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DRAWING CLOSE-UP

TÉCNICAS E MÉTODOS DE DESENHO

O Humano Desenhado
2021/2022

Inês Ricardo Nunes Lapão, nº14017


Professora Susana Oliveira
Introdução

Desde os primórdios da humanidade que o homem se retrata e se reflete através do desenho. O homem
sempre teve a necessidade de se retratar, de se ver a si próprio, de se compreender e compreender os outros.

A representação, enquanto linguagem da comunicação, talvez seja o propósito mais transversal entre todos
os povos existentes. Cada desenho é único e contém particularidades na sua linguagem de comunicação atribuíveis
ao contexto histórico em que se encontra. No entanto, é também universal pela representação da imagem do
homem, constante ao longo do tempo.

Esta representação possibilita o entendimento sobre como o ser humano vive ao longo do tempo e
também como ele se vê, como tem consciência da sua presença e se representa. Para além disto, a representação
do homem reflete também o seu estado de espírito, maneira de pensar, a mentalidade do meio e também uma
época (1).
Jean-Baptiste Greuze.

Head of a Woman in a Hood


Sanguínea

38.9x31.1 cm

País e Data: France, 1760s.

Local de exposição: Museum of the Academy of


Arts, Leningrad, 1924.
Jean-Baptiste Greuze.
Head of a Woman in a Hood
Técnicas materiais

Suporte: papel com cor Exemplo


de
“sfumato”
Técnica seca: Neste desenho de Greuze, foi utilizada a
sanguínea.

A sanguínea é normalmente usada para esboços, desenhos de


modelo e cenas rústicas.

A sanguínea é um tipo de “giz vermelho”, uma mistura entre


caulino e hematita. Apresenta um tom castanho-avermelhado
escuro, semelhante à terracota e existe somente numa dureza.
A sanguínea, tal como o carvão e o pastel seco, deve ser fixada,
para o desenho não se perder. Embora, neste caso, apenas
necessita de ser fixado com uma camada suave.

É possível criar um efeito de “sfumato”, como este exemplo de


Miguel Ângelo, Seated Young Male Nude and Two Arm Studies,
c. 1510-11
Técnicas de execução gráfica

• Inerentemente coeso, mas em pó, a


sanguínea adere prontamente ao papel e
produz marcas com pouca pressão e mínima
desintegração. Quando a sanguínea é densa e
dura, pode fazer linhas estreitas e imagens
precisas. Pode ser usada para composições
simples de linhas paralelas e cruzadas, ou Figura 1 Study for St John
the Baptist; Andrea del
trabalhado com manchas amplas, sobrepostas e Sarto(c. 1517)

pictóricas.

• O desenho de Michelangelo abaixo


demonstra a habilidade do artista para
descrever tanto a linha quanto o tom. Tal como
o Michelangelo, Greuze usou primordialmente o
esquema entre linhas paralelas e cruzadas para
representar a sombra.
Técnicas de execução gráfica
• Como se vê neste detalhe, o traço da linha é Pormenor do traço mais rápido
muito mais delicado e fino do que no resto
do desenho. O que no resto aparenta ser
um traço mais rápido, aqui é muito mais
lento e cuidadoso.
• É de dar ênfase que o traço mais rápido não
deixa de ser muito controlado sendo
possível observar os momentos em que está
mais forte e carregado e em outros que é Pormenor do traço
mais fino e leve. mais delicado
• Aqui vemos só o uso das linhas paralelas
para indicar a modelação do tecido.
Métodos e Técnicas de apresentação
• O desenho de Greuze, The Woman in a Hood, foi
produzido a partir de um modelo e podemos ver os
cuidados que só a partir de um modelo o rosto da mulher
teria. O foco principal do desenho é exatamente o seu
rosto.

• É verdade que o resto do desenho apresenta um traço


mais rápido, mas não deixa de ser extremamente bem
produzida a modelação do tecido, apesar de ser ilustrado
unicamente por linhas todas paralelas entre si.

• Na segunda imagem podemos ver as linhas de força


que a cabeça descreve. A linha do nariz é paralela à linha
da diagonal topo-direito/ inferior-esquerdo.

• O desenho está centralizado, embora a sua face se


enquadre mais na metade esquerda, o capuz na diagonal
direita e o desenho se dividir ao meio entre a cabeça na
metade superior e o corpo/peito na metade inferior.
Aun aprendo
Francisco de Goya (1746-1828)
Pedra Negra

195 × 150 mm

País e data: Espanha, entre 1824 e 1828

Local de exposição: Museu do Prado, Madrid

Talvez este seja este desenho do Caderno de Burdeos I ou


Caderno G, intitulado “Aun aprendo” (Ainda Aprendo), feito por volta de
1825-28, que melhor sintetiza o espírito de Goya nos seus últimos anos
de sua vida.

De facto, tornou-se uma referência recorrente na historiografia


de Goya, que quis ver no desenho um autorretrato simbólico no qual se
expressa o desejo inabalável de desenvolvimento pessoal. Até ao fim
Goya continuou a transpor os seu percurso pessoal e artístico para vários
suportes físicos, recorrendo a grande diversidade de materiais e meios.

Se em ocasiões anteriores os velhos que apareciam nas suas


obras mostravam uma visão negativa da passagem do tempo, neste
desenho pode-se ver uma mudança significativa de perspetiva,
sublinhada pelo eloquente título de raízes clássicas, em consonância
com o otimismo recuperado em Burdeos por Goya.
Técnicas materiais

Suporte: papel com cor (papel verjurado, agrisado – fonte


https://www.museodelprado.es/coleccion/obra-de-arte/aun-aprendo/f0c1615c-8c5f-4e80-b7bc-702ec9f4d2f3)

Técnica seca: pedra negra, ou giz preto, muito similar ao carvão.

A diferença entre a pedra negra e o carvão é que o traço da pedra negra possui muito mais
rigor. Por contraste, as composições a carvão baseiam-se mais na definição entre o claro e
o escuro do que no traço ou na cor.

Neste desenho, porém, Goya trabalha a pedra negra obtendo um contraste semelhante ao
das imagens a carvão. A imagem sobre o fundo faz precisamente esse contraste de claro e
escuro. No entanto, preserva a qualidade do traço característica da pedra negra.

Nesta imagem utiliza linhas verticais para tratar da sombra, mas na parte inferior direita
vemos uma trama de linhas verticais com horizontais. Vemos que também é feito um
padrão de manchas que se sobrepõe e mistura com as linhas verticais.
Técnicas de execução gráfica

O desenho foi efectuado com intensos


traços da pedra negra subtilmente matizados com
leves linhas oblíquas, quase impercetíveis, Técnica de Scribbling
para descrever o
enquanto a luz se mostra com a própria brancura cabelo do homem
do papel. despenteado

O desenho apresenta também o uso da


técnica “scribbling” para descrever o cabelo
desgrenhado do homem velho. No resto do
desenho é muito utilizado a trama de linhas
paralelas embora Goya faça uma sobreposição
entre linhas paralelas e padrões de manchas.
Técnicas de execução gráfica Neste conjunto podemos observar que a trama é composta por
linhas paralelas, no entanto a mancha sobrepõe-se sobre a
mesma, através de um traço mais carregado para definir áreas
Técnica de trama de sombra e padrões.
simples, de linhas
paralelas para
descrever as zonas
de sombras

Aqui, no pormenor das mãos,


das bengalas e a cabeça do
homem, Goya define-os através
do contorno e não pela sombra,
apesar de se notar o uso dela.
Métodos e Técnicas de apresentação Podemos dividir o desenho
em seis partes. A figura do
Podemos observar que o desenho é homem centra-se nos dois
essencialmente um jogo entre claro-escuro quartos interiores,
sem nunca realmente apresentar luz. definidos pelo contorno do
Através da pedra negra, cria-se unicamente homem no lado esquerdo e
um jogo de sombras. Na visão completa do pela mão e bengala no lado
desenho vemos que a figura do desenho se
destaca devido ao fundo escurecido, e que direito. Também podemos
o traço mais fino da pedra negra é usado dividir o desenho em
mais para fazer os detalhes, como a cara, o metades, definida pelas
cabelo e as mãos linhas das mãos.

O desenho carrega consigo


linhas de força que criam um
triângulo equilibrado entre as
mãos e a cabeça do homem.
Para não falar que todas as
outras linhas convergem para a
cabeça do homem
Albrecht Dürer (1471-1528)
Praying Hands

29 cm x 19 cm

País e data: Alemanha, 1508

Local de exposição: Albertina, Viena

No início do século XVI, Albrecht Dürer criou este desenho que conhecemos
como Praying Hands, ou Betende Hände em Alemão. O desenho foi feito em
papel azul que o próprio Dürer fez.
A maioria dos críticos de arte acredita que, em 1508, enquanto fazia desenhos
de treino para o Altar de Geller, Dürer sentou-se e desenhou em papel colorido
as mãos que desenhava com mais frequência - as suas próprias mãos.
Há também a suposição de que o Praying Hands faz parte do portfólio do artista,
um desenho cuidadoso feito para demonstrar seu talento aos clientes. Ficou
estabelecido que ele desenhou a mão direita da esquerda, refletida no espelho.
Técnicas e Materiais

Suporte: papel azul colorido, com a gramagem


para suportar a tinta.

Técnica líquida: Em Praying Hands foi usado um


pincel de guache branco e cinza, que inclui
também uma aguada, da diluição do guache
cinzento. Para conseguir a finura e a suavidade do
traçado das linhas foi utilizado um pincel com
uma ponta muito estreita.
Guache branco
Guache cinzento Aguada de guache
Técnicas de execução gráfica
Os detalhes e o sombreado do
desenho foram realizados através da
técnica da trama simples e da trama
cruzada ou curva, com várias direções,
tamanhos diferenciados, apesar de todos
parecerem terem a mesma espessura.

É de destacar que, através da


direção das linhas e dos seus ritmos, a
modelação do volume das mãos é muito
rigorosa e detalhada chegando ao ponto de
descrever as veias, o brilho dos calos e nós
e das pontas dos dedos.

O traço a guache branco define qual é a


zona de luz e o traço a guache cinzento e a
mancha da sua aguada permitem definir a
zona mais sombreada.
Métodos e técnicas de apresentação

O desenho está bastante centrado sendo as


mãos em si estão na metade esquerda, quando
acima dos nós dos dedos já é a metade
superior e abaixo é a metade inferior.

Como já tinha dito anteriormente, o desenho


foi feito a partir do modelo das próprias mãos
de Dürer.

Dürer foca o desenho nas mãos, reparando que


as mangas se vão desvanecendo não dando
continuidade ao desenho, estabelecendo assim
o fim do desenho sem criar muito impacto.
Webgrafia
(1) Desenho da figura humana / Vânia Konell; Tatiane Jeruza Odorizzi; Cristiane Kreisch: UNIASSELVI, 2016.
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjg6Pa3i8H1AhWmg_0HHXwFDiEQFnoECAo
QAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.u niasselvi.com.br%2Fextranet%2Flayout%2Frequest%2Ftrilha%2Fmateriais%2Flivro%2Flivr
o.php%3Fcodigo%3D22502&usg=AOvVaw3cN6a8jlLpMU6xvrZXOSbO

(2) Sanguínea
https://www.arteeblog.com/2016/05/sanguinea-uma-tecnica-de-desenho.html

(3) Head of a Woman in a Hood https://endlesspaintings.blogspot.com/2015/06/head-of-woman-in-hood-jean-baptiste-greuze.html?m=1

(4) Seated Young Male Nude and Two Arm Studies (recto), c. 1510-11h ttps://artsandculture.google.com/asset/seated-young-male-nude-and-two-arm-
studies-recto-c-1510-11-michelangelo-
buonarroti/JgGU4lRjZpT_Q?ms=%7B%22x%22%3A0.5%2C%22y%22%3A0.5%2C%22z%22%3A8.76831523632666%2C%22size%22
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(5) Sanguínea https://www.metmuseum.org/about-the-met/collection-areas/drawings-and-prints/materials-and-techniques/drawing/chalk

(6) Artigo sobre a verdadeira e a falsa origem do desenho “Praying Hands”


https://arthive.com/publications/4284~Art_fake_with_exposure_hands_of_durers_brother_qu arries_and_a_poor_family

(7) Como Dürer desenhava http://www.howtodrawjourney.com/albrecht-durer.html

(8) Técnicas de desenho https://www.cowlingandwilcox.com/blog/2020/05/28/a-guide-to-pencil-sketching-techniques/

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