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Aldara César
Universidade Federal Fluminense
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All content following this page was uploaded by Aldara César on 14 October 2015.
Resumo
A Indicação Geográfica (IG) permite a valorização de ativos intangíveis associados a uma
identidade territorial e origem geográfica, podendo potencializar uma região e trazer inúmeros
benefícios às partes envolvidas. Dessa forma, espera-se que a certificação agregue valor à
produção local principalmente porque permite explorar o terroir em cada município, tornando
o produto exclusivo. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta um estudo de caso único, o
qual teve como objeto o Queijo Alagoa produzido no Sul de Minas Gerais – especificamente
no município de Alagoa. O produto é a principal fonte de renda para muitas famílias e é o
motor da atividade econômica do município. Em campo, foi verificado que será necessário o
dispêndio de recursos que podem inviabilizar a adequação de pequenos produtores às
exigências da certificação. A população do município parece entender que a IG
potencializaria a economia local, contudo é importante que se avalie até que ponto os
benefícios gerados por essa certificação para a sociedade alagoense serão maiores do que os
prejuízos causados devido à segregação dos produtores não certificados.
Palavras-chave: Identificação Geográfica, produção familiar, Queijo Alagoa, Alagoa.
1. INTRODUÇÃO
Para Porter (1986), a empresa que se diferencia para obter lealdade tende a estar mais
bem posicionada em relação a seus concorrentes. Segundo Hitt et al. (2005), uma vantagem
competitiva se torna ainda maior quando a estratégia de uma empresa está associada a ativos
intangíveis, por esses serem difíceis de serem entendidos, copiados e comprados - o que por
sua vez, os torna mais valiosos e permite que as empresas sustentem sua vantagem por maior
período em relação às que se sustentam em estratégias associadas a ativos tangíveis.
Nesse contexto, a Identidade Geográfica (IG) merece destaque visto que preserva as
particularidades do produto/serviço, regulada através das normas especificadas para o
processo de produção e controle durante o desenvolvimento do projeto de certificação. Bérard
e Marchenay (2008) apud Cerdan et al. (2009) afirmam a necessidade de se colocar em
evidência o modo como uma IG deseja alcançar a valorização das tradições, costumes,
conhecimentos, práticas e outros ativos intangíveis associados a uma identidade territorial e
origem geográfica. Este pensamento se completa no entendimento de Allaire e Sylvander
(1997) e Cerdane Vitrolles (2008), os quais concluíram que ao qualificar ativos intangíveis
que são de difícil transposição para outros territórios, as IGs podem mesmo ser
conceitualmente percebidas como um catalisador de processos de desenvolvimento
territorial/endógeno. Percebe-se dessa forma, que as IGs podem potencializar uma região e
trazer inúmeros benefícios às partes envolvidas se o processo de fortalecimento das
características do produto/serviço e o desenvolvimento do processo de certificação forem
definidos claramente e executados de forma eficiente.
O estímulo aos investimentos na área especificada por determinada IG, o
desenvolvimento sócio-econômico com consequente geração de empregos e o
desenvolvimento do turismo são benefícios que também podem ser alcançados a partir do
estabelecimento de uma certificação. A melhoria do padrão tecnológico, a fidelização do
consumidor a partir do momento em que consegue identificar qualidade e características
regionais no produto, a maior competitividade dos produtores no mercado, a garantia da
qualidade, reputação, identidade e aperfeiçoamentos no processo de comercialização do
produto e/ou serviço são vantagens comerciais que trazem melhorias para todo o sistema.
Especialmente nos países em desenvolvimento, espera-se que as IG’s possam
acrescentar valor à produção local proporcionando mais renda do que os produtos sem IG,
tendo em vista que esses produtos certificados trariam não somente uma ideia de qualidade,
como também de exclusividade (CACIE et al., 2011).
A legislação brasileira prevê para produtos e serviços agropecuários duas espécies de
proteção a partir do Art. 176 da Lei 9.279 do Código de Propriedade Industrial: Indicação de
Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO).
1
O INPI, criado em 1970, é a entidade máxima no Brasil no que se diz respeito à execução das normas que
regulam a propriedade industrial, sendo responsável pelo registro e concessão de marcas, patentes, desenho
industrial, transferência de tecnologia, indicação geográfica, programa de computador e Topografia de Circuito
Integrado. Esta entidade objetiva estimular a inovação e o desenvolvimento tecnológico, econômico e social
brasileiro. Dessa forma, em 1996, a partir da Lei da Propriedade Industrial nº 9.279, foi introduzido o conceito
de Indicação Geográfica e a Resolução INPI nº 75/2000 especificou as condições para seu registro.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Em sintonia com todas estas características, o município ainda está inserido em sua
totalidade em Unidades de Conservação, dentre elas a Área de Preservação Ambiental Federal
Serra da Mantiqueira - APA Serra da Mantiqueira, no Parque Estadual Serra do Papagaio e
também nos arredores do Parque Nacional do Itatiaia, além de estar associada ao Corredor
Ecológico Mosaico da Mantiqueira. Historicamente, a cidade pertence ao Caminho Velho da
Estrada Real e o queijo da cidade é considerado patrimônio cultural registrado no Instituto
Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA, além de também
Gráfico 1 – Representatividade dos valores adicionados setoriais do PIB em Alagoa, Minas Gerais e Brasil.
Fonte: IBGE - Cidades (2014).
Para técnicos da EMBRAPA e EMATER, o Queijo Alagoa não deve ser chamado
apenas de parmesão. Como pode ser encontrado em sites (2012) relacionados ao queijo local,
“apesar de ser conhecido como Queijo Parmesão de Alagoa ou Parmesão da Mantiqueira, a
Corte Européia não autoriza esta nomenclatura. (...) Como todo bom mineiro gosta de
economizar nas palavras, fica mais conveniente chamá-lo de Queijo Alagoa”.
O nome geográfico do produto tem sentido para os consumidores, já que ao encontrar
ou solicitar o Queijo Alagoa, sabe-se que o mesmo é proveniente de uma cidade e até mesmo
uma região conhecida pelo saber em fazer esse tipo de produto. O Sul de Minas, em especial,
as cidades que compõem a chamada “Terras Altas da Mantiqueira”, apresenta características
de localidades propícias para a prática deste tipo de produção, uma vez que a cultura, o clima
tropical de altitude, a água pura em abundância e demais recursos existentes contribuem para
a diferenciação do produto.
Dessa forma, é possível fazer com que o nome do queijo também consiga levar ao
mercado consumidor a cultura local e que o fator histórico existente no produto seja
disseminado.
O Queijo Alagoa impulsiona o desejo de aquisição dos consumidores devido ao fato
de ter um sabor marcante, um aroma diferente dos queijos mais conhecidos pela população,
uma textura macia quando se refere ao estilo parmesão e as características de queijo estilo
artesanal, o que para um alimento agrega valor.
Características relacionadas ao aroma e aparência do produto fazem o queijo
apresentar caráter artesanal e tipicamente brasileiro. Os aromas de ervas frescas e de lácteos e
o sabor levemente picante e forte gosto, intenso e persistente na boca, fazem, de acordo com o
4. Considerações Finais
Referências Bibliográficas