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A Prática Clínica na Acupuntura: A Biossegurança e sua Higienização

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Andrea Barretto
Instituto de Medicina Tradicional
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A Prática Clínica na Acupuntura: A Biossegurança e sua
Higienização

The Clinical Practice in Acupuncture: The Biosecurity and its


Sanitizing

Andrea Leite Barretto Domingues1

Resumo

A acupuntura é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que ganhou


espaço devido a sua grande efetividade no tratamento de quadro dolorosos crónicos,
podendo diagnosticar e tratar com sucesso por ser um método eficaz e seguro. É uma
das formas terapêuticas mais antiga e até hoje utilizada, sendo considerada uma
Terapia Complementar de Saúde (TCS), e como um método de intervenção invasiva
através de agulhas adequadas para o procedimento, o que requer alguma atenção em
relação à antissepsia da pele, tanto do terapeuta como do paciente. Por estas razões,
alguns campos dessa prática são avaliados como a biossegurança, que é um conjunto
de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos, a
desinfeção higiénica das mãos com produtos adequados, recomendando-se o uso de
agulhas descartáveis e sem reutilização, e cuidados com as contraindicações.
Palavras-chave: Acupuntura. Biossegurança. Higienização.

_____________________
1
Licenciada em Fisioterapia Pela Faculdade Alagoana Administração - FAA/IESA (Brasil) com
Equivalência da Fisioterapia pelo Instituto Politécnico de Setúbal - IPS/ESS (Portugal); Especialista em
Acupuntura, Moxabustão e Fitoterapia Chinesa pelo Instituto de Medicina Tradicional - IMT (Portugal) e
pela Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Jiangxi (China) com Equivalência da Acupuntura
pelo Conselho Regional de Fisioterapia CREFITO (Brasil); Membro da World Federation of Chinese
Medicine Societies (WFCMS); Especialista em Fisioterapia Respiratória.

5
Abstract

Acupuncture is a technique of traditional Chinese medicine (TCM) that has gained


ground due to its great effectiveness in the treatment of chronic painful frame and can
diagnose and treat successfully by being an effective and safe method. It is one of the
oldest forms therapeutics and even used today, is considered a Complementary
Therapy Health (CTH), and as a method of invasive intervention through needles
suitable for the procedure, which requires some attention in relation to skin antisepsis,
both the therapist and the patient. For these reasons, some fields in this practice are
assessed as biosafety, which is a set of actions aimed at preventing, minimizing or
eliminating risks, hygienic hand disinfection with appropriate products, recommending
the use of disposable needles and without reuse, and care of the contraindications.
Key words: Acupuncture. Biosecurity. Sanitizing.

Introdução
A acupuntura é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que ganhou
espaço devido a sua grande efetividade no tratamento de quadro dolorosos crónicos,
sendo uma das formas terapêuticas mais antiga, e até hoje utilizada. Mostrou várias
evidências da sua efetividade, o que lhe permitiu sair do campo empírico, e instalar-se
num ambiente científico. A acupuntura compreende a integração corpo-mente como um
círculo de interação entre os aspetos emocionais e os sistemas internos, passível de
ser concretizado através de três tesouros, ou seja, a Mente, o Qi e a Essência1, 2.
Embora sejam necessários mais estudos científicos para comprovar a eficácia e
definir os mecanismos fisiológicos da acupuntura, o NIH (Instituto Nacional da Saúde
dos Estados Unidos) publicou um relatório em 1977 afirmando que “A acupuntura pode
ser útil como tratamento auxiliar, ou como uma alternativa aceitável”3.
Atualmente, é praticada no mundo inteiro, verificando-se um crescimento
significativo da sua procura, principalmente devido à simplicidade da técnica, da sua
eficácia, rapidez, bem como à procura do equilíbrio biopsíquico dos pacientes. Por
outro lado, os fatores apontados pela MTC como causadores das patologias climáticas,
emocionais e nutricionais, aplicam-se a qualquer sociedade global, assim como a
tristeza, os sentimentos de fúria, a preocupação e dor, que são aspetos básicos
transversais a qualquer ser humano2.

6
A integração de modelos de cuidados de saúde alopáticos e complementares,
para a educação e cuidados do paciente, também melhoraram na saúde. Muitas
clínicas médicas e hospitais alopáticos integraram com êxito as práticas de saúde
complementares na sua filosofia de cuidados de saúde4.

Contaminações na prática da Acupuntura


A acupuntura é considerada Terapia Complementar de Saúde (TCS) através de
uma intervenção invasiva, o que requer alguma apreensão em relação à antissepsia da
pele. O acupunturista é responsável pelos procedimentos de utilização e pela não
contaminação dos materiais, bem como pela prevenção de surtos ao praticar a técnica.
O futuro da acupuntura no Ocidente depende, em grande parte, da segurança e da
eficácia do tratamento. O estudo mostra que as infeções são causadas por
micobactérias não tuberculosas, também denominadas micobactérias atípicas e que
são distinguidas como possíveis agentes infeciosos em procedimentos de acupuntura5.
Em geral, a acupuntura é considerada um método seguro, no entanto, um
estudo recente, relata situações de transmissão de infeções, incluindo as de
micobactérias atípicas. As mulheres foram predominantes no desenvolvimento de
infeções por micobactérias, talvez por serem a maioria dos pacientes de acupuntura5.
Esse mesmo estudo revela que existem falhas no processo de investigação de
surtos ou na conduta clínica do tratamento, não só nas clínicas, onde terapias
complementares ou alternativas são realizadas, mas também nos serviços médicos
convencionais que examinam e tratam pacientes que desenvolvem infeções. Além
disso, essas fontes potenciais são associadas a falhas durante o preparo inadequado
de desinfetantes, destinados à desinfeção de instrumentos, e à falta de cuidado com a
higiene das mãos ou com a antissepsia da pele5. Assim, é recomendável o uso de
agulhas descartáveis, sem reutilização, já que o material não sofre qualquer tipo de
reprocessamento que afiance a esterilidade5.

Higiene na prática da Acupuntura


As sugestões para a acupuntura podem ser similares às do procedimento de
inserção de cateteres intravasculares apresentadas pelos Centros para Controlo e
Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (United States Centers for Disease Control
and Prevention – CDC), ou seja, higiene simples das mãos, com álcool gel
desinfetante, ou água e sabão antes de realizar o procedimento, técnica asséptica que

7
garante a esterilidade do material, e antissepsia da pele com solução de álcool5. Essas
medidas de segurança, associadas ao uso de agulhas estéreis descartáveis, são
satisfatórias para que a punção seja realizada de forma protegida por um profissional,
prevenindo surtos de infeção micobacteriana consequentes desse procedimento5, 6.
A desinfeção higiênica das mãos pode ser efetuada lavando com sabão ou
detergente e água, ou usar handrub de uma base de álcool. Se as mãos estiverem
visivelmente sujas, devem ser lavadas, sendo de referir que o álcool não penetra com
confiança no organismo. Qualquer que seja o tratamento, tem de ser compatível com o
uso frequente, sem danificar a pele5.
Diferentes produtos estão disponíveis sob o título geral de “desinfetante da pele”,
sendo também referidos como antissépticos, que significam desinfetantes compatíveis
com os tecidos vivos6.
A desinfeção higiénica das mãos é um processo de remoção da contaminação
transitória das mãos. Este tipo de descontaminação, onde a principal função é remover
a contaminação adquirida do paciente anterior, é altamente apropriada para praticantes
de acupuntura. A contaminação das mãos de um praticante com volumes muito
pequenos de sangue e soro pode ocorrer facilmente, e é capaz de transmitir a infeção,
sendo o vírus da hepatite B um dos mais transmissíveis6.
O procedimento mais adequado é aquele em que se procede à desinfeção da
pele do paciente antes da aplicação das agulhas, normalmente consistindo numa
limpeza com recurso a um cotonete embebido em álcool. A necessidade desta
categoria de desinfeção da pele e a sua eficácia têm sido questionadas. A evidência,
tal como é, e o que existe sobre esta matéria será objeto de abordagem neste estudo6.
O objetivo da preparação da pele pré-acupuntura deve ser similar ao da
preparação da pele para um procedimento pré-injeção. Geralmente, tem como
propósito esterilizar e, assim, reduzir a possibilidade de uma infeção resultante da
perfuração por uma agulha. Ambos os efeitos da preparação da pele e a probabilidade
de uma infeção após a perfuração por uma agulha estéril, são controversos6.

O efeito microbicida da preparação da pele


O agente normalmente usado para a preparação da pele para procedimento pré-
injeção é o álcool, bem como isoprapanol ou etanol diluído a 70%, sendo que o álcool
puro é um microbicida pobre. O álcool é o agente mais apropriado para esta função por
agir rapidamente e ser ativo contra todas as microfloras residentes na pele, bem como

8
a maioria dos contaminantes transitórios suscetíveis de poderem estar presentes. No
entanto, tem limitações6.
Após a penetração da agulha estéril, a espécie bacteriana mais provável de
causar infeção nestas circunstâncias é o Estafilococos aureus, um habitante ocasional
ou contaminante da pele6.

Infeção dos tecidos moles devido a Mycobacterium fortuitum


A acupuntura tornou-se amplamente aceite e praticada como uma forma
alternativa de medicina. Muitos pacientes acreditam que este tratamento seja seguro e
eficaz, no entanto, a acupuntura é um procedimento invasivo em que uma agulha é
inserida na pele, por vezes, a uma profundidade de 2-3 cm, e os efeitos adversos
incluem danos mecânicos e complicações infeciosas7.
Em relação às complicações infeciosas, devido à reutilização das agulhas sem
esterilização adequada entre cada paciente, pode ocorrer transmissão de hepatite B,
hepatite C e de HIV. A infeção bacteriana mais comum, no local de inserção da agulha,
é a celulite local (Figura 1 e 2), podendo também ocorrer infeções mais graves, como a
endocardite, abscessos epidurais espinhais, fasciite necrosante e sepse. O patógeno
bacteriano mais comum é o Estafilococos aureus. Outros micro-organismos relatados
incluem Pseudomonas aeruginosa, espécies de estreptococos e acnes
Propionbacterium7.

Figuras 1 e 2 - Lesões ulceradas no local da acupuntura

9
Controlo da Infeção
Os procedimentos de acupuntura são práticas essencialmente invasivas, que
visam provocar estímulos em zonas neurorreativas de localização anatômica
determinada, com a finalidade de obter resposta de restauração de funções orgânicas,
promoção de analgesia e modulação imune. Esses estímulos são provocados, em
geral, por agulhas de acupuntura sistêmicas, instrumento filiforme perfurante, de ponta
divulsionante não cortante, de calibres e dimensões variados, destinado à perfuração
da pele, tecido subcutâneo e tecido muscular, tendo como objetivo atingir a zona
neurorreativa, que são chamados de pontos de acupuntura8.
Por perfurarem a pele e tecido do paciente, as agulhas utilizadas em acupuntura
devem ser consideradas artigos críticos, devendo ter-se sempre presente o risco
potencial de carrear microrganismos causadores de infeção. No sentido de minimizar
ou anular eventuais riscos, devem ser tomados cuidados especiais na escolha das
agulhas a utilizar, verificando a sua origem, esterilização, embalagem e conservação
antes do seu manuseio, evitando assim contaminações8.
Existem, no entanto, poucos relatos de casos de contaminação devido ao uso de
agulhas de acupuntura, mostrando que essa técnica é eficaz e segura, mas nunca sem
descurar os cuidados acima referidos8.

Biossegurança
“A BIOSSEGURANÇA é um conjunto de ações voltadas para a prevenção,
minimização ou eliminação de riscos inerentes as atividades de pesquisa, produção,
ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, riscos que podem
comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio-ambiente ou da qualidade de
vida dos trabalhos desenvolvidos.”
(Comissão de Biossegurança da Fiocruz)

No referido artigo, as especificidades sobre a técnica de biossegurança, foram


extraídas a partir da prática da Clínica Escola de Terapias Naturais Santa Clara do
Centro Integrado de Estudos e Pesquisas do Homem (CIEPH) Santa Catarina - Brasil,
por se tratar de uma técnica ainda muito recente e por desconhecer literaturas
específicas sobre biossegurança na prática de Acupuntura9.
O processo de biossegurança não se limita apenas ao profissional de saúde,
mas também aos seres vivos na generalidade, e ao ambiente. Tem como finalidade
prevenir a propagação de doenças infeciosas, sendo necessário e importante saber
10
que envolve de facto a procura de conceitos e princípios da sua formação,
conhecimento da realidade do seu trabalho, visão crítica da realidade, permitindo a
flexibilidade teórico-prática coerente com as mudanças. Como técnicas associadas ao
processo terapêutico e à utilização de agulhas especiais, a acupuntura exige normas
que assegurem a sua eficácia, e que previnam a violação de regras de segurança9. Os
riscos na prática da Acupuntura, podem ser classificados em químicos, físicos,
mecânicos, biológicos e ergonómicos9.
As rotinas para o controlo de infeção e Biossegurança em Acupuntura baseiam-
se na lavagem das mãos; nos cuidados com a manipulação de materiais biológicos
(uso de Equipamentos de Proteção Individual - EPIs); nas precauções essenciais na
prática da acupuntura e técnicas associadas - quanto ao diagnóstico retardado ou erro
de diagnóstico; quanto à deterioração da doença sob tratamento; quanto à dor; quanto
à qualidade das agulhas e esterilização - na conduta das técnicas de assepsia;
episódio de agulhas presas; agulha quebrada ou tortuosa; esquecimento de remoção
de agulhas; sinais como Síncope, náusea e vómitos; punturar pontos do tórax ou
músculos do ombro; técnicas de auricoloterapia; casos de aborto; tratamento de
espasmos musculares; perceção de mal-estar do cliente; casos de edema súbito ou
neurite; nas alergias e/ou paralisias; cuidados com a Moxabustão; cuidados com
Craniopuntura; cuidados com a ventosaterapia; cuidados na técnica de sangria;
Quiroacupuntura; Magnetoterapia; Massoterapia; quanto a infeções bacterianas e
virais; quanto ao laser; Eletroacupuntura; Técnica Okibari (agulhas permanentes)9.
Nos cuidados com equipamentos e superfícies - Limpeza; desinfeção;
esterilização; empacotamento; identificação; armazenamento e prazo de validade;
indicadores biológicos; indicadores físicos; indicadores químicos. No descarte e destino
de materiais perfuro-cortantes e/ou infetantes - Separação na fonte; segregação;
contenção; manuseio; acumulação; armazenamento; transporte e disposição final. E na
prevenção e manejo da exposição biológica e ocupacional9.
Adicionalmente, no âmbito da Biossegurança, realçam-se ainda o uso de
cabelos presos; calçados fechados; unhas curtas e limpas; não recapar agulhas ou
lancetas; cuidados com as agulhas reutilizadas, com a exposição na bandeja, com o
tempo de exposição ao ambiente e com o manuseio da pinça; manter janelas e portas
fechadas no momento do procedimento; cuidados com as superfícies e pisos; informar
o paciente quanto a higiene corporal9.

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Contraindicações na prática de acupuntura
Nesta prática é difícil estipular contraindicações absoluta para esta forma de
terapia, entretanto por razões de segurança, deve ser evitada as condições como na
gravidez por induzir o trabalho de parto, a perfuração e a manipulação da agulha em
determinados pontos promovem a contração uterina. Tanto a acupuntura quanto a
moxabustão são contraindicados em pontos localizados na região lombo sacra e no
baixo ventre durante os três primeiros meses de gestação e como também o último
mês. Evitar usar agulhas em crianças devido às fontanelas e na luz dos vasos
sanguíneos. Nos casos de emergências médicas e situações cirúrgicas porque o
paciente dever ser imediatamente encaminhado a uma unidade que tenha serviço de
emergência. Nos tumores malignos que nestes casos poderá ser utilizada somente
como medida complementar em combinação com outros tratamentos de quadros
álgicos, minimizando o efeito colateral da radioterapia e da quimioterapia, melhorando
a qualidade de vida do paciente. Nunca deverá ser aplicada diretamente no local do
tumor ou para tratamento dos mesmos. Nos sangramentos em pacientes que tenham
problemas de coagulação, como os hemofílicos, e em uso de anticoagulantes não
deverão receber tratamento de acupuntura10.

Danos em órgãos e sistemas


Cuidados especiais devem ser tomados nas aplicações das agulhas em pontos
próximos aos órgãos vitais ou áreas muito sensíveis. Em função dos locais particulares
para aplicação, das características das agulhas usadas, da profundidade da
penetração, das técnicas de manipulação utilizadas e das estimulações oferecidas,
ficando sujeito a alguns acidentes durante o tratamento. Em muitas situações podem
ser evitados se as adequadas precauções forem tomadas. Caso ocorram, o
acupunturista deve saber lidar com essas situações eficientemente, evitando um dano
adicional. Um dano acidental num órgão importante requer intervenção médica ou
mesmo cirúrgica10.

Ética na Acupuntura
Muitas preocupações éticas giram em torno dos quatro princípios básicos de
pesquisa como mérito e integridade, respeito ao ser humano, a ponderação de risco-
benefício e da justiça. Estes princípios formam a base para qualquer discussão sobre
ética em pesquisa humana e são aplicáveis a todas as áreas de investigação incluindo

12
acupuntura e fitoterapia chinesa. O Documento da Organização Mundial de Saúde
(OMS): Diretrizes para Pesquisa Clínica em Acupuntura, afirma que “Devem-se
considerar os diferentes sistemas de valores que estão envolvidos em direitos
humanos, como social, cultural e questões históricas, e que mais estudos devem ser
realizados sobre as questões éticas envolvidas na pesquisa clínica em acupuntura”11.
Por questões éticas, as pesquisas devem ser conduzidas ou supervisionadas
por pessoas ou equipas com experiência, qualificações e competências adequadas
para o efeito. Uma consideração importante, neste âmbito, é a habilidade e
competência do acupunturista. Infelizmente, em alguns estudos não se conseguem
empenhar praticantes competentes e qualificados. Além disso, o acupunturista deve ter
experiência no tratamento da condição que está sendo estudada. Ao relatar o estudo, a
qualificação, a duração da formação e experiência clínica do acupunturista deve ser
indicado11.

O Paciente na prática da Acupuntura


Segundo a pesquisa, o paciente deve estar em decúbito dorsal, ventral, ou
lateral, de acordo com o seu conforto e com o ponto de aplicação das agulhas. Quando
este não tolerar a posição deve-se mudar o decúbito. Se o paciente for criança, deve-
se procurar evitar realizar o tratamento na posição de sentada, a fim de evitar uma
possível lipotimia, a qual é muito rara e conceituada na perda parcial ou completa da
consciência, acompanhada da abolição das funções motoras e/ou motrizes12. O
paciente deve ser acomodado de forma confortável e orientado a permanecer
sossegado e a evitar mudança de posição abruptamente10.

Preparação através do Qi Qong


O Qi Gong foi desenvolvido nos primórdios da civilização, sendo o resultado de
milhares de anos de experiência no desenvolvimento do uso da energia vital, como o
de descobrir as possibilidades de trabalhar a respiração. Os antigos mestres
desenvolveram a arte da energia para promover a saúde, a longevidade, curar
doenças, expandir a mente, alcançar níveis diferentes da consciência e atingir a
espiritualidade. Esses conhecimentos foram adquiridos por um método de tentativas e
erros, que aos poucos, se acumularam para formar um corpo de conhecimento maior.
Nessa sequência, os exercícios foram classificados em quatro tipos, que hoje estão
misturados, são eles o Qi Gong religioso (Budista e Taoísta), o Qi Gong intelectual, o

13
Qi Gong marcial e o Qi Gong médico. Neste último, destaca-se a contribuição de Hua
Tuo, importante médico da Dinastia Han, que desenvolveu sequências para preservar e
recuperar a capacidade vital do homem, com o objetivo de desenvolver e manter a
saúde física e psíquica através da mobilização da essência e do Qi13.
Essas práticas envolvem, em geral, quatro etapas. A primeira etapa, de
Desbloqueio, liberta os canais para melhor captar as energias, fortalecer a estrutura
óssea e a medula. Na segunda etapa, de Captação, procura-se captar a energia
exterior. A terceira etapa, de Circulação, em que os movimentos favorecem a
circulação da energia captada pelos canais, para purificar, nutrir e fortalecer os órgãos
internos. A quarta etapa, de Armazenamento, quando se reserva a energia captada e
circulada nos centros energéticos, para ser usada quando necessário13.

Objetivos do Qi Qong
A prática traz benefícios cientificamente comprovados, que quanto aos níveis
emocionais, melhora a ansiedade, a raiva e o medo, aumentando a felicidade e a paz,
onde todos estes efeitos fisiológicos ocorrem através do Sistema Nervoso Central
(SNC), diminuindo a liberação dos “neurotransmissores da tensão”, como a adrenalina,
e aumentando a liberação dos “neurotransmissores da alegria” como a serotonina. E
quanto ao nível espiritual, é um ótimo exercício para compreender quem somos de
verdade, ou seja, virar-se para seu próprio interior14.
Portanto, a prática induz a capacidade de planeamento e melhora da memória,
como a clareza de pensamentos, que podem ser utilizadas na preparação do terapeuta
com finalidade de manter o seu equilíbrio tanto físico como energético para as sessões
da prática da acupuntura14.

Montagem de uma clínica


Para a montagem de uma clínica de Acupuntura são necessários vários itens,
que incluem regras, normas, legalizações, setor financeiro, setor administrativo, local
adequado, preparação do ambiente, entre outros, no entanto, segundo a pesquisa,
atualmente a maioria dos processos de registo das informações dos pacientes são
realizadas de forma manual. Na sua primeira consulta, o paciente vai a clínica,
preenche manualmente uma Ficha Clínica na qual constam seus dados pessoais e um
breve histórico clínico do mesmo. Nela constam, também, os sinais e sintomas, bem
como as observações, as anotações e o diagnóstico do médico. A Ficha Clínica é,

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portanto, o cadastro do paciente. Após o preenchimento manual da Ficha Clínica e com
base no seu diagnóstico, o terapeuta define uma quantidade de sessões necessárias
para o seu tratamento e os pontos a serem utilizados. Estas sessões são então
agendadas, e em alguns casos a primeira sessão é feita em seguida14.
Uma das grandes carências do sistema atualmente em uso é a inexistência de
relatórios. Quando há necessidade de proceder a análise estatísticas, é realizada uma
contagem manual dessas fichas15.
Assim, o estudo mostra um software desenvolvido para a Clínica de Acupuntura,
que serve para auxiliar o terapeuta. Essa informatização visa proporcionar rapidez,
praticidade e segurança no trabalho diário. Com a utilização desse sistema o
acupunturista pode ter os dados pessoais do paciente juntamente com seus dados
clínicos armazenados num computador. Contudo, todos os dados são cadastrados
digitalmente e todas as informações estarão dispostas de forma integrada, gerando um
histórico, e mesmo que demore meses ou anos para uma nova consulta, o processo de
busca será mais rápido e prático. Uma grande facilidade desse sistema é de poder
proporcionar o cadastro dos pontos dos pacientes15.

Considerações finais
Neste estudo foi demonstrado que as contaminações na acupuntura estão
presentes na prática clínica, mesmo com baixa incidência, sendo sempre necessário
todo um processo de higienização, da assepsia das mãos e da pele do terapeuta e do
paciente, como a descontaminação de materiais e equipamentos utilizados por esta
técnica. As questões sobre a biossegurança revelaram ser de extrema importância
para os profissionais de saúde, incluindo os da acupuntura, mostrando os meios
adequado de atendimento desde a entrada até a saída do paciente no ambiente
profissional, tomando sempre atenção nas contraindicações que foram apresentadas
no corpo do trabalho.
Concluiu-se ainda, ser adequada a utilização de um sistema de informação,
necessário para um trabalho mais eficaz, rápido e seguro, procurando um atendimento
de melhor qualidade aos pacientes.
Por fim verifica-se a existência de base legal reguladora dos procedimentos
associados quer a criação dos espaços profissionais, quer dos procedimentos
associados à prática clínica, motivo também gerador de confiança entre os pacientes.

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