Você está na página 1de 33

Um modelo integrado econométrico+insumo-produto

para previsão de longo prazo da demanda de


combustíveis no Brasil

Flaviane Souza Santiago


Doutoranda em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG
Rogério Silva de Mattos
Professor da UFJF
Fernando Salgueiro Perobelli
Professor da UFJF

Palavras-chave Resumo Abstract


econometria, insumo-produto, O artigo apresenta um modelo integrado de tipo The article presents an integrated
modelo integrado, energia, econométrico+insumo-produto para previsões econometric + input − output model for generating
combustíveis. de longo prazo da demanda de combustíveis no long-run forecasts of fuel demand in Brazil. The
Classificação JEL C32, R15. Brasil. O modelo é baseado na integração por li- model is based on the integration, by means of a
gação de um modelo vetorial de correção de erros linking strategy, of a vector error correction model
com um modelo de insumo-produto híbrido para with a hybrid input-output model for the Brazilian
a economia brasileira e permite fazer previsões economy and is capable of forecasting on a yearly
anuais de consumo para quatro grupos de com- basis consumption of four groups of fuels: gas,
bustível: gasolina, óleo diesel, óleo combustível e diesel, fuel oil, and alcohol. In model development,
álcool. No processo de desenvolvimento, tanto o
the econometric and the integrated models underwent
modelo econométrico quanto o modelo integrado
predictive tests, with the latter being calibrated for
foram submetidos a testes de desempenho predi-
optimum performance, using data for the years 2004
tivo, com o último sendo calibrado para melhor
to 2007. The integrated model is then used to gene-
performance, usando-se dados disponíveis para o
Key words período de 2004 a 2007. Posteriormente, o mode-
rate forecasts from 2008 to 2017. The forecasts are
econometrics, input-output, lo integrado é usado para gerar previsões no pe- based on two alternative scenarios, one predicting a
integrated model, energy, fuel. ríodo de 2008 a 2017. As previsões são baseadas short, and the other a long, duration for the current
em dois cenários alternativos, um prevendo du- world economic crisis. The results indicate that
JEL Classification C32, R15. under both scenarios a substantial increase of fuel
ração curta, e o outro, duração longa para a atual
crise econômica mundial. Os resultados obtidos demand is to be expected in the next 10 years.
indicam que, em ambos os casos, ocorrerá signifi-
cativo aumento da demanda de combustíveis nos
próximos 10 anos.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


424 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

1_ Introdução O modelo EC+IP aqui construí-


Este artigo apresenta um modelo para do baseia-se na versão apresentada por
previsão de longo prazo da demanda de Mattos et al. (2008), mas introduz alguns
combustíveis no Brasil, baseado na inte- avanços em relação a essa. O modelo
gração de um modelo econométrico com daqueles autores foi desenvolvido para
um modelo de insumo-produto híbrido. a economia brasileira com abertura pa-
O modelo integrado permite realizar pre- ra n setores econômicos; todavia, os se-
visões anuais para quatro tipos de com- tores energéticos foram todos agregados
bustível: óleo diesel, óleos combustíveis, em um único setor de energia, o que não
gasolina e álcool, que responderam por permite realizar previsões em separado
85% do total de combustíveis consumi- para diferentes setores energéticos. Além
dos em 2007, segundo dados do Balan- disso, o modelo econométrico de Mattos
ço Energético Nacional (BEN, 2008). A et al. (2008) considera poucas variáveis (2
abordagem de construção de modelos in- endógenas e 4 exógenas), e o modelo de
tegrados de tipo econométrico+insumo- insumo-produto usa uma matriz IP tradi-
produto (EC+IP) é relativamente inci- cional de coeficientes técnicos calculados
piente na literatura, mas sua utilização com base em informações monetárias
vem sendo crescente. Em um survey so- para todos os setores, quando, no caso
bre modelos EC+IP, Rey (2000) aponta do setor energético, há recomendações
que uma motivação para isso tem sido a de que se combinem informações mone-
capacidade de tais modelos funcionarem tárias com informações em unidades físi-
de forma complementar ou concorren- cas para o cálculo dos coeficientes de uso
te com modelos de equilíbrio geral com- energético (Miller e Blair, 1985). Outra
putável e também por apresentarem me- restrição importante do trabalho de Mattos
lhor desempenho preditivo em vários et al. (2008), que acomete também outros
casos. No contexto brasileiro, após ex- trabalhos de modelos EC+IP (Rey, 2000),
periências iniciais como os trabalhos de é que não foram feitos testes preditivos
Guilhoto et al. (1998), Azzoni e Kadotta que permitissem avaliar a real perfor-
(2001) e IPLANCE (2001), alguns traba- mance do modelo integrado antes de sua
lhos novos vêm surgindo, como é o ca- utilização para gerar previsões futuras.
so de Mattos et al. (2008), Souza (2008) e O modelo EC+IP que é aqui apre-
Ferreira et al. (2009). sentado, por sua vez, embora também

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 425

seja para a economia brasileira e n seto- Com isso, o modelo aqui propos-
res econômicos como o de Mattos et al. to amplia significativamente a potencia-
(2008), incorpora alguns avanços meto- lidade dos modelos EC+IP existentes pa-
dológicos, como: ra se prever o comportamento futuro
a. tal modelo permite abertura maior da demanda de energia. Este trabalho
para vários setores energéticos; faz uma aplicação específica do mode-
b. o modelo econométrico considera lo no caso dos produtos combustíveis.
um número maior de variáveis No montante consumido desses produ-
(4 endógenas e 5 exógenas); tos pela economia brasileira atualmente,
c. o modelo de insumo-produto é desempenham papel importante os de-
baseado numa matriz híbrida rivados do petróleo (em especial óleo
de insumo-produto, em que diesel, óleos combustíveis e gasolina),
os coeficientes técnicos para que juntos respondem por 83% do total
os setores econômicos não consumido.
energéticos são calculados Em que pesem as recentes e su-
valendo-se de informações cessivas descobertas de novas jazidas de
monetárias, e para os setores petróleo no subsolo brasileiro, a oscila-
energéticos são calculados com ção nos preços internacionais desse insu-
base em informações híbridas, isto mo energético e sobretudo os aspectos
é, monetárias e de natureza física; ambientais negativos decorrentes do uso
d. no intuito de verificar a capacidade (“queima”) de seus derivados vêm tor-
preditiva antes de se realizar as nando cada vez mais relevantes esforços
previsões futuras, foram feitos de redução do consumo de derivados
(de forma pioneira na literatura de do petróleo e sua substituição por com-
modelos EC+IP) testes preditivos bustíveis provenientes de outras fontes
com o modelo EC e com o modelo não fósseis, como, por exemplo, o álco-
integrado EC+IP, incorporando- ol etanol. A magnitude e a orientação
se na implementação desses testes desses esforços dependem em boa par-
parâmetros de calibragem te do comportamento esperado do mer-
para melhor ajustar o cado de combustíveis, não só em curto,
desempenho preditivo. mas também em médio e longo prazos.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


426 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Antever a dinâmica futura desse merca- componente (econométrico ou insumo-


do é fundamental para as atividades de produto) apresenta quando usado isola-
gestão e planejamento do suprimento de damente, existindo basicamente três for-
combustíveis para a economia, bem co- mas pelas quais modelos EC podem ser
mo para a formulação mais ampla de po- integrados com modelos IP:
líticas e estratégias energéticas em longo a. Ligação (linking): um dos módulos
prazo para o país. (EC ou IP) é exógeno ao outro, de
Para apresentar o modelo, sua forma que a interação entre eles é
construção e as previsões de consumo recursiva;
de combustíveis condicionais a cenários
b. Determinação mútua (embedding):
para 2008-2010, este artigo está organi-
os módulos EC e IP apresentam re-
zado da seguinte forma. Além da intro-
troalimentação simultânea completa
dução, a seção 2 apresenta uma revisão
entre si; e
da literatura sobre modelos integrados
c. Acoplagem (coupling): os módulos
de tipo EC+IP. A seção 3 apresenta as
apresentam retroalimentação parcial
equações teóricas do modelo EC+IP
entre si (interdependência parcial).
aqui desenvolvido e alguns indicadores
usados na sua construção. A seção 4 des- A literatura internacional apresen-
creve a base de dados utilizada. A seção ta, sobretudo na área de estudos regio-
5 apresenta e discute os resultados em- nais (regional science), experimentos siste-
píricos da construção do modelo, bem máticos de integração de modelos EC
como as previsões condicionais a cená- com modelos IP a partir da década de
rios para 2008-2010. A seção 6 apresenta 1990. Rey e Dev et al. (1997) construíram
as conclusões. um modelo EC+IP multirregional, para
captar as ligações inter-regionais dos ní-
veis de emprego em cinco regiões do es-
2_ Literatura sobre modelos EC+IP tado norte-americano da Califórnia. A
Um modelo é dito integrado se combina análise é desenvolvida para 29 setores
mais de uma metodologia em sua cons- através de uma matriz de insumo-produ-
trução. Segundo Rey (2000), a principal to para o ano de 1990. Ainda no con-
motivação para se construir um modelo texto norte-americano, Israilevich et al.
EC+IP decorre das restrições que cada (1997) desenvolveram o Chicago Region

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 427

Econometric Input-Output Model (CREIM) bônico pelas atividades industriais e pe-


para analisar em detalhe as mudanças los residentes.
estruturais da economia da região pola- Rey (2000) apresenta um survey so-
rizada pela cidade de Chicago e prever bre modelos EC+IP e aponta lacunas me-
seu comportamento anualmente de 1975 todológicas a ser preenchidas no desen-
a 2016. Foram usadas matrizes regionais volvimento desses modelos. Entre elas,
de insumo-produto referentes a 1982 e a resistência a se usar técnicas da moder-
1987 desagregadas segundo 36 setores de na econometria de séries temporais para
produção e três níveis do governo. se estimar os modelos econométricos, a
Zakarias et al. (2002) desenvolve- necessidade de se fazer testes preditivos
ram um modelo regional EC+IP para com os modelos antes de sua utilização
analisar e prever as mudanças nas rela- e a de se computar medidas de incerteza
ções econômicas entre o estado austríaco das previsões. Rey et al. (2004) avançam
de Styria e o restante da Áustria, cobrin- no desenvolvimento de uma abordagem
do o período de 1976 a 2010. O modelo para cômputo e análise da incerteza em
EC determina a demanda final e é espe- modelos EC+IP baseada no uso de simu-
cificado segundo o modelo básico key- lações estocásticas.
nesiano. A matriz inter-regional de insu- No contexto brasileiro, são pou-
mo-produto utilizada refere-se ao ano de cos os trabalhos que desenvolveram mo-
1995 e é composta de 36 setores de pro- delos EC+IP. Guilhoto e Fonseca (1998)
dução. Os coeficientes dessa matriz são construíram um modelo EC+IP para es-
atualizados pelo método RAS. Hamada tudar a interação entre as economias da
(2001) desenvolveu um modelo EC+IP região Nordeste e do resto do Brasil em
para prever o nível e a estrutura da ati- um contexto Mercosul, tanto em nível
vidade industrial da ilha Hokkaido (no global quanto setorial. O modelo EC ba-
norte de Japão) e seus impactos sobre o seou-se no modelo macroeconométrico
meio ambiente no período de 1985-2005. para a economia brasileira desenvolvi-
O estudo procurou verificar a intensi- do por Fonseca (1991). O módulo IP ba-
dade de poluição ambiental, através da seou-se numa matriz inter-regional de in-
emissão de oxigênio biológico, óxidos de sumo-produto referente ao ano de 1992,
nitrogênio, óxidos de enxofre e gás car- desagregada por 18 setores de produção

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


428 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

e duas regiões. Azzoni e Kadota (1997) O modelo EC+IP foi usado pelos auto-
desenvolveram um modelo economé- res para gerar previsões anuais do con-
trico de insumo-produto para o Esta- sumo setorial de energia condicionais a
do de São Paulo, com o objetivo de ve- cenários alternativos para as condições
rificar impactos de diferentes eventos macroeconômicas. Souza (2008), usando
na economia do Estado. A matriz regio- abordagem similar, desenvolveu um mo-
nal de insumo-produto utilizada refere- delo EC+IP para mensurar os impactos
se a 1980 e é composta de 34 setores de setoriais e totais da demanda de energia
produção. A principal característica des- elétrica em resposta a variações nas ex-
se modelo é sua conexão para a econo- portações de Minas Gerais e do restan-
mia nacional por três vínculos diferentes te do Brasil.
e o ajuste nos coeficientes técnicos de IP O autor estimou um modelo VAR
para previsões setoriais de produção, em- para explicar essas exportações, realizan-
prego e renda, no período de 1994 a 2004. do previsões do comportamento des-
Mais recentemente, Mattos et al. sas no período de 2007 a 2010. As pro-
(2008) desenvolveram um modelo inte- jeções das exportações previstas foram
grado EC+IP para previsões de longo integradas por ligação (linking) a uma
prazo do consumo setorial de energia no matriz de insumo-produto inter-regio-
Brasil. Esses autores especificaram um nal híbrida Minas Gerais x restante do
modelo econométrico para determina- Brasil atualizada pelo método RAS pa-
ção do consumo das famílias e da ren- ra o período de 1997 a 2003. Por últi-
da interna bruta e o estimaram como um mo, Ferreira et al. (2009) desenvolveram
modelo vetorial autorregressivo (VAR). um modelo EC+IP para previsões anu-
Assim fazendo, usaram pela primeira vez ais da demanda setorial de energia elétri-
procedimentos da moderna econometria ca no Brasil. Os autores usaram modelos
de séries temporais, como testes de ra- de Box-Jenkins para realizar previsões in-
ízes unitárias e de cointegração, no de- condicionais da demanda final inciden-
senvolvimento de um modelo integrado te sobre cada um dos setores da matriz
EC+IP. No módulo IP, foram utilizadas IP. Essa matriz foi construída com base
matrizes de insumo-produto de 1997 a na matriz nacional do IBGE para o ano
2001 para 13 setores e um módulo adi- de 2005 compatibilizada com os dados
cional específico para o setor de energia. da matriz energética brasileira divulga-

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 429

dos pelo Ministério das Minas e Energia. minação do consumo de combustíveis


O modelo integrado permite fazer previ- está embutida no modelo IP porque se
sões anuais da demanda de energia elétri- usa uma matriz IP híbrida. O termo “hí-
ca para 13 setores. brido”, aqui empregado para designar al-
guns vetores e matrizes, decorre do fato
3_ Metodologia de que alguns dos respectivos elemen-
Esta seção apresenta um modelo EC+IP tos constitutivos são medidos em unida-
para gerar previsões de longo prazo da des monetárias, e outros, em unidades fí-
demanda de combustíveis no Brasil. A sicas, no caso, toneladas de equivalente
abordagem usada na construção do mo- em petróleo (tep).
delo é similar à de Mattos et al. (2008), que Na versão geral do modelo inte-
seguiram uma estratégia de integração grado apresentada a seguir, admite-se n
por ligação, em que o modelo EC é trata- setores não energéticos, k setores ener-
do como exógeno ao modelo IP. Proce- géticos e uma região (Brasil). Sua cons-
dendo de forma análoga aqui, o modelo trução parte das seguintes identidades
EC é especificado de modo a determi- básicas:
nar os principais componentes da de- Yt = C t + I t + Gt + E Xt − M t (1)
manda final, tratados como variáveis en-
dógenas que dependem, por sua vez, de Ft* = hC* C t + h I* I t + hG* Gt + h EX *
Xt − h M M t
E(2) *

um conjunto de variáveis Ft* =exógenas.hC* C t + hEs- I I t + hG Gt + h EX E Xt − h M M t


* * * *

ses componentes da demanda final, por ** * ** X* * * *=* ( *I**−* A*) * * −*1 F ***
= Ihhhth+ +hhthG + * h M (3)

*** *
* F * *= hF
=
seu turno,Fentram h C F
**
F+C** =
h F=*+It*hhhFhC**=*+C
= C CF
** Ih
h= t++
+C
+G
h h*hthhC*+
*h
I+
G
II C
Ch
+
h++I+t+ *h
E *+
I hGhIt+E
*G
G I−++
tG
h
+h − +
*h
M
*GE
h
E G
hE
+ hE
tM −−− hE *−
hhEX*ME
h−tXtM* hM
M tMM
como variáveis exóge- MM
t t C I t G G EX EX t Xt t
t t C t
C t t t I t CC I t G
t t t G Ct II t t t EX I GGXtt EX
t tt XtGMEX t t Xt
EX
M
Xt EX
Xt
MXt
M tt M t
nas para o modelo IP. A determinação onde Yt é a renda interna bruta, Ct é o
do consumo de combustíveis (aqui de- consumo final, It o investimento, Gt os
nominados setores energéticos), no en- gastos do governo, EXt as exportações e
tanto, é feita de modo diferente da de Mt as importações. Essas variáveis são
Mattos et al. (2008). medidas em termos monetários e repre-
Embora esses autores acoplem sentam os componentes da demanda fi-
um terceiro módulo específico para de- nal. Ft* , Xt* e hj* (j = C, I, G, EX e M) são
terminar o consumo de energia por se- vetores híbridos de ordem (n + k) × 1
tor, no presente modelo EC+IP a deter- definidos como:

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


430 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

 Ft  de soma de um de seus elementos. A* é


Ft* =   (4) uma matriz (n + k) × (n + k) de coeficien-
 FE ,t  tes técnicos setoriais híbridos.
As identidades (1) – (3) formam o
X t  alicerce do modelo integrado. Um mo-
X t* =   (5)
 Et  delo econométrico foi construído para
determinação dos componentes da de-
 hj  manda final valendo-se de um conjunto
h *j =   (6)
hE , j  de variáveis exógenas (apresentadas na
próxima seção) e, assim, constituindo o
onde Ft e Xt são, respectivamente, ve-
modelo EC. Para determinação dos ele-
tores de ordem n × 1 de demanda final
mentos do vetor X, um modelo de insu-
e produção para os setores não energé-
mo-produto híbrido foi construído, as-
ticos medidos em unidades monetárias;
sumindo como exógenos os elementos da
por sua vez, FE,t e Et são, respectivamen-
demanda final determinados pelo mode-
te, vetores de ordem k × 1 de demanda
lo econométrico, além dos gastos do go-
final e produção para os setores energé-
verno G, e, desse modo, constituindo o
ticos, medidos em tep; hj é um vetor n × 1
modelo IP.
de coeficientes de desagregação setorial
do j-ésimo componente da demanda fi- 3.1_ Modelo econométrico
nal para os setores não energéticos, de O modelo econométrico é a parte ini-
tal forma que: cial do modelo EC+IP e foi especifica-
n do com base na forma reduzida de um
∑ hh
i =1
= =1 1
i,ji , j
(7) modelo keynesiano de economia aberta
(e.g., Bhattarai, 2005) para se determinar
e hE,j é um vetor k × 1 de coeficientes os principais componentes da deman-
de conversão do j-ésimo componente da
1
A seção 5 do artigo apresenta
da final, isto é: C, I, EX e M (exclui−se,
a construção empírica do
demanda final em número de tep consu- portanto apenas o gasto do governo G, modelo econométrico em que
midas pelos setores energéticos, para j = que foi tratado como variável exógena). esses aspectos são verificados
C, I, G, EX e M. Para o vetor hE,j , por- Assumindo-se, a princípio, que as séries usando-se procedimentos
tanto (uma vez que seus elementos são da moderna econometria de
temporais para essas variáveis são inte-
séries de tempo, como os
coeficientes de conversão, e não de de- gradas de ordem 1, ou I(1), e que elas po- testes de raiz de unitária e de
sagregação), não vale a mesma condição dem ser cointegradas,1 uma representação cointegração.

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 431

para o processo gerador dos dados para O vetor Wt é de ordem (4×1) e


essas variáveis seria um modelo vetorial contém as variáveis endógenas; o vetor
de correção de erros (VCE) como segue: Zt é de ordem (5×1) e contém as variá-
veis exógenas: Rt a taxa de juros, Gt o
∆Wt = –αβWt–1 + Θ1∆Wt–1 + (7) gasto do governo, YMt a renda mundial,
+ Ψ0∆Zt + Ψ1∆Zt–1 + εt Vt a taxa de câmbio real, e ∆Yt a variação
da renda.2 A matriz a é de ordem (4×3)
onde: e contém os coeficientes de ajustamen-
to de cada variável endógena aos desvios
 Ct 
I  β11  β14  nas relações de longo prazo; a matriz b
 t ,  , é de ordem (3×4) e possui em suas linhas
Wt = β=   
E Xt  os vetores de cointegração; por último, et
  β31  β34 
Mt  é um vetor (4×1) de resíduos do tipo ru-
 Rt  ído branco.
YM  Está implícito na representação
 α11  α13   t 

α =    , Z t =  Gt  , em (7) que não só as variáveis endóge-


2
Na verdade, ∆Yt também    nas como também as exógenas são I(1),
pode ser vista como uma α41  α44   Vt  de modo que suas primeiras diferenças
 ∆Yt 
endógena do modelo, só que a
estimação de sua equação são I(0) ou estacionárias. Admite-se tam-
não se faz necessária no bém que as variáveis exógenas possam
âmbito do VCE, pois é uma  e 1t 
 γ111  γ115  e  ter efeitos contemporâneos e que a de-
identidade (i.e., conforme  ,
Ψ1 =      e t =   ,
2t
equação (1), pode-se escrever fasagem máxima do modelo VCE seja a
∆Yt =∆Ct+∆It+∆Gt+∆Ext– e 3t 
 1 1  priori de um ano. Esta última restrição foi
∆Mt ), logo seus parâmetros já  γ 41  γ 45   
e  4t  imposta por simplificação de exposição,
são conhecidos. Por isso, na
representação do modelo VCE mas se baseia no fato de que, como os
 γ11
0
 γ15
0

em (7), consideramos no vetor
  e dados usados para estimação do mode-
de endógenas apenas aquelas Ψ0 =      lo VCE são anuais, não é de se esperar
variáveis cujos parâmetros  0 0 
da equação respectiva  γ 41  γ 45  efeitos de defasagem de muitos anos pa-
são desconhecidos; dessa ra trás. De qualquer forma, procedimen-
maneira, optamos apenas por  θ11  θ14 
tos estatísticos apropriados foram usa-
conveniência de exposição, por Θ1 =      . dos para ajudar na identificação de uma
representar ∆Yt no vetor
de exógenas. θ41  θ44  defasagem máxima (ver seção 5).

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


432 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

3.2_ Modelo de insumo-produto dividido pela produção total do setor j.


O próximo componente no processo de Substituindo Z por A na equação (8) e,
integração é o modelo de insumo-produ- com pequena manipulação algébrica, é
to, que é usado para representar a inte- possível escrever:
ração entre os diversos setores de uma X = BF (10)
economia; sua principal função é permi-
tir avaliar os requerimentos de produ- onde B = (I – A)–1 é a chamada “Matriz
ção setorial necessários ao atendimen- Inversa de Leontief ”, e I é a matriz iden-
to de dada estrutura setorial de demanda tidade de ordem n × n. A equação (8) per-
final por bens e serviços. A representa- mite computar os requerimentos totais
ção das relações intersetoriais é feita co- de produção dos n setores da economia
mo segue: (X) para atendimento de um dado vetor
de demandas finais pelos setores (F). As-
X=Z+F (8) sim, o vetor F é exógeno no âmbito do
onde X é um vetor n × 1 que contém as modelo IP, mas, dentro do modelo inte-
produções dos n setores da economia, e grado EC+IP, ele é parcialmente deter-
F é um vetor n × 1 que contém as de- minado a partir do modelo EC, que, co-
mandas finais de cada um dos n setores. mo visto, determina os componentes da
Z é uma matriz n × n, também chamada demanda final Ct , It , EXt , e Mt , confor-
de “tabela” ou “matriz de insumo-pro- me a identidade (2).
duto”, que contém os fluxos de transa-
ções intersetoriais da economia. Os ele- 3.3_ Setores energéticos (combustíveis)
mentos de X, F e Z na versão básica do Para a incorporação de setores energé-
modelo IP são medidos em unidades ticos (que representam neste trabalho os
monetárias. A matriz Z admite uma re- grupos de combustível), foi utilizada uma
presentação alternativa dada por: matriz de insumo-produto em unidades
híbridas, assim chamada porque parte de
Z = AX (9)
seus elementos são medidos em unidades
onde A = Z ⋅ [diag(X)]–1 é uma matriz monetárias e outra parte em unidades fí-
n × n de coeficientes técnicos interseto- sicas. A abordagem em unidades híbri-
riais, isto é, cada aij representa o montan- das é uma extensão do modelo tradicio-
te de transação entre o setor i e o setor j, nal de insumo-produto, que consiste em

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 433

se incorporar k linhas e k colunas refe- 3.3_ Teste preditivo e calibragem


rentes aos setores energéticos na tabela Antes de se usar o modelo EC+IP desen-
de insumo-produto Z. As novas linhas volvido como acima para se fazer previ-
descrevem em unidades físicas (e.g.,-tep) sões futuras, buscou-se aferir a capacida-
o total de vendas dos setores energéti- de preditiva desse modelo. Isto é, tanto
cos (combustíveis) para os outros seto- o modelo EC como o modelo integrado
res da economia, e as novas colunas des- EC+IP foram submetidos a testes de de-
crevem, em unidades monetárias, o total sempenho preditivo em que as previsões
de compras feitas aos setores energéti- geradas foram comparadas com dados
cos pelos demais.3 Em termos matriciais, reais no período de 2004 a 2007. Esta se-
a matriz híbrida é definida como: ção descreve aspectos técnicos dos pro-
cedimentos do teste preditivo, cujos re-
Z U sultados estão apresentados na seção 5.
Z* =  (11)
W T  Em ambos os casos − modelo EC
e modelo EC+IP −, usou-se o desvio ab-
onde U é uma matriz n × k com elemen- soluto médio percentual (DAMP) como
tos medidos em unidades monetárias, W estatística de desempenho preditivo. A
é uma submatriz k × n, e T uma subma- expressão para essa estatística é:
triz k × k, ambas medidas em unidades 1 2007 e j ,t − r j ,t 
físicas. De forma análoga à expressão DAMP ( j ) == 
DAMP(j)
4 ∑ r j ,t
 ⋅ 100 (13)

(9), é possível definir A* = Z* ⋅[diag(X*)]–1  t = 2004

e escrever: onde ej,t é o valor previsto, e rj,t , o va-
lor real da variável j no ano t. Conforme
X* = B*Y* (12) descrito nas seções anteriores, no caso
do modelo EC, as variáveis previstas são
onde B* = (I – A*)–1 é a versão com ele- as endógenas C, I, EX e M , e, no caso
mentos em unidades híbridas da Matriz do modelo EC+IP, são os consumos dos
Inversa de Leontief. O consumo dos se- quatro grupos de combustível: gasolina,
tores energéticos é obtido pelo vetor Et , óleo diesel, óleo combustível e álcool.
3
Para detalhes, ver capítulos que, como definido em (6), é constituído Inicialmente, os primeiros testes
3 e 6 de Miller e Blair (1985). pelos últimos k elementos do vetor X*. preditivos para o modelo integrado

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


434 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

EC+IP revelaram fraco desempenho. No


 H 
intuito de incrementar a sua capacida- H = V  (15)
de preditiva, alguns ajustes foram feitos λ H H E 
naqueles elementos do modelo no qual Aqui, a matriz Hv é de ordem n × 5
parecia residir a maior incerteza em sua e contém em suas colunas os vetores hj ;
construção. O primeiro desses ajustes foi por sua vez, a matriz HE é de ordem k × 5
feito nos subvetores hE, j que compõem e contém em suas colunas os vetores
os vetores hj* de desagregação setorial hE, j. Já λH é um escalar que correspon-
dos componentes da demanda final e que de ao parâmetro de calibragem da matriz
foram definidos na equação (6). Os sub- HE e apresenta as seguintes característi-
vetores hE, j foram introduzidos para re- cas: tem de ser positivo; quando for me-
presentar a desagregação em unidades fí- nor do que 1, contribui para amortecer
sicas dos componentes da demanda final as previsões, e, quando for maior do que
no caso dos setores energéticos. Como 1, contribui para inflá-las. Note-se que,
os componentes da demanda final estão no caso particular em que λH = 1, a equa-
medidos em unidades monetárias, havia ção (14) é simplesmente a versão matri-
incerteza acerca de qual o procedimento cial de (2).
mais apropriado a se seguir nesse caso, O segundo ajuste foi feito na equa-
isto é, para se fazer a conversão do com- ção (3), que passa a ser escrita como:
ponente em unidade monetária para físi-
ca. O problema foi contornado definin- X* = ΛB* ⋅ F* (16)
do-se um parâmetro de calibragem que
onde B* é Matriz Inversa (híbrida) de Le-
multiplica esses subvetores e que é ajus-
ontief de ordem (n + k) × (n + k), e Λ é
tado no teste preditivo. Formalmente, a
uma matriz diagonal também de ordem
introdução desse dispositivo no modelo
(n + k) × (n + k). A matriz Λ foi cons-
envolveu reescrever a equação (2) numa
truída para representar em sua diagonal
forma matricial geral como segue:
principal parâmetros de calibragem seto-
F* = HK (14) riais λi(i = 1, ..., n + k). A função desses
onde K′ = [C, I, G, EX, M ] e H é uma parâmetros aqui também é a de “inflar”
matriz de ordem (n + k) × 5, represen- ou “desinflar” as previsões geradas para
tada como: cada setor pelo modelo EC+IP. Por esse
mecanismo, é possível obter ganhos de

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 435

redução de viés das previsões e melhora tidos variar. Ou seja, a matriz Λ usada as-
da qualidade preditiva em geral. Quando sumiu a forma:
todos os parâmetros de calibragem forem
unitários, isto é λi = 1,∀i = 1, ..., n + k, I n 
 λ1 0 
a matriz Λ é igual à identidade, e a equa-  
ção (16) passa a ser a mesma que (3). Λ= λ2  (17)
A razão de se usar a matriz Λ resi-  
 0 λ3 
de em algumas limitações intrínsecas ao  λ4 
modelo IP. Primeiro, embora as matrizes
Z e A sejam normalmente construídas Na implementação do teste predi-
com base em informações estatísticas re- tivo para o modelo EC+IP apresentado
ferentes a um período de um ano, a reali- na seção 5.3, os parâmetros de calibra-
zação de todos os efeitos de ordens pos- gem λH, λ1, λ2, λ3 e λ4 foram ajustados
teriores representados na matriz B* (para simultaneamente para se reduzir ao má-
ajustar o nível de requerimentos setoriais ximo o desvio absoluto médio percen-
a variações no nível e na estrutura seto- tual do consumo previsto para cada um
rial da demanda final) pode se dar num dos quatro grupos de combustível.
período diferente de um ano. Segundo,
os modelos IP são bem conhecidos por 3.4_ Cenários futuros
assumirem implicitamente uma hipóte- O modelo EC+IP desenvolvido acima
se de preços fixos na economia, o que pode ser utilizado para fazer previsões
pode enviesar a magnitude das previsões futuras de longo prazo para o consumo
de impacto. de combustíveis no Brasil. Entretanto,
Ainda que a matriz Λ permita se para isso são necessárias previsões exter-
trabalhar com parâmetros de calibragem nas para as variáveis exógenas (R, V, G,
individuais para cada setor, ela foi usada ∆Yt-1, Y* ). Em vez de se usar aqui técni-
aqui de um modo mais restrito. No tes- cas de extrapolação futura do compor-
te preditivo, todos os parâmetros asso- tamento dessas variáveis, optou-se por
ciados à “parte monetária” de B* foram trabalhar com cenários alternativos de
mantidos iguais a um, e apenas os parâ- evolução futura para essas. Foram cons-
metros da “parte física” (associada aos truídos dois cenários alternativos basea-
setores energéticos) é que foram permi- dos nas perspectivas vigentes quanto ao

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


436 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

prolongamento da atual crise econômica utilizando-se o deflator implícito do PIB,


mundial. O primeiro cenário foi denomi- calculado pelo SCN/IBGE.
nado “Crise Curta”, por refletir uma du- No que se refere às demais va-
ração pequena para a crise, e o cenário riáveis exógenas, os dados foram obti-
alternativo, por sua vez, foi denomina- dos como segue: para a taxa de juros (R),
do de “Crise Longa”, por refletir dura- usaram-se as séries anuais das médias
ção maior. mensais das taxas de remuneração real
As hipóteses específicas para a dos certificados de depósitos bancários5
evolução das variáveis exógenas sob ca- (CDBs); a taxa de câmbio real foi calcu-
da um desses cenários estão descritas em lada segundo a expressão Vt = etPt* / Pt,
detalhe na seção 5.3. Os valores futuros onde e corresponde a taxa de câmbio
assumidos para essas variáveis são usa- nominal R$/US$ média anual (cotação
dos para alimentar o módulo IP do mo- de venda); P* ao nível de preço externo
delo EC+IP, com base no qual são feitas, medido pelo índice de preços por ataca-
então, as previsões de consumo dos qua- do americano, calculado pelo Bureau of
tro grupos de combustíveis para o perío- Labour Statistics, e P ao nível de preço in-
do de 2008 a 2017. terno medido pelo IGP-DI da Fundação
Getúlio Vargas; a variável renda exter-
na (Yt*) foi aproximada pela série de PIB
4_ Base de dados
Mundial obtida no site da Organização
4.1_ Modelo econométrico Mundial do Comércio (WTO, 2008). As
Para a estimação do modelo economé- séries de variáveis exógenas que estavam 4
À exceção da variável PIB
trico, foram usadas séries históricas anu- em valores monetários foram converti- mundial, todas as séries
ais das variáveis4 no período de 1970 a das para uma mesma base (2007 = 100). foram obtidas no site do
IPEADATA.
2007. No caso das variáveis endógenas
5
O índice usado para
(C, I, EX, M) e da variável exógena gas- 4.2_ Modelo de insumo-produto
deflacionamento da taxa de
tos do governo (G), os dados usados fo- Para a construção do modelo de insu- CDBs foi também o deflator
ram produzidos pelo Sistema de Contas mo-produto em unidades híbridas, fo- implícito do PIB. A escolha
Nacionais (SCN) do IBGE. As séries fo- ram usados dados da matriz de insu- dessa variável como proxy da
taxa de juros deveu-se à falta
ram obtidas a preços correntes em R$ mo-produto para a economia brasileira
de dados de outras taxas
milhões e convertidas a preços constan- de 2005, recentemente divulgados pelo para o período em análise
tes em R$ milhões de dezembro de 2007, IBGE, e do Balanço Energético Nacio- (1970 a 2007).

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 437

nal para o mesmo ano, publicado pela 5_ Construção empírica


Empresa Brasileira de Pesquisa Energé-
tica (EPE). A matriz de insumo-produ- 5.1 Modelo econométrico
to possui abertura para 55 setores e 110 O modelo econométrico foi cons-
grupos de produtos. A partir dela, rea- truído com base em procedimentos da
lizou-se um conjunto de procedimen- econometria de séries temporais. Para
tos visando à obtenção da matriz híbri- detalhes, ver Enders (2004). Assim, fo-
da. Inicialmente, os 110 produtos foram ram realizados:
agregados em 60 setores específicos, le- i. testes de raiz unitária, para averiguar
vando-se em consideração o grau de ho- se as séries temporais são
mogeneidade das atividades de cada um estacionárias ou não;
(segundo a classificação do IBGE). Entre ii. testes de cointegração, para verificar
esses setores, quatro correspondem aos se as séries são cointegradas;
grupos de combustíveis aqui considera- iii. escolha do tipo do modelo (VAR ou
dos e um corresponde ao setor de de- VCE) a ser estimado.
mais energéticos. Para verificar a estacionariedade
O próximo passo consistiu na das séries/variáveis, foi usado o teste de
construção da parte híbrida, o que en- raiz unitária de Dickey-Fuller aumentado
volveu compatibilizar as informações (ADF). Tal teste foi aplicado sobre cada
derivadas da matriz de insumo-produ- uma das séries (endógenas e exógenas)
to do IBGE, que contemplava 60 seto- medidas em logaritmo natural, à exceção
res, com os dados do BEN que estavam da taxa de juros real, que, por apresentar
disponíveis para apenas 20 setores. As- valores negativos, não foi transformada
sim, uma nova agregação da matriz de em logaritmo. Os resultados estão apre-
IP foi necessária, o que acabou por ge- sentados na Tabela 1, tanto para as endó-
6
A compatibilização feita aqui rar uma matriz com 19 setores, incluin- genas quanto para as exógenas. Para ca-
entre a matriz de insumo- do os quatro grupos de combustível. A da variável, testaram-se três situações:
produto nacional e os dados
do Balanço Energético agregação final adotada está apresentada i. série em nível com intercepto;
Nacional baseou-se em no Anexo A.6
ii. série em nível com intercepto e
procedimentos similares
aos adotados por tendência;
Perobelli et al. (2007). iii. série em primeiras diferenças.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


438 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Tabela 1_ Testes de raízes unitárias (ADF) para variáveis em log

Número Valor Crítico (%)


Variável Características Razão
de lags 1 5 10
intercepto 0 -3,40 -3,62 -2,94 -2,61
Log(Ct )
intercepto e tendência 0 -4,05 -4,23 -3,54 -3,20
∆Log(Ct ) intercepto 0 -4,61* -3,63 -2,95 -2,61
intercepto 1 -2,62 -3,63 -2,95 -2,61
Log(It )
intercepto e tendência 0 -3,32 -4,23 -3,54 -3,20
∆Log(It ) intercepto 0 -4,30* -3,63 -2,95 -2,61
intercepto 0 -1,41 -3,62 -2,94 -2,61
Log(Ext )
intercepto e tendência 0 -2,18 -4,23 -3,54 -3,20
∆Log(EXt ) intercepto 1 -5,60* -3,63 -2,95 -2,61
intercepto 0 -1,67 -3,62 -2,94 -2,61
Log(Mt )
intercepto e tendência 0 -2,62 -4,23 -3,54 -3,20
∆Log(Mt ) intercepto 0 -5,07* -3,63 -2,95 -2,61
intercepto 0 -5,53* -3,62 -2,94 -2,61
Rt
intercepto e tendência 0 -5,51* -4,23 -3,54 -3,20
∆Rt intercepto 2 -8,37* -3,64 -2,95 -2,61
intercepto 1 -0,99 -3,63 -2,95 -2,61
Log(YMt )
intercepto e tendência 1 -2,76 -4,24 -3,54 -3,20
∆Log(YMt ) intercepto 0 -3,73* -3,63 -2,95 -2,61
intercepto 0 -0,62 -3,62 -2,94 -2,61
Log(Vt )
intercepto e tendência 0 -1,70 -4,23 -3,54 -3,20
∆Log(Vt ) intercepto 0 -4,93* -3,63 -2,95 -2,61
intercepto 0 -1,25 -3,62 -2,94 -2,61
Log(Gt )
intercepto e tendência 0 -1,57 -4,23 -3,54 -3,20
∆Log(Gt ) intercepto 0 -5,46* -3,63 -2,95 -2,61
**∆Log(Yt ) intercepto 3 -3,11 -3,65 -2,95 -2,62
∆LogYt intercepto e tendência 3 -2,88 -4,26 -3,55 -3,21
∆2LogYt intercepto 3 -3,98* -3,65 -2,96 -2,62
(+) Log representa logaritmo natural.
(*) Indica rejeição da hipótese nula de não estacionariedade a 1% de significância. Esse foi o nível de significância escolhido para se decidir rejeitar ou não a hipótese nula.
(**) O teste ADF não permitiu rejeitar a hipótese nula de não estacionariedade para LogY (resultados não reportados) a 1% de significância.
Fonte: Elaboração própria com dados descritos na seção 3.5.

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 439

O número de defasagens em cada Foi escolhido o número de defasagens


caso foi determinado usando-se os crité- que minimizou os critérios de informa-
rios de informação de Schwarz (SIC). Os ção de Akaike e Schwarz, que indicaram
resultados sugerem que a hipótese nula duas defasagens.
de raiz unitária não pode ser rejeitada ao O procedimento de Johansen po-
nível de 1% para quase todas as variáveis de ser aplicado de duas formas: usando-
exceto a taxa de juros. Entretanto, ela é se a estatística do traço ou a estatística
rejeitada ao nível de 1% para as primei- do máximo autovalor (Enders, 2004). Os
ras diferenças de todas elas,7 indicando, resultados estão apresentados nas Tabe-
assim, que essas variáveis são I(1), à ex- las 2 (teste do traço) e 3 (teste do má-
ceção da taxa de juros que é I(0). No caso ximo autovalor). Nessas tabelas, a letra
da variável renda, deve-se observar que “r” indica número de vetores de coin-
7
Em razão do número o teste ADF não permitiu rejeitar a hi- tegração. Em ambos os testes (traço e
limitado de observações, pótese nula de não estacionariedade para máximo autovalor), rejeitam-se as hipó-
apenas 38 anos de dados, LogY (resultados não reportados) nem teses nulas de que não há qualquer ve-
e também visando adotar
um critério uniforme para
para ∆LogY (ver Tabela 1). A rejeição tor de cointegração (r = 0) e de que há
todas as variáveis, optamos só ocorreu para a segunda diferença no máximo (r ≤ 1) ou apenas (r = 1) um
por trabalhar com o nível ∆2LogY, indicando8 que esta é I(0). vetor de cointegração. Portanto, con-
de 1% de significância para Como os testes de raiz unitária in- cluí-se que existem apenas dois vetores
efetivamente decidir rejeitar
ou não a hipótese nula de não
dicaram que, à exceção da taxa de juros de cointegração.
estacionariedade dos testes de Rt , as variáveis que aparecem na Tabela O modelo econométrico final ob-
raízes unitárias apresentados 1 são I(1) a 1% de significância, foi, en- tido está apresentado no Anexo B. Sua
na Tabela 1. tão, aplicado o procedimento de Johan- especificação, tanto para o conjunto de
8
Isto sugere que LogY sen sobre essas variáveis I(1) para veri- variáveis explicativas significativas quan-
é I(2) e que ∆LogY é I(1).
Assim, para fins do teste de
ficar se elas são cointegradas e, caso o to para a estrutura de defasagens, envol-
cointegração, feito logo a sejam, determinar o número de veto- vendo as endógenas e as exógenas, foi
seguir, entre as variáveis do res de cointegração. Antes de se aplicar obtida seguindo-se um procedimento do
modelo, consideramos ∆LogY, o procedimento de Johansen, é neces- tipo “geral para o específico”, com ba-
e, na hora de estimar o modelo
VCE, usamos ∆2LogY, que é sário determinar o número de defasa- se na análise das estatísticas t e dos cri-
I(0), conforme recomenda gens das variáveis endógenas a ser consi- térios de Schwarz. Entretanto, o modelo
a literatura. derado no modelo VEC usado no teste. final do Anexo B não foi a única espe-

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


440 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Tabela 2_ Teste do traço para cointegração


Hipótese nula Hipótese alternativa Estatística do teste Valor crítico
r=0 r>0 165.8682* 63.87610
r≤1 r>1 60.76720* 42.91525
r≤2 r>2 19.61908 25.87211
r≤3 r=0 0.667270 12.51798
(r) indica número de vetores de cointegração.
(*) O teste de traço indica duas equações cointegrantes ao nível de 5%.
Fonte: Elaboração própria com dados descritos na seção 3.5.

Tabela 3_ Teste do máximo autovalor para cointegração

Hipótese nula Hipótese alternativa Estatística do teste Valor crítico


r =0 r=1 105.1010* 32.11832
r =1 r=2 41.14812* 25.82321
r =2 r=3 18.95181 19.38704
r =3 r=4 0.667270 12.51798
(r) indica número de vetores de cointegração.
(*) O teste do máximo autovalor indica duas equações cointegrantes ao nível de 5%.
Fonte: Elaboração própria com dados descritos na seção 3.5.

cificação considerada; na verdade, fo- com duas relações de cointegração e du-


ram levadas em conta quatro especifica- as defasagens. No desenvolvimento do
ções alternativas e selecionada aquela que modelo, foram levadas em conta especi-
apresentou melhor desempenho prediti- ficações alternativas, considerando-se as
vo. Este tópico é apresentado na próxi- variáveis na escala original ou transfor-
ma subseção. madas em log e também a inclusão ou
não de variáveis dummies. Assim, foram
5.2_ Teste preditivo do estimados inicialmente os quatro mode-
modelo econométrico
los a seguir:
Os resultados dos testes apresentados
na seção anterior (i.e., as séries são I(1) 1. Modelo com Variáveis Originais
e cointegradas) indicam que o procedi- (MVO);
mento apropriado é estimar o modelo 2. Modelo com Variáveis Originais
econométrico como um modelo VCE com Dummies (MVOD);

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 441

3. Modelo com Variáveis em Log submetidos a testes de desempenho pre-


(MVL) ; ditivo. Os procedimentos usados nesses
4. Modelo com Variáveis em Log com testes consistiram em:
Dummies (MVLD).
i. estimar cada modelo, utilizando-se
As variáveis dummies foram intro-
observações no período de
duzidas para captar eventos relevantes da
1970 a 2003;
economia brasileira no período de da-
ii. realizar previsões com cada modelo
dos9 (1970 a 2007) e, assim, promover
para os últimos quatro anos da
9
Foram consideradas melhor qualidade do ajustamento dos
amostra (2004 a 2007); e
variáveis dummies de tipo modelos. Entretanto, o objetivo era de-
impulso (valem 1 quando iii. comparar as previsões de cada
senvolver um modelo com boa capaci-
ocorre um evento, e 0 nos modelo com os dados reais de
dade preditiva e, por isso, foram consi-
demais anos) para os anos 2004 a 2007.
1974, 1981, 1987, 1988, 1994 deradas também as versões sem inclusão
e 2002. As razões de inclusão de variáveis dummies (MVO e MVL), que, A comparação dos modelos foi
de cada uma são as seguintes. apesar de apresentarem menor grau de feita calculando-se para cada modelo e
Em 1974, o segundo choque
ajustamento, poderiam ser melhores em cada variável endógena prevista o res-
de petróleo contribuiu para pectivo DAMP conforme expressão (13).
a crise externa que afetou a termos preditivos. De fato, a fim de se
economia brasileira. O ano de escolher um modelo a ser usado poste- Os resultados agregados estão apresen-
1981 marca o início de uma riormente para gerar previsões futuras tados na Tabela 4 e indicam que o mo-
política recessiva. O ano de delo com variáveis em log sem a inclusão
de 2008 a 2017 das variáveis endógenas
1987 coincide com o fim da
que iam alimentar o modelo integrado das variáveis dummies (MVL) apresentou
bolha de consumo induzida
pelo Plano Cruzado, em 1986. EC+IP, os quatro modelos acima foram o melhor desempenho preditivo. Para
Em 1988, foi introduzido o
Plano Bresser, que promoveu Tabela 4_ Testes preditivos para versões alternativas dos modelos VCE (2004 a 2007)
forte aperto de renda. Em
1994, foi lançado o Plano Real, DAMP (%)
Modelos
que abriu o caminho para a Consumo Investimento Exportação Importação
estabilização da inflação. Em
MVO 7,94 2,14 16,54 21,14
2002, ocorreu a eleição de Luiz
Inácio Lula da Silva (Lula) para MVOD 11,37 34,00 16,22 27,12
presidente, o que provocou MVL 3,41 2,54 14,80 21,64
instabilidade nos mercados MVLD 9,93 3,35 26,83 11,74
financeiros e de câmbio
(Abreu, 1989; Giambiagi Participação demanda final % 75 21 4 –
et al., 2005). Fonte: Elaboração própria.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


442 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

as equações de consumo e investimen- i. utilizar as previsões de 2004 a 2007


to, os baixos valores do DAMP de 3,41% para os componentes da demanda
e 2,54%, respectivamente, indicam que final, feitas com o modelo MVL pa-
os valores previstos ficaram bem pró- ra alimentar o modelo IP híbrido;
ximos dos reais. O desempenho predi- ii. realizar previsões de demanda para os
tivo das equações para as exportações e quatro grupos de combustível de
as importações, entretanto, deixa a de- 2004 a 2007;
sejar por causa dos valores elevados do
iii. comparar com os dados reais de con-
DAMP de 14,80% e 21,64%, respectiva-
sumo dos quatro grupos de com-
mente. Entretanto, isso não compro-
bustível de 2004 a 2007.
mete muito o modelo MVL, porque os
componentes consumo e investimento, Também, aqui, foram compu-
cujas equações apresentaram bom de- tados para cada grupo de combustí-
sempenho preditivo, respondem juntos vel o DAMP correspondente conforme
por 96% da demanda final. Assim, o mo- a equação (13). No entanto, conforme
delo MVL foi o escolhido para compor explicado na seção (3.3), os parâmetros
o modelo integrado EC+IP a ser usado de calibragem λi(i = 1, ..., 4) e λH foram
para gerar as previsões de longo prazo ajustados simultaneamente com o ob-
da demanda de combustíveis. Os resul- jetivo de se atingir os menores valores
tados dessa estimação estão representa- possíveis do DAMP para cada grupo de
dos no Anexo B. combustível. Os resultados estão apre-
sentados na Tabela 5.
5.3_ Teste preditivo do modelo EC+IP Conforme pode ser verificado na
O modelo integrado EC+IP também foi Tabela 5 para a gasolina (22% dos com-
submetido a testes de desempenho pre- bustíveis) e o óleo diesel (principal com-
ditivo similares aos usados para o modelo bustível, respondendo por aproximada-
econométrico. O objetivo aqui também mente 44% do volume total), os valores
foi o de avaliar a capacidade preditiva do projetados se aproximaram do total efeti-
modelo integrado antes de sua utilização vamente consumido no período de 2004
para gerar as previsões de demanda de a 2007. Utilizando-se os parâmetros de
combustíveis no período de 2008 a 2017. calibragem para a matriz de pesos H (λH )
O procedimento utilizado consistiu em: e para a Matriz Inversa de Leontief (λi )

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 443

Tabela 5_ Teste preditivo do modelo EC+IP

Combustíveis (erro em %)
Ano
Gasolina Óleo combustível Óleo diesel Álcool
2004 3,6562 -11,1174 -8,9107 8,0143
2005 0,5670 -7,2068 3,2205 -0,6690
2006 -0,4040 0,0651 -1,1396 -6,6074
2007 -0,0584 8,6356 -0,7661 -23,0071
DAMP 1,17 6,76 3,51 9,57
Participação no total dos combustíveis (%) 22,0 21,0 44,0 13,0
Parâmetros de calibragem
λi 0,94 0,93 1,1 0,93
λH 0, 0045

λi é o parâmetro de calibragem referente aos grupos de combustível;


λH corresponde ao parâmetro de calibragem para matriz de peso H.
Fonte: Elaboração própria.

o Desvio Absoluto Médio Percentual de paramentos de calibragem, mostraram-se


previsão (DAMP) foi de 1,17% e 3,51%, superiores aos valores observados, uma
respectivamente, indicando boa medida vez que esse apresentou um DMPA de
de previsão dos modelos. 9,57%, sendo o mais elevado de todos os
No que se refere ao óleo combus- combustíveis estimados. Para esse com-
tível, que representa 21% dos combus- bustível, constata-se a presença de um
tíveis, levando-se em consideração os novo padrão no consumo, em níveis su-
parâmetros de calibragem LB e IH, veri- periores aos anos anteriores, graças à
fica-se que o coeficiente de ajustamento busca por fontes alternativas e a utili-
estimado (DMPA) estabelece discrepân- zação crescente de tecnologias mais efi-
cia de aproximadamente 6,76% entre o cientes no uso final desse combustível.
valor efetivo e o valor projetado. Cabe destacar ainda que, em 2007, os
Em relação ao álcool (participa- produtos da cana ultrapassaram a ener-
ção de 13% no total dos combustíveis), gia hidráulica e a eletricidade na oferta
os valores projetados, utilizando-se os interna de energia do país, permanecen-

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


444 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

do atrás apenas do petróleo e de seus de- Neste sentido, foram considera-


rivados (BEN, 2008). dos dois cenários de comportamento fu-
turo das variáveis exógenas do modelo
6_ Previsão para 2008 a 2017 EC no período de 2008 a 2017, que es-
6.1_ Cenários para 2008 a 2017
tão apresentados nas Tabelas 6 e 7. Am-
e previsão com modelo EC bos os cenários foram desenhados com
O modelo econométrico MVL, selecio- base em perspectivas para o comporta-
nado no teste preditivo (seção 5.2) pa- mento da economia mundial perante o
ra constituir a parte EC do modelo in- contexto da atual crise econômica glo-
tegrado EC+IP, foi utilizado para se bal e se basearam em prognósticos re-
prever os valores das variáveis endóge- centes de instituições especializadas, co-
nas CO, I, EX, e M no período de 2008 mo o Banco Central do Brasil (2008) e a
a 2017. Como explicado anteriormente, OCDE (2008). O primeiro cenário (Tabe-
esses valores previstos servirão para ali- la 6) denomina-se “Crise Curta” e busca
mentar o modelo IP ao se realizar, com retratar uma recuperação rápida da eco-
o modelo integrado, a previsão dos va- nomia mundial. Assume-se que a renda
lores da demanda pelos quatro grupos mundial, após completar 2008 com um
de combustíveis de 2008 a 2017. Para se crescimento de cerca de 2,5%, fica prati-
realizar as previsões com o modelo EC camente estagnada em 2009 com peque-
(MVL), foi necessário prever antes os va- no crescimento de 0,9%, mas retoma su-
lores das variáveis exógenas desse mo- avemente a tendência de crescimento a
delo (i.e., R, V, G, YM e ∆Y ). Em vez de partir de 2010, iniciando com 1,5% nesse
se fazer aqui simples extrapolação futu- ano e acelerando gradualmente até atin-
ra do comportamento dessas variáveis, gir 2,9%, em 2017.
optou-se por trabalhar com a técnica de O cenário alternativo (Tabela 7)
elaboração de cenários alternativos. Tal denomina-se “Crise Longa” e também
abordagem é mais conveniente para se retrata uma recuperação da economia
considerar a forte incerteza envolvida mundial, porém mais lenta. Os anos 2008
em previsão de longo prazo, sobretudo e 2009 apresentam as mesmas hipóte-
no presente contexto de desdobramento ses de crescimento para a renda mun-
da crise mundial, iniciada no segundo se- dial (2,5% e 0,9%, respectivamente) que
mestre de 2008. no cenário “Crise Curta”, mas a estag-

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 445

Tabela 6_ Cenário “Crise Curta” e previsões com o modelo econométrico

EXÓGENAS ENDÓGENAS
Ano/
Variáveis R V Variação (%) R$ Bilhões Crescimento (%)
(%) R$/US$ G YM Y CO I X M CO I X M
2008 5,00 1,90 3,70 2,50 4,50 1.623,8 455,6 396,9 336,0 4,25 1,34 11,81 6,37
2009 4,50 2,00 3,70 0,90 3,00 1.686,4 416,1 411,1 337,0 3,86 -8,67 3,60 0,32
2010 5,00 1,80 3,00 1,50 3,20 1.754,0 423,8 345,4 331,4 4,00 1,84 -16,00 -1,68
2011 5,00 1,75 2,00 1,70 3,40 1.799,9 452,3 364,7 363,6 2,62 6,73 5,60 9,73
2012 5,00 1,70 2,00 1,90 3,60 1.833,3 453,0 437,6 382,3 1,85 0,16 20,00 5,13
2013 5,00 1,65 2,00 2,10 3,80 1.881,0 451,1 453,8 391,3 2,60 -0,41 3,71 2,35
2014 5,00 1,60 2,00 2,30 4,00 1.919,6 473,8 446,6 409,8 2,06 5,03 -1,58 4,75
2015 5,00 1,55 2,00 2,50 4,20 1.946,8 490,5 487,3 427,1 1,42 3,51 9,11 4,22
2016 5,00 1,50 2,00 2,70 4,40 1.987,2 481,7 534,6 431,4 2,08 -1,80 9,70 1,01
2017 5,00 1,45 2,00 2,90 4,60 2.039,1 476,9 536,6 435,7 2,61 -0,99 0,38 0,99
Fonte: Elaboração própria.

Tabela 7_ Cenário “Crise Longa” e previsões com o modelo econométrico

EXÓGENAS ENDÓGENA
Ano/ R V Variação (%) R$ Bilhões Crescimento (%)
Variáveis
(%) R$/US$ G YM Y CO I X M CO I X M
2008 5,00 1,90 3,70 2,50 4,50 1.623,8 455,6 396,9 336,0 4,25 1,34 11,81 6,37
2009 4,50 2,00 3,70 0,90 3,00 1.686,4 416,1 411,1 337,0 3,86 -8,67 3,60 0,32
2010 4,50 2,00 3,70 0,90 2,00 1.740,5 396,2 377,6 337,5 3,21 -4,79 -8,17 0,14
2011 5,00 1,70 3,00 1,50 2,20 1.774,7 436,3 344,3 343,8 1,96 10,13 -8,80 1,86
2012 5,00 1,60 2,00 1,70 2,40 1.797,0 469,3 410,3 375,0 1,26 7,55 19,17 9,09
2013 5,00 1,50 2,00 1,90 2,60 1.828,7 470,1 470,4 383,0 1,77 0,17 14,65 2,13
2014 5,00 1,40 2,00 2,10 2,80 1.874,2 484,1 446,5 387,5 2,49 2,99 -5,09 1,16
2015 5,00 1,30 2,00 2,30 3,00 1.908,7 513,9 434,6 399,8 1,84 6,16 -2,65 3,18
2016 5,00 1,30 2,00 2,50 3,20 1.946,3 500,3 494,0 412,9 1,97 -2,65 13,65 3,26
2017 5,00 1,30 2,00 2,70 3,40 2.002,4 463,5 518,2 411,5 2,88 -7,35 4,90 -0,33

Fonte: Elaboração própria.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


446 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

nação continua em 2010 com repetição ca de R$ 2 trilhões em 2017, correspon-


do crescimento modesto de 0,9%. A re- dendo, por sua vez, a um crescimento de
aceleração só acontece a partir de 2011, 25%. Por sua vez, o investimento no ce-
iniciando da mesma forma com cresci- nário “Crise Curta” parte de R$ 455,6 bi-
mento de 1,5% nesse ano e aumentando lhões em 2008 e chega a R$ 477 bilhões
gradualmente até atingir 2,7%, em 2017. em 2017, crescendo 4,7% no período; no
No tocante às demais variáveis exóge- cenário “Crise Longa”, o investimento
nas do modelo EC (i.e., R, V, G e ∆Y), também parte do mesmo valor em 2008
em ambos os cenários buscou-se carac- mas chega a R$ 463,6 bilhões em 2017,
terizar suas respectivas hipóteses de evo- crescendo, por sua vez, 1,76%. Esses
lução de 2008 a 2017 de forma coerente movimentos similares em ambos os ce-
com a reação esperada da economia bra- nários também podem ser verificados no
sileira ante as hipóteses feitas para a ren- caso das exportações e das importações,
da mundial (Tabelas 6 e 7). mas, no cenário “Crise Curta”, com era
As Tabelas 6 e 7 também apresen- de se esperar, ambas as variáveis crescem
tam as previsões geradas para as variá- mais intensamente do que no cenário
veis endógenas (CO, I, EX , e M) de 2008 “Crise Longa”.
a 2017. Os valores previstos estão apre-
sentados em R$ bilhões, e foram tam- 6.2_ Previsão do consumo de combustíveis
bém computadas as respectivas taxas de com o modelo integrado EC+IP
crescimento percentual para cada vari- Em razão da forma de integração por
ável endógena. É interessante observar ligação usada para construir o modelo
que ambos os cenários exibem resulta- EC+IP, as variáveis endógenas no mo-
dos um tanto similares, para todas as va- delo EC atuam como exógenas no âmbi-
riáveis endógenas. Por exemplo, no ce- to do modelo IP. Assim, as previsões das
nário “Crise Curta”, o consumo parte de variáveis endógenas do modelo EC feitas
cerca de R$ 1,6 trilhão em 2008 e cres- na seção anterior foram usadas para ali-
ce suavemente até atingir R$ 2,04 trilhões mentar a parte IP do modelo integrado
em 2017, correspondendo a um cresci- no cômputo de estimativas, para os anos
mento de 27,5% no período; no cená- 2008 a 2017, do consumo esperado dos
rio “Crise Longa”, o consumo parte do quatro combustíveis. Como foram feitas
mesmo montante em 2008 e atinge cer- previsões do modelo EC segundo dois

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 447

cenários, os valores computados para o óleo diesel (responsável pela maior par-
consumo de combustíveis10 no cenário cela do consumo), em 23,92%, e o álco-
“Crise Curta” estão apresentados na Ta- ol, em 27%. No cenário “Crise Longa”,
bela 8, e, no cenário “Crise Longa”, na por sua vez, o consumo total dos quatro
Tabela 9. grupos de combustível também cresce,
No cenário “Crise Curta” (Tabe- mas um pouco menos acelerado, saindo
la 8), o consumo total dos quatro gru- de 78.134 milhões de tep em 2008 e che-
pos de combustível feito pela economia gando a 96.855 milhões em 2017, isto é,
10
Observe-se que as previsões apresenta significativo crescimento no acréscimo de 24%. O crescimento indivi-
feitas com o modelo integrado período de previsão, saindo de 78.134 dual dos quatro grupos de combustível
correspondem ao consumo
agregado de combustíveis feito milhões de tep em 2008 e chegando a também é parecido, com a gasolina au-
por toda a economia. Isto é, as 97.754 milhões em 2017, ou seja, acrés- mentando em 24,73%, o óleo combustí-
previsões não são apresentadas cimo de 25,11%. Os crescimentos indivi- vel, em 21,32%, o óleo diesel, em 24,82%,
por setor. A razão para isso é duais de consumo dos quatro grupos de e o álcool em 25%.
que, quando se usa a matriz
híbrida de IP, os coeficientes combustível são similares em termos re- Deve ser ressaltado que o mode-
setoriais da Matriz Inversa de lativos, com a gasolina aumentando em lo integrado capta a estrutura de consu-
Leontief nas linhas dos setores 26,8%, o óleo combustível, em 24,32%, o mo vigente até 2007, último ano da base
energéticos (combustíveis)
não podem ser usados para
medir individualmente o Tabela 8_ Previsão do consumo de combustíveis no cenário “Crise Curta”
consumo total (inicial mais Consumo de combustível (milhões de "tep")
direto mais indireto) feito por Ano
cada setor. Eles só podem ser Gasolina Óleo combustível Óleo diesel Álcool Total
usados de forma combinada 2008 18.684 18.822 30.717 9.911 78.134
para medir o consumo total 2009 19.370 18.490 32.372 10.272 80.504
feito por toda a economia.
Isto é um preço que se paga 2010 19.030 16.617 32.594 10.047 78.288
por usar-se a matriz híbrida 2011 19.524 17.249 32.235 10.326 79.334
na construção do modelo 2012 20.768 19.663 33.805 11.018 85.254
IP. Mattos et al. (2008), por 2013 21.346 20.311 34.764 11.327 87.748
exemplo, acoplam ao modelo
IP um terceiro módulo, 2014 21.487 20.135 34.418 11.402 87.442
independente, baseado num 2015 22.251 21.501 35.176 11.826 90.754
matriz diagonal de intensidades 2016 23.259 23.175 37.098 12.374 95.906
de uso energético por setor
2017 23.692 23.399 38.066 12.597 97.754
que permite fazer previsões
Fonte: Elaboração própria.
desagregadas setorialmente.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


448 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Tabela 9_ Previsão do consumo de combustíveis no cenário “Crise Longa”

Consumo de combustível (milhões de "tep")


Ano
Gasolina Óleo combustível Óleo diesel Álcool Total
2008 18.684 18.822 30.717 9.911 78.134
2009 19.374 18.491 32.372 10.272 80.509
2010 19.318 17.576 32.664 10.219 79.777
2011 19.156 16.621 32.394 10.115 78.286
2012 20.182 18.733 32.893 10.698 82.506
2013 21.302 20.789 34.780 11.314 88.185
2014 21.332 20.157 34.992 11.313 87.794
2015 22.527 19.862 34.875 11.360 88.624
2016 22.527 21.867 36.478 11.965 92.837
2017 23.304 22.834 38.341 12.376 96.855
Fonte: Elaboração própria.

de dados usado em sua construção. As por causa dos estímulos tanto nacionais
previsões feitas no período subsequen- quanto no exterior que vêm sendo da-
te de 2008 a 2017 refletem, portanto, as dos à substituição dos combustíveis fós-
características dessa estrutura e isso de- seis por biocombustíveis como o álcool.
ve ser considerado com certo cuidado. Isso, porém, não invalida a metodologia;
Por exemplo, o modelo não é capaz de de certa forma até a reforça, uma vez que
prever alterações significativas na divi- indica que o modelo integrado EC+IP
são do bolo de consumo entre os qua- deve estar sendo sempre atualizado pa-
tro grupos de combustível que venham ra que se possa usá-lo com máximo pro-
a acontecer como resultado da adoção veito para subsidiar as atividades de ges-
de políticas energéticas implementadas tão e planejamento do abastecimento
recentemente. de combustíveis.
Assim, embora o modelo impute
as maiores taxas de crescimento de 2008 6_ Conclusão
a 2017 para o consumo de álcool em am- Este artigo desenvolveu um modelo de
bos os cenários, pode ser que essas ta- previsão de longo prazo para a demanda
xas venham a ser de fato ainda maiores anual de combustível no Brasil, a partir

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 449

da integração de um modelo economé- logaritmo natural em razão de sua me-


trico de séries temporais com um mo- lhor performance preditiva. No caso do
delo de insumo-produto híbrido. O mo- modelo IP, considerou-se uma única es-
delo integrado foi usado para prever o pecificação, porém foram usados parâ-
consumo de gasolina, óleo combustível, metros de calibragem para se chegar a
óleo diesel e álcool no período de 2008 um modelo integrado com melhor de-
a 2017. sempenho preditivo.
Seguindo abordagens similares na As previsões para 2008-2010 rea-
literatura, o modelo foi construído usan- lizadas com o modelo integrado aponta-
do-se uma estratégia de integração por ram crescimento significativo da deman-
ligação, na qual o modelo econométrico da dos quatro grupos de combustível
é feito exógeno ao modelo de insumo- analisados nos próximos 10 anos. Isso
produto híbrido. Este, por sua vez, é res- foi sinalizado pelo modelo sob dois ce-
ponsável pela previsão do consumo de nários alternativos para a duração da atu-
combustíveis em tep. Uma inovação em al crise econômica mundial; seja curta,
comparação a estudos similares foi o uso seja longa essa duração, os números pre-
de testes preditivos para avaliar a quali- vistos indicam que as questões energéti-
dade dos componentes do modelo inte- cas atuais continuarão na ordem do dia
grado, isto é, dos modelos econométri- para os formuladores de políticas ainda
co e de insumo-produto antes de usá-los por um bom tempo. Isto é, as estraté-
para fazer previsão. Esses testes consis- gias energéticas voltadas para o aumento
tiram no cálculo do desvio absoluto mé- de eficiência técnica no uso de combustí-
dio percentual das previsões no período vel − de um lado − e para substituição de
de dados de 2004 a 2007, que compõe combustíveis derivados de petróleo, de
parte da amostra utilizada. origem fóssil, por combustível de origem
Os testes foram aplicados tan- não fóssil, como álcool e outros biocom-
to ao modelo econométrico quanto ao bustíveis − de outro − continuarão tendo
de insumo-produto híbrido. No caso do de ser perseguidas no intuito de se garan-
modelo econométrico, foram testadas tir o abastecimento de combustíveis para
quatro especificações diferentes. Foi se- o crescimento econômico com controle
lecionada para integração com o modelo dos efeitos ambientais.
IP aquela com as variáveis medidas em

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


450 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Referências bibliográficas

ABREU, M. P. A ordem do progresso: FERREIRA, P. G.; PEROBELLI, HAMADA, F. A. Long-term MATTOS, R. S.; PEROBELLI,
100 anos de política econômica F. P.; MATTOS, R. S. Sectoral projection of the industrial and F. S.; HADDAD, E.; FARIA,
na República. Rio de Janeiro: forecast and impacts in the environmental aspects os the Hokkaido W. R. Integração de modelos
Campus, 1989. electrical energy consumption in economy: 1985-2005, 2001. econométricos e de insumo-
Brazil: an integrated approach. produto para previsões de longo
AZZONI, C. R.; KADOTA, D. IBGE. Matriz de Insumo-Produto
17TH INTERNATIONAL prazo na demanda de energia no
K. An econometric input-output (2000-2005). Contas Nacionais,
INPUT-OUTPUT Brasil. Estudos Econômicos, v. 38,
model for the state of São Paulo, n. 23. Rio de Janeiro, 2008.
Brazil. Latin American Economics,
CONFERENCE OF THE p. 675-699, 2008 .
INTERNATIONAL INPUT- IPEA. Base de Dados
v. 1, 1997. MILLER, R. E.; BLAIR, P. D.
OUTPUT ASSOCIATION. São IPEADATA Macroeconômico.
Input-output analysis: foundations
BANCO CENTRAL DO Paulo: IIOA/FEA-USP, 2009. Disponível em: <http://www.
and extensions. New Jersey:
BRASIL. FOCUS – Relatório de ipeadata.gov.br/>. Acesso em:
FONSECA, M. A. R. Um Prentice Hall, 1985.
Mercado. Disponível em: <http:// 30 dez. 2008.
modelo macroeconométrico
www.bcb.gov.br>. Acesso em: OECD. ORGANIZATION FOR
de simulação e previsão. In: IPLANCE. Impactos da restrição
5 dez. 2008. ECONOMIC CO-OPERATION
ENCONTRO BRASILEIRO de consumo de energia elétrica sobre
AND DEVELOPMENT. OECD
BHATTARAI, K. R. Keynesian DE ECONOMETRIA, 13.,2001, a economia cearense. Governo do
Economic Outlook, 2008. Disponível
Models for Analysis of Macroeconomic Curitiba. Anais... Curitiba, 1991. Estado do Ceará, Secretaria de
em: <http://www.oecd.org/>.
Policy. Business School. University Planejamento e Coordenação.
GIAMBIAGI, F.; VILLELLA, Acesso em: 5 dez. 2008.
of Hull. Texto para Discussão. Fundação Instituto de Pesquisa
A.; BARROS DE CASTRO, L;
2005. Disponível em: <http:// e Informação do Ceará – PEROBELLI, F. S.; MATTOS,
HERMMAN, J. Economia Brasileira
www.hull.ac.uk/php/ecskrb/ IPLANCE. Fortaleza, 2001. R. S.; FARIA, W. R. Interações
e Contemporânea (1945-2004). Rio de
Macromodel_ISLM.pdf>. Acesso energéticas entre o Estado de
Janeiro: Elsevier/Campus, 2005. ISRAILEVICH P. R.; HEWINGS,
em:10 nov. 2008. Minas Gerais e o restante do
G. J. D.; SCHINDLER, G.
GUILHOTO, J. J. M.; Brasil: uma análise inter-regional
EPE. EMPRESA DE PESQUISA R; SONIS, M. Forecasting
FONSECA, M. A. R. The de insumo-produto. Economia
ENERGÉTICA. Balanço Energético structural change with a regional
Northeast and the rest of Brazil Aplicada, v. 11, p. 113-130. 2007.
Nacional 2008 (BEN). Rio de econometric input-output model.
economies in a Mercosur context,
Janeiro, 2008. Journal of Regional Science, REY, S. J.; DEV, B. Integrating
1992-2014: an econometric
v. 37, p. 565-590, 1997. econometric and input-output
ENDERS, W. Applied econometric interregional input-output
models in a multiregional
time series. Wiley Series in approach. Studies in Regional Science,
context. Growth and Change,
Probability and Statistics. 2. ed. Japão, v. 29, p. 171-185, 1998.
v. 28, p. 222-243, 1997.
Nova J ersey: Wiley, 2004.

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 451

REY, S. J. Integrated regional


E-mail de contato dos autores:
econometric + input- santiago.flaviane@gmail.com
output modeling: Issues and rogerio.mattos@ufjf.edu.br
opportunities. Regional Science, fernando.perobelli@ufjf.edu.br

v. 79, p. 271-292, 2000.


REY, S. J.; WEST, G. R.;
Artigo recebido em julho de 2009;
JANIKAS, M. V. Uncertainty aprovado em agosto de 2010.
in integrated regional models.
Economic Systems Research, v. 16,
p. 259-277, 2004.
SOUZA, R. M. Exportações e
consumo de energia elétrica: Uma
análise baseada na integração
de modelos econométrico e de
insumo-produto inter-regional
para Minas Gerais e o restante
do Brasil. 2008. Dissertação
(Mestrado em Economia
Aplicada) – Universidade
Federal de Juiz de Fora,
Juiz de Fora, 2008.
WTO. WORLD TRADE
ORGANIZATION. International
Trade Statistics 2008. Genebra,
2008. Disponível em: <http://
www.wto.org>. Acesso em: 15
set. 2008.
ZAKARIAS, G.; FRITZ, O.;
KURZMANN, R.; STREICHER,
G. Comparing regional structural
change: an application of
economic input-output models,
intereg working. Paper Series,
v. 18, Graz-Vienna, 2002.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


452 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Compatibilização final Matriz de Insumo-Produto com Balanço Energético Anexo A


(continua)
1 – Agropecuária 8 – Alimentos e bebidas
1 – Agricultura, silvicultura,
6 – Alimentos e bebidas
exploração florestal
2 – Pecuária e pesca 7 – Produtos do fumo
2 – Mineração e pelotização 9 – Têxtil e vestuário
3 – Petróleo e gás natural 8 – Têxtil
4 – Minério de ferro 9 – Artigos do vestuário e acessórios
5 – Outros da indústria extrativa 10 – Artefatos de couro e calçados
3 – Minerais não metálicos 10 – Cimento
30 – Outros produtos de
29 – Cimento
minerais não metálicos
4 – Ferro e Aço 11 – Outras indústrias
34 – Máquinas e equipamentos,
26 – Fabricação de aço e derivados
inclusive manutenção e reparos
5 – Minerais não ferrosos e outras metalurgias 35 – Eletrodomésticos
36 - Máquinas para escritório e
32 – Metalurgia de metais não ferrosos
equipamento de informática
33 – Produtos de metal –
37 – Máquinas, aparelhos e material elétrico
exclusive máquinas e equip.
38 – Material eletrônico e equipamentos de
6 – Papel e celulose
comunicações
39 – Aparelhos/instrumento
12 – Celulose e produtos de papel
médico-hospitalar, medida e óptico
13 – Jornais, revistas, discos 40 – Automóveis, camionetas e utilitários
11 – Produtos de madeira – exclusive móveis 41 – Caminhões e ônibus
42 – Peças e acessórios para
28 – Artigos de borracha e plástico
veículos automotores
7 – Química 43 – Outros equipamentos de transporte
21 – Produtos químicos 44 – Móveis e produtos das indústrias diversas
22 – Fabricação de resina e elastômeros 47 – Água, esgoto e limpeza urbana
23 – Produtos farmacêuticos 48 – Construção
24 – Defensivos agrícolas 12 – Comércio e serviços
25 – Perfumaria, higiene e limpeza 49 – Comércio
26 – Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 51 – Serviços de informação
27 – Produtos e preparados químicos diversos 52 – Intermediação financeira e seguros

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 453

Compatibilização final Matriz de Insumo-Produto com Balanço Energético

(conclusão)

53 – Serviços imobiliários e aluguel 14 – Gás liquefeito de petróleo


54 – Serviços de manutenção e reparação 16 – Gasoálcool
19 – Outros produtos do refino
55 - Serviços de alojamento e alimentação
de petróleo e coque
56 – Serviços prestados às empresas 45 – Eletricidade
57 – Educação mercantil 46 – Gás
58 – Saúde mercantil 16 – Gasolina automotiva
59 – Outros serviços 15 – Gasolina automotiva
13 – Transporte 17 – Óleo combustível
50 – Transporte, armazenagem e correio 17 – Óleo combustível
14 – Serviços públicos 18 – Óleo diesel
60 – Educação pública 18 – Óleo diesel
61 – Saúde pública 19 – Álcool
62 – Administração pública e seguridade social 20 – Álcool
15 – Setor dos demais energéticos
Fonte: Elaboração própria baseada em Perobelli et al. (2006).

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


454 Um modelo integrado econométrico+insumo-produto para previsão de longo prazo da demanda de combustíveis no Brasil

Modelo VCE para as variáveis em log (MVL) Anexo B


(continua)

Variáveis ∆Log(Ct) ∆Log(It) ∆Log(EX,t) ∆Log(Mt)


-0,043202 0,593625 0, 00223 0,886556
Eq. Cointegr. 1
[-0.37873] [ 3.35459] [0.00812] [2.51699]
-0,009109 -0,334698 -0,389985 -0,3741
Eq. Cointegr. 2
[-0.07286] [-1.72581] [-1.29520] [-0.96912]
0,801641 0,252984 -0,920178 1,001063
∆ Log(Ct-1)
[ 2.55051] [0.51886] [-1.21556] [1.03149]
-0,132674 0,603555 -1,107383 -0,594374
∆ Log(Ct-2)
[-0.61887] [1.81486] [-2.14473] [-0.89791]
-0,036523 0,634936 1,097949 0,510802
∆ Log(It-1)
[-0.29980] [3.35972] [3.74201] [1.35792]
0,089433 0,013799 -0,239078 0,171489
∆ Log(It-2)
[1.14379] [0.11376] [-1.26954] [0.71030]
-0,000153 -0,098587 0,054046 -0,133366
∆ Log(EX,t-1)
[-0.00193] [-0.80320] [0.28361] [-0.54589]
-0,044042 0,295356 -0,475478 -0,002298
∆ Log(EX,t-2)
[-0.53579] [2.31621] [-2.40166] [-0.00905]
-0,126668 0,199537 0,048036 0,11749
∆ Log(Mt-1)
[-1.66047] [ 1.68616] [0.26145] [0.49880]
0,081663 -0,080092 0,054054 0,182281
∆ Log (Mt-2)
[1.09500] [-0.69229] [0.30094] [0.79157]
0,007887 -0,006346 0,193958 0,066628
Constante
[0.39234] [-0.20349] [4.00602] [1.07339]
-0,000792 0,000831 -0,000134 -0,001915
∆ Rt
[-3.03755] [2.05289] [-0.21327] [-2.37691]
-0,003941 -0,154642 0,063246 -0,979323
∆ Log (YMt)
[-0.01994] [-0.50449] [0.13289] [-1.60509]
0,004735 -0,447092 0,877348 0,306553
∆ Log (Vt)
[0.06227] [-3.79029] [4.79066] [1.30566]

Nova Economia_Belo Horizonte_23 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011


Flaviane Souza Santiago_Rogério Silva de Mattos_Fernando Salgueiro Perobelli 455

Modelo VCE para as variáveis em log (MVL)

(conclusão)

Variáveis ∆Log(Ct) ∆Log(It) ∆Log(EX,t) ∆Log(Mt)


0,113585 -0,571237 -1,202117 -0,426802
∆ Log (Gt)
[0.65968] [-2.13862] [-2.89878] [-0.80277]
0, 806652 1,578202 0,247707 1,52272
∆2Log(Yt–1)
[2.69349] [3.39705] [0.34342] [1.64668]
R2 0,65900 0,81736 0,80918 0,55964
R -ajustado
2
0,38979 0,67317 0,65853 0,21198
F - Teste 2,44789 5,66867 5,37129 1,60973
AIC -3,37378 -2,49562 -1,61580 -1,11890
SC -2,66276 -1,78460 -0,90478 -0,40788
Período de estimação: 1970 a 2007.
Estatísticas t entre colchetes.

Fonte: Elaboração própria com dados descritos na seção 3.5.

Nova Economia_Belo Horizonte_21 (3)_423-455_setembro-dezembro de 2011

Você também pode gostar