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FACULDADE DOCTUM DE JOÃO MONLEVADE

REDE DE ENSINO DOCTUM

CLARA ELIZA HOSKEN DE OLIVEIRA


DANIELA LÍRIO COSTA
GABRIEL FELIPE DE CASTRO CASITA
LUCAS TONHELA EL YARK
PATRÍCIA APARECIDA DA SILVA

COMO OS IMIGRANTES E REFUGIADOS SE ADAPATAM ÀS ESCOLAS


BRASILEIRAS: Uma análise bibliográfica do direito à educação de estudantes
haitianos

João Monlevade
2019
1

CLARA ELIZA HOSKEN DE OLIVEIRA


DANIELA LÍRIO COSTA
GABRIEL FELIPE DE CASTRO CASITA
LUCAS TONHELA EL YARK
PATRÍCIA APARECIDA DA SILVA

COMO OS IMIGRANTES E REFUGIADOS SE ADAPATAM ÀS ESCOLAS


BRASILEIRAS: Uma análise bibliográfica do direito à educação de estudantes
haitianos

Trabalho apresentado na disciplina


Integradora do Curso de Direito da
Faculdade Doctum de João Monlevade -
Rede de Ensino Doctum, como requisito
parcial para aprovação.

Prof. Coordenadorª: Ícaro Trindade


Carvalho

João Monlevade
2019
2

RESUMO

Uma questão fundamental dos direitos humanos é a proteção de refugiados e de


imigrantes, uma vez que eles têm de garantir que os mesmos não sejam feridos.
Trata-se de assegurar a cada indivíduo os direitos inerentes à sua própria condição
humana, já que seu país de origem não quis ou não foi capaz de assegurá-los. No
cenário mundial hodierno, alguns países vivem uma instabilidade social por causa de
conflitos e, entre as consequências destes, vê-se milhões de pessoas forçadas a
deixá-los devido a perseguições políticas, sociais, em razão de sua raça, sua religião
e até mesmo por sua nacionalidade. O Brasil tem sido destino de muitos imigrantes,
entre eles os haitianos. Percebe-se que há no país uma tutela jurídica para o
imigrante ou refugiado, porém, para que a proteção e defesa dos direitos
fundamentais e da dignidade da pessoa humana sejam concretizadas, faz-se
necessário um acompanhamento mais próximo à realidade dos imigrantes no país.
Este trabalho analisa o caso de estudantes haitianos em uma escola do Rio Grande
do Sul do ponto de vista do direito à educação, com base em bibliografias. Também,
para enriquecer o trabalho, foi realizada uma entrevista aberta com uma peruana,
que cursa Arquitetura no Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Direitos Humanos, Refugiados, Imigrantes. Brasil, Educação,


Haitianos.
3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................4
2 DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 6
2.1 A DIVERSIDADE E O DIREITO: UM CONTEXTO HISTÓRICO ................. 6
2.2 DIREITOS HUMANOS: UMA RELAÇÃO MULTICULTURAL .................... 7
2.3 DIVERSIDADE CULTULRAL E MULTICULTURALISMO .......................... 8
2.3.1 O DESAFIO DA MODERNIDADE ........................................................ 8
2.3.2 A IDENTIDADE ÉTNICA DOS GRUPOS MINORITÁRIOS ................. 9
2.3.3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE .................................................. 10
2.3.4 ESPAÇO SOCIAL E MULTICULTURALISMO .................................. 12
3 ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA DO ARTIGO: “IMIGRAÇÃO, REFÚGIO E
POLÍTICAS LINGUÍSTICAS NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE ESCOLA
PLURILÍNGUE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PARTIR DE UMA
PRÁTICA EDUCACIONAL COM ESTUDANTES HAITIANOS” (BULLA, et. al.,
2007) .................................................................................................................... 14
3.1 “IMIGRAÇÃO E REFÚGIO” ...................................................................... 14
3.2 “O CASO DA IMIGRAÇÃO HAITIANA NO BRASIL E NO RIO GRANDE
DO SUL” .......................................................................................................... 15
3.4 “A ÁREA DO PLA E O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA IMIGRANTES E
REFUGIADOS”................................................................................................ 16
3.5 “O CASO DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE QUE
ACOLHEU IMIGRANTES E REFUGIADOS” ................................................. 16
4 METODOLOGIA ............................................................................................... 17
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................... 17
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 19
ANEXO ............................................................................................................... 22
4

1 INTRODUÇÃO

É primordial que se saiba que os Direitos Humanos e os Direitos


Fundamentais são divergentes entre si. Os direitos humanos são aqueles ligados
estritamente a igualdade e a liberdade, esses que estão concretizados no plano
universal. Já os direitos fundamentais são os direitos humanos corporificados na
Carta Constitucional. Assim, pode-se dizer que o conteúdo de ambos é por essência
o mesmo, o que diverge as duas denominações é o plano em que estão
consagrados. Faz-se necessário ressaltar que os direitos são para todos, porém,
percebe-se claramente que os grupos sociais mais vulneráveis são os que mais
necessitam desses, uma vez que esses grupos sofrem com as desigualdades e com
a exclusão social.
Os grupos sociais mais vulneráveis são também reconhecidos como as
minorias. Elas são assim definidas por causa da relação de dependência ou
subordinação a um grupo dominante e, quase sempre há discriminação por parte dos
superiores sociais. Algumas características de uma minoria são: luta contra privilégios
dos grupos dominantes, vulnerabilidade (anteriormente dita) e, para as minorias
organizadas, um atributo de destaque são as estratégias discursivas para
conscientização da sociedade. Há grande diversidade de grupos minoritários, e, para
que exista um reconhecimento de direitos (que os tirem da condição de excluídos),
são necessárias estratégias de mobilização social impactantes e abrangentes.
Hoje, o Estado e algumas instituições privadas de educação já trabalham
instituindo tais estratégias. Por parte do Estado tem-se as chamadas políticas
públicas de inclusão social, já em algumas instituições educacionais, existe o
incentivo a uma metodologia de ensino visando a identificação e o respeito às
diferenças sociais. Estes programas apresentam ser de vital importância para o
desenvolvimento social dos imigrantes e refugiados. Hoje, a inclusão desses grupos
no ensino básico e superior enfrenta diversas barreiras, onde a língua se torna
apenas uma delas. Portanto, a falta de apoio do governo com ações afirmativas
acaba por ser um fator determinante da dificuldade de ingresso na educação para
esse grupo de pessoas.
Mantendo um olhar mais criterioso sobre os grupos minoritários exemplificados
acima, é importante trazer a diferença entre imigrantes e refugiados. Não se pode
confundi-los. O migrante faz o deslocamento de maneira espontânea, visando mais
5

qualidade de vida, tanto em aspectos econômicos como sociais. Um exemplo seria o


caso dos haitianos que começaram a se deslocar em direção ao Brasil após os
terremotos que ocorreram em 2010. O grande fluxo migratório causado pelos
haitianos expôs problemas na política de migração do país, considerando que eles
não possuíam o status de refugiados, assim, políticas internacionais estabelecidas
pela ONU não se aplicam aos mesmos. A falta de uma política adequada resulta no
acúmulo de imigrantes, tanto os que estão em situação legal, como os em situação
ilegal, causando impactos na sociedade local, e evidenciando assim, a necessidade
de novas regulamentações migratórias.
O crescente aumento do número de refugiados no mundo é um dos principais
problemas populacionais a nível global. Segundo a ONU, Organização das Nações
Unidas, referindo-se ao estatuto dos refugiados realizado em 1951 e adotado em
1954, para uma pessoa ser considerada refugiada, a mesma precisa declarar que se
sente perseguida pelo estado de sua nacionalidade, por razões, sejam elas étnicas,
sociais, políticas ou religiosas. A questão dos refugiados tem sido discussão em
vários sites no cenário internacional pela expressiva dimensão dos seus fluxos, pelo
desrespeito à dignidade humana e pela crescente violência na contenção migratória.
A discursiva eclodiu após a segunda guerra mundial, onde houve o crescente fluxo
migratório de pessoas, algumas por condições de perseguição política, outras pela
existência dos conflitos armados, guerrilha, fome, discriminação racial, social,
religiosa, bem como por questões ambientais. Em 1921, por meio do Conselho da
Sociedade das Nações, surgiu o primeiro Alto Comissariado, ACNUR, destinado ao
apoio comunitário. As ampliações jurídicas visando a proteção das pessoas
refugiadas e a eliminação de restrições vêm se desenvolvendo ao longo dos anos,
desde 1951. Por intermédio da proteção jurídica internacional, os refugiados
passaram a fazer parte do âmbito das discussões sobre migrações forçadas,
diferenciando-se dos critérios que dão caráter às migrações voluntárias.
No Brasil, refugiados e imigrantes encontram muitos obstáculos quando
chegam ao país. Desde a parte da entrada no território brasileiro, à parte de
conseguirem a documentação necessária para o reconhecimento como tal
(refugiado) e ficarem legalmente no país, aos problemas de xenofobia, em relação ao
bullying que acontece em relação à sua respectiva língua, sua etnia, sua raça, sua
religião e até mesmo para encontrar local adequado de moradia, emprego, escola
propícia para a educação de seus filhos, onde esses sejam bem recepcionados e
6

tenham ensino adequado para que possam aprender o português e que tenham a
devida socialização no meio em que agora estão inseridos.
O Brasil tem um fluxo de imigrantes/refugiados de três principais regiões:
Venezuela, Haiti e Síria. Assim, esse trabalho tem como Objetivo Geral compreender
como estudantes haitianos de uma escola do Rio Grande do Sul têm percebido o
direito fundamental à educação. Para isso, como objetivo específico tem-se fazer
uma análise dos resultados de um artigo acadêmico que apresenta essa situação
brasileira e também uma entrevista estruturada com imigrantes.

2 DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A DIVERSIDADE E O DIREITO: UM CONTEXTO HISTÓRICO

No período da Pré-Modernidade, bem como no tempo hodierno, a diversidade


de conflitos era muito grande, isso se deu e ainda ocorre pelo fato de cada indivíduo
no âmbito social possuir seus próprios interesses, opiniões e ideais. Estes, quando se
divergem dos de outros indivíduos, chamam o direito para a atuação, pois ocasionam
conflitos, que podem ir dos mais fáceis de serem solucionados, aos de cunho crítico.
A exemplificar esses acontecimentos de intervenção jurídica, tanto no período
medieval, quanto na época do Brasil colonial, o direito se coloca no papel de
mediador e vem com essa forma de solução consensual de conflitos. Nesse período
da história, os operadores do direito levavam como base para a solução dos casos a
diversidade do povo e dos conflitos pertinentes a eles e não se baseavam em uma
norma geral, absoluta e concreta. Portanto, pode-se dizer que o direito não existe
sem a diversidade. O Direito só existe, única e exclusivamente pelas diferenças
encontradas no meio social, sem ela, o direito morre.
Já na modernidade jurídica, o direito e a diversidade surgem de uma nova
maneira. Prevalece a concepção, embalada por uma racionalidade otimista, de que a
lei deve eliminar as fontes inseguras do direito, prevalentes no antigo regime. A partir
desse momento, as leis deveriam ser escritas em um formato, modelado na
resolução de qualquer conflito. O juiz, antes dotado de voz privilegiada, agora deve
se conformar em ser um mero intérprete da vontade soberana do legislador.
Um dos momentos mais marcantes na discussão sobre a diversidade na
passagem da década de sessenta para a década de setenta, em que novas ideias
dão um aporte diferente em seus respectivos campos e um novo influxo no que se
7

refere ao próprio quesito de diversidade, foi através de Michel Foucault, um filósofo


que trouxe uma contribuição decisiva para essa discussão. Ele foi um pensador que
teve grande influência em diversas partes do conhecimento, trazendo no seu
pensamento contribuições metodológicas importantes na questão da diversidade.
Portanto, como o Direito se relaciona com a diversidade, de forma complexa e
dependente, o historiador do Direito é privilegiado. A história do Direito necessita se
aprofundar nas diversidades do passado, estudá-la e entendê-la, pois só assim se
compreenderá a diversidade presente na idade contemporânea.

2.2 DIREITOS HUMANOS: UMA RELAÇÃO MULTICULTURAL

Segundo Cruz (2005), a cultura é repleta de diversidade, e os Direitos


Humanos têm o desafio de como lidar (ou não), com essa gigantesca gama de
culturas nas diversas sociedades do mundo. O autor define cultura como um
processo que resulta das experiências de vida e das histórias das gerações
anteriores e afirma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi equivocada
quando ela adotou um critério universalista, uma vez que isso está incorreto quando
se volta o olhar para a diversidade cultural presente no mundo. Essa concepção
universalista defendida pela Declaração dos Direitos Humanos erroneamente visa a
projeção da modernidade, que visa reduzir tudo a uma única racionalidade
universalista, e isso faz com que nem todos os povos e suas respectivas culturas
sejam incluídos no acesso a esses Direitos.
É inegável a presença de grupos com formações culturais divergentes uma
das outras nas sociedades modernas, destarte, não se deve acatar um critério
reducionista para representar as diversas culturas. Para Cruz (2005), a Declaração
deveria ser reestruturada com uma linguagem normativa comum, que seja aceitável
para todos e uma legitimação que vincule todos de maneira equidosa, pois a
imposição de um padrão moral faz com que o universalismo seja adotado em relação
aos Direitos Humanos, o que não pode ocorrer, uma vez que reconhecido o
multiculturalismo presente no mundo, deve-se garantir a alteridade, a diversidade,
que é a própria razão de ser e existir dos Direitos Humanos. Portanto, faz-se
necessário o relativismo dos Direitos Humanos para a devida proteção da identidade
cultural e o reconhecimento pleno do multiculturalismo.
8

2.3 DIVERSIDADE CULTULRAL E MULTICULTURALISMO


2.3.1 O DESAFIO DA MODERNIDADE

A supervalorização da cultura ocidental é um processo que abafa as


diferenças culturais de muitos povos que, por serem minoritários, não atingiram tanto
reconhecimento - em geral. A igualdade instituída pelos Direitos Humanos se depara
com o desafio do multiculturalismo. Segundo Kretzmann (2007), em todos os países
democráticos há uma população heterogênea e, por isso, há também a presenca de
minorias reinvidicando seus doreitos. Um fato é que a colonização e a marginalização
de outras culturas é, em grande parte, responsável pela segregação cultural.
No Brasil, a necessidade de se delinear uma concepção do "ser brasileiro"
menosprezou ainda mais a cultura dos povos originários, como os índios, como
também, dos negros traficados em larga escala. O desafio de encontrar uma
identidade nacional permeou por muitos anos e os direitos dessas minorias culturais
ficou adormecido.
Um fator importante é que os processos culturais se modificam à medida que a
sociedade se desenvolve. Por isso a diversidade é cada vez presente e o
multiculturalismo se caracteriza por um processo dinâmico. Assim, a modernidade
precisa encontrar soluções que garantam os Direitos Fundamentais a todos, inclusive
aos de culturas não-ociedentais. Há a necessidade de mudança de paradigmas.
Outro fator tão importante quanto o dinamismo cultural é a Globalização. Os
paradigmas têm abrangência mundial: "A homogeneização que ocorre agora, em
virtude dos processos de globalização, é aquela na qual todas as culturas nacionais
estão sendo enfraquecidas, em direção à homogeneização global." (KRETZMANN,
2007, p. 22). Agregado à Globalização, está o capitalismo, que mostrou o lado
negativo do consumismo, produzindo um alerta mundial de que uma nova estratégia
sustentável deve ser desenvolvida pela humanidade.
Assim, a modernidade é marcada pelo desafio de conciliar diversidade e
Direito, com destaque para os Direitos Humanos, que transparecem a visão
"ocidentalocêntrica". Um novo paradigma social ganha espaço a partir das lutas das
minorias por um Direito abrangente que vai além da igualdade e outras garantias.
9

2.3.2 A IDENTIDADE ÉTNICA DOS GRUPOS MINORITÁRIOS

Em relação ao multiculturalismo e identidades éticas e culturais de grupos


minoritários, é possível observar dois tópicos com idéias opostas. O primeiro sendo o
discurso universalista, baseado no pensamento racional e na idéia de que a
igualdade não considera as diferenças. O segundo seria o diferencialista,
contrapondo o primeiro, com a idéia de que é necessária uma identidade coletiva
para conquistar seu lugar em espaço social. Para Ribeiro (1996) o Brasil é uma
unidade étnica básica, que apesar de ter sofrido influencia de várias matrizes
(portugueses, negros africanos e índios americanos) em sua formação é constituído
por um “Estado uni-etnico”. Esse povo-nação não é resultado do progresso de formas
anteriores da sociabilidade, apesar de as diferentes classes sociais se juntarem para
atender à necessidade de sobrevivência, surgindo assim, de uma concentração de
força escrava que foi subjugada a diversos tipos de violência e repressão.
O processo de universalização cultural no Brasil foi iniciado pelos europeus,
quando chegam em “ilha Brasil”, sendo fruto de diversos conflitos como analisa
Ribeiro (1996, p. 30), conflito esse que se dá em todos os níveis. A reafirmação da
politica assimilacionista e universalista se dão através de Carlos Frederico Mares de
Souza Filho (2003), que discorre sobre a criação dos estados latino-americanos, em
que alerta sobre os direitos individuais.
Souza Filho (2003) reconhece dois principais eixos na aplicação de políticas
em relação aos indígenas: de um lado a omissão e de outro uma política que cria
refugiados. Situação essas que já ocorreram com o povo guarani em território
Brasileiro. Ele ainda afirma que enquanto fora da Amazônia, o estado não considerou
os povos indígenas nas políticas públicas.
Reconhecendo as diferenças entre grupos sociais formado desde a
colonização no Brasil, Ribeiro (1996) afirma que e possível criar uma identidade
nacional coletiva, que anularia as diferenças étnicas. Essa identidade a qual Ribeiro
se refere não é a mesma pela qual as comunidades tradicionais brasileiras lutam.
Mas sim por uma identidade coletiva, reconhecendo os direitos coletivos de culturas
diferenciadas.
Para Alcida Rita Ramos (1993), para o cenário político brasileiro etnia não tem
força política e nem legitimidade, uma vez que a sociedade se quer homogênea e
10

integrada. Ramos (1993) acrescenta que etnia é um termo que falta potencia e
legitimidade sendo relegado no âmbito cultural.
D’Adesky (2005) traz o foco para a distinção entre pluralismo cultural e
multiculturalismo, onde assegura que a base da política multicultural é o
reconhecimento da igualdade e o tratamento igualitário de grupos que possuem uma
cultura diferenciada. Conforme o autor, “o pluralismo cultural não abarca
necessariamente a política de tratamento em pé de igualdade das diferentes culturas
que se encontram num dado território geográfico” (D’ADESKY, 2005, p.199).
Santos e Nunes (2003) afirmam que as políticas indígenas constituem uma
negação dos direitos coletivos desses grupos, tendo como necessário a criação de
políticas emancipatórias e a invenção de novas cidadanias. A afirmação da diferença
induz a outro problema: a justificativa para exclusão dos “diferentes”, em frente a
essa tensão entre diferença e igualdade é perceptível a necessidade da reinvenção
da cidadania e de outras ideias pregadas por políticas liberais.
Assim pode ser argumentar em favor do “multiculturalismo democrático”
(D’,ADESKY, 2005, p.234) como uma política capaz de reconhecer cada cultura, sem
o intuito de a reconhecer como uma cultura universal, mas sim frente ao respeito com
a promoção de grupos culturais discriminados, e por meio das políticas multiculturais,
para que recebam princípios de dignidade e igualdade.

2.3.3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

Identidade, segundo Charles Taylor (1997, p 45), é a maneira de como uma


pessoa se define, e essa identidade é formada com base na existência ou
inexistência de reconhecimento, podendo uma pessoa ou um grupo de pessoas
serem prejudicadas por um reconhecimento distorcido, limitado e de desprezo. Um
aspecto dessa relação entre identidade e reconhecimento é o caráter fundamental do
dialógico da condição humana. A interação com outras pessoas através da
linguagem possibilita a formação da identidade. No entanto, ao ocorrer a interação de
pessoas de culturas diferentes, é ai que o reconhecimento negativo e desvalorizante
aparece, podendo marcar suas vitimas de forma cruel e discriminatória.
A partir de novas compreensões, a importância do reconhecimento modificou-
se pela ideia de identidade individualizada, onde cada ser descobre a si mesmo, que
depende do contato e interação com outras pessoas, mediante as experiências
11

sócias entre o grupo que pertença e outros grupos. Assim, baseado nas relações
dialógicas com outros grupos, o individuo pode estabelecer que a identidade “é aquilo
que somos”, “de onde viemos”. Assim, a noção de reconhecimento atinge uma nova
dimensão de identidade e autenticidade.
Hall (1995) diferencia 3 tipos de identidades diferentes: a)Sujeito do
Iluminismo, centrado e unificado, cujas capacidades emergem no nascimento e
permanecem durante sua existência; b)Sujeito Sociológico, que surge pela
concepção do grupo ao qual esta inserido o individuo e sua identidade era formada
pelas interações com grupos diferentes; c)Sujeito Pós-moderno, isento de uma
identidade fixa, formada por como são tratados nos sistema cultural que os circulam.
É importante a diferenciação entre a identidade e os papeis desempenhados
pelos indivíduos na sociedade. Os papéis (trabalhador, pai, mãe, sindicalista,
esportista, etc.) são definidos por normas de organização sociais, construídos por
processos de individuação, embora as identidades, algumas vezes, também possam
ser formadas por essas normas, isso por que os indivíduos têm o desejo de construir
sua identidade baseado nessas normas de organização. Desse modo, podemos dizer
que toda identidade é construída, a questão é definir como ocorre essa construção.
Essa construção parte de uma série de fatores sociais e individuais, conteúdos esses
que são organizados pelos indivíduos ou pela sociedade em função de sua vida e
sua cultura. Para Castells (2001), existem três formas de construção de identidade: 1)
Identidade legitimadora: introduzida por instituições dominantes para expandir sua
dominação social; 2) Identidade de resistências, criados por atores sociais dominados
e de caráter minoritário; 3) Identidade de Projeto, que se trata da criação de uma
nova identidade.
Cada uma dessas formas de construção condiz a um resultado, a identidade
legitimadora origina uma sociedade civil, estruturada e organizada. A identidade de
resistência tem-se a formação de comunidades. Já na identidade de projeto tem-se a
formação de sujeitos que constroem suas vidas a partir de um projeto de vida
diferenciado, almejando a transformação social como prolongamento dessa
identidade.
A identidade é um conceito muito contestado, e que quando está em jogo
surge uma batalha a ser vencida. Para Bauman (2005), existem no liberalismo e no
comunitarismo tentativas opostas de impor à identidade um valor único. Para o autor,
as batalhas de identidades não devem seguir nenhuma das teorias, mas sim uma
12

mistura de demandas liberais de liberdade de autodefinição e de apelos comunitários


a uma tonalidade maior que a soma das partes.
Bauman (2005) entende que as identidades flutuam no ar, algumas de nossa
própria escolha, outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta. Nesse
sentido, parece correta a visão do autor quando defende a afirmação de uma
identidade também a partir de escolhas individuais, pois, como já dito anteriormente,
muitas vezes a concepção de identidade por outras pessoas pode ser considerado
injusto e de reconhecimento incorreto. A questão da diferença é fundamental para o
multiculturalismo, pois ela é um processo humano e social, fruto de um processo
histórico. É o resultado de quando se privilegia o processo histórico que resultou a
diferença. Woodward (2005, p. 39) diz que identidades são fabricadas por meio de
marcação da diferença, portanto, a identidade não é o oposto de diferença, mas
depende dela, na medida em que a diferença separa uma identidade de outra. O
problema de gerenciamento da diferença embora não seja exclusivamente um
problema ocidental, vê-se aguçado nas democracias liberais, onde o respeito á
diferença é uma das balizas constitucionais, mas a noção de diferença, foi diluída na
noção de igualdade, gerando assim outra forma de diferença, a desigualdade. A
cultura ocidental se mostra incapaz de incluir diferenças no meio social civil, seja pelo
Estado ou por um fato pessoal e privado.

2.3.4 ESPAÇO SOCIAL E MULTICULTURALISMO

Santos (2005) discursa que existem precisamente seis espaços estruturais


que são responsáveis pelas formações sociais capitalista, são eles; o espaço
doméstico caracterizado pela relação social de produção e reprodução da
domesticidade e do parentesco, o espaço da produção que consiste na relação social
em torno da produção de valores de trocas econômicos e dos processos de
trabalhos, espaço de mercado que se desenvolve nas relações sociais de
distribuição de consumos de valores e trocas, espaço da comunidade onde se
desenvolve identidades e identificações, territórios físicos e simbólicos, tendo como
referencial a origem ou destinos comuns, o espaço da cidadania onde ocorre a
relação social entre o cidadão e o Estado é por fim o espaço mundial que é o
conjunto de relações sociais,locais ou nacionais. Neste último se dá a soma total dos
efeitos pertinentes das condições sociais sobre o espaço acima mencionado. Neste
13

contexto o autor afirma que é necessário substituir as relações sociais capitalista por
outros que sejam apoiadores de políticas de reconhecimento (identidade) em política
de redistribuição (igualdade) a partir deste conceito é possível haver emancipação.
Refletir sobre a questão do multiculturalismo e perceber a importância da
diversidade cultural presentes nas sociedades contemporâneas, é um ato de extrema
urgência, diante das graves consequências provenientes dos processos da formação
homogênea do Estado-nação, e da concretização política de uma cidadania nacional
fundado no pressuposto liberais, que, em nome de uma heterogeneidade e
igualdade entre os indivíduos acarretou a exclusão de vários segmentos sociais,
uma vez que o paradigma político se torna ineficiente na capacidade de sugerir e
implantar um modelo adequado para o arranjo do espaço social. Desta maneira pode
se observar um crescente aumento nas lutas multiculturais, bem como a necessidade
de redefinição do espaço social, dando ênfase ao multiculturalismo enquanto
movimento teórico sobre a questão da homogeneidade. Assim, as lutas multiculturais
modificarão a configuração do espaço, ou seja, a homogeneidade do espaço público
dará lugar à heterogeneidade propiciando um espaço de conhecimento e troca de
saberes de diferentes culturas.
Semprini (1999) relata sobre a dificuldade sofrida pelas minorias e pelos
povos considerados diferentes, dissertando sobre alguns argumentos que podem
auxiliar em um espaço social baseado na igualdade. Deve se primeiro considerar o
papel das instâncias individuais, dos fatores socioculturais e reivindicações
identitárias, em segundo, faz se necessário o reconhecimento do espaço multicultural
comum em um espaço dinâmico e interativo, em terceiro a autora cita que deve ser
considerada as múltiplas percepções que os diferentes grupos e personagem
possuem do espaço social, em quarto lugar o autor disserta que as reivindicações
multiculturais devem ser situadas em suas próprias perspectivas, Semprini (1999)
finaliza dizendo que é necessário reconhecer os conflitos identitários típicos das
sociedades pós-industriais buscando a harmonia entre os sistemas temporários
vigentes.
Analisando sobre o prisma da democracia Touraine (1998) diz que a
ampliação do espaço social resignificou o conceito de democracia, redefinindo-a
como política do sujeito, ao elevar as comunidades tradicionais à condição de
cidadãs de Estado brasileiro e ampliar a noção de democracia, de solidariedade e
participação, constituem premissas básicas para se atingir a emancipação é inclusão
14

social. Tendo em vista as lutas multiculturais e a ressignificação da democracia, é


necessária também, a redefinição de cidadania, pois a sua definição clássica não
atende à uma sociedade multicultural, cidadania é caracterizada para comportar as
reivindicações de diversos movimentos sociais. Desta maneira a situação formal do
cidadão não pode ser mais aceita como a única correta, pois os direitos promulgados
em lei e garantindo a todos não se traduzem em igualdade completa, haja Vista que o
reconhecimento da diferença é importante para a concretização de Estados
democráticos, e por fim, a importância do Direito como instrumento para efetivar o
reconhecimento cultural nas sociedades democráticas contemporâneas. Em suma,
Compreende-se então, e extrema urgência na redefinição do conceito de cidadania e
democracia baseado na luta do multiculturalismo, somente assim, será possível
garantir a diversidade cultural do Estado-nação numa sociedade heterogênea.

3 ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA DO ARTIGO: “IMIGRAÇÃO, REFÚGIO E POLÍTICAS


LINGUÍSTICAS NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE ESCOLA PLURILÍNGUE E
FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PARTIR DE UMA PRÁTICA EDUCACIONAL
COM ESTUDANTES HAITIANOS” (BULLA, et. al., 2007)

3.1 “IMIGRAÇÃO E REFÚGIO”

O deslocamento humano na face da Terra impacta vários aspectos, dentre os


quais pode-se citar sanitários, demográficos e educacionais, por exemplo. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos se empenha em dar uma classificação a
migrantes, porém é generalista não abrange todas as questões que envolvem a
imigração. Por isso, a ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados – traz uma definição sobre refugiados, que a um olhar simplista, é um tipo
de imigrante, porém, a motivação da imigração é severa.
O Brasil é um dos signatários da Convenção da Nações Unidas, que ocorreu
em 1951, e, por isso, garante os direitos mínimos para a manutenção da vida às
pessoas de seu país, estrangeiras ou não. Dessa forma, as instituições de ensino
brasileiras são obrigadas legalmente adisponibilizar o direito à educação aos
imigrantes também.
15

Com a presença de imigrantes nas escolas brasileiras, uma política linguística


ou um modelo de projeto linguístico é fundamental para que o acesso ao direito à
educação seja efetivo.

3.2 “O CASO DA IMIGRAÇÃO HAITIANA NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO


SUL”
O Brasil é um país que ao longo da sua historia sempre recebeu migrantes de
vários lugares do mundo, desde os portugueses colonizadores e escravos africanos,
até a grande migração europeia para povoar localidades distantes do litoral dos anos
1900 a 1940. Nos dias atuais, podemos observar características diferentes na onda
migratória, onde existe uma relação com a estrutura econômica e política do país.
Dentre os fluxos migratórios, vem se destacando a chegada dos haitianos ao Brasil.
Segundo informações, o Brasil passou a ser um dos principais destinos para
os haitianos devido a forte presença cultural e militar brasileiras no território do Haiti.
O exército brasileiro foi o responsável por comandar as missões de paz para
estabilização do Haiti, e que ampliou sua influencia no país, principalmente, depois
dos terremotos de 2010, onde que após essa tragédia, houve um grande numero de
haitianos partindo rumo ao Brasil. Com o aumento do numero de solicitações de
refugio, em 2012 o governo autorizou a concessão de visto para naturais haitianos,
facilitando uma migração regulamentada e legal. Com isso, de 2011 a 2013 houve
um aumento de 814 para 15 mil haitianos vivendo no Brasil.
Em Geral, pessoas dessa nacionalidade ocupam postos em serviços
terceirizados, em áreas de limpeza, limpeza urbana, indústrias frigoríficas e
construção civil, cargos que não exigem alto nível de especialização, mesmo que
muitos imigrantes haitianos tenham diplomas de graduação.

3.4 “A ÁREA DO PLA E O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA IMIGRANTES E


REFUGIADOS”
O Português como língua adicional (PLA), possui anos de consolidação no
Brasil, e inicialmente era voltado para o ensino da língua para estrangeiros, mas com
o passar dos anos, passou a entender contextos variados, não se limitando somente
a estrangeiros, mas também para sociedades como indígenas e comunidades de
imigração histórica alemã no RS. A uma controvérsia em relação ao termo língua
adicional utilizado e em como é colocado em pratica o PLA, uma vez que esse estudo
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pode ser visto apenas como um acréscimo de uma língua a outras línguas que o
aluno já tenha em seu repertório, e não veem como uma necessidade de adaptação
e sobrevivência do individuo ao meio estranho ali agora inserido como é o caso dos
haitianos. Portanto, se faz necessário uma metodologia diferente e especifica para o
ensinamento da língua de acolhimento, com particularidades fonológicas do
português brasileiro, direcionado á fala do haitiano.

3.5 “O CASO DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE QUE


ACOLHEU IMIGRANTES E REFUGIADOS”

Professores da Faculdade de Educação do Instituto de Letras da UFRGS


iniciaram em Novembro de 2015 um projeto cujo objetivo era a observação de
imigrantes Haitianos bem como a adequação deste em escolas municipais, tendo em
vista se é efetiva ou não o Português como língua adicional PLA. A Crescente
matrícula de imigrantes na rede pública de ensino de Porto Alegre entre 2013/2016
demandou que a Secretária Municipal Da Educação em parceria com a Universidade
Federal do Rio Grande Do Sul, contatasse o programa de Português para
estrangeiros PPE auxiliando na adequação deste, à língua oficial do País acolhedor.
A dificuldade para pagamentos de transportes, carga horária de trabalho conciliado
com o PPE e o deslocamento até o campus, haja vista que o percurso era longínquo
e com alto grau de violência, se tornou uma problemática para o sucesso do PLA
oferecidos pelo programa aos estrangeiros. A observância destes casos, fez com que
as oficinas fossem realizadas semanalmente nas escolas municipais, neste contexto,
encontra-se uma discursiva em relação ao acolhimento dos imigrantes e refugiados e
os desafios encontrados para sua completa socialização. A distinção entre a
alfabetização e os níveis de proficiência em PLA dava caráter ao problema
alimentado pela dificuldade que os professores tinham em lecionar para estes alunos.
Igualmente, era a participação dos estrangeiros em atividades de leituras
impossibilitada pelos diferentes níveis de escolarização, alfabetização e proficiência
em PLA. Outra questão é a validação do diploma no país acolhedor, para aqueles
que terminaram sua vida acadêmica em nível superior no seu país de origem. Esta
problemática deve-se às condições financeiras dos imigrantes. Portanto, este eram
inseridos no EJA com base no nível de proficiência em PLA, entretanto sem um teste
de nivelamento formalizado, o que causa desinteresse por parte do aluno, uma vez
17

que a turma em que foram inseridos não correspondia à seu grau de escolarização,
embora estes, a princípio objetivava a oportunidade de conviver com alunos falantes
do Português e aprender a língua oficial do Brasil. Compreende-se que é observável
o crescente aumento de imigrantes e refugiados desde o fim da Segunda Guerra
Mundial, e a língua, e uma problemática social, por se tornar um dificultador quanto a
socialização do estrangeiro. Portanto faz-se necessário que o campo escolar defenda
a diversidade plurilíngue, fazendo um intercâmbio da língua acolhida com a língua
acolhedora. Salvo que as academias de estudo deveriam oferecer disciplinas com
esta temática facilitando a cidadania tanto dos graduandos quanto dos estrangeiros.

4 METODOLOGIA
Para conhecer a situação da educação de imigrantes/refugiados no Brasil
utilizou-se a metodologia de Análise Bibliográfica. Também foi realizada uma
entrevista aberta com uma imigrante peruana, residente no Brasil com a finalidade de
estudar no Ensino Superior.

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O deslocamento humano mundial percebido nas últimas décadas foi


fortemente intensificado devido a guerras, perseguições políticas, ausência de
infraestrutura para manutenção da vida e catástrofes naturais. Sair de seu país de
origem em busca de outro país que ofereça mais oportunidades tem sido a última
esperança para algumas pessoas. Essas se enquadram em imigrantes ou refugiados.
Entretanto, os Direitos Humanos são imprescindíveis para que essas pessoas
prossigam suas vidas. O Brasil é um dos países alvo de imigrantes. Em sua maioria
são venezuelanos, haitianos e sírios. E é seu dever garantir os direitos mínimos,
como por exemplo, o direito à Educação.
Compreende-se que a Educação é essencial e indispensável para a devida
formação dos indivíduos, pois ela é um dos instrumentos que promovem o acesso à
cidadania e aos direitos e deveres. A Educação é o mecanismo que transforma a
sociedade, proporciona a equidade nas oportunidades, e ainda desenvolve o sujeito
no que tange o aspecto pessoal, bem como o profissional. Nesse viés, entende-se
que o Direito à Educação é um Direito Fundamental, já que se trata de algo
18

imprescindível para o alcance da Dignidade Humana. Sendo assim, percebida como


um Direito Universal, o Estado não pode estorvar o acesso adequado e apropriado à
mesma.
Esse artigo analisoo, do ponto de vista bibliográfico, o caso de uma escola
brasileira que recebeu imigrantes haitianos. O artigo analisado trouxe as
problemáticas que envolvem a socialização de imigrantes e refugiados, bem como a
observância de Direitos conferidos a eles - se são efetivos ou não. Considerando o
prisma da educação, percebe-se que o programa de socialização destes imigrantes e
refugiados não atende ou não confere a estes estabilidades, sejam elas econômicas -
já que há dificuldades em validar a diplomação no País acolhedor por questões
financeiras -, como também sociais, tendo em vista a complexidade de adquirir uma
língua diferente da oficial do seu país de origem. Ainda é importante salientar a falta
de preparo das escolas e professores para acolher e integrar esses alunos em salas
de aulas. Compreende-se que este estudo de caso levanta questões importantes
sobre a imigração e educação, colocando em analise as políticas públicas de
proteção a imigrantes e refugiados no que diz respeito à escolarização.
Em suma, sabe-se que existem desafios metodológicos para resolução destas
questões seja na esfera estadual, como estudado neste presente artigo o caso dos
haitianos numa escola do Rio Grande do Sul, ou ainda numa esfera nacional.
Considerando o aumento de imigrantes e refugiados, a problemática envolvendo a
educação deve ganhar um olhar mais criterioso por parte do Estado, para expandir a
qualidade e promover a inclusão social.
Através da análise do artigo citado acima como também da entrevista a uma
peruana em anexo, foi possível perceber que as iniciativas que garantem o Direito à
Educação para imigrantes/refugiados no Brasil, têm um caráter local, e dependem da
sensibilização do corpo docente para ser consolidado.
Por fim, recomenda-se às outras escolas que têm alunos imigrantes/refugiados
ou que ainda vão receber alunos, que o artigo em questão sirva como modelo de
inclusão. Fato é que o Estado tem a obrigação de proporcionar os direitos mínimos
de educação a todos, independente da nacionalidade. A diversidade é um desafio,
porém, não é impossível de ser vencida.
19

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<https://www.acnur.org/portugues/historico/>. Acesso em: 01 de outubro de 2019.

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In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org). 4ed. Rio de Janeiro, 2005.
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ANEXO

Nome completo: Angela Lino


Idade: 24
Páis de Origem: Peru
Formação/Universidade: Arquitetura e Urbanismo/ Universidade Federal do Rio de
Janeiro

1) Por quê você veio para o Brasil? E como foi esse processo?

Para fazer faculdade. Foi um processo separado. Tive que pagar a documentação

toda para poder estudar e participar do concurso [de seleção para entrar na UFRJ].

2) Como foi seu aprendizado do Português? Você já sabia antes de vir para o

Brasil?

Eu tive que aprender português no dia a dia. Eu entendia, mas não sabia falar.

3) Em relação à Educação, como você avalia o ensino brasileiro? Você fez parte

do Ensino Superior no Peru?

Em relação à faculdade posso dizer que estou muito satisfeita com tudo o ensino que

tenho recebido aqui, nas aulas é aplicado um amplo conhecimento por parte dos

professores. E o melhor de tudo é a relação aluno/professor que melhora esse

aprendizado. Sim, fiz parte do Ensino Superior no Peru.

4) Quais as maiores dificuldades que você enfrenta na faculdade?

As vezes a carga de trabalho de todas as matérias respeito às horas livres.

5) Você pretende voltar para o Peru depois de formar? Como é o processo de

validação do seu diploma no seu país?

A minha vontade é ficar aqui no Brasil. Como meu caso foi um concurso, a

embaixada é quem realiza todo esse processo.

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