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Revista Cesuca Virtual: Conhecimento sem Fronteiras

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O USO DOS DISPOSÍTIVOS MÓVEIS NO PROCESSO DE ENSINO E


APRENDIZAGEM NO MEIO VIRTUAL
Juliana Saboia1
Patrícia Leal de Vargas2
Marco Aurélio de Andrade Viva3

RESUMO

As alterações vividas na sociedade contemporânea referente ao uso da tecnologia,


as interações sociais e as novas demandas de mercado abrem portas para a
inserção da tecnologia móvel em ambientes de aprendizagem, uma vez que a noção
de tempo e espaço modificou-se na concepção das novas gerações. Através do
entendimento da necessidade de ampliar e repensar os modelos de ensino e
aprendizagem existentes, este artigo se debruça sobre o uso dos dispositivos
móveis, como celular, tablet, notebook, entre outros, inseridos na construção de
atividades e dinâmicas para utilização junto a educação a distância (EAD). As
gerações mais novas demostram alta familiaridade com uso de tais tecnologias,
demostrando a necessidade de adaptar-se a esse novo formato, interagindo e
ampliando a complexidade da educação através destes recursos. Como objetivo, o
artigo busca discorrer sobre o uso das tecnologias móveis, apresentando os tipos de
dispositivos móveis existente, direcionando para a construção do entendimento do
uso de tais critérios junto ao perfil do aluno encontrado em cursos de educação a
distância. Por fim, apresenta as limitações do uso de tais dispositivos, promovendo a
reflexão necessária para a construção de novos formatos, meios e ferramentas para
o processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chaves: Educação à distância. Tecnologia. Dispositivos móveis.

ABSTRACT

The changes experienced in contemporary society for the use of technology, social
interactions and new market demands open doors for the insertion of mobile
technology in learning environments since the notion of time and space has changed
in the design of the new generations. Through the understanding of the need to
extend and rethink the existing teaching and learning models, this article deals with

1
Mestre em Administração e Negócios pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(2011), especialista em Marketing pela ESPM (2007)
2
Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2006).
3
Especialização em Metodologia do Ensino de Matemática pela Faculdade Porto-Alegrense de
Educação Ciências e Letras (1995). Possui graduação em Licenciatura em Ciências - 1º Grau pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1988) e graduação em Licenciatura Plena em
Matemática pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação Ciências e Letras (1994).
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the use of mobile devices such as cell phone, tablet, notebook among others,
inserted in building activities and dynamics for use along the distance education
(Distance e-Learning- Del). The younger generations show high familiarity with the
use of such technologies, demonstrating the need to adapt to this new format,
interacting and expanding the complexity of education through these resources. As a
goal, the article seeks to discuss the use of mobile technologies, showing the types
of existing mobile devices, targeting to build understanding of the use of such criteria
with the student profile, found in distance education courses. Finally, it presents the
limitations of using such devices, promoting reflection needed to build new formats,
means and tools for the teaching and learning process.

Keywords: Distance education, technology, mobile devices.

INTRODUÇÃO

A Educação à Distância (EAD) tem levado para seu contexto o uso dos mais
variados dispositivos de comunicação, indo da formação por correspondência,
passando pela transmissão via televisão até apropriar-se das novas tecnologias,
como computadores portáteis ou celulares. Nos últimos anos, vemos não só a
comunicação proporcionada por estas tecnologias, mas a necessidade de fazer uso
de suas facilidades para agilizar um cotidiano imediatista, onde o tempo é cada vez
mais escasso. Trazer as tecnologias móveis para o contexto de EAD é observar este
cotidiano, as necessidades e familiaridades dos sujeitos pertencentes a diferentes
contextos sociais, mas com pontos em comum que os tornam alvo de um modelo de
educação que privilegia o uso destas tecnologias para benefício do processo de
ensino e de aprendizagem, aproximando-o da realidade do aluno.
No trajeto histórico da educação a distância (EAD), passamos por diferentes
fases que vão do uso da educação por correspondência, tendo como representante
o Instituto Universal Brasileiro, seguindo pelo uso de materiais impressos, fitas e
vídeos cassete, Compact Disc (CD) e Digital Vídeo Disc (DVD). Evoluímos para o
uso de computadores, celulares e tablets, além dos canais disponibilizados, como
sites de redes sociais, sites de publicação de vídeos e ambientes virtuais
desenvolvidos para o estimulo da aprendizagem. Desta forma, podemos colocar
estes recursos no conjunto das tecnologias móveis.
Refletindo sobre o termo tecnologias móveis, trazemos sua origem e seu uso.
O uso do termo “tecnologia”, oriundo da Revolução Industrial no final do Século
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XVIII, tem sido generalizado para outras áreas do conhecimento, além dos setores
da indústria têxtil e mecânica (SILVA, 2002). O Dicionário da Língua Portuguesa, de
Antônio Houaiss, indica a palavra “tecnologia” como “um conjunto de conhecimentos
científicos, dos processos e métodos usados na criação e utilização de bens e
serviços”.
Já a tecnologia de informação, se aproxima mais da difusão e tratamento da
informação por meios vinculados aos dispositivos de processamento de dados. A
tecnologia, de uma maneira geral, propicia o surgimento de novas percepções e
noções, em que o seu desenvolvimento transforma o modo em que se compreende
o tempo e o espaço (MENEZES, 2003). O autor destaca que ao visualizar o espaço
e o tempo, relacionados ao ensino e especialmente a educação a distância, que
adotou essa nova lógica baseada nas tecnologias de informação, encontra-se em
processo de redimensionamento. Esse processo ou criação de espaços físicos
surge para atender uma nova lógica de utilização de tempo e do espaço. Ou seja, a
materialidade dos lugares passa por alterações significativas, possibilitando as mais
variadas localizações de estudos no plano espacial e temporal (MENEZES, 2003).
Considerando as alterações permitidas pelo uso de novas tecnologias para o
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, este artigo possui como
objetivo discorrer e discutir a utilização dos dispositivos móveis como ferramenta de
apoio e ampliação da educação à distância. Como percebemos, vivenciamos a
transição da Era da Informação para a Era do Conhecimento, onde a tecnologia
possibilita a expressão de novas atividades, novos formatos de interação social,
ampliação dos locais, formatos e estrutura do processo de ensino e aprendizagem,
ampliando a percepção da sala de aula e da interação aluno-professor e aluno-
aluno, adequando-a a necessidade do mercado.

1 TECNOLOGIAS MÓVEIS

Os dispositivos móveis vêm sendo utilizados nas mais diversas áreas. Esta
utilização tem se expandido, pois há uma natural evolução social em que as
gerações anteriores tem se apropriado cada vez mais destas tecnologias, e as
novas gerações, agora consideradas “nativos digitais”, já incorporam tais

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dispositivos como uma extensão do lar ou de seu próprio corpo. Para Marc Prensky,
em entrevista concedida à Revista Época em julho de 2010,

Nativos digitais e imigrantes digitais são termos que explicam as


diferenças culturais entre os que cresceram na era digital e os que
não. Os primeiros, por causa de sua experiência, têm diferentes
atitudes em relação ao uso da tecnologia. Hoje, há muito mais adultos
que migraram e, nos Estados Unidos, quase todas as crianças em
idade escolar cresceram na era digital. Pode ser que em alguns
lugares os nativos sejam separados dos imigrantes por razões
sociais. (Apud Guimarães, p.1, 2010)

A existência e o uso destas tecnologias não se evidenciam somente no


momento em que vemos um dispositivo em uso, mas culturalmente nossas ações,
nossas relações e nosso vocabulário denunciam que estamos fortemente
influenciados por esta era digital. Os assuntos nas rodas de amigos, os textos
escolares, científicos, os namoros entre outras relações sociais não necessitam mais
da presença física para que ocorram.
A principal característica destes tipos de dispositivos é justamente serem
móveis. Esta característica propicia que haja uma imediata atualização da
informação, seja das redes sociais, um material específico de curso, assuntos
pessoais ou de localização. A integração de recursos como o GPS (Global
Positioning System) facilita a mobilidade até mesmo de pessoas com deficiência
visual. Assim, os usos destas tecnologias estão associados à interação social, à
localização espacial, coleta de dados, rastreamento e muitas outras que poderão ser
aplicadas em função da intenção do usuário.
Favorecendo uma utilização mais frequente, existe a possibilidade de
personalização destes dispositivos que acompanham o estilo de vida de cada
pessoa, permitindo a customização e o acompanhamento de tendências de moda
bem como de aplicativos que podem, desde facilitar o dia-a-dia, até aplicativos de
entretenimento. Não é difícil encontrarmos pessoas de diferentes idades em fila de
bancos, ônibus, ou sala de espera de consultório médicos acessando a internet,
interagindo em redes sociais, fazendo compras, jogando sozinhos ou com outros
usuários, acessando conteúdos de cursos, etc.

A tecnologia antes vista como algo que tirava o sujeito do convívio


social e do contato coletivo, torna-se cada vez mais customizadora,
assim os ambientes tornam-se individualizados, mas não
individualistas. Os dispositivos, os aplicativos e suas interfaces
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podem ser cada vez mais customizados e personalizados. Os


ambientes ganham fotos, perfis e avatares criando uma atmosfera
mais humanizada, representando um ponto muito positivo para a
pedagogia centrada no aluno (TOTTI, GOMES, MOREIRA, SOUZA,
p.2, 2011).

Podemos elencar diversas facilidades e usos das tecnologias móveis, mas


neste tópico do trabalho, vamos descrever algumas destas tecnologias que podem
ser utilizadas em EAD.

1.1 Kindle

O Kindle é um leitor de livros comercializado no Brasil desde 2009. O


equipamento possui uma grande capacidade de armazenamento de livro que podem
ser obtidos através de Download. Sua tela, por ter cerca de 6 polegadas possibilita
uma cômoda leitura. Uma de suas principais vantagens para a educação e para os
amantes da leitura é ter à disponibilidade até 1.500 livros (dados de 2009). Por ser
destinado à leitura, seu desenvolvimento teve cuidado para propiciar comodidade à
visão, sua tela não reflete a luz, e é leve. Atualmente existem outros leitores de e-
books.

1.2 Tablet

Permite acesso a diferentes fontes de informações; navegação na internet,


jogos e aplicativos, obtenção de imagens através de fotos, vídeo e áudio. É leve e
fácil manipulação. Algumas pessoas optam por adicionar um teclado para conforto
na hora de escrever. Associado a uma rede wi-fi ou 3G permite agilidade na
comunicação e download de arquivos.

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1.3 Celular

Há 40 anos, data de sua criação, talvez não pudéssemos predizer de sua


evolução e necessidade humana. A facilidade, agilidade e independência de espaço
físico tornaram este “acessório” necessário para a vida pessoal e profissional. Hoje
não conseguimos imaginar e organizar nosso cotidiano sem a interferência dele. Os
aplicativos associados como rádio, despertador, agenda e agora internet facilitaram
a vida e dispensaram a aquisição de outros equipamentos, embora algumas poucas
pessoas ainda sintam a necessidade de agenda em papel ou um rádio relógio ao
lado da cama. Algumas empresas, em jogada de marketing utilizam de mensagens
SMS (Short Message Service) para divulgar promoções ou felicitar seus clientes em
datas especiais. Estas mensagens também podem ser utilizadas em EAD, por
exemplo, para avisar a postagem de uma tarefa ou mesmo o prazo para sua
conclusão.

1.4 Notebook

É um computador portátil que, diferente do Tablet, possui o teclado já


acoplado. Suas funções, usos e capacidades de armazenamento são os mais
variados possíveis. Sua evolução nos mostra que a cada lançamento se tornam
mais leves e mais potentes. São bons para trabalho e lazer, possuindo diferentes
formas de entrada e saída de dados.

1.5 Smartphone

É um telefone móvel que mistura características do celular e do tablet.


Permite o desenvolvimento e utilização de diversos aplicativos que são
compartilhados por milhares de pessoas. Possui uma grande capacidade de
armazenamento de dados e a agrega outras tecnologias como o Bluetooth.

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1.6 Bluetooth

É uma tecnologia que permite a comunicação e troca de dados sem fio de


forma rápida. Esta comunicação e troca de dados permitiu a indústria automobilística
acoplar este sistema aos carros e facilitar a comunicação autônoma entre celular e
motorista.
Estas tecnologias foram criadas para facilitar a comunicação e a socialização
entre as pessoas. Os seus usos foram se ampliando ao longo do tempo e hoje
chegamos ao cenário tecnológico atual onde, cada vez mais, recebemos na escola
os já citados “nativos digitais”.
Os conteúdos de sala de aula fazem parte de um projeto social, é dever,
deste projeto, integrar todas as ferramentas sociais à aprendizagem. Continuarmos
somente com o uso do quadro e do giz, privando o aluno do uso das tecnologias é
entrar em uma batalha onde todos saem perdendo: a escola que entra em
descrédito como instituição, professor que fica aprisionado a uma mesma
metodologia e desvalorizado, e o aluno que não consegue ter uma aprendizagem
significativa.
A oferta de curso em EAD configura um novo lócus para a educação e as
tecnologias móveis, aliadas a uma boa mediação pedagógica podem ter uso
significativo em EAD e isto demanda do professor uma formação continuada e um
constante aperfeiçoamento das ferramentas de interação.

2 NOVAS CARACTERÍSTICAS, NOVOS TEMPOS

Como apontado, a tecnologia móvel veio para ficar e permear as gerações


mais novas, assim como o uso da máquina de escrever e do computador influenciou
as gerações passadas. A diferença entre esses mundos, da máquina de escrever ao
computador apresenta-se na sala de aula, seja virtual ou presencial, onde as
dinâmicas propostas ainda passam pelo conceito ultrapassado de ensino focado em
tempo e espaço, além de técnicas repetidas incansavelmente durante os anos.
Desta forma, percebe-se a necessidade de compreensão deste novo tempo, onde
novas características tornam-se pertinentes para o processo educacional, utilizando
como ferramenta as tecnologias móveis.
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As tecnologias móveis têm possibilitado que o processo de comunicação e a


difusão da informação ocorram em diferentes espaços e tempos, sendo duas de
suas características a portabilidade e a instantaneidade. Características que
permitem a uma grande parcela da população o acesso a informação em qualquer
lugar e a qualquer tempo, seja em tempo real ou não. Outra característica a estacar
é a larga produção destas tecnologias, resultando em um custo mais acessível e
uma massificação tecnológica, que nos leva a refletir sobre “espaços, atitudes,
rituais e costumes que as pessoas desenvolvem quando entram em contato com a
tecnologia” (BARWINSKI, 2010, p.01), remetendo-nos ao conceito de cultura
cibernética estruturando-se “pelo uso das tecnologias digitais em rede nas esferas
do ciberespaço e das cidades” (SANTOS, 2011 p.05). Bertoni (apud Assmann, 1998
p.193) traz reflexão sobre as transformações ocasionadas pela cibercultura:

A cibercultura terá como consequência uma profunda transformação


da ideia de espaço e de tempo. Fico preocupado quando escuto que
a cultura cibernética não modificará essencialmente o comportamento
humano. Julgo isso uma falácia conceitual – produto do
desconhecimento e, em todo o caso, do desejo – que, além do mais,
tem como consequência que a gente fique tranquilo, esvaziando-se
do esforço de mudar nossa concepção do tempo e do espaço.

O comportamento humano tem se modificado, assim como as diferentes


relações: relação homem máquina, relações afetivas, profissionais, familiares. O
acesso às novas tecnologias de comunicação e informação (TICs), o caos no
trânsito dos grandes centros urbanos, o acesso facilitado a ambientes antes restritos
a uma pequena parcela da população, tem contribuído para a definição de tempo,
cada vez mais escasso. Vemos assim, a massificação dos meios de comunicação,
da arte, dos meios de transporte e, como consequência, o ser humano dispensando
um tempo maior em busca de suprir suas necessidades (seus desejos) materiais.
Partindo do discurso atual acerca do tempo conclui-se: ele nunca é suficiente
para dar conta de todos os apelos sociais que nos rodeiam. Assmann (1998) nos
traz alguns conceitos sobre o tempo e, dentre os mais de quinze, destacamos:
Chrónos – tempo do relógio, mensurável, “tempo-valor mercantil”; Kairós – tempo
subjetivo referente à vivência; Tempo real – “a coincidência, no instante presente,
entre os acontecimentos e seu registro perceptivo pelo ser humano ou pelas
máquinas ‘inteligentes’, mesmo à grande distância” (ASSMANN, 1998 p. 213). O uso
de tecnologias móveis na educação a distância pode privilegiar o uso efetivo do
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tempo em seus diversos conceitos, permitindo ao aluno organizar-se dentro da sua


rotina e nos diferentes espaços físicos nos quais transita.
A compreensão deste novo modelo de interação com o tempo e espaço
permeia a relação dos jovens com o uso da tecnologia e a inserção dela nos
ambientes de aprendizagem, virtuais ou presenciais. Novaes (2011) apresenta um
paralelo entre as gerações e o uso das tecnologias, caracterizando a Geração Z,
nascida após 2000 e que estrará no mercado de trabalho aproximadamente em
2020, identificando a dificuldade encontrada pelos professores em ensinar para tal
geração, devido a desafazem de conhecimento tecnológico. A Geração Z já se
encontra nas carteiras das escolas e logo estará nos bancos das faculdades, onde
há uma necessidade urgente de repensar o modelo de ensino, uma vez que a
geração mais nova já possui interação suficiente com as tecnologias móveis para
permitir seu uso junto as técnicas tradicionais de ensino.
Para conhecimento e facilidade de compreensão sobre o gap existente entre
os educadores e os alunos, Cecchettini (apud Novaes, 2011) aponta o seguinte
paralelo entre eles, como pode ser verificado na figura 1, a seguir:

•Estão conectados a objetos e a tecnologia é uma extensão de


seu cérebro;
•Preferem receber informação rapidamente e de múltiplas
fontes;
•Preferem trabalhar com som e vídeo, ao inves de texto;
Alunos Nativos
Digitais •Preferem acesso randômico a informação multimidia
hiperligada;
•Preferem interagir simultaneamente com muitos, são adeptos
do coletivo;
•Preferem aprender coisas que são relevantes,
instantaneamente uteis, lúdicas e divertidas.

•Controlam objetivos e a tecnologia é um recurso eventual;


•Preferem a oferta da informação lenta e controlada, de fontes
limitadas;
•Preferem ofercer texto em vez de figura, som e vídeo;
Professores •Preferem oferecer informação de forma linear, lógica e
Imigrantes Digitais sequencial;
•Preferem ensinar o que está no curriculo e testes
padronizados;
•Estão orientados para o trabalho, limitando-se a cumprir o
programa e a fazer os testes de avaliaçaõ.

Figura 1: Paralelo entre nativos digitais e imigrantes digitais


Fonte: Adaptado de Cecchettini, apud Novaes (2011), pag. 9.

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Como percebemos, através da figura apresentada, existe uma diferença


latente entre as demandas das novas gerações e as entregue pelos educadores
oriundos das gerações anteriores. Cabe salientar, ainda, que tais demandas não se
apresentam somente para as novas gerações, os alunos atuais já apresentam esse
perfil multifacetado, interligado e conectado. Desta forma, o uso das tecnologias
móveis pensadas em novos processos de ensino adequam-se a essa demanda,
possuindo como ferramenta os dispositivos móveis, que permite o atendimento das
necessidades de aprendizado das atuais e novas gerações.

3 DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EAD

A inserção da educação a distância como modelo de ensino possibilitou a


inclusão de uma parcela significativa da população. Uma das formas de utilização
desta ferramenta apresenta-se no chamado Mobile Learning, ou "aprendizado com
mobilidade" (DIAS, 2012). Para realização do aprendizado com mobilidade é
necessário, conforme Morais et al, (2011) o uso de dispositivos móveis, como
celular, tablet, notebook, netbook, palm e etc. Para que a acessibilidade destes
dispositivos seja concretizada, é necessária a existência de conexão com a internet,
através de redes wi-fi, bluetooth e GPRS/3G. Ainda, dispositivos móveis
caracterizam-se por possuir algum meio de comunicação sem fio, normalmente com
uma capacidade limitada de poder computacional e fazendo uso de bateria como
fonte de alimentação (MORAIS et al, 2011).
A utilização de dispositivos móveis se torna vantajosa uma vez que "fornece
uma extensão à Educação a Distância, contribuindo para a aprendizagem do aluno,
sem que um lugar e hora sejam pré-estabelecidos" (MORAIS et al, pg.3, 2011).
Apresenta como vantagem o baixo custo, a popularidade, aumento da possibilidade
de acesso a conteúdos e expansão das estratégias de aprendizado. Por fim,
melhora os recursos para o aprendizado, possibilitando a anotação de ideias,
consulta de informações, registros digitais e outros (DIAS, 2012; MORAIS at al,
2011), assim como o retorno ao estudo no momento desejado, evitando a perda das
informações visualizadas.
A implementação de um projeto de Educação a Distância por tecnologias
móveis pode enfrentar algumas limitações resultantes do contexto de atuação do
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ensino à distância. Um aspecto importante a ser considerado é o acesso à


tecnologia para essa modalidade de ensino. Os custos que envolvem o acesso à
internet ainda são elevados (BEZERRA E JÚNIOR, 2009). Além disso, em muitas
regiões a rede ainda apresenta problemas como lentidão e dificuldades de acesso
ao ambiente, por limitações de capacidade da banda de internet.
Outro ponto a considerar para uma utilização proveitosa do ambiente é o
conhecimento técnico necessário para utilizar ao máximo todas as tecnologias com
ele relacionadas. Por exemplo, é pertinente o conhecimento de tecnologias como os
Chats, Fóruns interativos. Muitas vezes, os envolvidos nesse processo de ensino e
aprendizagem não estão aptos para utilizar as novas tecnologias de transmissão de
informação (BEZERRA E JÚNIOR, 2009).

4 LIMITAÇÕES NO USO DAS TECNOLOGIAS

Em seu artigo, Intitulado Tecnologias Móveis, Dias (2012) aponta que “as
TICs romperam para sempre com o conceito de espaço fixo e também de tempo. A
mobilidade nos permite ver e informar o tempo todo e a todos”. Desta forma, o
desafio é descobrir como usar as tecnologias móveis para fazer com que o estudo
seja tão parte do dia-a-dia que sequer seja percebido como estudo (DUARTE,
2008).
Além disso, no mesmo artigo, alerta sobre fatores limitadores a estas
tecnologias muito pertinentes a discussão ora em vigor:
 Limitações tecnológicas: tela pequena; baixa resolução; processamento lento;
baixa capacidade de armazenamento; incompatibilidade entre plataformas.
 Limitações pedagógicas: espaço de visualização restrito, dispersividade da
atenção, comprometimento da memória visual, baixa resolução dificulta a
compreensão, fragmentação de conteúdos, pouco conhecimento por parte
dos educadores, uso das tecnologias como suporte e não como ferramenta.
Logo, as limitações são os desafios que devem ser superados para que se
possa ter efetivamente mais autonomia e desempenho para os usuários destas
tecnologias. Entretanto, tem-se a impressão que desafios como estes serão
superados em breve e sem maiores problemas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O emprego das tecnologias móveis na EAD vem proporcionar uma efetiva


comunicação em rede, onde as possibilidades de acesso e interação se ampliam e
rompem, com mais eficiência, a barreira espaço temporal. Porém, as facilidades que
estas tecnologias proporcionam, vem associada às exigências de constante
atualização, tanto de conhecimento, quanto de novos dispositivos que se fazem
necessários para a interação.
Diante do estudo realizado, percebe-se uma necessidade de ampliação da
discussão e do uso das tecnologias moveis, seja em processos de ensino-
aprendizagem virtuais ou presenciais. Existe uma demanda latente das novas
gerações por uma readequação do ensino, mais próxima de sua realidade, ou como
eles mesmos apontam “que fale a nossa língua”. Ainda, apresenta-se uma
necessidade social de ampliação do uso da tecnologia, permitindo um acesso maior
da população ao conhecimento, utilizando não somente a educação virtual, pensada
para locais estáticos, mas elevando-a para processos pensados fora dos padrões de
tempo e espaço, permitindo a realização de tarefas em ambientes diversificados e
móveis, como ônibus, pausa no ambiente de trabalho ou enquanto espera na fila do
supermercado.
O artigo demonstrou a importância da adaptação do pensar sobre o ambiente
virtual fora da casa/escola/trabalho, utilizando os dispositivos moveis para tanto.
Entende-se que há limitação no uso de tais dispositivos o que impacta a construção
pedagógica. Contudo, se devem empreender esforços para compreender como
transformar tais limitações em oportunidades para o desenvolvimento de novos
dispositivos ou adaptações dos atuais, incluindo, definitivamente, as tecnologias
moveis no processo de ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ASSMANN, H. Reencantar a educação: Rumo à sociedade aprendente (3. ed.)


Petrópolis: Vozes, 1999

BARWINSKI Luísa. O que é cibercultura? Disponível em: http://www.tecmundo.com.br/.


Acessado em 12/12/2012.

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BEZERRA, A. L. R.; JÚNIOR, J. F. S. Tecnologias da Informação para EaD:


ambientes virtuais de aprendizagem - requisitos para sua implementação e
desenvolvimento. Dissertação de Mestrado em Ciência da Computação da
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REVISTA CESUCA VIRTUAL: CONHECIMENTO SEM FRONETIRAS v.1, n. 1, jul/2013


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