Você está na página 1de 8

Medidor Parshall

Medidor Parshall – Calha Parshall

Medidores em Regime Crítico

Nas calhas de medição de vazão, a água é submetida a uma concentração produzida pelas
laterais ou pela elevação do fundo do canal ou por ambas. Uma característica comum das calhas
medidoras é a formação proposital de uma onda de refluxo próximo a sua saída, o que conduz a uma
perda de carga correspondente de três à quatro vezes menor do que a que seria observada em um
vertedor de mesma capacidade.

A fórmula clássica para calculo de vazão por vertedores é: Q  cA 2 gH ,

onde : H  carga hidráulica


A  área da seção da seção.

Através de observações e experiências, os resultados obtidos correspondem a expressões do


n
tipo: Q  KH ,

onde: K  constante que depende das dimensões da calha;


n  valor que difere ligeiramente de 3/2.

Uma das grandes vantagens é que uma só medição basta para a determinação da vazão, a
perda de carga é reduzida e a forma não cria obstáculos capazes de provocar depósitos. Além disto,
não necessitam de fornecimento externo de energia, são equipamentos de baixo custo e sua
manutenção é simples, limitando-se a limpeza de seus canais.

O Medidor Parshall

A calha Parshall ou medidor Parshall, é um medidor de regime crítico, dispositivo de medição de


vazão na forma de um canal aberto com dimensões padronizadas. A água é forçada por uma garganta
relativamente estreita, sendo que o nível da água à
montante da garganta é o indicativo da vazão a ser
medida, independendo do nível da água à jusante de
tal garganta.
O medidor Parshall foi pensado para o emprego
na irrigação, os de menor tamanho para regular a
descarga de água distribuída às propriedades
agrícolas, e os maiores para serem utilizados em
grandes canais de irrigação.

Hoje é freqüentemente empregado além da


função original, como medidor de descargas
industriais, medidor de vazões, controle da
velocidade, nas caixas de areia das estações de
tratamento de esgotos e efetivo misturador de
soluções químicas nas estações de tratamento de
água.

O método de medição utiliza dispositivo com secção convergente com fundo em nível, secção
estrangulada ou garganta, com fundo em declive e secção divergente com fundo em aclive.

Hidráulica Teórica Página 106


Medidor Parshall

Os medidores Parshall são indicados, nominalmente, pela largura da seção estrangulada.


A vazão é determinada a partir da leitura da elevação do nível d’água, em uma escala ou régua,
colocada na secção convergente do canal (fig. abaixo):

Figura 01 – Esquema de um Medidor Parshall Convencional

Tabela 1 – Dimensões do Medidor Parshall (cm) e Vazão com escoamento livre (L/s)
Vazão com
W W
A B C D E F G K N X Y Escoamento
(pol) (cm)
Livre (L/s)
1'' 2,5 36,3 35,6 9,3 16,8 22,9 7,6 20,3 1,9 2,9 - - 0,3 - 5,0
3'' 7,6 46,6 45,7 17,8 25,9 45,7 15,2 30,5 2,5 5,7 2,5 3,8 0,8 - 53,8
6'' 15,2 61,0 61,0 39,4 40,3 61,0 30,5 61,0 7,6 11,4 5,1 7,6 1,4 - 110,4
9'' 22,9 88,0 86,4 38,0 57,5 76,3 30,5 45,7 7,6 11,4 5,1 7,6 2,5 - 252,0
1' 30,5 137,2 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 3,1 - 455,9
1 1/2' 45,7 144,9 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 4,2 - 696,6
2' 61,0 152,5 149,6 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 11,9 - 937,3
3' 91,5 167,7 164,5 122,0 157,2 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 17,3 - 1427,2
4' 122,0 183,0 179,5 152,5 193,8 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 36,8 - 1922,7
5' 152,5 198,3 194,1 183,0 230,3 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 45,3 - 2423,9
6' 183,0 213,5 209,0 213,5 266,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 73,6 - 2930,8
7' 213,5 228,8 224,0 244,0 303,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 85,0 - 3437,7
8' 244,0 244,0 239,2 274,5 349,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 99,1 - 3950,2
10' 305,0 274,5 427,0 366,0 475,9 122,0 91,5 183,0 15,3 34,3 - - 200,0 - 5660,0

Hidráulica Teórica Página 107


Medidor Parshall

Condições de Descarga

- Escoamento ou descarga livre;


- Afogamento ou submersão.

No primeiro caso, a descarga se faz livremente como nos vertedores, em que a veia vertente
independe das condições de jusante. Sendo suficiente medir a carga H para determinação da vazão.

No segundo caso ocorre quando o nível d’água a jusante é suficientemente elevado para
influenciar e retardar o escoamento através do medidor, neste caso faz-se necessário a leitura da escala
em duas seções, medindo também H2, em local próximo de seção final da garganta.

A razão entre H2/H, constitui valor de submersão ou submergência.

Conforme Azevedo Netto e Alvarez (1982), na tabela 1 estão indicados os valores máximos e
mínimos da vazão para os diferentes tamanhos da calha.

Uma condição importante para o funcionamento adequado de uma calha Parshall é a de que o
nível de água a jusante da calha deve ser suficientemente baixo para evitar o seu "afogamento", um
termo que indica que o nível de água a jusante da calha influi sobre o nível a montante.

Experimentalmente estabeleceu-se que, tomando-se a base da calha como referência, o nível da


água a jusante (H2) não deve exceder 60 por cento do nível de água a montante (H) para as calhas com
garganta de 3, 6 ou 9 polegadas (isto é, W até 229 mm). Para valores de W acima de 1 pé (305 mm) a
proporção máxima é de 70 por cento, ou seja, H2/H  0,60 para garganta de 3, 6 ou 9 polegadas ou
H2/H1  0,70 para garganta de 1 a 8 pés, indicam escoamento livre sem prejuízo da vazão com
afogamentos.

Sempre que possível procura-se ter um escoamento livre, pois se fica restrito a uma única
medição. Em qualquer situação o afogamento nunca deverá ultrapassar 95%.

Seleção do Medidor Parshall

A seleção do medidor Parshall mais conveniente deve considerar:


a) largura do canal na montante e na jusante,
b) vazões máxima e mínima,
c) profundidade da água no canal,
d) perda de carga admissível,
e) previsão para vazões futuras.

A largura da garganta W, via de regra, como ponto de partida, está compreendida entre 1/3 e a 1/2
da largura dos canais existentes. Deve-se observar, entretanto, que não se aplica a canais rasos e
largos ou profundos e estreitos. A tabela 1 mostra os limites de aplicação em função da vazão. Verifica-
se que para os menores valores de W correspondem às maiores perdas, considerando a submergência
máxima. Embora a submergência limite tenha sido dada entre 60% a 70%, dependendo do medidor,
recomendam-se como valores práticos máximos entre 50 e 60%. O tamanho do medidor deve ser
determinado em função da vazão estimada e de tal modo que não provoque inundação no canal de
aproximação a montante do vertedor.

Hidráulica Teórica Página 108


Medidor Parshall

Instalação – Seleção do Local

Ao selecionar o local para instalação de um medidor de vazão em escoamento livre, deve-se


verificar qual o tipo de medidor mais adequado a ser instalado no canal de descarga. Deve-se procurar
evitar grandes turbulências na sua seção inicial.
As seguintes características devem ser consideradas:
a) Adequabilidade do comprimento do canal e regularidade de sua seção transversal.
b) Evitar usar canais demasiadamente inclinados.
c) O medidor Parshall deve ser instalado precedido à montante ou por um reservatório de grande
dimensão, onde a velocidade seja sensivelmente nula, ou por um trecho de canal prismático onde o
escoamento seja uniforme.
d) Evitar instalar os medidores em canais que sofram influências de marés, descargas próximas
de rios ou córregos, ou lugares que possam ser inundados.
e) Verificar a permeabilidade do fundo do canal de escoamento onde se pretende instalar o
medidor.
f) O medidor deve ser alinhado, longe o suficiente da comporta ou curvas, para que o
escoamento na região da entrada do medidor seja uniforme e completamente livre de turbulências,
ondas ou vórtices. O medidor Parshall deve ser instalado em canais retos com paredes perfeitamente
Verticais. O canal de aproximação deve ter um trecho reto superior à 20H, a montante da garganta de
medição.
g) O fundo do canal de saída deve ser inferior ao do canal de aproximação.
h) A crista do medidor deve estar rigorosamente em nível a fim de assegurar a mesma vazão
para o mesmo nível ao longo da largura do medidor.
i) Pode-se construir com aclive de 1:4, uma rampa inicial no início da seção convergente.
j) Pode-se construir um degrau na saída ao fim da seção divergente.
k) Pode-se fazer uma concordância em planta, na parte da entrada através de raios
convenientes, por exemplo, para medidores menores do que 12” um raio de 0,41m, para medidores de
12” a 36” um raio de 0,51 e para medidores de 48” a 96” um raio de 0,61m.

Ponto de Medição

Operando-se com um escoamento livre, basta uma medida H para se conhecer a vazão. Esta
medida H é feita na seção convergente, crista, localizada a 2/3 da dimensão B ou A ( figura 01).
Na operação não desejada, porém possível, ou seja, condição de escoamento por submersão,
além da medida na crista, será preciso também uma medida H, num ponto próximo da seção final da
garganta.
Para medidores de 6“ a 96”, a posição dessa segunda medida deverá ficar a 2” a montante da
parte final da seção estrangulada.
A relação H2/H, que constitui a vazão de submersão, na prática não deve ultrapassar de 95%.
A base horizontal da calha constitui um nível de referência para o nível de água a montante.

Hidráulica Teórica Página 109


Medidor Parshall

Pode-se medir a altura do nível com uma régua, ou instala-se, junto à parede, uma escala para
leituras. Pode-se também, assentar um cano de 1 ou 2 polegadas, comunicando o nível d’água a um
poço lateral de medição. No poço pode haver uma bóia para medição mecânica da vazão, ou para
transmissão elétrica do valor medido a distância.
Os poços laterais são geralmente de seção circular com diâmetro igual a W + 0,15 m.
Se a medida de H2 for feita em poço lateral, o cano de ligação deverá ser assentado a uma altura
de 3 polegadas, a contar da parte mais profunda do medidor.

Vazão

A equação de descarga, mais freqüentemente usada para


este tipo de vertedor é dada por:
Q  2,2WH2 / 3

Onde:
Q = vazão em m³/s.
W = largura da garganta em polegadas e em pés.H = altura da
lâmina d’água em metros (m)

Foto Celta Brasil

Vantagens do Medidor Parshall

Algumas vantagens já foram citadas no início do texto, podemos então resumi-las como sendo:
a) Facilidade de realização;
b) Baixo custo de execução e de limpeza;
c) Não há sobrelevação do fundo;
d) Devido à forma não há formação de depósitos de matérias em suspensão, sendo por isso
usado para medição de esgotos ou de águas que levam sólidos em suspensão;
e) Só uma medição é suficiente, na maioria dos casos;
f) Tamanhos variados já foram ensaiados hidraulicamente, o que permite o uso sem novos
ensaios;
g) Pode ser confeccionado em material diverso.

Desvantagem

Necessitam da existência de canais de entrada nas Estações de Tratamento de Água.

Hidráulica Teórica Página 110


Medidor Parshall

Condições de Fabricação

Os medidores podem ser construídos em campo ou pré-


fabricados, observando-se dimensões pré-estabelecidas.
Podem ser fabricados nos seguintes materiais:

Concreto armado;
• Chapa de aço inoxidável;
• Chapa de aço carbono revestido;
• Resinas plásticas reforçadas com fibra de vidro

Nos medidores construídos de resinas plásticas, não se admitem roscas sobre material plástico.
As roscas devem ser feitas com enxertos rosqueados metálicos. Quando formando carcaça única,
devem ter rigidez suficiente para evitar qualquer deformação durante o funcionamento, manutenção,
transporte ou movimentação do medidor.
Os medidores pré-fabricados podem ser construídos para serem revestidos externamente com
concreto, formando estrutura única com o canal, ou para serem instalados na forma bi-apoiada nas
seções dos canais.

Uso da Calha Parshall como Misturador Rápido

A condição de que o ressalto hidráulico produz uma dissipação de energia bastante significativa
aliada ao fato de que o estreitamento da garganta do Parshall favorece a uma distribuição mais
homogênea do coagulante, são indicadores de que um Parshall seja uma boa estrutura para
funcionamento como unidade de mistura rápida.
O Parshall como proposto inicialmente apenas como medidor de vazão não produz um ressalto
hidráulico significativo o que leva o projetista, na maioria das vezes, a criar condições para que este
ressalto seja provocado na intensidade adequada a proporcionar uma boa mistura. Estas estruturas
resultantes são denominadas de Parshall modificados. Um dos expedientes mais comuns é colocar
placas no início do canal de saída de modo a "afogar" adequadamente o fluxo na saída da garganta.
Para que um Parshall seja eficiente deve-se projetá-lo de modo a que o ressalto ocorra
imediatamente a jusante de sua garganta, que o nível da água no canal a jusante esteja à altura da
soleira da seção convergente à garganta do medidor, empregar velocidades através desta garganta não
inferiores a 2,0m/s e perda de carga total superior a 0,25m. Estas condições são recomendadas para
que sejam obtidos bons gradientes de velocidade (>1000s-1) com tempos de detenção adequados.
Segundo a literatura disponível ressaltos hidráulicos com número de Froude entre 4,5 e 9,0 produzem
uma mistura rápida mais eficiente.

Hidráulica Teórica Página 111


Medidor Parshall

Exemplos

Figura - A esquerda foto de uma Calha Parshal em operação como misturador rápido.
ETA Gravatá, CAGEPA, Sistema Boqueirão-Campina Grande

Nessas figuras percebe-se que o coagulante em solução com água, é despejado na corrente de
água através de uma canaleta vazada com vários furos (tubo verde no detalhe à direita) e logo a seguir
ocorre a dispersão hidráulica na turbulenta passagem para o regime de escoamento subcrítico. Ou seja,
um ressalto hidráulico de grande turbulência, provocado na saída da calha Parshall, promove condições
adequadas para a dispersão homogênea e rápida do coagulante.
A água do Rio Batalha entra na estação através de um canal, já recebendo dosagens de sulfato
de alumínio e cal hidratada para o tratamento da água. Passa pela Calha Parshall, que é um medidor de
vazão e um misturador para os produtos adicionados e segue para a canaleta de água bruta que tem um
percurso aproximadamente de 15 metros de comprimento.
Neste percurso os produtos químicos já iniciam a reação química com as impurezas contida na
água.
Após, a água entra nos floculadores. Nesta etapa as impurezas contidas na água por terem cargas
diferentes dos produtos químicos adicionados, reagem quimicamente, formando os “flocos”.

Hidráulica Teórica Página 112


Medidor Parshall

Manutenção

A manutenção de um medidor Parshall é bastante simples, pois a formação devido a matérias em


suspensão é muito baixa, por isso de grande utilidade no caso de esgotos e águas com sólidos em
suspensão.
Porém, faz-se necessário uma vistoria cuja freqüência é estudada caso a caso, dependendo da
sua condição de operação.
Além do aspecto limpeza, observar as condições da calha propriamente dita, pois dependendo
do material de construção (se concreto, alvenaria, madeira, metal ou fibra de vidro) pode ter tempo de
vida variável.

Hidráulica Teórica Página 113

Você também pode gostar