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ÁFRICA: BERÇO DA CULTURA BRASILEIRA

Darlene Oliveira Magalhães


Ianca Boa Sorte dos Santos
Maria da Paz Rocha Silva
Micaele da Cruz Rocha
Patrícia Rocha da Conceição
Rosivania Silva Barbosa1
Paulo Marcos Pereira2

1. INTRODUÇÃO:

Este ensaio apresenta uma revisão de literatura sobre todo o panorama histórico dos
africanos no Brasil, sobre a resistência africana e os reflexos da cultura africana presentes na cultura
brasileira. Realizado sob a perspectiva da história do negro no Brasil, na medida em que se observa
que o tema abordado é de caráter histórico-cultural, propõe-se a refletir sobre a importância que
teve o tráfico negreiro e a escravidão na determinação do presente do nosso país. O trabalho está
fundamentado em teóricos que abordam a temática a ser discutida de forma clara e precisa.
Abordaremos questões sobre como eram tratados os escravos, suas religiões e suas culturas.

2. PANORAMA HISTÓRICO DOS AFRICANOS NO BRASIL:

Antes de falar dos africanos escravizados no Brasil é importante voltar ao passado para
compreender seus modos de vida antes do tráfico transatlântico. Tendo em vista que os africanos
viviam em grupos étnicos que se distinguiam por diferentes línguas, religiões e costumes, eram
comuns os conflitos entre grupos que ocasionava na perca de liberdade dos grupos que saiam
derrotados, que eram transformados em escravos e vendidos para outros grupos e depois para os
europeus.

A escravidão no Brasil teve início na primeira metade do século XVI, quando os


portugueses necessitavam de mão de obra para a produção de cana-de-açúcar. Os comerciantes
portugueses vendiam os negros africanos no Brasil como se fosse mercadoria, eles eram

1
Graduandas do curso de licenciatura em Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Departamento de
Ciências Humanas e Tecnologias – DCHT, CAMPUS xVII.
2
Professor orientador da disciplina História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.
transportados da África nos porões dos navios negreiros, que tinham ambientes insalubres, que os
expunham a doenças, muitos acabavam morrendo antes mesmo de chegar no Brasil.

Os africanos eram tratados com extrema violência e recebiam pouca alimentação, e muitos
eram maltratados e castigados sem motivo algum, e não bastava tudo isso ainda tinham que
enfrentar as longas jornadas de trabalho:

Depois da longa travessia atlântica e do desembarque em algum porto das grandes cidades
do Brasil, ou em alguma praia deserta após a proibição, os africanos logo percebiam que
sobreviver era o grande desafio que tinham pela frente. Dali por diante teriam que conviver
com o trauma do desenraizamento das terras dos ancestrais e com a falta de amigos e
parentes que deixaram do outro lado do Atlântico. [...] (ALBUQUERQUE; FILHO, p. 65,
2006)

No início do século XIX, o Brasil tinha uma população de 3.818.000 pessoas, desse total
1.930.000 eram africanos escravizados, que viviam em condições precárias, sem um tratamento
descente, normalmente trabalhavam o dia todo com apenas uma refeição, sendo que essa era dada
às 15 ou 16 horas, sem levar em conta que as pessoas necessitam de no mínimo três refeições por
dia, e no caso dos escravizados, quando o trabalho é passado, a necessidade de uma refeição
reforçada era ainda maior. Devido a longa jornada de trabalho e as parcas refeições a taxa de
mortalidade era consideravelmente alta, enquanto que a de natalidade era significamente baixa.

Além disso os negros eram obrigados a trabalharem de 15 a 18 horas diárias e ficavam


muito tempo dentro d’agua e com isso acabavam contraindo doenças como: malária, pneumonia,
entre outros. Unindo-se a isso a saudade de casa acabava por provocar o Banzo, que pode ser
definido como um tipo de depressão.

3. SINÔNIMOS DE RESISTÊNCIA:

Assim que os africanos chegavam ao Brasil, perdiam o direito de usar o próprio nome e de
praticar as suas antigas tradições. Alguns, porém, conseguiram viver em melhores condições e até
mesmo a ter escravos seus, outros resistiam a vida que lhes eram imposta e resistiam de diversas
formas: se suicidavam, fugiam, não cumpria as ordens e rebelavam-se.

Essa experiência dolorosa do desenraizamento marcaria para sempre suas vidas,


mas a memória da África continuaria presente em tudo o que fariam no Brasil. A
memória da África marcaria para sempre a musicalidade, os sentimentos, a forma
de vestir, alimentar-se, divertir-se, criar os filhos, de se relacionar com o sagrado,
de celebrar a vida e lidar com a morte e, sobretudo, de relacionar-se com as
populações indígenas e ibéricas. (ALBUQUERQUE; FRAGA; 2009. p. 43)

Mesmo com as extensas jornadas de trabalho, os africanos tentavam manter vivas a sua
cultura e religião, visto que eram elas que ligavam os mesmos aos seus ancestrais e as suas origens,
era comum as rodas de capoeira, no interior, e o candomblé, nas cidades, ao cair da noite. Porem
isso tudo passou a ser proibido pelos senhores de escravos, já que eles queriam que os africanos
esquecessem seu passado, para assim não se lembrarem de sua liberdade.

Essa situação piorou com a primeira constituição do país, que definiu o catolicismo como
religião oficial do Império, sendo que as outras religiões poderiam existir, mas sem templo, porem
as religiões de origem africana não tinha essa permissão, pois não era sequer considerada uma
religião e por isso vistas como ilegais.

Apesar de tudo os africanos resistiram, e sua forma de resistência foi marcada pela mistura
de sua cultura com elementos da cultura indígena e europeia, exemplo disso foi a aproximação das
diferentes religiões de origem africana do catolicismo, a partir das semelhanças entre os Orixás o os
santos católicos, e além disso participavam das irmandades.

Iniciado no catolicismo na África ou no Brasil, o escravo africano ou crioulo dotou


a religião dos portugueses de ingredientes de tradições religiosas africanas,
especialmente música e dança. Era um catolicismo cheio de festas, de muita
comida e bebida, de intimidades com santos, tal qual a relação dos africanos com
seus orixás, voduns e outras divindades de promessas de santos, pagas com missas,
tinham função semelhante à das oferendas que acompanhavam pedidos feitos aos
deuses e outras entidades espirituais africanas. (ALBUQUERQUE; FRAGA; 2009.
p. 48)

Um elemento comum que une as diversas tradições religiosas africanas existentes no Brasil
é o culto dos ancestrais, para eles um ancestral ou antepassado é alguém de quem uma pessoa
descende, por parte de pai ou de mãe, em qualquer período do tempo, e que todos devem cultuar,
respeitar e amar. Só alcançam a condição de ancestral com merecimento de culto aqueles que
viveram uma vida terrena voltada para o bem da comunidade e deixaram bons filhos.
(ALBUQUERQUE; FRAGA; 2009)

Um aspecto importante a se destacar é que os seguidores de religiões de matriz africana


demonstram uma enorme capacidade de dialogar e respeitar as religiões dos outros. As religiões
(dos negros) foram essenciais para as populações negras enfrentarem a vida difícil no Brasil
escravista, além disso, os laços familiares criados em torno do culto dos ancestrais permitia a
recomposição simbólica dos laços familiares, interrompidos pelo trafica ou no curso da vida
escrava.

4. CULTURA BRASILEIRA: REFLEXOS DA CULTURA AFRICANA:

A partir do tráfico negreiro, a influência africana começa a delinear o processo de


formação da cultura afro-brasileira, quando milhões de africanos deixaram forçadamente o
continente africano. ASegundo Antonil (1982) “a contribuição africana no período colonial foi
muito além do campo econômico, uma vez que, os escravos souberam reviver suas culturas de
origem e recriarem novas práticas culturais através do contato com outras culturas”.(p. 89).

Além das práticas culturais, os africanos incorporavam algumas práticas europeias e


indígenas, esse intercâmbio de culturas contribuiu para uma formação cultural afro-brasileira
bastante peculiar. Essa contribuição africana foi além da participação econômica, uma vez que,
inserido seus costumes, suas práticas e seus rituais religiosos na sociedade brasileira.

Os exemplos dessa influência podem ser percebidos na língua, já que palavras como
moleque, quiabo, fubá, caçula, angu, cachaça, dengoso e quitute, comuns no português brasileiro,
são de origens africanas; na alimentação, através de pratos como vatapá, acarajé, pamonha,
mugunzá, caruru, quiabo e chuchu, além dos temperos: pimentas, leite de coco e azeite de dendê; na
religião, visto que foram os africanos e seus descendentes que tornaram o catolicismo uma religião
festiva, com costumes que se tornaram tradição, como é o caso da tradicional distribuição de doces
no dia de Cosme e Damião, realizada por seus devotos; e a Música, om exemplos do samba, afoxé,
maracatu, congada, lundu e a capoeira, que influenciaram vários artistas e composições atuais.

5. A LEI 10.639/03:

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação rege todo currículo educacional brasileiro, em


2003 foi implementada a Lei 10.396/03 que se torna significante para a população negra do nosso
país, assim diante de tantas lutas fortaleceu essa demanda para que instituição pública ou privada
dedica-se a aborda assuntos relevantes a esta Lei.
O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, evitando-se distorções, envolverá
articulação entre passado, presente e futuro no âmbito de experiências, construções e pensamentos
produzidos em diferentes circunstâncias e realidades do povo negro. É um meio privilegiado para a
educação das relações étnico-raciais e tem por objetivos o reconhecimento e valorização da identidade,
história e cultura dos afro-brasileiros, garantia de seus direitos de cidadãos, reconhecimento e igual
valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, europeias, asiáticas .
(CNE,2004,P.20)

Porém, apesar de sua obrigatoriedade, muitas instituições desobedecem a essa lei, seja
por não conhecerem ou por simplesmente ignorarem, mantendo assim os estereótipos criados
pelos europeus, sobre a inferioridade dos negros, justificados pelo local de nascimento e cor da
pele.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Conclui-se que ao serem tragos para o Brasil, os africanos não perderam apenas o seu
continente, seu país e sua moradia, mas perderam também a liberdade, o direito de praticarem seus
costumes. Foram impostos à uma Cultura consideravelmente diferente; além disso, tiveram que
"trabalhar" de forma precária sem o mínimo de higiene ou tratamento descente, expostos à diversas
doenças, falta de alimentação e excesso de trabalho. A saudade de sua Pátria juntamente com a
forma desumana que eram tratados acabavam resultando em alguns casos de Banzo, e apesar de
tudo isso, os africanos faziam de tudo para manterem viva sua cultura e seus costumes, mesmo com
todos os impedimentos gerados pelos senhores fazendeiros. É por conta dessa resistência, dessa
vontade de manter viva sua cultura, que hoje temos acesso à tantos costumes, comidas e religiões
típicas dos africanos, e que foram herdadas por nós. Sendo assim reconhece a necessidade de se
ensinar História e Cultura Afro-brasileira para que tenhamos acesso e consciência dessa
diversidade, e para que não cometemos prejulgamentos e erros cometidos no passado. Neste
sentido, o estudo sobre as influências africanas no Brasil possibilita um aprendizado mas amplo, de
forma diferenciada, reconhecendo sua história antes e pós tráfico, e valorizando suas culturas.

7. REFERENCIAS:
ALBUQUERQUE, W. R. de; FRAGA, W. Capitulo III Escravos e Escravidão no Brasil. In.:
. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília:
Fundação Cultural Palmares, 2006. p. 63-91.
ALBUQUERQUE, W. R. de; FRAGA, W. Capitulo 3 Os africanos e seus descendentes na
formação cultural do Brasil. In:______. Uma história da cultura afro-brasileira. Moderna, 2009. p.
43-65
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo:
EDUSP, 1982.
MUNANGA, Kabengele. Por que ensinar a história da África e do negro no Brasil de hoje?.
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 62, p. 20-31, dez. 2015.

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