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Difusão de Luz

Análise do valor da Jardineta para determinação do sentido e da insubstitualidade


do lugar

Filipa Catarina Santos Castanheira


20161516 | filipa.cs.castanheira@gmail.com | 963618367

Teoria do Lugar
Professor Pedro Abreu | MiInt 4ºA
Lisboa, FA ULisboa, 30 de Maio, 2022
Índice

Introdução......................................................................................................................................3
História..........................................................................................................................................4
Forma............................................................................................................................................6
Sentido do Lugar.............................................................................................................................7
Comparações.............................................................................................................................7
Música.......................................................................................................................................8
Genius Loci................................................................................................................................9
Razão da Insubstitualidade............................................................................................................11
Elementos da forma que dão Sentido ao Lugar................................................................................12
Indicações para a Reabilitação.......................................................................................................14
Conclusão....................................................................................................................................15
Bibliografia...................................................................................................................................16

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Introdução

O tema deste trabalho surge no seguimento das aulas de Teoria do Lugar, lecionadas pelo
Professor Doutor Pedro Abreu no presente ano letivo 2021-2022.
O tema de estudo deste trabalho, centra-se no pátio Jardineta do MUHNAC (Museu Nacional
da História Natural e da Ciência) escolhido, de entre todos os espaços que constituem o edifício,
por ser o único que devido à sua conceção, despertou um interesse e curiosidade para proceder
à sua análise.
Este trabalho pretende, através de um estudo mais interativo e criativo, perceber qual é o
Sentido do Lugar e quais as razões que levam a que a sua existência seja imprescindível para o
Eu enquanto o habita.
Para isto, recorreu-se a um método de estudo diferente, que parte numa primeira abordagem
da comparação do lugar em estudo com outro morfologicamente semelhante, para entender
quais as diferenças e semelhanças que ambos possuíam, de modo a analisar as sensações e
emoções que ambos geravam nos seus habitantes.
Seguidamente, foi escolhida uma música que melhor transmitisse as emoções que o pátio
causava, de uma forma geral, nos diferentes indivíduos que o tentavam habitar. Posto isto,
partiu-se para a elaboração do Genius Loci através da música por forma a personificar os
sentimentos causados pela melodia, criando assim um “fantasma” para aquele espaço.
Por último, deu-se a criação de um caixote do lixo que, partindo do Genius Loci, se
enquadrasse no espaço da melhor maneira possível e resumisse em si as sensações geradas
pelo pátio.
Com esta análise, pretende-se demonstrar que para poder existir uma melhor intervenção e
compreensão dos elementos que devem ser preservados e retirados do espaço, é necessário
existir um entendimento do seu sentido enquanto lugar, visto que a Jardineta não foi projetada
para ser um local de permanência, mas sim como um lugar de contemplação e devido a isto é
possível perceber porque é que o pátio se encontra sempre vazio.

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História

O pátio Jardineta, está integrado como elemento central do conjunto do Museu Nacional da
História Natural e da Ciência. Trata-se de um edifício com mais de 400 anos, com um valor
histórico e um valor patrimonial inigualável para o nosso país.
Este edifício, foi criado para ser um Noviciado para os jesuítas, o Noviciado da Cotovia, este
foi criado e pensado por Fernão Teles de Meneses e pela sua esposa em 1589, com o intuito de
formar noviços para que estes se tornassem anunciantes da palavra de Deus. Em 1616, o
Noviciado foi inaugurado, depois de ter sido construído sobe a responsabilidade do arquiteto
Baltazar Álvares.
Desde a sua inauguração, este, foi um edifício que veio a sofrer várias alterações e neste
caso, o pátio, espaço protagonista deste exercício, não foi exceção. Na altura do Noviciado da
Cotovia, a Jardineta, para além que não ser totalmente delimitada, as suas fachadas não tinham
a linguagem arquitetónica que conhecemos hoje em dia. A total delimitação do pátio só foi
construída em 1761, após o terramoto de Lisboa de 1755 e do primeiro incêndio que o edifício
sofreu, em 1759. Nesta altura, Marquês de Pombal, Secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros e da Guerra, mandou retirar os Jesuítas e fazer uma reconstrução, a cargo de
Carlos de Mardel, do edifício. O Noviciado passaria a Real Colégio dos Nobres.
Após vários anos e vários acontecimentos históricos, o Colégio dos Nobres extingue-se e dá
lugar à Escola Politécnica, inaugurada em 1837. Poucos anos depois, em 1843, este edifício
sofre um novo incêndio, que leva a uma nova reconstrução a cargo do General de Engenharia
José Feliciano da Silva. As fachadas que hoje conhecemos, já são bastante semelhantes às
desta altura.
De Escola Politécnica, passou a Faculdade de Ciências e em 1978, mais uma vez, este
edifício sofre um incêndio e uma nova reconstrução dos espaços afetados.
Ao longo da história, não existem muitos registos do pátio a não ser as imagens abaixo
representadas, que dão a sensação de que este, esteve maioritariamente vazio a não ser, na
altura da Antiga Escola Politécnica, que este era utilizado como espaço de atividades e
atualmente, na função de museu, utilizado para algumas exposições e representações teatrais.

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Imagem 1 – Antiga escola Politécnica

Imagem 2 – Representação teatral de D. Quixote em 2018

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Forma

A Jardineta contém uma forma retangular delimitada por quatro fachadas aparentemente
simétricas, pois o único aspeto que difere é a organização das entradas de luz das fachadas
Norte e Sul. Ambas possuem vãos com as mesmas dimensões, no piso térreo e no piso 1, tendo
estas dois terços do tamanho no último piso.
A ornamentação do pátio é bastante simples e geométrica, podemos observar o estilo
clássico presente nas colunas ligadas por arcos de volta perfeita, situadas no piso térreo das
fachadas nascente e poente. No primeiro piso destas duas fachadas, existem vãos com a
mesma tipologia em arco.
Este espaço tem como cor predominante o branco das fachadas e o bege da pedra lioz,
fortemente utilizada nos detalhes e ornamentos, fazendo com que a particularidade do rebordo
dos caixilhos dos vãos pintado a vermelho, ganhe algum destaque pelo contraste que exerce.
No centro da Jardineta, existe um extenso relvado verdejante, contornado por um pavimento
feito em pedra sedimentar calcária negra, tornando-se mais um elemento de contraste com as
fachadas e com o próprio relvado, relvado este, que graças à sua grande dimensão se torna um
grande protagonista neste espaço. Ainda neste local exato, podemos encontrar uma escultura
efémera central, que pertenceu à Faculdade de Ciências e que ainda se encontra exposta nos
dias de hoje, encontramos também, em cada uma das laterais da escultura, duas tampas
retangulares das antigas cisternas, por último, em cada uma das extremidades do relvado,
existem quatro palmeiras plantadas que, mesmo tendo uma altura elevada, tornam-se pequenas
em relação à dimensão do pátio.

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Sentido do Lugar

Comparações

Como referido acima, para descobrir o Sentido do Lugar foi feita uma análise comparativa do
pátio da Jardineta com espaços morfologicamente semelhantes.
Para isso, a comparação elaborada foi com o pátio Vaga Cultural da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa.
A escolha deste lugar comparativo, advém de numa primeira instância, se assemelhar com o
lugar em estudo na sua conceção formal.
Criado a partir de uma subtração do edificado onde este se encontra, a maior parecença que
possui a Jardineta, é a criação em cada individuo de uma necessidade de observar o céu. Os
elementos naturais que existem no espaço e a geometria da sua planta, assemelha-os cada vez
mais.
As fachadas que compõem a Vaga Cultural, apresentam uma geometria própria dada pela
organização dos vãos e pela decoração, no entanto, e contrastando com a Jardineta todas as
suas fachadas são idênticas entre si.
O pátio em estudo, tem como elemento central a escultura anteriormente referida, de caracter
efémero, bem como as tampas das antigas cisternas que se encontram, cada uma delas, de um
dos lados da escultura, assemelhando-se à fonte central que decora o espaço da Vaga Cultural.
Ambos os pátios contêm um perímetro bem marcado que dá forma ao espaço central que
ambos possuem, no entanto estes contrastam entre si. Se por um lado na Jardineta existe um
perímetro de pedra calcária negra que envolve e contorna o relvado, na Vaga Cultural esta
delimitação é feita através de elementos naturais que contornam o pavimento de calçada
portuguesa.
Existe um contraste bastante acentuado entre os dois, a Vaga Cultural tem uma vertente
clássica muito marcada que é visível no seu todo, um trabalhado e cuidado percetível em todas
as suas fachadas onde o vidro é utilizado como detalhe, por forma a existir um controlo da luz
tanto para o interior como para o exterior.
Todos os elementos naturais existentes, demonstram cuidado e uma disposição no espaço
ponderada de forma a tornarem o pátio mais natural, leve e agradável tal como a fonte, que
apesar de ser um objeto edificado, tem a função de trazer mais elementos naturais ao espaço.
Este demonstra-se como um lugar convidativo numa primeira abordagem, possuindo um
ambiente relaxante e cativante, mas ao mesmo tempo animado e cheio de interações humanas.
Em comparação, a Jardineta também possui uma vertente clássica, no entanto esta só é
dada através das colunas e dos arcos existentes nas fachadas Nascente e Poente. É visível,
quando comparados, que a Jardineta sofre de uma grande falta de cuidados e de trabalho, tanto
nas fachadas como no seu relvado central. A utilização constante de pedra Lioz e da cor branca
causam um descontrolo na intensidade de luz, que gera um desconforto visual para quem o
tenta habitar.

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Os elementos naturais existentes, são compostos por um extenso relvado e quatro palmeiras
dispostas em cada um dos cantos do mesmo, o que gera uma maior sensação de abandono do
espaço. A Jardineta é usada como local de passagem e devido à existência e falta dos
elementos acima referidos, à primeira vista, esta não aparenta ser um lugar convidativo à
permanência de quem habita o edifício, no entanto quando é dada uma oportunidade ao pátio,
surge uma música que toca enquanto permanecemos, demonstrando que se trata afinal de um
espaço que nos abraça e que algo mais nele se tornaria distrativo.

Música

A música que melhor descreve as sensações geradas pelo pátio da Jardineta, intitula-se de
Benedicta do autor Marcus Viana pois, esta consegue transmitir grande parte das emoções que
o lugar cria nos seus habitantes.
A melodia transporta em si a atmosfera e a calma que são possíveis de sentir, numa primeira
abordagem, no pátio da Jardineta.
Quando analisada de forma superficial, é possível notar que a música tem em si sentimentos
e sensações comuns aos experienciados no pátio durante uma abordagem inicial. O que se
torna mais claro numa primeira analise, é a sensação de grandiosidade e de um espaço amplo
na música, que remete para as grandes dimensões do pátio. Sentimentos como paz e devoção
também se encontram presentes na música e são nos dados através da melodia gerada pelo
Violoncelo com o Violino e pela voz do autor. Existe também uma sensação de falsa desarmonia
presente entre os minutos 1:08 e 1:15. Apesar de durar poucos segundos, esta “desarmonia”
remete para os vão presentes na fachada virada a Norte, devido à existência de um conjunto
extra de janelas que perturbam o espaço.
Por outro lado, quando analisada de forma mais profunda, é possível perceber que a música
transporta em si sensações de liberdade e elevação, reconhecidas de forma clara no seu
começo, dadas pela melodia gerada através da junção do Violino com o Violoncelo. Do início ao
fim, torna-se claro que a música possui uma vertente acústica que cria no seu ouvinte um meio
para a existência de uma introspeção e reflexão, geradas também pelo pátio em quem o habita.
Em contrapartida, a Jardineta tem algo de inacabado devido a esta não ser Arquitetura,
contrastando com a música, onde existe uma conclusão pensada e agradável. O pátio trata-se
de um espaço que funciona com o seu todo, quando pensado no edifício onde este se insere, no
entanto quando pensado de forma individual, este causa um sentimento de insatisfação, gerando
em quem o habita uma falta de realização, em oposição à música que cria nos seus ouvintes um
sentimento de bem-estar geral.
Quando comparados, o pátio e a música são muito semelhantes nos sentimentos e
sensações que criam em quem os experiencia, de forma conjunta ou individual no entanto, após
a análise feita é possível afirmar que, não existe sentimento algum que o lugar possua que a
música não transmita de alguma forma. A música é capaz de personificar um “fantasma” que se
enquadra na Jardineta, de maneira quase palpável, diferente do que poderia imaginar sem a
ajuda desta melodia naquele espaço.

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Genius Loci

Tal como os Gregos sentiram uma necessidade de atribuir um género às colunas Dórica e
Jónica (Masculino e Feminino respetivamente) este espaço, devido à utilização geométrica das
suas colunas, à falta de ornamentação, ao aspeto maciço e às dimensões gerais que o definem
(comprimento, largura e altura), o género atribuído será o masculino. A falta de detalhes, a
continua utilização dos mesmos tons e o seu aspeto robusto intensificam esta caracterização.
Tal como o lugar, este homem possui uma fisionomia alta e robusta, apresentando olhos
claros, num tom verde, referente ao extenso relvado que existe no centro do espaço.
O Genius Loci que personifica este lugar, trata-se de um padre de meia-idade, nos seus 40 a
45 anos, pois apesar de já ter adquirido muita sabedoria e experiência de vida, este ainda se
encontra numa constante mudança e evolução tal como a Jardineta, que apesar do edifício onde
este lugar se encontra ter mudado diversas vezes de função, o sentido do pátio e a sua
utilização perduraram na passagem do tempo.
O sentido do lugar sempre possuiu um caracter religioso tal como o padre Jesuíta, que
através da sua vocação, transmite fé e simplicidade a quem o encara. Apresentando-se sempre
com um ar sereno e um ligeiro sorriso, de braços abertos e de olhos postos no céu, pronto a
receber quem não tenha receio de o abordar.
As características mencionadas acima, partem da interpretação da música escolhida e das
sensações geradas pela mesma, entrando em conformidade com o espaço, abrindo caminho
para uma melhor compreensão do Sentido do Lugar.

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Embora aparente um certo abandono, a Jardineta é o elemento central do edifício pois tem o
poder de transformar os espaços adjacentes e a quem o habita através da sua iluminação.
O exercício da música e do Genius Loci, ajudou o Eu a adquirir ferramentas para
compreender, refletir e sentir o sentido do lugar, pois quando o habitamos há uma música que
toca e um fantasma do lugar que nos abraça e acolhe.
Só através da interação do Eu com o lugar, é possível existir um sentido que vai para além do
edificado.
Através desta experiência pode ser concluído que o sentido do lugar é feito através do Eu,
existindo sempre sensações diferentes, no entanto estas convergem nas descritas acima por
serem as que se assemelham nas diferentes experiências humanas.
Apesar destas experiências se assemelharem entre si, cada Eu como distinto e próprio que é,
cada individuo irá sentir o lugar de forma profunda e de maneira diferente. O pátio torna-se assim
um espaço de admiração, reflexão e meditação devido à sua construção íntima e privada
ajudando o Eu a respirar.

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Razão da Insubstitualidade

O MUHNAC necessita da Jardineta pois, sem ela o edifício transformar-se-ia apenas num
bloco edificado, fechado e sombrio, no meio de um jardim igualmente de grandes proporções.
Com isto é possível afirmar-se que o pátio não só traz leveza ao edifício, como também se
transforma num elo de ligação entre a Arquitetura e a Natureza que ali existem.
A conceção da Jardineta, a sua existência até hoje e a preservação da sua origem enquanto
edificado, remontam para a função original que o edifício possuía aquando da sua construção.
Com caracter religioso, a sua forma leva os seus habitantes a elevarem o olhar até ao céu,
criando assim um caminho para a introspeção do Eu.
A entidade e a essência do edifício desapareceriam se a existência do pátio fosse posta em
causa. Apesar de não ser Arquitetura, na sua forma como um todo presente no MUHNAC, a
Jardineta é o coração do edifício e sem ela este perderia parte da sua essência.

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Elementos da forma que dão Sentido ao Lugar

Para melhor entender os elementos da forma do pátio Jardineta que lhe conferem sentido, foi
criada uma tabela com as dimensões e quantidades de cada elemento presentes nas fachadas
Nascente e Poente.

Elemento Quantidade Comprimento Altura Largura


Coluna piso térreo

Base 0,75
20 2,78 0,60
Corpo 0,61

Arco piso térreo


1,25
18 2,57 0,60
Rebordo 0,22

Janela c/ Arco

18 2,33 3,90 0,60

Colunas piso superior

Base 0,71
20 3,54 0,60
Corpo 0,66

Arco piso superior


1,33
18 2,57 0,60
Rebordo 0,22

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Estes elementos selecionados são os de maior importância para poder existir uma
intervenção contemporânea que faça sentido no lugar.
Relativamente às fachadas Norte e Sul, os elementos que as constituem não demonstram
grande importância para o Sentido do Lugar, no entanto é necessário ressaltar a geometria da
colocação dos vãos presente nas mesmas, de forma mais clara na fachada virada a Sul, que se
resume num distanciamento entre vãos de cerca de 4,50m. O distanciamento dos vãos varia
nesta fachada, entre os 4,04m e os 4,83m, dando assim uma falsa sensação de geometria.
O extenso relvado que existe no centro da Jardineta, apesar de não constituir um elemento
arquitetónico, é de extrema importância para o sentido do lugar, pois sem este o pátio não
transmitiria os mesmos sentimentos e sensações, desde o abandono numa primeira instância,
até á calma e frescura de definem o espaço.

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Indicações para a Reabilitação

Ao intervir num espaço, deve-se sempre ter em conta que existe uma obrigatoriedade em
compreender e acima de tudo respeitar o espaço, manter o que tem valor e o que dá identidade
a este mesmo. Neste caso em concreto, depois de analisar a história, os aspetos formais e o
sentido do lugar, existe uma necessidade em preservar a identidade da Jardineta, bem como a
sua tipologia arquitetónica, ou seja, é imprescindível manter as fachadas, nomeadamente, as
suas colunas, arcos e detalhes ornamentais e o relvado, pois, são elementos que dão sentido ao
lugar.
A Jardineta, tem vindo a receber acrescentos, supostamente para melhorar as condições do
espaço, que acabam por não respeitar os elementos que lhe dão sentido. Como proposta de
intervenção, para preservar estes mesmos elementos, seriam retirados os vãos de vidro
existentes a perfurar as colunas do piso térreo, o gradeamento existente entre estas, as cadeiras
metálicas que se encontram espalhadas pelo pátio e a escultura efémera presente no centro do
relvado. Por outro lado, seriam acrescentados focos de iluminação de orientação e de destaque
de luz branca embutidos no pavimento e para criar locais de permanecia, seriam criados
canteiros, para promover a vegetação no espaço, com a particularidade de a estrutura destes
mesmos, ser adaptada de forma que os seus habitantes se pudessem sentar e encostarem-se a
uma superfície inclinada, de modo a poderem observar o céu e todo o ambiente dentro da
Jardineta.
A partir do Genius Loci, é proposto um caixote do lixo feito em madeira de cerejeira, pois é
uma madeira nobre de um tom não muito escuro nem pesado, que remete para a meia-idade do
Padre Jesuíta, de forma regular, suspenso, para dar uma sensação de elevação, por quatro
correntes finas maleáveis em ferro, que nos dão a opção de o abrir e fechar. Este caixote,
contém um aspeto robusto, porém com um trabalhado que só é possível ser apreciado, quando
existe uma aproximação do mesmo, tal como acontece com os olhos verdes do Genius Loci. O
trabalhado forma pequenas aberturas, tal como o Eu quando interage e se abre com o espaço.

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Conclusão

A experiência do Sentido do Lugar só é possível através do contacto do Eu com o espaço,


pois este só existe com a presença dos seus habitantes.
Após esta análise, é possível afirmar que a essência do lugar não se encontra nos seus
aspetos arquitetónicos ou nos elementos que o constituem, estes dão forma ao sentido, mas só
a experiência do Eu de cada individuo é que o define.
A análise criativa feitas através da música, do Genius Loci e do caixote do lixo, juntamente
com a análise descritiva da história, da forma e da seleção dos elementos de valor, constituíram
um passo importante para começar a compreender qual o Sentido do Lugar que torna o pátio
Jardineta um local insubstituível.
Apesar da sua história atribulada e das suas reabilitações constantes, a Jardineta definiu-se,
desde os seus primórdios, como um local de admiração, reflexão e introspeção, não deixando
assim morrer a sua vertente religiosa.
Dedicado à contemplação, o pátio cria uma atmosfera que gera, em quem o habita, uma
calma em relação ao futuro, um aproveitamento do presente e uma paragem do tempo.
Como coração do edifício em que se encontra, a Jardineta tem o poder de transformar e de
iluminar, não só os seus espaços adjacentes como também os seus habitantes.

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Bibliografia

ABREU, Pedro Marques (2007) Palácios da Memória II, a Revelação da Arquitetura, Tese de
Doutoramento, Lisboa: Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa;
Arquivo Histórico dos Museus da Universidade de Lisboa – MUHNAC. (1661) Carta de doação
de bens ao Colégio dos Nobres por D. José ;
RIBEIRO, José Lopes (1987) O edifício da Faculdade de Ciências. Quatro séculos de retratos
institucionais. Lisboa: Edições 70

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