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RESUMO
O monitoramento dos processos na etapa de produção de misturas asfálticas tem potencial redutor de impactos
ambientais no setor de infraestrutura de transportes. Este estudo analisou diferentes configurações de usinas
asfálticas, focando no consumo de combustível, e realizou uma Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de acordo com
as normas ISO 14040, ISO 14044 e EN 15804. Utilizando o software SimaPro, foram quantificados os indicadores
de impactos de mudança climática, toxicidade humana e uso de recursos fósseis. Constatou-se que as usinas que
priorizam o uso de eletricidade como fonte de energética principal tendem a apresentar melhor desempenho
ambiental, enquanto aquelas que utilizam óleo pesado produzem, em geral, maior impacto de toxicidade humana.
O trabalho destaca a importância da transparência de dados para promover a reprodutibilidade de estudos
ambientais e o benefício da transição energética para fontes renováveis, que contribuirá para o desenvolvimento
de uma cadeia de produção mais sustentável.
ABSTRACT
The monitoring of the processes during the production of asphalt mixtures has the potential to facilitate the
reduction of environmental impacts in the transportation infrastructure sector. This study analyzed different asphalt
plant configurations, focusing on the fuel consumption, and performed a Life Cycle Analysis (LCA) according to
ISO 14040, ISO 14044, and EN 15804 standards. Using the SimaPro software, impact indicators of climate change,
human toxicity, and use of fossil resources were quantified. It was found that plant configurations that prioritize
the use of electricity as the energy source tend to present better performance in the analyzed impacts, while those
using heavy oil promote, in general, higher human toxicity impacts. The research highlights the importance of the
transparent dissemination of data to facilitate the reproducibility of environmental studies and the transition to
renewable energy sources, which will contribute for the development of a more sustainable production chain.
1. INTRODUÇÃO
Os efeitos provocados pelas emissões excessivas de gases de efeito estufa (GEE), como o
aquecimento global, transformaram-se em uma importante questão ambiental em todo o mundo.
O Acordo de Paris, de 2015, apela para que os países se esforcem para limitar o aumento da
temperatura média global a 1,5°C até 2045, quando comparado ao nível pré-industrial (IPCC,
2018, UNFCCC, 2015). Neste contexto, o transporte rodoviário requer atenção especial, pois
além de ser o principal meio de transporte da atualidade, contribui com 82,70% das emissões
de GEE no setor de transporte (XUE et al., 2019). Uma das principais fontes de emissões de
GEE neste setor é o consumo de matérias-primas e combustíveis fósseis (Yao et al., 2022).
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energia e na redução dos impactos ambientais nos últimos anos requer o desenvolvimento
global de sistemas de baixo carbono e baixo consumo de energia (Gulotta et al., 2019). Para
aumentar a sustentabilidade do setor de transportes, é fundamental avaliar os impactos
ambientais, ecológicos e sociais associados à infraestrutura rodoviária ao longo de seu ciclo de
vida. Logo, a redução do consumo de combustíveis e a mitigação dos impactos ambientais
tornaram-se metas-chave das políticas governamentais.
Contudo, na maior parte das vezes, as usinas selecionam os combustíveis considerando apenas
fatores como a disponibilidade e o custo, sem levar em conta as consequências ambientais,
gerando uma falta de padrão ao redor do globo. Um exemplo disso é a França, onde existem
usinas operando com gás natural (Ventura et al., 2009), a China, com carvão e eletricidade (Ma
et al., 2016) e, o Brasil, onde há uma grande variedade de fontes de energia, incluindo, além
das mais tradicionais, o uso de gás natural, GLP, óleos leves ou pesados, querosene e outros
(Ammann, 2020; Mascarenhas et al.,2023).
É sabido que etapa de produção da mistura é amplamente classificada como a mais impactante
do ponto de vista ambiental por seu alto consumo de combustíveis fósseis e o uso de outras
formas de energia, como a eletricidade, para o funcionamento da usina como um todo, incluindo
o aquecimento dos agregados (Wang et al., 2015; Ma et al., 2016; Alzard et al., 2019). Este
artigo analisa os tipos de combustíveis utilizados nesse processo de produção, possibilitando ao
empreiteiro identificar o tipo de usina mais eficiente do ponto de vista ambiental, considerando
que a produção de mistura asfáltica é o hotspot do processo.
2. MÉTODO DE PESQUISA
O método de pesquisa deste trabalho foi dividido em três etapas: (i) coleta de dados para
identificar os tipos de combustíveis utilizados em usinas de misturas asfálticas de diferentes
países; (ii) modelagem das usinas e (iii) avaliação dos impactos do ciclo de vida por meio do
programa SimaPro v. 9.5.0.
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2.1.2. Unidade Declarada (UD)
A UD definida representa o valor de referência para o qual o desempenho de um sistema é
quantificado em um estudo de ACV. Ao não garantir o mesmo desempenho e funcionalidade
das misturas que serão produzidas, optou-se por declarar uma unidade com base na
produtividade da usina, neste caso, foi adotado um valor de 1 m³ de mistura asfáltica produzida.
A padronização da unidade funcional é um componente que permite comparar diferentes
estudos de ACV em pavimentação asfáltica (Santero et al., 2011; Yu et al., 2018; Krau et al.,
2021).
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Tabela 1: Protocolo de revisão sistemática dos dados (conclusão)
Parâmetro Obtenção.
Critérios de inclusão: (I) Abordar o consumo de combustível na produção de mistura asfáltica;
(I) Ter diferentes tipos de misturas avaliadas;
(I) Discriminar o tipo de combustível utilizado.
Foram coletados, inicialmente, 26 artigos que continham as strings definidas. Contudo, na etapa
de extração de dados, apenas oito artigos permaneceram, por conterem os dados que precisavam
ser extraídos para a modelagem. Com esses artigos, foi elaborado o ICV.
Os dados qualitativos e quantitativos a serem incluídos no inventário foram coletados para cada
processo elementar incluído na fronteira do sistema e utilizados para quantificar as entradas e
saídas de um processo elementar. O ICV foi realizado para quantificar os consumos de energia
e combustíveis, por meio de balanços de massa e energia da UD selecionada para cada cenário
do sistema que foi examinado. Estes consumos foram adotados como inputs na modelagem.
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Tabela 2: ICV das usinas asfálticas (conclusão)
Fonte energética (consumo por tonelada) Informações
Cód. Referência País
EL GP OP GN GM adicionais
0,19
(I) CL 7,9 kWh - 207 MJ - HMA
MJ
0,19
(J) CL 7,3 kWh - 188 MJ - WMA
Martinez-Soto et MJ
al. (2023) 0,17
(K) CL 7,1 kWh - 184 MJ - WMA +
MJ
0,16 WMA + 30%
(L) CL 6,8 kWh - 176 MJ -
MJ RAP
(*) Foi adotado que 1m3 de gás natural corresponde a 37 MegaJoule (MJ).
Nota: EL: Eletricidade; GP: Gás Propano; OP: Óleo Pesado; GN: Gás Natural; GM: Gás Metano; BE: Bélgica,
BR: Brasil, CH: Suíça; CL: Chile; CO: Colômbia ; FR: França ; IT: Itália; NL: Holanda.
Calor, distrital ou industrial, exceto gás natural {Europa sem Suíça} | produção
de calor, óleo combustível pesado, em forno industrial de 1MW | Corte, U | “Heat,
MJ B
district or industrial, other than natural gas {Europe without Switzerland}| heat
production, heavy fuel oil, at industrial furnace 1MW | Cut-off, U”
Eletricidade de média tensão {BE, BR, CO, CH, CL, IT, NL} | mercado da A, C, D, E,
eletricidade de média tensão | Corte, U | “Electricity, medium voltage {BE, BR, kWh F, H, I, J, K,
CO, CH, CL, IT, NL} | market for electricity, medium voltage | Cut-off, U” L
Calor, urbano ou industrial, exceto gás natural {CH, RoW} | produção de calor,
óleo combustível pesado, em forno industrial de 1MW | Corte, U | “Heat, district
MJ G, H, J, K
or industrial, other than natural gas {CH, RoW} | heat production, heavy fuel oil,
at industrial furnace 1MW | Cut-off, U”
Aquecimento central ou de pequena escala, gás natural {CH, Europa sem Suíça,
GLO}| mercado de aquecimento, central ou de pequena escala, de gás natural |
C, F, I, J, K,
Corte, U| “Heat, central or small-scale, natural gas {CH, Europe without MJ
L
Switzerland, GLO}| market for heat, central or small-scale, natural gas | Cut-off,
U”
Calor, distrital ou industrial, gás natural {IT}| co-geração de calor e energia, gás
natural, central convencional, 100 MW eléctricos | Corte, U | “Heat, district or
MJ A
industrial, natural gas {IT}| heat and power co-generation, natural gas,
conventional power plant, 100MW electrical | Cut-off, U”
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Quando disponíveis, os dados dos combustíveis utilizados foram considerados com base no
país de referência. Por exemplo, dados disponíveis para o consumo de diesel no Brasil foram
adotados para usinas localizadas no Brasil (BR). No caso em que esses dados específicos não
estavam disponíveis, foram utilizados dados globais (GLO) ou dados referentes ao restante do
mundo (Rest of the World, RoW, em inglês).
Destaca-se que a fase de fabricação corresponde aos processos para produzir misturas asfálticas
na usina. Dados secundários de consumo de energia e combustível foram obtidos a partir da
literatura. Como mostra a Tabela 3, foram selecionadas usinas de mistura asfáltica de diversos
países, cujo impacto pode ser modelado utilizando o banco de dados do Ecoinvent.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Depois de inseridos os dados no programa e definidas as configurações do uso dos
combustíveis, foram quantificados os impactos de mudança climática, toxicidade humana e uso
de recursos fósseis. A categoria de impacto de mudança climática está relacionada com as
emissões de GEE, em unidade equivalente de dióxido de carbono para a atmosfera. O modelo
de caracterização desenvolvido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) foi selecionado para o desenvolvimento de fatores de caracterização. Os fatores são
expressos como Potencial de Aquecimento Global para horizonte de tempo de 100 anos (Global
Warming Potential, GWP100, em inglês), expresso em kg de dióxido de carbono/kg de
emissão. A abrangência geográfica deste indicador é global.
45
Impacto de mudança climática [kg CO2 eq/
40 37.75
35
30 28.50
25.44 25.11
23.91 22.88 22.37
25
UD]
21.40
20.28
20 17.98
15.67 15.24
15
10
0
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Cenário
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As usinas que apresentaram menor impacto foram E, D e F. Diferente do esperado, as usinas
configuradas para a produção de misturas mornas não apresentaram desempenho ambiental
superior a algumas destas que focaram na produção de misturas quentes. Esse comportamento
se deve provavelmente à utilização do óleo pesado e à combinação de combustíveis, o que
evidencia a importância da seleção da fonte energética no balanço final do impacto.
Esta categoria de impacto de mudança climática representa o efeito dos GEE nos seres
humanos, em específico de fatores com potencial cancerígeno. Riscos à saúde decorrentes da
exposição ao ambiente de trabalho não estão incluídos. Para cada substância tóxica utilizada,
existem os Potenciais de Toxicidade Humana (Human Toxicity Potentials, HTP, em inglês). A
abrangência geográfica deste indicador determina o destino de uma substância e pode variar
entre escalas local e global.
Neste impacto, as configurações de usina com maior expressividade foram as que priorizaram
o uso de óleo pesado, que é um combustível econômico e altamente eficiente (Helgason et al.,
2020; Ganji & Ghassemi, 2023). O óleo pesado tem um alto teor de enxofre, o que contribui
para a liberação de dióxido de enxofre (SO2) e outros compostos de enxofre durante a
combustão. Essas emissões estão associadas a problemas respiratórios (Nazari et al., 2012).
Observa-se que as configurações que priorizam o uso de eletricidade tiveram melhor
desempenho nesta categoria de impacto, como mostra a Figura 2.
8.0E-09
5.8E-09
(cancerígena) [CTUh/UD]
6.0E-09
5.3E-095.2E-09
5.0E-09
5.0E-09
4.0E-09
3.0E-09
1.9E-09 1.7E-09
2.0E-09 1.4E-091.3E-09
1.2E-09
1.0E-09
0.0E+00
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Cenário
Figura 2: Impacto na toxicidade humana, considerando o potencial cancerígeno
Os combustíveis fósseis são matérias-primas para a produção de energia. Tais recursos naturais
não renováveis são originados de restos orgânicos acumulados na crosta terrestre ao longo de
milhões de anos. Segundo Huang et al. (2013), o uso do ligante, mesmo que em baixa
quantidade, representa uma contribuição substancial para o impacto causado pelo uso de
recursos fósseis. Um fator importante relacionado ao uso de recursos fósseis é o potencial do
combustível, que varia de acordo com o produto derivado do petróleo e é indicado pelo poder
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calorífico, representado tipicamente em MJ.
4.0E+02
Impacto do uso de recursos fosseís [MJ/UD]
3.5E+02 3.2E+02
3.1E+02 3.0E+02
2.9E+02
3.0E+02 2.8E+02 2.8E+02
2.7E+02
2.6E+02 2.6E+02
2.5E+02
2.0E+02
1.4E+02
1.5E+02 1.4E+02
1.0E+02 8.3E+01
5.0E+01
0.0E+00
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Cenário
Figura 3: Impacto do uso de recursos fósseis
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou 12 configurações de usinas asfálticas, cujas informações foram obtidas
em 8 artigos científicos. Constatou-se uma consistência quanto a ordem de grandeza das usinas
avaliadas, podendo ser considerada como um indicador positivo, evidenciando um certo grau
de concordância entre diferentes tipos de usinas. A seleção de publicações foi limitada a 8
artigos científicos pela falta de transparência na exposição dos dados do inventário do ciclo de
vida, impossibilitando a reprodutibilidade dos resultados na metodologia de avaliação de
impacto adotada.
Foi observado que a escolha do tipo de combustível utilizado pode otimizar o impacto de
mudança climática e o impacto de uso de recursos fósseis, podendo apresentar uma redução de
até 59% e 56%, respectivamente. Mudanças ainda mais significativas foram observadas no
impacto de saúde humana (cancerígena), atingindo redução de 82% entre os cenários
apesentados. Enfatizando a importância de promover a tomada de decisão baseada não só em
aspectos financeiros, mas também visando os impactos atrelados aos combustíveis selecionados
para o processo de produção da mistura asfáltica.
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para fontes de energia renovável e o uso eficiente da eletricidade. Essas abordagens podem
contribuir significativamente para a redução dos impactos ambientais e para a criação de uma
cadeia de produção de asfalto mais sustentável e responsável.
Agradecimentos
Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), da Agência Nacional do Petróleo (ANP), por meio do Programa Interdepartamental de Tecnologias
Digitais para o setor de Petróleo e Gás (PRH-4), e do CENPES/PETROBRAS.
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