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Sumario
Capítulo 1......................................................................................6
Capítulo 2......................................................................................15
Capítulo 3......................................................................................25
Capítulo 4......................................................................................31
Capítulo 5......................................................................................42
Capítulo 6......................................................................................59

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I just love Aurora Teagarden mysteries and I decide to write that,
so...Hope you like it!

Luiza

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-Na manhã de 16 de setembro de 1922, em New
Brunswick, Nova Jersey, o jovem casal foi dar uma volta
pela Alameda de Rose, onde os casais geralmente
passeavam na época. Eles encontraram então um homem e
uma mulher, de mãos entrelaçadas, no chão, ambos,
mortos. Ambos, com um tiro na cabeça. – Eu tentava
deixar um tom de mistério nas frases. Ensaiava minha
apresentação com muito gosto, pela trigésima nona vez.
Queria que tudo saísse perfeito. – As cartas que a mulher
escreveu para o homem estavam todas rasgadas e jogadas
entre eles. O homem era Edward Hall, homem de poucas
palavras, porém muito conhecido por toda a região.
Entretanto, a senhorita ao lado dele não era sua esposa,
Francis. Era Helena Lio, uma jovem muito linda, que tinha
por volta de 22 anos, enquanto que o rapaz tinha 35,
mesmo não aparentando. Descobriram que na verdade, a
mulher e ele haviam ficado noivos, mas, Francis armou
tudo para que pudesse casar com ele. – Eu tagarelava
enquanto trançava meu cabelo ruivo. Desci as escadas

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correndo, e entrei no carro, para chegar adiantada. Sempre
fui pontual. E naquele dia, não haveria nenhum furo.

***
-A esposa, inconsolável, pressionou a polícia para que
encontrasse o assassino do marido. – E lá estava eu, na rua
Stanford Street, número 849, onde eu e mais algumas
pessoas nos reuníamos um dia por mês, para debater
assassinatos que de fato aconteceram, mas que nunca foram
resolvidos. Eu queria que tudo ocorresse da melhor
maneira possível, mas ainda assim estava nervosa. - No
final, o irmão da Francis, Willy, que tinha uma implicância
com o pai, foi acusado pelo assassinato, e esse julgamento
teve a maior cobertura de mídia da história do país na
época. Mas – Eu pausei por um tempo. – O júri chegou ao
veredito, de inocente! – Abri minhas mãos. Até eu mesma
estava surpresa, mesmo já tendo revisado meu discurso 39
vezes. Meus olhos brilhavam como fogo, e meu coração
batia de emoção. – A polícia havia cometido um erro
tremendo! E – Minhas mãos suavam mais que qualquer
coisa. – Eu acredito que sei quem cometeu esse crime. –
Me aproximei do telão e mudei o slide. – Foi Francis Hall.
E eu irei deixar claro porquê. – Finalizei com um pequeno
sorriso no rosto. Tudo bem, um sorriso radiante! Eu fiquei

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tão feliz de poder investigar este caso, e, descobrir a
verdade!
Todos se levantaram e começaram a aplaudir. Nem
acreditei como minha apresentação foi um sucesso. Minha
melhor amiga, Sally, veio correndo me abraçar.
-Você foi incrível! Como consegue deixar tudo tão
interessante?! – Ela me apertava.
-É mesmo? Ufa, pois estive tão nervosa! – Nós
caminhávamos até a mesa com os comes e bebes, quando a
Sra. Jane, uma membra antiga do clube dos Assassinatos
Reais, veio até mim.
-Ótima palestra! O jeito como você relacionou todos os
fatores externos não ficou dúvida alguma de que ela é a
culpada! – Jane segurava minha mão. Acho que era mais
porque era velha e precisava se apoiar em algo do que
porque gostou exageradamente da aula.
-Eu li sobre o caso e sempre achei que a esposa fosse
inocente, mas o jeito com que você apresentou é como eles
deveriam ter feito, e aí teriam a condenado. – Jonny, outro
membro, comentou. E logo se virou e exclamou. – Tome
cuidado, John, pois a senhorita Teagarden vai ser uma
adversária de peso nas próximas eleições! – Ele brincou.

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-Ah, é mesmo? – John tinha olhos divertidos. Era velho,
com cabelo praticamente inteiro branco.
-Oh, não leve isso a sério! – Eu ri. – Você é o presidente
ideal para o clube!
-Pode ser, mas é uma questão interessante. Qual dos dois é
o melhor? – Jane propôs.
Eu arqueei a sobrancelha e dei um sorriso, impressionada.
Eu, Aurora Teagarden, competindo com John Thompson?
Hum, acho que não.
-Bom, ninguém percebe detalhes melhor que a Roe – Sally
começou. – Mas eu não sei, sabe? O John escreveu artigos
importantes como Lizzy Cartely...E quantas vezes você
apareceu na CNN?
John fez o número quatro com a mão, como se estivesse
debochando de mim. Na verdade, eu e ele éramos muito
amigos.
-É claro que você vai escolher o John. – Jonny disse para
Sally. – Ele é seu tio.
-Mas a Roe é minha melhor amiga, então ela ganha meu
voto e minha lealdade! – Ela me puxou para um abraço.
-Awn, obrigada! – Eu ri. Na hora eu não percebi, mas Jane
estava me encarando com uma cara muito feia. Achei

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estranho quando John me contou, mas é um fato
importante. – Bem, o John leva o meu voto.
-Ah, obrigado, Roe. Mas esta noite, sem dúvida, você foi a
melhor detetive. – Ele piscou para mim.
-Você leva meu voto! – Jonny passou correndo por mim e
sussurrou, mas todos ouviram e riram.
-Bem, Jane, o que você pensa disso? – Meu amigo
perguntou.
-É...Eu...Não sei. – Ela conseguiu gaguejar.
-Espero te ver na igreja no domingo. – Ele comentou.
-A vida é cheia de surpresas, não é mesmo? Acho que vou
para a casa para pensar no meu voto. – Ela começou a
andar em direção à porta.
-Quer ajuda para ir até o carro? – Eu gentilmente
questionei.
-Oh, eu não dirijo mais! – Nós todos rimos. – Mas tem um
taxi me esperando. Pode me ajudar até a porta.
-Com prazer!
Ela me puxou, um pouco arrogantemente, e disse:
-Me diga, querida, você leu a pesquisa do Oliver Atena
sobre mulheres assassinas que saiu recentemente?

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-Não, mas eu ouvi falar. Na verdade, estava esgotado,
então não pude comprá-lo, mas queria mui...
-Não, não, não, eu tenho o livro! – Ela me interrompeu.
Esperei que ela pudesse dizer que me emprestava, mas em
vez disso, continuou. – Ele disse exatamente o que você
disse na palestra, que mulheres eram menos suspeitas do
que homens, e tinham mais chances de serem absolvidas, já
que o júri era todo composto por homens... – Ela parou. –
Eu só simplesmente não acredito que mulheres tem a
capacidade de matar seus próprios maridos! Bem, eu posso
te emprestar! – Ela finalmente disse!
-Oh, eu adoraria ler! Que tal pegar no fim de semana? – Eu
fiquei empolgada. Era uma pesquisa muito importante, e
eu, viciada em assassinatos reais, queria muito ler.
-Não, não, não, amanhã mesmo você vem, às 15h, depois
do meu cochilo!
-Haha, tudo bem. – Chegamos até a porta.
-Ok, querida, obrigada! – Ela saiu.
Fechei a porta com olhos risonhos, e fui confraternizar.
Sally veio até mim, estranhando:
-Eu não lembro de ver a Tim – era assim como ela a
chamava. – andando de bengala, você lembra? – Ela
estranhou.

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-Não, e seu corpo está mais magro...Bem, espero que tudo
esteja bem.
-É... E ela repetiu aquilo? – Minha melhor amiga
perguntou.
Eu revirei os olhos. – Não, um milagre!
– Hahaha...Eu era igual a você na sua idade... – Ela imitou
Jane. Tive muita vontade de rir, mas me segurei para
parecer séria e serena. Depois nós entrelaçamos nossos
braços e caminhamos num abraço até a mesa.
-Mas eu concordo com ela... – Sally cochichou e saiu
correndo, me cutucando.
Como ela podia ser a pior às vezes!
Bem, após ajeitarmos todo o espaço, me despedi de todos e
estava prestes a fechar o clube quando alguém me
surpreendeu.
-Oi Roe... – Arthur me cumprimentou.
-Ah! Oi, Arthur... – Eu apertei sua mão. Eu sorria sem
perceber.
-Não achou que eu perderia sua palestra sobre Romeus,
achou? Quantas vezes nossa comida esfriou porque ficamos
falando da Francis... – Ele tinha um semblante sério.

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-Haha... – Na verdade, não fora engraçado, mas eu devia
manter a educação, mesmo depois do que aconteceu.
Talvez ele não tenha levado da melhor forma. – Eu não te
vi na plateia.
-Ah, bom, nós detetives somos treinados para ficar
invisíveis no meio dos outros.
-Você não precisa ser invisível, e...Não precisava ter saído
do clube...
-É, minha mãe me ensinou a ser cavalheiro. – Ele olhou
para baixo.
-Bom, você não precisa sumir por minha causa, porque, eu
não quero acabar com o seu ego, mas tudo isso são águas
passadas. – Eu estava envergonhada por dizer aquilo.
-Nossa, então OK, essa doeu um pouco...
Eu sorri. Adorava irritá-lo.
-Mas é sério, é bom te ver...Principalmente quando você
está mostrando seu talento.
-Obrigada, foi bom te ver também. – Eu balancei a cabeça,
e comecei a caminhar em direção à porta, mas percebi que
ele me seguia.
-Olha, você está certa, talvez eu volte a participar das
reuniões...!

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-Oh, que bom...
-Até porque é bom quando há alguém para te desafiar no
quesito inteligência! – Ele abriu a porta e saiu. Eu até dei
uma risadinha, mas bem baixinha. Andei em direção ao
meu carro, dei a partida e aterrissei na cama. Oh, como eu
estava cansada!

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-Você sempre chega mais cedo que todo mundo! – Lilian
estava com seu bom humor e seu rosto fechado, como
sempre.
-Bom dia para você também, Lilian. – Eu sorri. Eu devia
lembrar que minha mãe me deu uma ótima educação.
Continuei com o olhar fixado na tela do computador. Meus
arquivos de casos de assassinatos eram bem mais
interessantes do que a Lilian!
-Você acha que ao chegar mais cedo, ganhará pontos extras
com o Sr. Croolyn, mas não vai! – Ela revirou os olhos e
cruzou os braços. Aquela posição me dava desânimo para
viver! Mas hoje ela não conseguiria acabar com meu
humor, ah, não mesmo!
-Eu só gosto de ler as notícias antes de trabalhar, só isso. –
Eu não tirava o olho da tela, e minha expressão era neutra.
Ou pelo menos eu achava que estava neutra.
-Mas nessas notícias só tem assassinatos e caos! – Ela
exclamou. Parece que ela estava mesmo brava comigo.

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-Exatamente...! – Eu sorri. Com isso, consegui que ela
fosse embora. Não que eu não gostasse dela, só que...Ah,
não sei, ela era meio mal-humorada.
Percebi que ela notou a presença de um menininho, e
caminhou até ele. Coitadinho...!
Ela o encarou, com seu papo maior do que nunca. Ele tinha
uma cara assustada.
-Oh, fale logo, o que quer aqui?! – Ela estourou.
-Ahn...Ahn...E-eu...A senhorita Teagarden pode-me a-
ajudar? – Ele gaguejou.
Lilian suspirou e revirou os olhos e eu sorri.
-A senhorita Teagarden pode ajudar este pobre garotinho?
– Lilian berrou. Eu levantei da cadeira num pulo, ainda
assim sorrindo, e fui até ele.
-Quer um livro, Geredy? – Eu perguntei. Ele estava um
pouco encolhido.
-Mas ela é malvada...!
Eu a olhei e suspirei lentamente. -Mais malvada do que
uma cobra queimada pelo sol! – Consegui arrancar uma
risadinha do garoto.

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-Vamos, vamos, por aqui. Qual gênero você prefere? –
Minha voz foi ecoando pelos corredores, e as risadas do
Geredy também.

***
-Olhe, Middy, fale para os seus clientes que quando eles
estiverem sentados naquela sacada com a brisa fresca vindo
do riacho, hahaha, vão ver que esses 20.000 a mais valem
muito a pena! – Ouvi minha mãe, do lado de fora da
biblioteca, falando. Ela era uma corretora, ou melhor, a
corretora, da região. Minha mãe ficara tão famosa que era
impossível haver algum imóvel que não estivesse em seu
nome. Eu dei uma pausa do trabalho e fui até sua direção. –
Isso, vai, fala para eles! Aham! Sim! – Ela acenava a cabeça.
Quando me viu, simplesmente me deu um aceno de mão
refinado. – Hahahaha! Está bem! Tchau, tchau, Middy. – E
desligou.
-O Mitty Marvin ainda está na palma de suas mãos, então?
– Eu brinquei. Ele era um cliente avarento muito difícil de
lidar.
-Ah, não se preocupe com ele, pois vamos ainda assim no
jantar do meu amigo corretor! – Ela colocou seus óculos de
sol, mesmo havendo somente sombra naquele dia. – E tem
algumas pessoas que eu queria te apresentar que são...

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-Mãe. – Eu revirei os olhos. – Por fa...
-Ah, nós podemos comprar um vestido para você no
caminho! – Ela me interrompeu e tirou seus óculos,
sorrindo.
-É, calma...Primeiro: eu tenho uma reunião. – Eu
gesticulava muito ao falar. – Segundo: eu não tenho
dinheiro para roupa!
-Porque o seu salário é uma vergonha! Eu compro para
você!
Eu arqueei a sobrancelha. – Não, a senhora já pagou meu
aluguel...!
-Ah não, eu não fiz isso, você cuida das minhas casas em
troca do aluguel, não – Ela levantou a cabeça, e indicou
para que eu fizesse o mesmo. – você vai aceitar este
vestido! – Ela se aproximou de mim e puxou meu casaco,
com desprezo. – Esta roupa é muito sem graça!
Eu olhei para minha roupa, indignada. Ela parecia tão fofa!
Fiz uma careta e perguntei:
-Por quê? Eu a acho tão...
-Sinceramente, Aurora, não sei como você espera ter um
bom casamento se vestindo desta forma, tão medíocre. E
nem venha comparar a vestimenta do seu clube dos

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assassinatos reais ridículo! Aquilo tudo é tão macabro! Já te
falei que não te queria andando com aquela gente...! Você
conseguiu perverter até mesmo a pequena Sally! – Ela fez
uma expressão de horror e apertou as mãos. – Você só faz
isso porque sabe que eu não gosto! Ah, é sim! – E colocou
seus óculos.
-Mãe... – Eu balancei a cabeça, rindo. – Eu te adoro. Eu
não sei do que a senhora está falando, mas eu te adoro! – E
a abracei. - Eu vou na casa da Jane, minha amiga.
-Ah, se você sair cedo, pelo menos, tenta passar no
restaurante para comer sobremesa? – Minha mãe era
sempre fina!
-Claro, se der tempo! Até mais! – Entrei no carro, mas por
alguma razão, não conseguia dar a partida. Talvez
realmente já tivesse passado da hora de ter uma família...!
Mas ora, ora, ora, minha mãe já estava me influenciando
demais!

***
Eu passava minha mão por todos aqueles livros. Que
cheirinho bom que aquele ambiente tinha!
-Nossa! Tem uns livros aqui que são impossíveis de se achar
agora...Uau, primeira edição da tragédia de Four River? –

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Eu me espantei. – O John enlouqueceria se soubesse disso!
– Eu caminhei até Jane.
Sua casa era esplêndida! A limpeza era impecável, a
decoração insuperável...Ao sair da biblioteca, podia-se ver
logo de cara uma janela enorme, com uma sapateira em
baixo. Me parecia ser o lugar favorito dela para ler e
cochilar! Enfim, ao arredor conseguia-se ver um órgão
marrom ao oeste, com algumas decorações em cima e ao
seu lado uma divisória de ambiente que deveria dar para a
cozinha. À leste eu via um sofá branco com arabescos
dourados e um relógio muito antigo. Jane sentava naquela
sapateira, e tinha um ar triunfante.
-Sabe, toda semana ele oferece 50 dólares a mais para
comprar.
Na verdade, eu nem prestei atenção nas palavras dela.
-Ah! Como eu queria ter tido acesso a uma coleção dessa
quando estava fazendo meu mestrado! – Eu continuei
olhando. Me virei para Jane para dizer que minha tese fora
sobre Romance Policial, meu gênero favorito de literatura,
e permaneci quieta por um bom tempo.
-Bem, as bibliotecas não se preocupavam em ter livros bons
na minha época...

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-Ah, e ainda não oficialmente. Acho que sou a única
bibliotecária especializada nisso em todo o Estado.
Jane sorria para mim enquanto eu vasculhava por suas
prateleiras. E então...
-Eu era igual a você na sua idade...!
Eu somente consegui revirar os olhos e morder o lábio
inferior. Parei de andar.
-Você não gosta quando eu falo isso...! – Ela arqueou a
sobrancelha. – Acha que você vai envelhecer sozinha, como
eu. – Ela cruzou as mãos em suas pernas. – Uma
bibliotecária solitária que tem a companhia de livros
empoeirados...
Eu franzi a testa e a encarei. Pelo menos, meus livros eram
menos empoeirados e mais novos do que os dela...!
-Ah! A emoção de um mistério não resolvido! Nada se
compara a isso! Eu já passei muitas horas sentada aqui,
concentrada. Bem aqui. – Ela frisou estas palavras e bateu
na sapateira. – Tentando resolver os assassinatos
complicados...
Eu fiz uma cara de quem encontrava sua tia de 5º grau pela
primeira vez. Envergonhada e surpresa. Então revirei os
olhos novamente. Isso já havia virado costume!

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-Eu não tenho dúvidas de que você vai ser melhor do que
eu...Você tem um talento para isso que eu nunca vi em
ninguém!
Eu balancei a cabeça lentamente, em gesto de
agradecimento.
-Obrigada...Eu acho...
Não sei se aquilo poderia ser considerado um talento.
Ela se remexeu e pegou um livro da pilha ao seu lado.
-Leve este. – Ela me disse. Fiz uma cara duvidosa, mas ela
fez sinal para que eu me aproximasse. -É o melhor livro
sobre mulheres assassinas que eu já vi.
Eu li o título em voz baixa. Assassinas inocentadas.
-Oh, ah, obrigada...Eu te devolvo na semana que vem. –
Eu observei delicadamente o livro. Era todo bege, mas
haviam gotas de sangue sobre ele por toda a parte. Esperei
que fossem falsas. Piadas a parte, haha.
-Oh não, não precisa devolver... – Meu semblante foi
desmanchando aos poucos, e um sorriso foi-se abrindo
lentamente. – É presente! E eu, a leitora, não vou
conseguir te ajudar a desvendar todos os mistérios...Mas
posso te ajudar com 1 ou 2. – Ela piscou para mim, mas
não sorriu, o que eu achei estranho, então também não

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sorri completamente. Meu rosto franzido voltou ao
normal, e balancei a cabeça em resposta positiva. Aquilo
me pareceu um pouco estranho...

***
Eu me acomodei melhor no sofá e comecei a ler. Até
mesmo quando eu lia conseguia ficar com o mesmo
semblante desconfiado e duvidoso!
-Toc, toc, toc! – Alguém bateu na porta. Fechei o livro e
caminhei até ela, quando lembrei que estava de pijama e
cabelo totalmente bagunçado. Desejei que fosse alguém
desconhecido ou alguém muito íntimo, como minha mãe
ou Sally.
Abri a porta e dei de cara com Sally, como desejava. Mas
tinha um rosto muito espantado.
-Sally...Já não passou na hora de estar na cama? – Eu
praticamente a ignorei quando ela entrou em casa, afinal,
nossa intimidade era enorme. Estava quase voltando para o
sofá quando ela perguntou:
-Você soube da Jane Engall?
-Ah sim, eu fui lá hoje mesmo. Ela repetiu aquilo, eu era
igual a você na sua idade – Eu debochei. –, falou que não era

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ruim ser uma bibliotecária sozinha... – Minha testa
começou a franzir novamente, no ato de reclamação.
-Roe, e-eu... – Ela suava mais que qualquer coisa, mas eu
não prestei atenção.
Eu sentei no sofá e peguei meu livro novamente, ignorando
seu chamado e continuei. – Fiquei até pensando que seria
melhor se eu tivesse me casado...Mas não, eu realmente
não o achava bom o suficiente. Eu não sei se...
-Roe! – Ela gritou. Sally nunca aumentou sua voz. Percebi
que aquilo era sério.
Eu desfranzi a testa e a encarei, esperando resposta. Não
tardou muito para ela dizer:
-A Jane Engall morreu! – Ela suspirou de alívio por ter
confessado.
Eu realmente queria ter me abalado. Sentido alguma coisa.
Qualquer coisa. Mas meu sangue frio permaneceu gelado e
eu não fui atingida. Entretanto, foi como se uma pequena
agulha tivesse atravessado meu braço. Isso é equivalente a
nada. Tentei fazer uma cara chocada...
-Oh! – E abri minha boca.

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-Ela estava com um problema no coração, e não contou
para ninguém! Ninguém! – Sally chorava ao meu lado.
Estávamos no velório de Jane Engall. Isso mesmo, a mesma
senhora que me dera o livro Assassinas Inocentadas, no dia
anterior. A partir do momento que percebi isso, consegui
ter um choque maior.
-Eu não conhecia a Jane muito bem, mas...Eu gostava dela.
– O vento gelado batia contra meu cabelo, o qual estava
solto. Faziam anos que eu não o soltava em público. Eu não
sei porquê! – Você e ela deviam ser mais próximas do que
eu era. – Sally enxugou uma lágrima rapidamente. Bem,
foi o que deduzi por ela estar chorando tanto.
-Não, é que eu...Sempre choro em enterros normalmente.
-Sally! – Eu esbravejei. Tanto drama para nada! – E você
não entende porque o Macon não te passou reportagens
sérias... – Eu revirei os olhos e suspirei.
-Ah, mas você nunca chora por nada. – Ela resmungou e
fez um biquinho com os lábios muito engraçado.

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-Falando do Macon...Ele está olhando para cá! – Eu a
perturbei.
-Ah não, o editor está aqui! Ele não pode me ver chorando!
O que ele está fazendo aqui? – Ela cobriu o rosto.
Eu o examinei por alguns segundos.
-Eu acho que ele mora na rua da Jane...Ah, e olhe – Eu
apontei para algumas pessoas. – Aqueles ali devem ser os
vizinhos dela...Eu conheço os Mackenzie, a Márcia e seu
marido, Torance Rightnout...A minha mãe vendeu a casa
do lado da Jane para eles, mas...Eu não sei – Neste ponto,
Sally encarava as pessoas também – quem é aquela ali...
-Ah, é a Carrie Riley...Sabe...A Carrie... – Ela esperou
que eu reconhecesse, mas não entendi a referência. –
Aquela Carrie...Affff, sabe, o marido dela saiu falando que
ia comprar sorvete para a filha e nunca mais voltou para
casa... – Só consegui abrir a boca em choque até um rapaz
se aproximar de nós.
-Olá. Sou Scott Laughlin, amigo da Jane. – Ele apertou a
mão da Sally. – Que bom que vocês vieram.
-Oi, sou a Sally Alisson e ela é a Roe Teagarden.
-Oi. – Eu disse, e o cumprimentei.
-Teagarden...? É parente da...

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-Aida Teagarden, rainha dos corretores? É. É minha mãe.
Eu sei que nós não somos parecidas.
-Não, eu ia perguntar se era da Aurora Teagarden, a
senhorita que a Jane gostaria de ter me apresentado. Dizia
que você era a mestra dos assassinatos...Eu sou da empresa
Dior. Talvez você me conheça.
Eu não acreditei naquilo e não pude evitar de chocar-me.
-Oh...Ah...Ah...Eu...E-eu...Sou a Aurora Teagarden!
Roe, Roe...Roe é apelido, mas m-meu nome é A-aurora
Teaga-garden... – Eu balbuciei. Me senti uma tola naquele
momento...Olhei aos arredores, sem nenhuma razão, e
corei. -Eu não acho que...
-Ah, não. Agora não. Mas o que você acha de jantarmos
algum dia no Mocha’s dinner? Lá há comida fina, e meus
empresários adorariam conhecer a amiga de Jane.
-Oh, ah, tudo bem. OK. Tudo bem. – Eu fiquei muito
nervosa e comecei a me embolar inteira.
-Perfeito. Te vejo na sexta-feira às 18h00 lá?
-S-sim, claro. Às 18h00 lá. Em ponto. Nenhum atraso.
Nenhunzinho. – Eu gaguejei. Ele acenou com a cabeça e
estava quase indo embora, quando, sem nenhum motivo
aparente, eu repeti – Nenhum mesmo. – Ai, que
vergonha!

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Quando ele saiu, me virei para Sally e sussurrei:
-Mas o que foi isso?!
-Ah, simples. O amigo da Jane, um empresário de sucesso,
te convidou para uma reunião desconhecida para tratar de
assuntos com seus empresários e você aceitou! Essa é a
minha Roe! – E ela me abraçou forte. Senti algumas
pessoas nos encarando, porque afinal, aquilo era um
enterro, mas não liguei. Talvez a minha fama por resolver
crimes começasse a subir! – E pode ser uma história bem
interessante para contar para seus futuros aprendizes...Que
sua empresa mestre te convidou para participar dela em um
enterro.
Eu ri por dentro.
-Ah, ele parece ser gentil. Como será que eu devo me...
Sally parou de me olhar e começou a encarar o chão.
-O quê? O que há de... – No exato momento, percebi
Lynn e Arthur chegando. Suspirei.
-Ah, fala sério! Você sabia que ela estava, bem, você sabe,
quando eles se casaram... – Ela me repreendeu.
-É, não, sim, talvez. Ela devia estar praticamente dando à
luz no altar. Seu bebê só não pulou do ventre porque até
ele soube reconhecer a importância daquele lugar.

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Nós 2 nos viramos e encaramos o chão, mas Arthur fez
questão de vir até nós e me cumprimentar.
-Oi. – Ele acenou.
Eu dei um simples aceno de cabeça e tentei sorrir. Lynn me
encarou com aqueles olhos vermelhos, de quem não
dormia há dias. Nem fiz menção de cumprimenta-la.
Permanecemos na situação até o velório acabar.

***
-Eu estava ansioso pela palestra dela sobre Madryn Smith
mês que vem. – Jonny comentou enquanto caminhávamos
para outro lugar, longe da casa de Jane.
-Eu acho que nós devíamos falar da Madryn mesmo assim.
Sabe, pela Jane. – Eu falei.
-Ah, para Roe! – Sally começou a chorar novamente. – Eu
vou começar a chorar de novo e o Macon não pode me ver
chorando assim! Eu vou indo embora, OK? OK. – Acho
que a pergunta foi mais para ela mesma do que para nós. Eu
apertei sua mão e ela nos deixou.
-Nós nos veremos na próxima reunião. – Eu me despedi do
Jonny e do John, que mesmo não falando nada, estava
presente.

29
-Tchau, até mais, Roe. – Jonny disse e se afastou, e John
fez o mesmo.
Ajeitei meu cabelo ondulado e me pus a caminhar até meu
carro quando um homem veio até mim.
-Senhorita Teagarden, senhorita! – Ele ofegava. – Um
minuto! Que bom que te vi antes de você ir embora! Nos
conhecemos no último evento da biblioteca...Eu sou o
Buba Hancart.
-Oh! Sim, sim! Buba Hancart! Oi! Sim, o advogado que
venceu o concurso de canto... – Eu apertei sua mão
delicadamente. Isso soou um pouco estranho na hora. –
Ah, sei.
-Isso, sou eu. Prestei assessoria para a Jane antes de ela
falecer. Ela queria fazer um testamento novo.
Eu não sei o que ele queria que eu respondesse, então
simplesmente permaneci em silêncio.
-Ela não queria mais deixar os bens para o Parnell, o primo
dela. Jane achou que ele passaria para os cachorros dele!
-Hum...Que pena.

-Então...Ela decidiu deixar...Tudo para você.

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Eu continuei caminhando até que a ficha caiu.
-Oh, oh, o quê? Como é que é? – Eu queria confirmar o
que eu tinha ouvido. Como é que é?!
-É, a Jane te escolheu como beneficiária. Você herdou os
bens dela...Dinheiro, casa, joias, tudo...!
-Ah...Ah...Ah? Está brincando?! – Eu não sentia meus pés.
-Temos uma regra, advogados não brincam com dinheiro!
Meu corpo virou uma vareta. Eu me irriguei inteiramente.
Meu cérebro não conseguia processar aquilo. EU?!
-Eu...É...Bom...Eu nem...Eu só...Só trabalhei com ela
umas semanas, antes de ela se aposentar e eu...Só a via uma
vez por mês nas reuniões do clube...Eu...Isso...Isso não faz
sentido... – Eu tremia. Meus olhos brilhavam de ansiedade
e minhas mãos suavam muito.
-Para a Jane fazia. Ela tinha certeza que queria isso.
Eu abri a boca e balancei a cabeça. Como?

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-Só vai receber o cheque quando o processo terminar,
mas...Não vejo motivo para não te dar a chave da casa
agora... – Ele me entregou as chaves da Jane. Da Jane.
Eu olhei para minhas mãos e para Buba algumas vezes. Não
consegui dizer mais nada.
-Nós nos falamos. – E ele foi embora.
Tudo bem, tudo bem. Alguém poderia me explicar o que
aconteceu?! Por que a Jane me dera tudo? Eu nem a
conhecia direito, e...Nós não...Eu não sabia explicar nada.

***
-A Jane deixou tudo para você?! Para você?! – Sally sacudia
o meu braço de ansiedade.
-Cuidado, vai derrubar chá pelo restaurante! – Eu tomei
um gole de chá. – Segundo o Buba Hancart! – E gesticulei
com as mãos.
-Mas você nem chorou no enterro dela! – Sally ficara
indignada.
-Eu sei! Devia ter chorado! Eu gostava mesmo dela!

32
-É, parece que ela gostava muito de você. – Ela arqueou as
sobrancelhas. Pegou a chave e examinou por alguns
instantes.
-Não acredito que tenho uma casa! A minha própria casa! –
Agora quem estava com a chave na mão era eu. – Eu nunca
achei que teria uma casa, com o meu salário de
bibliotecária...!
-Você vai morar lá? – Ela perguntou, um pouco mais
calma.
-Poderia morar, não é?
-E...?
-Oh, eu, eu não sei, eu não...É muito estranho ter essas
oportunidades e opções e poder fazer o que eu quero! – Eu
bati meus cotovelos na mesa.
Ela deu de ombros, animada.
-Bom, e o que você quer fazer?
Pensei por um instante e deduzi.
-Quero ir ver minha casa nova.

***

33
Batia um vento gelado e fresco enquanto meu salto alto
estalava no asfalto. Acho que caminhar com eles naquela
rua não era uma boa ideia...
Parei por um instante e examinei a rua e a casa.
-Nada mal... – Eu disse para mim mesma, em sinal de
aprovação.
Olhei ao arredor antes de entrar, para garantir a segurança.
Ao destrancar a porta, ainda assim nervosa, entrei. Quando
pisei dentro da sala, com o ambiente ainda escuro, notei o
quão bagunçado aquele local estava. Mas não fora Jane que
fizera aquilo...Senti um clima esquisito.
Com suspiros nervosos, caminhei até o interruptor, mas
antes que minha mão pudesse alcançá-lo, algo ou alguém
me empurrou contra o chão e me pressionou por alguns
segundos. Obviamente, um homem estava lá!
-Ei, ei! – Eu levantei e acendi a luz, completamente
assustada. Alguém entrou na casa e tentou me machucar!
De cômodo em cômodo eu corria desesperadamente. Nada
da sombra misteriosa. Ofegante, eu cheguei até a saída
menos provável de ser utilizada: a fresta da porta. Mas que
raios aquele maníaco usou para entrar na casa?!
Suspirei e tranquei a casa toda. Estava muito eufórica.

34
-Oh, oh, ah...Meu Deus! – Eu consegui exclamar.
Decidi ligar para a polícia imediatamente. Eles eram
detetives de verdade. Eu não era.
***
-Então, ninguém ouviu nada? Eles arrombaram de alguma
forma, aquela janela fica bem do lado de vocês...Não
ouviram nenhum barulho? – Arthur interrogava os
vizinhos.
Eu permanecia a uma distância segura de todos. Ainda
assim tremia mais que uma vara verde. Aquela sirene dos
carros da polícia também me dava dor de cabeça...
-Eu não ouvi nada, e você, querida? – Torance, o vizinho
da Jane, perguntou.
-Não, mas, nós estávamos ouvindo música, bem
alto...Tivemos degustação de vinho e queijos europeus. Foi
divino! – A esposa dele relatou.
-Bem, eu trabalho na EVITEC com vendas de terrenos, e
eu quase nunca fico em casa, porém essa noite, consegui
uma pequena brecha.
-Mas eu ouvi passos indo na direção de vocês...Não
ouviram nada mesmo? – Eu me aproximei.

35
-Bom...Para comemorar nós preferimos deixar as cortinas
fechadas...! – Márcia comentou, um pouco explosiva.
Decidi calar-me por alguns instantes.
-OK, então está bem...Parece que não sumiu nada desde o
ano passado. – Arthur anotou algumas coisas no seu
caderninho e checou o inventário.
-O que houve o ano passado? De repente um clima
sombrio pairou por aqui... – Eu questionei, curiosa.
-Ah, podem ir dormir que eu conto para ela. Boa noite,
senhores, obrigado pela atenção. – E Arthur os dispensou.
Eu me virei e comecei a andar.
-Então, o que aconteceu há um ano atrás?
-Ah...Bom, eu ano atrás aconteceu uma série de
arrombamentos nessa rua. Foram 4 casas, todas com as
janelas quebradas. Elas estavam reviradas, mas – entramos
na casa – nunca levaram nada. Eu não consegui solucionar,
e parece que tudo começou de novo. – Ele suspirou
lentamente.
-Alguém está atrás de alguma coisa... – Eu palpitei
enquanto dava uma olhada nos cômodos. Arthur tirava
algumas fotos para a reportagem que a editora pediu, mas
disse que não achava isso. – Com certeza estavam
examinando esta casa. E procurando uma coisa que não é

36
pequena...Percebeu que só abriram os maiores armários e
gavetas? Eles não mexeram nos menores, olhe... – Fiz sinal
para que ele se aproximasse e mostrei-lhe a gaveta pequena
da sala vasculhada. Por um instante, parei e provavelmente
devia ter feito uma expressão menos dramática, mas nem
notei até Arthur me falar. – E provavelmente a cozinha está
do mesmo jeito! – Saí correndo em disparada para a
cozinha, para comprovar minha teoria.
-Ah... – Ele suspirou. – Minha nossa.
Com certeza eu era muito impressionante.
Na cozinha, abri todos os armários, vasculhei todas as
gavetas e deduzi que o objeto era maior que uma cesta de
piquenique.
-Ah, é, então é isso, eu tenho que voltar para a delegacia e
fazer o relatório... – Ele disse, mas nem lhe prestei muita
atenção.
-É, OK, pode ir, eu vou ver se acho o quê esta pessoa
estava procurando...
-Eu não vou te deixar sozinha aqui, Roe. O criminoso pode
voltar a qualquer momento para terminar a bagunça. – Ele
começou a me arrastar da cozinha. Ora, que audácia!
-É, mas é por isso que eu tenho que encontrar antes a
coisa!

37
Ele pegou minha bolsa e me empurrou – não de fato,
apenas direcionou grosseiramente e de uma maneira que
não gostei para a porta – para a saída.
-Não, não, não. Você pode fazer isto amanhã! – Ele apagou
as luzes e saímos, contra a minha vontade.
Bufei em seu rosto, e havia acabado de comer macarronada
no restaurante da minha mãe. Sim, isso mesmo! Eu não
estava nem aí para ele. Quem era Arthur para dizer o que
eu posso ou não fazer?
-Eu nunca tinha visto esse seu lado cha...mandão... – Me
corrigi apressadamente.
-Sério? Bom, eu vou te contar uma coisa. Eu já vi o seu
lado mais curioso e eu quero que prometa – ainda assim ele
me segurava para que eu não corresse de volta para a casa –
que só vai voltar durante o dia.
-Eu prometo. – Fiz sinal de derrota.
-Ótimo.
Ficamos em silêncio por um tempo. Consegui perceber
que ele era muito mais alto do que eu...Isso era estranho.
Gesticulei com as mãos e pedi:
-Então, vai, me conta!

38
-Contar o quê?
-Você e a Lynn compraram a casa que está com a placa de
vendida, não foi? – Eu era muito observadora e minuciosa
quando se tratava da vida alheia...!
-É... – Um clima sem graça pairou no ar. – Nós nos
mudaremos no sábado. Acho que seremos vizinhos... – Ele
suspirou.
-Ha, demais...! – Eu ironizei. Tinha certeza que a minha
voz saiu como a de uma bruxa, mas nem liguei. Eu estava
impaciente. Ele comprou a casa da frente...!
-É...Isso é um fato... – Nessa altura já estávamos na frente
do meu carro. Ele abriu a porta para mim e pediu para que
eu me cuidasse.
-Sempre. – Fechei a porta e dei a partida.
Eu não estava do lado de fora do carro, mas tenho certeza
que ele bufou para mim. Oras, mas que audácia...!
Dei a partida e fui para a casa. Amanhã seria um novo dia, e
eu iria sim voltar para aquela casa e ficaria o tempo que
quisesse!

***

39
-É, a vida tem também um senso de humor...! – Eu falei
para Sally pelo telefone. E lá estava eu, na mesma casa em
que alguém tentou me sufocar e que tentaram encontrar
algo muito valioso. Eu procurava esse algo muito valioso.
Não poderia ser muito pequeno, pois nem mexeram nas
gavetas e armários menores, mas também não era tão
grande, pois os maiores armários foram também deixados
de lado.
-Só porque você herdou uma casa dias antes dele e da esposa
grávida se mudarem para a mesma rua, ou porque você
herdou uma casa que estava sendo invadida por alguém que
quebrou a janela e tentou te saquear? – Sally tagarelava.
-Affff. Os dois. Ah, eu só queria saber o que o estranho
estava procurando...! Isso é pedir demais? –
Provavelmente, minha amiga riu. Ela nunca levava minhas
coisas a sério. – Eu estou aqui desde que saí do trabalho e
ainda não encontrei nada...! – Bati meus braços contra meu
corpo. Sentei na sapateira e suspirei, fazendo um biquinho
com a boca. – Ah, é um grande mistério...!
De repente, pareceu que algo muito forte me atingiu por
dentro. Examinei minha mão, a qual estava apoiada na
sapateira e imediatamente me lembrei da mão de Jane,
exatamente no mesmo lugar do que a minha, enfatizando a
frase “Bem aqui, tentando resolver os assassinatos mais
complicados...!”.

40
-Oh, ah, hum. Sally, desculpa, eu vou desligar. – Me
despedi grosseiramente e me pus a trabalhar.
Levantei abruptamente num único salto e me ajoelhei no
chão. Violentamente, bati na sapateira até que...ela abriu.
E o que eu vi não foi nada interessante.
Fiz uma expressão de choque exagerada. Lá dentro havia o
esqueleto de uma caveira sobre um pano branco,
inteiramente ensanguentado.

41
-Por que você está sorrindo para mim? Quem é você? – Eu
perguntava para o crânio, examinando-o. É claro que ele
não iria me responder. – Você tem um pedaço
faltando...Hum. Será que foi uma pancada? – Eu estava
muito séria. Fechei meus olhos por um segundo e caminhei
pela sala. – Alguém deve ter batido bem forte para
quebrar desse jeito...
Em um instante, apenas 1 palavra veio na minha mente.
-Homicídio! - Abri os olhos. – Espere...Ah não, não, não,
não! A Jane matou você?! Ela é assassina?! – Eu me choquei
contra a parede. – Ela deve ter tido um bom motivo... –
Espremi meus olhos. – Vai ver você tentou machucá-
la...Ela merece que eu descubra! – Então, estava decidido.
Eu não iria deixar este crânio para trás. Iria descobrir quem
fizera a crueldade e o porquê!
-OK, eu tenho certeza de uma coisa. Preciso te esconder
em algum lugar! – Mexi em alguns armários e encontrei
uma bolsa velha, grande o suficiente. Cuidadosamente,
enrolei-o em um pano branco e depositei na sacola.

42
Imediatamente, saí de casa e corri para a garagem. Quando
estava entrando no carro, lembrei.
-Oi Roe, tudo bem? – Barney, o limpador de carpetes,
disse.
-Ah, oi Barney. – Eu o cumprimentei. – Esqueci que vocês
iam limpar os carpetes hoje...Bem, é, podem fazer o que
precisam que eu...Ah, deixa para lá.
-Roe, está tudo bem mesmo? – Ele estranhou.
-Está, tudo – Eu sorri. Aquele na verdade era um sorriso
bem falso, mas...
Enfim, entrei no carro e dei a partida. Estava indo até a
casa de minha mãe, para poder esconder a cabeça.
-Prontinho. – Eu disse para mim mesma quando coloquei a
sacola na prateleira mais alta do closet da minha mãe.
-Aurora?! Você está aí? Alô? – Minha mãe entrou em casa.
Eu também ficaria assustada se ouvisse barulhos aleatórios
no andar de cima!
Desci as escadas correndo, sem fôlego. Mamãe estava na
cozinha.
-Mãe, a senhora está em casa...! – Eu a abracei. Às vezes,
tudo que nós queremos nessa vida é um abraço como o de
mãe.

43
-Aurora, mas que surpresa boa! O que está fazendo aqui?
-Ah, eu...A Jane Engall...Sabe que ela morreu, não é?
-Sim, uma pena...
-Mãe, ela me colocou de herdeira para a casa, o dinheiro,
tudo...!
Ela fez uma careta.
-A Jane Engall?! – Ela exclamou.
-Aham! – Eu pude dizer.
-Eu nem sabia que vocês eram tão amigas...!
-Nós não éramos! Eu nem sei porque ela me escolheu, mas,
mas...Eu não sei se vou ficar com o dinheiro! Vai saber
onde ela conseguiu...!
-Oh, ela herdou da mãe dela. – Minha mãe afirmou com a
cabeça.
-Ah, que alívio! Olha, eu tenho que ir, a Sally vai lá em
casa depois do trabalho... – Me pus a caminhar quando
minha mãe gritou:
-Não, espera, eu não entendi!
-Eu te conto tudo depois – Comecei a falar por cima dela –
está bem?

44
***
-E ele está lá agora. Bem no closet da minha mãe. – Eu
andava de um lado para o outro, apreensiva.
Sally fechou os olhos e suspirou lentamente.
-Um crânio...Você achou – Ela se levantou da cadeira,
ainda assim de olhos fechados, como seus punhos. – um
crânio humano, na sapateira da Jane, e escondeu?!
Eu assenti com a cabeça.
-É, para poder descobrir porque ela estava escondendo! –
Para mim, era muito óbvio. – Porquê...E se for ela que
matou aquilo? Entende? Ela deve ter tido um bom motivo!
O rosto de Sally estava suando frio, e sua voz tremendo.
Ah, como ela era dramática!
-E daí! Não dá para ficar brincando com um crânio, amiga!
Precisa entregar para a polícia! – Sua voz estava fininha e
trêmula.
-Talvez! Talvez não! – Eu coloquei meu dedo indicador na
ponta de seu nariz e caminhei para longe. – Olha, digamos
que a Jane tenha tido um motivo legítimo para golpear
alguém na cabeça...Eu não quero que a imagem dela fique
manchada! Nós sabemos que ela é uma pessoa boa!

45
-Não! Não! Nós só sabemos que ela era obcecada por
mulheres assassinas que ainda não tinham sido presas! – Ela
pegou na minha mão e eu a encarei. Não acho que Jane era
simplesmente assim. – Olha aqui, esse não é o livro que ela
te deu? – Ela pegou meu livro. É, claramente, o título era
assassinas inocentadas. Bufei. Na verdade, eu meio que
deveria concordar com ela...A Jane realmente gostava
muito daquele assunto, mas...Será que era só isso? Somente
uma obsessão ou algo mais? – E agora, você vai ajudar a
Jane escapar de um assassinato? Ah, por favor! – Ela jogou
o livro no sofá. Eu logo iria começar a gritar com ela
quando um papel caiu de dentro das páginas.
Nós nos entreolhamos e no exato momento, pulamos uma
em cima da outra para pegar o papel primeiro. Ora, que
raiva! Ela ganhara!
-Ah, olha, é a letra da Jane! – Sally notou, mas eu peguei o
papel de sua mão antes que pudesse ler.
-E tem o meu nome! – Observei. Rapidamente, abri o
bilhete. Oh meu...
-O que está escrito?
Eu fiquei sem fôlego e entreguei a mensagem.

46
-“Não fui eu, mas parece que foi alguém da região.” – Sally leu.
– Ah, ótimo, que bom saber que a Jane não é assassina, mas
e o resto da história?
Eu olhava para o horizonte. Uma inspiração do além surgiu
e eu disse lentamente:
-Significa...Que a Jane entregou um assassinato enigmático
para eu resolver... – Espremi os olhos e os lábios. -Oh! –
Eu abruptamente parei de caminhar.
-O que foi agora?
-Foi por isso que ela deixou a casa para mim! Ela encontrou
o crânio, tentou resolver o crime e não conseguiu! – Meu
olhar era faminto. Faminto pela resolução daquele enigma.
– E agora, ela deixou o mistério para mim...Oh! Eu
preciso descobrir se a Jane estava certa! Preciso descobrir
se tem um assassino por aqui!
Sally estava parada na minha frente, tentando entender
tudo o que estava sendo dito, de braços cruzados e com
cara fechada.
Meus olhos arregalados, minha boca na abertura máxima.
Como ela não entendera?
-Não entendeu?! Foi o último desejo da Jane! Eu tenho que
investigar!!! – Eu estava indignada e meu coração batia o
mais rápido que podia.

47
-Não, não tem. – Ela retrucou secamente. – Isso é loucura
e muito perigoso. – Seus olhos estavam preocupados.
-Não é tão perigoso! O assassino nem sabe que eu achei o
crânio! – Eu entortei a cabeça para um lado.
-Ah é? Tem certeza disso?
-Aham! – Eu balancei minha cabeça e mãos, sem rodeios.
Era tão, tão, tão óbvio...
-Você não está pensando direito! Se tem um assassino aqui
no bairro, é a polícia que precisa encontrar! – Ela cerrou os
dentes.
Ha, ha, ha! A polícia da cidade não serve nem para tirar
gato de árvore, quem dirá resolver este crime!
-E – Ela completou. – se você não contar para a polícia o
que encontrou, eu mesma conto! – Ela apontou o dedo
para mim, furiosa. Saiu pisoteando o carpete, em direção à
porta.
-Me dá uma semana, uma semana! – Consegui sua atenção.
– E então pode procurar a polícia! Só isso! E – Agora eu
que apontava o dedo para ela. – eu te dou uma entrevista
exclusiva para o jornal!
Ela abriu a boca de horror.

48
-Você está sempre pedindo para o Macon te dar matérias
relevantes, não as fofinhas! Essa é a sua chance! – Eu agia
igual uma louca, mas não estava nem aí. Eu precisava,
precisava resolver aquele mistério.
Ela cruzou os braços e se apoiou na perna direita. Então,
fechou os olhos e começou a reclamar:
-Por que você quer fazer isso, Roe, por quê?! – Sua voz
estava muito alta, ecoando por todo o ambiente.
Pensei numa resposta à altura, mas não encontrei. Eu
achava que era simplesmente porque Jane disse que eu era
boa, mas...Tinha muito mais coisa por trás disso.
-Eu não sei, a Jane disse que eu sou boa com assassinatos,
se ela está me dando uma chance de ver se isso é verdade,
eu...Preciso pelo menos tentar. – Suspirei, e ela revirou os
olhos. – Ah, fala sério, vai saber a quanto tempo esse
crânio estava lá...Meses? Talvez anos! Que diferença faz
mais uma semana...? – Eu olhei para ela com meus olhos de
cachorrinho, implorando por misericórdia.
-Pffffff...Tudo bem, eu te dou uma semana, não mais! – Ela
andava lentamente na minha direção. Aquilo me dava
medo.
-Obrigada. – Eu peguei o bilhete de suas mãos e sorri. –
Você é uma boa amiga.

49
-Ou posso ser a pior! Um dos dois! – E, levantando as
mãos num gesto exagerado, bufou e saiu pela porta da
frente.
Uhu! Eu consegui! Iria conseguir examinar aquele caso
sinistro! Mas...será que uma semana era suficiente?
Resolvi então fazer um pequeno ajuste no tempo...
-Ah, oi, é...É a Aurora Teagarden, eu...é...Tenho um
recado para o Sr. Croolyn...É...Eu não vou poder trabalhar
amanhã, é que...É que...Eu estou...Cof, cof!...Me sentindo
um pouco mal, é...Não é nada assim, sabe, é pouca coisa,
sabe, eu...Eu só não vou amanhã. – E desliguei a chamada.
OK, agora todos sabem que eu não sei mentir. Ótimo.

***
-Flash! Flash! Hum...Mais uma aqui...Flash! E mais outra
bem aqui...Flash!
Eu continuaria tirando fotos se a dona da casa do lado não
tivesse aparecido bem na porta.
-Pegou tudo o que precisa? – Ela perguntou para uma
menina, a qual julguei ser sua filha.
-Peguei.
-Ótimo.

50
A mulher acabou me vendo, obviamente.
-Precisa de alguma coisa? – Sua voz era doce e suave. Ela
não entendera o que eu fazia ali. Que bom.
Eu simplesmente sorri, um pouco nervosa.
-Ah...Não, não! Eu estou só...Olhando meu bairro novo,
sabe... – Foi minha desculpa.
-Oh! – Ela desceu as escadas da varanda correndo. – Você
deve ter ficado com a casa da Jane!
-É, fui eu. Aurora Teagarden. – Eu apertei sua mão.
-Olá vizinha! – Seu sorriso brilhante causava dor em meus
olhos, mas era melhor do que uma reação brava. – Ah, ela
é a Emma, minha filha. – Ela apontou para a garotinha. –
Eu me chamo Carrie, Carrie Riley...Você já ouviu falar
das...Das 2 coitadas por terem sido abandonadas? – Seu
olhar agora era triste.
Eu senti pena dela. É claro que já tinha ouvido falar.
-É...Não, eu... – Eu não sabia mentir, então apostei na
resposta mais óbvia. – Bom, na verdade sim, eu já ouvi
falar de vocês, mas eu...
-Eu queria te convidar para tomar um café, mas eu tenho
que levar a Emma para a escola e para a loja. – Ela me
interrompeu, com todo o direito. Eu não gostaria de ouvir
sobre a história dela, assim como ela não gostaria de

51
compartilhá-la comigo. – Eu trabalho naquela Boutique de
moda na rua Elmo... – Ela olhou por alguns segundos para
o meu visual. – Você...Devia passar lá. Sério. – Essa última
frase não foi brincadeira.
-Oh... – Eu baixei a cabeça. – É, eu vou sim...Ah, e você
podia me falar...Quem mora nessa casa no fim da rua...? –
Eu apontei para a casa mais próxima.
-Ah, é a casa do Macon...Macon Turner. Emma, vamos
indo! Até mais, foi um prazer te conhecer! – Ela saiu
apressada.
Hum...Aquilo fora estranho.
-Tchau. – Acenei.
Olhei para aquela casa, com um olhar desconfiado. Algo
naquela rua era muito...Íntimo de todos eles. Mas eu iria
descobrir o quê...!

***
-Não, não! Espere aí, eu não vou começar a espionar o meu
chefe! – Sally sussurrou no telefone.
-Eu não estou te pedindo para espionar, eu só quero
algumas informações básicas sobre ele...A idade...Estado
civil... – Eu retruquei. Minha amiga sempre foi muito
medrosa...

52
-Eu não sei a idade dele, não é educado perguntar... – Ela
disse. – E ele é...Bem, não é mais casado, e odiaria ter essa
conversa com ele.
-Ah...A esposa dele chamava Linda? Eu conheço uma Linda
Turner da biblioteca...Ela tinha o filho...Ian. Mas faz
tempo que eu não vejo os 2.
-Ha, deve ser porque o Ian fez uma viagem de formatura
para a Índia e desapareceu! – Ela debochou.
Abri a boca no ato de choque.
-O Macon contratou um detetive particular para encontra-
lo, mas...
-Ouch, mas que horror! – Mesmo assim, anotei as
informações que Sally me passou. – Oh, eu me lembro do
Ian...Ele gostava tanto de quadrinhos...! Mas, se ele sumiu,
existe uma grande chance daquele crânio ser dele! – Não
sei o motivo da minha empolgação, porém colei um postite
com seu nome escrito no meu mural de suspeitos para a
cabeça.
-Espera aí...Por que o Ian é uma opção? Ele desapareceu na
Índia. – Ela parecia confusa.
-É, mas o Macon pode estar inventando que ele
desapareceu lá.
Simples, alto e claro.

53
Consegui ouvir as expressões sonoras dela. Apavorada,
confusa e nervosa.
-Se você está querendo sugerir a hipótese de que o moço
gentil, que é o meu editor, pode ter matado seu próprio
filho, a única coisa que posso fazer é desligar na sua cara! –
Ela realmente fez isso.
Não liguei para ela e continuei colando postites no meu
mural. Já haviam 7 suspeitas.
Uma música estranha começou a tocar repentinamente, e
isso chamou minha atenção para o lado de fora de minha
casa. Caminhei pela rua, olhando para todos os cantos,
procurando de onde saia. Pulei a cerca do meu quintal e do
quintal dos Rightnout, e dei de cara com Márcia, ouvindo
exatamente aquela música.
-Márcia! – Eu exclamei.
-Oh! – Ela deu um pulo. – Que susto! – E começou a rir.
Ainda bem que ela desligou aquela música horrorosa, senão
eu mesma iria fazê-lo.
-Desculpe, eu não queria te assustar, eu só...Queria te dar
um oi...
-Não, não...! Não é culpa sua! Eu me assusto fácil quando o
Torance está viajando...A música me faz companhia, mas...
– Ela suspirou. – É tão bom poder conversar com uma

54
pessoa de verdade! Sente-se! – Ela indicou uma cadeira de
madeira para eu sentar.
-Oh, obrigada, eu fico feliz...
-Oh...Como é que você está? – Ela gentilmente perguntou.
– Você e a Jane devem ter sido ótimas amigas, já que ela te
deu a casa e tudo mais!
Não, nós definitivamente não nos conhecíamos.
-Ah é, nós éramos...Amigas. – Tentei parecer verdadeira.
– E vocês 2, também eram próximas?
-Oh, eu considero que sim, é...Ela sempre era um amor
comigo. Apesar de ter umas manias...Estranhas. – Ela
entortou o nariz.
Eu arqueei a sobrancelha.
-Estranhas? Como o quê?
-Ah, estranhas não é a palavra certa! Isso que o Torance
sempre pensava...Ela ficava sentada no quintal, por várias
horas seguidas...Simplesmente sentada naquela
cadeirinha... – Ela apontou para a cadeira no quintal da
Jane. – Sem ler, pintar, ou qualquer outra coisa. Somente
sentada. Só...Olhando para o mundo, sabe? Observando...
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela disse:
-É claro que o Torance achou que ela estava nos encarando,
mas isso é bobeira! – Ela começou a rir. Nossa, realmente,

55
Márcia era meio...Feliz demais. – Ele só não gostava que
ficassem em cima dele o tempo todo.
Eu assenti pesarosamente...Me sentia mal por estar falando
de um morto...!
-Vocês alugam aquele apartamento em cima da garagem? –
Eu perguntei.
Márcia olhou por um tempo, pensativa.
-Nós não alugamos mais...Teve uma época que sempre
havia um inquilino lá, mas, o Torance não quer mais saber
disso, então...O último morador ficou devendo o aluguel!
Ele simplesmente sumiu, deixou tudo aí... – Ela suspirou.
Eu estreitei os olhos e inclinei o pescoço para o lado. Ele
sumiu...Sumiu!
-Oh...É...Oh! – Eu fiquei meio sem reação. Franzi meu
nariz e resolvi tirar a dúvida: - Como era o nome dele?

***
Inquilino desaparecido: Mark Kaplan. Foi o que eu escrevi no
meu postite rosa, e colei no mural de suspeitos. Hum,
vejamos...Por que ele não poderia ser um suspeito? Ele
atende a todos os requisitos!
-Ring, ring! – O telefone toca e eu corro para atender.
-Alô?

56
-Aurora Teagarden? – Aquela voz era familiar. – Eu estou
no Mocha’s dinner, com toda a minha equipe, esperando,
mas...Já passaram das 18h30 e você não apareceu.
Oh não!
-Ah! Scott Laughlin! Nossa, me desculpa mesmo, é que eu
perdi a noção do tempo! – Fui às pressas até a sala, pegar
minha bolsa.
-Bom, se hoje não der para você...
-Não, não, não, não, não! Dá sim, dá sim! É...Me dê 15
minutos, OK?
-OK, te vejo lá.
-Ótimo! É, desculpe...! – e desliguei.
Como eu perdi tanto a noção do tempo?! Ia ser uma noite
especial, ou melhor, a noite, mas eu consegui me atrasar e
esquecer tão facilmente!
Eu saí da casa de Jane o mais rápido possível, e corri para o
carro. Quando me aproximei, notei um papel no
retrovisor. Eu peguei, e...
Onde está o crânio? Era o que se lia no bilhete. Tive um
arrepio repentino, e olhei aos arredores, procurando
alguma pista de quem havia deixado aquilo, mas não achei
nada. Ofegantemente, entrei no carro. Era oficial:
Eu estava em um jogo de perseguição real.

57
***
-Toc, toc, toc! – Bati impacientemente na porta de Sally.
-Ah, oi Roe... – Sally me cumprimentou. – O que está
fazendo aqui?
-Você contou para alguém que eu achei o crânio? – Eu
estava preocupada.
-Eu não! – Ela logo negou.
-Nem para o Macon?
-Não, eu juro que não contei nada! Mas...Por que está
perguntando? – Ela inclinou a cabeça.
Eu arregalei os olhos por um momento. O que eu devia
responder?
-Oh, é...Eu tenho que ir, estou atrasada para uma reunião!
– Eu lhe dei as costas e franzi o cenho.
-Lembra que só tem mais 5 dias! – Ela gritou. É claro que
ela desconfiava de algo.
-5 e meio! – Eu retruquei e fui embora imediatamente, às
pressas. Já estava muito atrasada para a reunião com Scott!

58
Já estava no táxi, dando o toque final na minha aparência.
Vestido azul marinho, check!
Cabelo solto com ondas, check!
Colar de pérolas antigo da mamãe, check!
Saltos altos pretos elegantes, check!
Bem, achava que estava realmente pronta para essa
reunião. Talvez eles me propusessem assassinatos para
resolver, mas, sinceramente, não fazia a mínima ideia do
que esperar. Poderia não ser tão casual quanto eu esperava,
mas pelo contrário, poderia ser muito.
-Senhorita. – O taxista chamou minha atenção
repentinamente. – São 8 dólares. Pagamento em cartão ou
dinheiro?
-Oh...Dinheiro. Tome. – Eu entreguei 10 dólares, mas não
estava nem aí. Atrasada o suficiente para pedir reembolso.
Olhei por alguns instantes para o Mocha’s dinner. Na
verdade, eu nunca fora lá e isso me deixava mais nervosa
ainda.

59
-Boa noite, madame. – O recepcionista me cumprimentou.
– Tem reserva?
-Ahn, eu...Não sei. Na verdade, eu vinha com...
-Ela está comigo. – A voz familiar disse. Era Scott
Laughlin. Ainda bem! Eu já iria passar vergonha na minha
primeira noite chique...
-Oh, com o Scott? Tudo bem! Pode ir, boa noite,
senhores! – O homenzinho apressou-se em nos dizer.
Ótimo...Comecei com o pé direito.
-Vamos? – Laughlin acenou com a cabeça, em direção à
mesa.
-Claro.
Eu o encarei enquanto caminhávamos. Terno, gravata
vermelha...Sapatos brilhantes...Seu cabelo estava penteado
e com gel...Claramente era algo formal, então.
Nós chegamos na mesa. Haviam exatamente 6 pessoas,
conosco, virariam 8. Mas apenas 2 eram mulheres, e o
resto, homens. Todos eles estavam bem vestidos,
elegantes. Se eu fosse minha mãe, provavelmente pensaria
que minha roupa não é adequada, mas Aurora Teagarden
não liga para esse tipo de coisa.

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-Olá! Sou Kate Collins, vice-presidente da Dior. – Uma
das mulheres se levantara e apertara minha mão
calorosamente.
Examinei seu rosto por um segundo. Relaxado, mas
imponente. Ela sorria com seus dentes brancos reluzentes,
assim como sua cabeleira loira. Kate parecia com uma
modelo. Ou talvez ela fosse uma modelo. Nunca vi
nenhuma mulher tão bonita em toda a minha vida! Seus
olhos azuis como o oceano eram vivos, e brilhavam,
violentamente. Eu já estava ficando com dor de cabeça, de
tanto brilho saindo daquela jovem! E sua vestimenta não ia
sair por baixo! Um vestido verde-escuro tomava o
caimento perfeito em seu corpo, seus saltos se chocavam
no chão a cada caminhada que Collins dava...Ela
transbordava elegância por toda a parte! Quantos anos ela
deveria ter?
-Oi, eu sou Aurora Teagarden! – Eu sustentei o aperto de
mão, só para poder olhar mais para ela e me encantar mais
ainda.
-E eu sou Jennifer Lawrence. – A outra rapariga se
apresentou. Sua aparência era um pouco mais simples,
comparada com a de Kate, mas ainda assim, era um bafe!
Cabelos extremamente cacheados, não muito longos,
caindo por seus ombros cobertos com um tecido
esplêndido da cor do sol...Joias de ouro nas mãos, pescoço,

61
pulso, orelhas...Onde aquelas mulheres arrumaram tanto
dinheiro?
-Sean Foster. – Outro membro apertou minha mão, e
assim foi. Por fim, pude sentar ao lado de Jackie Owner e
Maksim Austin, e cada um falou um pouco sobre sua vida.
Eu nem prestei muita atenção no que os rapazes disseram,
somente quando chegou a vez de Kate e Jennifer.
-Bem, é minha vez! Hum...Eu adoro ler. Acho que é o que
faço praticamente o dia todo. Mas é claro, livros de
assassinatos...Já li tantos, mas nunca perdem a graça.
Descobri também que sei cozinhar, e que tenho um talento
excepcional para música! Iniciei aulas de violoncelo no mês
passado, e é simplesmente incrível! Quem sabe você não
vai lá em casa um dia, Aurora! – Kate riu. Oh meu Deus,
como ela podia ser tão simpática!
-Oh, com certeza! – Eu repliquei. – Inclusive, eu adoraria
ver como é tocar um instrumento...Eu já pensei em iniciar
aulas de violino, ou piano, ou até mesmo flauta, mas, sabe,
eu acho que não é a minha praia. – Dei de ombros.
-Eu também pensava assim antes de começar as aulas. Mas
depois, tudo ficou mais fácil e encantador. No início, o
Bocherinni Minuet era um desastre, mas hoje...Olha, não
quero me gabar ou ser orgulhosa, mas sinto um progresso
imenso desde o primeiro dia. – Kate contou. Eu não achava

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que ela estava sendo orgulhosa. Às vezes, estamos muito
empolgados com uma coisa, e queremos espalhar para
todos, só isso. Mas é claro, eu não fazia ideia do que era
Bocherinni Minuet.
-Legal, Kate. Jennifer, por favor. – Scott pediu.
Então, era a vez de Jennifer. Conseguia sentir que ela não
gostava de estar exposta a uma situação dessas, logo, era
tímida.
-É...Eu não sei muito o que dizer. Trabalho na Dior há 7
anos, e...
-Whoa, 7 anos?! Quantos anos você tem então, Jen?! –
Jackie se espantou.
-Isso não é algo que se pergunte a uma pessoa, mas não
tenho problema de falar. Entrei na empresa com apenas 22
anos...Faça as contas, Jackie. – Ela arqueou as
sobrancelhas.
-Nossa, então eu sou o mais novo daqui? – Ele espreitou os
olhos e se esticou.
Não achei uma postura muito adequada para a ocasião, mas
não podia julgar, afinal, estar ali era uma honra.
-Tá legal. Se todos estiverem confortáveis, digam suas
idades. Eu, Scott, tenho 29 anos, e entrei aqui com 27.

63
Nossa. Ele havia virado uma espécie de chefe ou
coordenador jovem...! Por quê?
-Tenho 25. – Maksim disse.
-Todos aqui sabem fazer contas, certo? Pois bem, já sabem
quanto tenho. – Jennifer respondeu.
-Não sei se preciso dizer, porque não faço parte da equipe,
mas tenho 28 anos. – Eu dei de ombros.
-Ficamos felizes em saber, Aurora. – Scott incentivou.
Assim foi seguindo. Em geral, as pessoas tem 23 até 29
anos, ou seja...Eu não sou completamente esquisita. Sou
mais nova que muita gente! OK, 1 ano somente, mas...
E Jackie tinha apenas 23! O único com essa idade. Apenas
Kate não quis revelar a idade...Este foi seu depoimento:
-Olhem, não me levem a mal, mas, acho que não necessito
dizer minha idade. – Ela pareceu desconfortável.
-Claro, Kate. Como quiser. – Foi a resposta de Scott.
No momento, um garçom passou e imediatamente
pedimos a refeição e pusemo-nos a esperar. Eu não gostei
muito da situação e decidi quebrar o silêncio.
-Então...O que vocês fazem na Dior?
-Literalmente, você veio numa reunião de aquisição e não

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sabe o que fazemos? Scott, o que foi isso? – Joshua Smith
perguntou.
Scott o ignorou. Bem, ele era um chefe, podia ter me
chamado sem dar desculpas. Eu já não fui com a cara desse
Joshua.
-Aqui na Dior, nós resolvemos, secretamente, assassinatos.
Bem, é um pouco complicado de entender. Nós
resolvemos e damos a resposta para a polícia. – Maksim me
respondeu.
-Por quê? – Eu questionei.
-Percebe que nós todos estamos com vestimentas
elegantes, em um restaurante elegante, e somos
muito...Digo, a maioria de nós é muito educado. Todo
esse luxo saiu de algum lugar. -Ele deu de ombros.
Dinheiro. Mas...Eles resolviam assassinatos só pelo
dinheiro? Não havia paixão envolvida?
-Ah... – Eu assenti devagar.
-A questão é, Aurora. – Jennifer se manifestou. – Se você
entrar aqui, nunca mais sairá. Inclusive – Ela se lembrou. –
essa reunião é uma coisa privada. Ninguém pode saber do
que nós tratamos aqui. Precisamos do dinheiro que
recebemos. Aurora, é muito dinheiro. Muito mesmo. – Ela
tomou um gole d’água.

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Quanto?
-Quan...
Bem no momento, a comida chegou. Eu estava prestes a
descobrir quanto eles ganhavam por isso...!
-Senhores, com licença. – O garçom educadamente
colocou os pratos na mesa e saiu. Vi uma garçonete logo
atrás, trazendo as bebidas.
-Isso é algo ilegal? – Eu perguntei, meio sem graça. Bem,
se fosse, eu definitivamente não participaria.
-Oh, de fato seria se a polícia nos impedisse. – Kate se
encolheu. – Mas, ela não o faz. Inclusive, apoia. Ela leva
todo o crédito pela resolução e nós ganhamos todo o
dinheiro...E, com o crédito, vem o dinheiro. É bom para
os 2 lados. Eu acho.
-E como você ficou sabendo da Dior, Kate Collins? – Eu
quis saber.
Ela parecia meio envergonhada.
-Eu...Bem, nós não precisamos falar disso. Desculpe. – Ela
se apressou em dizer.
-Oh, eu que peço desculpas...Não sabia que era algo
pessoal... – Eu passei a mão no cabelo.

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Começamos a jantar, e posso afirmar, em anos, nunca comi
algo daquela forma. Estava perfeito.
Todos nós comíamos em silêncio. E permanecemos dessa
forma, definitivamente, até o final da refeição. O que era
aquilo, então, senão simplesmente um jantar de amigos?
Quando a refeição foi finalizada, nos levantamos e saímos
do restaurante. Eu fui a última a sair, porque...Nós não
tínhamos que pagar?!
-Ei, pessoal. – Eu chamei. – Nós não precisamos pagar?
Tudo bem que o grupo já é ilegal, mas...Desse jeito?
-Aurora. – Scott sinalizou para que eu me calasse, e foi o
que fiz.
Continuamos andando, e cada um se direcionou para seu
carro. O que estava acontecendo?
-Foi muito bom ter a sua presença, Aurora. De verdade. –
Kate Collins disse. – Venha cá um minuto.
Eu fui até ela, estranhando um pouco.
-Pode me chamar de Kate, simplesmente, OK? – Ela
quebrou o gelo.
-Tudo bem, Kate. – Assenti.

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-Certo...Você gostaria mesmo de saber o que fazemos aqui
na Dior? E também, como eu soube da empresa? – Ela fez “”
com a mãos, frisando empresa.
-Hum, bem...Claro, mas, se for...Pessoal...Não precisa
dizer...
-Oh, não, na verdade, eu me orgulho de dizer isso. Quero
dizer, de como eu entrei na Dior e como passei do lixo ao
luxo. – Ela pegou as minhas mãos e começou. – Eu era
simplesmente uma garota quando meus pais faleceram. Foi
em um acidente de carro, mas não importa. A questão era:
7 crianças, nenhum adulto. E eu era a mais dedicada, que
sempre ajudava em casa, mais inteligente, esperta, entre
outros. Meus 3 irmãos mais velhos eram homens, e bem,
não servem para nada.
Eu tinha que concordar. Eu não tinha irmãos, sempre filha
única, mas meus vizinhos tinham, e brigavam o dia inteiro.
-Você teve que trabalhar para sustentar?
-Exatamente. Mas ninguém queria contratar uma garota de
14 anos.
Eu estreitei os olhos. 14 ANOS?!
-E seus irmãos, tinham quanto?!
-Eu tinha irmãos desde 2 até 22 anos. – Foi sua resposta.

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-Oh meu Deus. E com 22 anos eles não se importavam em
sustentar a família?!
-Não mesmo. Por isso eu cheguei até a Dior, e me
contrataram imediatamente.
-Por quê?
-Eu era boa em passar despercebida nos ambientes.
-Mas...Por que eles precisavam de alguém...
-Discreto? Oras, porque na Dior, nós não resolvemos
assassinatos e ganhamos dinheiro com isso. Tudo bem que
foi uma desculpa muito boa que o Maksim deu, pois a
polícia daqui é uma miséria, e aceitaria qualquer coisa por
dinheiro e fama. Mas não. Na Dior, nós roubamos, Aurora.
Roubamos pelo luxo. Por isso eu digo, corra enquanto é
tempo.

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-Eles o quê?! – Sally me chacoalhava desesperadamente. E
é claro que, no final das contas, fui me refugiar em minha
melhor amiga, porque é para isso que elas servem.
-É, eu realmente...Gostei tanto da Kate Collins...Achei
que ela...Oh... – Eu soquei o ar e cambaleei.
-Tudo bem, tudo bem. Pelo menos ela te avisou para
correr enquanto era tempo. Sério mesmo, pelo o que você
me contou, parecia realmente sinistro.
-É, é...Sei lá. Será que nós podemos entrar por um
instante? Não estou me sentindo muito bem...
-Claro, Roe! Por que não pediu antes?! – Ela abriu
passagem e entramos. – Olhe, vou preparar um chá de
amêndoas e trazer umas bolsas quentes para enxaqueca. Já
volto! – E correu apressadamente para a cozinha.
-Hum...Meu favorito! Obrigada! Você é a melhor...!
Eu me deitei no sofá e encarei o teto por algum tempo. Só
haviam passado alguns minutos que saíra do jantar, mas era

70
como se fossem anos. Talvez, décadas. Minha cabeça
rodopiava com meus pensamentos. Tudo agora estava
desorganizado. Eu me sentia muito mal. Tontura, enjoo,
enxaqueca, frio, e tudo mais. Uma única palavra fizera com
que eu passasse, definitivamente, do luxo ao lixo.
Quando menos esperava, Sally voltou.
-Tome. – Ela me deu o chá. – As bolsas já estão
aquecendo. Agora, me conta, por que você está mal assim?
Já acabou a reunião! Você não vai participar daquele grupo,
vai? – Ela sentou-se ao meu lado, mas permaneci deitada.
-Não sei. Eu acho que era porquê...Talvez eu tivesse
encontrado a minha turma, e eu estava feliz por isso. Mas
quando as coisas estranhas começaram a ocorrer,
principalmente na hora em que simplesmente saímos sem
pagar, eu me senti muito mal. Aquilo era errado. – Eu
desabafei. – Ainda mais na hora em que a Kate Collins me
disse aquelas coisas...Eu...Fiquei tonta, e cambaleei até o
carro. Não sei como não caí na frente de todo mundo. E
Sally, eles eram muito ricos. Eu pensei que fosse porque
eles ganhassem muito dinheiro com aquilo, mas não tem
nada de aquilo. São uma quadrilha de 7 pessoas! – Levei
meus braços ao ar.
-Oh, Roe...Mas você já tem a sua turma. A nossa turma. O
Real Murders!

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-É...Eu sei.
-Eu estou achando que você não sabe não. – Ela me puxou
para um abraço, e eu assenti sem perceber. – Talvez você
tenha tido a sensação de um assalto...
-Hum...Verdade. Pode ser isso. – Eu bebi um grande gole
do chá. Sally sempre me fazia sentir em casa, sempre.
-Olhe, já está tarde, amiga... – Ela me mostrou a hora no
celular. Quase meia noite! – Eu acho melhor você dormir
aqui hoje. Sabe, talvez você não esteja muito confortável
para dirigir. Eu tenho medo. Fique aqui hoje, por favor...!
-Certo. Obrigada, Sally. Mas deixe que eu te ajude com as
coisas da casa! – Eu pus-me a levantar.
-De maneira nenhuma! – Ela me empurrou para o sofá
novamente. – Você vai descansar! Talvez eu nem te deixe
ir para o trabalho amanhã...
-Sally, amanhã estou de folga. – Entortei a cabeça e puxei
os lábios.
-Melhor ainda! Ficará em casa!
-Oh, não mesmo! Eu vou...
-Silêncio. Com essa gritaria, a sua enxaqueca nunca
melhorará. – E adentrou a cozinha.

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Depois que ela me ajudou com as dores, fomos dormir. Ela
foi para seu quarto e eu fiquei num quartinho de hóspedes.
Na verdade, eu já dormi tantas vezes lá que parecia o meu
quarto, agora...!

73
-Ian Turner...Te achei, seu caloteiro! – Eu disse para mim
mesma enquanto pesquisava algumas coisas na biblioteca. É
claro que eu saí. Sally não ia me impedir de nada, só de
falar com enxaqueca...! – Está bem vivo na Filadelfia! – Eu
pesquisei algumas outras coisas, procurando mais
informações sobre Ian e Macon. Então, o garoto não estava
desaparecido. Só queria fugir de casa...Talvez Macon fosse
controlador? – Hum...Interessante... – Imediatamente,
senti a presença de alguém ao meu lado. Sem tirar os olhos
da tela, cumprimentei. – Oi, Lilian.
-Então, pede licença no dia em que devia trabalhar, e aqui
está você, no seu dia de folga! – Ela espremeu os olhos e
pôs as mãos na cintura. – Sorte que o senhor Croolyn não
está aqui para ver a cena! Nem um pouquinho doente, não
é, Aurora Teagarden?!
-Tem razão, eu já melhorei. – Me levantei e falei
calmamente. – Pode falar para o senhor Croolyn que eu
venho trabalhar normalmente na segunda.

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-Também vou falar que está usando a impressora colorida
para um projeto pessoal! – Ela rosnou.
-Foi por isso que eu deixei 2 dólares no balcão, o suficiente
para a impressão. – Eu apontei para a mesa. Enquanto saia,
vi Lilian pegar o dinheiro e cheirar. Tudo bem, se ela não
acreditava que era verdadeiro, problema dela...

***
Eu dirigia, em direção a minha casa. Infelizmente,
encontrei quem eu menos queria...Arthur. É claro que ele
tinha que se mudar para a casa da frente. Tão óbvio,
Aurora...!
-Ah...Olha quem vem lá... – Ele me cumprimentou.
-Oi para você também. – Eu abri a janela e estacionei o
carro.
-Oi.
-Então...Hoje é o grande dia! – Eu tentei parecer animada.
-É...Então, eu só queria te falar que eu ainda estou
investigando a invasão na sua casa. – Tão atencioso, não é
mesmo?

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-Oh, eu tenho certeza que sim. – Eu franzi a testa, em
agradecimento.
-Não que tenha muita coisa que eu posso fazer sem
testemunhas e impressões digitais, mas eu comparei a sua
ocorrência com a das outras invasões. – Eu encarava o
chão. – Exatamente a mesma coisa, só abriram os armários
e as gavetas maiores, mas não muito grandes.
-Arthur, querido! Sabe onde está aquela caixa grande com a
luminária... – A voz de Lynn ecoou pela casa. Ela parou de
falar e mudou o semblante no exato momento em que me
viu.
Eu me forcei a sorrir e dei uma risadinha amigável. Acenei
para ela.
-Oi, Lynn...!
Ela veio até nós.
-Aurora...! O Arthur me disse que talvez nós pudéssemos
nos encontrar por aqui... – Óbvio, Lynn, eu morava na
casa vizinha! Ela com certeza disse isso só para me
provocar...- Mas não achei que seria logo de cara.
Arthur suspirou fundo.

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-Uhul! Mais vizinhos novos! – Uma voz soou. Todos
olhamos para trás. Era Márcia Rightnow. – Eu sou o
comitê oficial de boas-vindas! Hahaha!
Eu sorri desconfortavelmente, e Arthur e Lynn também.
-O Torance vai ficar muito feliz de ter não 1 – Ela apontou
para Arthur. – Mas 2 detetives da polícia morando em
nossa rua! Ele sempre fica preocupado quando eu estou
sozinha em casa, mas eu sempre falo para ele: Nunca
subestime uma mulher. Certo, meninas? – Ela perguntou
diretamente para mim e para Lynn.
Nós assentimos.
Arthur então, disse:
-Estamos muito felizes de morarmos aqui.
-É mesmo? – Márcia perguntou. – Pois saiba que nós
consideramos todo mundo amigo, aqui nesse bairro! Aliás
– Ela mordeu o lábio. – eu sei exatamente o que eu e o
Torance devíamos fazer! Um churrasco de boas-vindas! O
que vocês acham?! – Ela estava super empolgada, ao
contrário de mim e do Arthur e Lynn.
-Hum...Não vejo a hora! – Lynn fingiu, como sempre.
-É, eu também não... – Arthur falou.

77
Eu simplesmente fiz que sim com a cabeça, e ficamos em
silêncio. Resolvi ir embora, pois a situação já estava chata o
suficiente.
-Nós nos falamos. – Arthur disse, e eu dei a partida.

***

Toc, toc!
Alguém bateu na porta, e eu dei um pulinho de susto.
Estava colando mais fotos e nomes em meu mural, mas
parei para ver quem era.
-Achei que fosse te encontrar aqui. – Sally me
cumprimentou. Ela estava segurando uma caixa estranha na
mão, e percebi que era uma pizza. Oh, que gentil!
Ela entrou e, olhando para o meu mural de suspeitos,
brincou:
-Oh, aqui é a sede da Aurora Teagarden investigações,
então? – E continuou a andar. – Oh, mas o que é isso? Eu
fico preocupada com você aqui, dia e noite! – Ela estava se
referindo a bagunça que o invasor fez. Sim, eu não tinha
limpado tudo aquilo, e estava vivendo normalmente...!

78
-Oh, eu não fico aqui a noite, acredite.
-Ah, tem até terra em sua mesa! – Sally começou a limpar,
e eu fiz uma cara de nojo, torcendo os lábios. Era do crânio.
Mas mesmo assim eu quis assustá-la.
-Deve ter caído do crânio. – Dei de ombros.
Ela gritou de espanto.
-Oh, Aurora! Você o colocou aqui?! Nossa, Roe, que nojo!
– Ela sentou-se na sapateira. Ai, ai...
-E foi aí que eu o encontrei! – Apontei para o local, rindo.
Mais uma vez, ela deu um de seus gritinhos e começou a se
limpar, mas...Eu percebi que tinha terra dentro também.
-Olha, e tem terra aqui também...Ou a própria Jane
desenterrou o crânio...Ou encontrou logo depois que
desenterraram...! – Subi em cima da sapateira e olhei pela
janela. Espere um segundo...Agora tudo fazia sentido! –
Sabe as invasões das casas?
-Claro.
-Alguém sabe que tem um corpo sem crânio e está
tentando acha-lo! – Eu fiz aquele olhar faminto. Faminto
por resolução do crime. – Mas...Como ele sabe que sumiu?
A não ser que...Ele mesmo tenha enterrado o corpo e
revirado o túmulo algum tempo atrás. Podem ser dias. Ou

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anos. Ou até décadas. – Soprei ar quente em minhas mãos
e pensei por um tempo até voltar a falar. – O caso
Blanchet! Lembra?! Kansas, 1918! O assassino ficava
enterrando e desenterrando o corpo, mudando de lugar
toda hora! – Num pulo prostrei-me a andar pela sala
enquanto gesticulava, tentando prender a atenção de Sally
inconscientemente. – Porque, é claro, queria ficar de olho
nele! Talvez, o assassino do crânio esteja mudando o
paradeiro...Pelo mesmo motivo! – Saí correndo, o salto
alto estalando no assoalho. Fui até a cozinha. Eu só
precisava pensar direito.
Sally tinha seu rosto amarrado em uma careta assustada.
-Você está deixando meus pelos tão arrepiados que até dói!
– Ela bufou e mordeu o lábio inferior, e nós fomos até o
andar de cima.

***
Tec, tec, tec!
Os meus dedos batiam velozmente nas teclas do notebook.
Última geração, azul como o céu numa noite estrelada.
Sentia meus olhos espremidos, e meu pescoço inclinado
para o computador, mas não tenho certeza se isso
realmente aconteceu. Eu estava tão imersa em meus
pensamentos que nem ligava para o meu arredor.

80
Por isso a voz de Sally me fez saltar da cadeira e por a mão
no coração.
-Google Earth? – Ela apertou os lábios.
-Agora são os meus braços que estão com os pelos eriçados,
Sally! Para quê chegar desse jeito?! – Eu balancei a cabeça
em reprovação e recebi uma risadinha em resposta.
Era ela sendo minha melhor amiga.
-Enfim, veja bem. Tiraram essa foto da minha rua – Eu
andei até outro mural de fotos sobre esse caso. Só que este
era menor, igual ao ambiente. – 3 meses atrás, mas o
Google Earth nos deixa pesquisar o histórico de imagens...
– Para mim, era tão óbvio. Mas provavelmente, na cabeça
de Sally, nada daquilo fazia sentido. – Então, olhe. –
Peguei meu computador na mão e mostrei uma foto. – Foi
tirada há 2 anos atrás.
Ela parecia confusa e irritada por isso.
-E eu tenho que ver o quê? – E pôs as mãos na cintura,
pensativa.
-Pfffffff. Olha, está vendo esta parte aqui com os arbustos?
Um pouquinho diferente da outra foto, me parece. – Eu
estava debochando dela.
Havia um buraco enorme no lugar dos arbustos de 2 anos
atrás.

81
-Não percebe? – Eu me inclinei.
Ah, consegui vê-la sussurrando para ela mesmo.
-Entendo. Tem um buraco enorme aí. O que nós temos
haver com isso? A prefeitura pode ter simplesmente
reformado, ou sei lá. Uma clareira. Qualquer coisa.
-É um lugar perfeito para enterrar... – Não consegui
terminar de falar. Meu cérebro girava a milhão, e tenho
certeza de que meu rosto não identificou uma expressão
adequada para a ocasião. Só saí às pressas do quartinho, e
Sally me seguiu brevemente com os olhos até começar a se
aproximar.
Desci escada abaixo, meu coração palpitando
desesperadamente. A porta principal já estava aberta,
aguardando minha saída furiosa.
-Roe, para onde você vai? – Ela gritou, mas eu não ouvi.
Cambaleei pela rua, esquecendo de que estava com um
salto muito alto. Mas isso não me impediu de persistir.
-Ali, bem ali! – Eu quase chegava perto do paradeiro, mas
ela não fez menção de se aproximar. Tão medrosa...
Voltei correndo para casa, ofegante. Sally me puxou pelo
braço antes que eu pudesse entrar.
-Escuta aqui – Ela disse bem baixinho. – você não vai
começar a procurar por um corpo, não é?!

82
Ela estava nervosa. Suas mãos suavam mais que qualquer
coisa.
-Não, claro que não! – Achei-a até impensante por ter
imaginado aquilo. – Eu vou esperar escurecer, né! – Franzi
o cenho e entrei na casa. Só senti seu olhar, me
examinando de cima a baixo, com desaprovação.
-Ah, Aurora Teagarden! – Agora, ela levava em seu rosto
uma expressão de quem havia levado um tiro na testa.
Eu virei abruptamente, mas continuei a andar. De costas.
-Precisamos de lanternas!
-Precisamos? Ah, você precisa, Aurora, mas eu não! Nem
venha me enfiar em problemas!
Foi o que ela disse, mas não o que ela fez.
E eu estava ansiosa pela noite que se aproximava.

***
-Deixa a lanterna parada, Sally! – Eu sussurrei
impacientemente.
Nós estávamos – sim, nós – no lugar em que eu tinha
certeza de que encontraria o corpo. Cavando bem
profundamente.

83
O som da pá cavando a terra ecoava no ar, e eu me
preocupava com isso. Alguém poderia escutar...E nosso
plano já era. E se o assassino morasse na minha rua? E se ele
estivesse a quilômetros de distância, apenas? E se ele
estivesse atrás de mim, nesse exato momento?!
-Isso é ridículo, Roe! – Ela replicou, aos sussurros
também.
-Ah, você pode voltar, então! Só deixa a lanterna no chão,
por favor. – Dei de ombros na escuridão. Claro que ela não
viu. E fiquei agradecida disso.
Ela iria dizer mais alguma coisa, mas um som agudo e
perturbador soou. Presumi que fosse uma coruja, mas não
deixei de me assustar.
Eu quase voltei ao serviço, porém passos estalavam no
asfalto. Me arrepiei até a nuca, e Sally se abaixou no chão,
rezando para que não fosse a pessoa que enterrou o corpo.
Dei uma ordem surrada para que apagasse a luz, e também
me abaixei sem fazer alarde.
Colocamos nossos rostos molhados em um pequeno
arbusto, olhando superficialmente para a pessoa que
andava. E Sally não gostou de quem viu.
-Oh meu Deus...É o Macon! – Ela apertou minha mão.
Ele passou por nós, e por um momento esqueci de que
estava cavando o terreno vizinho à sua casa. Macon entrou,

84
sem nem olhar para nós duas. Fechou as cortinas e apagou a
luz. Já era bem tarde, por isso não pareceu estranho para
minha melhor amiga, mas nada deixa de ser estranho para
mim.
-Hum... – Murmurei e recuei da luz, assim como Sally o
fez instantes depois.
Ao caminhar lentamente até a “clareira”, tropecei em algo.
Teria caído se não fosse os braços dela me segurando. Ela
sempre está aqui quando preciso, e é isso que considero
mais importante em uma amizade.
-Ei, ei, ei...Cuidado, Roe. – Ela cochichou.
-Obrigada. Mesmo. – Obviamente ela não viu minha
piscadela, mas deve ter sentido. – Enfim. Preciso de luz!
Imediatamente, ela acendeu a lanterna, e quando
conseguimos olhar para o chão...Ficamos boquiabertas.
Uma mão. Uma mão. Tropecei em uma mão.
-Parece que achamos o cadáver daquele crânio... – Eu disse
antes que um sorriso tomasse conta de meu rosto.

85
Capítulo 9

Achei que a coisa mais prudente seria chamar a polícia, mas


não o fiz. Eu podia fazer isso sozinha. Resolver o caso. Mas,
no dia seguinte, para a minha surpresa, eles batiam em
minha porta. Bem de manhãzinha.
Quando eu saí, estavam lá, enfaixando a casa, cavando mais
e mais, usando suas luvas, e fazendo coisas que policiais
fazem quando encontram um corpo. Todos os vizinhos
eram interrogados. Todos. Não percebi ninguém que
estivesse, digamos assim, desconfortável demais com a
cena. Tirando eu.
-Finalmente a polícia está envolvida. – A voz de Sally saiu
preguiçosamente. Não havíamos dormido muito.
-É. Porque você ligou para eles quando eu não estava
vendo! – Franzi a testa e cruzei os braços. Virei o rosto.
Não era obrigada a olhar para ela, de qualquer modo.
-Eu não ia deixar você tentar esconder um esqueleto
inteiro no closet da sua mãe... – Ela se justificou. Que
resposta.

86
Um silêncio pairou entre nós duas. Eu não queria conversar
com ela.
-Oh, não...O capitão Jackie Braile. Droga. – Eu murmurei
para mim mesma, mas notei os olhos curiosos de Sally me
observando. O mau-humor irradiava em minha mente. E
sua aparição não ajudou em nada.
-Ei, você! – Ele berrou e caminhou em minha direção.
Arthur estava logo atrás, com sua esposa.
Ah não, pensei. Me obriguei a não revirar os olhos, e acenei
com a cabeça, sem nenhum sorriso forjado, desta vez.
-Você não... – O capitão quase perguntou, mas naquele
mesmo segundo, me apressei em interromper.
-Sim, mas faz muito tempo, não é relevante.
Ele arqueou as sobrancelhas.
-Aurora e a srta. Alisson disseram que estavam tendo um
passeio noturno e acharam um gato. Um gato. – Lynn
relatou, com sua voz ríspida. Não sei como Arthur a
suportava.
-Bem, nós achamos que era um gato. – Alisson se
desculpou. Que mentira.
-E o seguiram pelo mato. Nossa. – Ela olhou para Arthur.

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-Sim, e aí nós vimos uns ossos no chão. Bem, eu vi. – Me
recusei a olhar para Sally quando eu disse isso. Pelo menos,
eu mentia melhor que ela.
A chuva caia em nossos guarda-chuvas. Era um som
relaxante.
-Falei para elas irem à delegacia na segunda-feira, para
depoimento. – Lynn contou.
Mais e mais silêncio se instalou no ar. Sally só balançava a
cabeça e me cutucava, e eu me recusava a olhar.
-Hum. – Braile murmurou e passou entre mim e Sally,
saindo. Que grosseria!
Me certifiquei de que meu rosto demonstrasse o quão
entediante estava aquilo. E ele com certeza não falhou,
porque Lynn saiu de nosso meio no mesmo instante.
-Então nós já podemos ir? – Eu perguntei para Arthur.
-Ah...Sim, vocês podem, claro. – Ele passou a mão no
cabelo molhado, e nós saímos.
Decidi que deveria falar com Sally. 2 cabeças pensam
melhor que 1.
-Escuta, você não acha nem um pouquinho estranho...Que
o bairro inteiro está aqui olhando, curioso, menos...Os
Mackenzie?

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-Os Mackenzie estão viajando. – Arthur comentou, nos
seguindo. Interesseiro...Quase perguntei se eu o havia
chamado para a conversa, mas segurei a língua.
-Viu? Ah, não é tão estranho assim! – Sally debochou. –
Agora, eu quero falar com o Macon para ver se ele me
deixa escrever essa reportagem!
E saiu correndo atrás dele.
-OK, mas e a questão de que este esqueleto está sem
roupas ou acessórios junto? Você acha que o assassino
levou? Não é provável que tenha entrado em decomposição
tão rápido...E não tinha aliança de casamento na mão... –
Agora sim, a pergunta foi direcionada para Arthur.
-Roe, por favor, para com isso. Está bem? – Parar com o
quê? – Olha, eu...Eu entendo a vontade de começar a
analisar os vizinhos, e de procurar pistas, mas isso...Não é
um caso do clube dos Assassinatos Reais. Deixa a Lynn e a
divisão de homicídios cuidar disso. – Ele estava supondo
que meu clube não era forte o suficiente para isso? Ele já fez
parte desse clube! Mas o que eu queria saber era...
-Espere. Você não vai participar dessa investigação?!
-Não, eu estou...Na divisão de roubos, agora.
Alguém tomou seu lugar. Ele cuidava dos assassinatos. Só
um nome veio a minha cabeça. Lynn.

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-OK, mas você não acha que essas invasões e esse corpo
podem ter alguma relação?! – Eu já estava quase surtando.
-Bom, se tiver, a Lynn vai descobrir. Ela é muito boa no
que faz. - Ela não era melhor que eu. Nunca. – Faz um favor
para ela e para mim e esquece isso. – Sua figura foi se
afastando de mim, deixando apenas uma curiosidade maior.
Não ligo se você quer que eu te faça um favor, Arthur, eu pensei.
Estou fazendo um favor para mim ao investigar, e é o que mais
importa. Muito mais importante do que você e sua esposa!
Bufei e revirei os olhos quando ele saiu. Tudo isso só me
deu mais certeza:
Eu ia investigar.

***

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