÇÕES E O IMPACTO
ECONÔMICO DE INIBIDORES DA BOMBA DE
PRÓTONS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
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Análise de prescrições de inibidores da bomba de prótons e o impacto
econômico em um hospital universitário.
Email: ferreiracronald@gmail.com
R. Gen. Gustavo Cordeiro de Faria, S/N - Petrópolis, Natal - RN, 59012-570
Telefone: +55 84 3342-9700
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RESUMO
A prescrição e o uso inadequado de medicamentos geram gastos que agravam ainda mais
o problema da falta de recursos da maioria dos serviços de saúde, além dos prejuízos que
podem causar aos pacientes. Na prática, alguns dos usos irracionais mais comuns de
medicamentos são prescrições excessivas de antibióticos, inibidores da bomba de prótons
(IBP) e glicocorticoides. Esse trabalho teve como objetivo analisar o perfil de prescrições
de IBP em um hospital universitário e avaliar o impacto financeiro do uso racional dessa
classe de medicamentos. Este é um estudo transversal, retrospectivo e descritivo dos
registros de prontuários eletrônicos de pacientes internados, que fizeram uso de IBP, em
um período de 3 meses. Tendo a média total de idade de 54,4 anos (DP=17,5). Observou-
se que 49% das prescrições de IBP não possuíam nenhum critério de uso, sendo o custo
para esse grupo de R$ 15.164,29, no período analisado. Este estudo aponta para a
necessidade de implantação de protocolos terapêuticos internos para utilização de IBP,
visando uma prescrição adequada, segura e com redução de custos, objetivando um uso
racional desses medicamentos.
Palavras-chave:
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ABASTRACT:
Prescription and inappropriate use of medication generate expenses that further aggravate
the problem of the lack of resources of most health services, as well as the harm they can
cause to patients. In practice, some of the most common irrational uses of medications
are excessive prescriptions of antibiotics, proton pump inhibitors (PPIs), and
glucocorticoids. This study aimed to analyze the profile of PPI prescriptions in a
university hospital and to evaluate the financial impact of the rational use of this class of
medications. This is a cross-sectional, retrospective and descriptive study of the electronic
medical records of hospitalized patients who used PPI over a period of 3 months. Having
a total mean age of 54.4 years (SD = 17.5). It was observed that 49% of the PPI
prescriptions did not have any use criteria, and the cost for this group was R$ 15,164.29
during the analyzed period. This study points to the need to implement internal
therapeutic protocols for the use of PPIs, aiming at an appropriate, safe and cost-effective
prescription, aiming at a rational use of these drugs.
Keywords:
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9
4. CONCLUSÃO ................................................................................................................... 15
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 16
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1. INTRODUÇÃO
O uso de IBP aumentou em 450% no ano de 1990 em relação aos anos anteriores
(GUDA et al., 2004). Há um número crescente de publicações sobre o uso excessivo de
IBP na prática clínica mundial. Por exemplo, nos Estados Unidos (EUA), os IBP foram
prescritos em 4% das consultas médicas ambulatoriais em 2002 e 9,2% das prescrições
em 200 pacientes (ROTMAN; BISHOP, 2013). Em um estudo indiano realizado em
2013, foi mostrado que apenas 37,3% das prescrições tiveram indicações adequadas para
uso dessa classe terapêutica, sendo reportado que 79 interações medicamentosas com IBP
poderiam ter sido evitadas (DHANDE; PATEL, 2016).
Análise de uma pesquisa em UTI, nos EUA, mostrou que68,5% dos casos de uso
de IBP intravenoso (IV), foram utilizados sem indicação adequada (PERWAIZ;
9
SCHMIDT; HAMMOUDEH, 2010). Outro estudo conduzido em um hospital geral da
Irlanda também demonstrou que 18% das prescrições contendo IBP estavam em
desacordo com a condição clínica dos pacientes e que em 15% das prescrições não foi
possível identificar a indicação clínica (MAT SAAD et al., 2005).
Além disso, estudos demonstraram que o uso de forma indiscriminada dos IBP
está associada com a hipomagnesemia, redução na absorção de micronutrientes como a
vitamina B12, cálcio, magnésio e ferro, aumento do risco de fraturas ósseas e maior
suscetibilidade a certas infecções, como infecção por Clostridium difficile (CHANDRA;
AGARWAL; SURANA, 2013; EOM, 2011; HO et al., 2015), e ainda podem causar
outros efeitos, como incompatibilidade e interações medicamentosas com diversos outros
fármacos, por se tratar de um inibidor enzimático.
Partindo para a questão financeira, estudos demonstraram que despesas com IBP
são de US $ 14 milhões (EUA), £ 425 milhões na Inglaterra, e £ 7 bilhões por ano no.
Quase £ 100 milhões na Inglaterra e £ 2 bilhões no mundo todo estão sendo gastos
desnecessariamente com uso irracional de IBP a cada ano (ABRAHAM, 2012;
FORGACS, 2008).
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2. MATERIAIS E MÉTODOS
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total, foram coletados os dados de 203 pacientes durante o período, em que 110 (54%)
pertenciam a mulheres e 96 (46%) a homens, com a média total de idade de 54,4 anos
(DP=17,5).
A média do tempo de uso de IBP foi de 19 dias (DP=21,73) durante o internamento. Alguns
autores demonstraram uma forte ligação do tempo de uso e o tempo de internação (MUNARI
et al., 2004).
As especialidades médica que mais prescreveram IBP no período estudado foram a cirurgia
geral (n=22), cirurgia oncológica (n=21), cardiologia (n=19), proctologia (n=11), nefrologia
(n=11), pós-transplante (n=8), seguido de outras especialidades como mostra o gráfico 1.
11 11
9 8 7 7 7 6 6 6 5 5 5 5 5
Especialidades Médicas
Outros: Reumatologia (4), Dermatologia (3), Unidade de transplante (2), Nefrologia pediátrica (1),
Cirurgia torácica (2), Otorrinolaringologia (1) e Pediatria (1).
Os critérios de uso analisados foram baseados em indicações reconhecidas pela Food and Drug
Administration (FDA), como também indicações que não foram rigorosamente aprovas pelo FDA,
mas sim aprovados em consensos de especialistas e diretrizes clínicas baseadas em evidências, sendo
essas indicações: profilaxia por uso de AINES, profilaxia de úlcera por estresse, pacientes
oncológicos em quimioterapia, úlcera péptica e sangramento, terapias antiplaquetárias, doença de
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Chron, doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia, infecção por H. pylori, esofagite eosinofílica,
síndrome de Elisson-Zollinger (SCARPIGNATO et al., 2016).
A análise das prescrições mostrado na tabela 1, constatou que 22% das prescrições foram para
profilaxia por uso de AINES, profilaxia de úlcera de por estresse 12%, pacientes oncológicos 7%
úlcera péptica e sangramento 5%, terapias antiplaquetárias 2%, Doença de Chron 2%, seguidas de
doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia, infecção por H. Pylori ambas com 1% das indicações
cada. Já as prescrições 49% das prescrições que continham IBP não tinham nenhum critério de uso
baseado em evidências, sendo prescritos de forma inadequada.
A profilaxia para úlcera de estresse está evidenciada apenas em pacientes com múltiplos
fatores de riscos para sangramento GI internado em UTI, sendo esses especificados nas diretrizes da
Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP): trauma grave, traumatismo
craniano grave, falência de múltiplos órgãos, queimaduras cobrindo mais de 25% a 30% do corpo,
uso de ventilação mecânica por >48h e principais procedimentos cirúrgicos. Porém, vários estudos
levantaram preocupações que a profilaxia de úlcera de estresse estejam sendo indicada de maneira
sem evidências comprovadas, como para pacientes de baixo riscos (COOK et al., 1994; SHIN, 2015).
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Em pacientes com câncer o uso de IBP’s pode ser indicado para prevenção e/ou tratamento da
DRGE induzida pela quimioterapia e a ulceração gastroduodenal, com sintomas associados
(SCARPIGNATO et al., 2016). Porém as evidências na literatura ainda são baixas. Um estudo italiano
em uma unidade de cuidados paliativos identificou que 60,6% dos pacientes estudados fizeram uso
de IBP’s ou agentes receptores de anti-H2, aonde, apenas 13,7% correspondeu as recomendações da
agência italiana de medicamentos (MERCADANTE et al., 2007). Segundo a OMS em 2018, o câncer
é a segunda maior causa de morte no mundo, estimando que a carga global está aumentando
rapidamente. Na pesquisa analisada o serviço de cirurgia oncológica foi responsável por 21 das
prescrições analisadas, seguido de oncologia hematológica com 8 prescrições, somando o serviço de
oncologia que são os maiores prescritores dessa classe de medicamentos.
O uso de IBPs como gastroproteção, para pacientes em uso de terapias antiplaquetárias, é bem
documentado na literatura para aqueles com risco aumentado de sangramento gastrointestinal (>65
anos ou histórico de UP ou uso conjunto com corticosteroides e/ou anticoagulantes)
((SCARPIGNATO et al., 2016; SCARPIGNATO; HUNT, 2010; WEIL et al., 2000).
Os cálculos com gastos de medicamentos dispensados sem critérios de uso mostrado na tabela
3 foram calculados levando em consideração a posologia adotada na prescrição médica e o tempo no
qual foi utilizado, levando em consideração o uso de material (seringa e agulha para aspiração) para
aplicação no caso de formas farmacêuticas injetáveis. O custo total de todos os IBP’s dos 98 pacientes
sem nenhum critério foi de R$ 15.164,29, correspondendo a uma média de R$ 154,73/paciente,
podendo-se fazer uma estimativa anual de R$ 60.657,16.
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Vários estudos também demonstraram que os protocolos e diretrizes terapêuticas para uso de
IBP não estão sendo seguidos. Um estudo britânico revelou que 24% dos pacientes internados no
hospital receberam um IBP e apenas 54% deles tinham uma indicação adequada (BATUWITAGE et
al., 2007). Pesquisadores observaram em um hospital irlandês que 33% dos pacientes analisados
estavam fazendo uso sem nenhum critério estabelecido ou desconhecido (DHANDE; PATEL, 2016).
O estudo de Ribeiro et al. (2014) identificou que dos 343 pacientes estudados, 74 (39,8%) fizeram
uso sem indicação e dos restantes 112, 25 fizeram uso endovenoso inapropriadamente. Nessa
perspectiva, esses números estão alinhados aos resultados desse estudo, aonde 49% não tinham
nenhum critério de uso.
4. CONCLUSÃO
Os resultados do presente estudo demonstram que 49% das prescrições, o que corresponde a
um número significativamente expressivo, não tinham nenhum critério de uso; esta prática pode
provocar complicações e efeitos adversos significativo aos usuários, além de aumento nos custos
de saúde para a instituição e para os cofres públicos. Este estudo aponta para a necessidade de
implantação de protocolos terapêuticos internos para utilização de IBP, visando uma prescrição
adequada, segura e com redução de custos, objetivando um uso racional desses medicamentos.
NOTA: Os autores declaram não haver nenhum conflito de interesse para com esta pesquisa.
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