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CAP – 8: TRATAMENTO DE TEOREMAS

MATEMÁTICOS E SUAS DEMONSTRAÇÕES

Fundamentos científico-lógicos essenciais


As proposições constituem o fundamento para o nosso trabalho com teoremas e suas demonstrações.
Proposições são aquelas ideias expressas mediante frases gramaticais, que contem a propriedade de
ser ou verdadeiras ou falsas.
Nem toda a frase gramatical representa uma proposição. Existem também frases interrogativas (tens
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feito a tarefa?), desiderativas (Quisera ir de férias à Paris) e imperativas (vá buscar um copo com
água).

As proposições são classificadas em únicas, existenciais e universais. Vejamos alguns exemplos:


Proposições únicas:

 4 é divisível por 12


3+7=9

 13 não é um número primo, mas 4 é um número primo.


12⋅3<12⋅5

 A função logarítmica é monótona crescente.

Proposições existenciais:

 Existe um número natural que é número par e também número primo.

 Existem rectângulos que são quadrados.

 Não existe nenhum número real máximo.

Proposições universais:

 Para todos números reais é válido


a+b=b+ a

 Em todos os rectângulos, as duas diagonais têm a mesma longitude.

 Para todo número fraccionário


a( a≠0 ) existe um número fraccionário b tal que a⋅b=1

Outras proposições matemáticas importantes são as equações e inequações sem variáveis. As formas
proposicionais desempenham um papel igualmente importante. Estas têm a forma de proposições, são
formuladas mediante frases gramaticais, mas contêm pelo menos uma variável livre. As formas
proposicionais não são nem verdadeiras nem falsas. Vejamos alguns exemplos:
a>b
5 x−9=12
r s r+ s
a ⋅a =a
(a+b )⋅(b−a)=a2 −b 2
a2 <0
m é o quadrado de um número natural.
As formas proposicionais têm sentido somente se para as variáveis que nelas aparecem se determina
um domínio básico da variável. 2
Das formas proposicionais podem obter-se proposições, se nelas se substituem todas as variáveis
livres por elementos do domínio básico. Este processo chama-se interpretação ou substituição da
variável. Aqui podem surgir os seguintes casos:

a) Cumpre-se a forma proposicional; quer dizer, existe uma substituição da variável tal

que se origina uma proposição verdadeira. Exemplo:


a>b⇒ 5>3 ,(a , b ∈Q )

b) Uma forma proposicional é válida; quer dizer, cada interpretação da variável no


domínio básico satisfaz a forma proposicional. Exemplo:

ar⋅a s =ar+ s ,(a≠0 , a , r , s∈ R );


(a+b )(a−b )=a 2−b2 ,(a , b ∈ Q)
c) Uma forma proposicional não pode ser satisfeita por uma interpretação da variável do
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domínio básico indicado. Exemplo:
a <0 ,(a ∈ R )

Proposições e formas proposicionais resumem-se no conceito expressões. As expressões


caracterizam-se mediante letras maiúsculas A, B, H. Muitas vezes indica-se também a variável que

está contida na expressão; exemplo


H ( x) .

Entre as proposições, são particularmente importantes para o nosso estudo as proposições


matemáticas verdadeiras. As proposições matemáticas verdadeiras são axiomas ou teoremas
matemáticos.
Cada teoria matemática possui como base um sistema de conceitos e teoremas fundamentais, ou seja,
um sistema de axiomas. A verdade das proposições expressas por eles, tem sido comprovado, quer
mediante as experiências de milhares de anos quer mediante construção dedutiva de uma teoria, por
razões de conveniência. As relações entre os conceitos básicos escrevem-se por meio de axiomas.
Dos conceitos básicos se obtêm novos conceitos mediante definições. Dos axiomas e dos conceitos
deduzidos a partir deles, se obtêm proposições matemáticas deduzidas, e sua verdade é comprovada
mediante demonstrações.

Estrutura de uma teoria


Conceitos básicos Conceitos deduzidos Outros conceitos

Axiomas Teoremas deduzidos Outros teoremas

Por uma demonstração para uma expressão H, entende-se uma sucessão finita de expressões
H 1 , H 2 , H 3 , .. . ,H n , H ,
na qual a sua pertença ao conjunto X das expressões dadas é válida para
cada uma delas ou que podem deduzir-se de expressões anteriores desta sucessão, aplicando uma
regra de inferência. 3
O conjunto X neste caso é o sistema de axiomas que se toma como base. No final da sucessão deve
estar a proposição H que queremos demonstrar.
Também se pode definir a demonstração como uma cadeia finita de proposições verdadeiras, que se
obtém com ajuda de regras de inferência lógica. O ponto de partida desta cadeia são proposições
cuja verdade é conhecida. O ponto final desta cadeia é o teorema a demonstrar. Cada membro da
cadeia se obtém do membro anterior mediante regras de inferência.

Com frequência utilizamos na Matemática a frase: De… resulta… Por exemplo: De


a>0 e b>0

resulta
a⋅b>0 .

Aqui temos uma relação entre duas formas proposicionais.

 Forma proposicional A:
a>0 e b>0

 Forma proposicional B:
a⋅b>0

A partir de formas proposicionais surgem proposições, mediante interpretação das variáveis. A


proposição é verdadeira quando a interpretação das variáveis satisfaz a forma proposicional. Disto
resulta a definição do conceito inferência lógica:
Da forma proposicional A resulta a forma proposicional B, se e somente cada interpretação das
variáveis que satisfaz a A, satisfaz também a B.
Exemplo:

{ {
a=2 b=17 a⋅b=34 >0
A a=0,5 b=7,8 B a⋅b=3,9>0
a=4 b=−5 a⋅b=−20<0
Observa-se nestes três casos que se A se satisfaz, então B também se satisfaz. Mas é difícil comprovar
desta maneira a validade de B para cada interpretação das variáveis. Neste caso, pode se utilizar o
seguinte teorema da lógica matemática.

Teorema: De A resulta B se e somente se a implicação


A ⇒ B é válida.
No entanto, a implicação
A ⇒ B é um teorema matemático cuja validade pode ser comprovada por
uma demonstração. Podemos então pouparmo-nos a interpretação das variáveis de A e B; é necessário

demonstrar somente o teorema


A ⇒B .

Representação do processo total de teoremas e suas demonstrações


Se quisermos tratar teoremas matemáticos e suas demonstrações de maneira que se estruture o
processo de ensino de acordo com o processo de conhecimento, então deve subdividir-se o processo
de ensino em duas fases principais que são: a de obtenção do conhecimento e a de asseguramento do
conhecimento. Para o tratamento de teoremas matemáticos, é necessário diferenciarmos entre 4
demonstrar um teorema e deduzir um teorema. Desde o ponto de vista lógico, não existe nenhuma
diferença; mas existe sim diferença desde o ponto de vista metodológico e da teoria de conhecimento.
A demonstração concerne somente à fase de asseguramento do conhecimento. No entanto se se obtém
um teorema mediante a dedução, então coincidem a obtenção do conhecimento e o asseguramento do
conhecimento.

Tratemos primeiramente o caso dos teoremas que não se obtêm pela via de dedução. Neste caso, está
comprovado que é conveniente considerar os seguintes processos parciais:

1. Busca do teorema: quer dizer, encontrar uma suposição.


2. Busca da ideia da demonstração: quer dizer, encontrar os meios para a demonstração e
achar a cadeia de inferências que conduzam das premissas à tese, através de uma série de
etapas intermédias.
3. Representação da demonstração: quer dizer, representar completamente a cadeia de
inferências lógicas desde as premissas à tese, num esquema de demonstração
conveniente.
O programa heurístico geral para a resolução de exercícios desempenha um papel importante na busca
do teorema e na busca da ideia da demonstração já que a descrição destes processos é orientada pelas
observações que tem feito sobre o trabalho com problemas. O aspecto metodológico essencial está na
busca da ideia da demonstração.
Programa heurístico geral para a resolução de exercícios
Tabela 1

FASES FUNDAMENTAIS FASES PARCIAIS

FASE DE ORIENTAÇÃO Busca do problema ou motivação

Apresentação do exercício

Compreensão do exercício 5

FASE DE ELABORAÇÃO OU Análise e precisão


DO TRABALHO NO Busca da ideia de solução
EXERCÍCIO  Reflexão sobre os métodos
 Elaboração dum plano de solução

Realização do plano de solução


FASE DE REALIZAÇÃO
Representação da solução

Comprovação da solução
Determinação do número de soluções
Subordinação da solução a um sistema existente
FASE DA AVALIAÇÃO
Memorização da “ganância” de informação
metodológica
Considerações perspectivas

Representemos agora as distintas fases do processo de ensino no tratamento de teoremas e suas


demonstrações. Aqui se seguirá a via da demonstração e por isso descreveremos primeiramente o
processo da busca do teorema.

Busca do Teorema
- Motivação e apresentação do problema docente;

- Precisão do problema docente;

- Reflexão sobre os métodos de busca do teorema;

- Apresentação de uma suposição;

- Motivação da necessidade de uma demonstração.


No primeiro processo parcial (motivação e apresentação do problema docente) é válido o que se sabe
sobre a função didáctica da motivação. As motivações intramatemáticas dirigem-se à simplificação de
uma via de solução, à busca da completude, à busca de relações, etc. Da motivação resultará a
apresentação do problema.

Com a precisão do problema docente passamos ao próximo processo parcial, ou seja, ao trabalho da
busca do teorema. Para precisar o problema nos perguntamos: O que se conhece? Sob que condições
se deve resolver este problema? Deve-se formular o objectivo na forma: busca-se uma proposição
sobre …
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Nos dois primeiros processos parciais, joga um papel importante os procedimentos heurísticos, em
particular os princípios heurísticos de:

 Analogia;
 Redução a um problema resolvido;
 Mobilidade, etc.
Na reflexão sobre os métodos da busca do teorema pergunta-se como se tem procedido em casos
similares; se é conveniente considerar primeiro casos particulares; se para obter uma suposição deve-
se realizar medições de lados, de ângulos, etc. Para além disso, deve-se formular certas generalizações
a partir do material inicial. Estas podem ser proposições como: as magnitudes são iguais, são
proporcionais, seus produtos são iguais, a soma é constante, etc.
Aqui utiliza-se amiúde os seguintes princípios heurísticos:

 Medir e comparar;
 Busca de relações e dependências;
 Generalização dos resultados particulares obtidos.

O próximo processo (apresentação de uma suposição) é a formulação da proposição obtida através


destes princípios heurísticos. Esta suposição é conseguida aplicando ao problema a estratégia
seleccionada durante a reflexão sobre os métodos. Com relação a isto pode resultar que o método
escolhido não conduza ao objectivo, neste caso deve-se retroceder um passo para seleccionar uma
nova estratégia. Mas se a estratégia escolhida conduz ao objectivo, quer dizer, se formos capazes de
formular uma suposição, devemos fazê-lo em forma de uma implicação, ou seja, na forma: Se…,
então…

Neste momento deve-se prestar atenção à generalização: Para todo… se cumpre…, ou ter em conta se
se trata de uma proposição existencial, que deve ser formulada na forma: Existe um … tal ….

O último processo é a motivação da necessidade de uma demonstração. O sei conteúdo consiste em


valorar criticamente a via da busca do teorema. Existem várias possibilidades tais como:

 Questionar-se sobre os erros de medição


 Aberrações ópticas
 Generalização a partir de um número finito de casos

Vejamos dois exemplos práticos:

Exemplo 1: Tratamento da multiplicação em Q (Livro de texto da 7ª Classe, página 26). Tratamento

da propriedade comutativa, ou seja


a⋅b=b⋅a

Exemplo 2: Teorema dos ângulos interiores de quadrilátero (Livro de texto da 7ª Classe, página…)

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