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O que é necropolítica. E
como se aplica à
segurança pública no
Brasil
25/09/19 por Mariana Ferrari
Confira a entrevista:
Rosane – Nada mudou ou, na verdade, pouca coisa. A gente não pode
dizer que nada mudou, mas a gente tem uma concepção de fundo que
permanece. Se a gente perceber nossa polícia, ela tem uma vocação
empreguista, porque ela substitui o capitão do mato. O capitão do mato
tinha a função de perseguir os fugitivos e entregar aos seus “donos”. Com o
fim do sistema da escravidão oficializada, a gente tem uma polícia que
nasce com essa vocação empreguista. E esse empreguismo e essa
perseguição se dá a partir de questões sociais, raciais, de gênero e de
território. A polícia não toca o terror, como a gente costuma dizer, em
espaços considerados de elite. Ela não invade territórios de elite. Essa é a
vocação empreguista e persecutória. É a humanidade subalterna que ela
invade, que ela viola. Primeiro mata e depois pergunta quem é.
Rosane – Como bem disse Foucalt: o Estado não é para operar a morte, é
para cuidar da vida de todos. Quando essa política de morte é oficializada,
significa dizer que o Estado também faliu na sua função. É o papel do
Estado prover as vidas, de que elas realmente serão vividas. Estado não é
para matar os seus cidadãos.
Rosane – Sim, inclusive Achille Mbembe vai dizer que se fala muito dos
campos de concentração do século 20. Ele vai fazer um recuo histórico e
dizer: “olha, essas experiências do estado de exceção já estavam na época
da escravidão”. E ele vai estender e dizer que isso acontece hoje, na nossa
contemporaneidade. Isso porque tem os seus lugares privilegiados em que
a necropolítica se exerce. No Brasil, a gente sabe onde ela se exerce: nas
periferias das grandes metrópoles, nos conflitos agrários dos rincões do
Brasil, nos morros, nas favelas.
Rosane – Eu acho que sim, porque se você trabalha com a ideia de amigo
e inimigo, e que você tem que abater o inimigo. Você só trabalha nessa
perspectiva se você trabalha com guerra. É a mesma coisa a ideia de
guerra às drogas. Você não guerreia com coisas, com objetos, você
guerreia com pessoas. O termo “guerras às drogas” é infeliz ao mesmo
tempo que parece ingênuo, revela que se trata de uma guerra contra
pessoas.
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