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musicologia
Volume VIII - Dezembro de 2004
Introdução
nossa época não conta com estilo mas com tendências – não apenas na
ordem ou no plano criacional, mas na própria atitude de degustador de sons,
ritmos, formas e cores, estando assim sujeitas às imposições de cada ciclo
vital, mais do que de um período histórico determinado (PAZ, 1976, p. 28).
O termo indeterminação foi utilizado pela primeira vez por John Cage na
conferência Indeterminacy proferida em 1958 no Curso de Verão de
Darmstadt, sendo que este compositor também é considerado o precursor
da utilização do acaso (na obra Music of Changes, 1951).[1]
Baseado nas informações contidas no texto de Cage, Pritchett define a
Indeterminação como sendo: “a habilidade de uma peça em ser executada
de maneiras substancialmente diferentes – ou seja, a obra existe de tal
forma que é dada ao intérprete uma variedade de maneiras de executá-la”.
(PRITCHETT, 1995, p. 107-8).
Outros termos também utilizados são acaso e aleatório, mas eles possuem
uma definição um pouco diferente. Segundo a terminologia utilizada por
Cage em outra conferência proferida também em Darmstadt em 1958
(intitulada Changes [2]),acaso se refere ao uso de algum tipo de
procedimento ao acaso no ato da composição. Como exemplo, podemos citar
Music of Changes (1951) de Cage. Nesta obra, todos os elementos da
estrutura musical – altura, silêncio, duração, amplitude, tempo e densidade
– foram escolhidos usando cartas derivadas do I Ching, o livro chinês das
possibilidades, e pelo lançamento de moedas. Uma obra como esta, uma vez
transcrita para o papel, será sempre executada da mesma maneira.
Outro termo que é também utilizado para designar peças que se utilizam do
acaso, é aleatório, embora seja mais usado pelos compositores europeus e
tenha um significado um pouco diferente. Foi utilizado por compositores
como Pierre Boulez e Witold Lutoslawski para distinguir este movimento do
uso mais extensivo do acaso pelos compositores americanos. O termo é
definido em um sentido mais restritivo por Werner Meyer-Eppler: “um
processo é denominado aleatório quando o seu curso é determinado em
geral, mas depende do acaso nos detalhes.”(SIMMS, 1986, p. 369). Este
termo é empregado então para designar o processo da aplicação limitada da
indeterminação. Neste trabalho, considera-se então que a indeterminação
engloba o processo aleatório, e que este último deve ser empregado apenas
em um sentido histórico. A utilização do acaso, contudo, foi um movimento
que aconteceu primeiramente nos Estados Unidos no início da década de
cinqüenta, e depois teve sua contrapartida Européia (ao longo da década de
cinqüenta).
Justificativa
1. Forma variável
Uma vez que a maioria das peças utiliza novos símbolos de notação, surgiu a
necessidade de decodificar as informações dadas pelo compositor. Então o
primeiro critério foi escolhido: o estudo da notação empregado nas peças.
Análise do Material
Análise da Notação
Análise da Indeterminação
Por fim, foram relacionados os aspectos considerados pelo próprio Cage para
a classificação das peças indeterminadas, que se encontram expostos na
conferência Indeterminacy. Cage procura explicar o que considera
indeterminação, classificando as peças citadas no texto segundo os
parâmetros de estrutura, método, forma e material. É o próprio Cage que
fornece a definição destes parâmetros: “Estrutura é a divisão do todo em
partes; método é o procedimento nota-por-nota; e forma é o conteúdo
expressivo, a morfologia da continuidade” (CAGE, 1966, p.36). Como
material, Cage considera a freqüência, a amplitude, o timbre e a duração. A
duração inclui os sons e os silêncios da composição.
A. Não ambigüidade
Peça: Blirium C 9
MATERIAL
Geral O intérprete deve ‘escrever’ sua própria partitura através
de extensas e precisas instruções do compositor. O
intérprete desenha 5 linhas horizontais de no mínimo 30
centímetros em cada página de um caderno de pelo
menos 3 páginas (15 linhas). Sobre cada linha, o
intérprete marca os pontos em que serão atacadas notas,
acordes, clusters e glissandos. Além disso, o intérprete
deve escolher no momento da execução o registro, o
andamento e as citações de peças de outros
compositores. Também no momento da execução, o
grupo de três alturas a ser tocado deve ser selecionado
de acordo com a posição dos ponteiros de um relógio.
Macro Seções O compositor chama de ‘entrada’ a cada
Análise grupo de notas executado, correspondendo a
uma das linhas escritas pelo intérprete. O
compositor chama de ‘transição’ ao espaço
de tempo existente entre um grupo de notas
e outro, na qual o intérprete deve olhar seu
relógio para saber o novo grupo de notas a
ser executado. A ‘transição’ pode ser o
prolongamento de um som ou o silêncio. A
cada 5 grupos executados (entradas), o
intérprete deve incluir uma citação.
Média Compasso Não utiliza barras de divisão de compassos
Análise Altura De modo geral é atonal; nos trechos nos
quais o intérprete faz uma citação, pode
variar
Duração O compositor estipula que a duração das
notas dependerá da distância entre elas, ou
seja, a distância que o intérprete deixou
entre os pontos e traços da ‘partitura’.
(notação proporcional)
Métrica O intérprete deve dividir cada seqüência de 5
linhas horizontais (uma página) com linhas
verticais em 9 partes iguais. Durante a
execução, o intérprete não conta tempos e
nem presta atenção às divisões verticais.
Estas divisões servem para controlar o
deslocamento no tempo-espaço da música. O
compositor chama a isto de ‘métrica real’:
uma microdivisão aleatoriamente obtida.
Cada uma das divisões eqüivale a uma
pulsação (beat)
Andamento O intérprete deve variar o andamento entre
lento, moderato e allegro.
NOTAÇÃO
Tipo Notação proporcional das durações, Notação como Livro de
Regras e Notação Gráfica da partitura que o intérprete escreve.
Coloca ainda 3 quadros que contêm as informações referentes
aos grupos de notas a serem escolhidos, aos registros e aos
andamentos.
Exemplos Trecho da ‘partitura’ a ser preparada pelo intérprete
Glossário Sim
INDETERMINAÇÃO
Parcial ou total Total
Parâmetros Estrutura: Determinada
Método: Indeterminado, em razão do Material
Forma: Determinada
Material
Freqüência: Indeterminada
Amplitude: Indeterminada
Timbre: Indeterminado
Duração: Indeterminada
Grau de Alto
indeterminação
Conclusão
Referências Bibliográficas
BRINDLE, Reginald Smith. The new music – the avant-garde since 1945. 2nd
ed. New York: Oxford University Press, 1987.
COLE, Hugo. Sounds and Signs: Aspects of Musical Notation. London: Oxford
University Press, 1974.
PAZ, Juan Carlos. Introdução à música de nosso tempo. São Paulo: Duas
Cidades, 1976.
PRITCHETT, James. The music of John Cage. 3rd ed. New York: Cambridge
University Press, 1995.
SIMMS, Brian. Music of the twentieth century. 2v. New York: Schirmer
Books, 1986.
TUREK, Ralph. The elements of music. Concepts and Applications. 2v. 2nd.
Ed. New York: McGraw- Hill, 1996.
Notas
[1] Esta conferência foi transcrita em: CAGE, John. Silence. Cambridge: The
M.I.T. Press, 1966. p. 36-40.
[2] CAGE, John. Silence. Cambridge: The M.I.T. Press, 1966. p. 18-34.
[5] White chama estes três níveis de ‘análise descritiva’. Ver WHITE, 1994,
p. 20.
[6] Como a pesquisa prevê a análise de 40 peças, optou-se pela restrição do
espaço ocupado pela análise, colocando-se os dados em tabelas. Uma
análise dissertativa de cada peça ocuparia muito espaço e dificultaria a
leitura dos dados por parte do leitor.