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3. Pesquisa em etnomusicologia histórica: tendências e perspectivas.

Objetivo do tema: mostrar parte do histórico de formação da etnomusicologia, sua divergência


da musicologia comparada e a atual corrente de estudos que aproximam novamente a antiga
musicologia comparada da etnomusicologia em um híbrido denominado etnomusicologia
histórica.

Palavras-chave:

Autores de referência:

Histórico da disciplina (vide plano de aula 1)

A etnomusicologia histórica aproveita todos os métodos de análises e teorias interdisciplinares


da etnomusicologia e resgata parte da tradição da Musikwissenschaft alemã sobre a necessidade
de ampliar a observação participante com uma vasta pesquisa documental da literatura escrita e
das obras musicais. A ênfase no aspecto historiográfico surge como resposta ao enfoque
etnológico e sua metodologia presencial do fenômeno musical que, se bem enriquece a analise
graças à performance viva do contexto do objeto de estudo, não aprofunda a compreensão
histórica do mesmo. O método da etnomusicologia histórica contempla a soma da pesquisa de
material de arquivo, prática performática, estudos biográficos, estudos sociológicos, e estudos
semióticos.

A musicologia arqueológica, por exemplo, guarda muito em comum com a etnomusicologia


histórica. Aqui considerasse todo tipo de achados materiais que possam iluminar as discussões e
pesquisas acadêmicas. Artefatos que produzem sons, utensílios, vestígios de todo tipo que
possam ajudar a entender as condições e contextos materiais de determinada cultura e,
principalmente, as significações e usos da música. Estes estudos propiciam informações
necessárias para replicar instrumentos do passado, por exemplo, não assim –obviamente– sua
performance.

Em um contexto maior, existiu sim uma virada geral nas ciências humanas em relação à
abordagem historiográfica. Um livro importante como o Anthropology and History in the 1980s,
do estadunidense Bernard Cohn, questionou naquela época o fato da pesquisa antropológica –e,
de certo modo a etnomusicologica– havia se focado nas pesquisas de cultural não-ocidentais de
tradição oral e que, por esse motivo, o plano histórico dessas mesmas sociedades estudadas
tinha sido negligenciado como categoria epistemológica. Nesse sentido, o passado não era uma
variável a ser considerada nos trabalhos de campo e, na ausência de uma profundidade
cronológica, as análises encontravam explicações na comparação de práticas culturais
contemporâneas. Posteriormente, a cultura e os hábitos sociais de Ocidente influenciaram tanto
as mesmas comunidades pesquisadas que os estudos culturais antropológicos não tiveram outra
saída senão recorrer ao critério historiográfico, principalmente, para diferenciar o antes e o
depois das trocas interculturais.

A etnomusicologia histórica compreende discussões sobre enfoques historiográficos, estratégias


de busca bibliográfica, documentação histórica e biográfica, análise manuscrita, aplicações
tecnológicas (que incluem digitalização, conservação e análise de arquivos de som, imagem e
vídeo) e utilização de acervos e coleções de museus (incluindo manejo de registros sonoros,
imagens, manuscritos musicais, artefatos musicais etc.)

São seus temas de interesse as histórias orais, a dissonância cognitiva e a memória cultural,
modernismo e esquemas narrativos na escrita histórica, reconstrução do passado musical
cultural, a distorção de explicações teleológicas, a relação da musicologia e a disciplina da
história, e a predição de possíveis futuros baseando-se em práticas do passado.
Na passagem da musicologia comparada para a etnomusicologia, a antropologia cultural
estadunidense centralizou o método e análise etnográfica desta última, enquanto a musicologia
ficou com a pesquisa histórica. Este divórcio também repartiu o objeto de pesquisa, entre as
músicas não europeias e a música “clássica”.

Nomes como Charles Seeger, Bruno Nettl, Curt Sachs, Carl Engel, e mais recentemente Stephen
Blum, Philip Bohlman e Daniel Neuman, figuram entre os estudiosos que fortaleceram a
etnomusicologia histórica enquanto abordagem metodológica.

Alguns acadêmicos enxergam a etnomusicologia histórica como uma área de aplicação de


etnomusicologia que tende uma ponte entre a prática positivista da Musikwissenschaft e o
relativismo cultural da pesquisa etnológica.

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