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COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL DE DIFERENTES USINAS

ASFÁLTICAS UTILIZANDO DADOS SECUNDÁRIOS E AVALIAÇÃO DO CICLO


DE VIDA

Marcela Maria Toscano Krau


Clara Rayssa Romero Rodrigues Souza
Bruno Cavalcante Mota
Luan Santos
Francisco Thiago Sacramento Aragão
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia - COPPE
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Luis Alberto Herrmann do Nascimento
Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello - CENPES
PETROBRAS

RESUMO
O monitoramento dos processos na etapa de produção de misturas asfálticas tem potencial redutor de impactos
ambientais no setor de infraestrutura de transportes. Este estudo analisou diferentes configurações de usinas
asfálticas, focando no consumo de combustível, e realizou uma Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de acordo com
as normas ISO 14040, ISO 14044 e EN 15804. Utilizando o software SimaPro, foram quantificados os indicadores
de impactos de mudança climática, toxicidade humana e uso de recursos fósseis. Constatou-se que as usinas que
priorizam o uso de eletricidade como fonte de energética principal tendem a apresentar melhor desempenho
ambiental, enquanto aquelas que utilizam óleo pesado produzem, em geral, maior impacto de toxicidade humana.
O trabalho destaca a importância da transparência de dados para promover a reprodutibilidade de estudos
ambientais e o benefício da transição energética para fontes renováveis, que contribuirá para o desenvolvimento
de uma cadeia de produção mais sustentável.

ABSTRACT
The monitoring of the processes during the production of asphalt mixtures has the potential to facilitate the
reduction of environmental impacts in the transportation infrastructure sector. This study analyzed different asphalt
plant configurations, focusing on the fuel consumption, and performed a Life Cycle Analysis (LCA) according to
ISO 14040, ISO 14044, and EN 15804 standards. Using the SimaPro software, impact indicators of climate change,
human toxicity, and use of fossil resources were quantified. It was found that plant configurations that prioritize
the use of electricity as the energy source tend to present better performance in the analyzed impacts, while those
using heavy oil promote, in general, higher human toxicity impacts. The research highlights the importance of the
transparent dissemination of data to facilitate the reproducibility of environmental studies and the transition to
renewable energy sources, which will contribute for the development of a more sustainable production chain.

1. INTRODUÇÃO
Os efeitos provocados pelas emissões excessivas de gases de efeito estufa (GEE), como o
aquecimento global, transformaram-se em uma importante questão ambiental em todo o mundo.
O Acordo de Paris, de 2015, apela para que os países se esforcem para limitar o aumento da
temperatura média global a 1,5°C até 2045, quando comparado ao nível pré-industrial (IPCC,
2018, UNFCCC, 2015). Neste contexto, o transporte rodoviário requer atenção especial, pois
além de ser o principal meio de transporte da atualidade, contribui com 82,70% das emissões
de GEE no setor de transporte (XUE et al., 2019). Uma das principais fontes de emissões de
GEE neste setor é o consumo de matérias-primas e combustíveis fósseis (Yao et al., 2022).

Estima-se que cerca de 25 milhões de quilômetros adicionais de estradas e rodovias serão


construídos no mundo até 2050 (Laurance et al., 2014). O rápido aumento na demanda de

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energia e na redução dos impactos ambientais nos últimos anos requer o desenvolvimento
global de sistemas de baixo carbono e baixo consumo de energia (Gulotta et al., 2019). Para
aumentar a sustentabilidade do setor de transportes, é fundamental avaliar os impactos
ambientais, ecológicos e sociais associados à infraestrutura rodoviária ao longo de seu ciclo de
vida. Logo, a redução do consumo de combustíveis e a mitigação dos impactos ambientais
tornaram-se metas-chave das políticas governamentais.

Contudo, na maior parte das vezes, as usinas selecionam os combustíveis considerando apenas
fatores como a disponibilidade e o custo, sem levar em conta as consequências ambientais,
gerando uma falta de padrão ao redor do globo. Um exemplo disso é a França, onde existem
usinas operando com gás natural (Ventura et al., 2009), a China, com carvão e eletricidade (Ma
et al., 2016) e, o Brasil, onde há uma grande variedade de fontes de energia, incluindo, além
das mais tradicionais, o uso de gás natural, GLP, óleos leves ou pesados, querosene e outros
(Ammann, 2020; Mascarenhas et al.,2023).

É sabido que etapa de produção da mistura é amplamente classificada como a mais impactante
do ponto de vista ambiental por seu alto consumo de combustíveis fósseis e o uso de outras
formas de energia, como a eletricidade, para o funcionamento da usina como um todo, incluindo
o aquecimento dos agregados (Wang et al., 2015; Ma et al., 2016; Alzard et al., 2019). Este
artigo analisa os tipos de combustíveis utilizados nesse processo de produção, possibilitando ao
empreiteiro identificar o tipo de usina mais eficiente do ponto de vista ambiental, considerando
que a produção de mistura asfáltica é o hotspot do processo.

2. MÉTODO DE PESQUISA
O método de pesquisa deste trabalho foi dividido em três etapas: (i) coleta de dados para
identificar os tipos de combustíveis utilizados em usinas de misturas asfálticas de diferentes
países; (ii) modelagem das usinas e (iii) avaliação dos impactos do ciclo de vida por meio do
programa SimaPro v. 9.5.0.

2.1. Avaliação do Ciclo de Vida


A estrutura metodológica da ACV foi delineada de acordo com as diretrizes estabelecidas nas
normas ISO 14040 (ISO, 2006a), ISO 14044 (ISO, 2006b) e EN 15804 (EN, 2012). Dessa
forma, a modelagem da ACV realizada neste estudo foi dividida em: definição de objetivo e
escopo, determinação da unidade funcional, análise do Inventário de Ciclo de Vida (ICV) e
Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV). Estas etapas são seguidas pela interpretação
dos resultados.

2.1.1. Objetivo e escopo


O objetivo deste trabalho é realizar uma ACV de desempenho ambiental da produção de
misturas asfálticas em diferentes usinas. Considerou-se o escopo "do portão ao portão", ou seja,
focado no processo de usinagem da mistura, a fim de analisar o impacto ambiental desta etapa
do ciclo de um pavimento, considerando as variadas configurações energéticas de usinas em
diversos países. Além disso, busca-se destacar a importância da coleta de dados nessa etapa do
ciclo de vida e demonstrar como a mudança de combustíveis e configurações da mistura
impactam no desempenho ambiental da usina.

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2.1.2. Unidade Declarada (UD)
A UD definida representa o valor de referência para o qual o desempenho de um sistema é
quantificado em um estudo de ACV. Ao não garantir o mesmo desempenho e funcionalidade
das misturas que serão produzidas, optou-se por declarar uma unidade com base na
produtividade da usina, neste caso, foi adotado um valor de 1 m³ de mistura asfáltica produzida.
A padronização da unidade funcional é um componente que permite comparar diferentes
estudos de ACV em pavimentação asfáltica (Santero et al., 2011; Yu et al., 2018; Krau et al.,
2021).

2.1.3. Programa, métodos e indicadores de avaliação de impacto


Os impactos do ciclo de vida são calculados usando o programa SimaPro v. 9.5.0, com a
biblioteca “allocation, cut-off by classification - unit” do Ecoinvent v. 3.9.1. O método
selecionado foi o “EN 15804 + A2 (adapted) V1.00 / EF 3.1 normalization and weighting set”,
por ser usual no setor de construção. É classificado como midpoint e fornece a análise de até 27
impactos.

Entre as categorias de impacto ambiental disponíveis, foram selecionadas as de maior


relevância quantitativa e qualitativa em relação aos cenários definidos, ou seja:

- Potencial de Mudança climática (kg CO2eq);


- Potencial de Toxicidade Humana, cancerígena (CTUh);
- Potencial de Uso de Recursos Fósseis (MJ).

Os procedimentos de alocação empregados são referentes ao método e biblioteca selecionados


nesta metodologia. Todas as cargas energéticas e ambientais são atribuídas à UD adotada
(Ardente & Cellura, 2012).

2.1.4 Qualidade dos dados e Inventário do Ciclo de Vida (ICV)


Os dados foram coletados a partir de uma revisão sistemática da literatura, conduzida com o
programa StArt. Para a coleta, foi definido o protocolo de pesquisa apresentado na Tabela 1. A
pré-seleção foi realizada a partir dos títulos e resumos e a seleção definitiva, a partir da leitura
completa dos artigos que contivessem os dados necessários para a modelagem das usinas.

Tabela 1: Protocolo de revisão sistemática dos dados


Parâmetro Obtenção.
Objetivo Quantificar o consumo de combustíveis por usinas de misturas asfálticas.
Questão de pesquisa: Quanto de energia cada tipo de combustível está demandando para a produção das
misturas asfálticas?
Palavras-chave: Consumption, energy, fuel, asphalt mixture.
Critério de seleção da Possuir artigos que contenham os níveis de consumo de combustível na produção de
base de dados: misturas asfálticas e permitir a exportação no formato BibTeX.
Linguagem: Inglês e português.
Método de busca: Busca pelas palavras-chave (strings) nas bases de dados, exportação dos artigos em
formato BibTeX e importação para a ferramenta StArt. Depois, aplicação dos critérios
de inclusão e exclusão, produzindo a relação dos estudos relevantes para a pesquisa.
Bases de dados: Web of Science e Scielo.

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Tabela 1: Protocolo de revisão sistemática dos dados (conclusão)
Parâmetro Obtenção.
Critérios de inclusão: (I) Abordar o consumo de combustível na produção de mistura asfáltica;
(I) Ter diferentes tipos de misturas avaliadas;
(I) Discriminar o tipo de combustível utilizado.

Critérios de exclusão: (E) Não descrever o método de análise;


(E) Não estar disponível integralmente (full paper);
(E) Não identificar o combustível utilizado;
(E) Não apresentar o consumo de combustível;
(E) Estar duplicado.
Tipos de estudo: Artigos científicos.
Seleção inicial: Com base nos resumos (abstracts) e nos títulos (titles) dos estudos.
Extração de dados: i) Qual o tipo de mistura asfáltica?
ii) Qual o tipo de combustível?
iii) Qual o consumo de energia do combustível?

Foram coletados, inicialmente, 26 artigos que continham as strings definidas. Contudo, na etapa
de extração de dados, apenas oito artigos permaneceram, por conterem os dados que precisavam
ser extraídos para a modelagem. Com esses artigos, foi elaborado o ICV.

Os dados qualitativos e quantitativos a serem incluídos no inventário foram coletados para cada
processo elementar incluído na fronteira do sistema e utilizados para quantificar as entradas e
saídas de um processo elementar. O ICV foi realizado para quantificar os consumos de energia
e combustíveis, por meio de balanços de massa e energia da UD selecionada para cada cenário
do sistema que foi examinado. Estes consumos foram adotados como inputs na modelagem.

A Tabela 2 descreve os consumos necessários para o funcionamento da usina. As usinas foram


nomeadas com letras de “A” até “L”. Os dados reúnem os consumos de acordo com o tipo de
combustível e a sua respectiva unidade. Informações complementares como o país de origem
também influenciam a modelagem, como demonstrado na Tabela 3. Ademais, informações
sobre a temperatura da mistura (quente ou morna) e diferentes materiais que a compõem foram
adicionados a fim de facilitar a posterior interpretação dos resultados.

Tabela 2: ICV das usinas asfálticas


Fonte energética (consumo por tonelada) Informações
Cód. Referência País
EL GP OP GN GM adicionais
Farina et al. 4,25
(A) IT - - - 10,8 m³ HMA
(2017) kWh
Santos et al.
(B) FR - - 255 MJ - - HMA
(2018)
(C) Birrer (2019) CH 8,6 kWh - - 216 MJ - HMA
HMA + 45%
(D) Vega et al. CO - - 231,8 MJ - -
RAP
(2020)
(E) CO - - 241,4 MJ - - HMA
Moretti et al. 5,4 Bio-asfalto
(F) NL 5,6 kWh - - -
(2022) Nm³* (com lignina)
(G) Yue et al. (2022) CH - - 267 MJ - - -
Mascarenhas et 0,25
(H) BR 0,053 MJ 239 MJ - - HMA + RAP
al. (2023) kWh

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Tabela 2: ICV das usinas asfálticas (conclusão)
Fonte energética (consumo por tonelada) Informações
Cód. Referência País
EL GP OP GN GM adicionais
0,19
(I) CL 7,9 kWh - 207 MJ - HMA
MJ
0,19
(J) CL 7,3 kWh - 188 MJ - WMA
Martinez-Soto et MJ
al. (2023) 0,17
(K) CL 7,1 kWh - 184 MJ - WMA +
MJ
0,16 WMA + 30%
(L) CL 6,8 kWh - 176 MJ -
MJ RAP
(*) Foi adotado que 1m3 de gás natural corresponde a 37 MegaJoule (MJ).
Nota: EL: Eletricidade; GP: Gás Propano; OP: Óleo Pesado; GN: Gás Natural; GM: Gás Metano; BE: Bélgica,
BR: Brasil, CH: Suíça; CL: Chile; CO: Colômbia ; FR: França ; IT: Itália; NL: Holanda.

Tabela 3: Resumo dos dados adotados da biblioteca Ecoinvent


Dado Unidade Referência

Calor, distrital ou industrial, exceto gás natural {Europa sem Suíça} | produção
de calor, óleo combustível pesado, em forno industrial de 1MW | Corte, U | “Heat,
MJ B
district or industrial, other than natural gas {Europe without Switzerland}| heat
production, heavy fuel oil, at industrial furnace 1MW | Cut-off, U”

Eletricidade de média tensão {BE, BR, CO, CH, CL, IT, NL} | mercado da A, C, D, E,
eletricidade de média tensão | Corte, U | “Electricity, medium voltage {BE, BR, kWh F, H, I, J, K,
CO, CH, CL, IT, NL} | market for electricity, medium voltage | Cut-off, U” L

Calor, central ou em pequena escala, biometano {CH, Europa sem Suíça}|


mercado de aquecimento central ou de pequena escala, biometano | Corte, U |
MJ A
“Heat, central or small-scale, biomethane {CH, Europe without Switzerland}|
market for heat, central or small-scale, biomethane | Cut-off, U”

Calor, distrital ou industrial, exceto gás natural {RoW}| produção de calor,


propano, em forno industrial >100kW | Corte, U” | “Heat, district or industrial,
MJ H
other than natural gas {RoW}| heat production, propane, at industrial furnace
>100kW | Cut-off, U”

Calor, urbano ou industrial, exceto gás natural {CH, RoW} | produção de calor,
óleo combustível pesado, em forno industrial de 1MW | Corte, U | “Heat, district
MJ G, H, J, K
or industrial, other than natural gas {CH, RoW} | heat production, heavy fuel oil,
at industrial furnace 1MW | Cut-off, U”

Aquecimento central ou de pequena escala, gás natural {CH, Europa sem Suíça,
GLO}| mercado de aquecimento, central ou de pequena escala, de gás natural |
C, F, I, J, K,
Corte, U| “Heat, central or small-scale, natural gas {CH, Europe without MJ
L
Switzerland, GLO}| market for heat, central or small-scale, natural gas | Cut-off,
U”

Calor, distrital ou industrial, gás natural {IT}| co-geração de calor e energia, gás
natural, central convencional, 100 MW eléctricos | Corte, U | “Heat, district or
MJ A
industrial, natural gas {IT}| heat and power co-generation, natural gas,
conventional power plant, 100MW electrical | Cut-off, U”

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Quando disponíveis, os dados dos combustíveis utilizados foram considerados com base no
país de referência. Por exemplo, dados disponíveis para o consumo de diesel no Brasil foram
adotados para usinas localizadas no Brasil (BR). No caso em que esses dados específicos não
estavam disponíveis, foram utilizados dados globais (GLO) ou dados referentes ao restante do
mundo (Rest of the World, RoW, em inglês).

Destaca-se que a fase de fabricação corresponde aos processos para produzir misturas asfálticas
na usina. Dados secundários de consumo de energia e combustível foram obtidos a partir da
literatura. Como mostra a Tabela 3, foram selecionadas usinas de mistura asfáltica de diversos
países, cujo impacto pode ser modelado utilizando o banco de dados do Ecoinvent.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Depois de inseridos os dados no programa e definidas as configurações do uso dos
combustíveis, foram quantificados os impactos de mudança climática, toxicidade humana e uso
de recursos fósseis. A categoria de impacto de mudança climática está relacionada com as
emissões de GEE, em unidade equivalente de dióxido de carbono para a atmosfera. O modelo
de caracterização desenvolvido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) foi selecionado para o desenvolvimento de fatores de caracterização. Os fatores são
expressos como Potencial de Aquecimento Global para horizonte de tempo de 100 anos (Global
Warming Potential, GWP100, em inglês), expresso em kg de dióxido de carbono/kg de
emissão. A abrangência geográfica deste indicador é global.

A Figura 1 mostra as configurações de consumo de combustíveis que apresentaram maior


impacto de mudança climática, que foram as usinas A, G e B. Entre essas três, apenas a primeira
teve a configuração de sua fonte energética diferente. As demais funcionaram à base somente
de óleos pesados.

45
Impacto de mudança climática [kg CO2 eq/

40 37.75

35

30 28.50
25.44 25.11
23.91 22.88 22.37
25
UD]

21.40
20.28
20 17.98
15.67 15.24
15

10

0
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Cenário

Figura 1: Impacto na mudança climática

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As usinas que apresentaram menor impacto foram E, D e F. Diferente do esperado, as usinas
configuradas para a produção de misturas mornas não apresentaram desempenho ambiental
superior a algumas destas que focaram na produção de misturas quentes. Esse comportamento
se deve provavelmente à utilização do óleo pesado e à combinação de combustíveis, o que
evidencia a importância da seleção da fonte energética no balanço final do impacto.

Esta categoria de impacto de mudança climática representa o efeito dos GEE nos seres
humanos, em específico de fatores com potencial cancerígeno. Riscos à saúde decorrentes da
exposição ao ambiente de trabalho não estão incluídos. Para cada substância tóxica utilizada,
existem os Potenciais de Toxicidade Humana (Human Toxicity Potentials, HTP, em inglês). A
abrangência geográfica deste indicador determina o destino de uma substância e pode variar
entre escalas local e global.

Neste impacto, as configurações de usina com maior expressividade foram as que priorizaram
o uso de óleo pesado, que é um combustível econômico e altamente eficiente (Helgason et al.,
2020; Ganji & Ghassemi, 2023). O óleo pesado tem um alto teor de enxofre, o que contribui
para a liberação de dióxido de enxofre (SO2) e outros compostos de enxofre durante a
combustão. Essas emissões estão associadas a problemas respiratórios (Nazari et al., 2012).
Observa-se que as configurações que priorizam o uso de eletricidade tiveram melhor
desempenho nesta categoria de impacto, como mostra a Figura 2.

8.0E-09

7.0E-09 6.5E-09 6.7E-09


6.1E-09
Impacto de toxicidade humana

5.8E-09
(cancerígena) [CTUh/UD]

6.0E-09
5.3E-095.2E-09
5.0E-09
5.0E-09

4.0E-09

3.0E-09
1.9E-09 1.7E-09
2.0E-09 1.4E-091.3E-09
1.2E-09
1.0E-09

0.0E+00
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Cenário
Figura 2: Impacto na toxicidade humana, considerando o potencial cancerígeno

Os combustíveis fósseis são matérias-primas para a produção de energia. Tais recursos naturais
não renováveis são originados de restos orgânicos acumulados na crosta terrestre ao longo de
milhões de anos. Segundo Huang et al. (2013), o uso do ligante, mesmo que em baixa
quantidade, representa uma contribuição substancial para o impacto causado pelo uso de
recursos fósseis. Um fator importante relacionado ao uso de recursos fósseis é o potencial do
combustível, que varia de acordo com o produto derivado do petróleo e é indicado pelo poder

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calorífico, representado tipicamente em MJ.

Ao analisar esta categoria de impacto, observou-se que as configurações das usinas G, B , H


e I obtiveram maior expressividade neste impacto. As três primeiras foram as que priorizaram
o óleo pesado em maiores quantidades, já a última também apresentou em sua fonte energética
o uso de eletricidade e GN.

4.0E+02
Impacto do uso de recursos fosseís [MJ/UD]

3.5E+02 3.2E+02
3.1E+02 3.0E+02
2.9E+02
3.0E+02 2.8E+02 2.8E+02
2.7E+02
2.6E+02 2.6E+02
2.5E+02

2.0E+02
1.4E+02
1.5E+02 1.4E+02

1.0E+02 8.3E+01

5.0E+01

0.0E+00
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Cenário
Figura 3: Impacto do uso de recursos fósseis

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou 12 configurações de usinas asfálticas, cujas informações foram obtidas
em 8 artigos científicos. Constatou-se uma consistência quanto a ordem de grandeza das usinas
avaliadas, podendo ser considerada como um indicador positivo, evidenciando um certo grau
de concordância entre diferentes tipos de usinas. A seleção de publicações foi limitada a 8
artigos científicos pela falta de transparência na exposição dos dados do inventário do ciclo de
vida, impossibilitando a reprodutibilidade dos resultados na metodologia de avaliação de
impacto adotada.

Foi observado que a escolha do tipo de combustível utilizado pode otimizar o impacto de
mudança climática e o impacto de uso de recursos fósseis, podendo apresentar uma redução de
até 59% e 56%, respectivamente. Mudanças ainda mais significativas foram observadas no
impacto de saúde humana (cancerígena), atingindo redução de 82% entre os cenários
apesentados. Enfatizando a importância de promover a tomada de decisão baseada não só em
aspectos financeiros, mas também visando os impactos atrelados aos combustíveis selecionados
para o processo de produção da mistura asfáltica.

Os resultados indicaram que as configurações de usinas que priorizam o uso de eletricidade


como fonte de energia apresentam um melhor desempenho nos impactos analisados. Isso
ressalta a importância de promover práticas sustentáveis na indústria asfáltica, como a transição

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para fontes de energia renovável e o uso eficiente da eletricidade. Essas abordagens podem
contribuir significativamente para a redução dos impactos ambientais e para a criação de uma
cadeia de produção de asfalto mais sustentável e responsável.

Agradecimentos
Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), da Agência Nacional do Petróleo (ANP), por meio do Programa Interdepartamental de Tecnologias
Digitais para o setor de Petróleo e Gás (PRH-4), e do CENPES/PETROBRAS.

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Marcela Maria Toscano Krau (marcela.krau@coc.ufrj.br)


Clara Rayssa Romero Rodrigues Souza (clara.souza@coc.ufrj.br)
Bruno Cavalcante Mota (bruno.mota@coc.ufrj.br)
Francisco Thiago Sacramento Aragão (fthiago@coc.ufrj.br)
Programa de Engenharia Civil - COPPE
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Luan Santos (luan.santos@pep.ufrj.br)


Programa de Engenharia de Produção - COPPE
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Luis Alberto Herrmann do Nascimento (luisnascimento@petrobras.com.br)


Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello - CENPES
Petrobras

https://proceedings.science/p/174497?lang=pt-br
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