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Curso:INI2/PAV2_2022

A R T E
milca ceccon

APRESENTAÇÃO

Esta atividade tem por objetivo apresentar a arte e cultura indígena de forma crítica
e politizada, e, para fundamentar a discussão, a fala potente do líder indígena Ailton
Krenak e a arte de Denilson Baniwa serão nossas referências nesse percurso.

AILTON KRENAK
Ailton Krenak, que pertence aos povos krenak
de Minas Gerais, é ambientalista, escritor e
líder indígena reconhecido nacional e
internacionalmente.
Aos dezessete anos de idade, mudou-se com
sua família para o estado do Paraná, onde se
alfabetizou e se tornou produtor gráfico e
jornalista.
Na década de 1980, passou a dedicar-se
exclusivamente ao movimento indígena.

Em 1985, fundou a organização não-governamental Núcleo de Cultura Indígena.


Através de emenda popular, garantiu sua participação na Assembleia Nacional que
elaborou a Constituição Brasileira de 1988. Foi em discurso na tribuna que pintou o
rosto com a tradicional tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na
luta pelos direitos dos índios brasileiros.
Neste ano ainda, participou da fundação da União dos Povos Indígenas, de alcance
nacional.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=TYICwl6HAKQ 8,28 min.


Em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta, cujo objetivo era o
estabelecimento de reservas naturais na Amazônia onde fosse possível a
subsistência econômica através da extração do látex da seringueira e de outros
produtos naturais.
Desde 1998, a UPI realiza, na região da Serra do Cipó (MG), o Festival de Dança e
Cultura, que integra as tribos indígenas brasileiras que resistiram aos massacres
que começaram com a colonização e estendem-se até hoje.
Em 2016, a Universidade Federal de Juiz de Fora concedeu a Krenak o título de
Professor Doutor Honoris Causa em reconhecimento às muitas lutas políticas que
abraçou. É na UFJF professor de Cultura e História dos Povos Indígenas e Artes e
Ofícios dos Saberes Tradicionais.
Foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas de 2003
a 2010.
Participou das coletâneas Tempo e história e A outra margem do Ocidente.

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Vídeo 1 - Entrevista: Ailton Krenak fala sobre paz, ciência, resistência e luta
•5 de dez. de 2020

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=bQbI1lr04Sk 13,17 min.

Em março de 2020 o líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro,


Ailton Krenak esteve na UnB para conversar com os alunos no início do semestre letivo.
A conversa foi ótima e a UnBTV aproveitou para conversar com ele também.
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Vídeo 2 - Depoimento - Itaú Cultural - Ailton Krenak , 2016
Depoimento gravado durante o evento Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e
Realizadores Indígenas, em setembro de 2016, em São Paulo/SP.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=LEw7n-v6gZA&t=138s 15,54 min.


O escritor e ambientalista Ailton Krenak conta um pouco da história de seu povo, impactado
brutalmente pelo rompimento da Barragem do Fundão, no município de Mariana/MG,
responsável pela morte do Rio Doce – um dos principais elementos da cultura e de
sobrevivência do povo Krenak. Segundo ele, não há interesse por parte de editoras em
publicar sobre o assunto, mas destaca a importância da literatura produzida por indígenas.
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• Indicação de leitura para quando você quiser abrir os sentidos! (sugestão


apenas)

PDF do livro IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO de Ailton Krenak

http://observatorioedhemfoc.hospedagemdesites.ws/observatorio/wp-content/uploads/2019/12/Ideias-
para-adiar-o-fim-do-mundo-Krenak-Ailton.pdf

"Por que nos causa desconforto a sensação de estar caindo? A


gente não fez outra coisa nos últimos tempos senão despencar.
Cair, cair, cair. Então por que estamos grilados agora com a
queda? Vamos aproveitar toda nossa capacidade crítica e
criativa para construir paraquedas coloridos. Vamos pensar no
espaço não como um lugar confinado, mas como o cosmos onde
a gente pode despencar em paraquedas coloridos.” Ailton
Krenak (trecho do livro)

DENILSON BANIWA
Denilson Baniwa, do povo indígena baniwa, é natural do Rio Negro, interior do
Amazonas. É publicitário, artista visual, web ativista e ativista dos direitos
indígenas, reside atualmente no Rio de Janeiro. Suas ações são
surpreendentes, da arte ao pensamento, das interrogações às afirmações.

Vídeo 3: Denilson Baniwa - SESC-TV - Programa Artérias

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=HCVmCsXdVv8 13,16 min



Pai Nosso que estás nos céus,
Neste dia 19 de abril,
Nos livre das professoras e professores que pintam seus alunos com
canetinhas hidrocor
Nos livre das escolas que colocam cocares de papel nas crianças
Pai Nosso, que estás nos céus
Não deixem as professoras ensinarem para as crianças que o Dia do Índio é
uma homenagem aos povos originários
Mantenha longe de Nós aqueles que repetem as palavras:
Índio, Oca, Tribo, Selvagem, Pureza e Exótico
Afaste de Nós os bu-bu-bu feito com a mão na boca
Senhor, perdoem aqueles que por desconhecimento nos fazem uma imagem
estereotipada
Mas livre-os do desconhecimento e do preconceito que os fazem acreditar que
ainda somos os indígenas de 1500

Amém!
Denilson Baniwa




1.
Dizem meus avós, que antigamente
Antes de mim, você ou qualquer outro homo sapiens dominar o planeta
Tudo era gente: floresta, humanos e não humanos eram gente.
Havia a gente-onça, gente-papagaio, gente-árvore, gente-pedra; e a gente-gente
Todos inclusive, falávamos a mesma língua. Nos entendíamos.
O tempo também era outro, não havia relógios nem despertadores
O trabalho não era uma função acumuladora, mas de coletividade
Mas isto foi de um tempo que nem meus avós, nem nós vivemos
É do tempo antes do tempo
Hoje desconhecemos a língua dos pássaros e plantas
Das rochas, riachos e montanhas nem lembramos mais
Não nos entendemos nem com nossos vizinhos e moradores do mesmo planeta

Sei bem que aquele tempo, não podemos ter de volta
Mas podemos hoje, aprender a comunicação perdida
Quando começamos a pensar que existe um meio ambiente
Diferente de nós, humanos
Nestes tempos, enquanto não existe uma máquina do tempo
Que nos joguem de volta ao tempos do mundo-ancestral
Podemos voltar a entender que somos parte do planeta e não dominantes dele

A arte, indígena ou não pode servir como um mecanismo metafísico de tradução
Traduções das vozes da floresta, das pedras, da água e de todos os seres vivos
A arte indígena, pode ser aliada no entendimento de mundos
Pois ela mesmo, transita entre o ancestral e a plasticidade do mundo moderno

Artistas indígenas podem ser arte-xamãs que compartilham
Conhecimentos trazidos de todas as vozes
Inclusive daqueles que nem lembramos mais que existem

A arte é o que nos une
É a conexão entre o mundo ancestral e o mundo que queremos a partir de agora
Denilson Baniwa



1.1

tudo é gente
Intervenção fotográfica. Acrílica sobre impressão fotográfica, 32x24cm, dez 2020.

Denilson Baniwa
2.
Ein adoptivkind (criança adotiva)

e se o que me resta são ruínas e reproduções em massa do que já foi o meu


território, me dou o direito a editar filmes antigos e ampliar, recortar, jogar ácido ou
talvez até roubar man ray, sem deixar nada claro. pego vísceras, sangue, cinzas,
recortes coloniais e mixo. depois sirvo pra quem quiser, este mingau cínico e
nauseante
Denilson Baniwa
Intervenção Fotográfica


3.

A violência sexual, aborto mata mais meninas indígenas que tiros.
Acrílico recortado eletronicamente e serigrafado. 2017. 120 cm de altura .

Denilson Baniwa


4.
Relacionamentos Agro (TÓXICOS). Meu coração é orgânico
Self-portrait. Tamanhos variados, 2018
Denilson Baniwa

Denilson Baniwa, denuncia por meio da obra, Meu coração é orgânico, a


possibilidade de destruição do mundo pela política do agronegócio.
Ao abordar temas relacionados aos desajustes climáticos e ambientais, que têm sido
mote de suas exposições, Baniwa considera que a destruição do mundo é possível.
“Estamos vivendo esse tempo onde a destruição dos seres humanos é bem
provável, pois estamos destruindo tudo o que encontramos pela frente: os oceanos
cheios de lixo, as florestas que viraram pastos sem vida, as cidades poluídas, as
doenças que são derivadas do estilo de vida atual, as violências proporcionadas
pela manutenção do poder”, argumenta. “É provável que este mundo vá acabar logo,
se não formos mais conscientes. A notícia boa é que logo após a destruição, haverá
uma renovação onde o próprio mundo irá se curar, pois o veneno do mundo é o ser
humano, onde reside toda sorte de maldade”, complementa.

*Explore mais as obras de Denilson Baniwa:


https://www.behance.net/gallery/110533365/tudo-gente

A T I V I D A D E - 1

A partir da fala de Ailton Krenak nos vídeos apresentados, reflita e escreva, porém,
com suas próprias palavras, o seu entendimento e aprendizado. Exercite a sua
capacidade de refletir, argumentar e elaborar um bom raciocínio.

1. 1 Sobre a entrevista apresentada no vídeo 1 - Entrevista UNBTV


a. Segundo Krenak, qual o risco de termos uma única narrativa de vida no mundo?
b. Qual a crítica apresentada por Krenak em relação a intolerância entre as pessoas?
c. Qual a reflexão mais importante a se fazer quando ouvimos a crítica de Krenak
acerca da diferenciação entre humanidade e natureza?

1.2 Sobre o depoimento apresentado no vídeo 2 - Depoimento Itaú Cultural


a. Como você compreende a metáfora do céu caindo sobre as nossas cabeças, na fala
de Ailton Krenak?

A T I V I D A D E - 2

2.1. Sobre a obra de Denilson Baniwa


a. Qual das obras apresentadas de Denilson Baniwa mais lhe afetou e te fez refletir?
Qual foi o motivo de sua escolha?
b. A partir da observação das obras de Denilson Baniwa, reflita sobre a condição
indígena, o desmatamento, a des(humanidade), dentre outras percepções
que envolvam essa temática para elaborar uma obra artística crítica e
poética. Reflita sobre ela e escreva algo que a complemente , assim como
Denilson Baniwa faz em algumas de suas obras. Fotografe o trabalho e envie
juntamente com suas respostas.

Bons Estudos!
M.

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