Você está na página 1de 9

SANEAMENTO BÁSICO

Calha Parshall
Dimensões:
É um medidor que se inclui entre os de regime crítico, tendo sido idealizado por R. L. Parshall,
engenheiro do Serviço de Irrigação do Departamento de Agricultura dos EUA. Consiste em uma seção
convergente, uma seção estrangulada, ou garganta e uma seção divergente, dispostas em plantas e perfil,
como mostra a Figura 17.30.

Figura 17.30.
Os medidores Parshall são indicados, nominalmente, pela largura da seção estrangulada; assim, um
Parshall de 9 polegadas mede 0,23 m na menor seção transversal (W).
O fundo, em nível na primeira seção, é inclinado na garganta, com uma declividade de 9 vertical: 24
horizontal, qualquer que seja o tamanho.
Na seção divergente, o fundo é em aclive na razão de 1 vertical: 6 horizontal no caso de medidores de
1 a 8 pés. Para esses medidores, a diferença de nível entre montante e extremo jusante (K) é de 3 polegadas
(7,6 cm).
Os menores medidores empregados são os de 1 polegada e o maior até hoje construído mede 50 pés e
tem uma capacidade para 85000 L/s.
A Tabela 17.9 dá as dimensões padronizadas para os medidores até 10 pés.
As colunas λ e n referem-se à equação Q = λ . H n com vazão em m3/s e H, carga a montante da seção
contraída, em m.
Exemplo: Parshall de 6” Q = 0,381 . H1,580 (m³/s)
Emprego:
O medidor Parshall foi idealizado tendo como objetivo principal a irrigação; os menores tamanhos,
para regular a descarga de água distribuída às propriedades agrícolas, e os maiores, para serem aplicados aos
grandes canais de rega.
Dadas as vantagens do medidor, inúmeras são as aplicações atuais, tendo o seu emprego se
generalizado além das expectativas.
Os medidores Parshall vêm sendo aplicados ao controle de velocidade, nas caixas de areia das estações
de tratamento de esgotos. Em São Paulo, o primeiro Parshall que se tem notícia foi aplicado em uma estação
de tratamento em 1939.
Em 1947, Morgan e Ryan projetaram para Greeley, no Colorado, EUA, um Parshall modificado, que
associa as funções de um medidor às de um dispositivo de mistura rápida: dispersão de coagulantes em
tratamento de água.
A medição de vazão, tão necessária em serviços de abastecimento de água, pode ser realizada, com
relativa facilidade e ínfimo dispêndio, utilizando-se convenientemente, e sempre que possível, medidores
Parshall. O seu emprego tem sido recomendado para canais adutores, estações de tratamento, entradas em
reservatórios, etc.

Condições de descarga:
O escoamento através de um medidor Parshall pode se verificar em duas condições diferentes, que
correspondem a dois regimes distintos:
a) Escoamento ou descarga livre;
b) Afogamento ou submersão.
No primeiro caso, a descargas se faz livremente como nos vertedores, em que a via vertente independe
das condições de jusante.
No segundo caso ocorre, quando o nível de água a jusante é suficientemente elevado para influenciar e
retardar o escoamento através do medidor: é o regime comumente apontado por descarga submersa, de
características diversas daquelas que se verificam para os vertedores.
O afogamento é causado por condições de jusante, ou seja, obstáculos existentes, falta de declividade
ou níveis abrigados em trechos ou unidades subsequentes.
No caso do escoamento livre, será necessário medir-se a carga H para se determinar a vazão (Figura
17.31).

Figura 17.31.
Se o medidor for afogado, será necessário medir-se, também, uma segunda carga H 2, em ponto
próximo da seção final da garganta.
A relação H2/H constitui a razão de submersão ou a submergência. Se o valor de H 2/H for igual ou
inferior a 0,6 (60%) para os Parshall de 3, 6 ou 9 polegadas, ou, então, igual ou inferior a 0,7 (70%) para os
medidores de 1 a 8 pés, o escoamento será livre. Se esses limites foram ultrapassados, haverá o afogamento
e a vazão será reduzida. Logo, como já foi dito acima, será necessário medir as duas alturas para se calcular
a vazão. A descarga real será inferior à obtida pela fórmula, sendo indispensável aplicar uma correção
negativa.
Quando o Parshall é seguido de um canal ou de uma unidade de tratamento em que se conhece o nível
da água, a verificação do regime de escoamento no medidor é imediata, bastando calcular-se a submergência
(razão H2/H).
Na prática, sempre que possível, procura-se ter o escoamento livre, pelo fato de se ficar restrito a uma
única medição de carga. Às vezes, contudo, essa condição não pode ser conseguida ou estabelecida, devido a
circunstâncias locais ou limitações impostas.
De qualquer maneira, entretanto, a submergência nunca deverá ultrapassar o limite prático de 95%,
pois acima deste valor, não se pode contar com a precisão desejável.

Seleção de tamanho:
A seleção do medidor Parshall de tamanho mais conveniente para qualquer gama de vazões envolve
considerações, como largura do canal existente, profundidade da nesse canal, perda de carga admissível,
possibilidade de vazões futuras diferentes, etc.
Para a fixação das dimensões definitivas, pode-se partir de um tamanho escolhido inicialmente,
fazendo-se para o mesmo e para outros tamanhos próximos os cálculos e verificações pelas fórmulas e
diagramas anexos.
Como primeira indicação, convém mencionar que a largura da garganta (W) frequentemente está
compreendida entre um terço e a metade da largura dos canais existentes. Isso não se aplica, entretanto, aos
canais rasos e muito largos ou, então muito profundos e estreitos.
A Tabela 17.10 mostra os limites de aplicação para os medidores, considerando o funcionamento em
regime de escoamento livre.
Embora as submergências-limite para o escoamento livre sejam de 60% para os medidores menores
que 1 pé, e de 70% para os maiores, recomenda-se como valores práticos máximos 50 e 60%,
respectivamente, deixando-se, assim, uma margem para possíveis flutuações de vazão, garantindo-se um
ponto único de medição de carga.
Ao selecionar um medidor para condições e vazões determinadas, verifica-se que para os menores
valores de W correspondem maiores perdas de carga, consideradas sempre as submergências máximas.

Pontos de Medição:
Com o escoamento livre, a única medida da carga H, necessária e suficiente para se conhecer a vazão é
feita na seção convergente, em um ponto localizado a 2/3 da dimensão B (ou 2/3) de A.
Nessa posição, pode-se medir a altura do nível de água com uma régua, ou instala-se junto à parede,
uma escala para as leituras. Pode-se também assentar um cano de 1 ou 2 polegadas, comunicando o nível de
água a um poço lateral de medição. Nesse poço, poderá haver uma bóia acionando uma haste metálica para
indicação mecânica da vazão, ou ainda para a transmissão elétrica do valor medido à distância (Figura
17.31).
Os poços laterais de medição geralmente são de seção circular com diâmetro igual a (W + 0,15) m.
Se as condições de escoamento forem de submersão, além da medida na posição especificada
anteriormente, será necessário medir-se a altura do nível da água H 2, em ponto próximo da seção final da
garganta. Para os medidores de 6 polegadas até 8 pés, a posição para essa segunda medida deverá ficar a 2
polegadas a montante a parte final da seção estrangulada.
Se for executado um poço lateral para essa medição, o cano de ligação deverá ser assentado a uma
altura de 3 polegadas, a contar da parte mais profunda do medidor (x e y na Figura 17.31).
As duas cargas H e H2 são medidas a partir da mesma referência: cota de fundo da seção convergente.

Vantagem dos Medidores Parshall


As vantagens dos medidores Parshall, que decorrem dos fatores já apontados, podem ser resumidas
como se segue:
a) Grande facilidade de realização.
b) Baixo custo de execução.
c) Não há sobrelevação de fundo.
d) Não há perigo de formação de depósitos devidos a matérias em suspensão, sendo por isso de grande
utilidade no caso de esgotos ou de águas que carreiam sólidos em suspensão.
e) Podem funcionar como um dispositivo em que uma só medição de H é suficiente.
f) Grande habilidade em suportar submergência elevadas, sem alteração de vazão.
g) Medidores Parshall, de tamanhos os mais variados, já foram ensaiados hidraulicamente, o que
permite o seu emprego em condições semelhantes, sem necessidade de novos ensaios ou aferições.
h) Na sua execução, podem ser empregados materiais diversos, selecionando-se o mais conveniente
para as condições locais. Já foram empregados: concreto, alvenarias, madeira, metal (medidores
portáteis de tamanho até 10 pés) cimento-amianto, fibra de vidro, etc.

Fórmulas e Tabelas:
As numerosas experiências e observações feitas com medidores Parshall levaram a resultados que
correspondem a expressões do tipo:
Q = λ . Hn
A Tabela 17.11 inclui os valores do coeficiente λ para o sistema métrico. A mesma tabela apresenta os
valores do expoente n.
Assim por exemplo, para o Parshall de 1 pé, a equação de vazão no sistema métrico é:
Q = 0,690 . H1,522 (m³/s)

A Tabela 17.12 dá os valores já calculados para os medidores Parshall mais comuns.


Azevedo Netto, com base nos próprios dados de R. L. Parshall, obteve a seguinte fórmula aproximada
para esses medidores:
Q = 2,2 . W . H3/2 (m³/s)
Onde:
Q = Vazão (m³/s)
W = largura da garganta (m)
H = carga (m)

Locação dos Medidores Parshall


Os medidores Parshall devem ser localizados procurando-se evitar grandes turbulências na sua seção
inicial. Não devem por exemplo, ser instalados logo após uma comporta, ou uma curva, pois os
turbilhonamentos provocados na água poderiam causar ondas ou sobrelevações capazes de compromete a
precisão dos resultados.
O ideal é projetar tais medidores em um trecho retilíneo de canal. Se for conveniente, poderá ser
construída uma rampa inicial, com aclive de 1:4 até o início da seção convergente (Figura 17.32a).
Nessa mesma parte inicial, pode-se fazer uma concordância em planta, empregando-se seções
circulares de raio conveniente (Figura 17.32b). Para medidores menores que 1 pé, R = 0,41 m; para
medidores de 1 a 3 pés, R = 0,51 m; nos medidores de 4 a 8 pés, R = 0,61. Tomem-se os seguintes dados:
H3 = profundidade normal da água no canal;
H = carga medida no Parshall e que também pode ser determinada partindo-se da vazão;
H2 = altura que não poderá ultrapassar 60 a 70% de H em regime livre (Figura 17.32c).
Fazendo-se, por exemplo, H2 = 0,70 m, com essa submergência-limite (para uma perda de carga
mínima), o nível de água H2 será praticamente o mesmo de H3 e, nessas condições (veja Figura 17.32c):
X = H3 – 0,7 . H,
Ao fim da seção divergente pode-se ter um degrau, conforme se indica na Figura 17.32c.
As perdas de carga podem ser estimadas pelo ábaco seguinte (Figura 17.33).
A fotografia reproduzida na figura 17.32d, mostra um medidor Parshall instalado em Porto Alegre,
para a determinação da descarga de um córrego.
Figura 17.32.

Medidores Afogados
Se as condições de escoamento forem tais que se verifique o afogamento, serão necessárias as duas
medidas de nível de água para a determinação da porcentagem de submergência.
O afogamento retarda o escoamento, havendo uma redução de descarga. Nessas condições, a vazão
real será inferior àquela que se obteria pelo emprego de fórmulas ou tabelas. Para a determinação da vazão
será indispensável a aplicação de uma correção:
Vazão real = descarga livre – correção total
O ábaco da Figura 17.34 dá as correções de vazão em L/s, em função da porcentagem de
submergência, para medidores de 1 pé (W=1’).

Figura 17.33.

Para medidores maiores, as reduções indicadas devem ser multiplicadas pelos seguintes fatores:
Seja, por exemplo, o caso de um Parshall de 2 pés, em que H = 0,50 m e H 2 = 0,45. A submergência
será de: 0,45/0,50 = 90%
Para esses valores, a correção dada pelo ábaco é de 65 L/s, isto para Parshall de 1 pé. Para o caso em
questão, em que W = 2 pés, essa correção deverá ser multiplicada por 1,8, o que levará a 117 L/s.
Como a vazão normal sem afogamentos seria de 486 L/s (Tabela 17.12) a vazão real com 90% de
submergência será de: 486 – 117 = 369 L/s.

Fonte: Manual de Hidráulica. Autor: Azevedo Netto, 8ª. Edição Atualizada, 1998.

Exercícios:
1 - Com base na tabela abaixo estabeleça a Calha Parshall mais adequada para atender o município de
Marechal. Encontre a fórmula para o cálculo da vazão (Q) e determine para uma altura de 43 cm a vazão de
escoamento registrada na calha Parshall. Considere a norma ASTM 1941/75 para base de cálculos.

2 - O município de Teodoro Sampaio com população atual de 38.842 moradores, consumo per capita de
152L/hab.dia e taxa de crescimento de 1,27% ao ano apresenta, de acordo com a norma ASTM 1941/75,
Calha Parshall com garganta medindo 152,4 mm de largura. Tendo como base a presente informação
verifique:
a) O projeto estimado atenderá o consumo após 20 anos? Considere captação de 16 horas.
b) Qual será minha altura de lâmina d´água no presente momento? Considere captação de 16 horas e largura
da garganta de 152,4 mm.

3 - Em Paraguaçu Paulista, interior do estado de São Paulo foi verificado durante o ano de 2014 consumo
médio per capita de água de 135,14 L/hab.dia.
Sabendo que a cidade com aproximadamente 25300 habitantes e apresenta taxa de crescimento de
3,23% ao ano, determine a Calha Parshall indicada para o projeto de dimensionamento da ETA no
município.
Estabeleça ainda a altura de lâmina d’água e o regime de escoamento com Hb=0,2m
Métodos de medida de vazão.
Exercícios:
1 - Em um vertedor triangular instalado num canal, observou-se que a altura de água H no ponto de medição
foi de 0,4m.
a) Calcule a vazão que escoa no canal e expresse seu valor em litros por segundo.
b) A jusante do vertedor, este canal possui secção transversal A = 0,5 m 2 e escoa cheio; calcule a velocidade
média do escoamento neste trecho do canal.
c) Se usássemos um flutuador para medir a velocidade da água na superfície deste canal, que poderíamos
dizer a respeito desta velocidade em relação à velocidade média calculada no item b?

2 - Para medir a vazão de um canal, temos a possibilidade de instalar um vertedor Cipolletti (trapezoidal) ou
um vertedor triangular. Considerando que a vazão necessária é de 100 L/s, qual seria a diferença na leitura H
medida nos dois vertedores? Dados: Comprimento da soleira do vertedor Cipolletti = 0,6 m.

3 - Deseja-se saber a vazão escoada em um canal trapezoidal escavado em terra. Para tanto, utilizou-se o
método do flutuador, deixando-se uma distância de 20 m entre os pontos de medição. Uma garrafa contendo
água até a metade foi lançada no curso d’água para atuar como flutuador de superfície. Foram feitas três
medições, sendo elas de 40, 41 e 39 segundos, respectivamente. Sabe-se também que a seção do canal é
homogênea em todo percurso e que sua base superior tem 2,10 m de largura, sua base inferior a 1,60 m e a
altura de água no canal é de 1,20 m. Determine a vazão em m 3/s, considerando que a velocidade média do
escoamento corresponde a 80% da velocidade na superfície.

4 - Dimensione a largura de soleira (L) que deverá ter um vertedor retangular sem contrações laterais
instalado para atuar como extravasor de uma barragem, de modo que, nas enchentes (Q = 3m 3/s), a altura de
água não ultrapasse 0,6 m.

5 - Pretende-se medir a vazão de um rio através do método do flutuador. Para tanto, foi delimitado um
trecho de 20 m, que foi percorrido pelo flutuador em 35, 32 e 34 s. A seção transversal representativa do
trecho está na figura. Determine:
a) a seção de escoamento;
b) a velocidade média do flutuador;
c) a velocidade média do rio;
d) a vazão do rio.

1 - a) Q= 141,9 L/s; b) V = 0,28 m/s


2- h = 15 cm
3- Q = 0,888 m3/s
4- L = 3,5m.
5 - Q = 2,69 m3/s

Você também pode gostar