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4) Escolha um trecho do texto que contenha.

uma quanridade
desproporcional de diálogo. Corte algumas falas. Coloque­
_ . .
-as em d1scurso md1reto, de modo que alguma personagem
relate o que outra tenha dito. Qual foi a diferença? É possível O parágrafo e a mudança
apücar essa técnica em alguma outra parte do texto?
de seção (o sinal vermelho
5) Se você faz pouco uso das aspas (e, portanto, do diálo­ e os limites da cidade)
go), repense suas personagens. Reformule-as ou crie
outras
que - coletivamente - tenham muito o que dizer
umas às
OLJtras, muito o que expressar. Coloque-as juntas em cena.
Qual foi o efeito? .

Cuide dos parágrafos que o discurso cuidará de si mesmo.


velha máxima

'
.
j
Pouca gente pensaria no parágrafo como um sinal ele pontuação,

)l
'
l
mas ele certamente é. Antigarn.ente não havia parágrafos - os pe­
ríodos simplesmente se sucediam sem interrupção -, mas a certa

:. :.

-
'
·

i' altura o texto se segmentou em parágrafos, inicialmente indicados


pelo "C" (chapter) maiúsculo. Na Idade Média, esse sinal evoluiu

t.
. ...
para o símbolo "�" (denominado pilcrow ou parágrafo), que, por
.

> :�:
sua vez, evoluiu para a moderna abertura de parágrafo, assinalada
: · .- ·· : pela mudança de linha e uma entrada. A entrada que usamos hoje

· ·>·=:
já existia para os antigos tipógrafos, que a utilizavam para colocar

I
uma letra em corpo maior que abria os parágrafos. Essa letra já
·: :
. .
..
.
.

.
·

não é empregada, mas, para a sorte dos leitores cansados, o espaço


' !. reservado para ela permaneceu.
j.' Hoje, a mudança de parágrafo não é indicada por sinal algum,
I
o que talvez explique por que é negligenciada nos estudos so­
bre pontuação. É uma pena, porque é u m dos elementos mais

' ...�
importantes no mundo da ponwação. É empregado centenas de
·
vezes em um livro e é por si só capaz de elevar ou derrubar uma
. . obra. Poucos lugares são tão visíveis quanto o início e o tirn dos
parágrafos; tanto espaço não poderia deixar de cha.rnar a atenção.
O

'...t:_,·i• /l' [l:�


parágrafo tem, portanto, uma capacidade incomparável de se

136
137

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:
.· :
colocar sob os refletores , comtituindo sempre uma oportuni­ .. ·..
: diferença é que a mudança de seção cbstingue duas partes do texto
.
que, embota separadas, devem situar-se no mesmo capítulo.
.

l
dade de prender os leitores com novos ganchos. Tem o poder
Mais forte do que o parágrafo, porém mais fraca do que a mu­
. :.\:::,: l
singular de emoldurar um conjunto de períodos, dar-lhes forma
e sentido, delimitar o assunto em questão e preparar o cenário dança de capítulo, da é o ponto e vírgula das interrupções ou que­
para o parágrafo seguinte. Aliás, é por isso que alguns cursos de ·. '\:'

.
·•
.
bras de texto. É mais velha do que o parágrafo e mais velha ainda
leitura dinâmica ensinam os alunos a ler apenas o começo e o· ··:.:: . do que o ponto final. Se o ponto é o sinal de parar e o parágrafo
fim dos ·parágrafos. '·:.:·:.
. é o sinal vermelho, a mudança de seção são os limites da cidade.

:.: l.
O parágrafo é o irmão mais velho do ponto final: o ponto final ..
divide frases, enquanto o parágrafo divide grupos de frases. Assim
como a frase, o parágrafo deve ter um começo e um fim ade­
COMO USAR O PARÁGRAFO
quados. Contudo, enquanto o ponto final é tido como a espinhá A fmalidade principal da ab e rtura de parágrafo é defmir e de­
dorsal da pontuação, o parágrafo é, em grande medida, ignorado. limitar um tema. Uma das re gras básicas de redação é que todo
Isto é uma ironia, já que sua função pode ser considerada ainda parág rafo deve ter um argumento ou tese, deve começar com
mais fundamental do que a do ponto, pois não ateta apenas uma uma ideia, desenvolvê-la e conclL1í-la . A frase de abertura deve
".\
.j;l
frase, mas muitas. Se o ponto final é um sinal de parar, o parágrafo preparar o cenário, as frases do meio executam a c�na e a última
é o sinal vermelho do semáforo. fornece o desfecho. É um pacote bem amarrado. E fácil aplicá­
A mudança de seção (também conhecida como espaço de li­ ··lo quando se trata de ensaios ou textos acadêmicos, mas em
nha) é o mais subjetivo dos sinais ele pontuação. Raramente se se tratando de .ficção ou não ficção criativa é impossível que a
fala sobre ela, e nem mesmo há w11 consenso sobre como indicá­ ..
· .! obra avance de modo tão rígido, passando de um argumento
-la. Nos originais, esse sinal costuma ser indicado por uma linha ,; 1 a o utro, sem ser criticada p elo excesso de lineari dade ou pelo
em branco seguida de texto, ou por um asterisco ou grupo de
asteriscos, colocados no centro da linha em branco e separados, . ... ' ll
. ""_>
estilo inadequadamente acadêmico. Por exemplo, recomenda-se
aos escr itores que evitem começar parágrafos com "portanto" e
a interva los regulares, por tabulação. Em um livro encadernado, a .
.
. .
., . "fmalmente"; os blocos bem defmidos que constroem um texto
.·.:
mudança de seçào é em geral assinalada por um espaço de linha ,. . 1!
� :;� acadêmico são lineares demais para o mundo da criatividade. Isso
· .

entre dois parágrafos, mas também é possível indicá-la com uma '. · I é compreensível: os leitores não gostam de sentir que avançam de
grande variedad� de símbolos, desde uma estrela até um sinal grá­ .· t um argumento para outro; querem é ser capturados pela hist6ria.
fico relacionado com o tema do livro - como, por exemplo, um Os escritores veem-se, portanto, diante de uma situação di­
. fícil: precisam manter seus parágrafos bem amarrados, mas sem
barco em miniatura em um livro sobre ó mar. Qualquer que seja
o recurso visual, todos têm o mesmo propósito: indicar que uma que isso se torne evidente. A cada novo parágrafo, devem su til"
seção termina e outra começa. mente sugerir uma direção e, antes que ele chegue ao fim, devem
A mudança de seção é usada para demarcar seções dençro de lev�-lo a uma conclusão ou ao menos e nca mi nhá-lo nesse sen­
capítulos, as quais podem se estender ele vários parágrafo� a várias t ido. O domínio da mudança de parágrafo ajudará os escritores
páginas. Representa uma transição importante dentro do capítu­ nessa tarefa. Abrindo p a rágrafo no lugar certo, eles podem habil­
lo, em geral u ma mudança de tempo, de. lugar ou �té 'n f esmo de mente encapsular o tema e preparar o cenário para o tema do
ponto de vista. In.díca aos leitores que, enibo.ra o capítúlo não parágrafo seguinte.
tenha terminado, eles podem confortavelmente fazer Ú,.rn:a pausa e Vejamos um exemplo extraído do como "Heat" [Calor], de
Í Joyce Carol Oates:
digerir o que leram. Acredite: trata-se de uma q 1éhrasignificativa,
quase com o mesmo peso de uma mudança de capítulo. A única

139
138
·•.

�:
-·-· ��--··.
8
··
."
• . ' ·• ·!I
Fomos vê-las na sala em que estavam sendo veladas, levaram-nos
·. : j com um gancho terá pouco resulta do se . o parágrafo seguinte, por
até lá. As gêmeas estavam em caixões idênticos, brancos, lisos, reluzentes, sua vez, não começar com uma frase forte relacionada com o fi­
perfeitos como plástico, forro franzido de cetim branco, como o interior nal da anterior. Vejamos as linhas iniciais de O grande Gatsby, de F.
de uma caixa de bombons. Havia também !frios brancos como cera e Scott Pitzgerald:
odores de talco e perfume. A sala estava lotada, e havia uma só porta,
usada tanto para entrar quanto para sair: Nos tempos em que eu era mais jovem e mais vulnerável, meu pai me
Rhea e Rhoda eram a mesma menina, quiseram que fosse assim. deu um conselho que fiquei ruminando desde então.
Só olhando de urna para outra era possível notar· que eram duas. "Sempre que quiser criticar alguém", ele me disse, "lembre-se de
que nem todas as pessoas neste mundo tiveram as vantagens que
Note que o primeiro parágrafo começa com a imagem da che­ você teve."
gada à sala do velório; as frases seguintes desenvolvem essa ima­ . ..
. ·.. ·. · .·
gern; e a frase tlnal a conclui. Quando Oates avança para o pará­ . j Fitzgerald decidiu corneç:tr seu romance com dois parágrafos de
1
grafo seguinte,já deixou de descrever a sala e parte para um outro um período só, atitude ousada. Mas fi.mciona. Ajuda a trazer o lei­
conceito - e nada disto é feito com mão pesada. É sutilmente su­ tor imediatamente para dentro do texto. Note que càda um desses
gerido pela mudança de parágrafo. Note também o terrível con­ .
' . . ·.· ·· 1 parágrafos se sustenta por si. ·m esmo, embora se relacione com o
.
traste enrre os p arágrafos, o impacto que o segundo e o terceiró que vem em seguida .
provocam ao se destacarem como parágrafos de um só período,
principalmente por surgirem depois de um parágraf
o mais longo. • Nenhum outro sinal de pontuação tem tanto poder sobre o an­

Isto não acontece por acaso: cada período reflete o conteúdo, en­
i damento do texto quanto o parágrafo. Os parágrafos curtos acele­
·.·.··.·· ...; ram o ritmo, enquanto os longos podem torná-lo ·arrastado. Se o
fatiza uma ideia profunda. . �:

andamento do texto estiver lento, é possível acelerá-lo por meio


de frequentes rimdanças de parágrafo; se estive r rápido demais, é
• É curioso que os parágrafos sejam ao mesmo tempo indepen­
possível desacelerá-lo diminuindo a frequência das mudanças. Cla­
dentes e inter-relacionados. São como elos de uma corrente, cada
ro que isto só deve ser feito por um bom motivo, não p ara arbi­
qual completo em si mesmo, mas ligados uns aos outros. Para isso,
trariâmente acelerar ou desacelerar o andamento da obra. Assim
a abertura e o fechamento das frasés devem imperceptivelmente
como os demais sinais de pontuação, os paógrafos têm sua função
funcionar como ganchos, transportan<}o-nos de um parágrafo a
específica e basicamente dependem do conteúdo ao redor. Se você
outro. Aliás, a própria mudança deve ser considerada um gancho.
estiver no meio de uma calorosa 'cena de ação, por exemplo, as mu­
danças fre qu entes podem ser apropriadas - aliás, parágrafos longos
É grande a diferença entre uma mudança de parágrafo boa e
em uma cena de ação po d em ser inadequados. As mudanças de
uma excelence. Além de encapsular o tema, a mudança ex�elente .
par�grafo devem se adequar ao conteúdo.
deixa o leitor na expectativa, com vontade ler o parágrafo se­
. '
de i
.
como a abertura e o fechamento de capículos têm
.
guinte .
No romance de Ellen Cooney, Gun Ball Hill [Colina Gun Ball),
Assirn
ganchos, esse mesmo princípio deve ser :t�hcado à rilUC!�nça de os parágrafos curtos contribuem para acelerar o ritmo nos mo­
p arágrafo (e também um capítulo) terminar com
.
parágrafo. Se um
mentos apropria.dos:
um conteúdo muito autossuficiente, o leitor ser�tirá c6ino se já
tivesse lido o bastante e não terá motivação para continuar lendo. "Os ingle�es têm talento para prender'', ele lhe disse.
Além disso, a abordagem deve ter dois lados: renninar o parágrafo Levaram-no às quatro da tarde. Em um dia de verão, 1 9 de agosto.

140 141
Note o uso do ponto final, como as frases curtas irniram parágra ­ concentrar-se no conteúdo. Também de.i...,-;ará o autor em condi­
fos curtos, cada qual enfatizando um ponto signiftcacivo, pro or p ­ ções de, no momento certo, alertar o leitor para algo importante.
cionando mais vida ao sequestro.
Raymond Carver, por outro lado, consegue desacelerar o r.itrno • I sto nos leva à questão da quebra da uniformidade. Depois de
com parágrafos curtos em seu conto "Colleccors" [Colecionadores]: estabelecida uma uniformidade ge ral, é possível - e necessário -

quebrar as regras, variar a extensão do parágrafo quando o conteú­


Eu estava sem trabalho. Mas todos os dias esperava notícias do norte. do o exigir. Se em um texto repleco de parágrafos de sete períodos
Deitava-me no sof
á e ficava ouvindo a chuva. De tempos em tempos me surgir um parágrafo de um só período, isto causará um forte im­

levantava e ia olhar através da cortina na esperança de ver o carteiro. pacto sobre o le�itor ; o conteúdo desse parágrafo ser� lançado sob

Não havia ninguém na rua, nada. a luz dos refletores. Es te é um modo de realçar algmn. aspecto de ,

indicar que algo é extremamente significativo. A v:lriação da ex­


tensão do parágrafo é panicularmente eficaz em começos e fmaís
Embora os parágrafos (e os pedodos) sejam curtos, o ritmo é ar­
de seções, de c apítulos ou da obra inteira. Contribui para acrescen­
rastado. À medida que assimilamos cada ponto, sentimos o tempo
tar um toque dramático, uma sensação de quebra do estilo, o que
passar sem que nada aconteça. Depois surge um novo parágrafo e
muitas vezes se exige nos começos e finais.
continua não acontecendo coisa alguma. Somos levados a sentir o
que o narrador sente.
Eis um belo exemplo extraído do romance Americart Scm [Filho
americano], de Brian Ascalon Roley:
• A abertura de parágrafo é por excelência um elemento de con­
Thomas é o f1lho que ajuda a pagar a hipoteca vendendo cães de
trole. D elimita o tamanho do texto e, nesse sentido, exerce grande

guarda a pessoas ricas e a celebridades. t o filho qÚe lhe causa emba


impacto sobre a uniformidade. Pode, por exemplo, criar um pa­
­

raços aparecendo nas festas de ramnia com os músculos cobertos de


rágrafo de uma linha ou de três páginas. Se tal parágrafo (de uma

tatuagens de gângsteres, cabeça raspada e olhos vermelhos de maco·


linha ou de três páginas) contiver o tema, então tecni cam.en te

nha. É na verdade meio branco, meio filipino, mas veste-se corno mexi·
estará cumprindo sua função. Mas é preciso levar em conta a uní­
fonnidade. A extensão dos parágrafos não deve variar demais ao
. i

. I. cano. e isto deixa mamãe perturbada. Ela não consegue entender por ' !
longo do texto. Isto seria muito incômodo para o leitor, que não ·'·.·. 1
. �-, que, se o f.lho quer parecer algo que não é, ele não tenta ao menos
conseguiria relaxar. ..:, ·! parecer branco. É também ·o filho que diz que, se alguma namorada
criticar mamãe OLI tratá la mal, ele dará uma porrada na vagabunda ali
-

Ao introduzir um novo parágrafo, é prec iso portanto, considerar


,
em casa mesmo.
também as abenuras anteriores e as seguintes. A abertura 4e pará-­ Sou o nlho calmo, que não dá problemas. e ajudo mamãe no serviço
grafo, por sua própria natureza, tem tudo a ver. com o contexto (é doméstico.
por isso que a examinamos neste capítulo, e não n;1 seção'"Con­
texto"). Na maioria dos casos, busca se estabelecer o 7stilo por
- A mudança de parágrafo por si só basta para nos fazer sentir o
meio de uma uniformidade geral. Se os parágrafos de.úm determi­ contraste entre os dois irmã os. O contraste entre os pa rágrafos é
nado texto compõem-se em média de sete penoc.los p�f ' , ��emplo, tremendo co,rn destaque para
, o segundo, que realça o faro de que
é preciso permanecer o mais próximo possível d�sse núifléro algo
' , os dois irmãos são extremamente diferente s.
em torno de dois períodos mais ou a menos. 'Isto cont�:ibuirá
a Louise Erdrich obtém grande efeito corn a mudança de parágra -­

para estabelecer o ritmo geral da obra, ajudará o leitor a relaxar e fo em seu conto "Matchimaniw":

!42 143
Fui guia na última caçada de búfalos.Vi o último urso
Peguei em uma armadilha o últim o castor. cujo pelo
morto a tiros.
crescia havia mais
de dois anos. Disse em voz alta as palavras do pacto governamental e
me recusei a assinar o
nosso lago. Cortei
ac ordo que nos deixaria sem nossos bosques e
a última bétula mais velha que eu e salvei o último
· �1 • As mudanças de seção podem indicar passagem de tempo.
Embora isto geralmente seja indicado pela mudança de ca­
pítulo, há, por certo, n10mencos dentro de um capítulo ern
gue o [empo passa . É possível, por exemplo, que você tenha
l que lidar com wn pegueno decurso de tempo (uma ho.ra,
membro da farnnia Pi!lager.
J digamos) ; nesse caso, uma mudança de seção pode ser mais
Fleur. I apropriada do que uma completa mudança de capítulo. Ou
Encontramo-la em uma tarde fria de fim de inverno, na cabana da 1 se a obra abranger, por exemplo, dez anos, cada capítulo co­
fam1lia, perto do lago Matchimanito. aonde meu colega Edgar Pukwaf1, i brindo um ano, será apropriado mudar de seção para indicar
da polícia tribal. tinha medo de ir. :l a passagem de alguns meses.

fteur: parágrafoousado, de uma palavra só, espremido entre dois


j
i
A mudança de seçâo também pode indicar mudança de cená­
parágrafos mais longos. Não há pontuação mais visível do que essa. :-.l •l
;
rio. Pode haver ocasiões em que você queira mudar de cená­
E funciona. Erdrich indica ao leüor que .há uma nova personagem rio dentro do mesmo capítulo; talvez, no caso de uma mudan­
em cena, uma personagem muito significativa. ça pouco significativa (como ir a outro lugar dentro da mesma
cidade) , seja conveniente uma quebra menos marcante. De
modo geral, a abertura de capítulo é mais indicada para mu­
danças radicais de cenário, principalmente se acompanhadas
de transições de tempo e ponto de vista. O que importa é a
coerência: não se devem usar mudanças de seçâo para indicar
i
mudança de cenário em determinado capítulo e, mais adante,
( usar aberturas de capítulo para o mesmo propósito. É preciso
manter-se constante na escolha feita .
. i
. ;•. .'I,
· .. · !
COMO USAR A MUDANÇA DE SEÇÃO A mudança de seção pode indicar mudança de ponto de vista.
Ao considerar se se deve ou não aplicar a mudança de seção, Em geral, deve-se reservar a mudança de ponto de vista para
a primeira coisa a entender é gue, ao f;izê-lo, você dá ao-leitor a a abertura de capítulo; esta é a mais significativa das quebras,
chance de deixar o livro de lado. A mudanÇa de seção cem quase e os JeitorÇ!S precisam de tempo e espaço para se dar conta
a mesma força da mudança de capítulo, e quase o m esmo apelo de que estão dentro da cabeça de llma outnt personagem. A
visual: cria um momemo conveniente, agradável, para o descanso. coisa menos recomendável é mudar de perspectiva dentro de
Nesse caso, é preciso perguntar-se se ela é de fato necessária. Pode um mesmo capítulo; o leitor prosseguirá a leitura achando
o capítulo sobreviver sem ela? Se você concluir que precisa d6 uma que continua na ·perspectiva de outra personagem, e, quando
pausa significativa, pergunte-se se não seria melhor abrir 1� oyo capí­ finalmente perceber o que acontece, precisará voltar atrás e
.
tulo. E preciso ter uma excelente justificativa p:tra'introduzir seções reler, e ficará frustrado.
no capítulo em vez de formar com elas um novo capítulo. ·.,
Se você passar no teste dessas duas perguntas, estará prÓ'rito para Há, porém, circunstâncias em que talvez seja desejável mudar de
mudar de seção. Às vezes, isso será necessário. Exartunemos então ponto de vista dentro do mesmo capítulo. Por exemplo, se você
i
alguns modos de aplicar a mudança de seção: criou uma série de personagens e decidiu dar a cada uma delas
!
. !
I
144 145
·-----
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· J:
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��-.��----
·:· �l
;

peso igual, mudando frequentemente de urn ponto de vista para Vejamos algumas mudanças de seção extraídas da lirermura.Tim
outro; ou se está escrevendo um romance em que as duas perso­ O Brien usou esse recurso com maestria no conto "The Things
'

nagens têm o mesmo peso, e você alterna seus pontos de vista ao They Carrieà" [As coisas que eles carregam]:
longo da obra. Neste último caso, é possível alternar os pontos
o poncho pesava quase um quilo, mas valia
de vista a cada capítulo, mas, no capítulo final, quando o ritmo se De forro acolchoado,
acelera e -os dois se juntam, convém recorrer à mudança de seçao cada grama de seu peso. Em abril,
por exemplo. quando Ted Lavender
í i atingido por um t;ro, usaram-no
para embrulhá-lo, depois para trans·
�ara mudar de ponto de vista. Mesmo assim o recurso é discutível. o
s para erguê-lo ao hel:cóptero
E preciso ter uma justificativa para optar por esse c am1 nho, e, nesse • .
portá-lo pelo campo ele arroz. e depoi
caso, você terá que se empenhar para que o leitor reconheça de que o levou embora.
*
imediato que se trata de um ponto de vista diferente.
Eram chamados de mulas ou recrutas.
• Para indicar transições que não foram assinaladas. Às vezes
e era um.
ocorre uma transição significativa dentro de um mesmo capí­ Comessa pontuação, O'Brien demonstra que a mort
fmal da seção, ao
tulo sem que nada a indique. lsto confunde o leitor, que só bem acontecimento corriqueiro no Vietnã. Na parte
usavam, ele cita o
descrever objetos que os soldados comumente
este também e�:a usado p.ara
mais tarde vai perceber que houve uma mudança de tempo,
cenário ou ponto de vista (ou alguma outra mudança impor­ poncho e, de súbitQ, acrescenta que
tante), e terá que voltar atrás e reler. Se houver alguma mudança carregar cadáveres, corno se isto .fosse algo rotineiro. Em segu1da,
orçando a ideia de
importante dentro de um mesmo capítulo, ela deve ser marcada ele introduz nova seção e muda de assunto, ref
come ntar.
por uma nova seção. Sem isto, o texto dará margem ·a confi.tsão. que um cadáver é algo que nâo vale a pena
Na abertura do rom.ance Compline (Complecas
l , de Paul Cody,
A mudança de seção proporciona ao leitor um descanso no encon tra-se um dos usos mais inventivas da
mudança de se�:ão
meio de um capítulo longo. Tenha em mente, porém, que isto, que já vi:
por si só, não justifica a mudança. Esta só deve ser usada se,
Urna da manhã. Segunda-feira. 6 d
além do recomendável descanso, houver também uma transi­ � janeiro.
ção significativa. As quebras não devem ser fortuitas - de outro
*

modo, a� retomar a leitura no mesmo ponto, o leitor se per­ Ann partiu esta noite para Knoxville onde sua irmã morreu no sába-
.

do, por votta das 1 O da manhã. Depois


de dois anos com cãr.cer. sofrell
guntará por que ocorreu a quebra�: Isto desvaloriza o. recurso,
que não será levado a sério q·ua.ndo aparccer novamen te.
' llrn derrame cerebral.
*

esc u ro bebericando vinho em um


Se usar a mudança de seção, lembre-se de que toda vez q�e fizer Ray está acordado, semado no .

isso estará criando novos começos e novos finais. A força de.sses copo enorme.
li·
momentos deve ser respeitada. Não use a mudança ele seçãd a me­
e pode chegar a menos
nos que pretenda concluir a seção anterior co m um gancho forte e Lá fora. a temperatura está abaixo de z.ero
·
começar a seguinte com outro igualmente forcé: Mais i�pprtante dez graus.
ainda: certifique-se de estar preparando esse gancho com;boa an­ O céu está profundamente escuro. com algumas nuvens fugidias. No
te lança sombras de
tecedência; não o introduza de modo brusco. Ü•ganchÓ' deve ser quintal, do outro lado da janela. uma meia-lua brilhan
parte integrante do texto, e, para um bom efeit;; são necessárias galhos sem folhas sobre o chão coberto de
neve.
*
várias páginas para desenvolvê-lo.

147
146


.... . .. .. .. :'":···
Ray ficou para trás. no norte do estado de
Nova York, com Eammon
tin seus
• O parágrafo pode resultar curto demais quando termina pre­
e Qu en de dez e sete anos Os quatro. Ray, Ann,
filhos.
.

Quentin, tinham ido para


. Eammon e maturamente, antes de concluir a ideia. Neste caso, pode-se
do Tennes e havia apenas duas
o leste se sema­ consertá-lo com a simples mudança do parágrafo seguinte para
e por tanto tempo, teve um forte
nas, quando 1'1artha, que estivera doent
um ponto posterior. Isto elimina o sintoma, mas não resolve a
derrame. Pegaram o avião três dias antes
do Natal.
*
questão principal: o processo mental do autor. Parágrafos claros,
ainda mais do que frases claras, são i dic tivos do alcance de
n a

atenção: é preciso talento para desenvolver u,ma ideia complexa


mãos de outro autor, si to poderia ficar muito estiloso, rnas
Nas ·.:,
ao longo de vári s frases, de tal modo que o parágrafo pareça um
a
Cody consegue um bom resultado. Ele começa o rom.ance real­ pensamento longo. Os. escritores com curco alcance de atenção
çando imagens intensas, verdadeiros instantâneos fotográficos, terão dificuldade nesse aspecto, mas até mesmo aqueles com um
fragmentos de cena, f.nendo o leitor mergulhar fundo em um maior alcance de atenção vão se cansar em algum ponto e acabar
mundo sombrio A paus proporcionada pela mudança de seção
. a
concluindo oparágrafo cedo ou tarde demais. Isto é um sinal
co�tu ma oferecer ao leitor a oportunidade de escapar de um con­ de que o pensamento não está tão claro quanto deveria, de que
teudo pesado, trazendo um momento de descanso e, em seguida, o parágrafo não está sendo concebido como bloco unitário.
um

algo ?ovo. Aqui, porém, Cody sugere que não há escapatória, que, Além disso, significa gue o parágrafo seguinte inevitavelmente
ternunado o descanso, voltamos à ininterrupta desolação .
começará mal, já que esse começo se dará com material rema­
nescente do anterior Um texto assim parecerá caótico acabará
. e

levando o leitor a desistir da leitura .


O PERlGO DO t)SO EXCESSIVO E INADEQUADO
DA MUDANÇA DE PARÁGRAFO
cl ir um
Ao con u parágrafo, é recomendável voltar atrás para
• Uso excessivo. Os parágrafos curtos funcionam bem em textos verificar a frase de abertma. O círculo se completou? Há ainda
de jornais e revistas, mas não são para
o mundo dos livros (esse algo a dizer? Do mesmo modo, quando se começa um parágrafo,
problema, aliás, cos uma atingir muitos jornalistas que se comam
c é preciso indagar se a frase de abertura está de fato iniciando
esc tores). Quando ·dispõem a ler trezemas páginas ou mais, os
n se uma ideia nova ou simplesmente continuando a do parágrafo
leJtores esperam encontrar no texto um andamento harmonios anterior. Sempre pergunte: por que terminar aqui? Por que não
o
e os parágrafos definem o andament�. Os
leitores de livros an� uma frase antes, ou depois? Se não houver uma boa resposta,
seiarn por aurnencar s ua capacidade de
'átenção a fm1 de assimilar os leitores se sentirão nas mãos de um escritor arbitrário. Nada
parágrafos de sete períodos (ou mais) e mu.itas vezes bl scam um
,
1
poderia ser pior .

desafio intelectual maior do que quando


Jeem um artigo dejornal.
A exc ss!Va mudança resulta em parágr • Por Otttl'O lado, há textos em que as mudanças de parágrafo pa­
� afos quase sempre curtos, o
que uma experiência de leitur desagradável.
ena
a recem não chegar nunca, que deixamos uma ideia para entrar
em

em outra, tudo dentro de un1 único parágrafo. Isto é igualmente


Assim como as frases cunas, os parágrafos cuno.s produzem uma um p robl ma Sern a mudança, os leitores
e . se sentirão lançados a
leitma cheia de solavancos. Note que não há. n�da de- 'erratlo em uma nova ideia antes de dig r ir a anterior. Os parágrafos que não
e
• j

usar um parágrafo curto de vez em quando, ou até me�rno · uma terminam onde deveriam serão muito longos, dificultando a com­

mas seu uso


série deles em algum ponto crucial da obnl,
' '
���stante l '
preensão para o leitor. Se é incôrnodo para o leitor passar pelos
constitui um problema . solavancos causados pelos parágrafos curtos, a e?<periência com a
i
i
leitura de parágrafos longos é de confusão e sufocamento.

148
149

:·, �
�·... ...
. }0; -:, . r

. ,

.. .

Repito; ao concl uir um parágrafo volte atrás para verificar a


,
como se o capitulo tivesse si do retalhado em pequenas partes. A
fra.�e de abenura. O círculo se completou? Será que você não se ·,
regra geral é que não deve haver mais do que uma ou duas mu­
I
estendeu demais? Pergunte-se; por que terminar aqui? F danças de scçào por capítulo. O leitor encontra uma certa satisfa­
Tenha em m ente no entanto, que alguns grandes alJtores, corno
,
ção em se deixar absorver por quinze ou vime páginas seguidas,
Faulkner e Moody, deliberadamente demoravam a mudar de pa­ c as múltiplas mudanças de seção o obstaculizam. Quanto mais

rágrafo, criando parágrafos que se estendem por páginas e páginas. mudanças, maiores as chances de o livro ser dejxado de lado. O
Na verdade, pode-se dizer que parágrafos longos definem o estilo excesso de mudanças também faz o leitor trabalhar mais, já que
desses escritores Tal uso não é proibido, só que é muito estilístico e precisará despender a energia mental para enüentar rilúltiplos co­
.
nun ca deve ser adorado sem uma boa razão. meços e fms, bem como várias transiçõe::s significativas (de tempo ,

cenário ou ponto de vista) em um único capítulo. Esse trabalho


.
• O pi or casoé o dos parágrafos sem foco nem rumo, que come­ mais árduo deve ser reservado para as mudanças de capítulo. Além
çam com uma ideia fone mas não a sustentam nem a co nc luem .
disso, quando frequentes, as mudanças de seção perdem a força: o
São tão arbitrários que a mudança se torna compl etame nte ine­ l eitor desconfiará de s eu impacto característico se elas aparecerem
·
ficaz, já que, onde quer que ocorra, será por mero acaso. Este é o tempo todo. As mudanças de seção são particularmente preju­
um caso evidente de pensamento confuso -- com parágrafos àesse diciai s em capítulos cu rtos nos qu ais raramente devem ocorrer.
,

tip o será impossível produzir um texto conciso. Para quem e screve


assim, a solução é concentrar-se no começo e no final dos p ará­ • Às vezes, as mudanças de se:: ção surgem em pontos nos quais não
grafos. Um começo sólido proporciona uma direção sólida; uma são de faro necessárias, em lransições pouco significativas. Nesses
conclusão sólida leva ao lugar certo Observados esses princípios,
.
casos, a nov;t seção ·muitas vezes começará exatamente no mes­
é menos provável que você se perca no meio do caminho; mas ,
mo tom, s em que nenhuma transição tenha ocorrido. A mudança
caso se perca, os começos e os finais poderão salvá-lo, mantendo os toma-se então arbitrária e, depois de uma ou dLJas ocorrências,
parágrafos legíveis para que você não saia dos trilhos. perderá a força.

1\s mudanças de seção também são mal empregadas c1uando usa­


das como pretexto para encerrar de modo abrup to alguma cena ,

poupando ao escritor o trabalho árduo de desenvolvê-la. Podem


: \ ·· tornar-se um recurso cômodo para terminar a cena com um tom
de mistéri o, sem arremate, atribuindo-lhe assim um signific ado ou
uma importância maior do que ela na verdade tem. 1\pós suces­

. . .
sivas mudanças, o leitor não tardará a perceber que não há muito
conteúdo nessas seções e ficará propenso a deixar a leitura de lado.

• Por outro lado, às vezes a transição indicada por m11a mudança de

O PERl�O DO USO EXCESSIVO


scção é muito forte, e talvez fosse mais adequado iniciar um novo
E
capítulo Pode ser cênue a linha que define a escolha entre a mudan­
.
INADEQUADO DAS MUDANÇAS DE SEÇÃO
,
ça de seção e a mudança de capítulo, principalmente quand() está
• Há livros com quatro, cinco ou mais mu danÇas de seção por
'
em questão uma trans.ição significativa. Às vezes a extensão do capí­
capítulo, e o efeito disso é imediato. 1\ leitura parece entrecortada, tulo pode ser um fator determinante: se todos os capítulos tiverem

150
1S1
··.
- .:
TIT
• ·:;:

1 páginas e, na página 15, você se deparar com uma transição


rrint. danças de seçào deve ter uma mudança na página 10 e ou tra na
ignif
s tcativa, em nome da uniformidade talvez seja preferível mudar •j 20, o que resulta em seções de dez páginas cada. Mas se as duas
de seção. A solução, porém, nem sempre é tão evidente. mudanças estiverem situadas na página 3 e na 26, haverá três se­
ções de 3, 23 e 4 páginas, respectivamente Isso pode causar uma
.

Se suas mudanças de seção forem muito marcantes, os leirores sensação incômoda. As mudanças de seção nem sempre precisam
passarão a vê-las como mudanças de capítulo. Da próxima vez que ': :._·· · 1 ocorrer em intervalos regulares, mas deve haver alguma unifor­
encontrarem uma nova mudança de seçâo, vão ficar na expectativa midade - ou, se for para quebrar a uniformidade, que isto seja
de uma transformação significativa no andamento do livro e mais intencional. O importanre é saber o que se está fazendo e não
propensos a escolh er esse momento para interromper a leitura. . · :.':'
utilizá-las de modo fortuito.
Além disso, as mudanças de seção muito substanciais diminuem
a força das mudanças de capí tulo: se as seções têm o peso de ca­
pítulos, de que servem estes últimos? Se as mudanças de capítulo ·, .�
O QUE O USO DAS MUDAl'lÇAS DE PARÁGRAFO
não indicam guebras mais fortes d o gue as de seção, elas se tor­ ·. ' E DE SEÇÃO REVELA SOBRE O ESCRITOR
nam ineficazes. As mudanças de capítulo serven1 a um propósito .. .. . Os escritores t}ue abrem parágrafo a tado tempo (criando pará­
importante, que é o de proporcionar aos leitores um descanso, um grafos curtos) tendem a produzir textos de ritmo acelerado, vol­
momento para assimilar a informação. ';\',' · tados para a ação e concentrados no desenvolvimento do enredo
As mudanças de seção muito marcantes são contraproducentes: a wdo custo, a ponto de sacriftcar o bom acabamento. Costumam
não deixam ao leitor espaço para respirar nem tempo suficien­ ser objetivos, práticos. São, em geral, principiantes ou escritores
te para assimilar a transição de modo adequado; em decorrência que ainda não compreenderam que escrever é percorrer uma tra­
disso, uma transição importante (como urna mudança de tempo, jetória. É provável que tenham formação jornalística, na qual os
cenário ou ponto de vista) não terá o devido destaque e não será parágrafos curtos são a regra.
bem apreendida. O lado positivo é que tais escritores se preocupam com o en­
redo e o ritmo, procuram agradar o leitor e apresentam ideias
As mudanças de seção, assim como as de parágrafo, têm tudo a ver
.. ;

concisas. Se forem j ornalistaS sua formação lhes trará facilidades
,

com o contexto; existem para definir uma série de parágrafos ou nesses aspectos mas apenas se forem suficientemente humildes
-

páginas, para compô-los em seções e situá los no contexto maior do


-
para perceber que agora atuam em outro meio de expressão e
capítulo. Devem levar em conta o cont�'<to geral da obra. Portanto, estiverem dispostos a aceitá-lo com suas peculiaridades.
ao decidir mudar de seção, é preciso considerar quantas, em média, Já os escritores que pouco mudam de parágrafo (criando pa­
aparecem nos outros capítulos. Por exemplo, se h;í cinco seções no rágrafos longos) caem em duas categorias. A primeira, a mais
primeiro capítulo, mas nenhuma nos demais, a obra não parecerá comum, compõe-se daqueles que não cêm autocrítica. Suas
uniforme; ou, se cada capítulo tem duas seções, mas um d�ies tem ideias são abundantes e misturam-se urnas às outras. São menos
cinco, também não haverá uniformidade (a menos que o autor faça propensos a escrever com concisão, e, além disso, seus capítulos
isto deliberadamente). Isto indica que determinado capítulo não começam e terminam de modo arbitrátio. O livro como um
está de acordo com o restame da obra, que talvez-tenh�. sid'o ,escrir.o todo parecerá confuso e precisará de muitos cortes. Corno não
às pressas ou feito como uma colcha de retall1os: . ·
,' sabem concluír adequadamente, também costumam ter proble­
'
·· .,�
mas para criar ganchos eficazes, e é provável que ü livro ternüne
É p reciso a-inda considerar a disposição das muclanças de seção várias vezes em vez de uma só. Precisam aprender a discernir
dentro do capítulo. Um capítulo de trinta páginas com duas mu- suas ideias.

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de seção e apenas uma em outro, se houver scções de três páginas
.
Já o segundo tipo cria parágrafos bem elaborad os, mas simples ­

f
mente longos demais. São raros. É provável que sejam escritores :_ I e outras de trinta e três, isto pode ser sinal de um pensamenco
sofisticados, mais velhos, estudiosos ou de forma ção acadêmica. confuso. É p rov ável que caís escritores escrevam o que lhes venha
Têm grande alcance de atenção, são menos propensos a priorizar a à cabeça, ou de modo desorganizado, descontrolado. Faltará a seus
açâo e mais preocupados com o texto em si. Isto favorect: o próprio livros, provavelmente, um arco definidor, uma direção.
processo de escrita - o estilo, a e scolha de palavras, a execução -, .: !
mas não o enredo e o ritmo. Seu texto provavelmente será muito
lento, até estilístico. Precisam aprender que nem todo leitor tem EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
a mesma cap acidade mental que eles, ou o desejo de exercitá-la. 1) Examine as últimas frases de vários parágrafos de seu cexto;
Todos esses escritores usam mal o parágrafo, já que parágrafos
·. ·.·.
- ! em seguida, examine as frases de aber tura desses parágrafos.
muito longos ou muito curtos começam e terminani fora de tom. A re laç ão entre elas está adequada? Ca da parágrafo encerra
Isto indica que lhes falta clareza de pensamento, e é mais um uma idóa completa? Algum deles termina de modo prema­
exemplo de que a pontuação revela o escritor: mudanças con­ turo ou se estende demais? É possíve l fazer ajustes? Qual é o
fusas revelam um pe nsamento confuso Mudanças claras, lúcidas, efeito disto sobre o texto?
.
revelam um pensamento claro e lúcido. Começamos, então, a per­ . ·;
ceber que a pontuação pode ensinar o escritor a pensar e, co nse­ 2) Sdecione duas páginas de seu texto c corte pela metade a ex-·
quentemente, a escrever. tensão dos parágrafos. Talvez seja preciso cortar ou acrescentar
Os que mudam excessivamente de seção (criando muitas seções) material para dar coesão a esses parágrafos ma. is curtos. Como
costumam buscar saídas, algum truque de estilo para compensar fica agora a leitura? Como cal mudança repercute no ritmo e n�
aquilo que não oferecem em outra parte do texto. Tendem a não estilo? Essa mudança de estilo lhe inspirou alguma ideia nova? E
terrrrinar o que come çaram , a não desenvolver bem os elementos possível aplicar essa técnica cm algi.1ma outra parte do texto?
do texto, deL\':ando-os mi steriosamente pendentes, se m oferecer a
solução ansiada pelo leitor. São impacientes. Pensam nos compo­ 3) Sel.ec ione duas p áginas de seu texto e dobre a extensão dos
nentes individuais, não no quadro geral; aliás, é provável que seus parágrafos. Talvez seja preciso combinar dois parágrafos ou
livros pareçam uma compilação de partes ds
i so ciadas. mais, ou acrescentar material novo. Em seguida, releia tudo.
Um livro pode perfeitamente prescindir das mudanças de se­ Como fica então a leitura? Como tal mudança repercute no
ção, sendo, portanto, dificil apontar exemplos de uso in�uficiente. ritmo e no estilo? Essa mudança de estilo produziu alguma

Por outro lado, há ocasiões em que elas' f)odem ser necessárias, e difere nça no seu jeito de escrever ? Trouxe-lhe ide ias novas? É

os escritores qt1e as omitem talvez não tenham muito senso de p ossível aplicar essa técnica em alguma outra parte do texto?
transição. É poss!vel que não criem bons ganchos de agertura e
desfecho, que seu texto não c apture o leitor. É também proyável 4) Veriftquc a ten tamen te a uniforrrridade dos parágrafo.s. Con­
que não tenham talento para o drama e não percebam coin a de­ te o número de períodos de cada um. Faça isso em um capí­
vida clareza a importância da mudança de temp�, de cenário, de tulo inteiro. Qual é a média? Em seguida, verifique se algum
ponto de vista. É provável, portanto, que ,não -f.·wani b�rll uso de parágrafo está mui to além ou mui to aquém dessa média. Em ·
nenhum desses recursos. -,, · caso positivo, há üm bom motivo para isso? Se não houver
Há ainda os escritores que usam mal as mudan ças (l'e seção, o mn bom. motívo, é possível dirninuir ou aumencar esses pa...

que pode ser u m reflexo incómodo de seus p rdcessos ele pe nsa­ dgra fo s a fim de obter uma uniform idade geral? Qual é o
mento. Se em um capítulo houver, por exempló, quatro mudanças ' efeito disto sobre o texto?
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5) Procure em seu texto algum momento que você gostaria


que fosse impactante. Para obter esse efeito, é p ossível con­
trastar um parágrafo longo com um curto?

6) Examine seu texto e verifique se algum capítulo contém


transições significacjvas (principalmente os capítulos longos),
como mudanças de tempo, cenário ou ponto de vista. É
possível introduzir uma nova seção em algum desses pontos
para· ajudar a ma1·car a transição?

7) Examine com atenção o material que vem imediatamente


antes e depois das mudanças de seção. Há bons ganchos de
abertura e desfecho? Se não é possível reforçá-los?
,

8) Examine atentamente as mudanças de seção e ver ifique se


alguma foi usada como solução fkíl, para evitar um me rgu­
lho mais profundo em alguma personagem ou cena. É pos­
sível desenvolver o material que se encontra antes da nova
seção? (Quando terminar, você talvez se dê conta de que a
mudança de seção já não é necessária.)

9) Examine atentamente as mudanças de seção do texto e veri­


fique se alguma delas é muito significativa. Não seria melhor
começar um novo capítulo?

10) Pode-se aprender muito sobre as mudanças de seção estu­


dando como os poetas mudam de estrofe. Leia uma grande
variedade de poetas, concentrando a· atenção nesses pontos
de transição. Em que momento os poetas os utilizam? Que
R arte
contribuição eles trazem para o poema? O que isso lhe en­
.

sina a respeito das mudanças de seção? Como esse princ ípi o .

i
pode ser aplicado ao seu texto?

, .

156
··.

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