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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

Ronald Cristian Ferreira

ANÁLISE DE PRESCRIÇÕES E O IMPACTO


ECONÔMICO DE INIBIDORES DA BOMBA DE
PRÓTONS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Natal-RN

2019

1
Ronald Cristian Ferreira

ANÁLISE DE PRESCRIÇÕES E O IMPACTO


ECONÔMICO DE INIBIDORES DA BOMBA DE
PRÓTONS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Farmácia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em
Farmácia.
Orientador: Idivaldo Antonio Micali

NATAL – RN

2019

2
Ronald Cristian Ferreira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN


Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Ferreira, Ronald Cristian.


Análise de prescrições e o impacto de inibidores da bomba de prótons em um
hospital universitário / Ronald Cristian Ferreira. - 2019.
19f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) - Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de
Farmácia. Natal, RN, 2019.
Orientador: Idivaldo Antonio Micali.

1. Inibidores da bomba de prótons - TCC. 2. Gastos em saúde - TCC. 3. Uso


racional de medicamentos - TCC. 4. Gestão hospitalar - TCC. I. Micali,
Idivaldo Antonio. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 615.243

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

3
ANÁLISE DE PRESCRIÇÕES E O IMPACTO
ECONÔMICO DE INIBIDORES DA BOMBA DE
PRÓTONS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Farmácia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em
Farmácia.
Orientador: Idivaldo Antonio Micali

Professor: Prof. Idivaldo Antônio Micali, MsC – Orientador, UFRN

Membro: Cássio Alexandre Oliveira Rodrigues, Esp., Hospital da Unimed Natal e


Hospital do Coração de Natal

Membro: Prof. Sérgio Ricardo Fernandes de Araújo, Dr., UFRN

4
Análise de prescrições de inibidores da bomba de prótons e o impacto
econômico em um hospital universitário.

Ronald Cristian Ferreira¹

Universidade Federal do Rio Grande do Norte 1

Email: ferreiracronald@gmail.com
R. Gen. Gustavo Cordeiro de Faria, S/N - Petrópolis, Natal - RN, 59012-570
Telefone: +55 84 3342-9700

5
RESUMO

A prescrição e o uso inadequado de medicamentos geram gastos que agravam ainda mais
o problema da falta de recursos da maioria dos serviços de saúde, além dos prejuízos que
podem causar aos pacientes. Na prática, alguns dos usos irracionais mais comuns de
medicamentos são prescrições excessivas de antibióticos, inibidores da bomba de prótons
(IBP) e glicocorticoides. Esse trabalho teve como objetivo analisar o perfil de prescrições
de IBP em um hospital universitário e avaliar o impacto financeiro do uso racional dessa
classe de medicamentos. Este é um estudo transversal, retrospectivo e descritivo dos
registros de prontuários eletrônicos de pacientes internados, que fizeram uso de IBP, em
um período de 3 meses. Tendo a média total de idade de 54,4 anos (DP=17,5). Observou-
se que 49% das prescrições de IBP não possuíam nenhum critério de uso, sendo o custo
para esse grupo de R$ 15.164,29, no período analisado. Este estudo aponta para a
necessidade de implantação de protocolos terapêuticos internos para utilização de IBP,
visando uma prescrição adequada, segura e com redução de custos, objetivando um uso
racional desses medicamentos.

Palavras-chave:

Inibidores da bomba de prótons; Gastos em saúde; Uso racional de medicamentos;


Gestão hospitalar.

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ABASTRACT:

Prescription and inappropriate use of medication generate expenses that further aggravate
the problem of the lack of resources of most health services, as well as the harm they can
cause to patients. In practice, some of the most common irrational uses of medications
are excessive prescriptions of antibiotics, proton pump inhibitors (PPIs), and
glucocorticoids. This study aimed to analyze the profile of PPI prescriptions in a
university hospital and to evaluate the financial impact of the rational use of this class of
medications. This is a cross-sectional, retrospective and descriptive study of the electronic
medical records of hospitalized patients who used PPI over a period of 3 months. Having
a total mean age of 54.4 years (SD = 17.5). It was observed that 49% of the PPI
prescriptions did not have any use criteria, and the cost for this group was R$ 15,164.29
during the analyzed period. This study points to the need to implement internal
therapeutic protocols for the use of PPIs, aiming at an appropriate, safe and cost-effective
prescription, aiming at a rational use of these drugs.

Keywords:

Proton pump inhibitors; Health expenses; Rational use of medicines; Hospital


management.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

2. MATERIAIS E MÉTODOS: ........................................................................................... 11

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 12

4. CONCLUSÃO ................................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 16

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1. INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o uso racional de medicamentos ocorre


quando os pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em
doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor
custo possível (ARRAIS et al., 2005). A prescrição e o uso inadequado de medicamentos,
geram gastos que agravam ainda mais o problema da falta de recursos de muitos dos
serviços de saúde, além dos prejuízos que podem causar aos pacientes (BERNAL
GARZÓN; LÓPEZ, 2005). Na prática, alguns dos usos irracionais mais comuns de
medicamentos são prescrições excessivas de antibióticos, inibidores da bomba de prótons
(IBP) e glicocorticoides (ATIK, 2017; KAZBERUK et al., 2016; WEBSTER, 2017).

Os inibidores da bomba de prótons agem no bloqueio da H+/K+ ATPase (bomba


de prótons), enzima localizada nas células parietais, que é responsável por uma das etapas
finais no mecanismo de produção de ácido gástrico (BRUNTON, 2006). No Brasil essa
classe dispõe‑se de cinco representantes para uso clínico: o omeprazol e seu S‑isômero,
o esomeprazol, o lansoprazol, o rabeprazol e o pantoprazol (BRUNTON, 2006;
KATZUNG, 2006; WANNMACHER, 2004).

. Atualmente, são usados na pratica clínica em distúrbios relacionados com a


hipersecreção de ácido-gástrico, incluindo a doença de refluxo gastresofágico, nas
terapias adjuvantes de úlcera péptica (UP) e erradicação de H. pylori, a dispepsia e a
profilaxia de úlcera de stress (LUO et al., 2018).

O uso de IBP aumentou em 450% no ano de 1990 em relação aos anos anteriores
(GUDA et al., 2004). Há um número crescente de publicações sobre o uso excessivo de
IBP na prática clínica mundial. Por exemplo, nos Estados Unidos (EUA), os IBP foram
prescritos em 4% das consultas médicas ambulatoriais em 2002 e 9,2% das prescrições
em 200 pacientes (ROTMAN; BISHOP, 2013). Em um estudo indiano realizado em
2013, foi mostrado que apenas 37,3% das prescrições tiveram indicações adequadas para
uso dessa classe terapêutica, sendo reportado que 79 interações medicamentosas com IBP
poderiam ter sido evitadas (DHANDE; PATEL, 2016).

Análise de uma pesquisa em UTI, nos EUA, mostrou que68,5% dos casos de uso
de IBP intravenoso (IV), foram utilizados sem indicação adequada (PERWAIZ;

9
SCHMIDT; HAMMOUDEH, 2010). Outro estudo conduzido em um hospital geral da
Irlanda também demonstrou que 18% das prescrições contendo IBP estavam em
desacordo com a condição clínica dos pacientes e que em 15% das prescrições não foi
possível identificar a indicação clínica (MAT SAAD et al., 2005).

Além disso, estudos demonstraram que o uso de forma indiscriminada dos IBP
está associada com a hipomagnesemia, redução na absorção de micronutrientes como a
vitamina B12, cálcio, magnésio e ferro, aumento do risco de fraturas ósseas e maior
suscetibilidade a certas infecções, como infecção por Clostridium difficile (CHANDRA;
AGARWAL; SURANA, 2013; EOM, 2011; HO et al., 2015), e ainda podem causar
outros efeitos, como incompatibilidade e interações medicamentosas com diversos outros
fármacos, por se tratar de um inibidor enzimático.

Partindo para a questão financeira, estudos demonstraram que despesas com IBP
são de US $ 14 milhões (EUA), £ 425 milhões na Inglaterra, e £ 7 bilhões por ano no.
Quase £ 100 milhões na Inglaterra e £ 2 bilhões no mundo todo estão sendo gastos
desnecessariamente com uso irracional de IBP a cada ano (ABRAHAM, 2012;
FORGACS, 2008).

A indicação por critério de uso baseada em evidências científicas é um critério


importante para o uso racional de medicamentos. Abordar fatores como indicações para
o início de IBP, e reavaliação da necessidade de uso contínuo desses medicamentos em
pacientes hospitalizados, no momento da alta e durante revisões ambulatoriais, são
algumas medidas para conter o uso inadequado de IBP. Além disso pode-se implantar
políticas para o uso racional de medicamentos, protocolos e diretrizes baseadas em
evidências clínicas, programas de atenção farmacêutica, visando o uso desses fármacos
de forma racional e adequada para cada paciente.

Nesse sentido, se faz importante conhecer o perfil de prescrição dessa classe de


medicamentos e analisar os possíveis impactos econômicos positivos e/ou negativos ao
hospital e a saúde do paciente, caso prescrito de maneira inadequada, tendo em vista
também poucos estudos sobre o tema em questão no país, principalmente nos hospitais.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma pesquisa por meio de um estudo transversal, retrospectivo e


descritivo dos registros de prontuários eletrônicos de pacientes internados em um hospital
universitário de Natal-RN, nos períodos dos meses de Maio a Julho de 2019. Tratou-se
de um estudo sobre análise de prescrição quantitativo e qualitativo.
A população escolhida foi composta por adultos maiores de 18 anos, de ambos os
sexos, internados no Hospital Universitário Onofre Lopes - onde conta com 280 leitos e
atende especialidades como clínicas, como: Neurologia, Transplante Renal, Cirurgia
Geral, Oncologia e etc. - que fizeram uso de Inibidores da Bomba de Prótons (via oral ou
intravenosa) durante o período de internamento, tendo esses sido dispensados pelo serviço
de farmácia do hospital. Foram excluídos do estudo pacientes com menos de 18 anos, que
não tinham prescrição de uso de IBP e não aceitaram fazer parte da pesquisa.
Os dados foram coletados por meio das prescrições eletrônicas cadastradas no
Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários-AGHU. O instrumento na qual foi
utilizado para coleta de dados foi uma ficha em programa Microsoft Office Excel, aonde
foram coletados dados referentes a idade, sexo, tempo de internação, setor de internação,
qual medicamento da classe descrita esteve fazendo uso, posologia, a indicação e tempo
de uso.
A análise quantitativa das informações foram realizada mediante processo
sistematizado em base estatística de dados através do programa Excel Microsoft Office,
envolvendo aplicação de estatística descritiva.
Os valores foram obtidos na plataforma do Ministério da Economia (Painel de
Preços), aonde foi feita uma média das últimas licitações de compra do governo nos anos
de 2018 e 2019.
O presente trabalho teve aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Onofre Lopes, portando o n° CAAE 11763119.0000.5292 e seguindo o
disposto na Resolução CONEP nº 466/12.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total, foram coletados os dados de 203 pacientes durante o período, em que 110 (54%)
pertenciam a mulheres e 96 (46%) a homens, com a média total de idade de 54,4 anos
(DP=17,5).

A média do tempo de uso de IBP foi de 19 dias (DP=21,73) durante o internamento. Alguns
autores demonstraram uma forte ligação do tempo de uso e o tempo de internação (MUNARI
et al., 2004).

As especialidades médica que mais prescreveram IBP no período estudado foram a cirurgia
geral (n=22), cirurgia oncológica (n=21), cardiologia (n=19), proctologia (n=11), nefrologia
(n=11), pós-transplante (n=8), seguido de outras especialidades como mostra o gráfico 1.

Gráfico 1: Origem das prescrições


22 21
19
N° de prescrições

11 11
9 8 7 7 7 6 6 6 5 5 5 5 5

Especialidades Médicas

Outros: Reumatologia (4), Dermatologia (3), Unidade de transplante (2), Nefrologia pediátrica (1),
Cirurgia torácica (2), Otorrinolaringologia (1) e Pediatria (1).

Os critérios de uso analisados foram baseados em indicações reconhecidas pela Food and Drug
Administration (FDA), como também indicações que não foram rigorosamente aprovas pelo FDA,
mas sim aprovados em consensos de especialistas e diretrizes clínicas baseadas em evidências, sendo
essas indicações: profilaxia por uso de AINES, profilaxia de úlcera por estresse, pacientes
oncológicos em quimioterapia, úlcera péptica e sangramento, terapias antiplaquetárias, doença de

12
Chron, doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia, infecção por H. pylori, esofagite eosinofílica,
síndrome de Elisson-Zollinger (SCARPIGNATO et al., 2016).

Tabela 1: Indicações de uso de IBP de acordo com critérios de uso


CRITÉRIOS DE USO N° PACIENTES %
PROFILÁXIA POR USO DE AINES 46 22
PROFILÁXIA DE ÚLCERA POR ESTRESSE 25 12
PACIENTES ONCOLÓGICOS 14 7
ÚLCERA PÉPTICA E SANGRAMENTO 10 5
TERAPIAS ANTIPLAQUETÁRIAS 4 2
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 4 2
INFECÇÃO POR H. PYLORI 1 1
SEM CRITÉRIO DE USO 98 49

TOTAL 203 100

A análise das prescrições mostrado na tabela 1, constatou que 22% das prescrições foram para
profilaxia por uso de AINES, profilaxia de úlcera de por estresse 12%, pacientes oncológicos 7%
úlcera péptica e sangramento 5%, terapias antiplaquetárias 2%, Doença de Chron 2%, seguidas de
doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia, infecção por H. Pylori ambas com 1% das indicações
cada. Já as prescrições 49% das prescrições que continham IBP não tinham nenhum critério de uso
baseado em evidências, sendo prescritos de forma inadequada.

Os efeitos adversos relacionados aos AINEs incluem reação gastrointestinais e variam de


dispepsia, azia e desconforto abdominal a eventos mais graves, como úlcera péptica, com
complicações fatais de sangramento e perfuração (SCARPIGNATO; HUNT, 2010). Sendo a
profilaxia com IBP bem evidenciada em pacientes que fazem uso de AINE’s por longos dias e que
tenha fatores de riscos para sangramento gastrointestinal (GI). Entre eles, são o histórico de úlcera e
idade >65 anos (LAINE et al., 2002).

A profilaxia para úlcera de estresse está evidenciada apenas em pacientes com múltiplos
fatores de riscos para sangramento GI internado em UTI, sendo esses especificados nas diretrizes da
Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP): trauma grave, traumatismo
craniano grave, falência de múltiplos órgãos, queimaduras cobrindo mais de 25% a 30% do corpo,
uso de ventilação mecânica por >48h e principais procedimentos cirúrgicos. Porém, vários estudos
levantaram preocupações que a profilaxia de úlcera de estresse estejam sendo indicada de maneira
sem evidências comprovadas, como para pacientes de baixo riscos (COOK et al., 1994; SHIN, 2015).

13
Em pacientes com câncer o uso de IBP’s pode ser indicado para prevenção e/ou tratamento da
DRGE induzida pela quimioterapia e a ulceração gastroduodenal, com sintomas associados
(SCARPIGNATO et al., 2016). Porém as evidências na literatura ainda são baixas. Um estudo italiano
em uma unidade de cuidados paliativos identificou que 60,6% dos pacientes estudados fizeram uso
de IBP’s ou agentes receptores de anti-H2, aonde, apenas 13,7% correspondeu as recomendações da
agência italiana de medicamentos (MERCADANTE et al., 2007). Segundo a OMS em 2018, o câncer
é a segunda maior causa de morte no mundo, estimando que a carga global está aumentando
rapidamente. Na pesquisa analisada o serviço de cirurgia oncológica foi responsável por 21 das
prescrições analisadas, seguido de oncologia hematológica com 8 prescrições, somando o serviço de
oncologia que são os maiores prescritores dessa classe de medicamentos.

O uso de IBPs como gastroproteção, para pacientes em uso de terapias antiplaquetárias, é bem
documentado na literatura para aqueles com risco aumentado de sangramento gastrointestinal (>65
anos ou histórico de UP ou uso conjunto com corticosteroides e/ou anticoagulantes)
((SCARPIGNATO et al., 2016; SCARPIGNATO; HUNT, 2010; WEIL et al., 2000).

As diretrizes disponíveis mostram a eficácia de IBP’s no tratamento da doença do refluxo


gastroesofágico e erradicação da H. pylori (CHEY et al., 2017; KATZ; GERSON; VELA, 2013;
ZAGARI et al., 2017). Em relação as úlceras pépticas e sangramento gastrointestinal, as diretrizes
atuais recomendam o início de IBP’s IV em altas doses em bolus, seguido de infusão contínua ou em
contextos clínicos selecionados, esses pacientes podem receber alta em casa com terapia padrão de
IBP (GRALNEK et al., 2015; SUNG et al., 2011).

Os cálculos com gastos de medicamentos dispensados sem critérios de uso mostrado na tabela
3 foram calculados levando em consideração a posologia adotada na prescrição médica e o tempo no
qual foi utilizado, levando em consideração o uso de material (seringa e agulha para aspiração) para
aplicação no caso de formas farmacêuticas injetáveis. O custo total de todos os IBP’s dos 98 pacientes
sem nenhum critério foi de R$ 15.164,29, correspondendo a uma média de R$ 154,73/paciente,
podendo-se fazer uma estimativa anual de R$ 60.657,16.

Tabela 2: Análise de custo de IBP sem critérios de uso


Medicamento Quantidade Valor unitário R$ Valor total R$
Omeprazol 20 mg 199 R$ 0,10 R$ 19,90
Omeprazol 40 mg 987 R$ 9,33 R$ 9.208,71
Frasco-ampola
Pantoprazol 40 mg 864 R$ 6,87 R$ 5.935,68
Frasco-ampola
Total 2050 R$ 15.164,29

14
Vários estudos também demonstraram que os protocolos e diretrizes terapêuticas para uso de
IBP não estão sendo seguidos. Um estudo britânico revelou que 24% dos pacientes internados no
hospital receberam um IBP e apenas 54% deles tinham uma indicação adequada (BATUWITAGE et
al., 2007). Pesquisadores observaram em um hospital irlandês que 33% dos pacientes analisados
estavam fazendo uso sem nenhum critério estabelecido ou desconhecido (DHANDE; PATEL, 2016).
O estudo de Ribeiro et al. (2014) identificou que dos 343 pacientes estudados, 74 (39,8%) fizeram
uso sem indicação e dos restantes 112, 25 fizeram uso endovenoso inapropriadamente. Nessa
perspectiva, esses números estão alinhados aos resultados desse estudo, aonde 49% não tinham
nenhum critério de uso.

Esses tipos de problemas podem ser melhorados significativamente por intervenções


farmacêuticas, melhorando o custo-benefício dos tratamentos, aumentando também a segurança do
paciente (HAN et al., 2016). Além disso, os profissionais prescritores devem levar em consideração
condutas baseadas em evidências, em contextos que a experiência clínica é integrada com a
capacidade de analisar criticamente e a aplicar de forma racional a informação científica, visando
melhorar a qualidade da assistência prestada (LOPES, 2000).

4. CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo demonstram que 49% das prescrições, o que corresponde a
um número significativamente expressivo, não tinham nenhum critério de uso; esta prática pode
provocar complicações e efeitos adversos significativo aos usuários, além de aumento nos custos
de saúde para a instituição e para os cofres públicos. Este estudo aponta para a necessidade de
implantação de protocolos terapêuticos internos para utilização de IBP, visando uma prescrição
adequada, segura e com redução de custos, objetivando um uso racional desses medicamentos.

NOTA: Os autores declaram não haver nenhum conflito de interesse para com esta pesquisa.

15
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16
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