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Resumo
Frente ao cenário de expansão da geração de energia elétrica no Brasil, este artigo tem o objetivo de
discutir de que maneira a geração de energia em hidrelétricas e termelétricas pode ter afetado a
cobertura e uso do solo no entorno dos seus empreendimentos, suprimindo (ou não) as fitofisionomias
naturais em função de sua instalação. A partir da análise sistemática dos mapas de cobertura e uso
do solo produzidos pela plataforma MapBiomas, busca-se avaliar a evolução dos componentes de
formação natural do solo no entorno dos geradores de energia elétrica em operação, tendo como base
a data de início de operação do empreendimento, comparando-se os períodos anterior e posterior a
sua existência. Além disso, o estudo pretende relacionar a variação da cobertura do uso do solo à
potência gerada pelo empreendimento. A relevância do estudo é verificada pela necessidade de
expansão do fornecimento de energia para o desenvolvimento do país, que encontra espaço
sobremaneira no bioma Amazônia, área que possui grande relevância para a conservação da
biodiversidade.
Palavras-chave
cobertura e uso do solo; formação natural; MapBiomas; geração de energia elétrica
1. Introdução
Desta forma, essas duas fontes de geração correspondem a 93% da matriz elétrica
do Brasil. De um total de 7.291 empreendimentos de geração de energia elétrica no
país em operação (ANEEL, 2019), cerca de 60% são oriundos de aproveitamentos
hidrelétricos ou de geração termelétrica, distribuídos por todos os biomas brasileiros.
Segundo Diniz et al. (2012), cerca de 30% do valor dos projetos de geração de
energia elétrica são investidos em programas ambientais, tais como estudos de
inventário, avaliações ambientais estratégicas, estudos de impacto ambiental, como
também a realização de planos básicos ambientais, em que se definem ações de
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responsabilidade social, capacitação da equipe técnica em meio ambiente, entre
outros.
2. Objetivos
O presente estudo teve como objetivo avaliar de que forma ocorreu a mudança do
uso do solo em todos os biomas brasileiros no entorno dos empreendimentos de
geração de energia elétrica, notadamente nos aproveitamentos hidrelétricos e nos
geradores termelétricos.
3. Materiais e Métodos
Figura 1: Tipos de empreendimentos de geração de energia elétrica analisados. Fonte: Elaboração própria com
base em dados disponibilizados pelo MapBiomas.
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classes, respectivamente, Floresta Natural, Formação Florestal, Formação Savânica,
Mangue, Formação Natural não Florestal, Área Úmida Natural não Florestal,
Formação Campestre, Apicum, Outra Formação Natural não Florestal.
Para tanto, os mapas anuais foram obtidos através do Google Engine, e as operações
de recorte das áreas de estudo, reclassificação de pixels, geração de polígonos e
cálculo de áreas foram realizadas no ArcGIS.
4. Resultados
Com base nos mapas de cobertura e uso do solo analisados entre os anos de 1985
e 2017, houve uma supressão de cobertura de formação natural de 24.088,69 km 2
em todo o território nacional na análise do entorno dos 813 empreendimentos
estudados. É importante ressaltar que essa supressão analisa cada empreendimento
individualmente em área (pode haver alguns pontos de sobreposição dos polígonos
gerados a partir do buffer de 20 km) e no tempo (os onze anos de análise realizados
para cada empreendimento estão dispersos ao longo dos 33 anos de mapas gerados
pelo MapBiomas).
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Tabela 1 – Análise da Variação Média da Cobertura Natural no entorno de AHE e UTE
Variação Média da
Empreendimentos Balanço final
Tipo Empreendimentos Cobertura Natural
com supressão (km2)
(%)
AHE 466 63,30% -2,65 -14.213,04
UTE 347 55,62% -1,98 -9.875,66
Totais 813 - - -24.088,69
Fonte: Elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo MapBiomas
Variação Média da
Empreendimentos Balanço final
Tipo Empreendimentos Cobertura Natural
com supressão (km2)
(%)
Renováveis 617 58,83% -1,53 -15.497,61
Não
196 63,78% -4,99 -8.591,08
Renováveis
Totais 813 - - -24.088,69
Fonte: Elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo MapBiomas
A variação negativa maior de área de cobertura no entorno das AHE poderia ser um
resultado esperado, tendo em vista a característica dos projetos envolvidos, com a
supressão da cobertura natural para a construção dos reservatórios das hidrelétricas.
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O bioma Amazônia é o que possuiu maior supressão de cobertura natural, sendo
suprimidos 8,28% da sua cobertura na comparação entre o primeiro e o último ano
de análise no entorno dos empreendimentos estudados.
Variação Média da
Bioma Tipo Empreendimentos Cobertura Natural
(%)
AHE 46 -13,93
UTE 131 -6,30
Amazônia -8,28
Renováveis 50 -14,34
Não Renováveis 127 -5,89
AHE 286 0,28
Mata UTE 118 2,25
0,86
Atlântica Renováveis 370 1,12
Não Renováveis 34 -1,97
AHE 131 -4,84
UTE 72 -1,62
Cerrado -3,70
Renováveis 189 -3,20
Não Renováveis 14 -10,49
AHE 2 -13,70
UTE 17 -2,81
Caatinga -3,95
Renováveis 2 -13,70
Não Renováveis 17 -2,81
AHE 1 -14,06
UTE 8 4,91
Pampa 2,81
Renováveis 5 -1,54
Não Renováveis 4 8,24
AHE - -
UTE 1 -3,04
Pantanal -3,04
Renováveis 1 -3,04
Não Renováveis - -
Fonte: Elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo MapBiomas
A partir dos resultados obtidos, foi realizada a relação entre a variação da cobertura
natural encontrada e a potência gerada, em kW, pelos empreendimentos analisados.
A média dos valores encontrados foi de -0,021 com desvio padrão de 0,82. O mapa
apresentado a seguir ilustra a concentração dos resultados obtidos. Pode-se
observar que há alguns pontos que possuem maior peso entre a variação negativa
(supressão da cobertura natural) e a potência gerada. Por outro lado, há um ponto
em que a variação positiva (aumento da cobertura natural) foi bastante relevante,
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apresentando uma relação variação/potência acentuada. No entanto, percebe-se que
mais de 99% dos dados analisados se concentram no intervalo entre -1,61 a 0,68
(em laranja no mapa).
Figura 2: Relação entre a variação da cobertura de formação natural do solo e a potência dos geradores de energia
elétrica. Fonte: Elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo MapBiomas.
5. Conclusão
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Assim como o bioma Mata Atlântica, o bioma Amazônia também possui grande
abrangência temporal e cerca de 22% da amostra analisada (quase 50% é referente
ao bioma Mata Atlântica), e os dados de supressão da cobertura do bioma como um
todo oferecem um resultado percentual menor do que o encontrado no estudo. Isso
pode sugerir algum cuidado na condução dos novos (e grandes) empreendimentos
de geração hidrelétrica esperados para a região, ainda mais se levarmos em
consideração que esse tipo de projeto envolve maior supressão de cobertura natural,
como apontado no presente estudo.
Por fim, de forma a aprofundar a análise, sugere-se diminuir a área no entorno dos
empreendimentos, realizando um levantamento mais pontual (buffers de 5 e 10 km,
por exemplo), pois os empreendimentos possuem diversos portes, e, possivelmente,
os níveis de abrangência na variação da cobertura natural podem ser melhor
delimitados. Agregar os outros tipos de empreendimentos, como usinas fotovoltaicas
e eólicas, os quais se encontram franca expansão, pode gerar novos cenários para
comparação entre a geração via fonte renovável e não renovável. Além disso, a maior
disponibilidade de dados georreferenciados com informações precisas dos
empreendimentos qualifica as análises realizadas, tendo em vista que muitos
empreendimentos foram descartados do estudo pela ausência de elementos
essenciais à realização do mesmo. Ademais, pode-se definir áreas amostrais de
controle no mesmo bioma e período para cada empreendimento, de forma a analisar
comparativamente os locais onde eles não estão localizados.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICAL (ANEEL). BIG - Banco de Informações de Geração.
Jan., 2019. Disponível em:
<http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso em: 23 jan.
2019.
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DINIZ, Noris Costa, REGIS, Diogo Neves, MELO, Luiz Felipe de Oliveira. Capítulo 2 in Campagnoli, F.
e Diniz, C. D. (organizadores) Gestão de Reservatórios de Hidrelétricas. 1ª. ed. São Paulo: Editora
Oficina de Textos, 2012.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Balanço Energético Nacional 2018. Maio, 2018.
Disponível em: <http://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/balanco-
energetico-nacional-2018>. Acesso em: 03 jan. 2019.
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