Você está na página 1de 8

Eletromagnetismo I

Aula 4
Exercícios: faça os problemas numerados de 6 a 11 do Capítulo 2 do livro-texto.

O Potencial Eletrostático

Na aula passada definimos o campo elétrico. Para o caso particular de uma carga
q colocada no ponto r0 o campo elétrico é dado por:

kq (r − r0 )
E (r) = .
|r − r0 |3
No entanto, se r 6= r0 , vale a propriedade:
r − r0 1
3 = −∇ .
|r − r0 | |r − r0 |
Para verificarmos essa igualdade, notemos que
1 ∂ 1 ∂ 1 ∂ 1
∇ = x̂ + ŷ + ẑ .
|r − r0 | ∂x |r − r0 | ∂y |r − r0 | ∂z |r − r0 |
Como
r = x̂x + ŷy + ẑz,
r0 = x̂x0 + ŷy0 + ẑz0 ,
segue que
r − r0 = x̂ (x − x0 ) + ŷ (y − y0 ) + ẑ (z − z0 )
e, portanto,
q
|r − r0 | = (r − r0 ) · (r − r0 )
r
= (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 .
Logo, por exemplo,
∂ 1 ∂ 1
= q
∂x |r − r0 | ∂x (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2
(x − x0 )
= −h i3/2
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2
(x − x0 )
= − .
|r − r0 |3
1
De forma análoga,
∂ 1 (y − y0 )
= −
∂y |r − r0 | |r − r0 |3
e
∂ 1 (z − z0 )
= − .
∂z |r − r0 | |r − r0 |3
Assim, temos:
1 (x − x0 ) (y − y0 ) (z − z0 )
∇ = −x̂ 3 − ŷ 3 − ẑ
|r − r0 | |r − r0 | |r − r0 | |r − r0 |3
x̂ (x − x0 ) + ŷ (y − y0 ) + ẑ (z − z0 )
= −
|r − r0 |3
r − r0
= − ,
|r − r0 |3
demonstrando a fórmula acima.
Com essa igualdade, o campo elétrico acima pode ser escrito como:
kq (r − r0 )
E (r) =
|r − r0 |3
1
= −kq∇
|r − r0 |
kq
= −∇ .
|r − r0 |
Logo, podemos definir a função escalar:
kq
φ (r) =
|r − r0 |
e o campo elétrico fica:
E (r) = −∇φ (r) .
Nesse caso simples, a função φ (r) é o potencial eletrostático de uma carga pun-
tiforme q colocada na posição r0 .

O potencial eletrostático para uma distribuição volumétrica de cargas


Caso discreto:

N
X kqi
E (r) = 3 (r − ri ) ,
i=1 |r − ri |

2
com
r 6= ri , i = 1, 2, . . . , N.
Logo,
(r − ri )
N
X
E (r) = kqi
i=1 |r − ri |3
XN 1
= − kqi ∇
i=1 |r − ri |
XN kqi
= −∇ .
i=1 |r − ri |
Portanto, podemos definir o potencial como:
N
kqi
X
φ (r) =
i=1 |r − ri |
e, novamente, o campo elétrico pode ser expresso como:
E (r) = −∇φ (r) .

Caso contínuo:

Nesse caso, há duas situações distintas dignas de nota:


• r está fora da distribuição:
ˆ
ρ (r0 )
E (r) = k d3 r0 0
0
3 (r − r ) .
V |r − r |
Como, nessa situação,
r 6= r0 ∀r0 ∈ V,
podemos escrever:
ˆ
3 0 (r − r0 )
0
E (r) = k d r ρ (r )
|r − r0 |3
ˆ V
1
=− k d3 r0 ρ (r0 ) ∇
|r − r0 |
ˆV
1
= −∇ k d3 r0 ρ (r0 ) .
V |r − r0 |
Assim, definimos o potencial como:
ˆ 0
3 0 ρ (r )
φ (r) = k dr ,
V |r − r0 |
para que o campo elétrico seja escrito como antes:
E (r) = −∇φ (r) .

3
• r está dentro da distribuição:
ˆ
ρ (r0 )
E (r) = k d3 r0 0
0
3 (r − r ) ,
V |r − r |
com r ∈ V . Nessa situação, r0 pode assumir, inclusive, o valor r, deixando
indefinido o integrando e impossibilitando a utilização da fórmula
(r − r0 ) 1
3 = −∇
|r − r0 | |r − r0 |
quando r = r0 . Para podermos definir o potencial nessa situação, vamos
separar a região V em duas:
V = Vε ∪ W ε ,
onde Vε é uma esfera de raio ε centrada em r e Wε é a região V subtraída da
esfera Vε :
Wε = V − Vε = V \ Vε .
Em outras palavras, Wε é o complemento relativo de Vε em V . Então, pode-
mos escrever:
ˆ 0 ˆ 0
3 0 ρ (r ) 0 3 0 ρ (r ) 0
E (r) = k dr 0 3 (r − r ) + k dr 0 3 (r − r )
V |r − r | W |r − r |
ˆ ε 0
 εˆ
0

ρ (r ) ρ (r )
= k d3 r0 3 (r − r0
) − ∇ k d 3 0
r 0|
,
Vε |r − r |0
Wε |r − r
já que
r − r0 6= 0 para r0 ∈ Wε .
Vamos analisar o que acontece quando
ε → 0.
Calculemos a primeira integral da expressão acima. Sem perda de generali-
dade, o resultado da integral não pode depender do sistema de coordenadas
e, portanto, para simplificar os cálculos, vamos tomar a origem exatamente
sobre r e calcular:
ˆ 0 ˆ 0
ρ (r ) 3 0 ρ (r ) 0
lim k d3 r0 (0 − r0
) = − lim k d r r
ε→0 Vε |0 − r0 |3 ε→0 Vε |r0 |3
ˆ 0
3 0 r
= − lim kρ (0) d r 0 3,
ε→0 Vε |r |

4
pois quando
ε → 0,
segue que
ρ (r0 ) → ρ (0) .
Assim, temos:
ˆ 0 ˆ ε ˆ 2π ˆ π
3 0 ρ (r ) 0 0 2 0 r0
lim k dr 0 |3
(0 − r ) = − lim kρ (0) (r ) dr dϕ sin θdθ
ε→0 Vε |0 − r ε→0 0 0 0 |r0 |3
ˆ ε ˆ ˆ π
(r0 )2 0 2π r0
= − lim kρ (0) dr dϕ sin θdθ 0
ε→0 0 |r0 |2 0 0 |r |
ˆ ε ˆ 2π ˆ π
0 r0
= − lim kρ (0) dr dϕ sin θdθ 0 .
ε→0 0 0 0 |r |
Mas
r0
= x̂ sin θ cos ϕ + ŷ sin θ sin ϕ + ẑ cos θ
|r0 |
e, portanto, independe de r0 . Logo,
ˆ 0 ˆ 2π ˆ π
3 0 ρ (r ) 0 r0
lim k dr (0 − r ) = − lim kρ (0) ε dϕ sin θdθ 0
ε→0 Vε |0 − r0 |3 ε→0 0 0 |r |
= 0.
Com esse resultado, podemos escrever:
ˆ
ρ (r0 )
E (r) = − lim ∇k d3 r0
ε→0 |r − r0 |
ˆWε 0
3 0 ρ (r )
= −∇ lim k dr
ε→0 Wε |r − r0 |
= −∇φ (r) ,
onde
ˆ
3 0ρ (r0 )
φ (r) = lim k dr .
ε→0 Wε |r − r0 |
Como é fácil verificar que
ˆ
ρ (r0 )
lim k d3 r0 = 0,
ε→0 Vε |r − r0 |
segue, da expressão acima para φ (r), que:
ˆ 0
3 0 ρ (r )
φ (r) = lim k dr +0
ε→0 Wε |r − r0 |

5
ˆ ˆ
ρ (r0 )
3 0 3 0 ρ (r )
0
= lim k dr + lim k d r
ε→0 W |r − r0 | ε→0 Vε |r − r0 |
 ˆε ˆ
0 0

ρ (r ) ρ (r )
= lim k d3 r 0 0
+k d3 r 0 0|

ε→0 |r − r | |r − r
ˆ Wε
0

ρ (r )
= k d3 r0 ,
V |r − r0 |
como na situação anterior, na qual
r ∈
/ V.

O rotacional do campo eletrostático

É evidente, agora, que


∇ × E (r) = −∇ × ∇φ (r) = 0.
Assim, demonstramos que, pelo menos no caso de distribuições discretas e volumétri-
cas,
∃φ (r)
tal que
E (r) = −∇φ (r)
e
∇ × E (r) = 0.
Também poderíamos ter, primeiro, demonstrado que
∇ × E (r) = 0
e, depois, termos concluído que
∃φ (r)
tal que
E (r) = −∇φ (r) .
Este teorema é válido em geral:
Sempre que
∇ × F (r) = 0,
para algum campo vetorial F (r), segue que existe uma função escalar f (r) tal
que
F (r) = ∇f (r) .

6
É fácil verificarmos esse resultado. Suponhamos que
∇ × F (r) = 0.
Então, utilizando o teorema de Stokes:
˛ ˆ
F (r) · dr = da [∇ × F (r)] · n̂ = 0,
C S

para qualquer curva C fechada. Uma conseqüência disso é que a integral de


caminho de F (r), entre dois pontos do espaço, independe do caminho escolhido.
Para vermos isso, basta escolhermos dois pontos quaisquer, A e B, e tomarmos
uma curva C1 , de A até B, qualquer. Se também escolhermos uma segunda curva,
C2 , de A até B, podemos calcular a diferença:
ˆ B ˆ B ˆ B ˆ A
F (r) · dr − F (r) · dr = F (r) · dr + F (r) · dr
A,C1 A,C2
˛A,C1 B,C2

= F (r) · dr
C1 ∪C2
= 0.
Logo, como C1 e C2 são quaisquer e
ˆ B ˆ B
F (r) · dr = F (r) · dr,
A,C1 A,C2

segue que a integral de caminho de F (r), de A até B, independe da escolha de


caminho, sendo uma função apenas dos pontos extremos, A e B. Podemos, então,
definir uma função de r, para cada ponto A do espaço, como segue:
ˆ r
fA (r) = F (r0 ) · dr0 ,
A

por qualquer caminho que escolhamos, já que o resultado dessa integral independe
dessa escolha. Calculemos, então, o gradiente de fA (r):
ˆ r ˆ r ˆ r
∂ 0 0 ∂ 0 0 ∂
∇fA (r) = x̂ F (r ) · dr + ŷ F (r ) · dr + ẑ F (r0 ) · dr0 .
∂x A ∂y A ∂z A
Calculemos, primeiramente, a derivada parcial com relação a x:
ˆ r ˆ (xA ,y,z) ˆ (x,y,z)
∂ 0 0 ∂ 0 0 0 ∂
F (r ) · dr = F (xA , y , z ) · dr + F (x0 , y, z) · dr0 .
∂x A ∂x (xA ,yA ,zA ) ∂x (xA ,y,z)
A primeira integral do segundo membro é calculada mantendo a coordenada xA ,
do ponto A, fixa e terminando em um ponto com as coordenadas y e z do ponto

7
r. A derivada parcial com relação a x dessa integral é, portanto, nula. A segunda
integral do segundo membro da equação acima é calculada sobre uma reta paralela
ao eixo x, mantendo as coordenadas y e z do ponto r fixas. Assim, temos:
ˆ r ˆ x
∂ ∂
F (r0 ) · dr0 = Fx (x0 , y, z) dx0
∂x A ∂x xA
= Fx (x, y, z) .
Repetindo raciocínios análogos para as derivadas parciais com relação a y e z,
obtemos também:
ˆ r

F (r0 ) · dr0 = Fy (x, y, z) ,
∂y A
ˆ r

F (r0 ) · dr0 = Fz (x, y, z) .
∂z A
Assim, finalmente:
∇fA (r) = x̂Fx (x, y, z) + ŷFy (x, y, z) + ẑFz (x, y, z) ,
independentemente da escolha do ponto A. Com isso, demonstramos o teorema
acima.

Você também pode gostar